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1. SUJEITOS E OBJETOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO
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1.1 Conceito de consumidor
O conceito básico de consumidor é definido no art. 2º, caput, e
complementado pelo seu parágrafo único e pelos artigos 17 e 29.
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Em relação à pessoa jurídica surgiram alguns questionamentos, pois
embora o caput do art. 2º admita a possibilidade, a pessoa jurídica e os
profissionais não se qualificam tecnicamente como destinatários finais.
Para solucionar a questão sobrevieram algumas teorias. Para a corrente
finalista, o conceito de consumidor está ligado à destinação econômica dada
ao produto ou serviço, sendo consumidor somente o destinatário final fático
e econômico, ou seja, aquela pessoa não profissional que adquire um produto
ou serviço para si ou sua família, que realmente encerra o ciclo do produto,
inclusive econômico, pois não vai utilizá-lo para produzir outro produto
ou para prestar outro serviço. Para esta corrente, se alguém adquire ou
utiliza produto ou serviço para continuar a produzir, para fazer uso profissional,
não se enquadraria no conceito de consumidor, pois não é destinatário final
econômico desse bem.
Já para os adeptos da teoria maximalista, não importa se a pessoa
física, jurídica ou profissional adquiriu o produto ou serviço para consumo
próprio ou com a finalidade de obter lucro. Como lembra Miragem (2013), “a
interpretação maximalista considera consumidor o destinatário fático do
produto ou serviço, ainda que não o seja necessariamente seu
destinatário econômico”.
Em meio às duas correntes, uma terceira via se desenvolveu nos
tribunais: a interpretação finalista aprofundada ou mitigada, dando
relevância ao fator vulnerabilidade. Trata-se da mesma corrente finalista, mas
que com uma compreensão mais extensiva, permite que as pessoas jurídicas
ou profissionais, apesar de não serem tecnicamente destinatários finais,
possam ser equiparados a consumidor em razão de sua vulnerabilidade. Nesse
sentido, o consumidor pode ser pessoa física ou jurídica, desde que seja
destinatário final fático e econômico ou, caso faça uso profissional (seja
destinatário final fático, mas não destinatário final econômico), que enfrente
essa relação em situação de vulnerabilidade.
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expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos
serviços, provada a vulnerabilidade, conclui-se pela destinação final
de consumo prevalente. Esta nova linha, em especial do STJ, tem
utilizado, sob o critério finalista e subjetivo, expressamente a
equiparação do art. 29 do CDC, em se tratando de pessoa jurídica
que comprove ser vulnerável e atue fora do âmbito de sua
especialidade, como o hotel que compra gás. Isso porque o CDC
conhece outras definições de consumidor. O conceito-chave aqui é o
da vulnerabilidade. (BENJAMIN, MARQUES e BESSA, 2014, p. 103).
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MENSAL DOS JUROS. POSSIBILIDADE. PACTUAÇÃO. REEXAME
DO CONJUNTO FÁTICO-PROBATÓRIO DOS AUTOS E
INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS.
INADMISSIBILIDADE. DECISÃO MANTIDA.
1. O posicionamento adotado no acórdão recorrido coincide
com a orientação desta Corte Superior, a saber: "o Código de
Defesa do Consumidor não se aplica no caso em que o produto
ou serviço é contratado para implementação de atividade
econômica, já que não estaria configurado o destinatário final da
relação de consumo (teoria finalista ou subjetiva)" (AgRg no
AREsp n. 557.718/SP, Relator Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA
TURMA, julgado em 24/5/2016, DJe 10/6/2016).
2. O recurso especial não comporta exame de questões que
impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos e
interpretação de cláusulas contratuais (Súmulas n. 5 e 7 do STJ).
3. O reconhecimento da situação de vulnerabilidade, a fim de se
Aplicar o CDC, exigiria reexame de questões fáticas.
4. No caso concreto, o Tribunal de origem, a partir do exame dos
elementos de prova e da interpretação das cláusulas contratuais,
concluiu pela existência de cláusula prevendo a capitalização mensal
dos juros.
5. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 1218885 / MG, julgado em 07/06/2018)
ENUNCIADO:
O famoso atleta José da Silva, campeão pan-americano da prova de
200m no atletismo, inscreveu-se para a Copa Rio de Atletismo – RJ, 2015. O
torneio previa, como premiação aos campeões de cada modalidade, a soma de
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R$ 20.000,00. Todos os especialistas no esporte estimavam a chance de
vitória de José superior a 80%.
Na semana que antecedeu a competição, o atleta, domiciliado no estado
de Minas Gerais, viajou para a cidade do Rio de Janeiro para treinamento e
reconhecimento dos locais de prova. Na véspera do evento esportivo, José
sofreu um grave acidente, tendo sido atropelado por um ônibus executivo da
sociedade empresária D Ltda., com sede em São Paulo.
O serviço de transporte executivo é explorado pela sociedade
empresária D Ltda. de forma habitual, organizada profissionalmente e
remunerada. Restou evidente que o acidente ocorreu devido à distração do
condutor do ônibus.
Em virtude do ocorrido, José não pôde competir no aludido torneio. O
atleta precisou de atendimento médico-hospitalar de emergência, tendo
realizado duas cirurgias e usado medicamentos.
No processo de reabilitação, fez fisioterapia para recuperar a amplitude
de movimento das pernas e dos quadris. Sobre a situação descrita, responda
aos itens a seguir.
A) Que legislação deve ser aplicada ao caso e como deverá responder a
sociedade empresária D Ltda.? Quais os danos sofridos por José? (Valor: 0,85)
B) Qual o prazo para o ajuizamento da demanda reparatória? É possível
fixar a competência do juízo em Minas Gerais? (Valor: 0,40)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação
do dispositivo legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO:
A1) Trata-se de uma relação de consumo, na qual José se qualifica
juridicamente como consumidor por equiparação, vítima de acidente de
consumo, conforme o Art. 17 do CDC. A sociedade empresária D Ltda.
enquadra-se na condição de fornecedora de serviços conforme o Art. 3º, § 2º,
do CDC. Assim, deve-se aplicar o CDC e a responsabilidade civil será objetiva,
nos termos do Art. 14 do CDC, bem como no Art.37, § 6º, da Constituição da
República, por tratar-se de prestadora de serviço público.
