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AGORA, O FUTURO

Um dos mais conhecidos artistas contemporâneos, Olafur Eliasson expõe pela primeira
vez em Portugal, na Fundação Serralves. Y/Our Future is Now, no átrio e no jardim, é
uma exposição com tonalidades poéticas, onde podemos ver as preocupações do artista
nascido em Copenhaga.

Nascido em Copenhaga em 1967, Olafur Eliasson é hoje dos mais conhecidos artistas
contemporâneos, tendo sido o representante da Dinamarca na Bienal de Veneza de 2003
e, actualmente, com uma retrospectiva na Tate Modern (Oliafur Eliasson in Real Life),
com curadoria de Mark Godfrey, um conhecido nome da história da arte. Inaugurado a
31 de Julho, Y/Our Futur is Now (o teu/o nosso futuro é agora) é a primeira exposição em
Portugal deste artista para quem o ambiente é uma das preocupações e um dos seus
objectos de pesquisa. Comissariado por Philippe Vergne, novo director do Museu de Arte
Contemporânea de Serralves depois da saída atribulada de João Ribas, Marta Almeida e
Filipa Loureiro, Y/Our Future is Now não tem, certamente, o carácter abrangente da
exposição da Tate, nem a intervenção que fez no átrio e nos jardins de Serralves induz a
monumentalidade com que muitas das suas obras têm – numa intervenção na Turbine
Hall da Tate Modern em 2003, intitulada The Weather Project, um dos seus mais
conhecidos e bem sucedidos projectos, Olafur conseguiu recriar um pôr-do-sol, dizendo
em entrevista ao jornal britânico The Guardian que “pensava no sol pondo-se contra o
mar ou nos reflexos na pintura de Edvard Munch”.
E, de facto, monumentalidade parece ser, por vezes, uma das palavras chave para
conseguir perceber muito do trabalho deste artista dinamarquês que cruza tecnologia com
preocupações ambientais. Há uma outra instalação de Olafur, também ela muito
conhecida apesar de não estar presente nesta exposição de Serralves, que consiste num
longo túnel de 45 metros e que permite perceber bem essa monumentalidade que por
vezes assume uma qualidade romântica. De 2010, e intitulado Your Blind Passenger –
convém sublinhar que o título em inglês é a tradução de uma expressão dinamarquesa
(“din blinde passager”) que significa “passageiro clandestino” – consiste, como já foi
referido, num longo túnel de 45 metros onde é produzido um efeito imersivo de nevoeiro.
Entrando nele, o resultado não pode ser mais monumental, com o espectador a ser
engolido por uma espessa camada de luz e nevoeiro: com uma visibilidade reduzido (1,5
metros), somos obrigados a andar mais devagar, a prestar uma atenção redobrada a tudo
o que se encontra à nossa volta, a confiar noutros sentidos que não a visão. Como
facilmente se percebe – talvez demasiado facilmente –, este carácter imersivo da obra,
esta arregimentação de todos os sentidos, tem subjacente uma espécie de crítica ao estilo
de vida contemporâneo, demasiado apressado, demasiado focado, ele próprio demasiado
cego face a tudo quanto o rodeia, como se este retorno aos outros sentidos fosse também
uma forma de sublinhar uma suposta alienação contemporânea que só um regresso aos
sentidos, a todos eles, incluindo a visão, um regresso à atenção prestada aos outos e ao
que nos rodeia poderia contrariar. Mas, ao mesmo tempo, dá-se esse efeito curioso, que
vem contrariar um pouco esse discurso demasiado evidente: todo aquele nevoeiro, todo
aquele jogo entre luz e falta de visibilidade, remete para um fenómeno presente em
diversas cidades do mundo, fenómeno esse causado pela poluição: o manto de fumo que
as cobria. É como se esse túnel, portanto, recriasse as condições de vida numa dessas
zonas particularmente afectadas pelo smog, que, consequência do excesso de poluição,
acabam por ter um efeito contrário ao estilo de vida que induz esse excesso: somos
obrigados a abrandar, a andar mais cautelosamente, menos apressados, a depender de
todos os sentidos para nos conseguirmos movimentar.
Esta preocupação com o ambiente é facilmente visível na exposição inaugurada ontem
em Serralves. Numa das obras, Serralves Driftwood, que parece entrar em diálogo com
Dead Tree, uma obra de 1969 do artista norte-americano Robert Smithson onde este
colocou dentro do espaço museológico uma árvore arrancada ainda com raízes a que
acrescentou espelhos, Olafur Eliasson espalhou pelo jardim de Serralves toros de madeira
que recolheu na Islândia. Se a obra de Smithson conserva grande parte da violência que
o homem impõe à natureza, apesar de não se reduzir a este discurso, Serralves Driftwood,
tal como as outras obras que se encontram presentes na exposição em Serralves (o belo
efeito visual de Human Time is Movement, por exemplo, 3 esculturas que se baseiam,
como afirma ao jornal Público, “na velocidade e em forças centrífugas e gravitacionais”,
lembrando representações matemáticas), induz um efeito poético bastante interessante
com essa ideia de deriva. Na realidade, elas têm atrás de si uma história não muito
edificante na medida em que esses toros que dão à costa na Islândia resultam da indústria
de extracção de madeira Russa, fazendo com que este efeito poético da obra venha
carregado de uma memória e torne ambíguo essa distinção entre objecto natural e
artificial: objectos naturais, sem dúvida, mas também vestígios, restos de uma história
natural da destruição.
Um dos motivos mais interessantes nesta exposição de Olafur é esta aposta no futuro
contida no título – que tem esse curioso aspecto, ao ser traduzido, de tornar ambígua a
diferença entre “teu” e “vosso”. De facto, este discurso que coloca a ênfase nesta
modalidade temporal parecia estar arredada do meio artístico, trocada por uma reflexão
sobre o passado, por uma interrogação sobre a forma como os diversos tempos se
conjugam de maneira não linear ou, quando o futuro é efectivamente parte do discurso
artístico, por uma visão de uma catástrofe eminente – é já longa a tradição para a qual o
futuro só pode vir acompanhado de uma sensação de catástrofe. Em declarações ao jornal
Público, Olafur afirma: “Por vezes imagino um amanhã melhor do que ontem, um futuro
imaginário, e então vejo-me aqui sentado, nesta local, daqui a 20 anos, ou um, ou 10, e
envio a mim mesmo pensamentos, imagens, ideias – estou muito interessado nesse
princípio de que temos de deixar que o presente seja guiado pelo futuro”. Este futuro
imaginário, talvez demasiado optimista em certos momentos e reclamado para o âmbito
da arte, acaba por se tornar ambíguo, nem utópico nem distópico. Na realidade, o futuro
de que nos parece falar Olafur é mais do âmbito de uma injunção ética – daí essa confusão
com os pronomes possessivos na mesma entrevista: menos algo da ordem da imaginação
do que algo que será necessário construir a partir dos destroços do passado.

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