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3ª reimpressão

MINISTÉRIO DA SAÚDE
Intituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA)
Instituto Ronald McDonald

DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER


NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE
2ª edição revista e ampliada
3ª reimpressão

Rio de Janeiro, RJ
INCA
2014
© 2009 Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva/Ministério da Saúde; Instituto Ronald McDonald.
Todos os direitos reservados. A reprodução, adaptação, modificação ou utilização deste conteúdo, parcial ou integralmente, são
expressamente proibidos sem a permissão prévia, por escrito, do INCA e do Instituto Ronald McDonald e desde que não seja
para qualquer fim comercial. Venda proibida. Distribuição gratuita.
Esta obra pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde Prevenção e Controle de Câncer (http://controlecancer.
bvs.br) e nos portais do INCA (http://www.inca.gov.br), do Instituto Ronald McDonald(www.instituto-ronald.org.br) e da Sociedade
Brasileira de Oncologia Pediátrica (www.sobope.org.br).
Tiragem: 6.200 exemplares – 2014 – 2ª edição revista e ampliada, 3ª reimpressão

Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons –


Atribuição – Não Comercial – Sem Derivações – 4.0 Internacional.

Elaboração, distribuição e informações Edição


MINISTÉRIO DA SAÚDE INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER José Alencar Gomes
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA)
da Silva (INCA) COORDENAÇÃO-GERAL DE PREVENÇÃO E VIGILÂNCIA
Praça Cruz Vermelha, 23 - Centro Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica
20231-130 - Rio de Janeiro – RJ Rua Marquês de Pombal, 125 – Centro
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INSTITUTO RONALD MCDONALD (IRM) Revisão técnica


Rua Pedro Guedes, 29, 3º andar - Maracanã Joaquim Caetano de Aguirre Neto/SOBOPE (1ª edição)
20271-040 - Rio de Janeiro – RJ Luiz Claudio Santos Thuler/INCA (1ª edição)
www.instituto-ronald.org.br Maria Tereza Fonseca da Costa/INCA (1ª edição)
Anamaria D’Andrea Corbo (2ª edição)
Realização Eliane Ministro Pereira (2ª edição)
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes
da Silva (INCA) Supervisão editorial: Letícia Casado/INCA

Instituto Ronald McDonald (IRM) Produção editorial: Taís Facina/INCA

Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica Revisão


(Sobope) Cátia Guimarães (1ª edição); Rita Machado/INCA (2ª edição)
Av. Moema, 94, conjunto 301 - Moema
04077-020 – São Paulo - SP Capa, projeto gráfico e diagramação
www.sobope.org.br Cecília Pachá/INCA (1ª edição)
Taterka (colaboração/1ª edição)
Coordenação de elaboração Mariana Fernandes Teles/INCA (2ª edição)
Claudia Lossio/IRM Suéllen Gomes/IRM (colaboração/2ª edição)
Viviane Junqueira/IRM
Normalização bibliográfica
Elaboradores e colaboradores Eliana Rosa Fonseca/INCA (1ª edição)
Anexo
Ficha catalográfica
Iara Rodrigues de Amorim/INCA (2ª edição)
Impresso no Brasil/ Printed in Brazil
Flama

FICHA CATALOGRÁFICA

I59d2 Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva(Brasil).


Diagnóstico precoce do câncer na criança e no adolescente / Instituto Nacional de Câncer José Alencar
Gomes da Silva, Instituto Ronald McDonald. – 2. ed. rev. ampl., 3. reimp. – Rio de Janeiro: Inca, 2014.

146 p.: il. color.


ISBN 978-85-7318-185-2

1. Neoplasias - Diagnóstico. 2. Diagnóstico precoce. 3. Criança. 4. Adolescente.


I. Instituto Ronald McDonald. II. Título.

CDD 616.994083

Catalogação na fonte - Serviço de Edição e Informação Técnico-Científica


Títulos para indexação:
Em inglês: Early Diagnosis of Cancer in Children and Adolescents
Em espanhol: Diagnóstico Precoz del Cáncer en el Niño y en el Adolescente
Agradecimentos

Aos parceiros na concepção do Programa Diagnóstico Precoce do


Instituto Ronald McDonald:

Conselho Científico do Instituto Ronald McDonald (gestão 2007 – 2009)


Alois Bianchi
Ana Cristina Xavier
Antônio Sérgio Petrilli
Francisco Pedrosa
Jacinto Guidolin
José Carlos Córdoba
Marcos Moraes
Mário César Pereira de Araujo
Núbia Mendonça
Peter Rodenbeck
Roberto Albuquerque Sá Menezes
Sílvia Brandalise
Sima Ferman
Tania Bitti

Colaboradores
Arli Pedrosa
Eliana Claudia de Otero Ribeiro
José Carlos Portella
Luiz Santini Rodrigues da Silva
Marco Antonio Porto
Sônia Maria Rossi Vianna
Teresa Cristina Cardoso Fonseca
Wilson Melo

Aos participantes do comitê de pareceristas


Alois Bianchi
José Carlos Córdoba
Leda Amar Aquino
Maria Alice Sigaud
Maria Tereza Costa
Rejane Soares
Renato Melaragno

Às instituições participantes da etapa-piloto do Programa Diagnóstico


Precoce do Instituto Ronald McDonald
- Alagoas/Maceió: Associação dos Pais e Amigos dos Leucêmicos de Alagoas
(APALA), em parceria com a Universidade e Estadual de Ciências da Saúde
de Alagoas.
- Maranhão/São Luís: Fundação Antônio Jorge Dino, em parceria com a Agência
Intermunicipal de Consórcio das Micro-Regiões do Munim, Lençóis Maranhenses
e Baixo Parnaíba Litoral.
- Minas Gerais/Montes Claros: Fundação Sara Albuquerque, em parceria com a
Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES.
- Mato Grosso do Sul/Campo Grande: Associação dos Amigos das Crianças com
Câncer (AACC), em parceria com a Universidade para o Desenvolvimento do
Estado e da Região do Pantanal.
- Paraná/Cascavel: União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer
(UOPECCAN).
- Pernambuco/Recife: Grupo de Ajuda à Criança com Câncer (GAC), em parceria
com a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco.
- Rio Grande do Norte/Natal: Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva.
- São Paulo/Santo André: Casa Ronald McDonald–ABC, em parceria com a Facul-
dade de Medicina do ABC.

À sociedade
Pela contribuição para a causa do câncer na criança e no adolescente, em
especial aos que colaboram por meio da doação nos cofrinhos dispostos nos
restaurantes McDonald´s, de onde vem a principal receita para a realização do
Programa Diagnóstico Precoce.

Aos apoiadores
McDonald´s, Associação Brasileira de Franqueados do McDonald´s (ABFM) e
demais mantenedores do Instituto Ronald McDonald.
Prefácio

O caminho para a descoberta científica, seja baseada em pesquisas,


estudos, debates, seja nos desenvolvimentos dos diversos campos do saber, passa,
necessariamente, pela constante revisão e atualização de conceitos. Nos últimos
anos, os avanços em prevenção, detecção precoce, tratamento e controle do câncer
ganharam novas perspectivas na incessante busca para o entendimento de uma
doença tão complexa.
Como instituição de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) em
pesquisa e controle do câncer no país, o Instituto Nacional de Câncer José Alencar
Gomes da Silva (INCA) apoia diversas iniciativas que apontam tais avanços, disse-
minam novas descobertas e aprimoram o atendimento a pacientes. Esta publicação
é fruto desse enfoque. Agora, em sua segunda edição, o “Diagnóstico Precoce do
Câncer na Criança e no Adolescente” foi revisado, ampliado e atualizado em relação
a conceitos e técnicas aprofundados nos dois anos que separam esse livro de sua
primeira publicação, realizada em 2009.
Parte do Programa Diagnóstico Precoce, a versão atualizada mantém sua
premissa mestra: a de levar informação qualificada aos pediatras da rede de atenção
básica e das equipes de Saúde da Família. Esse novo capítulo da parceria do INCA/
Ministério da Saúde, da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) e do
Instituto Ronald McDonald (IRM) pretende, assim, auxiliar na melhoria da vida de
milhares de crianças e adolescentes com câncer.
Mantendo o mesmo padrão de qualidade da edição anterior, com textos
chancelados por profissionais de alto gabarito sob a coordenação das três insti-
tuições, a versão revisada amplia e/ou lança novas abordagens em relação a quatro
temas: rede de proteção social, toxicidade, cuidados odontológicos e a importância
da Estratégia Saúde da Família. Esse último valoriza ainda mais a ação de quem
opera nessa área tão vital para o SUS, o elo principal na manutenção da capilaridade
de atendimento à população.
A esse profissional cabe a difícil tarefa de identificar sintomas que, se
diagnosticados precocemente, podem antecipar um tratamento e trazer a cura para
pacientes. Hoje, o câncer é a segunda causa de mortalidade entre o público abaixo
de 19 anos no país. No mundo todo, é a segunda doença que mais mata, precedida
apenas por doenças cardiovasculares. Segundo estimativa da Organização Mundial
da Saúde (OMS), o câncer chegará, em 2030, a vitimar 12 milhões de pessoas.
Tal retrospecto motiva a Organização das Nações Unidas (ONU) a não
medir esforços em mobilizar a comunidade científica, os governos e a sociedade em
geral em torno do tema, buscando um maior comprometimento na agenda mundial
sobre as questões ligadas às doenças não transmissíveis e ao câncer. Como se
pode avaliar, vencer tal desafio depende da participação de todos nós que fazemos
do câncer uma prioridade no tocante à saúde pública.

Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva


Apresentações

Instituto Ronald McDonald

O Instituto Ronald McDonald (IRM), organização sem fins lucrativos


fundada em 8 de abril de 1999, tem como missão promover a saúde e a qualidade
de vida de crianças e adolescentes com câncer e, assim, contribuir para mudar o
panorama do câncer infantojuvenil no Brasil.
A cada novo ano, o IRM consolida suas ações pela cura de crianças e
adolescentes com câncer e é uma motivação para a equipe, apoiadores e parceiros
constatar que essa causa se torna cada vez mais forte e a atuação do instituto cada
vez mais ampla.
No entanto, os desafios também são cada vez maiores e, por isso,
queremos consolidar e ampliar os Programas do IRM – Diagnóstico Precoce,
Atenção Integral e Casa Ronald McDonald – e, com uma visão integrada das
demandas prioritárias na oncologia pediátrica, colaborar para o aumento do índice
de cura.
A realização dos projetos contemplados pelos Programas Atenção Integral
e Casa Ronald McDonald garantem a ampliação da abrangência e a melhoria da
qualidade do atendimento oferecido às crianças e adolescentes. Entretanto, além
da excelência do tratamento médico hospitalar e de um atendimento de qualidade
oferecido pelas casas de apoio, é fundamental que a criança e o adolescente
obtenham um diagnóstico precoce e preciso, o que aumenta imensamente suas
chances de cura. Por isso a importância do Programa Diagnóstico Precoce.
E, na busca pela excelência nas ações, o IRM trabalha em conjunto com o
Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA), órgão do Minis-
tério da Saúde (MS), a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope) e a
Confederação Nacional das Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao
Adolescente com Câncer (CONIACC). As instituições de atendimento à criança e
ao adolescente de todo o Brasil, que atuam como parceiras por intermédio dos
Programas, também são atores fundamentais nesse cenário e, por isso, trabalhamos
constantemente para que estejam todos alinhados, com os mesmos objetivos e
resultados a serem alcançados: a cura e a qualidade de vida de crianças e adoles-
centes com câncer.
E é com orgulho e expectativa que apresentamos esta publicação, a 2ª
edição do material de apoio ao Programa Diagnóstico Precoce, pois desejamos
que os participantes do programa, usuários desse material, possam, junto
com o IRM e todos os parceiros, assumir os desafios que se apresentam e
oferecer a oportunidade de que crianças, adolescentes e seus familiares reconquis-
tem a esperança.
Boa leitura e excelente trabalho!

Francisco Neves
Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica

Nos países desenvolvidos, a taxa de cura do câncer na criança e no


adolescente supera os 70%. No entanto, no Brasil, dados oficiais dos Registros
Hospitalares de Câncer mostram que o país está aquém dessas cifras. Pode-se
atribuir essa defasagem à demora na suspeita do diagnóstico que, se fosse realizado
precocemente, agilizaria o encaminhamento dos pacientes, e à qualidade do trata-
mento oferecido, tornando as condições bastante diferentes nesse imenso território.
Não é possível admitir que algumas crianças ainda morram, neste país, não por ter
câncer, mas por serem brasileiras.
Uma ação conjunta entre o governo, as instituições que tratam as crianças e
adolescentes com câncer, as sociedades médicas e instituições de saúde do terceiro
setor poderia atenuar e/ou resolver essa importante questão.
Há doze anos, o Instituto Ronald McDonald (IRM) vem trabalhando para
mudar o panorama do câncer na criança e no adolescente no Brasil, através de
campanhas como o McDia Feliz. Contudo, além da captação de recursos para investir
em iniciativas em benefício de crianças e adolescentes com câncer, nos últimos anos,
o IRM firmou uma parceria com o Instituto Nacional de Câncer (INCA) e a Sociedade
Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope). Desde então, novas frentes de trabalho
surgiram, destacando-se o Programa Diagnóstico Precoce, do IRM, que tem como
escopo a Atenção Básica de Saúde, em especial a Estratégia Saúde da Família, que
hoje atende quase 50% da população brasileira e é o primeiro local de atendimento
de uma criança doente — e onde a suspeita do câncer deve surgir, encurtando o
tempo, às vezes de semanas ou meses, até que o paciente seja encaminhado para um
serviço especializado.
Desde 2007, o IRM, com apoio do INCA e da Sobope, vem desenvolvendo um
estudo-piloto com oito instituições e capacitando os profissionais da Saúde da Família.
Nesse processo, várias suspeitas de câncer já ocorreram e tiveram encaminhamento
adequado, mas o maior mérito talvez não possa ser quantificado: a difusão do
conhecimento.
Atualmente, estamos em fase de ampliação. E digo “estamos” porque a Sobope
se sente totalmente envolvida nessa iniciativa.
O IRM não parou por aí: além do Programa Diagnóstico Precoce, desen-
volveu o Programa Atenção Integral, que destina recursos para projetos de institui-
ções que apresentem demanda e condições de oferecer as melhores chances de
cura com qualidade de vida aos pacientes. Dessa maneira, o IRM fecha o circuito:
capacitação dos profissionais para o diagnóstico precoce e atendimento adequado
do câncer da criança e do adolescente.
Parabéns!

Renato Melaragno
Sumário

Agradecimentos..................................................................................................3

Prefácio..................................................................................................................5

Apresentações....................................................................................................7
Instituto Ronald McDonald.......................................................................................7
Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica.........................................................8

Introdução..........................................................................................................13
O Programa Diagnóstico Precoce..........................................................................14

Capítulo 1 - Aspectos epidemiológicos e de organização


da Rede de Atenção Oncológica.................................................................19
Legislação e políticas públicas...............................................................................21

Capítulo 2 - A importância da Estratégia Saúde da Família


na detecção precoce e no acompanhamento das crianças
e dos adolescentes com câncer................................................................25
A Estratégia Saúde da Família e o atendimento oncológico infantojuvenil............25
Atribuições dos profissionais da Estratégia Saúde da Família...............................27
Agente Comunitário de Saúde................................................................................28
Equipe de Enfermagem..........................................................................................29
Médico....................................................................................................................30
Considerações........................................................................................................30

Capítulo 3 - Direitos da criança e do adolescente portadores


de câncer.............................................................................................................33
Problemas e benefícios relativos ao emprego e renda..........................................34
Direito à educação especial...................................................................................37
Rede de proteção social: o papel das instituições de apoio..................................38

Capítulo 4 - Detecção precoce: possibilidades e limites.................41


Fatores que influenciam no tempo para o diagnóstico...........................................45
Cadeia de cuidado para diagnóstico e tratamento do câncer.................................48
Ações que podem contribuir para o diagnóstico precoce.......................................51

Capítulo 5 - Sinais e sintomas do câncer na infância


e na adolescência.............................................................................................53
Sinais e sintomas inespecíficos, constitucionais e generalizados.........................56
Principais grupos de neoplasias e suas recomendações......................................59
População de risco.................................................................................................78
O desafio de pensar no câncer...............................................................................80
Capítulo 6 - Cuidados necessários com a criança e
o adolescente com câncer..........................................................................81
Principais efeitos colaterais...................................................................................82
Principais complicações do tratamento quimioterápico e medidas para sua
prevenção..............................................................................................................84
Cuidar com qualidade............................................................................................91
Cuidados odontológicos.........................................................................................92

Capítulo 7 - Cuidados paliativos em oncologia pediátrica............101


Princípios e parâmetros éticos............................................................................102
Quando iniciar o cuidado paliativo?.....................................................................103
Comunicação.......................................................................................................103
Controle de sintomas...........................................................................................105
Dor.......................................................................................................................108
Terminalidade.......................................................................................................116
Luto......................................................................................................................118
Aspectos éticos e legais.......................................................................................118

Capítulo 8 - Aspectos psicológicos no cuidado da criança


e do adolescente com câncer...................................................................119
História da doença e do tratamento.....................................................................120
Comunicação com o paciente e a família.............................................................121
Tratamento...........................................................................................................122
Fim do tratamento................................................................................................122
Sequelas do tratamento.......................................................................................123
Recaída da doença..............................................................................................123
Possibilidade de morte.........................................................................................124
Fim da vida...........................................................................................................124
O paciente, sua doença, seus familiares, seus cuidadores..................................124
Importância do acompanhamento psicológico.....................................................127

Referências.......................................................................................................129

Anexo....................................................................................................................141
Equipe de elaboração...........................................................................................141
Colaboradores......................................................................................................143
Lista de Ilustrações

Quadros

Quadro 1 - Projetos da etapa-piloto......................................................................15

Quadro 2 - Números da etapa-piloto....................................................................16

Quadro 3 - Exemplos das consequências relacionadas ao atraso do diagnóstico


do câncer na criança e no adolescente.................................................................43

Quadro 4 - Apresentação clínica de crianças com o diagnóstico inicial de câncer


atendidas em um departamento de emergência....................................................45

Quadro 5 - Sinais e sintomas do câncer infantil e o seu diagnóstico diferencial....54

Quadro 6 - Dados de importância no diagnóstico diferencial de adenopatias


benignas, malignas e infecciosas..........................................................................59

Quadro 7 - Ordem decrescente de frequência dos sinais e sintomas em crianças


com tumores intracranianos...................................................................................68

Quadro 8 - Síndromes genéticas e malformações associadas ao câncer na


criança e no adolescente........................................................................................78

Quadro 9 - Relação das vacinas para crianças e adolescentes em tratamento


de câncer................................................................................................................89

Quadro 10 - Escala de toxidade oral da Organização Mundial da Saúde.............95

Quadro 11 - Agentes não opiáceos.....................................................................112

Quadro 12 - Agentes opioides.............................................................................113

Quadro 13 - Adjuvantes antiálgicos.....................................................................114

Figuras

Figura 1 - Modalidades de prevenção do câncer e pontos de intervenção..........41

Figura 2 - Cadeia do cuidado para diagnóstico e tratamento do câncer..............50

Figura 3 - Fluxograma sobre os sinais de alerta para as leucemias....................61


Figura 4 - Fluxograma sobre os sinais de alerta para os linfomas........................64

Figura 5 - Fluxograma sobre os sinais de alerta para as massas abdominais....67

Figura 6 - Localização dos tumores cerebrais.......................................................69

Figura 7 - Fluxograma sobre os sinais de alerta para tumores do Sistema


Nervoso Central e retinoblastoma..........................................................................72

Figura 8 - Fluxograma sobre os sinais de alerta para tumores ósseos e


de partes moles......................................................................................................76

Figura 9 - Escala da dor......................................................................................109

Figura 10 - Tratamento da dor segundo a Organização Mundial da Saúde........110


Introdução

Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), podem


ser esperados, no biênio 2010/2011, 9.386 novos casos de câncer em crianças
e adolescentes por ano. Isso representa cerca de 2,5% de todos os novos casos
de câncer no país (INCA, 2009). Apesar de ser pouco significativo se comparado
ao câncer em adultos, a doença é a segunda causa de morte na faixa etária de
5 a 19 anos, ultrapassada apenas pelos óbitos por causas externas (DATASUS,
2009). Dados do Ministério da Saúde (MS) mostram que, no Brasil, tem havido
uma diminuição significativa do número de óbitos em crianças e adolescentes
por doenças infecciosas e parasitárias, doenças dos aparelhos circulatório e
respiratório e afecções originadas no período perinatal. Por outro lado, ganham
importância as mortes por neoplasias e por causas externas.
É nesse contexto que surge este livro, como produto do Programa
Diagnóstico Precoce do Instituto Ronald McDonald (IRM), que tem como objetivo
contribuir para a identificação precoce do câncer em crianças e adolescentes,
de forma a reduzir o tempo entre o aparecimento de sinais e sintomas e o
diagnóstico em um serviço especializado, aumentando a probabilidade de
cura. Dessa forma, propõe-se a colaborar na organização da Rede de Atenção
Oncológica e a qualificar a assistência à saúde nas áreas adscritas às equipes
da Estratégia Saúde da Família (ESF).
Para dar conta de seus objetivos, o Programa considera um conjunto
amplo e complexo de fatores que influenciam na detecção precoce do câncer.
Fatores que levam em consideração desde a capacidade do profissional médico
para suspeitar de uma neoplasia e a conduta adequada para avaliar sua suspei-
ta, até à oferta de serviços diagnósticos na rede de saúde pública e à condição
socioeconômica da família para deslocamento e dedicação.
O Programa Diagnóstico Precoce se concentra na Atenção Básica, mais
especificamente na ESF, porque é nesse nível de assistência que acontece
o primeiro contato da população com o sistema de saúde. A Saúde da Família
é a estratégia definida pelo MS para a organização do sistema a partir da
Atenção Básica. Segundo o MS, em fevereiro de 2011, 95% dos municípios
brasileiros haviam implantado a estratégia em seu território, perfazendo 52,6%
da população coberta pelas suas ações.
A proximidade e o acompanhamento contínuo das famílias de um
determinado território colocam os profissionais da ESF em uma situação
privilegiada para a identificação dos sinais e sintomas da doença, o que pode
propiciar maior agilidade na suspeita e no diagnóstico de câncer em crianças e
adolescentes. Por essa razão, a Portaria n° 2.439, de 8 de dezembro de 2005,
que instituiu a Política Nacional de Atenção Oncológica, no que diz respeito à
detecção precoce, dá destaque ao trabalho dos profissionais da Atenção Básica,
em especial às equipes da ESF.
13
O Programa Diagnóstico Precoce

O Programa Diagnóstico Precoce do IRM, que começou a ser concebido


em 2005, teve como inspiração as experiências exitosas de Recife (PE) e de
Itabuna (BA) em ações de detecção precoce de câncer na criança e no adoles-
cente.
No Recife, o Núcleo de Apoio à Criança e ao Adolescente com Cân-
cer (NACC) desenvolvia, desde 2002, um trabalho de educação continuada de
Agentes Comunitários de Saúde (ACS), articulado com a Secretaria de Saúde
do Estado de Pernambuco, para capacitá-los em relação à suspeita do câncer.
O Grupo de Apoio à Criança e ao Adolescente com Câncer (GACC)
de Itabuna, de forma análoga, também atuava com as equipes de Saúde da
Família. Um núcleo de estudantes de medicina da Universidade Estadual de
Santa Cruz, em Ilhéus (BA), teve papel importante na execução desse projeto,
ampliando seus benefícios à qualificação de novos profissionais.
Foi então formado um grupo de trabalho com representantes do Conse-
lho Científico do IRM, do INCA, da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica
(Sobope), da União Norte e Nordeste das Entidades de Apoio à Criança com
Câncer (UNEACC) e da União Sul e Sudeste das Instituições de Assistência à
Criança e ao Adolescente com Câncer (Universo), além das coordenadoras dos
programas de Recife e Itabuna. Esse grupo discutiu e trabalhou na elaboração
de um Programa que deveria ter essas experiências como base, mas precisava
também garantir flexibilidade suficiente para ser implementado em todo o territó-
rio nacional, respeitando-se as especificidades regionais.
O grupo de trabalho foi responsável pela definição das diretrizes do
Programa e, em 2007, com a contratação de consultoras em Saúde Pública,
foi elaborado e lançado um edital para o desenvolvimento de uma etapa-piloto
do Programa. Foram convidadas a participar dessa primeira seleção as institui-
ções parceiras do IRM previamente cadastradas. Após um processo seletivo que
contou com a avaliação de um comitê de pareceristas de diferentes especiali-
dades (educação, saúde pública, oncologia pediátrica) e do Conselho Científico
do IRM, oito projetos foram selecionados. Além do caráter técnico, a seleção
priorizou também uma distribuição regional: com exceção da região Norte, todas
as outras foram contempladas pelo edital, assegurando uma representatividade
importante na avaliação do Programa (Quadro 1).

14
Quadro 1 – Projetos da etapa-piloto

Relação dos projetos executados na etapa-piloto


1. Alagoas (Maceió)
Instituição: Associação dos Pais e Amigos dos Leucêmicos de Alagoas (APALA), em
parceria com a Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas
Título do Projeto: Quanto mais cedo melhor
2. Maranhão (São Luís)
Instituição: Fundação Antônio Jorge Dino, em parceria com a Agência Intermunicipal de
Consórcio das Micro-Regiões do Munim, Lençóis Maranhenses e Baixo Parnaíba Litoral
Título do Projeto: Diagnóstico precoce do câncer pediátrico: papel do Programa de Saúde
da Família na Região do Munim, no Estado do Maranhão
3. Minas Gerais (Montes Claros)
Instituição: Fundação Sara Albuquerque, em parceria com a Universidade Estadual de
Montes Claros – UNIMONTES
Título do Projeto: Articulando o Diagnóstico Precoce
4. Mato Grosso do Sul (Campo Grande)
Instituição: Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC), em parceria com a
Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal
Título do Projeto: Capacitação de Equipes Saúde da Família para a Promoção do
Diagnóstico Precoce de Câncer em Crianças e Adolescentes, no Estado de Mato
Grosso do Sul
5. Paraná (Cascavel)
Instituição: União Oeste Paranaense de Estudos e Combate ao Câncer (UOPECCAN)
Título do Projeto: Diagnóstico Precoce do Câncer na Criança e no Adolescente
6. Pernambuco (Recife)
Instituição: Grupo de Ajuda à Criança com Câncer (GAC), em parceria com a Faculdade
de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco
Título do Projeto: Diagnóstico Precoce do Câncer Infanto-Juvenil na Atenção Primária à
Saúde: o desafio de capacitar a Atenção Básica construindo um protocolo de organização
do serviço
7. Rio Grande do Norte (Natal)
Instituição: Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva
Título do Projeto: Campanha do Diagnóstico Precoce do Câncer Infantil
8. São Paulo (Santo André)
Instituição: Casa Ronald McDonald – ABC em parceria com a Faculdade de Medicina do
ABC
Título do Projeto: Estratégias para o Diagnóstico Precoce do Câncer em Crianças e
Adolescentes do Município de São Bernardo do Campo: Parceria com o Programa de
Saúde da Família

15
A etapa-piloto, que teve como objetivo principal avaliar o modelo
desenhado para o Programa, foi realizada em 2008 e representou um período
de intensa troca de experiências e conhecimentos entre todos os participantes.
Mesmo sendo realizadas na condição de teste, essas iniciativas promoveram
resultados surpreendentes na identificação de casos suspeitos em curto prazo,
indicando uma provável melhoria na qualificação das suspeitas e na organização
da rede.
Durante essa etapa, foram realizados três workshops, além de visitas
aos locais de desenvolvimento dos projetos. Ao longo desse processo, foram
consolidadas informações e geradas estatísticas sobre o perfil dos profissionais
capacitados e o resultado do processo de aprendizagem. Analisando esses
dados, a equipe do Programa pôde ajustar o plano de curso e rever os
instrumentos de avaliação. Também a partir da experiência da etapa-piloto,
decidiu-se elaborar um material didático único para o Programa. Este livro é
a principal peça desse material, desenvolvido para subsidiar a formação e
servir de fonte permanente de consulta para os profissionais capacitados
pelo Programa.

Quadro 2 – Números da etapa-piloto

A etapa-piloto em números
Investimento do Instituto Ronald McDonald nos projetos R$ 416.837,00

Quantidade de profissionais capacitados 2.606

Quantidade de municípios onde ocorreram as capacitações 24

Quantidade de equipes da ESF envolvidas 229

População total atendida pelas equipes de ESF capacitadas 640.910

Em 2009, foi publicado novo edital de seleção de projetos. Para essa


etapa do Programa, além do material de apoio, foi disponibilizado um Portal de
Serviços. Em ambos os casos, o IRM contou com o apoio institucional do INCA
e da Sobope.
O Portal foi idealizado com o objetivo de colaborar na gestão do
Programa, permitindo o monitoramento dos projetos de capacitação nos municí-
pios onde são realizados e oferecendo ferramentas de apoio aos coordenadores
dos projetos.
Nessa segunda etapa do Programa, 13 projetos foram selecionados,
permitindo que a iniciativa chegasse a novos Estados, como Bahia, Ceará e Rio
de Janeiro, além de ter sido ampliada na maioria das regiões que tiveram repre-
sentação na etapa-piloto.

16
O IRM entende que, por meio desse Programa, é possível empreender
ações estruturadas e comuns, em todo o território nacional, construindo uma
grande rede que permitirá acompanhar os resultados a médio e longo prazos. A
consolidação da estratégia do Programa também colabora para ampliar e forta-
lecer iniciativas similares em um grande movimento que contagia, esclarece e
desmistifica o tema. Trata-se de um modelo de gestão absolutamente colabora-
tivo, no qual Estado, iniciativa privada e sociedade civil organizada são aliados
em prol de um mesmo objetivo: assegurar maior possibilidade de cura a crianças
e adolescentes com câncer.
Sendo um dos principais produtos desse trabalho, a primeira edição
deste livro foi construída não só a partir dos oito projetos da etapa-piloto, mas
também por especialistas voluntários do INCA e da Sobope. Essa nova edição,
atualizada com base na experiência dos projetos da segunda etapa do Progra-
ma, ganhou novos capítulos que abordam o papel dos profissionais da ESF
na suspeita da doença e no acompanhamento do paciente com câncer, cuida-
dos em saúde bucal e o papel das instituições de apoio. Espera-se que seu
conteúdo, que aborda desde a suspeita da doença até os cuidados necessários
durante o tratamento, fortaleça o trabalho desenvolvido na ESF e colabore com
a detecção precoce e com a construção de uma rede de assistência integral à
criança e ao adolescente com câncer.