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A2) Quanto aos danos suportados pelo corredor, verifica-se a ocorrência da
perda de uma chance. Trata-se da frustração da probabilidade de obter o
prêmio da Copa Rio de Atletismo. A situação revela que a chance se revestia
das características jurídicas de séria e real, e, assim, deverá ser reparada.
Além da perda da chance, deverão ser indenizados os danos morais pela
violação da integridade física e os danos emergentes decorrentes dos
tratamentos médicos (Art. 402 do CC).
DISTRIBUIÇÃO DA PONTUAÇÃO
ITEM PONTUAÇÃO
A1) Aplica-se o CDC (0,10) e a responsabilidade civil
será objetiva (0,10), pois José é consumidor por
equiparação (0,15), conforme determinam o Art. 14 do 0,00 /0,10 /0,15/0,20 / 0,25/
CDC, ou art. 37, § 6º, da CRFB. (0,10) 0,30/0,35/0,45
Obs.: a mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.
A2) Além da perda da chance (0,10), deverão ser
compensados os danos morais pela violação da
integridade física (0,10) e indenizados os danos
emergentes decorrentes dos tratamentos médicos 0,00/0,10/0,20/ 0,30/0,40
(0,10), de acordo com o Art. 402 ou Art. 949, ambos
do CC (0,10).
Obs.: a mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.
B1) O prazo aplicável é de cinco anos (0,10) conforme
Art. 27 do CDC (0,10) 0,00/0,10/0,20
Obs.: a mera citação do dispositivo legal não confere
pontuação.
B2) O consumidor terá a faculdade de demanda em
seu domicílio, no caso, Minas Gerais (0,10) conforme
possibilita o Art. 101, I, do CDC (0,10) Obs.: a mera 0,00/0,10/0,20
citação do dispositivo legal não confere pontuação.
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Mais recentemente o STJ aplicou a equiparação do art. 17 à ação de
responsabilidade civil movida por vítima de acidente de consumo no trânsito:
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exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços.
§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira,
de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter
trabalhista.
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DISPONIBILIZAÇÃO DE MEIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DE CADA
USUÁRIO. DEVER. REGISTRO DO NÚMERO DE IP. SUFICIÊNCIA.
1. A exploração comercial da internet sujeita as relações de consumo
daí advindas à Lei nº 8.078/90.
2. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de
internet ser gratuito não desvirtua a relação de consumo, pois o
termo mediante remuneração, contido no art. 3º, § 2º, do CDC,
deve ser interpretado de forma ampla, de modo a incluir o ganho
indireto do fornecedor.
[...]
(REsp 1308830 / RS, julgado em maio de 2012).
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Por fim, o legislador esclareceu que serviço é a atividade fornecida no
mercado de consumo. A expressão “mercado de consumo” traz uma ideia de
relação mercantilizada e acaba por afastar a incidência do CDC a algumas
relações que decorrem de políticas públicas, como financiamento estudantil
(REsp 1526984 / SP, 2015) ou imobiliário (SFH). Em relação ao financiamento
habitacional, os julgados mais recentes ressaltam que: “no que toca a adoção
das normas do Código de Defesa do Consumidor, a jurisprudência do
STJ firmou-se no sentido de serem aplicáveis aos contratos do SFH,
desde que não vinculados ao FCVS e posteriores à entrada em vigor da
Lei 8.078/90“ (AgRg no REsp 1216391 / RJ, 2015).
O mesmo argumento também afasta, segundo o STJ, a aplicabilidade do
CDC à prestação de serviços advocatícios, por força do art. 133 do CF, que
atribuiu ao advogado um munus público, ou seja, que ao postular em nome do
cidadão o advogado não exerce apenas uma profissão, mas uma atividade
essencial, indispensável à administração da justiça (AgInt no AREsp 895899 /
SP, 2016).
A ausência de lucratividade e o sistema fechado (serviço não
disponibilizado no mercado de consumo) também foi o fundamento de
alteração no entendimento do STJ sobre a aplicação do CDC aos planos de
saúde, conforme súmula 608:
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Ainda sobre o objeto das relações de consumo, resta avaliar a aplicação
do CDC à prestação de serviços públicos. O legislador fez referência aos
serviços públicos em diversos dispositivo: art. 3º, caput; 4º, VII; 6º, X e 22.
Todavia, não são todos os serviços públicos que se subordinam às normas de
proteção do consumidor.
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O STJ, na edição 74 do “Jurisprudência em Tese” registrou que a “a
relação entre concessionária de serviço público e o usuário final para o
fornecimento de serviços públicos essenciais é consumerista, sendo cabível a
aplicação do Código de Defesa do Consumidor – CDC”. Posteriormente editou
a súmula 601:
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regidos pela Lei n. 8.245/91 (jurisprudência em Teses, edição 53/2016). E que
não o incide o Código de Defesa do Consumidor nas relações jurídicas
estabelecidas entre condomínio e condôminos.” (68/2016).
Em síntese, segundo entendimentos jurisprudenciais, podemos dizer
que o CDC não é aplicado:
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2. DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR: REVISÃO CONTRATUAL E
02
INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA
CAPÍTULO III
Dos Direitos Básicos do Consumidor
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2.1 Modificação e revisão das cláusulas contratuais
O direito à revisão e/ou modificação das cláusulas contratuais decorre
do direito ao equilíbrio contratual. Conforme Bruno Miragem (2012, p. 171), “o
direito subjetivo do consumidor ao equilíbrio contratual constitui efeito da
principiologia do direito do consumidor, muito especialmente dos princípios da
boa-fé, da vulnerabilidade e, especialmente, do próprio princípio do equilíbrio”.
O Inciso V menciona a possibilidade de modificação das cláusulas
contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em
razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas.
Assim, pode o consumidor, diante de alguma abusividade (art. 51), buscar a
nulidade de determinada cláusula e também pode buscar a revisão e
modificação de cláusulas que, desde a contratação, violem o equilíbrio do
contrato. Enquanto que pelo direito civil a revisão do desequilíbrio existente
desde a celebração do contrato só pode se dar mediante a demonstração de
um vício de consentimento, para o direito do consumidor basta demonstrar a
desproporção (injustiça), sem necessidade de invalidação de todo o negócio
jurídico. Busca-se, em regra, a adequação do contrato aos limites legais.
