18 de junho de 2018
• Água bruta
Inicialmente, a água é retirada do rio, lago ou lençol subterrâneo, possuindo uma determi-
nada qualidade.
• Água tratada
Após a captação, a água sofre transformações durante o seu tratamento para adequação
aos usos previstos (abastecimento público ou industrial).
• Água usada (esgoto bruto)
Com a utilização da água, a mesma sofre novas transformações na sua qualidade, vindo a
constituir-se em um despejo líquido.
• Esgoto tratado
Visando remover os seus principais poluentes, os despejos sofrem um tratamento antes de
serem lançados ao corpo receptor. O tratamento dos esgotos é responsável por uma nova
alteração na qualidade do líquido.
• Corpo receptor
O efluente do tratamento dos esgotos atinge o corpo receptor, onde, face à diluição e
mecanismos de autodepuração, a qualidade da água volta a sofrer novas modificações.
Com base em VON SPERLING, Marcos. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos.
DESA-UFMG. 1996.
1
A qualidade da água pode ser representada através de diversos parâmetros, que traduzem
as suas principais características físicas, químicas e biológicas. Dentre os parâmetros físicos,
destacam-se cor, turbidez, sabor, odor e temperatura. Quanto aos químicos, destacam-
se pH (potencial hidrogeniônico: representa a concentração de íons hidrogênio H+ , dando uma
indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água), alcalinidade, aci-
dez, dureza, assim como presença de ferro, manganês, cloretos, nitrogênio, fósforo,
oxigênio dissolvido1 , matéria orgânica2 , além de micropoluentes orgânicos e inorgâ-
nicos. Em relação aos parâmetros biológicos, destaca-se a possibilidade de transmissão de
doenças, determinada através dos organismos indicadores de contaminação fecal, pertencentes
principalmente ao grupo de coliformes.
A poluição das águas é entendida como a adição de substâncias ou de formas de energia que,
direta ou indiretamente, alterem a natureza do corpo d’água de uma maneira tal que prejudique
os legítimos usos que dele são feitos.
Existem basicamente duas formas em que a fonte de poluentes pode atingir um corpo d’água:
poluição pontual (em que os poluentes atingem o corpo d’água de forma concentrada no
espaço) e poluição difusa (em que os poluentes adentram o corpo d’água distribuídos ao longo
de parte da sua extensão).
De maneira geral, poluentes são originários de três fontes principais: esgotos domésticos, despejos
industriais e escoamento superficial (seja em área urbana ou rural).
1
Vital para os seres aquáticos aeróbios e principal parâmetro de caracterização de efeitos de poluição por despejos
orgânicos.
2
A matéria orgânica presente nos corpos d’água e nos esgotos é uma característica de primordial importância,
sendo a causadora do principal problema de poluição das águas: o consumo do oxigênio dissolvido pelos micror-
ganismos nos seus processos metabólicos de utilização e estabilização da matéria orgânica. Como há uma grande
dificuldade na determinação laboratorial dos diversos componentes da matéria orgânica nas águas residuárias,
face à multiplicidade de formas e compostos em que a mesma pode se apresentar, utilizam-se normalmente méto-
dos indiretos para sua quantificação, ou do seu potencial poluidor: a medição do consumo de oxigênio (Demanda
Bioquímica de Oxigênio - DBO - e Demanda Química de Oxigênio - DQO) e a medição do carbono orgânico
(Carbono Orgânico Total - COT). Em relação à DBO, a mesma retrata, de uma forma indireta, o teor
de matéria orgânica nos esgotos ou no corpo d’água, sendo, portanto, uma indicação do potencial
do consumo do oxigênio dissolvido; além disto, é um parâmetro de fundamental importância na
caracterização do grau de poluição de um corpo d’água.
2
2 Características das águas residuárias
Os esgotos oriundos de uma cidade e que contribuem à estação de tratamento de esgotos são
basicamente originados de três fontes distintas: esgotos domésticos (incluindo residências,
instituições e comércio), águas de infiltração e despejos industriais (diversas origens e
tipos de indústrias).
A característica dos esgotos é função dos usos à qual a água foi submetida. Esses usos,
e a forma com que são exercidos, variam com o clima, situação social e econômica e hábitos
da população. No projeto de uma estação de tratamento, normalmente não há interesse em
se determinar os diversos compostos dos quais a água residuária é constituída. É preferível a
utilização de parâmetros indiretos que traduzam o caráter ou o potencial poluidor do despejo
em questão. Tais parâmetros definem a qualidade do esgoto, podendo ser divididos em três
categorias: parâmetros físicos, químicos e biológicos. Nestas categorias, os principais são cinco:
• sólidos;
• indicadores de matéria orgânica;
• nitrogênio;
• fósforo;
• indicadores de contaminação fecal.