17
CAPÍTULO 1

Aspectos epidemiológicos e de
organização da rede de atenção oncológica

Os principais dados epidemiológicos que possibilitam a descrição da


situação do câncer em determinada população são a INCIDÊNCIA, ou seja,
o total de casos novos da doença no período avaliado; a SOBREVIDA, que
representa o tempo de vida após o diagnóstico da doença e inclusão do indiví-
duo com câncer em um sistema de informações que permita o seu acompanha-
mento; e a MORTALIDADE, que relaciona os óbitos que tiveram como causa as
neoplasias malignas.
Para a estimativa de incidência por câncer na infância e juventude,
é necessária a implantação de sistemas de informação com Registros de
Câncer de Base Populacional (RCBP). No Brasil, existem, atualmente,
28 RCBP, sendo que, desses, 20 apresentavam informações consolidadas para
um ano, o que permitiu a publicação recente, pelo INCA, de informações sobre
taxas de incidência por câncer na população de 0 a 19 anos de alguns municípios
brasileiros. Essas taxas variaram, considerando-se períodos de acompa-
nhamento diferentes, de 76,85 por 1 milhão (taxas ajustadas por idade), nos
RCBP da cidade de Belém (PA), até 220,32 por 1 milhão em São Paulo (SP)
e 230,98 em Goiânia (GO), sugerindo que existam problemas de acesso ao
diagnóstico em regiões com menor oferta de serviços especializados. Para se ter
uma ideia do que essas taxas significam, é importante compará-las com as de outros
países, no mesmo grupo etário: nos Estados Unidos da América, na década
de 1990, a taxa média era de 149 por 1 milhão, chegando a 165,92 em estudo
americano mais recente, e a 157 casos novos por 1 milhão de habitantes
de 0 a 19 anos, em estudo europeu de 2004, sendo maior a incidência no
sexo masculino (INCA, 2008).
O percentual mediano dos tumores pediátricos encontrados nos RCBP
brasileiros situa-se próximo a 2,5%, o que permite o cálculo estimado de
9.386 casos por ano de tumores pediátricos no país, se retirados os tumores
de pele não melanoma do total estimado para a população em geral
(INCA, 2009). Esse número de casos novos estimados, quando calculado para
diferentes estados e regiões do país, deve servir como parâmetro para o
planejamento de ações e organização dos centros ou unidades com
oncopediatria, na medida em que os melhores resultados são esperados
quando respeitadas escalas que possam garantir um número razoável de casos
acompanhados por ano e por serviço. Desse modo, evita-se a excessiva

19
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

fragmentação da oferta, frequentemente associada a resultados insatisfatórios


e pior desempenho dos serviços de acompanhamento.
As formas mais frequentes de câncer na infância e na adolescência são
as leucemias, principalmente a leucemia linfoide aguda, sendo também muito
recorrentes os tumores de Sistema Nervoso Central (SNC). Na cidade de São
Paulo, existe um registro de base hospitalar de câncer da Fundação Oncocentro
de São Paulo (FOSP), em que podem ser verificadas informações sobre tipos
mais frequentes de câncer na população brasileira de 0 a 18 anos, no período de
2000 até junho de 2008: 25,7% dos casos foram de leucemias, 16,3% de linfo-
mas e 12,8% de tumores do SNC (FOSP, 2008). O fato de, no Brasil, os tumores
de SNC ocuparem o terceiro lugar na incidência, depois das leucemias e dos lin-
fomas, além de demonstrar a necessidade de mais estudos que possam explicar
esse quadro, pode sugerir que existam problemas de subdiagnóstico no caso dos
tumores de SNC, já que, nos países desenvolvidos, esse grupo de neoplasias é
o segundo mais frequente.
A sobrevida no câncer pediátrico está relacionada a diversos fatores,
entre eles, os relacionados ao paciente, como sexo e idade, assim como a
localização, extensão e tipo de tumor. Entretanto, as questões inerentes à
organização do sistema de saúde — que podem implicar maior ou menor
facilidade e oportunidade de diagnóstico, referência para tratamento, qualidade
do tratamento e suporte social — também contribuem para determinar chances
diferenciadas de sobrevida (BLACK; SANKARANARAYANAN; PARKIN, 1998).
A sobrevida de crianças com câncer melhorou muito nos últimos
30 anos. Antes disso, essa era uma doença quase sempre associada à morte,
enquanto hoje, na maioria dos centros desenvolvidos, sua cura ultrapassa a
faixa de 70% dos casos (INCA, 2008). Nos Estados Unidos, a sobrevida em
cinco anos do câncer em crianças e adolescentes aumentou de 28%, em 1960,
para 75%, em 1990, um crescimento de 42% (SIMONE; LYONS, 1998). Na
Europa, a sobrevida em cinco anos de crianças também melhorou, passando
de 44%, naquelas diagnosticadas em 1970, para 64%, em crianças diagnosti-
cadas em 1980, e 74%, para crianças diagnosticadas em 1990 (STELIAROVA-
FOUCHER et al., 2004). Vários fatores colaboraram para a melhora dos
resultados, como o cuidado especializado das crianças em unidades de
oncologia pediátrica dedicadas, com equipes especializadas e participação em
estudos clínicos prospectivos bem delineados (CRAFT, 2000; SIMONE, 2006).
No Brasil, embora os resultados de muitos serviços especializados
sejam comparáveis aos de países mais ricos, persistem diferenças regionais
na oferta desses serviços, fazendo com que as médias de sobrevida no país

20
CAPÍTULO 1

ainda estejam abaixo daquela esperada para o desenvolvimento e conhecimen-


to técnico do momento. A mortalidade por câncer, no grupo de 0 a 19 anos,
apresenta-se hoje como uma das principais causas de óbitos, proporcional-
mente, na medida em que houve redução das causas relacionadas à prevenção por
imunização e outras ações básicas de saúde, assim como a melhores condições
de vida. Até o momento, não são conhecidos fatores de risco que determinem
isoladamente maior probabilidade de aparecimento do câncer na criança e no
adolescente nem maior risco para a letalidade por essa causa. As propostas
de enfoque diferenciado das políticas públicas para a questão do câncer na
infância e adolescência justificam-se pela expressão da mortalidade propor-
cional hoje demonstrada nesse grupo. O câncer já aparece entre as cinco
principais causas de óbitos no Brasil desde os primeiros anos de vida (INCA,
2008), porém é na faixa etária dos 5 aos 18 anos — que frequentemente
recebe menor prioridade das ações de vigilância em saúde, incluindo-se a
atenção básica — que o câncer representa a primeira causa de óbitos por
doença, se não forem considerados os óbitos por causas externas (acidentes
e violência). Esses dados são suficientes, portanto, para destacar a
importância atual do câncer na formulação de políticas e ações de saúde da
criança e do adolescente.
Desse modo, as estratégias de ampliação da sensibilidade do
sistema de saúde e serviços em geral, visando à suspeita diagnóstica nos
casos sugestivos, mesmo sendo a maior parte de seus sinais e sintomas
inespecíficos, poderão resultar na detecção precoce de casos, impulsionando
a necessidade da organização da rede de serviços, nos seus diferentes níveis
de assistência, de modo a garantir o acesso também precoce ao tratamento
adequado e de qualidade.

Legislação e políticas públicas

Desde a década de 1930, com a criação do Centro de Cancerologia no


Serviço de Assistência Hospitalar do Distrito Federal, iniciou-se o processo de
organização de ações voltadas para o tratamento do câncer. Em 1941, foi elabo-
rada uma Política Nacional de Controle do Câncer, que foi modificada e desen-
volvida por diferentes contextos políticos e institucionais. Com a promulgação da
Lei Orgânica da Saúde, que criou o Sistema Único de Saúde (SUS), em 1990,
observou-se o fortalecimento do INCA/MS, em sua função de órgão formulador
da política nacional de prevenção e controle do câncer.

21
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Com a publicação da Portaria GM/MS nº 3.535, de 2 de setembro


habilitadas para a assistência oncológica que, apesar de já apresentar um
razoável nível de organização, ainda não se mostrava capaz de determinar
impacto suficiente para alterar positivamente as curvas de sobrevida e mortali-
dade por câncer.
A partir de 2003, o INCA iniciou um processo de inovação conceitual com
a definição do câncer como um problema de saúde pública, exigindo, assim, a ne-
cessidade da contribuição dos serviços de saúde de todos os níveis de complexi-
dade, a participação das instituições da sociedade civil e a busca pela ampliação
da visibilidade, da compreensão e da inclusão do controle do câncer na pauta
cotidiana dos meios de comunicação e das autoridades das mais diversas áreas.
Em 2005, o MS lançou a Política Nacional de Atenção Oncológica,
que apresenta como premissa a necessária integração da atenção básica à
média e alta complexidades, buscando facilidades para o acesso a todas as
instâncias de atenção e controle do câncer, além da oferta e utilização racional
dos serviços hospitalares e das tecnologias médicas (Portaria GM/MS nº 2.439,
de 8 de dezembro de 2005).
Segundo a referida portaria, a Política Nacional de Atenção Oncológica
deve ser organizada de forma articulada com o MS e com as secretarias de
saúde dos estados e municípios, permitindo, entre outros aspectos, a organiza-
ção de uma linha de cuidados que perpasse todos os níveis de Atenção (Básica,
Especializada de Média e Alta Complexidades) e de atendimento (promoção,
prevenção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e cuidados paliativos). No caso
específico da Atenção Básica, recomenda a realização de ações de caráter indi-
vidual e coletivo, voltadas para a promoção da saúde, prevenção do câncer, bem
como para o diagnóstico precoce e apoio à terapêutica de tumores, aos cuidados
paliativos e às ações clínicas para o seguimento de doentes tratados. A Média
Complexidade tem a responsabilidade pela assistência diagnóstica e terapêu-
tica especializada, inclusive cuidados paliativos, garantida a partir do processo
de referência e contrarreferência dos pacientes, ações essas que devem ser
organizadas segundo planejamento de cada unidade federada e os princípios e
diretrizes da universalidade, equidade, regionalização, hierarquização e integra-
lidade da atenção à saúde. Por sua vez, à Alta Complexidade deve ser garantido
o acesso de doentes com diagnóstico clínico ou com diagnóstico definitivo de
câncer. É nesse nível de atenção que se deve determinar a extensão da neopla-
sia (estadiamento), tratar, cuidar e assegurar qualidade de acordo com rotinas
e condutas estabelecidas, o que se dará por meio de Unidades de Assistência
de Alta Complexidade em Oncologia (Unacons) e Centros de Assistência de Alta
Complexidade em Oncologia (Cacons).
22
CAPÍTULO 1

Os prazos e critérios para o credenciamento e habilitação em Oncologia


foram atualizados pela Portaria SAS/MS nº 741, de 19 de dezembro de 2005,
complementada pela Portaria SAS/MS nº 361, de 25 de junho de 2007, que
redefiniu as habilitações em Oncologia na Tabela de Habilitações de Serviços
Especializados, do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, e pela
Portaria SAS/MS nº 62, de 11 de março de 2009.
Na Portaria SAS/MS nº 741, de 2005, que contou com a participação
do INCA na sua elaboração, estão conceituadas as Unacons, os Cacons e os
Centros de Referência de Alta Complexidade em Oncologia, determinando seus
papéis na rede de saúde e as qualidades técnicas necessárias ao bom desem-
penho no contexto da rede assistencial. O credenciamento dos serviços nos
diferentes níveis de atenção depende de suas condições e do perfil de desem-
penho, porém é determinado a partir de parâmetros que consideram uma base
territorial de atuação, a partir das estimativas de casos novos de câncer por ano,
em determinada região, relacionando esses números às necessidades de oferta
de atenção oncológica.
As Unacons podem prestar serviços em diferentes especialidades,
incluindo-se o Serviço de Oncologia Pediátrica. Do mesmo modo, por decisão
do respectivo gestor do SUS, com base na análise de necessidades, um hospital
exclusivo de Pediatria pode ser credenciado como Unidade de Assistência de
Alta Complexidade em Oncologia Pediátrica, exclusivamente para o diagnóstico
e tratamento de neoplasias malignas de crianças e adolescentes.
No processo de crescimento da Oncologia Pediátrica no país, grande
relevância deve ser atribuída ao trabalho e interesse dos médicos oncologistas
e hematologistas especializados em pediatria de diferentes centros de trata-
mento, assim como ao papel das organizações não governamentais e das ins-
tituições que proporcionam apoio e suporte social às famílias e pacientes com
câncer. Com o impacto de novas abordagens terapêuticas nas últimas décadas
— acarretando aumento das expectativas de sobrevida nos casos de câncer
na infância e juventude, nos centros mais desenvolvidos —, além do interes-
se crescente e permanente de diferentes setores da sociedade em promover
melhores condições de tratamento e maiores chances de sobrevida para crian-
ças com câncer, o MS, através do INCA, tem recebido demandas de implemen-
tação de ações específicas voltadas ao controle desse agravo como resposta
das instituições governamentais ao quadro atual de morbimortalidade por câncer
nesse grupo populacional.
Nos últimos anos, algumas propostas e programas, coordenados prin-
cipalmente por organizações não governamentais, serviços especializados e
poucos representantes de órgãos governamentais, buscaram desenvolver ações
23
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

visando à capacitação de equipes de saúde em geral com o objetivo de ampliar


a sensibilidade do sistema de saúde para o diagnóstico precoce do câncer na
criança e no adolescente, identificando o diagnóstico tardio como um dos fatores
que contribuem para resultados insatisfatórios no tratamento do câncer nesse
grupo. O desenvolvimento de tais propostas acabou por dar maior visibilidade
aos problemas de oferta de serviços e à necessidade de articulação da rede de
assistência em oncologia pediátrica, a partir da constatação de que as ações
para um diagnóstico precoce não serão suficientes se não for garantido também
o acesso oportuno e adequado aos centros de tratamento.
Como resposta às demandas para que cumprisse o seu papel na
formulação de políticas públicas na área de atenção ao câncer, o INCA
formou, em julho de 2008, um Fórum Permanente de Atenção Integral à
Criança e ao Adolescente com Câncer, visando à integração entre diferentes
instâncias governamentais, entidades científicas e médicas — como a
Sobope e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) —, além de organizações
não governamentais de apoio social, para alcance de melhores resultados
no diagnóstico e tratamento da doença. Por ocasião da implantação do
Fórum, foram definidas linhas de trabalho, tais como a de orientação diag-
nóstica, divulgação e comunicação, qualidade da assistência especializada
e avaliação dos serviços de oncopediatria, que devem ser implementadas e
aperfeiçoadas, caracterizando-se como uma área técnica diferenciada na gestão
da Rede de Atenção Oncológica. A ampla representação da composição desse
Fórum permite a implementação de projetos-piloto em que a qualificação dos
profissionais da atenção básica seja a principal estratégia para melhorar os
índices de diagnóstico precoce. Todavia, somente a adequada qualificação
dos profissionais da atenção básica não é suficiente para impactar a sobrevida
das crianças e adolescentes com câncer. Tal estratégia deve ser acompanhada
pela responsabilização das autoridades sanitárias na organização de fluxos
de atendimento e no estabelecimento de referências para a estruturação de
redes de atenção (INCA, 2008).

24
CAPÍTULO 2

A importância da estratégia saúde da família


na detecção precoce e no acompanhamento
das crianças e dos adolescentes com câncer

As crianças e adolescentes com câncer devem ter um atendimento que


contemple uma atenção global, que se inicia no acesso à prevenção, passando
pelo diagnóstico, tratamento, reabilitação até a sua reinserção social.
Considerando a afirmação anterior, o MS, no ano de 2005, instituiu
a Política Nacional de Atenção Oncológica, por meio da Portaria GM/MS
nº 2.439, de 8 de dezembro de 2005, que estabelece uma assistência à saúde
de forma ampla, hierarquizada e articulada desde o nível da Atenção Básica
até ao da Atenção Especializada de Média e Alta Complexidades. Essa linha
de cuidado deverá atender à promoção, prevenção, diagnóstico, tratamento e
cuidados paliativos.
Em seu artigo 3º, a Portaria estabelece que deverão ser realizadas, nas
unidades básicas de saúde e junto às equipes de Saúde da Família:

[...] ações de caráter individual e coletivo, voltadas para a promoção da


saúde e prevenção do câncer, bem como ao diagnóstico precoce e apoio
à terapêutica de tumores, aos cuidados paliativos e às ações clínicas
para o seguimento de doentes tratados (BRASIL, 2005).

Dessa forma, evidencia-se que o atendimento das crianças e dos


adolescentes com câncer não está apenas localizado nos centros de alta
complexidade de oncologia. Ele deve ocorrer em todos os níveis de assis-
tência à saúde, demonstrando a importância da ESF na detecção precoce e no
acompanhamento das crianças e dos adolescentes com câncer.

A Estratégia Saúde da Família (ESF)


e o atendimento oncológico infantojuvenil

Criado pelo MS no ano de 1994, o Programa de Saúde da Família,


posteriormente denominado ESF, é concebido como a política de reorientação da
atenção à saúde a partir da atenção primária. É uma estratégia operacionaliza-
da mediante a implantação de equipes multiprofissionais em Unidades Básicas
de Saúde, que devem acompanhar um número definido de famílias localizadas
em uma área geográfica delimitada (BRASIL, 2011). As equipes de Saúde da
25
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Família possuem como atribuições a identificação dos problemas de saúde da


sua comunidade; o planejamento e a implementação de ações de promoção
da saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais
frequentes; e o desenvolvimento de procedimentos que visem à manutenção
da saúde da comunidade sob sua responsabilidade. Todo esse trabalho funda-
menta-se no estabelecimento de vínculos com as famílias do seu território, que
se fortalece pelo acompanhamento domiciliar da situação de saúde das famílias
cadastradas, assim como na coordenação do cuidado prestado a essa popula-
ção por todos os níveis do sistema.
A publicação da Portaria nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010, que
estabelece as diretrizes para a implantação da Rede de Atenção à Saúde
(RAS) no SUS, fortalece e torna mais orgânica a necessidade de definição de
arranjos organizativos de ações e serviços de saúde integrados na busca
pela garantia da integralidade do cuidado. A RAS caracteriza-se pela formação
de relações horizontais entre os pontos de atenção com o centro de comuni-
cação na Atenção Primária à Saúde (APS), compreendendo-a como primeiro
nível de atenção, com função resolutiva, e a partir do qual se realiza e coordena
o cuidado em todos os pontos de atenção (BRASIL, 2010).
Face ao exposto, uma criança que está recebendo tratamento oncológi-
co em uma Unacon continua sob a responsabilidade da ESF à qual ela pertence.
As equipes são compostas, no mínimo, por um médico, um enfermei-
ro, um técnico ou auxiliar de enfermagem e o número máximo de 12 agentes
comunitários de saúde (ACS), para um território que possua, em média, 3 mil
pessoas cadastradas. A atenção à saúde bucal é realizada por um odontólogo e
um auxiliar de consultório dental, podendo ser incorporado também um técnico
de higiene dental, que presta assistência a uma ou duas equipes da ESF, de
acordo com o estipulado por cada município. Outros profissionais de saúde tam-
bém poderão complementar essa equipe, como, por exemplo, fisioterapeutas,
psicólogos, assistentes sociais etc.
A equipe da ESF deverá trabalhar de forma interdisciplinar e trans-
disciplinar, ou seja, atuando por meio da troca de conhecimentos e em conjunto,
na assistência à saúde. Assim, mesmo definindo as atribuições dessa equipe de
forma sistematizada, essas ações deverão ocorrer de forma não fragmentada,
compreendendo a doença no seu contexto pessoal, familiar e social.
Conforme previsto na Política Nacional de Atenção Oncológica (artigo 3º,
inciso XIII), um dos componentes essenciais para uma assistência adequada é a
educação permanente e a capacitação das equipes de saúde em todos os âmbi-
tos da atenção e para todos os níveis de escolaridade. Entretanto observa-se que

26
CAPÍTULO 2

a grade curricular dos cursos de saúde de nível superior e técnico ainda oferece
pouca ou nenhuma informação sobre oncologia infantojuvenil, trazendo como
consequência o desconhecimento da doença por parte dos profissionais que
são responsáveis pelo atendimento à saúde da população. Além disso, ao serem
admitidos na ESF, esses profissionais também não recebem nenhuma capacita-
ção sobre o tema.
Em 2010, 13 projetos de capacitação de profissionais de saúde foram
desenvolvidos por meio do Programa Diagnóstico Precoce do Câncer na Criança
e no Adolescente, do Instituto Ronald McDonald. Os projetos envolveram profis-
sionais da ESF e pediatras da atenção básica de 46 municípios, de dez Estados
brasileiros. Dos 4.476 profissionais que preencheram as fichas de inscrição para
os cursos, somente 6% respondeu já ter participado de capacitação com o tema
do câncer infantojuvenil. Na categoria dos ACS, esse percentual é ainda menor,
de apenas 4%.
A realidade acima descrita compromete seriamente a detecção precoce,
assim como os cuidados com os pacientes durante e após o tratamento
oncológico, já que espera-se que a ESF seja a porta de entrada ideal dessa
população. Reconhecer a importância do papel desses profissionais no
atendimento à criança e ao adolescente com câncer é um elo fundamental na
melhoria dessa assistência.

Atribuições dos profissionais


da Estratégia Saúde da Família

De maneira geral, os profissionais que integram a ESF devem estar


comprometidos com os indivíduos na manutenção de sua saúde, não estando
apenas centrados no conhecimento biologicista das doenças. Para isso, devem
compreender o processo de adoecimento em seu contexto pessoal, familiar e
social. Tal enfoque aprofunda os vínculos, contribuindo para a resolução de difi-
culdades e para a manutenção da saúde desses indivíduos.
Nesse sentido, é considerada atribuição comum a todos os profissionais
da ESF, na atenção ao câncer infantojuvenil, a realização de uma escuta qualifi-
cada das necessidades desses pacientes, identificando-os como uma população
prioritária, proporcionando atendimento humanizado e estabelecendo vínculos
com o paciente e seus familiares, buscando alcançar soluções para as dificulda-
des apresentadas.
Os profissionais da ESF são responsáveis por todo o processo de orien-
tação ao paciente e à sua família sobre o diagnóstico e o tratamento do câncer

27
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

infantojuvenil, mantendo uma articulação permanente com os serviços de média


e alta complexidades em oncologia.
As atribuições dos profissionais da ESF, elencadas abaixo, têm como
referência o estabelecido na Portaria nº 648, de 28 de março de 2006, que
revisa as diretrizes e normas do Programa de Saúde da Família e do Programa de
Agentes Comunitários de Saúde. Também foram levados em consideração os
procedimentos de responsabilidade do nível primário de atenção, no que diz
respeito aos cuidados às crianças e aos adolescentes com suspeita ou em
tratamento oncológico.

Agente Comunitário de Saúde

O ACS é responsável por cadastrar e atualizar os dados das famílias da


sua área de abrangência, identificando os indivíduos e famílias em situação de
risco. Além disso, mensalmente visita as famílias para realizar o acompanha-
mento de sua saúde. Devido a essa proximidade estabelecida, o ACS poderá
reconhecer sinais e sintomas de alerta para o câncer em crianças e adolescentes,
constituindo-se como um elo entre as famílias e o serviço de saúde, facilitando o
seu acesso ao atendimento médico.
Nos casos em que os pacientes estão em tratamento oncológico, poderá
verificar se aquela família está seguindo o atendimento especializado conforme
especificado pela Unacon, ou se está tendo alguma intercorrência ou dificul-
dade no processo. Constatando alterações, deverá comunicar aos demais
membros da equipe essas necessidades, contribuindo para a sua resolução.
O atendimento em cuidados paliativos também será acompanhado por esse
profissional junto com os outros profissionais da ESF.
Assim, o ACS é um importante elo entre as famílias e o Serviço de
Saúde. A sua atuação em consonância com os demais membros da equipe,
principalmente a enfermeira e/ou médico, poderá propiciar o reconhecimento
da possibilidade de câncer em uma criança ou adolescente durante a sua visita.
A sua atuação aumenta o vínculo, a confiança e a comunicação com o
restante da ESF. Ele vai orientar as famílias sobre os cuidados necessários
durante o tratamento da doença, ajudando na identificação de pacientes fora de
tratamento por abandono ou outros motivos. Esse profissional também contribui
para a instrução sobre o referenciamento para as unidades de tratamento,
principalmente nas intercorrências, além de informar a família sobre os seus
direitos, possibilitando uma maior compreensão da doença e do seu tratamento.

28
CAPÍTULO 2

Equipe de Enfermagem

Técnico ou auxiliar de enfermagem

Os profissionais de nível técnico ou auxiliar da área de enfermagem têm


como atribuição, na atenção ao câncer infantojuvenil, o desenvolvimento de ati-
vidades de identificação de casos suspeitos, pela detecção de sinais e sintomas
característicos em conjunto com os ACS e/ou enfermeiro. Também acompanham
as consultas de enfermagem e as visitas domiciliares dos ACS, contribuindo na
orientação e nos cuidados pré, pós e durante o tratamento, além de colaborar
no cuidado paliativo. Ajudam, ainda, na detecção de dificuldades e de possíveis
casos de abandono de tratamento.
Executam, segundo sua qualificação profissional, procedimentos
(como curativos, administração de medicamentos etc.), quando indicados pelo
enfermeiro ou médico, realizando atividades de assistência à saúde na unidade
básica e, quando necessário, no domicílio ou nos demais espaços comunitários.
O técnico ou auxiliar de enfermagem será um profissional essencial no
apoio das atividades do ACS, do enfermeiro e do médico na realização de ações
para o diagnóstico precoce e acompanhamento das crianças e adolescentes
com câncer.

Enfermeiro

O enfermeiro da ESF tem como atribuição a realização de ações de


assistência integral aos indivíduos e às famílias do território adscrito à ESF, na
unidade básica, no domicílio e nos demais espaços comunitários. Ademais é
responsável pelo planejamento, gerenciamento, coordenação e avaliação das
atividades desenvolvidas pelos ACS, além de supervisionar, coordenar e realizar
atividades de educação permanente da equipe de enfermagem e dos ACS.
Nas visitas domiciliares, em conjunto com os ACS e/ou com a equipe
de enfermagem, o enfermeiro poderá identificar sinais e sintomas do câncer em
crianças e adolescentes, contribuindo para um acesso mais rápido ao atendi-
mento médico. Durante e após o diagnóstico e o tratamento do câncer, realiza
as orientações necessárias e também o acompanhamento das crianças e dos
adolescentes que estejam em cuidados paliativos. Deverá atualizar informações,
resgatar os pacientes fora de tratamento por abandono ou outros motivos, inse-
rindo-os novamente no atendimento oncológico.
Poderá identificar situações de risco nos pacientes em tratamento, viabi-
lizando os encaminhamentos para as Unacon quando forem necessários.

29
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

O enfermeiro deverá realizar a assistência integral à criança e ao ado-


lescente com câncer em todas as etapas do processo, tais como: diagnóstico,
tratamento, cuidados paliativos, reabilitação e manutenção da saúde.

Médico

Na atenção ao câncer de crianças e adolescentes, são consideradas


atribuições do médico a prestação de assistência à população da sua área de
abrangência, por meio da identificação de sinais e sintomas característicos
dessa doença, além do manejo dos cuidados paliativos, a partir das orientações
do serviço de alta complexidade responsável pelo tratamento do paciente.
Em caso de suspeita de câncer, o médico deverá solicitar exames de
detecção e/ou encaminhamento precoce para os Serviços de Alta Complexidade
em Oncologia, onde esse paciente será diagnosticado e tratado. Todo o
processo terapêutico, bem como o de diagnóstico, deverá ser acompanhado
por esse profissional da ESF, pois é ele o responsável pelas orientações na
presença de possíveis intercorrências, estabelecendo vínculos e colaborando
com o Serviço de Alta Complexidade em Oncologia.
Junto com os demais integrantes da ESF, realiza a identificação de
possíveis casos de abandono de tratamento, buscando ativamente e empe-
nhando-se para a reinserção desse indivíduo no atendimento oncológico.
Cabe ao médico receber a criança ou o adolescente com sinais e
sintomas característicos de câncer, solicitar exames para diagnóstico clínico e/ou
encaminhamento precoce, acompanhando todo o processo de doença,
orientando a família e a comunidade e estabelecendo vínculos com a Média e a
Alta Complexidades.

Considerações

Conforme será visto no Capítulo 3 desta publicação, a atuação da ESF


no câncer infantojuvenil é de fundamental importância pelo fato de propiciar,
pelas características de seu processo de trabalho, uma redução no tempo entre
o aparecimento dos primeiros sintomas, o diagnóstico e o início do tratamento
oncológico adequado.
Os profissionais da equipe, estando qualificados na suspeição da
doença e atentos às situações vivenciadas através dos encontros entre população
e serviço de saúde, poderão priorizar, cada um em sua área específica de
atuação, ações que viabilizem um atendimento rápido ao paciente (com suspeita

30
CAPÍTULO 2

ou em tratamento), seja na própria unidade de Saúde da Família, seja nas


unidades de referência.
Cabe ressaltar que a atuação da equipe não se restringe ao processo
de suspeita e de encaminhamento. Após o diagnóstico do paciente, é necessário
estabelecer uma estratégia de comunicação permanente entre todos os níveis
de atenção à saúde, pois, mesmo estando em tratamento em outro serviço, o
paciente continuará sob a responsabilidade da ESF.
O melhor caminho para um atendimento digno às crianças e aos
adolescentes com câncer passa pelo compartilhamento de responsabilidades
com o estabelecimento de fluxos ágeis e resolutivos, em que cada nível de
atenção tem sua especificidade e importância.

31
CAPÍTULO 3

Direitos da criança e do adolescente


portadores de câncer

A organização da rede de atenção é fundamental para o diagnóstico


precoce, o tratamento e a cura de crianças e adolescentes com câncer. Contudo
é importante que o profissional de saúde saiba que essa rede é mais ampla,
incluindo um conjunto de outros direitos ligados, direta ou indiretamente, à área
da saúde, que são garantidos aos pacientes com câncer.
A Constituição Federal de 1988, uma das grandes conquistas da
população brasileira em relação aos direitos sociais, assegurou, por meio de
seus pressupostos, entre outros, o direito à saúde, à assistência social e à
educação. Mais tarde, esses itens foram implementados por meio de políticas
públicas integradas e articuladas entre si, possibilitando o acesso àqueles
que delas necessitam. No seu art. 196, a Constituição preconiza que “a saúde
é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e
econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”. Assim, respeitando o princípio da dignidade humana,
toda pessoa acometida por doenças tem direito a tratamento adequado,
independentemente de sua condição social e financeira, por meio dos diversos
serviços ofertados e financiados pelo SUS.
Dessa forma, aos portadores de câncer estão garantidos, dentre outros:

• exames complementares necessários, desde os mais simples até os mais


complexos;
• assistência médica e de outros profissionais como enfermeiro, assistente
social, psicólogo, nutricionista, em unidades especializadas no trata-
mento do câncer, mesmo fora de seu município de origem, ou, se
necessário, fora do Estado;
• cirurgia, quimioterapia, radioterapia, transplantes, cuidados paliativos,
entre outros tratamentos;
• transporte ou recursos financeiros para custeio de passagens, hospeda-
gem e alimentação quando o tratamento for realizado fora do seu
município de origem;
• acesso à medicação mais indicada para os diferentes casos;
• acesso a órteses e próteses.

33
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Baseado na Lei Federal nº 8899/94, que concede passe livre aos por-
tadores de deficiência em transporte coletivo interestadual, alguns municípios,
mediante lei ou resolução, estenderam o benefício aos portadores de câncer em
tratamento quimioterápico ou radioterápico.
Para os pacientes de câncer que são usuários de cadeira de rodas,
em algumas localidades, existem serviços públicos especiais. A família pode
solicitar ao médico que acompanha o paciente um laudo que ateste a
necessidade do uso da cadeira de rodas e levá-lo ao órgão estadual ou
municipal responsável pelo transporte urbano para cadastrar a criança ou
adolescente no serviço. Esse serviço faz parte de um programa que visa à
inclusão de pessoas portadoras de deficiência, desenvolvido por secretarias
municipais ou estaduais de transporte urbano.