Já quanto à revisão por fato superveniente que torne a obrigação
excessivamente onerosa, também há diferenças em relação a disciplina do
Código Civil. Segundo o art. 317 do diploma civil, o fato superveniente deve ser
imprevisível, já o CDC não faz referência à imprevisibilidade.
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No XVII Exame da Ordem Unificado foi questionado sobre a
possibilidade de um consumidor buscar a revisão de um contrato de
financiamento de veículo com alienação fiduciária, em razão de, alguns meses
após a realização do negócio, entender que a obrigação assumida lhe era
excessivamente onerosa. As alternativas versavam, além da possibilidade de
revisão de contrato, sobre a aplicabilidade do CDC aos contratos de
financiamento com alienação fiduciária e sobre a necessidade de propositura
de ação independente para exibição de documentos.
A jurisprudência anterior à vigência do novo CPC disciplina a matéria da
seguinte forma:
A jurisprudência deste Tribunal Superior, inclusive firmada em recurso
especial representativo de controvérsia, é no sentido de ser
descabida a multa cominatória na exibição, incidental ou autônoma,
de documento relativo a direito disponível (Súmula nº 372/STJ).
Quando houver descumprimento injustificado da determinação
judicial, em se tratando de ação cautelar de exibição, o
magistrado poderá ordenar a busca e apreensão do documento
ou, nas hipóteses de exibição incidental de documento, sendo
disponível o direito, poderá aplicar a presunção de veracidade
(art. 359 do CPC), a qual será relativa. (AgRg no REsp 1491088/SP).
19
Ora, na estrutura das relações de consumo, o domínio do
conhecimento sobre o produto ou o serviço, ou ainda sobre o
processo de produção e fornecimento dos mesmos no mercado de
consumo é do fornecedor. Da mesma forma, não se pode
desconhecer que a defesa judicial de interesses exige do titular da
pretensão a disposição de recursos financeiros e técnicos para uma
adequada demonstração da pertinência e procedência do seu
interesse. (MIRAGEM, 2012, p. 183).
20
parte a quem incumbia esse ônus a oportunidade de apresentar suas
provas. Precedentes: (julgado em 30/09/2014)
21
3. RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO: POR
03
VÍCIO E POR FATO
22
econômica que mais aparecem no seu relacionamento com o
fornecedor.
Em outras palavras: enquanto a primeira órbita afeta o corpo do
consumidor, a outra atinge seu bolso. Todavia, mesmo quando a
atividade do fornecedor provoca danos a incolumidade físico-psíquica
do consumidor, reflexamente está atingindo igualmente sua
incolumidade econômica, ocasionado diminuição de seu patrimônio.
Portanto, na identificação do tipo de esfera – e do regime jurídico
– atacada pela atividade do fornecedor, não deve o intérprete
buscar um traço exclusivo e sim preponderante. (BENJAMIN,
MARQUES e BESSA, 2007, p. 100/101)
23
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do
artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem
ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante,
produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado
poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis,
segundo sua participação na causação do evento danoso.
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Sobre a responsabilidade por fato do produto, a seguinte questão do
Exame de Ordem:
Determinado consumidor, ao mastigar uma fatia de pão com geleia,
encontrou um elemento rígido, o que lhe causou intenso desconforto
e a quebra parcial de um dos dentes. Em razão do fato, ingressou
com medida judicial em face do mercado que vendeu a geleia, a fim
de ser reparado. No curso do processo, a perícia constatou que o
elemento encontrado era uma pequena porção de açúcar cristalizado,
não oferecendo risco à saúde do autor. Diante desta narrativa,
assinale a afirmativa correta.
A) O fabricante e o fornecedor do serviço devem ser excluídos de
responsabilidade, visto que o material não ofereceu qualquer risco à
integridade física do consumidor, não merecendo reparação.
B) O elemento rígido não característico do produto, ainda que
não o tornasse impróprio para o consumo, violou padrões de
segurança, já que houve dano comprovado pelo consumidor.
C) A responsabilidade do fornecedor depende de apuração de culpa
e, portanto, não tendo o comerciante agido de modo a causar
voluntariamente o evento, não deve responder pelo resultado.
D) O comerciante não deve ser condenado e sequer caberia qualquer
medida contra o fabricante, posto que não há fato ou vício do produto,
motivo pelo qual não deve ser responsabilizado pelo alegado defeito.
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identificação do fabricante (responsável original). Já nas situações do inciso III
(alimentos perecíveis) mostra-se mais coerente entender pela solidariedade:
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solidariedade ex lege. Segundo o art. 7.º, parágrafo único, “tendo
mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela
reparação dos danos previstos nas normas de consumo”, tratamento
este que é repetido no art. 25, § 1.º. É interessante observar que este
art. 7.º vai além do próprio Código, uma vez que cuida de “danos
previstos nas normas de consumo” (grifos nossos). E, como se sabe,
o Código não é o único repertório de normas de proteção ao
consumidor. Há, ao seu lado, entre outras, a legislação sanitária, a de
alimentos, a de medicamentos, todas traçando normas de consumo.
27
Informativo 613: Ação indenizatória. Roubo de motocicleta. Emprego
de arma de fogo. Área externa de lanchonete. Estacionamento gratuito.
Fortuito externo. Súmula n. 130/STJ. Inaplicabilidade.
Informativo 648 (07/06/2019): Estabelecimento comercial.
Estacionamento gratuito, externo e de livre acesso. Roubo. Emprego de
arma de fogo. Fortuito externo. Súmula 130/STJ. Inaplicabilidade.
Exclusão da Responsabilidade.
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agências, em razão do risco inerente à atividade bancária. Além
disso, já se reconheceu, também, a responsabilidade da instituição
financeira por assalto acontecido nas dependências de
estacionamento oferecido aos seus clientes exatamente com o
escopo de mais segurança. Não há, contudo, como responsabilizar a
instituição financeira na hipótese em que o assalto tenha ocorrido fora
das dependências da agência bancária, em via pública, sem que
tenha havido qualquer falha na segurança interna da agência
bancária que propiciasse a atuação dos criminosos após a efetivação
do saque, tendo em vista a inexistência de vício na prestação de
serviços por parte da instituição financeira. Além do mais, se o ilícito
ocorre em via pública, é do Estado, e não da instituição financeira, o
dever de garantir a segurança dos cidadãos e de evitar a atuação dos
criminosos. Precedente citado: REsp 402.870-SP, DJ
14/2/2005. REsp 1.284.962-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado
em 11/12/2012.
