“Eles [Rosa Luxemburgo, Marie Curie] demonstram com brilhantismo que não
é a inferioridade das mulheres que determinou sua insignificância histórica: é
sua insignificância histórica que as tornou inferiores.”
FATOS E MITOS
Reconhecer um ser humano na mulher não é empobrecer a experiência do
homem: esta nada perderia de sua diversidade, de sua riqueza, de sua
intensidade, se se assumisse em sua intersubjetividade; recusar os mitos não é
destruir toda relação dramática entre os sexos, não é negar as significações que
se revelam autenticamente ao homem através da realidade feminina; não é
suprimir a poesia, o amor, a aventura, a felicidade, o sonho: é somente pedir
que as condutas, os sentimentos, as paixões assentem na verdade”
A EXPERIÊNCIA VIVIDA
A partir dos pensamentos acima, a autor inicia uma investigação através de uma
série de outros pensamentos, buscando a compreensão por meio de questões.
Aqui, Beuvoir critica a Biologia, o ponto de vista psicanalítico e o ponto de vista
materialista. Ao questionar a biologia, a autora não nega que exista uma natureza
feminina que se difere da natureza masculina, porém, ela também não acredita
que essa diferença seja o suficiente para explicar os motivos pelos quais a mulher
é sempre colocada em ponto de subordinação com relação ao homem. Já o ponto
de vista psicanalítico de Freud e Adler é confrontado, afinal, são pensamentos
masculinos acerca da essência da mulher que dependeram de um contexto
histórico para se solidificarem. Em outras palavras, se existe, de fato, um
complexo de inferioridade feminino em relação aos homens, é porque a mulher
está inserida dentro de um contexto social que valoriza muito mais a virilidade
masculina, do que a virilidade feminina. Nesta parte, a autora também busca
compreender o que dá à mulher o status de feminina levantando diversas
questões. Afinal, o que dá a uma mulher o status de mulher? Seriam suas vestes,
unhas pintadas ou uma essência pré-existente platônica da essência feminina?
Ou esta essência estaria presa à um conceito biológico de que a feminilidade está
ligada diretamente as questões biológicas? Será que basta pintar o cabelo, unhas
e usar saia para ser mulher? E partindo de questões como estas que Beauvoir
sintetiza toda a sua ideia em uma única frase, sendo ela: Não se nasce mulher,
torna-se.
Enfim, o livro é incrivelmente rico e merece ser lido, estudado e folheado dezenas
de vezes, até que suas palavras tornem-se efetivas em nosso eu. Como estudante
de Ciências Sociais, é interessante ler Beauvoir. A teoria da autora acerca da
formação da figura feminina no campo social, a construção da identidade
feminina, o lugar da mulher na sociedade segunda a concepção e visão histórica,
a mulher como objeto e não somo sujeito, dentre outros diversos temas
abordados pela autora, tornam a experiência de leitura extremamente densa e
rica. É necessário uma capacidade intelectual que exceda as linhas desta obra. Em
outras palavras, para que se compreenda de fato as ideias de Beauvoir, faz-se
necessário ler as diversas contribuições citadas pela autora ao longo de sua
narrativa. A compreensão das correntes filosóficas e das inúmeras contribuições
de outras correntes para a compreensão da teoria e formação da mulher como ser
no campo social é indispensável. Este é um livro que merece destaque na
prateleira, não por ser um livro que estuda àquilo o que buscamos compreender,
mas por ser um livro que excede as expectativas do leitor com relação as teorias
estudadas e apontadas por Simone de Beauvoir. Uma leitura realmente
intrigante.
“Mas, de qualquer maneira, criar, cuidar não são atividades, são funções
naturais; nenhum projeto está envolvido; é por isso que a mulher não encontra aí
a razão de uma afirmação arrogante de sua existência; ela passa seu destino
biológico passivamente.”
“Mas, na verdade, as vozes femininas silenciam onde a ação concreta começa; eles
foram capazes de provocar guerras, não sugerir as táticas de uma batalha; eles
têm orientado a política apenas na medida em que a política é reduzida à intriga:
os comandos reais do mundo nunca estiveram nas mãos das mulheres; eles não
agiram nas técnicas ou na economia, não fizeram ou derrotaram estados, não
descobriram mundos. É através deles que certos eventos foram desencadeados:
mas eram pretextos muito mais que agentes.”
“As costuras, os padrões são muitas vezes apliquées para cortar o corpo feminino
tem transcendência: os chineses com os pés enfaixados mal consegue andar,
garras envernizado de Hollywood estrela privar suas mãos, saltos altos,
espartilhos, as cestas, as vertugadinas, as crinolinas tinham menos intenção de
acentuar a composição do corpo feminino do que aumentar sua impotência.”
A AUTORA
Simone de Beauvoir foi uma autora e filósofa francesa. Ela escreveu romances,
monografias sobre filosofia, questões políticas e sociais, ensaios, biografias e uma
autobiografia. Ela é agora mais conhecida por seus romances metafísicos,
incluindo Ela veio a ficar e os mandarins, e por seu tratado de 1949 sobre o
segundo sexo , uma análise detalhada da opressão das mulheres e um trato
fundamental do feminismo contemporâneo.