Problemas e benefícios relativos ao emprego e renda

Crianças e adolescentes com até 18 anos possuem tratamento diferen-


ciado garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECRIAD). Eles têm,
por exemplo, prioridade no atendimento e direito à convivência familiar, devendo
ter a companhia de pelo menos um dos pais ou responsáveis durante todo
o tratamento. Sendo pessoas em desenvolvimento, carecem de afeto e
cuidados, justificando-se a presença de um familiar que lhe proporcione
proteção, segurança e socialização.
Contudo a incompatibilização das garantias asseguradas pelo ECRIAD
com as legislações trabalhista (CLT) e previdenciária vigentes contribui para
o aumento da vulnerabilidade de muitas famílias, pois pais trabalhadores
formais e contribuintes previdenciários do INSS não podem se ausentar do
trabalho para acompanhar o filho doente, sob o risco de perderem o emprego.
Essa situação recai mais frequentemente sobre as mulheres inseridas no
mercado formal e chefes de família, desencadeando triplo impacto: a dor de ver
seu filho doente, a perda do emprego e, consequentemente, a perda da renda
familiar. Já os servidores públicos têm direito à licença remunerada para
acompanhamento de filho doente.
Consciente da vulnerabilidade financeira enfrentada pelas pessoas
envolvidas no processo de diagnóstico e tratamento de doenças como
câncer e AIDS, a legislação brasileira garante, para os trabalhadores formais,
pais ou responsáveis legais de criança ou adolescente com câncer, os
seguintes benefícios:

34
CAPÍTULO 3

• Saque do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço – FGTS


(Lei nº 8.036, de 11 de maio de 1990): somente os titulares de contas
do FGTS podem sacar sem limite e em parcela única os valores
depositados. Para tanto, basta procurar a Caixa Econômica Federal,
munido da seguinte documentação:
- Atestado médico com menção à Lei nº 8.036, de 11 de maio
de 1990, informando o diagnóstico, estágio clínico atual da
doença e do paciente, CID (Código Internacional de Doenças),
número do CRM e assinatura do médico assistente.
- Original e cópia do resultado do exame histopatológico ou
complementar que comprove a doença.
- Documento de identificação do titular da conta.
- Carteira de Trabalho do titular da conta.
- Comprovante de dependência da criança ou do adolescente
(Certidão de Nascimento, termo de guarda ou tutela).

• Saque de quotas do PIS/PASEP (Resolução nº 1, de 15 de outubro de


1996, do Conselho Diretor do Fundo de Participação PIS-PASEP/MF): é
necessário que o responsável legal esteja cadastrado no PIS/PASEP
junto à Caixa Econômica Federal ou ao Banco do Brasil e que leve a uma
das agências desses bancos a documentação abaixo:
- Atestado médico com menção à Resolução nº 1, de 15 de
outubro de 1996, do Conselho Diretor do Fundo de Partici-
pação PIS-PASEP/MF, informando o diagnóstico, estágio
clínico atual da doença e do paciente, CID (Código Interna-
cional de Doenças), número do CRM e assinatura do médico
assistente.
- Cópia do resultado do exame histopatológico ou complementar
que comprove a doença.
- Documento de Identidade do titular.
- Carteira de Trabalho do titular.
- Cartão do PIS/PASEP do titular.
- Comprovante de dependência da criança e do adolescente
(Certidão de Nascimento, termo de guarda ou tutela).

Outras famílias, porém, enfrentam dificuldades de ordem social,
econômica e afetiva preexistentes à instalação da doença no seu meio. Essas
dificuldades tendem a se agravar em decorrência das novas necessidades da
criança doente e do afastamento de casa de um dos pais para acompanhar o
35
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

tratamento. Esse afastamento contribui para aumentar a exposição dos outros


filhos menores e saudáveis a risco social e pessoal por falta de algum tipo de
proteção.
O advento do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) trouxe novas
perspectivas para o enfrentamento dessa situação, pois as diversas ações
sociais desenvolvidas por meio dos Centros de Referência de Assistência Social
(CRAS) se voltam à proteção social da família. Os Centros estão localizados
em territórios com até 20 mil habitantes e acompanham cerca de 5 mil famí-
lias em situação de vulnerabilidade social por meio de políticas de prevenção e
monitoramento de riscos. Dessa forma, é possível ter uma visão real sobre as
necessidades dos usuários, dissipando distorções acerca da assistência social
e contribuindo para um maior empoderamento das famílias na proteção de seus
membros, tal como estabelece a Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 - Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS).
A LOAS prevê, dentre outros:

• Benefício de Prestação Continuada (BPC): repasse de um salário-


-mínimo pelo Governo Federal para aqueles pacientes que comprovem
estar incapacitados para o exercício da vida independente e para o
trabalho, cuja família não tenha condição financeira para prover sua
subsistência. Não são todos os pacientes que possuem esse direito,
uma vez que o câncer na infância e adolescência nem sempre traz
sequelas que justifiquem a incapacidade física para o exercício de suas
atividades cotidianas. Naqueles casos e que a criança ou o adolescente
possui doençaem estágio avançado ou com sequelas que lhe impossi-
bilite o exercício da vida diária e, futuramente o seu trabalho, o respon-
sável legal deverá comparecer ao CRAS para orientação e encaminha
mento ao INSS. Além disso, deve também comprovar que:
- o requerente, pais ou responsáveis não estão vinculados a
nenhum regime de previdência social;
- o requerente não recebe outro benefício social (bolsa-família,
auxílio-doença, aposentadoria de um dos pais ou responsável);
- a renda familiar por pessoa é igual ou inferior a ¼ do salário-
-mínimo;
- cartão do PIS/PASEP do titular;
- comprovante de dependência da criança e do adolescente (Cer-
tidão de Nascimento, termo de guarda ou tutela).

36
CAPÍTULO 3

É preciso ainda levar os seguintes documentos:


- laudo médico que comprove o diagnóstico e a condição de inca-
pacidade do paciente;
- requerimento de benefício assistencial (Lei nº 8.742/93), cujo
modelo está disponível nos CRAS ou no site do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome (www.mds.gov.br);
- declaração de composição do grupo e da renda familiar (somen-
te pais e filhos menores), também disponível nos CRAS ou no
site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
(www.mds.gov.br);
- Certidão de Nascimento ou identidade da criança ou do adoles-
cente e de todos os irmãos menores;
- CPF do requerente;
- documento de identificação do responsável legal (carteira de
identidade e/ou carteira de trabalho e previdência social).

Somente após o exame médico pericial será constatado se o paciente


terá ou não direito ao benefício. Em caso positivo, ele passará por uma reavalia-
ção a cada dois anos, podendo o benefício ser cancelado quando a condição do
doente melhorar.

Direito à educação especial

Pensando ainda nas implicações que traz a doença, a hospitalização


e o tratamento na vida escolar de crianças e adolescentes, a Lei nº 9394/96,
que estabelece as diretrizes e bases da educação brasileira, garante a eles
o apoio pedagógico por meio de classes hospitalares instaladas dentro dos
hospitais onde é realizado o tratamento. Durante o período de hospitalização
e tratamento ambulatorial, eles são acompanhados por professores que lhes
auxiliam no cumprimento das exigências curriculares, de modo a não perder o
contato com a escola de origem. Para que a criança se beneficie dessa ação, a
família deve procurar o serviço social da unidade de tratamento para receber as
orientações necessárias.

37
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Rede de proteção social – O papel das instituições de apoio

Além dos direitos descritos anteriormente, é importante conhecer os


benefícios que são oferecidos pelas casas de apoio a crianças com câncer, que,
realizando trabalho em parceria com as diversas unidades de tratamento espa-
lhadas pelo Brasil, prestam grande auxílio às famílias.
As organizações voltadas ao apoio de pacientes com câncer ganharam
notoriedade no Brasil a partir do trabalho desenvolvido pela Rede Feminina de
Combate ao Câncer, criada em âmbito nacional na década de 1940 e, mais
recentemente, por grupos de apoio liderados por pessoas que tiveram experiên-
cias familiares relacionadas à doença.
Essas organizações, mais comumente denominadas de instituições
de apoio, fazem parte do que atualmente passou a ser denominado Terceiro
Setor1 e caracterizam-se, em boa parte, por um ativismo com perfil profissional
e qualificado.
Em relação às organizações que prestam apoio a crianças e
adolescentes com câncer e seus familiares, segundo a Confederação Nacional
das Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer
(CONIACC), há mais de 50 instituições distribuídas pelo país que atuam, de
modo geral, em ações voluntárias para prestar solidariedade e conforto emo-
cional, além de colaborarem com o acesso e a manutenção do tratamento de
pacientes com dificuldades econômicas e sociais.

Tipos de instituições

Existe uma grande diversidade de ações empreendidas pelas institui-


ções de apoio que atuam na causa do câncer infantojuvenil, podendo passar
inclusive pela gestão de centros de tratamento. As ações relacionadas a seguir
complementam o trabalho dos centros de referência, facilitando o acesso e a
adesão ao tratamento, além de prestarem suporte psicossocial.

• Hospedagem nas cidades onde estão os hospitais de tratamento


As instituições que têm por objetivo hospedar gratuitamente crianças e/
ou adolescentes em tratamento, assim como seus acompanhantes, enquanto
os pequenos pacientes estão em tratamento no hospital daquela cidade, são
conhecidas como Casas de Apoio. Essas casas possuem parceria com os hospi-
tais de tratamento (geralmente formalizada por meio de convênio). Sua estrutura
procura criar um ambiente aconchegante, que remeta a um lar, com quartos,
1 O Terceiro Setor compreende um conjunto de entidades e de iniciativas privadas que visam à produção
de bens e serviços públicos (FERNANDES, 1994) e que atuam em interseção com os setores público e
38 privado, suprindo ou complementando uma rede de atendimento de necessidades sociais.
CAPÍTULO 3

sala, copa e cozinha. A maioria das casas recebe somente acompanhantes do


sexo feminino, mas a demanda crescente pela aceitação do acompanhante do
sexo masculino, ou até mesmo de todo o núcleo familiar, vem mudando esse
quadro e hoje já existem casas que recebem outros acompanhantes. É comum
a prestação de outros serviços pelas Casas de Apoio, tais como apoio ao trans-
porte dos pacientes, fornecimento de bolsa de alimentos, apoio psicológico
(devendo ser integrado ao do hospital), classe escolar, oficinas para os pais,
além de atividades lúdicas e de entretenimento. O Serviço Social do hospital
de tratamento é quem, em geral, faz o encaminhamento de pacientes para a
Casa de Apoio.

• Acolhimento ao longo do dia nas cidades onde estão os hospitais de


tratamento
Muitas vezes, o paciente reside em um município próximo à cidade onde
se situa o hospital de tratamento, não havendo necessidade de pernoitar em
outra cidade. Contudo o transporte que é oferecido pelas prefeituras frequente-
mente conduz mais de um paciente e permanece o dia junto ao hospital até que
todos estejam prontos para o retorno. Considerando que a espera pode durar
longas horas, há instituições que promovem o acolhimento desses pacientes.
O espaço para esse fim oferece um ambiente de relaxamento e entretenimento,
podendo oferecer refeições, além de outras atividades de suporte às crianças
e seus acompanhantes. Os espaços de acolhimento se localizam dentro do
hospital ou muito próximos ao mesmo. Geralmente é o próprio hospital que
divulga e conduz os pacientes e seus acompanhantes a essa estrutura, durante
o período de espera.

• Suporte psicossocial aos pacientes e seus familiares em suas cidades


de residência
Há instituições de apoio que, independentemente de se localizarem
em cidades onde há hospitais de tratamento, não se destinam à hospedagem.
Sua função principal é prestar suporte psicossocial aos pacientes e familiares,
que residem próximos à sua sede. Geralmente possuem salas de atendimento,
oficinas para os pais, salão para eventos, dentre outros. As atividades desen-
volvidas por esse tipo de instituição variam bastante, podendo abranger apoio
ao transporte para outros hospitais de tratamento, fornecimento de suplementos
nutricionais, auxílio na aquisição de próteses e apoio à melhoria no ambiente
doméstico. Essas instituições são procuradas diretamente pelos familiares dos
pacientes, mas também podem ser indicadas pelo Serviço Social do hospital
de tratamento.
39
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Certamente pode-se encontrar as atividades descritas anteriormente


sendo realizadas por uma única instituição. Da mesma forma, em cidades de
forte demanda, pode haver várias instituições coordenando projetos com a
mesma finalidade.
Para conhecer as instituições de apoio que atuam na causa do câncer
infantojuvenil no Brasil, os seguintes sites podem ser consultados:

• Site da Confederação Nacional das Instituições de Apoio e Assistência


à Criança e ao Adolescente com Câncer (CONIACC)
http://www.coniacc.org.br/
• Site do Instituto Ronald McDonald - http://www.instituto-ronald.org.br/

É importante que a família saiba que viverá momentos difíceis, mas que
existe, para ajudá-la na superação dos problemas, redes de proteção social,
tais como: unidade de saúde onde o paciente realiza o tratamento, instituição de
apoio à criança com câncer, Secretaria de Saúde de seu município de origem,
CRAS mais próximo de sua residência, Ministério Público Estadual, Juizado da
Infância e Juventude, Conselho Tutelar, além de outras instituições públicas e
privadas que compõem essa rede. Sendo assim, é fundamental que a família
mantenha os profissionais da unidade de tratamento – médicos, assistentes
sociais, psicólogos etc. – informados acerca das dificuldades vivenciadas, para
que eles possam auxiliá-la na garantia de seus direitos.
Da mesma forma, é importante que a equipe da ESF que tem no terri-
tório sob a sua responsabilidade uma criança ou adolescente com câncer
possua conhecimento e interlocução com as diversas instituições que compõem
a rede de proteção social às famílias que residem nessa localidade.

40
CAPÍTULO 4

Detecção precoce:
possibilidades e limites

O processo de desenvolvimento de um tumor, denominado carcino-


gênese, é multifatorial, sofre interferências de fatores de risco ambientais, de
características genéticas e de suscetibilidade individual dos pacientes.
Existem vários níveis de prevenção do câncer (Figura 1). As medidas de
prevenção primária são aquelas que visam a diminuir ou eliminar a exposição a
fatores de risco sabidamente carcinogênicos, como o tabagismo, por exemplo
(POLLOCK; KNUDSON JR., 2006). No entanto, o papel dos fatores ambientais
ou exógenos no desenvolvimento do câncer na criança e no adolescente é
mínimo. Esses fatores, geralmente, necessitam de um período de exposição
longo e possuem um intervalo grande de latência entre a exposição e o apare-
cimento clínico da doença. Dessa forma, não existem medidas efetivas de
prevenção primária para impedir o desenvolvimento do câncer na faixa etária
pediátrica, exceto a vacinação contra hepatite B, que é eficaz na prevenção do
desenvolvimento do hepatocarcinoma (CHANG et al., 2000).

Figura 1 – Modalidades de prevenção do câncer e pontos de intervenção

Na prevenção secundária, o objetivo é a detecção do câncer em seu


estágio inicial de desenvolvimento. Uma das modalidades desse nível de preven-
ção é o rastreamento que visa a detectar o câncer antes mesmo que ele produza
sinais e sintomas clínicos. Para os adultos, mostram-se eficazes as medidas de
rastreamento do câncer do colo do útero pelo teste de Papanicolaou, do câncer
de mama pela mamografia e do câncer de intestino pelos exames de sangue
oculto nas fezes e colonoscopia. Para as crianças, as medidas de rastreamento
não se mostraram efetivas ou são restritas a um grupo pequeno de pacientes.
41
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Por exemplo:

• Com o objetivo de diminuir a alta mortalidade observada em pacientes


com neuroblastoma, pesquisadores do Japão, América do Norte (princi-
palmente Quebec, Canadá) e Europa (principalmente França e Alemanha)
realizaram programas de rastreamento em massa de lactentes para
diagnóstico de neuroblastoma, com o objetivo de detectar a doença em
uma fase inicial ou pré-sintomática. O método envolvia a coleta da urina
de crianças saudáveis aos seis meses de idade para pesquisa do
metabólito das células tumorais – ácido vanil mandélico (VMA). Nos anos
de estudo não houve diminuição da mortalidade, sendo que houve
aumento do número de casos de tumores localizados com prognóstico
favorável, semdiminuição da prevalência e mortalidade pela doença em
pacientes com idade acima decum ano. Além disso, algumas crianças
detectadas pelo rastreamento foram supertratadas, pois apresen-
tavam tumores que poderiam não evoluir ou maturar espontaneamente.
Dessa forma, os esforços para o rastreamento em massa em todo o
mundo foram desacelerados (HIYAMA et al., 2008; MARIS; WOODS,
2008). Até o momento, essa não é considerada uma boa estratégia
para a detecção precoce para os neuroblastomas.
• Alguns pacientes com determinadas malformações e síndromes
genéticas podem se beneficiar com o rastreamento (ver também
Capítulo 5). Os pacientes portadores da síndrome de Beckwith-Wiedmann
possuem maior risco de desenvolver tanto tumor de Wilms quanto
hepatoblastoma. O rastreamento com ultrassom de abdômen a cada três
meses, até os 8 anos, e a dosagem sérica de alfafetoproteína, a cada
três meses, até os 4 anos, podem identificar tumores em estágios iniciais
da doença (RAO; ROTHMAN; NICHOLS, 2008).

O diagnóstico precoce é outra estratégia de prevenção secundária, que


inclui medidas para a detecção de lesões em fases iniciais da doença a partir
de sinais e sintomas clínicos. Seguido por um tratamento efetivo, atualmente
é considerado uma das principais formas de intervenção que pode influenciar
positivamente o prognóstico do câncer na criança e no adolescente, reduzindo
a morbidade e a mortalidade pela doença. É essencial como medida de controle
de um sério problema de saúde.
O diagnóstico feito em fases iniciais permite um tratamento menos
agressivo, quando a carga de doença é menor, com maiores possibilidades
de cura e menores sequelas da doença ou do tratamento (RODRIGUES;
42
CAPÍTULO 4

CAMARGO, 2003). Para a obtenção de altas taxas de cura são necessários,


também, cuidado médico, diagnóstico correto, referência a um centro de trata-
mento e acesso a toda terapia prescrita (HOWARD; WILIMAS, 2005).
O atraso do diagnóstico, com o subsequente atraso na instituição do trata-
mento adequado, pode acarretar inúmeras consequências desfavoráveis para
as crianças e adolescentes com câncer. Algumas dessas consequências podem
ser exemplificadas no Quadro 3, a seguir.

Quadro 3 - Exemplos das consequências relacionadas ao atraso do diagnóstico do


câncer na criança e no adolescente

Efeitos do Atraso do Diagnóstico Exemplos


Pacientes com o diagnóstico de rabdomiossarcoma
Necessidade de tratamento mais em estágio inicial têm possibilidade de sobrevida, em
5 anos, de 90%. Entretanto, se forem diagnosticados
agressivo e menor chance de cura com doença metástica, a possibilidade de sobrevida
em 5 anos é inferior a 30%
Pacientes com volumosos tumores de partes
moles possuem maior risco de mutilações devido
à dificuldade de ressecção cirúrgica com margens
oncológicas
Pacientes com tumores ósseos avançados sujeitos
à maior possibilidade de amputação do membro
Maior possibilidade de sequelas acometido
tardias, com impacto negativo na Pacientes com retinoblastoma diagnosticado
qualidade de vida tardiamente, com perda da visão, necessitando de
enucleação do olho acometido e de tratamentos
mais agressivos
Crianças com tumor de sistema nervoso central
que sofrem sequelas neurológicas permanentes,
secundárias à ressecção de volumosas lesões
intracranianas e às cirurgias de urgência
Pacientes com neuroblastoma apresentando massa
retroperitoneal e infiltração do canal medular que
evoluem para paraplegia antes do encaminhamento
ao centro de tratamento
Compressão mecânica de estruturas
Pacientes com tumor extraorbitário (sarcoma de
vitais pálpebra) que acarreta perda de visão
Pacientes com massa de mediastino (linfomas) que
evolui para insuficiência respiratória antes de ser
realizado o diagnóstico
Pacientes com insuficiência renal aguda por
infiltração renal (linfomas de Burkitt, leucemias),
compressão tumoral das vias urinárias (rabdomios-
Disfunção orgânica estabelecida sarcoma de próstata) e/ou síndrome de lise tumoral
(leucemias)
devido ao tumor
Pacientes com leucemia que apresentam infecções
graves, dificultando o início da terapia e colocando a
criança em maior risco de vida

43
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Quadro 3 - (cont.)

Efeitos do Atraso do Diagnóstico Exemplos


Pacientes em uso de corticoide com manifes-
tações osteoarticulares de leucemia que são
tratadas como artrite reumatoide, o que interfere no
Tratamentos errôneos iniciais com estabelecimento do diagnóstico e negativamente
impacto negativo no prognóstico no resultado do tratamento
Pacientes com tumores ósseos inicialmente
tratados, como osteomielite, atrasando o
diagnóstico e o tratamento definitivo
Pacientes submetidos a cirurgias mutilantes
desnecessariamente, como grandes ressecções
intestinais em pacientes com linfoma de Burkitt
abdominal
Abordagem cirúrgica inicial inadequada,
Pacientes com tumor testicular ou paratesticular
causando morbidade e/ou piora
submetidos a orquiectomia por via escrotal, com
do prognóstico maior risco de disseminação do tumor
Biópsias de tumores ósseos e de partes moles
realizadas de maneira inadequada que impedem
cirurgia preservadora do membro acometido

Devido às características biológicas dos tumores pediátricos de


crescimento rápido, alguns pacientes podem iniciar sua apresentação clínica
de forma abrupta. Além disso, a dificuldade de acesso à assistência básica de
saúde pode fazer com que alguns casos sejam diagnosticados em emergências,
unidades de pronto-atendimento ou pronto-socorro. Ilustrativo disso é que, em
um estudo de uma coorte de 427 pacientes com doença onco-hematológica,
77 casos (18%) foram admitidos pelo serviço de emergência; desses, apenas
quatro (5%) não tiveram suspeita ou diagnóstico de câncer como hipótese inicial.
A incidência de câncer em crianças e adolescentes nesse serviço de emergência
foi de 22,8 casos para cada 100 mil consultas anuais. Os tipos de câncer mais
frequentes foram doenças hematológicas (37,7%), tumor de SNC (31,2%),
seguidos de câncer localizado no abdômen (22,1%), correspondendo a 90%
dos casos diagnosticados. No Quadro 4, são listados os tipos de atendimentos
de emergência feitos em crianças com o diagnóstico inicial de câncer, no
departamento de emergência de um hospital pediátrico (KUNDRA et al., 2009).

44
CAPÍTULO 4

Quadro 4 - Apresentação clínica de crianças com o diagnóstico inicial de câncer atendidas


em um departamento de emergência (Kundra, 2009)

Emergência Exemplo

Anemia (hemoglobina<7g/dl), trombocitopenia


Hematológica
(< 10.000/mm3), leucócitos (> 100.000/mm3)

Convulsões de início agudo, sinais e sintomas de


hipertensão intracraniana, paralisia de nervos cranianos,
Sistema Nervoso Central
déficits neurológicos focais, ataxia, alteração ou perda da
visão, paraparesia

Cardiovascular Pericardite, derrame pericárdico

Endócrino Diabetes insipidus, puberdade precoce

Metabólico Hiponatremia, desidratação, icterícia

Geniturinário Hematúria maciça

Musculoesquelético Claudicação, dor grave nas costas ou nas articulações

Distensão abdominal Massas abdominais

Fatores que influenciam no tempo


para o diagnóstico

Em adultos, estudos têm verificado que atrasos mais longos no


diagnóstico podem influenciar no prognóstico. O estudo da importância do atraso
no diagnóstico em crianças, no entanto, não tem recebido tanta atenção. A
pesquisa sobre esse assunto é complicada por dificuldades metodológicas, assim
como por problemas inerentes às características clínicas e ao comportamento
biológico dos tumores da infância (DAN-TANG; FRANCO, 2007). Poucos
estudos têm sido publicados sobre os fatores que influenciaram o tempo para
o diagnóstico no câncer da infância, sendo, na sua maioria, retrospectivos, o
que pode ocasionar vieses (FAJARDO-GUTIERREZ et al., 2002). Além disso,
os resultados das diferentes pesquisas por vezes são discordantes, ou seja,
algumas variáveis têm importância para o tempo de diagnóstico em alguns
estudos e não em outros.
Os seguintes fatores podem interferir no tempo gasto desde o início da
apresentação dos primeiros sinais e sintomas até o diagnóstico do câncer em
crianças e adolescentes:

45
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

• Tipo do tumor: diferentes tipos de câncer na infância têm diferentes


tempos para diagnóstico. Tumor de Wilms e leucemia tendem a
ser diagnosticados mais precocemente (2,5 a 5 semanas), enquanto os
tumores do SNC e os tumores ósseos são diagnosticados mais
tardiamente (21 a 29 semanas) (POLLOCK; KRISCHER; VIETTI,
1991; HAIMI; NAHUM; ARUSH, 2004; KLEIN-GELTINK et al., 2005;
DANG-TAN; FRANCO, 2007).
• Localização do tumor: foi observado tempo mais curto de diagnóstico em
crianças com rabdomiossarcoma localizado no nariz, faringe e órbita,
comparadas com crianças que desenvolvem a doença na face e no
pescoço (PRATT et al., 1978). Os tumores de SNC são diagnosti-
cados mais rapidamente quando se manifestam na região infratentorial
(10,8 semanas em média) do que quando ocorrem na região supra-
tentorial (43,4 semanas em média) (FLORES et al., 1986).
• Idade do paciente: vários estudos demonstraram que o tempo para o
diagnóstico foi mais curto em crianças menores de 5 anos do que em
adolescentes. Tem sido sugerido que isso ocorre porque os pais
prestam mais atenção a lactentes e pré-escolares e os levam a maior
número de consultas de rotina com o pediatra, ao contrário dos adoles-
centes, que têm vergonha de despir-se diante dos pais e são pouco
levados ao pediatra (RODRIGUES; CAMARGO, 2003; HAIMI; NAHUM;
ARUSH, 2004; DANG-TAN; FRANCO, 2007).
• Suspeita clínica: em estudos de crianças com tumor do SNC, os pais
relataram que consultaram, em média, 4,5 médicos (variação de 1-12)
antes de obter o diagnóstico. Algumas vezes a comunicação insuficiente
entre o pediatra geral, ou o médico de família, e outros profissionais, como
oftalmologistas, psicólogos e professores, contribuiu para o retardo no
diagnóstico (EDGEWORTH et al., 1996). O índice de suspeita dos médi-
cos é considerado uma importante variável para o diagnóstico correto.
• Extensão da doença: o estágio da doença no momento do diagnóstico
é um fator importante a ser considerado, porque é um indicador da crono-
logia da progressão da doença e um determinante da constelação de
sinais e sintomas. A análise do tempo para diagnóstico e estágio da
doença é mais complexa, pois fatores biológicos podem também
interferir no tempo para o diagnóstico. Alguns estudos mostraram que
o tempo mais longo de diagnóstico foi associado ao estágio mais avan-
çado da doença (FERMAN et al., 2006; RODRIGUES; LATORRE;
CAMARGO, 2004). No México, mais de 50% das crianças com tumores
sólidos foram diagnosticadas com a doença avançada.
46
CAPÍTULO 4

• Cuidado e/ou percepção da doença pelos pais: em um estudo de


crianças com tumor de SNC, 92% dos pais comentaram, depois do
diagnóstico, que sentiram que a criança tinha “um problema”. Pais são
considerados um fator importante para o diagnóstico do câncer na criança
(EDGEWORTH et al.,1996).
• Nível de educação dos pais: no México, pesquisas mostraram que
crianças cujos pais tinham nível de educação mais baixo tinham tempos
mais longos para o diagnóstico do que crianças com pais com nível
educacional mais alto (FAJARDO-GUTIERREZ et al., 2002).
• Distância do centro de tratamento: no estudo de Fajardo-Gutierrez
et al. (2002), pacientes que viviam próximos da cidade do México tinham
um tempo de diagnóstico menor do que os que viviam longe da cidade.
• Sistema de cuidado de saúde: a falta de organização do sistema de
cuidado de saúde pode influenciar no tempo para o diagnóstico do câncer
na criança e no resultado do tratamento. Em países em desenvolvimento,
o diagnóstico é feito, em geral, em estágios mais avançados da doença,
tendo como consequência a piora do prognóstico. A eficiência do sistema
de saúde é fundamental para melhores resultados, uma vez que interfere
em quase todas as etapas da cadeia de cuidado, de diagnóstico e
de tratamento.

Considerando-se os aspectos apontados acima, visualizam-se as


possibilidades que a organização do trabalho da ESF e os pressupostos que
fundamentam esse modelo oferecem para uma melhor abordagem de alguns
fatores que podem influenciar no tempo de diagnóstico do câncer na criança e
no adolescente.
Uma das características fundamentais da ESF é a responsabilidade pela
atenção básica à saúde da população adscrita, que se traduz na identificação dos
problemas de saúde dessa população para o planejamento e implementação de
ações; no estabelecimento de vínculos mais efetivos com as famílias do território;
no acompanhamento domiciliar da situação de saúde das famílias cadastradas;
e na coordenação do cuidado prestado a essa população por todos os níveis do
sistema.
Por exemplo, a ESF pode desenvolver ações voltadas para o
acompanhamento contínuo dos adolescentes do seu território, evitando a lacuna
de atendimento nessa faixa etária frequentemente presente nas unidades
básicas tradicionais. Além disso, pelos vínculos estabelecidos com as famílias,
os profissionais da equipe se configuram como uma referência para os pais na
identificação de situações “anormais” percebidas em seus filhos.
47
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Por outro lado, a responsabilidade pela coordenação do cuidado da


população adscrita, além de permitir maior agilidade na investigação diagnóstica
através do contato com os outros níveis do sistema de saúde, propicia também
uma interlocução com outros profissionais que lidam com a criança e o
adolescente como, por exemplo, professores, na perspectiva de identificação de
sinais e sintomas importantes para o diagnóstico precoce.

Cadeia de cuidados para o diagnóstico


e tratamento do câncer

O tempo para diagnóstico do câncer é o tempo entre o início dos sinais


e sintomas do tumor e o diagnóstico. Esse período é também conhecido como
lag time. O tempo entre o primeiro contato médico, o diagnóstico e o tratamento
específico depende do atendimento médico e do sistema de saúde. Já o tempo
total, que vai do início dos sintomas até o início do tratamento efetivo, depende
de pacientes, pais, médicos e do sistema de saúde.
Uma cadeia de cuidados é deflagrada quando um paciente com câncer
é visto por um profissional até que sejam feitos o diagnóstico e o tratamento
efetivo da doença.
A Figura 2 identifica os pontos dessa cadeia de cuidados em que podem
ocorrer atrasos capazes de interferir negativamente no prognóstico do paciente
(DANG-TAN et al., 2008):

• O tempo gasto desde o início dos sintomas até a procura pelo primeiro
contato médico pode ser atribuído ao paciente (idade), aos seus
cuidadores (nível de instrução), à sua doença (tipo do tumor, localiza-
ção) e à distância do centro de saúde.
• O intervalo de tempo gasto entre o primeiro contato médico, a suspeita
diagnóstica e a avaliação oncológica é determinado pelo índice de
suspeição e pelo tempo gasto para o encaminhamento e a funciona-
lidade do sistema de referência e contrarreferência, em suma, ao acesso
aos serviços de saúde de qualidade.
• Após a avaliação oncológica, o intervalo de tempo gasto para se
confirmar o diagnóstico depende da estrutura do serviço para o qual o
paciente foi encaminhado, principalmente se esse serviço possui unida-
de especializada em oncologia pediátrica com profissional capacitado.