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sob pena de graves riscos à sáude, o que, em última análise, tangencia a
garantia de uma vida digna (REsp 1479616/GO, rel. min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, 3ª T., j. 03.03.2015, DJe 16.04.2015).”
Por fim, importa registrar a ainda polêmica reparação dos danos
decorrentes da compra de alimentos contaminados. No informativo
“Jurisprudência em Teses” o STJ menciona dois entendimentos divergentes em
relação ao tema:
2) A simples aquisição do produto considerado impróprio para o
consumo, em virtude da presença de corpo estranho, sem que se
tenha ingerido o seu conteúdo, não revela o sofrimento capaz de
ensejar indenização por danos morais. (Informativo de Jurisprudência
n. 0553, publicado em 11 de fevereiro de 2015.)
3) A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu
interior corpo estranho, expondo o consumidor a risco concreto de
lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de
seu conteúdo, dá direito à compensação por dano moral, dada a
ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, corolário do
princípio da dignidade da pessoa humana. (Informativo de
Jurisprudência n. 0537, publicado em 10 de abril de 2014.)
30
3.2 Da responsabilidade por vício do produto ou serviço
A responsabilidade pelos vícios dos produtos ou serviços refere-se ao
seu adequado funcionamento e a sua adequação aos fins aos quais se
destinam.
31
respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o
consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode
o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:
I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em
perfeitas condições de uso;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do
prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete
nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a
cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio
de manifestação expressa do consumidor.
§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1°
deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a
substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou
características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto
essencial.
§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1°
deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá
haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos,
mediante complementação ou restituição de eventual diferença de
preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste
artigo.
§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável
perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando
identificado claramente seu produtor.
§ 6° São impróprios ao uso e consumo:
I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;
II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados,
falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas
regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;
III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao
fim a que se destinam.
32
conserto do produto pelo fabricante. Com base no caso narrado, em
relação ao Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a
afirmativa correta.
A) Está correta a orientação da vendedora. Joana deverá aguardar o
prazo legal de trinta dias para conserto e, caso não seja sanado o
vício, exigir a substituição do produto, a devolução do dinheiro
corrigido monetariamente ou o abatimento proporcional do preço.
B) Joana não é consumidora destinatária final do produto, logo tem
apenas direito ao conserto do produto durável no prazo de noventa
dias, mas não à devolução da quantia paga.
C) Joana não precisa aguardar o prazo legal de trinta dias para
conserto, pois tem direito de exigir a substituição imediata do
produto, em razão de sua essencialidade.
D) Na impossibilidade de substituição do produto por outro da mesma
espécie, Joana poderá optar por um modelo diverso, sem direito à
restituição de eventual diferença de preço, e, se este for de valor
maior, não será devida por Joana qualquer complementação.
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IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente
atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.
§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo anterior.
§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer a pesagem
ou a medição e o instrumento utilizado não estiver aferido segundo os
padrões oficiais.
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contudo, ele poderá vir a responder pela necessidade de contratação
de terceiros não previstos no orçamento prévio.
C) Se o serviço de pintura contratado por Hugo apresentar vícios
de qualidade, é correto afirmar que ele terá tríplice opção, à sua
escolha, de exigir da oficina mecânica: a reexecução do serviço
sem custo adicional; a devolução de eventual quantia já paga,
corrigida monetariamente, ou o abatimento do preço de forma
proporcional.
D) A lei consumerista considera prática abusiva a execução de
serviços sem a prévia elaboração de orçamento, o que pode ser feito
por qualquer meio, oral ou escrito, exigindo se, para sua validade, o
consentimento expresso ou tácito
do consumidor.
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Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros
decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil
seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos
expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como
dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes
e eqüidade.
Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos
responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos
nas normas de consumo.
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DE BEBÊS EM MATERNIDADE.1. Não configura ofensa ao art. 1.022
do CPC de 2015 o fato de o Tribunal de origem, embora sem
examinar individualmente cada um dos argumentos suscitados pela
parte recorrente, adotar fundamentação contrária à sua pretensão,
mas suficiente para decidir integralmente a controvérsia.2. No tocante
à responsabilidade civil de entidades hospitalares e clínicas, esta
Corte de Justiça firmou orientação de que: "(i) as obrigações
assumidas diretamente pelo complexo hospitalar limitam-se ao
fornecimento de recursos materiais e humanos auxiliares
adequados à prestação dos serviços médicos e à supervisão do
paciente, hipótese em que a responsabilidade objetiva da
instituição (por ato próprio) exsurge somente em decorrência de
defeito no serviço prestado (artigo 14, caput, do CDC); (ii) os
atos técnicos praticados pelos médicos, sem vínculo de
emprego ou subordinação com o hospital, são imputados ao
profissional pessoalmente, eximindo-se a entidade hospitalar de
qualquer responsabilidade (artigo 14, § 4º, do CDC); e (iii) quanto
aos atos técnicos praticados de forma defeituosa pelos
profissionais da saúde vinculados de alguma forma ao hospital,
respondem solidariamente a instituição hospitalar e o
profissional responsável, apurada a sua culpa profissional.
Nesse caso, o hospital é responsabilizado indiretamente por ato
de terceiro, cuja culpa deve ser comprovada pela vítima de modo
a fazer emergir o dever de indenizar da instituição, de natureza
absoluta (artigos 932 e 933 do Código Civil), sendo cabível ao
juiz, demonstrada a hipossuficiência do paciente, determinar a
inversão do ônus da prova (artigo 6º, inciso VIII, do CDC)" (REsp
1.145.728/MG, Rel. p/ acórdão Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta
Turma, julgado em 28.06.2011, DJe de 08.09.2011).
[...]
(AgInt no AREsp 1097590 / MG, julgado em abril de 2019)
37
04
4. DA DECADÊNCIA E DA PRESCRIÇÃO
38
Diversas questões da segunda fase de direito civil já abordaram o
assunto, contudo, a mais importante e polêmica delas foi a peça profissional do
XIX exame de ordem unificado:
ENUNCIADO:
Antônio Augusto, ao se mudar para seu novo apartamento, recém-
comprado, adquiriu, em 20/10/2015, diversos eletrodomésticos de última
geração, dentre os quais uma TV de LED com sessenta polegadas, acesso à
Internet e outras facilidades, pelo preço de R$ 5.000,00 (cinco mil reais).