3
A matéria orgânica presente nos corpos d’água e nos esgotos é uma característica de primordial
importância, sendo a causadora do principal problema de poluição das águas: o consumo do
oxigênio dissolvido pelos microrganismos nos seus processos metabólicos de utilização e esta-
bilização da matéria orgânica. Como há uma grande dificuldade na determinação laboratorial
dos diversos componentes da matéria orgânica nas águas residuárias, utilizam-se normalmente
métodos indiretos para sua quantificação, ou do seu potencial poluidor: a medição do consumo
de oxigênio (Demanda Bioquímica de Oxigênio - DBO3 - e Demanda Química de Oxigênio -
DQO4 ) e a medição do carbono orgânico (Carbono Orgânico Total - COT).
O principal efeito ecológico da poluição orgânica em um curso d’água é o decréscimo dos teores
de oxigênio dissolvido. Da mesma forma, no tratamento de esgotos por processos aeróbios, é
fundamental o adequado fornecimento de oxigênio para que os microrganismos possam realizar
os processos metabólicos conduzindo à estabilização da matéria orgânica. Assim, surgiu a ideia
de se medir a "força"de poluição de um determinado despejo pelo consumo de oxigênio que ele
traria. A DBO retrata a quantidade de oxigênio requerida para estabilizar, através
de processos bioquímicos, a matéria orgânica carbonácea. Como a estabilização de uma
amostra demanda cerca de 20 dias e, para evitar demoras e permitir comparação entre amostras
de laboratório, convencionou-se analisar o teor de oxigênio ao quinto dia (o qual é passível de
correlação com o consumo total final). A demanda bioquímica de oxigênio ao quinto dia, DBO5 ,
equivale à diferença entre os teores de oxigênio de uma amostra de esgoto em seus dias 0 e 5.
Esta é também chamada DBO padrão5 .
3
Vantagens e desvantagens:
4
Vantagens e desvantagens:
5
Ao final de 5 dias, a estabilização de matéria orgânica não encontra-se completa. A mesma prossegue em taxas
mais lentas por mais um período de semanas ou dias (após tal, é possível desprezar o consumo de oxigênio). A
Demanda Última de Oxigênio corresponde ao consumo exercido até este tempo, a partir do qual não há
consumo representativo.
4
3 Impacto do lançamento de efluentes nos corpos receptores
A introdução de matéria orgânica em um corpo d’água resulta, indiretamente, no consumo
de oxigênio dissolvido. O fenômeno da autodepuração6 está vinculado ao restabelecimento
do equilíbrio no meio aquático, por mecanismos essencialmente naturais, após as alterações
induzidas pelos despejos afluentes. Dentro de uma visão mais específica, tem-se que os compostos
orgânicos são convertidos em compostos inertes e não prejudiciais do ponto de vista ecológico.
Dentro de um enfoque prático, deve-se considerar que uma água esteja depurada quando as
suas características não mais sejam conflitantes com a sua utilização prevista em cada trecho do
curso d’água. Isto porque não existe uma depuração absoluta: o ecossistema atinge novamente
o equilíbrio, mas em condições diferentes das anteriores, devido ao incremento da concentração
de certos produtos e subprodutos da decomposição.
A autodepuração pode ser entendida como um fenômeno de sucessão ecológica. Tem-se que os
estágios da sucessão ecológica podem ser associados a zonas fisicamente identificáveis no rio. São
quatro as principais zonas de autodepuração:
• zona de degradação;
• zona de decomposição ativa;
• zona de recuperação;
• zona de águas limpas.
Em termos ecológicos, a repercussão mais nociva da poluição de um corpo d’água por matéria
orgânica é a queda nos níveis de oxigênio dissolvido, causada pela respiração dos microrganismos
envolvidos na depuração dos esgotos. No processo de autodepuração há um balanço entre as
fontes de consumo e as fontes de produção de oxigênio. Em relação ao consumo de O2 , há
uma parcela utilizada (por microrganismos decompositores - bactérias heterotróficas aeróbias)
para oxidar a matéria orgânica dissolvida na massa líquida e outra para degradar o lodo de
fundo sedimentado no corpo d’água (demanda bentônica). Um outro processo de oxidação é o
referente às formas nitrogenadas, responsável pela transformação da amônia em nitritos e estes
em nitratos, no fenômeno denominado nitrificação. Para regular este consumo e introduzir
oxigênio no meio líquido, existe a reaeração atmosférica, transferência de oxigênio da fase
gasosa para a fase líquida e sua absorção pela massa d’água, e a fotossíntese de seres autotróficos
residentes no corpo hídrico.
6
O conhecimento do fenômeno visa utilizar a capacidade de assimilação dos rios e impedir o lançamento de
despejos acima do que possa suportar o corpo d’água.