48
CAPÍTULO 4

• Depois de confirmado o diagnóstico da neoplasia maligna, é necessário


iniciar-se o tratamento correto em uma unidade de oncologia pediá-
trica com uma estrutura adequada para dar suporte a esse tratamento
(com equipe multidisciplinar, unidade de terapia intensiva pediátrica e
suporte hemoterápico, por exemplo). O intervalo de tempo gasto entre
o diagnóstico e o tratamento pode sofrer influências da disponibilidade
de medicações e de profissionais capacitados.

Profissionais necessários na equipe multidisciplinar


de um serviço de oncologia pediátrica

Especialidades médicas: oncologia pediátrica, cirurgia


pediátrica, ortopedia oncológica, neurocirurgia, patologia,
radioterapia, radiologia, cardiologia, nefrologia, neurologia.

Outras especialidades: fisioterapia, nutrição, fonoaudiolo-


gia, enfermagem, psicologia, psicopedagogia, serviço social,
odontologia.

49
50
Tempo para diagnóstico

Tempo

Início Detecção dos Primeiro Avaliação Diagnóstico do Tratamento Cura ou morte


biológico da sintomas contato médico pelo câncer
doença oncologista

referência, oncologista
paciente tratamento
contrarreferência pediátrico

Atendimento médico / Sistema de saúde

Tempo Total

Figura 2 – Cadeia de cuidado para diagnóstico e tratamento do câncer


DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE
CAPÍTULO 4

Ações que podem contribuir


para o diagnóstico precoce

Algumas ações têm sido apontadas como importantes para o diagnóstico


precoce:

• Atuação efetiva da Atenção Básica no acompanhamento, vigilância e


promoção da saúde da criança e do adolescente, permitindo a detecção
oportuna de sinais e sintomas e das situações de risco, as quais incluem
o câncer.
• Estratégias de divulgação de informações para profissionais e para a
população, ressaltando a importância do diagnóstico precoce. Em São
Paulo (ANTONELI et al., 2004) e em Honduras (LEANDER et al., 2007),
campanhas de diagnóstico precoce para o retinoblastoma foram
capazes de diminuir o número de pacientes com diagnóstico avançado
(doença extraocular) e o tempo de encaminhamento, contribuindo para
a melhora nas taxas de cura dessa neoplasia.
• Programa de educação continuada para profissionais da ESF e que
lidam com cuidados primários sobre os sinais e sintomas da doença.
Em estudo realizado em Recife, foi observado conhecimento insuficiente
dos sinais e sintomas mais comuns do câncer pediátrico por profissio-
nais de Saúde da Família, apontando para a necessidade de se
implementarem mais estratégias de educação (WORKMAN et al., 2007).
• Aumento da comunicação entre os serviços de cuidado primário e os
especializados para acelerar o encaminhamento da criança com
suspeita de câncer para que o diagnóstico seja estabelecido o mais
rápido possível, o que requer melhor organização da rede.

51
CAPÍTULO 5

SINAIS E SINTOMAS DO CÂNCER


NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA

Como já foi mencionado, o câncer na infância e na adolescência


difere em vários aspectos do câncer na idade adulta. Além de se tratar de uma
doença rara na faixa etária de 0 a 19 anos, as diferenças se acentuam na origem
biológica, nos fatores de risco, nos tipos histológicos, no sítio anatômico e nas
respostas ao tratamento. Essas características interferem na forma de apresen-
tação clínica e nas medidas de prevenções primária e secundária (ver Figura 1,
no Capítulo 4) (POLOCK; KNUDSON JR., 2006).
No paciente adulto, a maioria das neoplasias malignas é de origem
epitelial, com evolução lenta e muitas vezes passível de prevenção primária por
serem causadas ou influenciadas por fatores de risco ambientais como o taba-
gismo, o etilismo, o sedentarismo e a obesidade. Já na criança e no adolescente,
os tumores em geral são de origem embrionária, mais agressivos, de evolução
mais rápida e, muitas vezes, já estão em estágio avançado no momento do
diagnóstico. No processo de carcinogênese dos tumores pediátricos, os fatores
ambientais exercem pouca ou nenhuma influência, dificultando as medidas
de prevenção primária. O diagnóstico precoce é, portanto, uma medida de
prevenção secundária, que possui grande potencial na mudança da realidade
para as crianças e adolescentes com câncer, permitindo o tratamento das
doenças em estágios iniciais e a utilização de modalidades de tratamento menos
agressivas e menos tóxicas, proporcionando melhores resultados com menos
sequelas (MALOGOLOWKIN et al., 2006).
Como foi visto, acredita-se que a demora em se realizar um diagnós-
tico está relacionada, entre outros aspectos, com apresentações da doença
em estágios mais avançados. Esses casos podem ser daqueles pacientes que
recorreram à assistência médica várias vezes no decorrer de semanas, meses,
sempre com a mesma queixa ou com o agravamento da situação que os levou
a procurar a primeira vez um serviço de saúde. Nessas situações, o paciente é
diagnosticado em condições clínicas desfavoráveis, com muitas complicações
(Quadro 3, Capítulo 4) que dificultam o tratamento e o seu resultado.
Os tumores dos pacientes pediátricos podem ser subdivididos em dois
grandes grupos:

• Tumores hematológicos, como as leucemias e os linfomas.


• Tumores sólidos, como os do Sistema Nervoso Central/cérebro, tumores

53
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

abdominais (neuroblastomas, hepatoblastomas, nefroblastomas), tumo-


res ósseos e os tumores de partes moles (rabdomiossarcomas, sarcomas
sinoviais, fibrossarcomas), por exemplo.

O que dificulta, em muitos casos, a suspeita e o diagnóstico do câncer
nas crianças e nos adolescentes é o fato de sua apresentação clínica ocorrer
através de sinais e sintomas que são comuns a outras doenças mais frequentes
(Quadro 5), manifestando-se por sintomas gerais, que não permitem a sua
localização, como febre, vômitos, emagrecimento, sangramentos, adenome-
galias generalizadas, dor óssea generalizada e palidez. Ou, ainda, através de
sinais e sintomas de acometimento mais localizados, como cefaleias, alterações
da visão, dores abdominais e dores osteoarticulares.

Quadro 5 – Sinais e sintomas do câncer infantil e o seu diagnóstico diferencial

Sinais e Sintomas Tipos de Câncer Diagnóstico Diferencial


Febre Leucemia, linfoma Infecção
Massa abdominal, Infecção, refluxo
Vômito
tumor cerebral gastroesofagiano
Constipação Massa abdominal Má alimentação
Infecção no trato respiratório
Tosse Massa mediastinal superior, doença respiratória
reativa, pneumonia
Leucemia, tumor Lesão musculoesquelética,
Dor óssea ou muscular
ósseo, neuroblastoma infecção viral
Cefaleia de tensão, enxaqueca,
Dor de cabeça Tumor cerebral
infecção
Leucemia, linfoma, Linfadenite, infecção sistêmica,
Linfadenopatia (> 2 cm)
doença metastática doença do colágeno
Infecção do trato urinário,
Hematúria Tumor de Wilms
glomerulonefrite

Por esse motivo, é essencial que se contextualizem os achados clínicos


com a idade, sexo, associação de sintomas, tempo de evolução e outros dados
para que se possa fazer uma suspeita correta e conduzir o caso de maneira
rápida e eficaz.
Seguem algumas recomendações gerais para o pediatra e/ou médico da
equipe de Saúde da Família para a condução de um caso suspeito (NATIONAL
INSTITUTE FOR HEALTH AND CLINICAL EXCELLENCE, 2005):

54
CAPÍTULO 5

• Sempre levar a sério quando os cuidadores (pais) informam que a


criança não está bem, tendo em conta que eles são, na maioria das
vezes, os melhores observadores da situação de saúde das crianças.
• Estar disponível para reavaliar seus pacientes sempre que necessário.
Na persistência do problema sem resolução ou da não melhora dentro
do padrão previsto, a opinião de outro profissional é recomendada.
• Nas fases de suspeita diagnóstica, interagir com outros profissionais,
como os demais profissionais da ESF, professores e psicólogos, além de
médicos de várias especialidades, como oftalmologista, neurologista,
neurocirurgião e ortopedista. A discussão dos casos suspeitos direta-
mente com os especialistas pode ajudar na indicação da necessidade
de encaminhamento precoce.
• Encaminhar a criança com suspeita diagnóstica de neoplasia
maligna (câncer) para avaliação por um pediatra (serviço secundário
de atenção à saúde) ou para um serviço terciário de atenção à saúde
com especialistas em onco-hematologia pediátrica.
• Interagir com o oncologista pediátrico durante todas as etapas do trata-
mento, apoiando o paciente e seus familiares.
• Decidir qual criança necessitará de investigação diagnóstica. Nesses
casos, uma história bem feita, um exame físico detalhado, alguns
exames laboratoriais e de imagem podem auxiliar na elucidação
do caso.
• Encaminhar a investigação sem alarmar os familiares antes do tempo,
mas compartilhar com os pais a preocupação quanto à possibilidade
de uma doença mais séria, para que não faltem às consultas e aos
exames necessários.
• Lidar com o medo do diagnóstico e com o “tabu do câncer”. Alguns pais
vão querer fazer algum teste para afastar a possibilidade de câncer.
Outros não vão querer tocar no assunto. O médico, muitas vezes, pode
também ficar desconfortável em falar sobre o assunto. Isso pode fazer
com que os pais fiquem com uma ansiedade contínua e necessitem de
muitas visitas a vários pediatras.

O pediatra e o médico da ESF devem considerar a possibilidade de


malignidade na infância não somente porque se trata de doença potencialmente
fatal, mas porque, como tem-se apontado ao longo deste livro, com o diagnóstico
precoce e o tratamento, o câncer é uma doença potencialmente curável,
dependendo do tipo e do estágio de apresentação. Os estudos indicam que o

55
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

diagnóstico de câncer pediátrico é frequentemente retardado devido à falha no


reconhecimento dos sinais de apresentação. Reconstituir a história e fazer um
exame físico detalhado são os primeiros passos apropriados na avaliação da
criança enferma.

Sinais e sintomas inespecíficos,


constitucionais e generalizados

Febre

A febre é queixa comum em pediatria, que gera muitas preocupações


nos pais e nos profissionais de saúde. Na maioria das vezes, é manifestação de
um processo infeccioso autolimitado. No entanto, sempre deve ser vista como
um sinal de alerta para uma situação clínica potencialmente grave. Sua presença
deve ser valorizada dentro do contexto e em associação com outros sinais e
sintomas. Pode estar presente no diagnóstico de várias neoplasias, como nas
leucemias (50% a 60% das leucemias linfoblásticas agudas); nos linfomas,
especialmente na doença de Hodgkin; nos neuroblastomas e nos tumores da
família Ewing. A febre persistente de origem indeterminada, com tempo de
evolução superior a oito dias, tem as neoplasias como causa em 10% dos casos
(MALOGOLOWKIN et al., 2006; VASCONCELOS, 2005).

Emagrecimento

Dentro dos parâmetros de acompanhamento do crescimento da criança,


o peso é um dos melhores indicadores de saúde, em razão da sua estreita
dependência de vários fatores, entre eles, a doença. As medidas de peso são
de fácil obtenção e muito sensíveis às variações agudas do estado nutricional
(ALVES, 2003). Em crianças, o aumento de peso de forma gradual, através
dos meses, é a expressão da normalidade, observado no gráfico de peso do
cartão da criança como uma linha ascendente, paralela às curvas-padrão. São
consideradas situações de alerta quando a linha é horizontal (a criança não
está ganhando peso), quando a linha é descendente (a criança está perdendo
peso) e quando a inclinação é sucessivamente menor do que as curvas de
referência (ganho insuficiente de peso). As neoplasias, por representarem um
estado catabólico para o indivíduo, podem resultar em alterações no peso
das crianças e até mesmo acentuar um quadro de desnutrição preexistente.
Tumores abdominais que resultam em compressões e até mesmo obstruções

56
CAPÍTULO 5

no trato gastrointestinal dificultam/impedem a ingestão adequada de alimentos,


contribuindo para o estado de consumo da doença. Uma doença avançada, que
provoca mal-estar generalizado e dor, também contribui para o déficit no balanço
energético do paciente.
A perda de peso inexplicada de mais de 10% nos seis meses anteriores
ao diagnóstico, associada à febre e à sudorese noturna, são sintomas
constitucionais denominados sintomas B, que fazem parte do diagnóstico do
linfoma de Hodgkin e que interferem no prognóstico da doença.

Palidez cutâneo-mucosa

A palidez é uma das apresentações clínicas da anemia. A anemia é uma


situação em que ocorre a diminuição do número de hemácias circulantes e/ou da
quantidade de hemoglobina contida nelas. Pode ser precedida ou acompanhada
por outros sinais e sintomas: irritabilidade, prostração, sonolência, mal-estar
generalizado, fadiga, síncopes, lipotimias, cefaleias e tonteiras. As neoplasias
podem causar anemia por três mecanismos (ALVIN et al., 2005): produção
deficiente de hemácias devido à infiltração da medula óssea por células tumorais,
como no caso das leucemias, linfomas e outros tumores sólidos (neuroblastoma,
rabdomiossarcoma e tumores da família Ewing); por hemólise, como ocorre em
alguns casos de linfoma de Hodgkin; e por sangramentos (mecanismo de perda)
que ocorrem, por exemplo, no caso das leucemias, devido à plaquetopenia e
nos casos de sangramento intratumoral, que podem ocorrer nos nefroblastomas
(tumor de Wilms).

Sangramentos anormais sem causa definida

Pequenos hematomas são frequentemente encontrados em crianças


(em regiões de anteparo ósseo nas pernas, braços) e podem ser facilmente
associados às suas atividades. Por outro lado, as manifestações cutâneas de
sangramento (equimoses, petéquias, epitaxe, gengivorragias) não associadas
a traumatismos devem ser valorizadas (FERNANDES, 2003). Petéquias
de distribuição anárquica, não restritas a determinados locais, podem estar
associadas à plaquetopenia. Nas neoplasias, o mecanismo mais comum
de alterações plaquetárias é a produção deficiente, decorrente de processos
infiltrativos da medula óssea (leucemias e tumores sólidos metastáticos).

57
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Dor generalizada

A dor é sintoma que está presente em mais de 60% dos diagnósticos


oncológicos (leia mais sobre dor no Capítulo 7). A infiltração tumoral da medula
óssea e as metástases ósseas desencadeiam um processo de dor que é
evidenciado na criança que apresenta diminuição das suas atividades habituais,
que só quer ficar deitada, que não quer brincar, que rejeita qualquer tipo de
manipulação; na irritabilidade; na dificuldade de dormir; e na diminuição do
apetite. Essa dor óssea pode ser investigada pela manobra de compressão
das regiões esternal e tibial anterior. Nos casos de leucemia aguda, as
queixas de dor óssea podem estar presentes em uma porcentagem que vai de
10% a 50%, simulando um quadro de doença reumatológica (JONES et al., 2006;
ROBAZZI et al., 2007). Nessas situações, o uso de corticosteroides (prednisona,
dexametasona) só deve ser feito após o diagnóstico preciso de patologia
reumática ou exclusão de possível leucemia, pois o uso dessa medicação
por mais de 48 a 72 horas antes da realização do mielograma pode impedir o
diagnóstico dessa neoplasia.

Adenomegalia

Os linfonodos são frequentemente palpados nas crianças e representam


uma etapa do crescimento normal do tecido linfoide ou um processo reativo
às doenças benignas e autolimitadas da infância. No entanto, o encontro de
gânglios aumentados de tamanho e número, com alterações da consistência,
pode ser um sinal de doença grave (infecciosa, neoplásica ou autoimune, por
exemplo). Adenomegalias são bastante frequentes na criança e, em geral, estão
relacionadas a processos infecciosos sistêmicos ou localizados (KOBINGER;
BRICKS, 2000). A abordagem clínica da criança ou do adolescente com
adenomegalia exige anamnese detalhada e exame físico minucioso. É preciso
procurar, por exemplo, focos infecciosos localizados, tais como infecção
dentária, dentes mal conservados, infecções amigdaliana e cutânea etc.
O exame objetivo dos linfonodos deve ser guiado por sua localização, território
de drenagem, tamanho, consistência, sinais inflamatórios, mobilidade, número,
simetria/assimetria e supuração (Quadro 6). As adenomegalias neoplásicas são
caracterizadas por gânglios maiores que 3 cm no maior diâmetro, endurecidos,
de crescimento lento, indolores, aderidos aos planos profundos, sem evidência
de infecção na área de drenagem. Quando múltiplos (mesmo em uma mesma
cadeia ganglionar), tendem a coalescer, formando blocos.

58
CAPÍTULO 5

Quadro 6 – Dados de importância no diagnóstico diferencial de adenopatias benignas,


malignas e infecciosas (Freire; TEIXEIRA JR.; VASCONCELLOS, 2005)

Dados de Importância Benigna Infecciosa Maligna


Porta de entrada local - ++ -
Contato com animal - ++ -
Sinais inflamatórios locais - +++ ±
Supuração ±/+ + -
Consistência aumentada + ++ +++
Bordas distintas +++ - +
Fixação na pele + +++ +
Fixação no músculo + + +++
Sinais gerais - + ++
Adenopatia mediastinal - + ++

Adenomegalia localizada

A linfadenomegalia localizada ou regional é definida como o aumento de


linfonodos dentro de uma mesma região anatômica em contiguidade.

Adenomegalia generalizada

A adenomegalia/adenopatia generalizada é definida como a presença


de aumento ganglionar em duas ou mais cadeias anatômicas linfonodais
não contíguas. As doenças neoplásicas primárias ou metastáticas, como as
leucemias, os linfomas, os neuroblastomas e os rabdomiossarcomas, podem
iniciar o quadro com o surgimento de linfadenomegalia, evoluindo com o
aparecimento progressivo de outros sinais de comprometimento generalizado
como febre, anemia, emagrecimento, sangramentos e hepatoesplenomegalia
(TWIST, 2002).

Principais grupos de neoplasias


e suas recomendações

Leucemias agudas

A leucemia aguda é a principal neoplasia que acomete as crianças e


adolescentes. Possui um período de latência curto com história de surgimento dos
59
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

sintomas de poucas semanas. O fluxograma a seguir (Figura 3) é recomendado


para orientação do diagnóstico e conduta.
Na presença de um ou mais dos sinais e sintomas abaixo, faz-se
necessária a investigação por hemograma com diferencial realizado manualmente
por profissional capacitado e que libere o resultado do exame para avaliação do
médico solicitante em um período curto de tempo (24 horas):

• Palidez cutâneo-mucosa.
• Fadiga.
• Irritabilidade.
• Sangramentos anormais sem causa definida.
• Febre.
• Dor óssea, articular, generalizada.
• Hepatoesplenomegalia.
• Linfadenomegalia generalizada.

Com o resultado do hemograma em mãos, sendo observadas


alterações em duas ou mais séries (anemia e/ou leucopenia/leucocitose e/ou
plaquetopenia), o paciente deve ser encaminhado para um serviço especializado
em onco-hematologia pediátrica, em caráter de urgência, para ser submetido
a exames diagnósticos, como o mielograma, e outros complementares, como
radiografia de tórax e ultrassonografia de abdômen. É desejável que o serviço
de referência seja o mesmo que vai iniciar o tratamento, a fim de que não ocorra
atraso entre o diagnóstico e o início do tratamento adequado.
O diagnóstico diferencial deve considerar a possibilidade de doenças
infectocontagiosas, particularmente considerando-se a situação endêmica
da dengue no país, além de outras endemias regionais, a partir da situação
epidemiológica das diferentes localidades.
São situações de risco de morte para o paciente as quais indicam um
encaminhamento rápido, em poucas horas, para tratamento emergencial:

• Sinais de sangramento ativo: petéquias, epistaxe.


• Plaquetopenia: contagem de plaquetas menor do que 20.000/ mm3.
• Leucocitose: leucócitos totais em quantidade maior que 50.000/ mm3.
• Anemia grave: hemoglobina menor do que 6,0 g/dL.

60
CAPÍTULO 5

Reavaliação Persistência
clínica dos sintomas?
(em 72 h)

Emergência:
•Leucocitose > 50.000/mm3 Encaminhamento
ao oncologista
•Sangramento pediátrico ou
•Plaquetas < 20.000/mm3 hematologista
pediátrico
•Anemia severa (hemoglobina < 6g/dL)

Figura 3 – Fluxograma sobre os sinais de alerta para as leucemias

61
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Linfomas

Os linfomas estão entre os três grupos de neoplasias mais comuns na


faixa etária pediátrica. Apresentam-se normalmente por aumento ganglionar
denominado adenomegalia. No entanto, vale lembrar que outros tumores
não hematológicos também podem infiltrar secundariamente os linfonodos,
determinando seu aumento.
Uma adenomegalia é considerada suspeita quando, descartada uma
causa infecciosa, apresenta as seguintes características (Figura 4):

• Sintomas B: febre sem causa determinada, perda de peso e sudo-


rese noturna.
• Alterações em duas ou mais séries do hemograma (anemia e/ou
leucopenia/leucocitose e/ou plaquetopenia).
• Hepatoesplenomegalia.
• Sorologias negativas (toxoplasmose, rubéola, HIV, citomegalovirose,
mononucleose infecciosa, sífilis).
• Persistência de enfartamento ganglionar, maior do que 3 cm, depois
de seis semanas de evolução, mesmo após tratamento especí-
fico adequado.
• Aumento progressivo da adenomegalia após duas semanas de
observação.
• Adenomegalia supraclavicular e da região inferior do pescoço.
• Adenomegalia axilar e epitroclear na ausência de sinais de porta
de entrada para infecção ou dermatite.
• Adenomegalia dura, indolor e aderida aos planos profundos.

Um paciente com adenomegalia suspeita para diagnóstico oncológico


deverá ser encaminhado rapidamente para um serviço especializado em
onco-hematologia pediátrica para ser submetido a exames complementares,
como mielograma, ultrassonografia, tomografias computadorizadas e biópsias
linfonodais. Uma equipe especializada é importante, inclusive na decisão de
qual exame diagnóstico, qual o local e qual o tipo de biópsia (aspirativa por
punção, incisional ou excisional) deve ser realizados. É desejável que o serviço
de referência seja o mesmo que vai iniciar o tratamento a fim de que não ocorra
atraso entre o diagnóstico e o início do tratamento adequado.
É considerado um quadro de emergência, com necessidade de
encaminhamento em poucas horas para um serviço de referência, aquele

62
CAPÍTULO 5

paciente que se apresenta com linfadenomegalia associada a quadro


pulmonar de dispneia (“falta de ar”). Esses casos podem apresentar volumosas
linfadenomegalias mediastinais, massas mediastinais que provocam compressão
das vias aéreas e da veia cava superior, ocasionando um risco iminente de
morte. Na disponibilidade de um exame radiográfico do tórax, pode-se confirmar
o quadro suspeito. Entretanto, atenção: a realização do exame não deve atrasar
o encaminhamento. Além disso, muitas vezes, o alargamento do mediatino
observado no Raio X simples de tórax pode ser facilmente confundido com
aumento da área cardíaca ou com pneumonias. Esses quadros podem, ainda,
ser confundidos com broncoespasmo e crise de asma. O uso de corticoides
(prednisona ou dexametasona) por mais de 48 a 72 horas pode impedir o
diagnóstico dessa neoplasia. Isso porque o diagnóstico dos linfomas é feito pela
análise anatomopatológica de uma biópsia linfonodal, massa abdominal, massa
mediastinal ou até mesmo pelo mielograma. O uso do corticoide pode regredir a
doença linfonodal, massa e infiltração medular.

63
64
Encaminhamento
ao oncologista
pediátrico

Figura 4 – Fluxograma sobre os sinais de alerta para os linfomas


DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE
CAPÍTULO 5

Massas abdominais

A presença de massa abdominal palpável é uma das principais formas de


apresentação clínica dos tumores sólidos em crianças. Essas neoplasias malignas
são representadas principalmente pelos neuroblastomas, tumores renais de
Wilms (nefroblastomas), linfomas não Hodgkin (tipo Burkitt), hepatoblastomas e
tumores de células germinativas (GOLDEN; FEUSNER, 2002).
A maioria desses tumores abdominais é assintomática e reconhecida
acidentalmente pelos pais, cuidadores ou, menos frequentemente, no exame
clínico de rotina. Isso se deve, em parte, ao pico de idade em que ocorrem essas
neoplasias, que é de 1 a 5 anos, quando o cuidado diário (banho, troca de roupa)
com a criança muitas vezes é realizado por terceiros e é uma idade em que a
criança ainda não consegue definir nem localizar precisamente a fonte de dor.
A dor abdominal é uma das queixas mais comuns em pediatria e está
relacionada, na maioria das vezes, a processos infecciosos gastrointestinais
benignos de curta duração. A dor, entretanto, é um sintoma fundamental na
identificação de condições cirúrgicas agudas que exigem tratamento de urgência.
É o caso dos linfomas de Burkitt, que são caracterizados por volumosas massas
abdominais de crescimento rápido, ocasionando obstruções intestinais e
urinárias. O tumor, para causar dor abdominal, deve, portanto, apresentar um
crescimento rápido, assumindo grande volume, até que cause compressão e
mau funcionamento de um órgão.
É essencial, na abordagem das massas abdominais, além de uma
história bem conduzida, a realização de um exame físico completo. Especial
atenção deve ser dada ao exame abdominal (POLLOCK; KNUDSON JR., 2006).
Deve-se esforçar em tentar examinar a criança em condições ideais, mesmo
que, para isso, gaste-se um tempo maior para acalmá-la e distraí-la. O exame da
genitália não deve ser esquecido, já que o aumento do volume e da consistência
testicular pode representar um tumor primário do testículo. Outras malformações
genitourinárias podem acompanhar o diagnóstico de tumores renais e a
puberdade e/ou virilização precoce podem estar presentes nos carcinomas de
adrenal.
A realização do toque retal é de grande importância, acrescentando
informações valiosas ao exame clínico de pacientes com suspeita de tumor
abdominal, pois pode identificar massas pélvicas, fecalomas e presença de
muco ou sangue no dedo da luva.
As parasitoses intestinais e a constipação intestinal são muitas vezes
atribuídas como causa do desconforto abdominal das crianças. De fato, podem
até mesmo estar associadas ao diagnóstico oncológico e não é raro serem
causa de atraso do diagnóstico do câncer em crianças e adolescentes. Por isso,

65
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

a persistência dos sintomas após o diagnóstico e o tratamento adequado deve


sempre ser melhor investigada.
Tumores retroperitoneais, como o neuroblastoma, podem causar
síndrome de compressão medular por invasão do canal medular, levando à dor
nas costas e nas pernas, claudicação, parestesias e incontinência fecal e urinária.
Uma abordagem sistemática e cuidadosa, como a exemplificada pela
Figura 5, pode permitir diagnóstico e tratamento eficazes para as massas
abdominais.
Crianças e adolescentes com aumento rápido e progressivo do volume
abdominal, associado à presença de massa palpável no exame clínico e qualquer
suspeita de síndrome de compressão medular, devem ser encaminhados
imediatamente para um serviço especializado em onco-hematologia
pediátrica para a realização de exames e procedimentos diagnósticos (como
ultrassonografia, mielograma, tomografias, ressonância e biópsias).
Naqueles locais em que é possível realizar exame ultrassonográfico
em tempo hábil (no máximo em uma semana) com profissional habituado com
crianças, pode-se optar por confirmar a suspeita diagnóstica nos casos que
apresentem quadro clínico de queixa abdominal associado a um ou mais dos
seguintes sintomas, antes de encaminhá-lo para o serviço de onco-hematologia:

• Dor abdominal crônica recorrente.


• Massa abdominal suspeita, dificuldade de exame da criança.
• Sinais e sintomas constitucionais: palidez, dor generalizada, perda de
peso, febre, linfadenomegalia, hematomas etc.
• Hematúria.
• Hipertensão arterial.
• Virilização.
• Síndrome de Cushing: fácies em lua cheia, obesidade, hipertensão
arterial, acne, estrias e fraqueza.
• Alteração do hábito intestinal (constipação, incontinência fecal) e uri-
nário (retenção, incontinência) em crianças que já tenham adquirido o
controle dos esfíncteres previamente.
• Aumento do volume testicular.

É desejável que o serviço de referência seja o mesmo que vai iniciar


o tratamento, a fim de que não ocorra atraso entre o diagnóstico e o início do
tratamento adequado.
Do mesmo modo que para os outros grupos, a realização de exames
complementares, de qualidade e em tempo hábil, não deve atrasar o
encaminhamento para a confirmação diagnóstica.
66
CAPÍTULO 5

USG Encaminhamento
abdominal ao oncologista
(72h) pediátrico

USG
testicular
(72h)

Figura 5 – Fluxograma sobre os sinais de alerta para as massas abdominais

67
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Tumores do Sistema Nervoso Central

Os tumores do SNC são considerados os tumores sólidos mais frequentes


nas crianças. Sua apresentação clínica varia de acordo com sua localização, tipo
histológico, taxa de crescimento do tumor e idade da criança (Quadro 7).

Quadro 7 - Ordem decrescente de frequência dos sinais e sintomas em crianças com


tumores intracranianos (WILNE et al., 2007)

Todos os Tumores % < 4 Anos de Idade % Neurofibromatose %


Redução da
Cefaleia 33 Macrocefalia 41 41
acuidade visual
Náusea e vômito 32 Náusea e vômito 30 Exoftalmia 16
Alteração da marcha
27 Irritabilidade 24 Atrofia óptica 15
e coordenação
Papiledema 13 Letargia 21 Estrabismo 13
Alteração da marcha
Convulsões 13 19 Cefaleia 9
e da coordenação

Sinais e sintomas
inespecíficos Sinais e sintomas
10 Perda de peso 14 8
de hipertensão inespecíficos de HIC
intracraniana (HIC)

Abaulamento de
fontanela,
Estrabismo 7 13 Puberdade precoce 8
alargamento de
suturas (hidrocefalia)

Convulsões, Alteração da marcha e


Macrocefalia 7 10 7
papiledema, cefaleia coordenação

Paralisia de nervos Sinais neurológicos


7 10 Alterações da fala 6
cranianos focais

Sinais e sintomas Atraso do


Letargia 6 9 5
inespecíficos de HIC desenvolvimento

Movimentos oculares
6 Déficit motor focal 7 Papiledema 5
anormais (nistagmo)

Redução dos
Hemiplegia 6 Torcicolo 7 5
campos visuais

68
CAPÍTULO 5

Quadro 7 - cont.