Depois de funcionar perfeitamente por trinta dias, a TV apresentou
superaquecimento que levou à explosão da fonte de energia do equipamento,
provocando danos irreparáveis a todos os aparelhos eletrônicos que estavam
conectados ao televisor. Não obstante a reclamação que lhes foi apresentada
em 25/11/2015, tanto o fabricante (MaxTV S.A.) quanto o comerciante de quem
o produto fora adquirido (Lojas de Eletrodomésticos Ltda.) permaneceram
inertes, deixando de oferecer qualquer solução.
Diante disso, em 10/03/2016, Antônio Augusto propôs ação perante Vara
Cível em face tanto da fábrica do aparelho quanto da loja em que o adquiriu,
requerendo:
(i) a substituição do televisor por outro do mesmo modelo ou superior,
em perfeito estado;
(ii) indenização de aproximadamente trinta e cinco mil reais,
correspondente ao valor dos demais aparelhos danificados; e
(iii) indenização por danos morais, em virtude de a situação não ter sido
solucionada em tempo razoável, motivo pelo qual a família ficou, durante algum
tempo, sem usar a TV.
O juiz, porém, acolheu preliminar de ilegitimidade passiva arguída, em
contestação, pela loja que havia alienado a televisão ao autor, excluindo-a do
39
polo passivo, com fundamento nos artigos 12 e 13 do Código de Defesa do
Consumidor.
Além disso, reconheceu a decadência do direito do autor, alegada em
contestação pela fabricante do produto, com fundamento no Art. 26, inciso II,
do CDC, considerando que decorreram mais de noventa dias entre a data do
surgimento do defeito e a do ajuizamento da ação. A sentença não transitou
em julgado.
Na qualidade de advogado(a) do autor da ação, indique o meio
processual adequado à tutela do seu direito, elaborando a peça processual
cabível no caso, excluindo-se a hipótese de embargos de declaração,
indicando os seus requisitos e fundamentos nos termos da legislação vigente.
(Valor: 5,00)
Obs.: o examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação
do dispositivo legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO:
A decisão em questão tem natureza jurídica de sentença, na forma do
Art. 162, § 1º, do Art. 267, inciso VI, do Art. 269, inciso IV, e do Art. 459, todos
do Código de Processo Civil. Com efeito, extinguiu-se o processo, sem
resolução do mérito, quanto ao comerciante, acolhendo-se a sua ilegitimidade
passiva, e com resolução do mérito, no tocante ao fabricante, em cujo favor se
reconheceu a decadência. Em virtude disso, o meio processual adequado à
impugnação do provimento judicial, a fim de evitar que faça coisa julgada, é o
recurso de apelação, de acordo com o Art. 513 do CPC.
Deve-se, para buscar a tutela integral ao interesse do autor, impugnar
cada um dos capítulos da sentença, isto é, tanto a ilegitimidade do comerciante
quanto a decadência que aproveitou ao fabricante.
Quanto ao primeiro ponto, deve-se sustentar a solidariedade entre o
varejista, que efetuou a venda do produto, e o seu fabricante, admitindo-se a
propositura da ação em face de ambos na qualidade de litisconsortes passivos
(art. 7º. § único do CDC). A responsabilidade do comerciante, em relação ao
primeiro pedido deduzido da petição inicial, qual seja, o de substituição do
40
produto, encontra fundamento no Art. 3º, CDC, que conceitua os fornecedores,
e no art. 18 do CDC, que trata de hipótese de vício do produto.
Quanto ao segundo capítulo da sentença, deve-se pretender o
afastamento da decadência. No que concerne ao primeiro pedido, referente à
substituição do produto, a pretensão recursal deve basear-se na existência de
reclamação oportuna do consumidor, a obstar o prazo decadencial, na forma
do Art. 26, § 2º, inciso I, do CDC.
Já no tocante aos demais pedidos formulados (indenização por danos
patrimoniais e morais), há responsabilidade civil por fato do produto, haja vista
os danos sofridos pelo autor da ação, a atrair a incidência dos artigos 12 e 27
do CDC. Deste modo, a pretensão autoral à indenização dos danos não se
submete a prazo decadencial, mas ao prazo prescricional de cinco anos,
estipulado no artigo 27, do CDC.
Nessa linha, deve-se requerer a reforma da sentença para que o pedido
seja apreciado, mediante o reconhecimento da legitimidade passiva do
comerciante, e o afastamento da decadência, determinando-se o retorno dos
autos ao juízo de primeira instância, para prosseguimento do feito.
ITEM PONTUAÇÃO
41
prescricional (0,20), previsto no artigo 27, do CDC (0,10). 0,60
Formular corretamente os pedidos:
Deduzir pedido de afastamento do acolhimento de decadência
(0,40), por se tratar de responsabilidade pelo fato do produto 0,00 / 0,20 / 0,40 / 0,60
(0,20).
Deduzir pedido de inclusão do comerciante no polo passivo (0,40). 0,00 / 0,40
Reforma da decisão (0,40) para julgar procedentes os pedidos 0,00 / 0,20 / 0,40 / 0,60
deduzidos na inicial (0,20)
Intimação dos apelados para apresentar contrarrazões (0,10) 0,00 / 0,10
Demonstrar o recolhimento do preparo (0,10). 0,00 / 0,10
Estruturar a peça corretamente: fatos (0,20); fundamentos (0,20); 0,00 / 0,10/ 0,20 / 0,30 / 0,40
pedidos recursais (0,10). /0,50
Fechamento da Peça (Indicar a inserção de local, data, assinatura e
OAB) (0,10). 0,00 / 0,10
42
moral). (AgInt no REsp 1192274 / SP
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL 2010/0079400-8, julgado em
fevereiro de 2017).
Já a ação de repetição de indébito de tarifas de água e esgoto sujeita-se
ao prazo prescricional estabelecido no Código Civil – art. 205, prazo de dez
anos. (Súmula n. 412/STJ).
Mais recentemente o STJ vem firmando o entendimento de que o prazo
prescricional de 10 anos (art. 205) deve ser aplicado a todas as ações que
buscam a reparação de danos decorrentes de inadimplemento contratual. Veja
essa ementa de 2019:
43
05
5. DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
44
06
6. DAS PRÁTICAS COMERCIAIS
SEÇÃO II
Da Oferta
45
II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia
eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e
danos.