5
4 Níveis, processos e sistemas de tratamento
A remoção dos poluentes no tratamento, de forma a adequar o lançamento a uma qualidade de-
sejada ou ao padrão de qualidade vigente, está associada aos conceitos de nível do tratamento
e eficiência do tratamento. O tratamento dos esgotos é usualmente classificado através dos
seguintes níveis:
• preliminar;
• primário;
• secundário;
• terciário (apenas eventualmente).
O tratamento preliminar objetiva apenas a remoção dos sólidos grosseiros, enquanto o tra-
tamento primário visa a remoção de sólidos sedimentáveis e parte da matéria orgânica. Em
ambos predominam os mecanismos físicos de remoção de poluentes. Já no tratamento secun-
dário, no qual predominam mecanismos biológicos, o objetivo é principalmente a remoção de
matéria orgânica e eventualmente nutrientes (nitrogênio e fósforo). O tratamento terciário
(bastante raro no Brasil) objetiva a remoção de poluentes específicos (usualmente tóxicos ou
compostos não biodegradáveis) ou ainda, a remoção complementar de poluentes não suficiente-
mente removidos no tratamento secundário.
6
O tratamento primário destina-se à remoção de sólidos em suspensão sedimentáveis e sólidos
flutuantes. Os esgotos, após passarem pelas unidades de tratamento preliminar, contêm ainda os
sólidos em suspensão não grosseiros, os quais podem ser parcialmente removidos em unidades de
sedimentação. Uma parte significativa destes sólidos em suspensão é compreendida pela matéria
orgânica em suspensão. Os tanques de decantação podem ser circulares ou retangulares. Os
esgotos fluem vagarosamente através dos decantadores, permitindo que os sólidos em suspensão,
possuindo uma densidade maior do que a do líquido circundante, sedimentem gradualmente no
fundo. Essa massa de sólidos é denominada lodo primário bruto. Em estações de tratamento
de esgotos, ela é retirada por meio de uma tubulação única em tanques de pequenas dimensões
ou através de raspadores mecânicos e bombas em tanques maiores. Materiais flutuantes, como
graxas e óleos, tendo uma menor densidade que o líquido circundante, sobem para a superfície
dos decantadores, onde são coletados e removidos do tanque para posterior tratamento.
• matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel), a qual não é removida por processos mera-
mente físicos, como o de sedimentação, que ocorre no tratamento primário;
• matéria orgânica em suspensão (DBO suspensa ou particulada), a qual é em grande
parte removida no tratamento primário, mas cujos sólidos de decantabilidade mais lenta
persistem na massa líquida.
8
As principais finalidades da remoção de areia são evitar abrasão nos equipamentos e tubulações, eliminar ou
reduzir a possibilidade de obstrução em tubulações, tanques e orifícios, além de facilitar o transporte líquido,
principalmente a transferência de lodo, em suas diversas fases.
7
Em sistemas de lodos ativados, os sólidos são recirculados do fundo da unidade de decantação,
por meio de bombeamento, para a unidade de aeração. A etapa biológica compreende duas
unidade: o tanque de aeração (reator biológico) e o decantador secundário. A concentração de
biomassa (bactérias) no reator é bastante elevada, devido à recirculação dos sólidos sedimentados
no fundo do decantador secundário.
O processo de filtros biológicos consiste num conceito totalmente diferente dos processos
anteriores. Ao invés da biomassa crescer dispersa em um tanque ou lagoa, ela cresce aderida a
um meio suporte.Um filtro biológico compreende, basicamente, um leito de material grosseiro, tal
como pedras, ripas ou material plástico, sobre o qual os esgotos são aplicados sob a forma de gotas
ou jatos. Após a aplicação, os esgotos percolam em direção aos drenos de fundo. Esta percolação
permite o crescimento bacteriano na superfície da pedra ou do material de enchimento, na
forma de uma película fixa. O esgoto passa sobre a população microbiana aderida, promovendo
o contato entre os microrganismos e o material orgânico. Os filtros biológicos são sistemas
aeróbios, pois o ar circula nos espaços vazios entre as pedras, fornecendo o oxigênio para a
respiração dos microrganismos. A função do meio é tão somente a de fornecer suporte para a
formação da película microbiana.
O sistema de fossas sépticas seguidas de filtros anaeróbios tem sido amplamente utilizado em
nosso meio rural e em comunidades de pequeno porte. A fossa séptica remove a maior parte dos
sólidos em suspensão, os quais sedimentam e sofrem o processo de digestão anaeróbia no fundo
do tanque. A matéria orgânica efluente da fossa séptica se dirige ao filtro anaeróbio, onde ocorre
a sua remoção, também em condições anaeróbias.