Todos os Tumores % < 4 Anos de Idade % Neurofibromatose %


Alteração do nível
Perda de peso 5 7
de consciência
Défict motor focal 5 Estrabismo 6
Alterações visuais Movimentos
5 6
inespecíficas oculares anormais
Atraso do
Alteração do nível
5 desenvolvimento 5
de consciência
e hemiplegia

A maioria desses tumores está localizada, na criança e no adolescente,


na fossa posterior, na região denominada infratentorial (Figura 6), causando
obstrução da circulação liquórica que, por sua vez, ocasiona quadro de
hidrocefalia e hipertensão intracraniana.

Região
Supratentorial

Tenda do Cerebelo

Região
Infratentorial

Figura 6 - Localização dos tumores cerebrais

Os tumores de localização supratentorial geram sintomas ao realizarem


um efeito de massa nas estruturas vizinhas, podendo acarretar anormalidades
focais e convulsões.
A hipertensão intracraniana, causada pela hidrocefalia ou por lesão com
efeito de massa, localizada dentro da caixa craniana, possui, como principais
sintomas, a cefaleia matinal, as náuseas e os vômitos que, muitas vezes, aliviam
a dor. Nos lactentes, a hidrocefalia resulta no sinal do “olhar em sol poente”,
devido à paralisia do olhar para cima.

69
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

A cefaleia é uma queixa muito recorrente em pediatria e, embora seja


o principal sintoma apresentado pelas neoplasias malignas do SNC, tumores
cerebrais são causa pouco frequente de cefaleia. Quando secundária a um tumor,
a cefaleia apresenta uma evolução crônica e progressiva, além da associação
com outras queixas, como dificuldades visuais (visão dupla, diplopia), vômitos,
distúrbios do comportamento, alterações de personalidade, dificuldades
escolares, entre outros.
Atenção especial deve ser dada ao exame neurológico das crianças
com suspeitas, já que, em mais de 90% dos casos, é encontrada alguma
anormalidade no momento do diagnóstico (POLLOCK; KNUDSON JR., 2006;
HONIG; CHARNEY, 1982): estrabismo (mau alinhamento dos olhos), nistagmo
(movimento involuntário dos olhos), papiledema (edema do disco ótico observado
pelo exame de fundo de olho), abaulamento da fontanela, aumento do perímetro
cefálico, inclinação da cabeça, “torcicolo” (tentativa de acomodação da visão),
rigidez de nuca, perda de força muscular (hemiparesias/ plegias), atrasos no
desenvolvimento e perda de habilidades anteriormente adquiridas, alterações
da marcha, alterações do equilíbrio, distúrbios da fala e paralisias de nervos
cranianos (facial, oculomotor, hipoglosso etc.).
Os tumores localizados no hipotálamo podem se apresentar com
alterações hormonais que provocam mudanças do peso (ganho/perda),
hipotireoidismo, puberdade precoce ou atraso do desenvolvimento sexual e
diabetes insipidus (polidpsia – excesso de sede, poliúria – diurese aumentada).
As crianças que iniciam a sintomatologia com vômitos frequentemente
são conduzidas como tendo problemas gastrointestinais. Outras vezes, a
cefaleia pode, de maneira simplista, ser atribuída a vícios de refração (miopia,
hipermetropia). Fatos como esses contribuem para o atraso do diagnóstico, que
pode demorar até mais que seis meses após o início da sintomatologia.
A investigação inicial de um paciente com suspeita clínica de tumor
intracraniano se dá por meio de exames de neuroimagem (tomografia
computadorizada de crânio e/ou ressonância nuclear magnética, quando
indicada e disponível). Esses exames são essenciais na identificação da lesão e
no planejamento neurocirúrgico.
Crianças e adolescentes que apresentem uma ou mais das seguintes
situações, associadas à alteração do exame neurológico, devem ser submetidas
rapidamente a um exame de neuroimagem para confirmar ou excluir a hipótese
de malignidade (Figura 7):

70
CAPÍTULO 5

• Cefaleia persistente com exame neurológico alterado. Caso o profis-


sional não consiga realizar um exame neurológico adequado, o paciente
deve ser encaminhado para avaliação neurológica por um especialista.
• Cefaleia associada a vômitos matinais ou cefaleias que acordam
a criança.
• Mudança no padrão da cefaleia, com aumento da intensidade e
da frequência.
• Vômitos persistentes com aumento da frequência.
• Papiledema.
• Hipertensão arterial.
• Crises convulsivas.
• Paralisias de nervos cranianos.
• Alterações visuais: diplopia, alterações de campo visuais, estrabismo
adquirido, anisocoria, nistagmo.
• Anormalidades da marcha, quedas frequentes.
• Parada ou regressão de etapas do desenvolvimento neuropsicomotor.
• Dificuldades escolares de aparecimento repentino e sem causa definida.
• Alterações do comportamento e do humor sem causa definida.
• Abaulamento da fontanela.
• Aumento desproporcional do perímetro cefálico.
• Olhar em sol poente.
• Sonolência.
• Diagnóstico de neurofibromatose.

A identificação de lesão tumoral implica o encaminhamento do


paciente em caráter de urgência para um Serviço de Oncologia Pediátrica com
Serviço de Neurocirurgia. A presença de sinais inequívocos de hipertensão
intracraniana e rebaixamento do nível de consciência (escala de coma de
Glasgow) implica o encaminhamento imediato do paciente, pois se trata de
uma situação de emergência médica. Como em outros casos, a realização de
exames complementares, de qualidade e em tempo hábil, não deve atrasar o
encaminhamento para a confirmação diagnóstica. Da mesma forma, é desejável
que o serviço de referência seja o mesmo que vai iniciar o tratamento a fim de
que não ocorra atraso entre o diagnóstico e o início do tratamento adequado.
As punções lombares para coleta do líquor são totalmente desencorajadas
na suspeita de lesão com efeito de massa intracrania. Esses procedimentos
podem provocar ou aumentar uma herniação e causar a morte do paciente.

71
72
Encaminhamento
ao oncologista
pediátrico

Figura 7 – Fluxograma sobre sinais de alerta para tumores do Sistema Nervoso Central e retinoblastoma
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE
CAPÍTULO 5

Tumores oculares

O retinoblastoma é o tumor intraocular maligno mais comum em crianças.


Origina-se nas células embrionárias neurais da retina. Cerca de 80% dos casos
são diagnosticados antes que o paciente tenha 3 ou 4 anos.
O sinal mais comum de sua apresentação clínica é a leucocoria (“reflexo
de olho de gato”, reflexo pupilar branco-amarelado). A leucocoria, geralmente,
é identificada pela família do paciente, podendo ser observada em fotos tiradas
usando-se o flash. Esse sinal é seguido em frequência pelo estrabismo e por
outros menos comuns, relacionados à irritação ocular, como a hiperemia ocular
(“olho vermelho”), e por aqueles que evidenciam a progressão da doença
com proptose e adenomegalia pré-auricular. Nos casos de doença avançada,
podem ocorrer sintomas de comprometimento do SNC (cefaleia e vômitos) e de
infiltração da medula óssea (dor óssea).
No diagnóstico diferencial do retinoblastoma, deve-se considerar a
retinopatia da prematuridade, doença de Coats, toxocaríase, toxoplasmose e
hiperplasia primária do vítreo.
O risco de doença extraocular parece estar intimamente ligado ao
encaminhamento tardio e, consequentemente, ao aumento da idade ao
diagnóstico (ANTONELI et al., 2004; AGUIRRE NETO et al., 2007).
O atraso no encaminhamento médico para centros especializados
representa 30% das causas de diagnóstico tardio (BUTROS; ABRAMSON;
DUNKEL, 2002). Para se ter uma ideia, quando o tempo de encaminhamento
entre o aparecimento do primeiro sinal até a procura por atendimento médico
especializado é maior que seis meses, o risco para o diagnóstico de tumor
extraocular é nove vezes maior (ERWENNE; FRANCO, 1989).
Com o atraso no encaminhamento, o tumor é diagnosticado em estágio
mais avançado, requerendo modalidades de tratamento mais mórbidas como a
enucleação, radioterapia externa e quimioterapia com dose cumulativa elevada.
Assim como a detecção precoce da fenilcetonúria alterou o prognóstico
dos pacientes portadores dessa rara doença, a detecção precoce do
retinoblastoma também pode não só alterar a sobrevida como preservar o
paciente da ocorrência de sequelas do seu tratamento, permitindo preservar não
só a vida como também a visão da criança.
Os pacientes que apresentam um ou mais dos seguintes sinais e
sintomas devem ser encaminhados para um serviço de oncologia e oftalmologia
pediátrica (Figura 7), pois essas crianças necessitam ser submetidas a exame
oftalmológico sob sedação e a exames de imagem específicos (tomografia e
ressonância de crânio e órbitas):

73
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

• Leucoria.
• Estrabismo.
• Irritação ocular.
• Alterações da visão.
• Proptose, protusão ocular.
• Cefaleia, vômitos.
• Dor óssea generalizada.

Pacientes com história familiar positiva para retinoblastoma devem ser


avaliados por meio do exame oftalmológico com maior frequência.
O ideal é que a avaliação onco-oftalmológica seja realizada em até uma
semana após a suspeita clínica.

Tumores ósseos

Esse grupo de neoplasias tende a acometer, com mais frequência,


os adolescentes. É representado principalmente pelo osteossarcoma e pelos
tumores da família Ewing.
Dor óssea no local envolvido associada ao aumento regional de
partes moles são as principais formas de manifestações dos tumores ósseos
(POLLOCK; KNUDSON JR., 2006).
Enquanto os osteossarcomas acometem preferencialmente a região do
joelho (porção distal do fêmur e proximal da tíbia), os tumores da família Ewing
acometem com mais frequência o esqueleto axial (pelve, parede torácica).
Os diagnósticos diferenciais que podem atrasar o diagnóstico oncológico
são a tendinite e a osteomielite.
Cerca de 30% dos tumores de Ewing podem causar febre na sua
apresentação clínica inicial (WIDHE; WIDHE, 2000). O início dos sintomas pode
estar relacionado a algum tipo de trauma, o que ocorre em 47% dos pacientes
com diagnóstico de osteossarcoma e 26% dos pacientes com diagnósticos de
tumores da família Ewing, mas o curso clínico é diferente daquele esperado para
as patologias traumáticas.
O primeiro passo na abordagem de um paciente com sinais e sintomas
sugestivos de neoplasia óssea (Figura 8) é a solicitação e avaliação de
radiografia da região acometida. As principais alterações que determinam o
encaminhamento imediato para um centro especializado em oncologia pediátrica
e ortopedia oncológica são:

74
CAPÍTULO 5

• Sinais de rarefação e lise óssea: lesões osteolíticas.


• Reação periosteal: espessamento ou ruptura da linha do periósteo.
• Triângulo de Codman.

É desejável que o serviço de referência seja o mesmo que vai iniciar


o tratamento a fim de que não ocorra atraso entre o diagnóstico e o início
do tratamento adequado. A biópsia realizada de maneira inadequada pode
comprometer o tratamento da doença, não permitindo a realização de cirurgia
conservadora e implicando, na maioria das vezes, amputação do membro
acometido.

75
76
Encaminhamento
ao oncologista
pediátrico

Figura 8 – Fluxograma sobre os sinais de alerta para tumores ósseos e de partes moles
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE
CAPÍTULO 5

Tumores de partes moles

Deve-se suspeitar de um sarcoma das partes moles na presença de


massa, nódulo ou lesão de partes moles, de surgimento inesperado e inexplicável,
em qualquer localização, com as seguintes características:

• Adesão aos planos profundos: musculatura e fáscia.


• Ausência de dor.
• Aumento progressivo.
• Diâmetro maior com mais de 2 cm.
• Presença de adenomegalia regional.
• Aumento do volume escrotal/testicular.

Sarcomas podem acometer também cavidades provocando sinais e


sintomas como (MCDOWELL, 2003):

• Proptose (cavidade orbitária).


• Obstrução nasal, com eliminação de secreção sanguinolenta (naso-
faringe, rinofaringe).
• Obstrução do conduto auditivo médio com eliminação de pólipos ou
secreção sanguinolenta (ouvido médio).
• Retenção urinária (bexiga, próstata).
• Hematúria (bexiga).
• Secreção vaginal com sangramento.

Essas lesões podem ser investigadas, inicialmente, com exame de
imagem como o ultrassom (Figura 8) que, confirmando a suspeita, deve indicar
o encaminhamento precoce para um centro especializado com oncologista e
cirurgião pediátrico. Atenção: a realização do exame complementar não deve
atrasar o encaminhamento. Da mesma forma que para as outras neoplasias, um
caso mal conduzido no diagnóstico pode prejudicar o prognóstico do paciente.
É o caso, por exemplo, dos tumores testiculares, que devem ser submetidos a
orquiectomia por via inguinal. A biópsia transescrotal determina um maior risco
de disseminação da doença.
É desejável que o serviço de referência seja o mesmo que vai iniciar
o tratamento a fim de que não ocorra atraso entre o diagnóstico e o início do
tratamento adequado.

77
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

População de risco

Para o diagnóstico precoce do câncer, o pediatra e/ou médico da


ESF devem estar também atentos às crianças portadoras de malformações e
síndromes clínicas que estão associadas a um maior de risco de desenvolvimento
de neoplasias. Algumas associações são observadas com mais frequência, tais
como a ocorrência maior de leucemia em pacientes com síndrome de Down
(trissomia do cromossomo 21) e a ocorrência de tumores de SNC e sarcomas
em pacientes com neurofibromatose (doença de von Recklinghausen).
Malformações do trato genitourinário, aniridia, hemi-hipertrofia, síndrome de
Beckwith–Wiedemann (viscermegalias, defeitos do fechamento da parede
abdominal, hipoglicemia neonatal) são exemplos de alterações associadas ao
diagnóstico dos tumores de Wilms (nefroblastoma).
A associação entre as diversas síndromes genéticas e malformações
e o desenvolvimento de determinado tipo de câncer na infância e na adoles-
cência e as estratégias para seu rastreamento específico estão detalhadas
no Quadro 8.

Quadro 8 – Síndromes genéticas e malformações associadas ao câncer na criança


e no adolescente (CLERICUZIO, 1999; RAO; ROTHMAN; NICHOLS, 2008)

Síndrome Câncer associado Estratégias para rastreamento


Atenção aos sinais e sintomas
Linfoma, leucemia linfoblástica, de alerta. Mamografia em
Ataxia telangiectasia
mama mulheres com menos de 50
anos de idade
Tumor de Wilms,
Ultrassom abdominal,
Beckwith-Wiedmann hepatoblastoma, neuroblastoma,
alfafetoproteína sérica
carcinoma de adrenal
Leucemia, linfoma, tumor de Atenção aos sinais e sintomas
Wilms, estômago, cólon, mama, de alerta. Considerar a
Bloom
hepatocarcinoma, sarcoma, realização de ultrassom
tumores do SNC abdominal
Denys-Drash Tumor de Wilms Ultrassom renal
Hemograma completo no
Down Leucemia período neonatal. Atenção aos
sinais e sintomas de alerta
Ao diagnóstico: mielograma,
Leucemia, síndrome
biópsia de crista ilíaca.
mielodisplásica,
Considerar a realização de
Anemia de Fanconi hepatocarcinoma, tumores
hemograma a cada 6 meses.
sólidos (cabeça e pescoço,
Atenção aos sinais e sintomas
ginecológico)
de alerta

78
CAPÍTULO 5

Quadro 8 – cont.

Síndrome Câncer associado Estratégias para rastreamento


Gonadoblastoma, tumor de Considerar rastreamento para
Frasier
Wilms tumor de Wilms
Alfafetoproteína sérica e
ultrassom abdominal a cada
Hepatoblastoma, cólon e outros
Gardner 3 meses, até os 3 anos de
tumores do trato gastrointestinal
idade. Colonoscopia a partir dos
10 anos de idade
Anomalias do trato Considerar rastreamento para
Tumor de Wilms
genital masculino tumor de Wilms
Tumor de Wilms,
Semelhante à síndrome de
Hemi-hipertrofia hepatoblastoma, neuroblastoma,
Beckwith-Wiedmann
carcinoma de adrenal
Tumores de células Atenção aos sinais e sintomas
Klinefelter
germinativas, mama de alerta
Neoplasia endócrina Carcinoma medular de tireoide,
Ultrassom de tireoide
múltipla tipo 2 feocromocitoma
Tumor da bainha do nervo
Neurofibromatose Atenção aos sinais e sintomas
periférico, leucemia, sarcomas,
tipo 1 de alerta
tumores do SNC
Carcinoma nevoide Meduloblastoma, carcinoma Atenção aos sinais e sintomas
basocelular basocelular de alerta. Exame dermatológico
Ultrassom pélvico, exame
Tumores do trato gastrointestinal
Peutz-Jeghers do testículo, colonoscopia e
e do sistema reprodutivo
endoscopia digestiva alta
Osteossarcoma, tumores Atenção aos sinais e sintomas
Rothmund Thomson
cutâneos de alerta
Atenção aos sinais e sintomas
Rubstein Taybi Meduloblastoma
de alerta
Simpson Golabi Tumor de Wilms e Semelhante a síndrome de
Behmel hepatoblastoma Beckwith-Wiedmann
WAGR Tumor de Wilms Ultrassom renal
Xeroderma Tumores cutâneos, tumores Exame dermatológico,
pigmentoso oculares, leucemia oftalmológico
Polipose
Hepatoblastoma, carcinoma Ultrassom abdominal,
adenomatosa
colorretal colonoscopia
familiar
Avaliação oftalmológica.
Retinoblastoma Retinoblastoma, osteossarcoma Atenção aos sinais e sintomas
de alerta

79
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

O desafio de pensar no câncer

Suspeitar e fazer um diagnóstico de câncer em uma criança ou


adolescente é um grande desafio, primeiramente, por ser uma doença rara.
A essa raridade, acrescenta-se o fato de que a maior parte desses sinais e
sintomas também ocorrem na apresentação clínica de outras doenças mais
frequentes em pediatria. É importante lembrar que “só faz um diagnóstico de
câncer quem pensa em câncer”. A hipótese de neoplasia deve fazer parte do
diagnóstico diferencial para pacientes que apresentem um desses sinais e
sintomas comuns ao câncer na criança e no adolescente. Não há motivo para se ter
medo de pensar em câncer já que a realidade mostra que, com diagnóstico, toda
criança possui chance de cura, principalmente se ele é realizado precocemente
e tratado de maneira adequada.

80
CAPÍTULO 6

CUIDADOS NECESSÁRIOS COM


A CRIANÇA E O ADOLESCENTE COM CÂNCER

Aliado ao diagnóstico precoce, o tratamento em centros especializados


também tem contribuído significativamente para o aumento das possibilidades
de cura do câncer em crianças e adolescentes. No entanto, é preciso atentar
para o fato de que terapêuticas como quimioterapia, radioterapia, cirurgia, trans-
plante de medula óssea, entre outras, aumentam a necessidade de cuidados
específicos relativos aos efeitos colaterais que provocam.
De fato, o tratamento do câncer produz vários efeitos colaterais agudos,
que exigem intervenção rápida por parte da equipe de saúde para seu controle
adequado. A identificação, a prevenção e o tratamento desses efeitos por profis-
sionais capacitados possibilitam um cuidado seguro e humanizado para a
criança e sua família, favorecendo a melhoria da qualidade de vida de todos.
O tratamento oncológico de uma criança ou adolescente implica
mudanças de hábitos de vida da família e aquisição de novos conceitos.
Portanto, é importante que haja interação entre a equipe de saúde da rede
básica e a da rede responsável pelo tratamento do paciente para se obter um
alinhamento de informações e de orientações bem definidas e individualizadas
sobre cada paciente. Os profissionais devem revisar constantemente as orien-
tações fornecidas e certificar-se de que todos os indivíduos envolvidos no
cuidado da criança as compreenderam. A equipe da ESF deve buscar conheci-
mentos teóricos e práticos sobre os tratamentos realizados, bem como a
interação com as famílias para assegurar uma assistência de qualidade ao
paciente com câncer. Uma ação importante, nesse contexto, é identificar a
instituição onde a criança ou o adolescente realiza o tratamento oncológico,
tendo como ponto de partida os seguintes dados: nome, endereço e telefones de
contato da instituição; número do registro do prontuário do paciente; nome
dos profissionais que estão envolvidos no cuidado desse indivíduo; e as
principais orientações dadas nos casos de emergência e/ou intercorrência
no domicílio. Essas informações são fornecidas às famílias e aos pacientes
pelos centros de tratamento e devem ser confirmadas nos seus cartões e/ou
documentos de identificação. Também é importante a identificação dos
resultados da patologia e da modalidade terapêutica em uso. Esses dados
vão direcionar as ações da equipe da ESF e agilizar o atendimento, caso seja
necessário o contato com a instituição responsável pelo tratamento.

81
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Principais efeitos colaterais

Conhecer e intervir adequadamente junto aos pacientes submetidos


a tratamentos oncológicos engloba, entre outros aspectos, a prevenção de
complicações e a minimização dos efeitos colaterais inevitáveis. Para que a
equipe tenha segurança para desempenhar essas atividades, deve conhecer
as principais características dos efeitos colaterais mais frequentes e também
as medidas necessárias para diminuir essa toxicidade. O melhor manejo dos
eventos adversos vem desmitificando o estigma de que o tratamento oncológico,
de tão agressivo, é quase que intolerável.
Para entender a etiologia dessas reações, é importante lembrar que o
tratamento citotóxico tem sua ação direcionada para as células que estão em
rápida divisão celular, como ocorre nas neoplasias. No entanto esse tratamento,
na maioria das vezes, não é específico para as células tumorais, e células
de tecidos normais (hematopoético e gastrointestinais, por exemplo), que se
encontram em divisão, sofrem também o efeito da quimioterapia e geram, dessa
forma, os efeitos colaterais.
Os efeitos colaterais denominados de agudos são aqueles que ocorrem
poucas horas ou dias após o início do tratamento (anemia, náuseas, vômitos,
insuficiência renal, alopecia, febre etc.), diferente dos tardios, que surgem meses
ou anos após o término do tratamento, decorrentes do efeito cumulativo das
doses e drogas utilizadas (infertilidade, cardiomiopatias, fibrose pulmonar etc.).
A seguir, orienta-se sobre os cuidados que a equipe deve tomar em
relação aos principais efeitos colaterais agudos observados durante o tratamento
oncológico infantil.

Toxicidade hematológica

Os quimioterápicos antineoplásicos podem ser capazes de afetar a


função da medula óssea (não confunda com medula espinhal) e levar o indivíduo
a uma mielodepressão (mielossupressão), ou seja, diminuição da produção e
consequente contagem de células do sangue como leucócitos (responsáveis pela
defesa), plaquetas (responsáveis pela coagulação) e hemácias (responsáveis
pelo transporte de oxigênio). Em consequência, poderá ocorrer:

• Anemia: é a redução da concentração de hemoglobina e da massa de


glóbulos vermelhos, situação em que o paciente relata fadiga aos
menores esforços, nota-se palidez, dispneia e taquicardia. Nos casos
em que o paciente encontra-se sintomático e com taxa de hemoglobina
entre 8,0 e 10,0 g/dL, deve ser encaminhado para ser hemotransfundido
82
CAPÍTULO 6

(receber concentrado de hemácias). Como os pacientes oncológicos


são politransfundidos, é recomendado que recebam hemoderivados,
deleucotizados e irradiados, com a finalidade de se evitar reações trans-
fusionais (aloimunizações, reação do enxerto versus hospedeiro) e
infecções por citomegalovírus.
• Trombocitopenia: ocorre redução anormal no número de plaquetas,
podendo levar o paciente a um quadro de sangramento e/ou
hemorragia. O paciente pode apresentar sangramentos espontâneos
em mucosas (gengivorragia, epistaxe) e na pele, observados pela
presença de hematomas, equimoses e petéquias. Existe um grande
risco de sangramento quando o nível de plaquetas atinge valores
inferiores a 20.000/mm3. Na presença de sangramentos e níveis
baixos de plaquetas, os pacientes devem ser encaminhados para
transfusão, seguindo os mesmos cuidados referidos para o concentrado
de hemácias.
• Leucopenia: ocorre diminuição do número de linfócitos, granulócitos e
especialmente neutrófilos, levando a uma supressão da imunidade
celular, com aumento significativo da suscetibilidade aos quadros
infecciosos graves. A linfopenia, principalmente nos casos das leuce-
mias e linfomas, gera um risco grande de pneumonia pelo Pneumocystis
jiroveci (antigamente denominado carinii). Para esses pacientes em
risco, é recomendada a profilaxia com sulfametoxazol/trimetoprim,
dapasona ou atovaquona. O profissional da atenção básica deve
sempre verificar se o paciente está fazendo uso correto dessas medica-
ções e observar a presença de reações às medicações usadas. A
neutropenia, que aumenta o risco infeccioso, é definida como a conta-
gem de neutrófilos (segmentados) entre 500/mm3 e 1.000/mm3, com
tendência à queda (pacientes que se encontram no período imediato
após a administração da quimioterapia e para os quais se espera uma
queda maior da contagem de células).

Toxicidades gastrointestinais

O tratamento oncológico pode provocar vários efeitos debilitantes


relacionados ao trato gastrointestinal. Entre esses, destacam-se a mucosite,
náuseas, vômitos, diarreia, constipação e anorexia, que serão mais detalhados
na sessão de cuidados odontológicos e no capítulo de cuidados paliativos, na
parte direcionada para controle de sintomas.

83
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Toxicidade dermatológica

Dentre as principais formas de toxicidade dermatológica, destacam-se a


urticária, a hiperpigmentação, a fotossensibilidade, as alterações das unhas e a
alopecia. A exposição solar, mesmo que mínima, pode desencadear ou estimular
muitas dessas reações.
A alopecia representa um dos efeitos colaterais mais difíceis de serem
enfrentados pela criança e, principalmente, pelos adolescentes, sobretudo pelo
aspecto psicológico. A perda dos cabelos ocorre pela atrofia total ou parcial
do folículo piloso, fazendo com que a haste do cabelo se quebre. O efeito é
temporário e o cabelo torna a crescer depois de aproximadamente dois meses
após a interrupção do tratamento, podendo ter textura ou cor diferentes das
anteriores.
É importante explicar ao paciente os cuidados que ele deverá ter com
seu cabelo e couro cabeludo. Durante a terapia, é recomendado: lavar os
cabelos com xampu suave em intervalos de quatro a sete dias; evitar manipular
e escovar excessivamente os cabelos; proteger a cabeça e o couro cabeludo
da exposição solar (com chapéus, lenços, boinas, gorros etc.); e estimular o
autocuidado, ou seja, incentivar o paciente a cuidar do próprio corpo, que agora
passa por alterações.

Principais complicações do tratamento quimioterápico


e medidas para sua prevenção

Complicações infecciosas

Esse tipo de complicação é a principal causa de morbidade e mortalidade


na criança e no adolescente imunocomprometidos em tratamento oncológico. A
prevalência de sépsis em crianças entre 1 e 9 anos é de 12,8%, sendo maior
ainda para aquelas com idade entre 10 e 19 anos, alcançando 17,4% dos
casos. A letalidade é maior na sépsis do paciente oncológico, que possui taxas
de até 16%, enquanto na população em geral essa taxa é de 10% (MENDES;
SAPOLNIK; MENDONÇA, 2007). Portanto, deve-se ter em mente que as
complicações infecciosas devem ser consideradas uma emergência médica.
A febre é um importante sinal de infecção para os pacientes com câncer.
Geralmente, por estar associada à neutropenia causada pelo uso da quimioterapia,
exige avaliação imediata do médico, necessitando, então, de contato prévio via
telefone e encaminhamento do paciente ao serviço de saúde mais próximo, para

84
CAPÍTULO 6

avaliação e contato com o serviço responsável pelo tratamento. A temperatura


axilar, que indica uma avaliação médica imediata para o paciente em tratamento
oncológico, é determinada como sendo aquela, medida no termômetro, em
torno de 37,8ºC. Os familiares são orientados pela instituição onde realizam o
tratamento a respeito da importância do controle de temperatura. Cabe à equipe
da ESF certificar-se de que a família dispõe de termômetro e de que o cuidador
e/ou paciente saibam utilizá-lo corretamente. Essa ação é orientada e iniciada
na própria instituição de tratamento, mas deve ser reforçada sempre que o
paciente passar por consultas e/ou receber visitas domiciliares. Caso não exista
termômetro na residência do paciente, é importante que seja providenciado em
caráter de urgência e fornecido à família. Isso pode ser conseguido através da
intervenção de instituições de assistência social existentes na comunidade ou no
próprio serviço responsável pelo tratamento da criança e/ou adolescente.
Mesmo que o paciente não apresente febre, possuindo qualquer foco
infeccioso (infecção de pele, disúria, dor para evacuar, fissura perianal, abscesso
dentário) e estando neutropênico ou em risco de neutropenia, ele deve ser
encaminhado e conduzido da mesma forma como se estivesse com febre. Toda
conduta, nesses casos, deve ser discutida e estar em comum acordo com a
equipe responsável pelo tratamento oncológico do paciente.
Geralmente, esses pacientes necessitam de tratamento antibiotico-
terápico de amplo espectro de ação e de internação hospitalar. Alguns casos
podem ser conduzidos ambulatorialmente. O ideal é o acompanhamento rigoroso
e em conjunto pela ESF.
Como esses pacientes também podem estar plaquetopênicos, as
medicações intramusculares, como analgésicos, anti-inflamatórios, antieméticos
e antibióticos (por exemplo: penicilina benzatina), estão contraindicadas.
O paciente em tratamento oncológico, quimio ou radioterápico, que
evolua com infecção pelo vírus da varicella-zoster (catapora ou cobreiro), deve
ser encaminhado para tratamento endovenoso com aciclovir o mais rapidamente
possível. A conduta, nesses casos, difere da de uma criança saudável,
imunocompetente. O risco de complicações graves é muito grande no paciente
imunocomprometido.

Prevenção das infecções

Cuidados com higiene e alimentação

Infecção é uma enfermidade que envolve micro-organismos (bactérias,


fungos, vírus e protozoários). Inicialmente, o agente infeccioso (micro-organismo)
85
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

penetra no corpo do hospedeiro (ser humano) e se prolifera (multiplica), com


consequente apresentação de sinais e sintomas. Esses sinais e sintomas podem
ser, entre outros: febre, dor no local afetado, alteração em exames laboratoriais,
debilidade etc. As infecções podem acometer diversas localizações topográficas
(partes do corpo) de um indivíduo, ou disseminar-se pela corrente sanguínea.
Alguns tratamentos, como quimioterapia e radioterapia, reduzem a
imunidade, ou seja, a defesa do corpo, facilitando a ocorrência de quadros
infecciosos. Assim, é preciso tomar uma série de cuidados para prevenir ou
diminuir a propagação das doenças infecciosas. Abaixo seguem alguns cuidados
importantes:

• Higienizar as mãos constantemente: o costume de lavar as mãos com


água e sabão é a ação mais eficaz, entre todos os procedimentos, para
prevenir a infecção. Isso é especialmente importante depois de usar o
banheiro, trocar fraldas ou ter contato com sujidades. As crianças
pequenas devem ser supervisionadas quando usarem vasos sanitários
ou lavabos.
• Manter bem higienizadas as partes íntimas. Evitar escoriações nessa
região, ocasionadas pelo uso de métodos inadequados de higiene.
Atenção especial deve ser tomada com as crianças que ainda usam
fraldas, pois o acúmulo de urina e de fezes por tempo prolongado, além
de irritar a pele, pode favorecer o surgimento de um foco infeccioso.
• Orientar para que as crianças e os adolescentes adquiram o hábito de
não levar as mãos à boca, ao nariz ou aos olhos demasiadamente. Essa
atitude ajuda na prevenção de infecções respiratórias e oculares.
• Orientar a família a deixar crianças e adolescentes distantes de pessoas
fumantes. A inalação passiva da fumaça de cigarro aumenta a frequên-
cia e a seriedade dos resfriados, tosse, infecções de ouvido, infecções
dos seios nasais e asma.
• Informar às crianças e aos adolescentes, e aos seus familiares, que é
necessário higienizar as mãos após acariciar animais domésticos (espe-
cialmente os cachorros) porque eles podem transmitir diarreia, lombri-
gas e outras doenças.
• Orientar os familiares a limpar e desinfetar os ambientes onde se
realizam as trocas de fraldas e onde ficam as roupas, os brinquedos, os
talheres e os pratos, visando a reduzir a ocorrência de doenças infec-
ciosas em casa.