46
No contrato de massa, em virtude de seu caráter coletivo, a oferta
deixa de ser individualizada e cristalina, e passa a ser feita também
através de meios massificados, como a publicidade, a exposição das
mercadorias em vitrines, em exposições, e até na rua. Quando o
dono da banca de jornais e revistas expõe as suas mercadorias ao
público, está fazendo oferta. (CAVALIERI FILHO, 2011, p. 146)
SEÇÃO III
Da Publicidade
47
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados
sobre produtos e serviços.
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de
qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência
da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de
induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa
à sua saúde ou segurança.
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por
omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto
ou serviço.
§ 4° (Vetado).
Art. 38. O ônus da prova da veracidade e correção da informação ou
comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.
48
ou serviços se responsabiliza também pelas expectativas que a
publicidade venha a despertar no consumidor, mormente quando
veicula informação de produto ou serviço com a chancela de
determinada marca. Trata-se de materialização do princípio da boa-fé
objetiva, exigindo do anunciante os deveres anexos de lealdade,
confiança, cooperação, proteção e informação, sob pena
de responsabilidade. O próprio art. 30 do CDC enfatiza
expressamente que a informação transmitida "obriga o fornecedor
que a fizer veicular ou dela se utilizar", atraindo a responsabilidade
solidária daqueles que participem, notadamente quando expõe
diretamente a sua marca no informativo publicitário. A propósito, a
jurisprudência do STJ reconhece a responsabilidade solidária de
todos os fornecedores que venham a se beneficiar da cadeia de
fornecimento, seja pela utilização da marca, seja por fazer parte da
publicidade. Trata-se, cabe ressaltar, de caso de responsabilização
objetiva. Nesse contexto, dentro do seu poder de livremente avalizar
e oferecer diversos tipos de produtos e serviços, ao agregar o seu
"carimbo" de excelência aos veículos usados anunciados, a fabricante
acaba por atrair a solidariedade pela oferta do produto/serviço e o
ônus de fornecer a qualidade legitimamente esperada
pelo consumidor. Na verdade, a utilização de marca de renome -
utilização essa consentida, até por força legal (art. 3º, III, da Lei
6.729/1979) - gera no consumidor legítima expectativa de que o
negócio é garantido pela montadora, razão pela qual deve esta
responder por eventuais desvios próprios dos negócios jurídicos
celebrados nessa seara. REsp 1.365.609-SP, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 28/4/2015, DJe 25/5/2015.
SEÇÃO IV
Das Práticas Abusivas
49
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo
consumidor no exercício de seus direitos;
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço
em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes ou, se normas específicas não existirem, pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade
credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial (Conmetro);
IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente
a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento,
ressalvados os casos de intermediação regulados em leis
especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços. (Incluído
pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)
XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999,
transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº 9.870,
de 23.11.1999
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação
ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo
critério.(Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)
XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou
contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de
23.11.1999)
Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou
entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.
50
Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao
consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra,
dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de
pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.
§ 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo
prazo de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor.
§ 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os
contraentes e somente pode ser alterado mediante livre
negociação das partes.
§ 3° O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos
decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previstos no
orçamento prévio.
SEÇÃO V
Da Cobrança de Dívidas
51
Art. 42-A. Em todos os documentos de cobrança de débitos
apresentados ao consumidor, deverão constar o nome, o endereço e
o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF ou no
Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor do
produto ou serviço correspondente. (Incluído pela Lei nº 12.039, de
2009)
52
má-fé (edição nº 74 do Jurisprudência em Tese). Ou seja, mesmo a cobrança
indevida culposa (negligência ou imprudência) acarreta a restituição em dobro
em caso de cobrança indevida desses serviços.
Nos demais casos, em especial contratos financeiros, securitários e
educacionais, é comum o STJ julgar da seguinte forma: “Decisão em
consonância com a atual jurisprudência desta Corte
quanto ao tema da impossibilidade da restituição em dobro, nos
termos do art. 42 do CDC, se não for comprovada a má-fé do
fornecedor" (REsp 1595018 / RJ, agosto de 2016).
Ainda em relação ao Capítulo V, das práticas comerciais, tema relevante
é o dos bancos de dados e cadastros de consumidores.
SEÇÃO VI
Dos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores
53
§ 2° Aplicam-se a este artigo, no que couber, as mesmas regras
enunciadas no artigo anterior e as do parágrafo único do art. 22 deste
código.
Art. 45. (Vetado).
54
Sobre a recente súmula 550, é importante relembrar que a Lei
12.414/2011 que disciplina o chamado “cadastro positivo” foi regulamentada
pelo Decreto 7.829/2012. Esta Lei foi usada como fundamento da decisão no
Recurso Especial nº REsp 1419697 / RS que é representativo da controvérsia
do sistema "CREDIT SCORING". Assim decidiu o STJ:
55
3) Na avaliação do risco de crédito, devem ser respeitados os limites
estabelecidos pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da
tutela da privacidade e da máxima transparência nas relações
negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n.
12.414/2011.
4) Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor
consultado, devem ser a ele fornecidos esclarecimentos, caso
solicitados, acerca das fontes dos dados considerados (histórico de
crédito), bem como as informações pessoais valoradas.
5) O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema "credit
scoring", configurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do
CC), pode ensejar a responsabilidade objetiva e solidária do
fornecedor do serviço, do responsável pelo banco de dados, da fonte
e do consulente (art. 16 da Lei n. 12.414/2011) pela ocorrência de
danos morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas
ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e II, da Lei n. 12.414/2011), bem como
nos casos de comprovada recusa indevida de crédito pelo uso de
dados incorretos ou desatualizados.
56
07
7. DA PROTEÇÃO CONTRATUAL
57
Um dos instrumentos de proteção mais utilizados na atualidade é o
direito de arrependimento. Importante não esquecer que ele se refere às
compras feitas fora do estabelecimento comercial (a domicílio, pela TV,
internet...). A principal razão do direito de arrependimento é proporcionar ao
consumidor um prazo de reflexão, no qual possa desistir do contrato,
independentemente de qualquer justificativa. Segue questão do exame de
ordem sobre o direito de arrependimento:
58
com esse entendimento, o prazo da garantia convencional começa a correr a
partir da entrega do produto ou da prestação do serviço, enquanto o prazo
decadencial (30 ou 90 dias) tem por termo inicial o dia seguinte do último dia da
garantia convencional” (CAVALIERI FILHO, 2011, p. 163). No mesmo sentido
decisão constante no Informativo de Jurisprudência do STJ nº 506/2012.
