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Gilson Soares Cordeiro é doutor em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual do Ceará e
professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) campus Camocim.
2
Paulo da Ponte Portela é Especialista em Educação Biocêntrica pela Universidade do Vale do Acaraú
(UVA), graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), atua como psicólogo escolar
do InstitutoFederal do Ceará (IFCE) campus Camocim.
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INTRODUÇÃO
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Acerca da capoeira trata-se de uma prática cultural de matriz negra que agrega
elementos da cultura africana e brasileira, provavelmente gestada na interrelação Brasil
– África, portanto, afro-brasileira, no período escravocrata brasileiro (Rego apud
Fontoura; Guimarães, 2002).
A capoeira, como atividadehíbrida entre dança, coreografia e arte marcial, tem sua
gênese etimológica ligada à fusão da palavra banto caá: mato, floresta virgem e a
palavra puêira pretérito, significando algo que era, uma marcação de passado.
Outra interpretação associa o termo aos cestos que portavam os negros e negras para
comércio variado, desde transporte de pequenos animais, utensílios, comida nas feiras
nos cestos chamados de capoeira.
Segundo Vidor & Reis (2013), a gestação da capoeira remonta ao período em
que o negro usava seu corpo como arma para empreitar fugas para os quilombos ou
como defesas contra os capatazes ou contra outros negros.
Apesar desta natureza de luta, o caráter híbrido sempre esteve presente nesta
arte uma vez que entre jogo, brincadeira e luta, a capoeira tem sido uma prática de
difícil definição, indomável. No entanto, para a lei no século XIX “a capoeira é
retratada principalmente como luta. Podemos talvez afirmar que o aspecto lúdico da
capoeira era, acima de tudo, uma estratégia política para disfarçar seu aspecto
combativo na sociedade escravista” (Vidor; Reis, 2013, p. 41).
Vale destacar que a capoeira como outras manifestações da cultura negra -
lutas, danças, batuque, candomblée outras - eramentendidas como parte da desordem,
passíveis de serem punidos, estigmatizados e invisibilizadosem todo o Brasil (Vidor;
Reis, 2013).
Destacamos, por exemplo, o enquadrando da prática da capoeira como
vadiagem, desordem feita por vadios, mendigos, nos artigos 295 e 296, localizados no
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A linguagem humana de uma forma geral tem sido, durante muito tempo e ainda
nos dias atuais, vista como mero instrumento mediador, um canal que pudesse
comunicar, trazer à tona, materializar pensamentos e desejos de nossa mente. De fato,
essa visão deixou de lado uma das mais importantes características da linguagem, sua
capacidade de ser construtora da sociedade e das pessoas (Austin, 1990). Acreditamos
que, na verdade, ao nos enredarmos em diferentes práticas com a linguagem não apenas
a usamos, mas somos na linguagem, criamos a nós mesmos e o mundo social que nos
cerca (Rajagopalan, 2010).
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PERCURSO METODOLÓGICO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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