86
CAPÍTULO 6

Para a prevenção de infecções, não se pode esquecer os cuidados


relacionados à alimentação das crianças e adolescentes em tratamento com
câncer. A alimentação é importante em todas as fases do ciclo vital, quando
estamos saudáveis ou doentes. As terapêuticas utilizadas no tratamento do
câncer infantil, como cirurgia, quimioterapia, radioterapia e outras, podem
deixar o indivíduo com a imunidade baixa, fadigado, cansado, além de causar
dificuldades para se alimentar. Uma alimentação apropriada pode auxiliar na
redução desses efeitos, contribuindo para o bem-estar dos pacientes.
Assim, o profissional de saúde deve orientar o paciente e seus
familiares a:

• Higienizar as mãos antes de comer ou cozinhar.


• Cozinhar os alimentos, principalmente carnes, que não devem permane-
cer cruas ou malpassadas, mas sim serem totalmente cozidas. Os ovos,
especificamente, devem ser ingeridos sempre cozidos, ou seja, com a
clara e a gema completamente duras. As aves mal cozidas são uma
causa comum de diarreia.
• Lavar cuidadosamente as mãos e qualquer objeto que tenha estado em
contato com a carne crua (colheres, facas, tábuas etc.) antes de usá-los
em outros alimentos.
• Utilizar tábuas de plástico: os germes não são eliminados completamen-
te das tábuas de madeira.
• Lavar as frutas, verduras e legumes em água corrente antes de descas-
cá-las ou cortá-las. Deixar as frutas e verduras que serão consumidas
cruas em uma solução de hipoclorito de sódio (encontrada em farmá-
cias) de 2% a 2,5%, contendo uma colher de sopa rasa do hipoclorito
para cada litro de água potável. Depois de lavadas uma a uma, as frutas,
verduras e legumes devem ficar de molho por 30 minutos na solução de
hipoclorito e, em seguida, enxaguados em água filtrada ou fervida.
Nunca usar cloro puro.
• Antes de a criança ou o adolescente entrar em contato com embalagens
de alimentos, higienizá-los adequadamente ou lavar as embalagens
antes de abri-los.
• Atentar para o odor, o sabor e a textura dos alimentos, verificando se
não estão com características diferentes das tradicionais. Caso positivo,
não consumi-los.
• Estimular a ingestão de água filtrada ou fervida.

87
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

• Orientar que se evite a realização de refeições em lanchonetes ou


restaurantes, pois a procedência dos alimentos não é conhecida, bem
como não há garantias quanto à segurança na higiene desses alimentos
e na sua conservação.
• Evitar alimentos duros e com casca, que possam machucar a boca.

Vacinação

A imunização ativa ou passiva de crianças e adolescentes protege


contra várias doenças e é fundamental para um desenvolvimento saudável.
A prevenção de doenças desempenha, de fato, um papel importante na obtenção
de uma saúde perfeita.
As vacinas são substâncias capazes de estimular o sistema imunológico,
a fim de tornar o organismo imune ou mais resistente a alguns agentes
patológicos. Seu efeito se faz pela presença de proteínas, toxinas, partes de
bactérias ou vírus, ou mesmo vírus e bactérias inteiros, atenuados (sem poder de
causar doença) ou mortos, que, ao serem introduzidos no organismo, estimulam
a síntese de anticorpos. Além das substâncias imunogênicas, as vacinas podem
conter outras, como líquido de suspensão, conservantes, estabilizantes e
adjuvantes, com funções de evitar a contaminação, proteger os imunobiológicos
de condições adversas (frio, calor, alterações do pH) ou aumentar o estímulo à
produção de anticorpos. Relembrar o que é a vacina é importante para que o
profissional entenda os motivos de sua contraindicação em casos de pacientes
com câncer.
Quando a criança recebe uma vacina, seu organismo começa a
desenvolver células B ou T de memória e a produzir imunoglobulinas G ou A (IgG
ou IgA) que poderão, mais tarde, agir rapidamente contra micro-organismos,
defendendo-a de bactérias e vírus com os quais entrou em contato.
Nem todas as vacinas podem ser dadas a crianças e adolescentes que
estão em tratamento do câncer. Algumas só podem ser administradas depois
de orientação médica. Outras são totalmente proibidas, já que a criança e o
adolescente com câncer têm suas defesas diminuídas (leucopenia) por causa do
tratamento oncológico.
Os riscos advindos das vacinas são extremamente graves. Algumas
vacinas são feitas a partir de bactérias ou vírus vivos que, mesmo “enfraquecidos”,
são uma ameaça para quem está em tratamento.
A equipe da ESF deve acompanhar rigorosamente o calendário de
vacinação da criança e do adolescente, para orientar a família e, também,
programar as vacinas que devem ser tomadas ou evitadas, de acordo com o
88
CAPÍTULO 6

tratamento que será ou está sendo realizado. As crianças e os adolescentes com


câncer e seus responsáveis devem ser orientados a levar sempre sua caderneta
de vacinação nas consultas médicas.
Em um período que varia de três meses a um ano após o término do
tratamento do câncer, as crianças e os adolescentes podem tomar as vacinas
que antes eram proibidas, após avaliação e liberação médica.
No Quadro 9, a seguir, são descritas as vacinas que podem ser liberadas,
as que podem ser liberadas sob orientação médica e as vacinas proibidas para
a criança e o adolescente em tratamento de câncer.

Quadro 9 – Relação das vacinas para crianças e adolescentes em tratamento de câncer

Vacinas Liberadas Vacinas Sob Consulta Vacinas Proibidas


Tríplice (DPT – difteria, Pneumococo (pneumonia e Poliomielite (paralisia
coqueluche e tétano) ou meningite) infantil)
tríplice acelular (DPaT –
difteria, coqueluche e tétano) Haemophilus influenza b ou BCG (tuberculose)
Hib (pneumonia e meningite)
Hepatite A MMR (sarampo, caxumba
Meningococo (meningite) e rubéola)
Hepatite B
Febre tifoide Varicela (catapora)
Influenza (gripe)
Raiva Febre amarela

A família deve ser informada também quanto ao contato da criança e


adolescente em tratamento com pessoas sadias que receberam imunização. No
caso da vacina Sabin, que é a vacina oral contra poliomielite (paralisia infantil), e
da vacina contra a varicela (catapora), nem mesmo os irmãos, amigos e adultos
que convivem com a criança e o jovem com câncer devem ser vacinados sem
avaliação conjunta com oncologista.
Se quem convive com a criança ou o adolescente em tratamento tomar
uma dessas vacinas, deverá ficar afastado por, no mínimo, 30 dias. Já quem
tomou a vacina Salk, contra a paralisia infantil, não precisa se afastar da criança
ou adolescente em tratamento do câncer.

Flebite e extravasamento

Muitos quimioterápicos, as drogas de suporte e a coleta frequente de


exames laboratoriais obrigam o paciente a se submeter a inúmeras punções
venosas. Além disso, a via endovenosa é a mais segura no sentido de garantir
que o nível sérico da droga seja alcançado, o que é fundamental para o

89
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

tratamento. A dificuldade na obtenção de um bom acesso venoso é motivo de


grande preocupação para a equipe de saúde e, muitas vezes, de sofrimento para
o paciente e seu familiar.
O paciente oncológico possui características particulares que tornam
sua rede venosa debilitada devido às múltiplas punções, trombocitopenia,
fragilidade capilar (déficit nutricional) e ação irritante e esclerosante das drogas
que provocam gradual obliteração e fibrose venosa.
A flebite ocorre devido à ação química do quimioterápico na rede venosa
ou quando o dispositivo venoso traumatiza o vaso sanguíneo por incompatibilidade
de calibre, causando hiperemias, dor, endurecimento e aumento da temperatura
local no trajeto venoso.
O extravasamento é a infiltração do quimioterápico nos tecidos
circunvizinhos ao vaso sanguíneo em que se está administrando a medicação,
podendo causar lesões graves que variam desde uma simples irritação até a
necrose tecidual.
Embora se conheçam todos os riscos que envolvem a administração de
quimioterápicos, o acesso venoso periférico ainda é usado com mais frequência
quando comparado aos cateteres venosos centrais.

Para evitar flebite e extravasamento

Cateteres venosos centrais

Os cateteres podem ser classificados, pela sua durabilidade, em dois


grandes grupos: os de curta e os de longa permanência. Quando se necessita
de um acesso venoso para ser utilizado por poucos dias ou semanas, como para
administração de antibióticos, na dificuldade de acesso venoso periférico em
crianças pequenas, os cateteres de curta permanência são os mais indicados.
Quando se prevê um tempo prolongado de tratamento (maior do que seis
meses) em crianças pequenas com dificuldade de acesso venoso, que farão uso
frequente de quimioterápicos vesicantes, com maior necessidade de coleta de
sangue para exames laboratoriais e necessidades transfusionais, a implantação
de um cateter de longa permanência é recomendada.
Na oncologia pediátrica, em geral, são utilizados os cateteres de longa
permanência totalmente implantáveis, também conhecidos como Port-a-Cath.
O uso desses cateteres no Brasil data do início da década de 1980 e, até
hoje, são uma excelente opção para esses pacientes por permitir a infusão de
medicamentos, quimioterápicos, hemocomponentes, nutrição parenteral e a

90
CAPÍTULO 6

realização da coleta de exames laboratoriais. Contudo o seu custo elevado


ainda é um fator limitante para muitos pacientes e/ou instituições. A sua
manipulação exige técnica asséptica e profissionais capacitados especificamente
para esse fim.
Recomenda-se que, ao identificar um paciente portador desse tipo
de cateter, o enfermeiro entre em contato com a instituição responsável pelo
tratamento para obter mais informações. Não manipule o cateter sem estar
preparado, capacitado, sem material adequado e, principalmente, sem a
anuência do serviço de origem do paciente.

Cuidar com qualidade

Até pouco tempo atrás, o diagnóstico de câncer podia ser considerado


uma sentença de morte. Muitos avanços permitiram desmitificar essa
realidade. Inicialmente, com a descoberta das modalidades de tratamento
(quimio e radioterápico, por exemplo), buscava-se a cura a qualquer preço,
independentemente das toxicidades agudas e tardias. Os cuidados de suporte
(antibioticoterapia, hemoterapia, medicina intensiva) foram aprendidos e
aprimorados, passando a buscar a cura, mas com qualidade e com o mínimo de
sequelas. A partir de então, uma nova abordagem surge: o cuidar além do curar.
Apesar de as taxas de cura encontrarem-se, nos melhores centros,
acima dos 70%, cerca de 30% dessas crianças e adolescentes não conseguem
alcançar esse objetivo final. Ao diagnóstico, a maioria das crianças possui uma
chance de cura, mas é impossível prever se ela está dentro dos 70% ou dos
30%. Por isso, todas as crianças merecem a mesma presteza de cuidado,
independentemente da sua doença ou de suas chances de cura.
O fato de um indivíduo possuir diagnóstico de uma neoplasia maligna
não o torna uma pessoa anormal, ou seja, a criança não deixa de ser criança e
suas necessidades (médicas, biológicas, psíquicas, sociais e espirituais) devem
sempre ser valorizadas.
O seu cuidado não pode se restringir apenas ao ambiente de tratamento
oncológico intra-hospitalar e ambulatorial, mas deve-se estender para seu domi-
cílio, casas de apoio, unidade básica de saúde, escola ou qualquer lugar que
faça parte da sua rotina.
Para seu cuidado global, são necessários vários profissionais de várias
especialidades que exerçam, acima de tudo, o conceito da transdisciplinaridade,
que significa o saber que integra todas as formas do conhecimento para o bem
do paciente.

91
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Cuidados odontológicos

A cavidade bucal, assim como todo o corpo, também sofre os efeitos


colaterais da terapia oncológica. Essas complicações podem comprometer o
tratamento oncológico, causando impacto no prognóstico e na qualidade de vida
do paciente.
Dessa forma, é essencial a participação do cirurgião dentista tanto na
equipe multiprofissional do centro especializado (atenção terciária), quanto na
equipe de Saúde da Família que dará suporte à criança e ao adolescente com
câncer.
O dentista de Saúde da Família e toda a equipe de saúde bucal –
(Auxiliar em Saúde Bucal – ASB – e Técnico em Saúde Bucal – TSB) deverão
estar capacitados para reconhecer os sinais e sintomas do câncer, visando
à sua detecção precoce, como também identificar e lidar com as possíveis
complicações bucais da quimioterapia e da radioterapia. Mesmo estando o
paciente em tratamento nos Serviços de Alta Complexidade em Oncologia, não
cessa a responsabilidade da ESF à qual ele pertence.
O ideal seria que todas as crianças e adolescentes com diagnóstico de
uma neoplasia maligna fossem avaliados quanto às suas condições de saúde
bucal antes do início do tratamento oncológico. Independente dessa avaliação, o
tratamento antineoplásico é prioridade e deve ser iniciado o mais rápido possível.
Na maioria dos casos, não há tempo hábil nem condições clínicas favoráveis
para a realização dos procedimentos odontológicos necessários. O paciente
deverá ser reavaliado durante o tratamento, e as intervenções, planejadas em
conjunto com a equipe médica que irá orientar quais procedimentos poderão ser
realizados. Portanto, para uma assistência odontológica adequada, é essencial
a realização de uma boa anamnese com informações sobre o tipo do tumor,
sua localização, a fase do tratamento, a modalidade terapêutica utilizada e a
identificação da Unidade de Referência em Oncologia.
De acordo com as recomendações da Academia Americana de
Odontologia Pediátrica (GUIDELINE ON DENTAL MANAGEMENT OF
PEDIATRIC PATIENTS RECEVING CHEMOTHERAPY, HEMATOPOIETIC CELL
TRANSPLANTATION, AND/OR RADIATION, 2008), só deverão ser realizados
procedimentos odontológicos cirúrgicos e invasivos nas seguintes condições
hematológicas verificadas pelo hemograma realizado no dia do atendimento:

• Contagem absoluta de neutrófilos (ANC):


- Se neutrófilos acima de 1.000/mm³, sem tendência à queda: é
permitida a abordagem pelo cirurgião dentista. Alguns autores
sugerem que se faça a profilaxia para endocardite bacteriana
92
CAPÍTULO 6

com antibióticos que devem ser prescritos pelo onco-hemato-


logista pediátrico.
- Se neutrófilos menores que 1.000/mm³: adiar o atendimento
odontológico eletivo. Em caso de emergência odontológica,
discutir antibioticoterapia além da profilaxia para endocardite
bacteriana com a equipe médica antes de realizar o procedi-
mento. O paciente pode precisar de internação para tratamen-
to odontológico.

• Contagem de plaquetas:
- Se número de plaquetas maior que 100.000/mm³, sem tendên-
cia à queda, podem ser realizados procedimentos cirúrgicos.
- Se número de plaquetas entre 75.000 e 100.000/mm³, existe
risco de sangramento mais prolongado e o dentista deve
estar preparado para realizar procedimentos locais como
suturas, agentes hemostáticos, tamponamentos, gelatinas,
espumas etc.
- Se número de plaquetas entre 40.000 e 75.000/mm³, a trans-
fusão de plaquetas deve ser considerada pré e até 24 horas
após o procedimento intra-hospitalar. Para o manejo de sangra-
mento prolongado devem ser realizados, também, procedi-
mentos locais.
- Se número de plaquetas menor que 40.000/mm³, adiar a inter-
venção. Em caso de emergência odontológica, deve ser feito
contato com o médico do paciente para discutir medidas de
suporte hemoterápico e cuidados intra-hospitalares antes de
realizar qualquer tipo de procedimento.

Um dos principais objetivos da assistência odontológica ao paciente


com câncer consiste em adequar o meio bucal, visando a eliminar quadros
de infecção (cáries, raízes residuais, abscessos, lesões periapicais e doença
periodontal), que poderão se agudizar, devido à baixa resistência do paciente,
levando a situações clínicas severas, até mesmo septicemia (DIB; CURI, 2002).
Dessa forma, a conduta mais adequada a ser tomada para dentes decíduos, com
comprometimento pulpar, é a exodontia. Para os dentes permanentes não vitais
e sintomáticos, cujo sucesso do tratamento conservador não puder ser garantido
com antecedência de uma semana antes do início da quimioterapia e/ou da
radioterapia, a extração é a abordagem recomendada (GUIDELINE ON DENTAL

93
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

MANAGEMENT OF PEDIATRIC PATIENTS RECEVING CHEMOTHERAPY,


HEMATOPOIETIC CELL TRANSPLANTATION, AND/OR RADIATION, 2008).
Também deverá fazer parte das condutas odontológicas a verificação
das condições de higiene bucal. O paciente deve receber orientações sobre
os cuidados específicos para remoção da placa bacteriana e receber um plano
de medidas preventivas individualizado, visando a minimizar os efeitos da
terapia nos tecidos bucais. Nessa etapa, é importante o envolvimento de toda
a equipe de saúde bucal, principalmente do TSB, que muito poderá contribuir
no monitoramento e na motivação das medidas prescritas. Especialmente em
relação às crianças, é importante envolver ao máximo os pais e responsáveis,
tornando-os conscientes da real necessidade dos cuidados com a higiene bucal e
dando orientações preventivas. A participação ativa da equipe de saúde bucal no
cuidado do paciente com câncer contribui, assim, na melhora da sua qualidade
de vida.
A seguir, serão mostradas as principais complicações bucais da
quimioterapia e da radioterapia, assim como as orientações sobre prevenção,
controle e tratamento.

Mucosite

Uma toxicidade muito debilitante é a mucosite oral, definida como


uma inflamação da mucosa oral induzida pelas quimioterapia e radioterapia.
Representa uma entidade distinta das lesões orais, chamadas genericamente de
estomatites (PETERSON, 1999). Inicia-se com ressecamento da boca e evolui
para eritema, dificuldade de deglutição, ulceração, podendo envolver todo o trato
gastrointestinal, até a mucosa anal. A descamação das mucosas costuma ser
muito dolorida e, especialmente na boca e no esôfago, favorece as infecções
oportunistas.
A mucosite oral representa a principal complicação não hematológica
da quimioterapia e radioterapia. As células de rápida divisão celular, como as
da mucosa bucal, sofrem de maneira acentuada os efeitos citotóxicos da terapia
oncológica. Ocorre uma diminuição da capacidade de renovação do epitélio
bucal, levando à ulceração e à exposição do tecido conjuntivo. Está associada
à dor, à perda do paladar e do apetite, podendo ter como consequência a
desidratação e a desnutrição, reduzindo a qualidade de vida do paciente afetado.
Adicionalmente, representa um fator de risco para infecções, particularmente em
pacientes imunossuprimidos (WOLFGANG et al., 2001).

94
CAPÍTULO 6

A mucosite geralmente aparece entre o quinto e o sétimo dia após o


início da quimioterapia (LOBÃO, 2006) e a partir da segunda semana após o
início da radioterapia (DIB; CURI, 2002).
Os fatores de risco para o desenvolvimento da mucosite incluem higiene
oral precária, preexistência de doença dentária, baixa produção de saliva
(xerostomia), função imune comprometida, tipo de agente quimioterápico, tipo de
radiação, volume do tecido irradiado, doses diárias e totais e idade do paciente
(quanto mais jovem, mais suscetível será).
A abordagem inicial do paciente com mucosite deve começar pela sua
classificação, que, dependendo da escala de avaliação utilizada, leva em conta
a observação de sinais objetivos (vermelhidão ou eritema e o desenvolvimento
de úlceras) e de sintomas subjetivos (habilidade de deglutir e sensibilidade da
mucosa/dor). Um exemplo de uma ferramenta usada para a avaliação dessa
toxicidade é a escala apresentada no Quadro 10:

Quadro 10 – Escala de toxicidade oral da Organização Mundial da Saúde (OMS)
(WHO, 1979)

Grau 0 Grau 1 Grau 2 Grau 3 Grau 4


Eritema e úlceras
Mucosite
Sensibilidade, Eritema, úlceras, extensas, não
extensa, não
Sem alterações inflamação e consegue comer consegue comer
consegue se
eritema alimentos sólidos alimentos sólidos,
alimentar
apenas líquidos

A abordagem da dor (avaliação e tratamento) deve seguir as orientações


do Capítulo 7.
A higiene oral é uma estratégia de prevenção que reduz a proliferação
de micro-organismos e o desenvolvimento de mucosite severa. Para evitar esse
efeito colateral, algumas recomendações podem ser dadas aos pacientes:

• Fazer a higiene oral cuidadosa sempre após as principais refeições,


utilizando-se de escovas de cerdas extramacias e creme dental fluore-
tado (em quantidade adequada).
• Evitar o uso do fio dental nos períodos de quimioterapia, em que a
mucosa oral está sensível, friável, tanto pelo risco de infecções quanto
pelo risco de sangramentos.
• Retirar o aparelho ortodôntico (além de ser um reservatório de placa
bacteriana, pode exacerbar a irritação da mucosa oral) (CAMARGO;
BATISTELLA; FERREIRA, 2004).
95
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

• Evitar alimentos muito quentes, frios, ácidos, muito condimentados e


açucarados (preferir dietas líquidas ou pastosas, ricas em proteínas e
em temperatura ambiente).
• Manter uma hidratação oral adequada.
• Realizar gargarejos e bochechos com soluções apropriadas (exemplo:
clorexidina 0,12%, solução aquosa, sem álcool, duas vezes ao dia, e
prescritas pela equipe especializada, em temperatura ambiente.

O laser de baixa potência também é indicado na prevenção e no


tratamento da mucosite, devido à sua ação anti-inflamatória, bioestimulante e ao
seu alto poder de regeneração tecidual.
Atualmente, estudos têm mostrado que o light-emitting diode (LED) é
eficaz no tratamento da mucosite oral, minimizando a sintomatologia.

Xerostomia

É a ausência ou diminuição do fluxo salivar que ocorre em decorrência


da irradiação das glândulas salivares ou pela ação dos medicamentos da
quimioterapia. Provoca alteração do paladar, mastigação, deglutição e fala.
Devido à alteração da microflora bucal, pode exacerbar a doença periodontal e
propiciar o desenvolvimento de cáries de radiação. O tratamento é sintomático
por meio do uso de saliva artificial, estimulação da produção de saliva e ações
de promoção de saúde oral.

Infecções oportunistas e sangramentos orais

A quimioterapia irá determinar estados de imunodepressão sistêmica,


levando a quadros de leucopenia, anemia e plaquetopenia. Esses quadros,
associados à mucosite, deixarão a cavidade bucal sujeita a infecções oportunistas
(fungos, vírus e bactérias) e sangramentos que, muitas vezes, pioram o estado de
saúde do paciente, levando inclusive a internações e interrupções do tratamento.
A candidíase, por exemplo, é uma infecção fúngica muito comum e que
geralmente se manifesta na forma pseudomembranosa, com aspecto clínico
semelhante a uma das fases da mucosite. Muitas vezes, esse fato torna difícil
o seu diagnóstico diferencial. Na impossibilidade de se confirmar o diagnóstico,
opta-se por iniciar o tratamento antifúngico (DIB; CURI, 2002). O tratamento
consiste na administração de antifúngicos tópicos (nistatina, solução oral, quatro
vezes ao dia) ou sistêmicos, dependendo da gravidade da situação.

96
CAPÍTULO 6

Alteração do paladar (digeusia)

A alteração do paladar pode ocorrer durante a radioterapia devido à


atrofia progressiva das papilas gustativas e, muitas vezes, ocorre em conse-
quência da xerostomia. O paciente sente dificuldade na percepção do paladar
e da temperatura dos alimentos, o que leva à perda do apetite e à subnutrição.
A maioria dos pacientes volta à normalidade entre quatro e seis meses após o
término do tratamento. Contudo, alguns não apresentam remissão do quadro.

Cárie de radiação

É uma complicação tardia da radioterapia, mas não é um efeito direto da
mesma. Acontece em decorrência da xerostomia, da diminuição do pH bucal e da
manutenção da oferta de carboidratos cariogênicos (NEVILLE; DAMM; ALLEN,
2001). A cárie de radiação consiste em um processo carioso bastante rápido
e agressivo que pode ser explicado pelo comprometimento dos odontoblastos,
que perdem a capacidade de produzir dentina reacional frente ao processo
carioso. Pode levar à destruição total dos dentes em questão de meses. Afeta
principalmente áreas de superfície lisa das regiões cervicais, pontas de cúspides
dentárias e pontas dos dentes anteriores (também conhecidas como regiões
incisais). A atuação do dentista frente a essa complicação é importantíssima,
principalmente no sentido de dar prioridade ao atendimento desse paciente e
instituir um protocolo rígido de higiene bucal, aplicações periódicas de flúor,
orientações de dieta e controle da xerostomia.

Osteorradionecrose

A radioterapia da área de cabeça e pescoço provoca danos permanentes


na vascularização e na capacidade de oxigenação dos ossos maxilares. Isso fará
com que a maxila, e principalmente a mandíbula, tornem-se mais vulneráveis
a infecções e com uma menor capacidade de regeneração frente a traumas,
podendo causar processo degenerativo conhecido por osteorradionecrose. É
uma complicação tardia, severa e de difícil tratamento. Também pode ocorrer de
forma espontânea. Uma vez desencadeado o processo, o paciente apresenta
quadro clínico caracterizado por dor intensa, formação de fístula, sequestros
ósseos, trismo, ulceração da pele com exposição da cortical óssea e, ainda, pela
possibilidade de sofrer fraturas patológicas.
A prevenção da osteorradionecrose consiste em uma avaliação
odontológica completa, em que os procedimentos necessários deverão ser

97
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

realizados anteriormente à radioterapia. Isso porque exodontias, procedimentos


invasivos e cirúrgicos, próteses mal adaptadas e infecções periodontais e
periapicais podem desencadear o processo que terá um forte impacto na
qualidade de vida do paciente.
O tratamento consiste na irrigação local e diária com soluções
antissépticas, na descorticação de tecido ósseo necrótico e, nos casos associados
à infecção aguda seguida de febre, no uso de antibióticos sistêmicos. Quando
os pacientes apresentam dores intensas, devem ser realizadas intervenções
cirúrgicas associadas à oxigenação hiperbárica, que consiste na inalação de
oxigênio puro pela pressão atmosférica aumentada.

Trismo

É a dificuldade de abertura de boca que, muitas vezes, ocorre quando


os músculos mastigatórios estão envolvidos no campo de radiação. Esse fato se
dá devido à fibrose muscular e irá dificultar a mastigação, a fala e a abertura de
boca. Assim, é importante uma orientação em relação à fisioterapia domiciliar
com exercícios de abertura de boca auxiliados por espátulas de madeira, que
farão o alongamento dos músculos mastigatórios. Esse procedimento visa à
prevenção e à diminuição da intensidade dos casos de trismo.

Conclusão

As informações descritas acima reforçam a necessidade da equipe de


saúde bucal no acompanhamento e suporte da criança e do adolescente com
câncer. A partir do diagnóstico realizado, o paciente deve receber orientações
e medidas preventivas, objetivando promover a saúde bucal e minimizar as
complicações orais, antes, durante e após o tratamento oncológico.
Os procedimentos a serem realizados na criança e no adolescente com
câncer são os mesmos procedimentos que constam dentro das atribuições
preconizadas pelo Ministério da Saúde para a equipe de Saúde Bucal da ESF.
Assim, não deve existir receio em tratar a criança e o adolescente portador de
câncer. No entanto, como foi visto anteriormente, são necessários cuidados em
relação às condições hematológicas e à maior susceptibilidade a infecções.
Também irá contribuir para a segurança dos procedimentos realizados uma boa
integração com a equipe médica.
É importante lembrar que a equipe de Saúde da Família tem a
responsabilidade sanitária pelo paciente pertencente à sua área, mesmo estando

98
CAPÍTULO 6

ele em tratamento na rede especializada e, muitas vezes, fora do seu município


de origem. Assim, a equipe de Saúde da Família deve monitorar e cuidar do
paciente dentro de suas competências e atribuições. Cada profissional da
equipe terá muito a contribuir, visando a um atendimento integral e humanizado,
devendo estar sempre atento à necessidade de encaminhá-lo para a instituição
de referência em casos de intercorrências.

99
Capítulo 7

CUIDADOS PALIATIVOS
EM ONCOLOGIA PEDIÁTRICA

O verbo paliar, do latim palliare, pallium, significa, em seu modo mais


abrangente, proteger, cobrir (COSTA FILHO et al., 2008). Cuidado paliativo é
um esforço de aprimorar a qualidade de vida dos pacientes e das famílias que
enfrentam problemas associados a doenças ameaçadoras da vida, por meio
da prevenção e alívio do sofrimento, incluindo identificação precoce, avaliação
correta, tratamento da dor e outros problemas de ordem física, psicossocial e
espiritual (OMS, 2002).
Nos últimos anos tem havido maior conscientização da necessidade de
integrar cuidados paliativos ao tratamento de doenças crônicas e, em especial,
do câncer na criança e no adolescente. A ênfase deve ser no tratamento não só
para prolongar a vida, mas para maximizar a qualidade de vida, evitando inter-
venções desnecessárias (WOLFE; SOURKES, 2006). Dessa forma, o cuidado
paliativo deve fazer parte do paradigma da atenção, evitando transição abrupta
e oferecendo um cuidado integrado, baseado no conforto. Isso requer esforço
unificado da equipe interdisciplinar, com uma parceria estreita entre centros
oncológicos pediátricos terciários e centros de atenção primária e secundária,
para otimização de toda a rede. Muitos desafios ainda precisam ser vencidos
para se implementar a atenção global às crianças.

Não há cuidado paliativo eficiente sem uma forte aliança


entre paciente, família e equipe de saúde. A equipe interdisciplinar
adequada para o tratamento do câncer em crianças e adolescentes
é formada por médico, psicólogo, enfermeiro, nutricionista, fonoaudi-
ólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e assistente social, todos
trabalhando em sua área específica, com uma comunicação constante
sobre o caso (WOLFE et al. 2008). Uma equipe interdisciplinar não só tem
a capacidade de dar o melhor tratamento, como passa maior segurança
aos pacientes e familiares, dando-lhes todas as informações necessárias.
A troca de conhecimento existente a partir da criação da
equipe interdisciplinar tem permitido a formação de novos saberes. Um
exemplo disso é a criação da “clínica de dor”, que reúne profissionais
de várias especialidades trabalhando juntos para prevenir e combater a
dor dos pacientes.