SEÇÃO II
Das Cláusulas Abusivas
59
III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,
considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.
§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o
contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de
integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.
§ 3° (Vetado).
§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente
requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser
declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto
neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio
entre direitos e obrigações das partes.
60
retiraria os produtos no depósito da empresa. Considerando tal
situação fictícia, assinale a alternativa correta à luz do disposto na Lei
nº. 8.078/90, de acordo com cada hipótese abaixo apresentada:
A) A garantia legal do produto independe de termo expresso no
contrato, bem como é lícito ao fornecedor estipular que se exime de
responsabilidade na hipótese de vício de qualidade por inadequação
do produto, desde que fundada em ignorância sobre o vício.
B) É nula de pleno direito a cláusula contratual que exonere a
contratada de qualquer obrigação de indenizar por vício do
produto em razão de ter sido a mercadoria vistoriada
previamente pelo consumidor.
C) O contrato poderia prever a impossibilidade de reembolso da
quantia por Martins, bem como ter transferido previamente a
responsabilidade por eventual vício do produto, com exclusividade, ao
fabricante.
D) A Zoop Z tem liberdade para estabelecer compulsoriamente a
utilização de arbitragem, bem como exigir o ressarcimento dos custos
de cobrança da obrigação de Martins, sem que o mesmo seja
conferido contra o fornecedor.
ENUNCIADO:
Alex celebrou contrato de financiamento imobiliário com o Banco
Brasileiro S/A, assinado pelas partes e duas testemunhas. Em decorrência de
dificuldades financeiras, Alex não conseguiu honrar o pagamento das
prestações, o que levou o credor a ajuizar ação de execução por título
extrajudicial, a fim de cobrar a dívida, no montante de R$ 75.000,00 (setenta e
cinco mil reais). Citado, Alex opôs embargos à execução, no qual alegou
excesso de execução, sob o fundamento de que o valor cobrado a título de
61
juros remuneratórios era superior ao devido, sem, contudo, indicar o valor que
entende correto. Sustentou, também, a nulidade da cláusula que atribuiu ao
credor indicar livremente qual índice de correção monetária seria aplicável ao
contrato. Recebidos os embargos, o exequente apresentou impugnação, na
qual sustentou que os embargos deveriam ter sido liminarmente rejeitados, por
não ter o embargante apresentado o montante que considera correto. Alegou,
no mérito, não ser abusiva a cláusula impugnada. Diante do exposto, responda
aos itens a seguir.
A) Assiste razão ao exequente quanto à necessidade de rejeição liminar
dos embargos? (Valor: 0,75)
B) Assiste razão ao embargado quanto à validade da cláusula
impugnada? (Valor: 0,50) Obs.: o(a) examinando(a) deve fundamentar as
respostas. A mera citação do dispositivo legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO
A) Não. Os embargos devem ser processados, mas apenas será
examinada a alegação de invalidade da cláusula (Art. 917, § 4º, inciso II, do
CPC), uma vez que o embargante deveria ter declarado na petição inicial o
valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e
atualizado de seu cálculo (Art. 917, § 3º, do CPC).
DISTRIBUIÇÃO DA PONTUAÇÃO
ITEM PONTUAÇÃO
A) Não. Os embargos devem ser processados
para examinar a alegação de invalidade da
0,00/0,65/0,75
cláusula OU Os embargos devem ser
processados para examinar o outro fundamento
(0,65), por força do Art. 917, § 4º, inciso II, do
CPC (0,10).
62
B) Não. A cláusula é nula (0,15), por permitir ao
fornecedor a variação do preço (0,25), por força 0,00/0,15/0,25/0,35/0,40/0,50
do do Art. 51, inciso X, do CDC (0,10).
63
§ 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de
obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento
do valor da prestação.(Redação dada pela Lei nº 9.298, de 1º.8.1996)
§ 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito,
total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e
demais acréscimos.
§ 3º (Vetado).
64
Ainda sobre a resolução de contratos de compra e venda ou de
promessa de compra e venda de imóveis, importa verificar algumas questões
recentes. Inicialmente, recorde-se que se o vendedor for profissional, como
incorporadoras e construtoras, e o adquirente for destinatário final, estar-se-á
diante de relação de consumo e o CDC deverá ser aplicado.
Em 27/12/2018 foi publicada a Lei 13.786 que altera as Leis nos 4.591,
de 16 de dezembro de 1964, e 6.766, de 19 de dezembro de 1979, para
disciplinar a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de
unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo
urbano. A referida lei fixou percentuais máximos de retenção, pelo promitente
vendedor, de valores pagos pelo promitente comprador em caso de distrato ou
resolução por inadimplemento.
O CDC também disciplina de forma mais detalhada os contratos de
adesão:
SEÇÃO III
Dos Contratos de Adesão
65
§ 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor
deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil
compreensão.
§ 5° (Vetado)
66
A súmula 321 do STJ determinava a aplicação do CDC aos contratos
entre entidades de previdência privada e seus participantes. A Segunda
Seção, na sessão de 24/02/2016, ao apreciar o Projeto de Súmula nº 627 e o
julgado no REsp 1.536.736/MG, determinou o CANCELAMENTO da Súmula
321 do STJ (DJe 29/02/2016).
67
7.1.2 Arrendamento mercantil (leasing)
Tecnicamente o contrato de arrendamento é aquele pelo qual uma
pessoa arrenda a outra, por tempo determinado, um bem comprado pela
primeira, cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem arrendado findo o
contrato, mediante o pagamento de um valor residual. Atualmente o leasing
financeiro “trata-se de verdadeira operação de financiamento, com o propósito
de assegurar ao arrendatário o uso imediato do bem móvel ou imóvel”
(CAVALIERI, 2011).