101
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Principais parâmetros éticos

Nas últimas décadas, tem aumentado a discussão ética sobre os cuidados


durante o tratamento do câncer. É clara a necessidade de se evitar a obstinação
terapêutica, que torna ainda mais difícil a aceitação da morte. Prolongar a vida a
qualquer custo ao invés de investir em qualidade, em suporte físico e psicológico
dos pacientes, não é mais uma prática aceitável (SILVA; ZAGO, 2001).
Da mesma forma, aprender a lidar com as perdas no contexto das
doenças crônicas, como o câncer, é um desafio. Entender a importância dos
cuidados paliativos, bem como o seu emprego desde o início do tratamento, é
fundamental para uma ótima assistência aos pacientes oncológicos.
Os princípios da definição da Organização Mundial da Saúde para
cuidado paliativo apropriado para crianças e seus familiares são:

• Envolver o cuidado ativo total da criança — corpo, mente e espírito —


e o suporte aos seus familiares.
• O cuidado deve começar quando a doença é diagnosticada e continuar
independente de a criança receber ou não tratamento direcionado para
sua doença.
• Requer abordagem multidisciplinar, que inclui a família e utiliza os
recursos disponíveis da comunidade.
• Pode ser implementado com sucesso, mesmo quando os recursos
são limitados.
• Pode ser fornecido em centros terciários, centros de saúde da comuni-
dade e mesmo na residência da criança.

Outros parâmetros éticos e filosóficos de cuidados paliativos, apre-


sentados por Koseki Bruera (1996), são:

• Todos os indivíduos possuem valores próprios que devem ser respeitados.


• Deve-se respeitar o direito do paciente à autonomia e ao controle.
• A relação entre profissionais de saúde e pacientes deve estruturar-se
na integridade e verdade, associadas à sensibilidade e à compaixão.
• Deve-se permitir, aos pacientes que estão morrendo, viver seus últimos
dias de forma consistente com seus valores, crenças e personalidades.
• Cuidado paliativo não tem por objetivo antecipar ou adiar a morte.

102
CAPÍTULO 7

Quando iniciar o cuidado paliativo?

A maior dificuldade encontrada há alguns anos era como encaminhar o


paciente para receber cuidados paliativos, uma vez que essa transição acontecia
quando o paciente encontrava-se fora de possibilidades de cura ou, até mesmo,
caminhando para a terminalidade. O paciente terminal é definido como aquele
em que a morte é inevitável e próxima, com doença não só incurável, mas
também avançada (CAMARGO, 2007). Pacientes em fase terminal podem viver
horas, dias ou mesmo meses. Nessa fase, o foco do cuidado paliativo se dá
nas necessidades físicas, emocionais, espirituais e sociais da criança ou do
adolescente, assim como da família, que pode esperar por uma cura milagrosa
ou ter sentimento de não aceitação da morte iminente, o que não significa sua
negação (LIBEN; PAPADATOU; WOLFE, 2008).
Atualmente, especialistas recomendam que cuidados paliativos sejam
oferecidos a todas as crianças com o diagnóstico de câncer, especialmente em
malignidades com baixa possibilidade de cura (NELSON et al., 2000), porque
isso melhora a aceitação do paciente e de seus familiares. Além disso, há
consenso de que o cuidado paliativo pode aliviar os sintomas em uma criança
com malignidade incurável, seja no momento diagnóstico, seja durante a recaída
(HIMELSTEIN et al., 2004). Logo, é preciso reunir esforços para tornar esse
serviço disponível em todos os níveis de atenção à saúde da criança e do
adolescente com câncer.
O cuidado global, integral, à criança e ao adolescente com câncer deve
ser iniciado com o diagnóstico da doença e deve continuar independentemente
da possibilidade de cura. Apesar de muitos sintomas físicos serem controlados
após o início do tratamento oncológico, vários aspectos sociais, familiares,
escolares, emocionais e espirituais aparecem no decorrer do tratamento,neces-
sitando ser reconhecidos e abordados de maneira correta. Essa abordagem
deve ser realizada independentemente do local onde o paciente esteja (hospital,
ambulatório, casa de apoio etc.), da sua procedência (cidade de origem) e da
fase da doença (diagnóstico, tratamento e após o término da terapia).

Comunicação

A comunicação entre a equipe médica, a criança e a família é uma das


bases fundamentais para um tratamento oncológico adequado. Já no diagnóstico
se estabelecem as bases de uma relação de confiança mútua, uma aliança
terapêutica, em que o foco é o paciente.

103
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

O comitê psicossocial da Sociedade Internacional de Oncologia Pediátrica


(Siop) define como essenciais os seguintes tópicos para a comunicação do
diagnóstico (MASERA; CHESLER; EPELMAN, 1997):

• Estabelecer um protocolo de comunicação.


• Comunicar imediatamente após o diagnóstico.
• Realizar o processo em lugar privativo e confortável.
• Envolver os pais e outros membros da família.
• Conversar em separado com a criança.
• Respeitar as diferenças culturais.
• Fornecer informações sobre o diagnóstico e o tratamento.
• Orientar quanto aos cuidados gerais.
• Estimular o diálogo aberto e contínuo.

Não se deve esquecer que o foco é a criança ou o adolescente e que


eles devem sempre ser incluídos nos processos de comunicação e tomada de
decisão, respeitando-se o grau de desenvolvimento cognitivo.
Um dos pontos importantes de um processo de comunicação efetivo é
a melhor adesão do paciente ao tratamento. Entre os fatores que contribuem
para uma adesão inadequada ao tratamento está a falta de compreensão, que é
consequência de uma comunicação com falta de informações e/ou informações
dúbias.
Uma boa comunicação facilita todo o processo de cuidado, principalmente
aquele relacionado ao processo de fim de vida.
Mais importante do que falar é o como falar. A comunicação não verbal
(gestos, postura, voz) influencia ativamente nesse processo.
Mais difícil ainda é a comunicação sobre a morte com a criança. O
conceito de morte varia de acordo com o grau de desenvolvimento cognitivo para
cada faixa etária. Mesmo crianças menores podem demonstrar o conhecimento
da sua situação tanto diretamente, pelas palavras, quanto indiretamente, por
desenhos e gestos. Elas adquirem esse conhecimento por meio de informações
diretas ou pelo próprio reconhecimento de experiências prévias. Nessas
situações, mesmo os pais que percebem que a criança tem esse conhecimento
optam por não falar no assunto por medo de infringir mais sofrimento. Da mesma
forma, algumas crianças fingem não saber da verdade perto dos pais. Esse é um
momento muito delicado, permeado por muitos medos e inseguranças, em que
a equipe possui papel fundamental. O estímulo para que os pais conversem com
seus filhos que demonstram o conhecimento sobre a morte parece ser positivo,
evitando arrependimentos e dificuldade na elaboração do luto (KREICBERGS
104
CAPÍTULO 7

et al., 2004). A Siop recomenda uma comunicação honesta e aberta com a


criança doente sobre o seu prognóstico, evitando assim frustrações ao receber
informações incongruentes.

Controle de sintomas

A criança com câncer está sujeita a apresentar vários sintomas desde


o diagnóstico. Muitos desses são causa de grande sofrimento e interferem
na qualidade de vida do paciente durante o processo de adoecimento e
morte. Deve-se atentar para o seu pronto reconhecimento e manejo (WOLFE;
SOURKES, 2006). A intensidade de cada um desses sintomas varia de acordo
com a doença de base e com a terapia que foi feita (LEANDER et al., 2007).
A variedade dos sintomas reforça a necessidade do tratamento com uma
equipe multidisciplinar.
É necessária uma avaliação cuidadosa dos sintomas. Como cada
paciente é único, deve-se estabelecer um plano de cuidado individualizado, o
que significa traçar um modelo de cuidado paliativo para cada criança, tentando
atender às necessidades do paciente e da família.

Fadiga

Fadiga, cansaço ou desânimo são sintomas muito comumente


apresentados pelas crianças e adolescentes. Sua causa é multifatorial, desde
a própria doença, por exemplo, até a anemia nas leucemias, alterações do
humor como reação às condições atuais do paciente, e efeitos colaterais das
medicações que estão sendo usadas. O seu tratamento deve ser focado nas
condições associadas, que são passíveis de serem modificadas. O tratamento
medicamentoso com metilfenidato ou dextroanfetamina pode ser útil. Contudo,
medidas não farmacológicas, como exercício físico, podem ser tão úteis quanto
os medicamentos.

Anorexia e caquexia

A perda de peso e de apetite causa grande preocupação para a família e


para a criança. O tratamento efetivo da doença de base é a principal maneira de
reverter o processo de consumpção pela neoplasia. No entanto, para as crianças
em fase terminal, as tentativas de demonstrar que o suporte agressivo nutricional
enteral e/ou parenteral aliviariam a má nutrição e a caquexia não conseguiram
provar nenhum benefício para a qualidade de vida e sobrevida do paciente.
105
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Algumas medicações são usadas na tentativa de aliviar essas queixas,


como o acetato de megestrol e os corticosteroides. Além disso, medidas não
medicamentosas, como oferecer pequenas quantidades de alimentos com maior
frequência, podem ser tão benéficas quanto o uso de medicamentos.
É importante esclarecer à família da criança em fase terminal que
as necessidades de alimentação nesse momento são reduzidas, para que
a ansiedade em alimentar o paciente não prejudique sua qualidade de vida,
como, por exemplo, a colocação de uma sonda nasoentérica em uma criança
que expressamente rejeita o procedimento. A baixa ingestão de alimentos e de
líquidos não necessariamente significa que o paciente está passando fome ou
sede. O paciente terminal se mantém hidratado com necessidade de ingestão de
líquidos muito menor do que uma criança saudável.

Náuseas e vômitos

As náuseas e os vômitos podem ser causados pela neoplasia em si


(tumores abdominais, obstrução intestinal, tumores do SNC com hipertensão
intracraniana), pelo seu tratamento (quimioterapia, radioterapia), ou mesmo pelo
uso de outras medicações sintomáticas (opioides). Quando não são tratados
corretamente, esses sintomas interferem negativamente no estado nutricional,
contribuindo para distúrbios hidroeletrolíticos, alteração do estado mental e má
adesão ao tratamento.
O tratamento de escolha é a prevenção. É necessário fazer uso de
medicações antieméticas em situações com potencial para desencadear tais
sintomas.
Existem, atualmente, várias medicações para o tratamento específico
das náuseas e vômitos (metoclopramida, dimenidrinato, ondasentrona,
guanisentrona etc.). Outras medicações podem ser associadas para um melhor
controle desses sintomas, como benzodiazepínicos, classicamente eficazes no
tratamento dos vômitos antecipatórios, e dexametasona, na potencialização do
efeito antiemético.
As reações psicológicas, bem como os múltiplos fatores fisiológicos,
contribuem para o desencadeamento das náuseas e dos vômitos antecipatórios,
ou seja, sensações que aparecem antes da administração da droga neoplásica.
Essas manifestações estão relacionadas a causas emocionais que devem ser
levadas em consideração no cuidado do paciente.
Além disso, o tratamento oncológico pode provocar a alteração de
paladar e acentuar a falta de apetite, que varia de criança para criança. Dessa
forma, algumas orientações de suporte nutricional são sugeridas:
106
CAPÍTULO 7

• Oferecer alimentos da preferência da criança, respeitando sua


individualidade.
• Aumentar o fracionamento da dieta.
• Utilizar temperos alternativos.
• Oferecer líquidos com frequência.
• Evitar alimentos gordurosos, com condimentos e com odor forte.
• Oferecer alimentos em temperatura ambiente.
• Evitar ingerir excesso de líquidos durante as refeições.
• Podem ser oferecidos picolés, sorvetes e milk shakes.

Constipação intestinal

Alguns quimioterápicos antineoplásicos do grupo alcaloide da vinca


(vincristina) e as medicações opioides, por exemplo, podem provocar a
diminuição da motilidade gastrointestinal (obstipação intestinal), devido à sua
ação sobre o sistema nervoso do aparelho digestório, podendo inclusive levar ao
quadro de íleo paralítico e comprometer a digestão geral dos pacientes, sendo a
prevenção uma intervenção fundamental.
O estímulo à ingestão de líquidos, a alimentação rica em fibras e o
controle e monitoramento dos hábitos intestinais da criança e do adolescente
ajudam a identificar precocemente a instalação desse quadro, auxiliando na sua
total resolução.

Diarreia

O trato gastrointestinal, por ser formado por células de rápida divisão


celular, vulneráveis à ação dos quimioterápicos antineoplásicos, sofre uma
descamação de células da mucosa sem reposição adequada, levando à irritação,
inflamação e alterações funcionais que ocasionam a diarreia.
Alguns quimioterápicos, como o irinotecam, podem desencadear esse
efeito colateral. Nesse caso, a prevenção e o tratamento com antibioticoterapia
profilática e medicações antidiarreicas (racecadotrila, loperamida, atropina)
fazem-se necessários (WAGNER et al., 2008).
A diarreia pode ser o primeiro sintoma de uma complicação infecciosa
com foco intestinal. Nessa suspeita, não é recomendado o uso de medicações
antidiarreicas pelo risco de aumentar a translocação bacteriana intestinal.
Em crianças, a diarreia aguda, gastroenterite infecciosa de causa viral, é
muito comum, principalmente aquelas causadas pelo rotavírus. Os quadros
com suspeita de infecção bacteriana devem ser prontamente tratados com
107
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

antibioticoterapia adequada. Outras causas que devem ser levantadas são as


parasitoses intestinais.
Tanto alguns quimioterápicos quanto a radioterapia podem causar
diarreia quando envolvem as áreas correspondentes ao aparelho digestório,
como estômago e intestinos.
Portanto, o profissional de saúde deve:

• Observar a cor, o odor e o volume da diarreia.


• Identificar o número de episódios nas primeiras 12 ou 24 horas
— o médico responsável pelo tratamento deve ser comunicado se a
diarreia não parar em 24 horas e/ou se o número de episódios diários
for superior a oito vezes nesse período.
• Utilizar a dieta adequada para essa situação, suspendendo a ingestão
de leite.
• Avaliar a região perianal, buscando identificar hiperemia e/ou fissura
anal.
• Ficar muito atento aos sinais de desidratação e intervir precocemente
para que esse quadro não se instale, através de reposição hidroeletro-
lítica oral e, em alguns casos, reposição endovenosa.

Dor

A definição mais utilizada na literatura internacional para dor é “uma


experiência sensorial e emocional de desprazer associada com real ou potencial
lesão de tecido ou descrita em termos de tal lesão” (McGRATH, 1990).
A dor em crianças e adolescentes com câncer pode estar relacionada
à doença, aos procedimentos diagnósticos e/ou ao tratamento da neoplasia.
Independentemente da causa, a criança e o adolescente devem ser
adequadamente tratados da sua dor. Atualmente, a avaliação da dor está
preconizada como sendo o quinto sinal vital a ser aferido.

Avaliação da dor

O primeiro passo para o manejo adequado e o direcionamento do


tratamento é o reconhecimento e a correta caracterização da dor.
Todo paciente deve ser avaliado em termos de dor potencial, pois
crianças e adolescentes podem sentir dor sem que sejam capazes de verbalizar.
É importante, portanto, que o profissional acredite na queixa da criança, busque
conhecer a história e a característica da dor, considere os aspectos psicológicos
108
CAPÍTULO 7

e sociais envolvidos, faça exame físico e exames de investigação para identificar


a causa da dor e, por fim, trate sua causa primária.
Também é um fato importante considerar que a dor é uma experiência
individual, subjetiva, portanto, ao se avaliar um paciente, é necessário que
ele se reporte à sua pior experiência dolorosa e a classifique como máxima.
Em seguida, utilizando-se um dos padrões ou escalas de avaliação de dor, que
ele classifique a intensidade da sua dor atual (Figura 9).

Aferição da dor

Como a dor é subjetiva, ela não pode ser medida diretamente. Três tipos de
medições foram desenvolvidas:

- Medições por autoavaliação: o que a criança diz.


- Medições comportamentais: o que a criança faz em resposta à dor.
- Medições biológicas: como o corpo da criança reage à dor.

Alguns padrões de medida combinam dois ou mais desses tipos de
medição. Embora muitas medições da dor tenham sido desenvolvidas e validadas,
tais estratégias não foram integradas à prática clínica. Parte do problema é a falta
de conhecimento sobre a medição da dor pediátrica por parte dos profissionais
da saúde nesse domínio. Esse aspecto está sendo superado pela inclusão da
discussão sobre a dor pediátrica nos livros didáticos e nos trabalhos publicados
em revistas médicas.
Existem agora medições de dor adequadas para muitos tipos de crianças
com dor. A medição rotineira da dor é fundamental para aprimorar a prática clínica.
Todavia, a medição da dor não é amplamente empregada nos hospitais e clínicas.
Esforços continuam a ser feitos no sentido de aprimorar a educação com respeito à dor
pediátrica e reduzir as barreiras que impedem o emprego apropriado das ferramentas
de medição. As crianças com dor merecem um tratamento ideal e a medição da dor é
o primeiro passo neste processo.

Figura 9 – Escala da dor


Fonte: Adaptado de TEIXEIRA; FIGUEIRÓ, 2001; WONG et al., 2001.

109
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Controle da dor

O uso de analgésicos é um aspecto importante do tratamento da dor,


que deve ser orientado a partir de sua intensidade, seguindo a escala da dor
proposta pela OMS (Figura 10). Uma dor intensa deve ser corretamente tratada
com opioides fortes. Não adianta tratá-la com analgésicos fracos, pois não será
obtido alívio adequado e o sofrimento vai persistir.

Figura 10 – Tratamento da dor segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)

O controle da dor em crianças sofreu uma revolução nos últimos 10 ou


15 anos (FITZGERALD; ANAND, 1994). Historicamente, a dor era ignorada ou
insuficientemente tratada nas crianças por várias razões complexas, pois acredi-
tava-se que elas não sentiam dor da mesma forma que os adultos e, consequen-
temente, não necessitavam de analgésicos (McGRATH, 2005). Entretanto, na
década passada, as atitudes que promoviam o seu tratamento insuficiente e
os padrões da prática se modificaram. Agora, os problemas relacionados com
a dor na criança são, pelo menos, considerados e frequentemente tratados
da forma adequada.
Certo número de princípios gerais emergiu, no decorrer do tempo,
no controle da dor em crianças. O emprego de uma abordagem preventiva é
de importância primordial. Sempre que a dor puder ser prevista, como, por
exemplo, após uma cirurgia, durante um procedimento médico ou no decorrer
110
CAPÍTULO 7

de uma doença crônica, ela deverá ser tratada preventivamente. É inaceitável,


tanto do ponto de vista humano como do farmacológico, esperar que a pessoa
sofra para tratá-la quando a dor em questão é previsível. São necessárias doses
menores de analgésicos para evitar que a dor ocorra novamente do que para
eliminá-la. Por exemplo, após uma cirurgia, quando se prevê que a dor será
inevitável, medicação analgésica deverá ser administrada antes do desenvolvi-
mento da dor, em vez de esperar que ela ocorra e que a criança sofra até que
o alívio adequado lhe seja oferecido. Esse princípio tornou-se a pedra angular
do tratamento da dor e a maioria das revisões enfatizam sua prevenção sempre
que possível.
Os pais devem se envolver, tanto quanto possível, nas decisões rela-
tivas ao tratamento de sua criança, bem como no tratamento da dor. Como estão
mais familiarizados com a forma como sua criança reage à dor do que qual-
quer profissional incumbido do tratamento, a opinião dos pais deve ser incorpo-
rada ao plano de controle da dor (ROGERS, 1992). Os pais também devem,
se possível, estar presentes durante os procedimentos médicos dolorosos
e prestar sua ajuda, confortando a criança nessas ocasiões difíceis, que são
sempre fontes de ansiedade (BAUCHNER; WARING; VINEA, 1991).
As diretrizes básicas para o tratamento da dor são:

• Dar ênfase no relacionamento paciente-família-equipe.


• Fazer interação multiprofissional.
• Dar preferência à via oral.
• Administrar regularmente analgésicos regidos pela farmacocinética e
pela potência clínica das drogas.
• Seguir a escala analgésica, para guiar o uso sequencial das drogas.
• Individualizar a terapêutica, sendo a dose mais adequada para o
paciente aquela que promove analgesia com o mínimo possível de
efeitos colaterais.
• Dar preferência à via oral.
• No caso de suspensão desses medicamentos, diminuir gradualmente as
doses, para se evitar o escape de dor e/ou sintomas de abstinência,
dependendo do tempo de uso e da medicação empregada.

Os medicamentos e doses mais utilizados na criança são apresentados


nos Quadros 11, 12 e 13.

111
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Quadro 11 – Agentes não opiáceos (Grupo recomendado como primeiro degrau da escala
analgésica da OMS para dor leve a moderada, como coanalgésico nas metástases ósseas e
doses de resgate nas titulações de narcóticos fracos)

Analgésicos Comuns

Definição Precauções Vantagens Desvantagens


Pouca toxicidade
gastrointestinal
ou hematológica
Hepatotóxico e pouca
em altas doses associação com
É a droga e de excreção síndrome de
É um
de escolha renal Reye
antipirético
na criança
PARACETAMOL leve, de fraca
porque tem Tem potencial Resultado
potência
melhor ação de causar favorável para
analgésica
terapêutica gastrite, deve crianças com
ser administrado metástases
com alimentos ósseas, desde
que a contagem
de plaquetas
seja adequada

A Food
Comprovada
and Drug O uso regular
ação analgésica
Administration em pacientes
Verificar alergias para dor intensa,
(FDA) não oncológicos
DIPIRONA e exacerbações antipirética,
aprovou seu pode mascarar
de hipotensão antiespasmódica
uso clínico para quadro
e anti-
analgesia e infeccioso
-inflamatória leve
febre

Anti-Inflamatórios Não Esteroides (AINH)

Definição Precauções Vantagens Desvantagens

O uso dos
AINHs é,
infelizmente,
prejudicado por
Reduz dor e
outros efeitos
inflamação
hematopoéticos,
pela inibição Tem potencial
É o anti- gastrointestinais
da enzima de causar
-inflamatório e renais que
IBUPROFENO ciclogenase gastrite, deve
mais indicado precisam ser
(COX), ser administrado
para crianças considerados
responsável com alimentos
quando essas
pela síntese de
drogas são
prostaglandinas
empregadas
durante um
longo tempo
(WHO, 1996)

112

CAPÍTULO 7

Quadro 12 - Agentes opioides (Drogas de escolha para dores moderadas a intensas.


São agentes conhecidos há longo tempo por sua eficácia e segurança no emprego em
crianças. É possível classificá-los de diversas maneiras, de acordo com a intensidade da
dor para a qual são utilizados)

Opioides Fracos
Grupo recomendado como segundo degrau da escala da OMS para dor leve quando há
contraindicação dos AINH, efeito colateral importante ou baixa eficácia. Indicados também para
dor moderada a intensa
Definição Precauções Vantagens Desvantagens
Reduz a dor
pela ligação Efeito diminuído Náuseas,
com receptores dos barbitúricos, cefaleia,
Supressão da tosse
morfincos, porém carbamazepina e constipação
de intensidade rifampicina intestinal
fraca
CODEÍNA Resultado favorável
Tem potencial de para crianças
causar gastrite, com metástases
por isso deve ser ósseas, desde
administrada com que a contagem
alimentos de plaquetas seja
adequada
Náuseas,
Reduz a dor vômitos,
pela ligação ansiedade,
Potencializa o Provoca menos
com receptores sudorese,
TRAMADOL efeito emético dos constipação que a
morfincos, porém cefaleia, euforia,
quimioterápicos codeína
de intensidade convulsão, taqui/
fraca bradicardia e
hipotensão
Opioides Fortes
Grupo recomendado no terceiro e último degrau da escala da OMS para dor crônica moderada ou
intensa, já avaliada para outras drogas
Definição Precauções Vantagens Desvantagens
A farmacocinética
A morfina Posologia
Uso indicado para da morfina em
permanece como antiálgica
tratamento de dor crianças jovens é
MORFINA padrão ouro no deve ser com
moderada/grave e diferente da que
tratamento da dor intervalo de 4
dor crônica ocorre em crianças
oncológica horas
mais velhas
O fentanil venoso Hipotensão
A via transdérmica
Uso indicado para pode causar rigidez arterial,
é utilizada com
tratamento de dor da caixa torácica bradicardia,
FENTANIL sucesso no
moderada/grave e e dificuldades depressão do
tratamento da dor
dor crônica respiratórias SNC, sedação,
oncológica
graves euforia
Deve ser utilizada Impõe risco
com extrema de acúmulo
Uso indicado para É útil nos pacientes
cautela em desconhecido
tratamento de dor morfinorresistentes,
METADONA crianças instáveis e tempo de
moderada/grave e ou com agitação,
clinicamente ou eliminação de
dor crônica delírio ou sedação
com complicações mais de 24
metabólicas horas

113
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Quadro 13 – Adjuvantes antiálgicos (Os adjuvantes implementam a eficácia analgésica e/


ou tratam os sintomas que eventualmente exacerbam a dor. A ação dos adjuvantes pode
induzir à analgesia em até três semanas após o início da sua administração)

Efeitos
Definição Precauções Vantagens
Adversos

Não utilizar Alívio da dor


Indicado nas
por tempo óssea; melhora
cefaleias
prolongado no apetite
por aumento
da pressão
Tem Resultado
DEXAMETASONA intracraniana,
potencial favorável para Efeito mineralo-
(ANTI- INFLAMATÓRIO compressão
de causar crianças com corticoide
ESTEROIDE) de raiz
gastrite; metástases
nervosa,
deve ser ósseas, desde
metástases
administrada que a contagem
disseminadas,
com de plaquetas
dor óssea
alimentos seja adequada

Indicada Sonolência,
na dor efeitos
Pacientes
neuropática anticolinérgicos
com
(toxicidade (confusão
glaucoma,
à vincristina, mental,
AMITRIPTILINA hipertensão Alívio da dor
radioterapia, aumento
(ANTIDEPRESSIVO) intracraniana neuropática
plexopatia, da pressão
e
invasão intraocular,
hipertensão
tumoral), dor taquiarritmias,
arterial
do membro xerostomia,
fantasma xeroftalmia etc)

Reduz a
dor pela
supressão
Sonolência
de circuitos Não deve Em relação à
e tremores
hiperativos ser utilizado carbamazepina,
GABAPENTINA finos de
da medula em crianças não possui efeito
(ANTICONVULSIVANTE) extremidades
e do córtex menores de adverso de
quando em
cerebral. 6 anos mielotoxicidade
doses elevadas
Indicado
para dor
neuropática

114
CAPÍTULO 7

Quadro 13 – cont.
Efeitos
Definição Precauções Vantagens
Adversos
A administração
intravenosa
Indicado o e oral da
uso contínuo Uso com cuidado cetamina
para controle em pacientes proporciona, Hipertensão
CETAMINA de dor com refluxo além do alívio intracraniana,
(SEDATIVOS E neuropática gastroesofágico, da dor, uma hipertensão
HIPNÓTICOS) grave, disfunção redução da arterial,
com bons hepática e com necessidade aneurisma
resultados na estômago cheio de opioide no
prática clínica controle da dor
neuropática
grave

Mitos e verdades relacionados ao tratamento da dor

Durante muitos anos, o descuido com a dor baseou-se em várias


percepções errôneas (ANAND, 1993), tais como:

• Os bebês e crianças não sentem dor, apenas expressam ansiedade em


situações que podem ser dolorosas.
• A dor, caso sentida, não é recordada.
• A dor, por ser subjetiva, não pode ser medida de forma confiável.
• A exposição a opioides predispõe as crianças a se tornarem dependentes.

Um grande número de pesquisas realizadas nos últimos dez anos


contradiz essas ideias. Foi demonstrado que as crianças têm a capacidade
biológica de sentir dor a partir da 20ª semana de gestação. As vias inibi-
tórias, que atenuam a dor, são desenvolvidas mais tarde (FITZGERALD;
ANAND, 1993). Assim, o feto, o recém-nascido e o lactente têm transmissão
aumentada de sinais nociceptivos, em comparação com crianças maiores e
adultos, para estímulos similares.
Além disso, crianças expostas a estímulos dolorosos recorrentes em
ambientes médicos desenvolvem um comportamento psicossocial deficiente,
incluindo a incapacidade adquirida de reagir e de se integrar em relações
familiares normais.
115
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

A toxicomania (“addiction”) é definida como o desejo psicológico pela


substância a despeito do dano que é autoinfligido. No entanto, esse conceito
é geralmente mal compreendido pelos médicos. A definição atual surgiu
recentemente, de forma separada do fenômeno fisiológico da tolerância
(regulação negativa do receptor, requerendo mais medicação para obter o
mesmo efeito) e da dependência (ocorrência de sintomas de abstinência na
interrupção abrupta ou substituição de uma droga por outra).
Não existem provas, por exemplo, para fundamentar o temor de
que as crianças se viciem nos opioides pela exposição para o alívio da dor.
De fato, pacientes com câncer em progressão, em uso prolongado de opioides,
podem precisar de doses maiores devido à carga intensificada da doença
(PORTENOY, 1994). Isso não significa que o paciente está dependente ou
viciado, mas ocorre devido a um mecanismo fisiológico de tolerância dos
receptores celulares de opioides. A dependência psíquica é muito rara em
pediatria e geralmente acontece em adolescentes que faziam uso de drogas
antes de iniciar o tratamento.
Bebês com menos de três meses de idade apresentam suscetibilidade
maior à depressão respiratória pelos opioides devido à maior permeabilidade
da barreira hematoencefálica (GIDEON; JACOBSON, 1993). Após tal idade, o
risco de depressão respiratória é muito similar ao dos adultos. Essa depressão
respiratória, geralmente, é precedida de outros sintomas como retenção urinária
e sonolência. A própria dor é um estímulo nocivo que impede a ocorrência de
parada respiratória.

Terminalidade

Anos atrás, quando todas as medidas terapêuticas curativas tinham


se esgotado, o paciente sem chance de cura, principalmente aquele em fase
terminal, era submetido a um regime exclusivo de higiene e dieta, ou seja, não
recebia qualquer abordagem terapêutica, nem mesmo medidas de suporte, pois
já estava destinado à morte (COSTA FILHO et al., 2008).
Essa é uma das fases mais desafiadoras no cuidado com a criança sem
possibilidade de cura: é o período em que a morte é iminente. A comunicação e
o suporte psicológico e emocional são de extrema importância.
O paciente se torna muito sintomático e a equipe deve ficar atenta para
dar o suporte adequado sem causar mais malefício. A ansiedade e o medo
da equipe podem, muitas vezes, supermedicar o paciente que, na verdade,
necessita mais de atenção do que de medicação.

116
CAPÍTULO 7

Um ponto importante é o risco em se prolongar a vida à custa de mais


sofrimento. Dessa forma, a comunicação, o vínculo e a aliança terapêutica com
a família, estabelecidos desde o diagnóstico, são essenciais para um desfecho
menos traumático da situação.
A equipe consegue perceber o início dessa fase em um momento muito
mais precoce do que a família e até mesmo do que o paciente (MACK et al., 2007).
Portanto, possui o dever de informar à família sobre o que está acontecendo e
estimular atitudes adequadas para esse período.
É aconselhável que a mesma equipe que acompanhou a criança desde
o diagnóstico continue os cuidados nessa fase.
Muitas vezes, a principal necessidade do paciente e da família é a
presença da equipe nesse momento. Portanto, é preciso estar ao lado do
paciente, no quarto do hospital ou em outro ambiente. Outra tarefa da equipe
é ajudar a diminuir o fardo para a família, evitando que ela suporte sozinha tal
situação. Essa atitude reforça a importância do paciente para a equipe e facilita
os cuidados com a família (HURWITZ; DUNCAN; WOLFE, 2004).
Uma das situações que os profissionais de saúde precisarão enfrentar
é a necessidade de fazer o atendimento do paciente terminal em casa. Isso
acontecerá nas ocasiões em que a família, bem informada sobre a condição
clínica da criança ou adolescente com câncer, preferir permanecer em sua
residência a se instalar em um hospital. De fato, ficar perto de seus familiares e
amigos, em um ambiente conhecido, é muito importante para o paciente.
O médico de Saúde da Família ou de cuidado paliativo também pode
ser chamado ao domicílio do paciente quando ele apresentar dor que piora, a
despeito da terapia atual. Nesse caso, é importante saber quais medicações o
paciente usa e entrar em contato com o médico oncologista responsável.
Também pode acontecer de o cuidador chamar o médico quando a
criança ou adolescente já se encontra em falência respiratória. Nessa situação,
o mais importante é dar tranquilidade ao paciente, sedando-o, para que não
fique consciente do seu estado. Caso a sedação não possa ser feita em casa, o
paciente deve ser conduzido ao hospital.
O controle dos sintomas e, em especial, a analgesia e a sedação são os
principais pilares de cuidado com o paciente terminal. Nesses casos, o principal
foco da equipe de saúde deve ser evitar o sofrimento da criança ou adolescente
e confortar os seus familiares.

117
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

O luto

Após a morte de um filho, os pais tendem a apresentar um maior risco


para alterações de sua saúde mental, com maior chance de hospitalização por
distúrbios psiquiátricos, que persiste por mais de cinco anos após o óbito da
criança. Além disso, apresentam maior mortalidade precoce e alterações de
saúde (LI et al., 2003; LI et al., 2005).
Portanto, é extremamente recomendado o acompanhamento da família
no período de luto por, no mínimo, um ano. Essa prática deve ser estimulada e
incentivada, já que o que se observa é o abandono, o desligamento total após o
evento traumático.

Aspectos éticos e legais

O desafio ético na abordagem de um paciente criticamente enfermo


é saber o quando e o quanto agir, fazendo o melhor possível para atender a
seus interesses, sem transpor a linha da futilidade. Tarefa difícil, bem mais que
apenas dominar o uso da tecnologia a nosso dispor, mas tão importante quanto
cumprir adequadamente o papel social delegado aos profissionais de saúde
(MOTA, 2009). Nesse sentido, ético é dar suporte físico, mental e espiritual ao
paciente e auxiliar na aceitação de sua condição, dando dignidade à sua morte.
Ético é ter o paciente como foco e garantir que ele nunca seja prejudicado,
o que não significa mantê-lo vivo a qualquer preço, utilizando-se, para isso, de
terapias desnecessárias. Isso porque, com o desenvolvimento tecnológico atual,
é possível manter vivos por meses, ou mesmo anos, pacientes que, décadas
atrás, não sobreviveriam mais do que horas, prolongando a vida a despeito de
não se poder proporcionar cura e/ou qualidade de vida ao doente.
Além de não beneficiar o paciente, esse tipo de procedimento pode
causar uma falsa esperança à família, dificultando o entendimento e a aceitação
das reais condições de saúde da criança ou do adolescente. Entretanto,
legalmente, ainda existem controvérsias sobre quando se pode parar o suporte
avançado de vida, quando se deve deixar de utilizar toda a tecnologia existente
para manter a vida a qualquer preço (JECKER, 1995).

118
Capítulo 8

ASPECTOS PSICOLÓGICOS NO CUIDADO


DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE COM CÂNCER

Apesar dos avanços alcançados nos últimos anos, relacionados à


cura e à melhoria da qualidade de vida dos pacientes com câncer, o impacto
do diagnóstico, o tratamento e suas implicações (o adoecer) são vividos pelos
pacientes e seus familiares com dor e sofrimento.
O câncer é muito mais do que uma história médica. Como toda doença
grave, confronta o paciente com a questão da morte, do sentido da vida, de
seu lugar na história familiar e dos limites do suportável no seu corpo. O seu
tratamento remete para além de uma relação direta e simples, em que o médico
faz uma prescrição ao doente. O medicamento é muito mais do que um medica-
mento; é, às vezes, um nome, uma cor, um odor. As reações físicas ou psíquicas
ao tratamento são, geralmente, pedidos de ajuda, pedidos de diálogo a partir de
questões de toda sorte: sobre o sentido da doença, o desejo dos profissionais,
o desejo dos pais, o desejo do paciente.
A experiência vivida por uma criança ou adolescente com câncer é
difícil seja qual for a idade do paciente, a natureza da doença, seu prognóstico,
o desenvolvimento e o resultado do tratamento. Além da confrontação com um
diagnóstico grave, com a dor e a morte possível, o paciente tem de lidar com
o afastamento mais ou menos durável do meio familiar, escolar e social,
com a perda do sentimento de identidade, com as transformações no seu corpo,
com as sequelas físicas, com as questões relacionadas à sua história, à
sua família, à sociedade e ainda com tantos outros elementos subjetivos
que constituem essa experiência. O paciente tem, enfim, que enfrentar
questões novas e complexas, muitas vezes sem poder contar com o apoio dos
seus familiares, tão sensibilizados quanto ele.
A maneira pela qual o paciente encontra respostas para essas questões,
pela intervenção psicológica e pelo apoio dos outros profissionais, influi inten-
samente sobre a sua participação no tratamento e sobre o seu funcionamento
emocional depois do fim do mesmo, tendo o resultado sido positivo, negativo
ou tendo deixado sequelas físicas, psíquicas e sociais. Os profissionais devem
promover condições para que o paciente reconheça o que está acontecendo
consigo já no momento do diagnóstico e possa dar sentido e significado à sua
doença, mantendo o controle do seu corpo e do seu destino.
Cuidar desses aspectos aparentemente “não médicos” não traz simples-
mente mais conforto, mas hoje deve fazer parte dos objetivos de trabalho da

119
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

equipe de profissionais que inclui, logicamente, um psicólogo. A falta de


atenção às reações emocionais provoca, com frequência, dificuldades psico-
lógicas e efeitos graves que podem dificultar a aceitação do diagnóstico, preju-
dicar o tratamento e levar, algumas vezes, à sua interrupção.
Não existe um perfil psicológico característico da criança ou do adoles-
cente com câncer: as reações psicológicas face à doença e ao tratamento são
singulares e dependem da estrutura anterior da personalidade do paciente, da
família, da história familiar. A doença pode, entretanto, modificar essas estru-
turas, às vezes de forma importante, grave e durável, e produzir múltiplos
efeitos. Com frequência, o câncer compromete de forma intensa a relação que
o paciente tem com a imagem (em grande parte inconsciente) do seu próprio
corpo, com a confiança e a estima que sente por si mesmo, o que não corres-
ponde necessariamente à gravidade da história médica. Potencialmente, as
capacidades intelectuais do paciente permanecem normais (exceto naqueles
acometidos por tumores do SNC, em função de possíveis sequelas neuropsico-
lógicas), mas a doença e o tratamento podem provocar fenômenos de inibição
intelectual e consequentes dificuldades escolares e sociais.
Diante de tal realidade, o paciente espera que os outros, sobretudo
seus pais, estejam presentes física e psiquicamente e acompanhem-no nesse
tempo em que as questões mais significativas da sua existência se concentram.
A gravidade da doença, contudo, gera nos pais sentimentos de culpa que levam à
negação da situação e a atitudes superprotetoras. Ao sentirem-se responsáveis
pela doença, podem perder as regras da vida cotidiana (param de impor limites),
alterar o equilíbrio familiar e negligenciar os cuidados com os irmãos. O ciúme,
comum entre os irmãos, encontra em elementos da realidade sua justificação.
O processo de luto antecipado do paciente por parte dos familiares é comumente
observado. A família tende a se isolar, a se fechar em torno de si mesma.

História da doença e do tratamento

A história da doença e do tratamento começa quando o diagnóstico


de câncer é confirmado. Todavia, muitas vezes, o período que antecede à
confirmação do diagnóstico é longo e difícil: a procura por vários médicos, a
necessidade de inúmeros exames, procedimentos diversificados, possíveis
internações, biópsia e cirurgia, sem falar na tentativa de esquiva consciente
ou inconsciente dos pais, da qual mais tarde poderão se culpar ou acusar os
médicos. Durante esse período, o paciente e seus familiares buscam hipóteses
explicativas que lhes permitam aplacar a inquietude e ensaiar relacioná-las a

120
CAPÍTULO 8

algo conhecido: uma doença banal, uma besteira causada por eles, uma doença
antiga ou recente de um membro da família, a materialização do destino familiar
“escrito” há muito tempo.
A partir da confirmação do câncer, paciente e familiares são introduzidos
no universo da doença grave e têm que descobrir um mundo novo: um universo
onde a medicina é excessivamente técnica e rigorosa; universo, quase sempre,
social e culturalmente muito diferente do seu. A revolta clara ou dissimulada
e o refúgio na passividade são reações comuns, geralmente relacionadas à
incompreensão desse universo, ao medo de não encontrarem um lugar nele.
O paciente se depara com pessoas desconhecidas, ambientes diferentes,
alimentos, vestes, odores incomuns. Experimenta sensações novas (alteração
do paladar, da sensibilidade tátil, cansaço inabitual, desconforto e, às vezes, grau
extremo de dor) e sente estranhamento em relação a tudo o que se passa no seu
corpo e em torno dele (presença do tumor ou da circulação de células doentes,
quimioterapia, radioterapia, amputação de um membro, perda do cabelo, trajeto
do cateter etc.). Para os adolescentes e os pacientes com diagnóstico de tumor
de SNC, esses elementos ganham uma intensidade ainda maior.

Comunicação com o paciente


e a família

Já nesse momento, é importante que o paciente e os pais conheçam


o tipo da doença em questão, entendam o plano de tratamento, as possíveis
sequelas e o prognóstico. Os profissionais devem estabelecer essa comunicação
utilizando palavras precisas, nomeando as partes do corpo envolvidas, explicando
as condutas terapêuticas, avaliando a duração provável do tratamento, o seu
ritmo e o seu resultado, sempre utilizando uma linguagem acessível, respeitando
o grau de instrução do paciente e da família envolvida. Será nessa ocasião que
paciente e familiares terão a oportunidade de ouvir, compreender e construir cada
um a sua “teoria” sobre a doença, qualquer que seja a sua forma inicial – clara ou
confusa. As informações, entretanto, não são jamais assimiladas de uma vez por
todas: a situação é difícil e complexa, novas questões surgem constantemente
e, sobretudo, as defesas não cessam de cumprir seu papel. É essencial que o
médico e sua equipe estejam disponíveis para repeti-las tantas vezes quantas
forem necessárias, no sentido de promover discussões abertas, francas e
possibilitar a apresentação de dúvidas, de preocupações de todos e de cada um.
Quando isso acontece, pacientes e familiares conseguem participar da situação,
ao invés de se sentirem aterrorizados pelo poder da doença e pelo poder do

121
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

médico. Os primeiros contatos são cruciais para que uma ligação de confiança
indispensável se estabeleça entre o médico, o paciente e seus familiares.
Evita, ainda, que os pais procurem tratamentos alternativos, promessas
delirantes e atrasem o início do tratamento oncológico. A situação exige não
apenas a competência técnica dos profissionais, mas um envolvimento maior
durante toda a assistência, uma implicação nessa história partilhada, talvez
permeada de conflitos, “negociações” e decisões complexas.

Tratamento

O paciente reage à quimioterapia e/ou à radioterapia, muitas vezes,


em função das suas fantasias, das próprias teorias anatomofisiopatológicas
colocadas a serviço da doença e do tratamento. Ele acredita, por exemplo,
que vomitar equivale a expulsar as células doentes e participar ativamente
do seu processo de cura. É frequente que o vômito ocorra antes mesmo de
o quimioterápico ser introduzido. Assim, sem esquecer o efeito potencialmente
emético do medicamento, é importante que o paciente compreenda o que é
insuportável para ele na quimioterapia, na radioterapia ou na punção da veia:
talvez não tanto a dor ou o enjoo, mas o medo da invasão de algo desconhecido
no seu corpo, nesse momento, tão fragilizado. Ao paciente a quem se explicam
claramente suas escolhas, suas identificações, a quem se propõe falar livremente,
consegue-se mostrar o que para ele é mais da ordem da fantasia do que da
realidade, tornando as suas questões claras e compreensíveis.

Fim do tratamento

O término do tratamento nem sempre é vivido como um acontecimento


simples pelo paciente e seus familiares. Eles não conseguem admitir a alta
e encontram todos os tipos de pretextos para permanecerem no universo da
doença. O estilo de vida, as relações que se constituem durante a época do
tratamento parecem adquirir um caráter interminável. A alta evidencia uma
ambivalência em relação ao tratamento: se é o momento de dor e sofrimento, é
também o momento de cuidado e proteção.
O medo de uma possível recidiva da doença é um dos obstáculos
mais difíceis enfrentados depois do fim do tratamento. Durante meses ou anos
o paciente e seus familiares oscilam entre o alívio da remissão e o medo da
recaída. Esse estado de apreensão é conhecido como Síndrome de Damocles.

122
CAPÍTULO 8

Com frequência, a doença, pela intensidade da experiência que provoca,


isola a família da vida cotidiana habitual; os problemas financeiros e profissionais,
as crises conjugais e as dificuldades escolares são bastante comuns. Assim,
o anúncio da alta não deve ser encarado apenas como uma constatação médica,
mas, principalmente, como uma confrontação a múltiplas questões complexas
que surgem ao longo do tratamento.

Sequelas do tratamento

Hoje, os tratamentos ainda podem acarretar sequelas físicas, mas são


certamente menos frequentes e menos graves do que há alguns anos. As sequelas
terão diferentes representações conforme as famílias, as culturas, os meios
sociais e a idade dos pacientes. De toda forma, uma biópsia, uma amputação,
uma enucleação sempre deixam uma “marca”, uma cicatriz. A experiência mostra
que todo paciente, ainda que bem pequeno, tem uma consciência mais ou
menos clara das possíveis consequências: a condição de os pacientes intuírem
e apreenderem o que se passa no próprio corpo é surpreendente. Se bem
preparado, o paciente acaba lidando melhor com a situação – sua capacidade
de adaptação é importante e se soma aos trabalhos reeducativos e trata-
mentos de apoio. Os profissionais devem transmitir-lhe confiança, ajudá-lo a
reconhecer-se novamente e respeitar seu ritmo de adaptação à realidade atual.
Da mesma forma, é necessário ajudar os pais a renunciarem à imagem do filho
idealizado, da criança antes de adoecer e a aceitarem que ele agora, diferente,
é ainda o mesmo.
Contudo, várias dessas questões podem reaparecer em momentos
significativos do processo de desenvolvimento e maturação do paciente, em
especial, na entrada da adolescência ou no início da vida adulta. Por isso, ele e
seus familiares devem ser prevenidos em relação aos eventuais efeitos tardios
acarretados pelo tratamento.

Recaída da doença

Em alguns casos, às vezes muito tempo depois do término do tratamento,


pode acontecer uma recaída da doença. O paciente intui rapidamente que
algo de incomum está acontecendo novamente no seu corpo e, obviamente,
percebe a reação de seus pais e do médico. O momento da recaída requer uma
reavaliação do tratamento e da possibilidade de o paciente sobreviver. O novo
tratamento proposto terá inevitavelmente um status de “última chance”.
123
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

Possibilidade de morte

O paciente, mesmo o mais jovem, tem consciência do risco de morte e


“guarda” um saber sobre essa questão – convive com pacientes que estão em
estado grave e fica sabendo que outros morreram. Ele questiona seus pais, os
médicos e os outros profissionais sobre a morte, sobre a sua morte, evidentemente,
mas o faz com mais facilidade sobre a morte abstrata que pertence a todos
e a ninguém até que atinja um ou outro. Em geral, o questionamento sobre a
morte aparece de forma discreta e dissimulada, em diferentes momentos, não
forçosamente naqueles mais dramáticos. Como resposta, o paciente busca um
diálogo que corresponda às suas exigências, às suas necessidades, e espera
que as suas inquietudes sejam acompanhadas até o fim.

Fim da vida

Na fase terminal, emergem todas as questões fundamentais que


permearam a trajetória vivida pelo paciente e seus familiares a partir do
diagnóstico de câncer. É importante que os profissionais possam reavaliar
com eles a história da evolução da doença e a resposta ao tratamento. Mais
tarde, os pais se tranquilizarão com o pensamento de que foi feito o melhor
possível pelo paciente.

O paciente, sua doença,


seus familiares, seus cuidadores

Ao ser conscientizado sobre a natureza da doença, a gravidade, a


duração do tratamento, o seu ritmo e possíveis intercorrências, o paciente se
tranquilizará. As informações transmitidas devem se referir aos “detalhes” e aos
“acontecimentos importantes”. A utilização de termos técnicos exatos (biópsia,
mielograma, cateter) possibilita que ele compreenda aquilo que dizem os adultos,
e que se prepare e se adapte às diferentes situações.
O paciente deve se aproximar, apropriar-se do seu câncer com todas
as suas implicações físicas, psíquicas e existenciais; deve ter oportunidade
de conversar sobre as várias questões que se colocam: que lugar a doença
ocupa no seu corpo? Vem de fora ou de dentro? Faz parte do seu corpo ou
é um elemento radicalmente estranho? Foi herdada ou adquirida? Que efeitos
provoca? E ele mesmo tem alguma responsabilidade, pode agir sobre a doença?
É importante que ele possa reconhecer as sensações novas que
experimenta, defini-las, nomeá-las, descrevê-las, a fim de se fazer compreender.
É preciso criar condições para o paciente se expressar livremente em relação
124
CAPÍTULO 8

aos seus medos, suas dúvidas, suas raivas, suas revoltas. Tudo o que o paciente
diz é significativo, mesmo quando não corresponde à realidade: é a sua forma de
sentir e compreender as inúmeras questões. Um paciente que fala sobre a morte
não está forçosamente deprimido.
Os adolescentes são particularmente frágeis. O câncer, os períodos de
internação, as múltiplas mudanças causam ansiedade, angústia, colocam em
xeque suas escolhas afetivas, suas questões de identidade social e, às vezes,
sexual, seus projetos realizados e os que estão por concretizar. Eles oscilam
entre a dependência da pequena infância e a altivez da maturidade já adquirida.
Percebem, algumas vezes, a doença como um fracasso, um castigo contra a
ousadia dos seus projetos, contra a impulsividade das suas atitudes. Para os
adolescentes, os profissionais representam modelos, positivos ou negativos,
mas sempre importantes, que devem, então, aceitar o lugar de interlocutores
nesse doloroso processo de maturação, sem, no entanto, ceder à tentação
de substituir os pais ou rivalizar com eles, quaisquer que sejam os defeitos e
limitações aparentes.
O paciente deve conhecer e compreender o universo hospitalar (sua
organização, suas regras, sua “cultura”), os profissionais (as formas de cuidar,
de falar, de pensar, os critérios de avaliação da doença e do tratamento).
O paciente se questiona: os profissionais estão cuidando ou maltratando?
Eles se interessam por ele ou apenas por sua doença? Dizem a verdade,
respeitam seus sentimentos, seus pais ou se colocam em rivalidade, em conflito
com eles? Conseguirão eles compreender suas necessidades e acompanhar
suas inquietudes até o fim do tratamento?
A doença não deve colocar o paciente em posição privilegiada.
A obrigação escolar deve ser respeitada, bem como a organização da vida
cotidiana. Isso não impede que os momentos de fadiga e eventual incapaci-
dade provisória sejam considerados.
A sua relação com os outros se modifica: eles o veem diferente,
e ele os vê diferentemente de antes. O paciente se pergunta por que
seus pais não puderam lhe proteger, impedir seu adoecimento – não são
eles todo-poderosos, onipotentes? A decepção inevitável que vivencia
faz com que sua visão do mundo mude, suas referências vacilem e suas
certezas enfraqueçam.
A imagem que o paciente tem do seu corpo e de si mesmo se altera: ele
experimenta um sentimento de fragilidade em função do desenvolvimento do
câncer e das sensações inabituais, intensas, às vezes ao limite do suportável.
Pode deixar de gostar, de confiar no seu corpo, renunciar a mostrá-lo com
liberdade e reconhecê-lo como seu. Pode hesitar quanto à sua significação para
os seus pais: um corpo doente, um ser incapacitado, um futuro comprometido,
125
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO CÂNCER NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

alguém que traiu seus desejos, um indivíduo por quem já começaram a


fazer o luto?
O paciente compreende a transformação das atitudes habituais dos
pais quanto à sua educação, a relação entre o casal, a relação com ele, com
seus irmãos, com os outros. Ele coloca em dúvida se continuará sempre amado
por eles, apesar da doença que o deforma, o desfigura, limita às vezes suas
capacidades físicas e intelectuais, anula às vezes suas esperanças futuras.
Se ele morrer, o que farão seus familiares? Vão esquecê-lo, substituí-lo
rapidamente, colocar em seu lugar seu irmão, sua irmã? Ou permanecerão
paralisados em um luto insuperável? E se ele sobreviver, atingir a cura?
Que traços (físico, social, afetivo, moral) o câncer deixará nele? Que marcas o
câncer imprimirá entre ele e seus familiares? Será ele uma figura que suscitará
vergonha, piedade, irritação, alienação? Conseguirão eles se adaptar a essa
nova realidade?
Em relação aos irmãos, o paciente se pergunta: por que a doença o
atingiu e não a seus irmãos? Serão eles responsáveis? Sentem ciúmes do
cuidado que os pais lhe dedicam? Contudo, se eles renunciarem a seus desejos,
sacrificarem suas vidas, se apropriarem da sua dor e do seu sofrimento, não se
sentirá ele culpado? Como preservar enfim a relação com seus pais, seus avós,
seus irmãos?
O paciente percebe que o seu lugar na sociedade não é claro. Será o
universo da doença, o universo hospitalar, o único lugar possível para a sua
sobrevivência? Será visto como uma criança ou adolescente normal, um doente
ou um deficiente? Algum dia será um indivíduo como os outros, portador de um
“segredo” que só ele conhece, ou será sempre visto como um “herói”, como um
“sobrevivente de guerra”?
Os outros podem se colocar diante do paciente com receio pela sua
diferença, pelo seu sofrimento suposto, por uma possível contaminação (do câncer,
da dor, da morte...). Por outro lado, ele pode vê-los com desprezo pelo interesse
que têm pelas futilidades e mesquinharias da vida cotidiana. A experiência do
câncer pode dar ao paciente um sentimento de altivez exagerado, que, se não
for superado, representará um obstáculo em suas relações. Inversamente, a
vivência da doença pode dar-lhe um sentimento de humanização intenso, que o
colocará muito próximo dos outros.
Seu papel no futuro é incerto. Na adolescência, poderá atrair, sentir-se
atraído por alguém? Sua virilidade ou feminilidade será preservada? Ficará
estéril? Poderá constituir um casal, ter filhos, ou será o elemento que interromperá
a continuidade das gerações? Conseguirá concluir seus estudos, trabalhar,
tornar-se, enfim, um ser produtivo?
126
CAPÍTULO 8

Importância do acompanhamento
psicológico

A experiência do câncer toca em aspectos fundamentais da vida do


paciente no que se refere à sua identidade, suas referências, à história sua e
da sua família, sua visão do mundo, seu lugar no mundo e na sociedade a que
pertence. Sob a luz da morte possível, surgem questões antigas e recentes,
sempre desencadeadas pela realidade concreta da doença. Tais questões
ultrapassam o conhecimento do nome da doença ou dos medicamentos.
No entanto, tendo os seus pais e os profissionais como seus interlocutores,
o paciente consegue enfrentá-las. O acompanhamento psicológico é útil e
necessário: quando o paciente não encontra o meio de se aproximar, de
acompanhar autenticamente o desenvolvimento da doença e do tratamento,
perde a confiança nos profissionais, nos seus pais, em si mesmo. O paciente
pode, talvez com a cumplicidade dos seus pais, renunciar a compreender o que
se passa, a se confrontar com as questões fundamentais. Consequentemente,
se entrega à passividade e à apatia, se torna intocável física e psiquicamente:
abandona seu corpo aos profissionais e suas preocupações aos seus pais.
Nessas circunstâncias, ele não terá a possibilidade de elaborar e de integrar a
experiência vivida na continuidade da sua vida (quando possível) e a história do
câncer será apenas uma história médica que os profissionais tratarão mais ou
menos bem.

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139
aNEXO

Equipe de elaboração

Adriana Maria Duarte


Graduada em Enfermagem e mestre em Ciências/ Centro de Transplante de
Medula Óssea do Instituto de Oncologia Pediátrica (IOP/GRAACC/UNIFESP).

Alcione Lúcia Morais Rímulo


Graduada em Odontologia, mestre em Saúde Coletiva, especialista em Saúde
Coletiva e Odontologia do Trabalho/ Faculdade de Odontologia da Universidade
de Itaúna (MG)/ Associação Brasileira de Odontologia (ABO), Minas Gerais.

Alejandro Mauricio Arancibia


Graduado em Medicina com especialização em Onco-hematologia pediátrica e
Pediatria/ Hospital Santa Marcelina, São Paulo.

Ana Lygia Melaragno


Graduada em Enfermagem com especialização em Saúde Publica/ Área de
capacitação e ensino do Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer
(Instituto de Oncologia Pediátrica)/ Curso de Especialização em Oncologia Pediá-
trica da Universidade Castelo Branco e ELLU Saúde.

Claudia Epelman
Graduada em Psicologia com especialização na mesma área/ Equipe Multi-
disciplinar do Departamento de Oncologia Pediátrica da Casa de Saúde Santa
Marcelina, São Paulo.

Claudia Lossio
Graduada em Administração de Empresas com MBA Executivo e Certificação
PMP (Project Management Professional)/ Gerência de Projetos, Instituto Ronald
McDonald.

Cristina Rodrigues de Carvalho


Graduada em Medicina, com título de especialista em Pediatria/ Serviço de
Oncologia Pediátrica, Instituto Nacional de Câncer (INCA).

Débora de Wylson Fernandes Gomes de Mattos


Graduada em Medicina, com títulos de especialista em Pediatria e Oncologia
Pediátrica/ Serviço de Oncologia Pediátrica, INCA.

141
Ethel Fernandes Gorender
Graduada em Medicina com mestrado em Oncologia/ Hospital Santa Marcelina,
São Paulo.

Maria Beatriz Ribeiro Eckhardt


Graduada em Medicina com mestrado em Clínica Médica na área de Saúde da
Criança e Adolescente e títulos de especialista em Pediatria e Oncologia Pediá-
trica/ INCA.

Maria Tereza Costa


Graduada em Medicina e mestre em Saúde Pública/ Secretaria Municipal de
Saúde do Rio de Janeiro/ Ministério da Saúde/ Divisão de Apoio à Rede de
Atenção Oncológica, INCA.

Mônica Moreira Dias da Cruz


Graduada em Odontologia com títulos de especialista em Saúde da Família e
Saúde Coletiva/ Programa de Saúde da Família, Prefeitura da Cidade do Recife/
Serviço de Oncologia Pediátrica, Hospital Universitário Oswaldo Cruz.

Renato Melaragno
Graduado em Medicina com residência médica em Pediatria e em Oncologia
Pediátrica/ Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica/ Hospital Santa Marce-
lina, São Paulo.

Sima Esther Ferman


Graduada em Medicina com doutorado em Ciências e títulos de especialista em
Pediatria e Oncologia Pediátrica/ Serviço de Oncologia Pediátrica, INCA.

Tânia Mara Lopes Bitti Bortolini


Graduada em Serviço Social com pós-graduação em Administração de
Recursos Humanos e em Planejamento, Execução e Avaliação de Projetos
Sociais/ Unidade de Onco-hematologia, Hospital Infantil Nossa Senhora da
Glória, Vitória (ES).

Teresa Cristina Cardoso Fonseca


Graduada em Medicina e mestre em Pediatria com área de concentração em
Onco-hematologia/ Serviço de Onco-hematologia Pediátrica, Santa Casa de
Misericórdia de Itabuna (BA).

142
Colaboradores

Anna Beatriz Amaral


Graduada em Medicina, com títulos de especialista em Pediatria e Cancero-
logia Pediátrica/ Setor de Oncologia Pediátrica, Hospital do Câncer, Universidade
Federal de Uberlândia, Minas Gerais.

Atalla Mnayarji
Graduado em Medicina, com títulos de especialista em Pediatria e em Cancero-
logia Pediátrica/ Hospital Universitário da Universidade Federal do Mato Grosso
do Sul (UFMS)/ Hospital Regional Rosa Pedrossian, Mato Grosso do Sul.

Cassandra Teixeira Valle


Graduada em Medicina, com títulos de especialista em Cancerologia Pediátrica
e em área de atuação em Hematologia Pediátrica/ Hospital de Pediatria da Uni-
versidade Federal do Rio Grande do Norte/ Serviço de Cancerologia Pediátrica,
Liga Norteriograndense Contra o Câncer, Natal (RN).

Carmem Fiori
Graduada em Medicina, com doutorado em Pediatria com área de concentração
em Oncologia Pediátrica e título de especialista em Oncologia Pediátrica/ Setor
de Oncologia Pediátrica, Hospital do Câncer de Cascavel, Paraná.

Cintia Assunção
Graduada em Medicina, com título de especialista em Pediatria/ Instituto Mara-
nhense de Oncologia Aldenora Bello/ Hospital Municipal Djalma Marques/ Facul-
dade Santa Terezinha CEST.

Joaquim Caetano de Aguirre Neto


Graduado em Medicina, com especialização em Pediatria e em Cancerologia
Pediátrica/ Santa Casa de Belo Horizonte/ Hospital de Belo Horizonte, Minas
Gerais.

Marcelo dos Santos Souza


Graduado em Medicina, com títulos de especialista em Pediatria, Oncologia Pediá-
trica, Hematologia e Hemoterapia e Transplante de Medula Óssea/ Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul/ Centro de Tratamento Onco-hematológico
Infantil, Hospital Regional de Mato Grosso do Sul.

143
Suzana Marinho Lima
Graduada em Medicina, com residência médica em Oncopediatria/ Serviço de
Oncologia Pediátrica, Santa Casa de Misericórdia, Maceió (AL)/ Universidade
Estadual de Ciências da Saúde.

Vera Morais
Graduada em Medicina, com título de especialista em Oncologia Pediátrica/
Centro de Onco-hematologia Pediátrico, Hospital Universitário Oswaldo Cruz,
Universidade de Pernambuco (UPE)/ Curso de Medicina da UPE.

144
Quando se sabe antes, o futuro fica melhor.
Esse livro foi impresso em offset,
papel couché mate 120g 4/4
Fonte: Arial, corpo 10
Rio de Janeiro, abril, 2014

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