68
No V Exame Unificado, a peça processual versou sobre plano de saúde
contratado por pessoa idosa e posterior negativa de tratamento domiciliar
(home care). O STJ, no Informativo de Jurisprudência 0564/2015, fez constar a
seguinte ementa:
No caso em que o serviço de home care (tratamento domiciliar)
não constar expressamente do rol de coberturas previsto no
contrato de plano de saúde, a operadora ainda assim é obrigada
a custeá-lo em substituição à internação hospitalar
contratualmente prevista, desde que observados certos
requisitos como a indicação do médico assistente, a
concordância do paciente e a não afetação do equilíbrio
contratual, como nas hipóteses em que o custo do atendimento
domiciliar por dia supera a despesa diária em hospital. Isso
porque o serviço de home care constitui desdobramento do
tratamento hospitalar contratualmente previsto, serviço este que, a
propósito, não pode sequer ser limitado pela operadora do plano de
saúde, conforme a Súmula 302 do STJ ("É abusiva a cláusula
contratual de plano de saúde que limita no tempo a internação
69
hospitalar do segurado"). Além do mais, nota-se que os contratos de
planos de saúde, além de constituírem negócios jurídicos de
consumo, estabelecem a sua regulamentação mediante cláusulas
contratuais gerais, ocorrendo a sua aceitação por simples adesão
pelo segurado. Por consequência, a interpretação dessas cláusulas
contratuais segue as regras especiais de interpretação dos contratos
de adesão ou dos negócios jurídicos estandardizados, como aquela
segundo a qual havendo dúvidas, imprecisões ou ambiguidades no
conteúdo de um negócio jurídico, deve-se interpretar as suas
cláusulas do modo mais favorável ao aderente. Nesse sentido, ainda
que o serviço de home care não conste expressamente no rol de
coberturas previstas no contrato do plano de saúde, havendo dúvida
acerca das estipulações contratuais, deve preponderar a
interpretação mais favorável ao consumidor, como aderente de um
contrato de adesão, conforme, aliás, determinam o art. 47 do CDC
("As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor"), a doutrina e a jurisprudência do STJ em
casos análogos ao aqui analisado. REsp 1.378.707-RJ, Rel. Min.
Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 26/5/2015, DJe
15/6/2015.
70
08
8. DA DEFESA DO CONSUMIDOR EM JUÍZO
71
Em relação às ações individuais, o CDC, além de disciplinar questões
alusivas à responsabilização civil, permitiu outras medidas capazes de garantir
a efetiva proteção do consumidor.
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este
código são admissíveis todas as espécies de ações capazes de
propiciar sua adequada e efetiva tutela.
Parágrafo único. (Vetado).
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de
fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação
ou determinará providências que assegurem o resultado prático
equivalente ao do adimplemento.
§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será
admissível se por elas optar o autor ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.
§ 2° A indenização por perdas e danos se fará sem prejuízo da multa.
§ 3° Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao juiz
conceder a tutela liminarmente ou após justificação prévia, citado o
réu.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa
diária ao réu, independentemente de pedido do autor, se for suficiente
ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável para o
cumprimento do preceito.
§ 5° Para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático
equivalente, poderá o juiz determinar as medidas necessárias, tais
como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas,
desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, além de
requisição de força policial.
72
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO PRODUTO. ACIDENTE DE
CONSUMO. ARTS. 12 E 14 DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR.
1. Ainda que não tenham participado diretamente da relação de
consumo, as vítimas de evento danoso dela decorrente sujeitam-se à
proteção do Código de Defesa do Consumidor.
2. A vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do Código
de Defesa do Consumidor não se restringe à responsabilidade
do comerciante por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo
também aplicável nas demais hipóteses e responsabilidade civil
por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC).
3. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 589798 / RJ, 20/09/2016)
CAPÍTULO III
Das Ações de Responsabilidade do Fornecedor de Produtos e
Serviços
73
09
9. A TUTELA PROVISÓRIA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
74
A tutela provisória antecipada antecedente caracteriza-se pela
possibilidade de ser buscada em petição inicial incompleta (que será
complementada posteriormente). Portanto, deve ser utilizada nos caso em
que, em razão da urgência, não foi possível juntar todos os documentos e
elementos necessários para uma petição completa. Já nos casos onde o
enunciado da questão deixa claro que o autor já está de posse de todas as
provas, deverá ser formulado pedido de tutela provisória antecipada incidental
(preferencialmente juntamente na petição inicial).
Vejam a questão do exame XXII:
ENUNCIADO:
Danilo ajuizou ação cominatória com pedido de reparação por danos
morais contra a financeira Boa Vida S/A, alegando ter sofrido dano
extrapatrimonial em virtude da negativação equivocada de seu nome nos
bancos de dados de proteção ao crédito. Danilo sustenta e comprova que
nunca atrasou uma parcela sequer do financiamento do seu veículo, motivo
pelo qual a negativação de seu nome causou-lhe dano moral indenizável,
requerendo, liminarmente, a retirada de seu nome dos bancos de dados e a
condenação da ré à indenização por danos morais no valor de R$5.000,00.
O juiz concedeu tutela provisória com relação à obrigação de fazer,
apesar de reconhecer que não foi vislumbrado perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo; contudo, verificou que a petição inicial foi instruída
com prova documental suficiente dos fatos constitutivos do direito do autor, não
havendo oposição do réu capaz de gerar dúvida razoável.
Em sentença, o juiz julgou parcialmente procedentes os pedidos,
condenando a ré à obrigação de retirar o nome do autor dos bancos de dados
de proteção ao crédito, confirmando a tutela provisória, mas julgando
improcedente o pedido de indenização, pois se constatou que o autor já estava
com o nome negativado em virtude de anotações legítimas de dívidas
preexistentes com instituições diversas, sendo um devedor contumaz. Em face
do exposto, responda aos itens a seguir.
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A) À luz da jurisprudência dos tribunais superiores, é correta a decisão
do juiz que julgou improcedente o pedido de indenização por danos morais?
(Valor: 0,65)
B) Poderia o advogado requerer a tutela provisória mesmo constatando-
se a inexistência de perigo de dano ou de risco ao resultado útil do processo?
(Valor: 0,60)
Obs.: O examinando deve fundamentar suas respostas. A mera citação
do dispositivo legal não confere pontuação.
GABARITO COMENTADO:
A) Sim; com apoio na jurisprudência consolidada no Superior Tribunal de
Justiça, “da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe
indenização por dano moral quando preexistente legítima inscrição, ressalvado
o direito ao cancelamento”. É o que dispõe o teor da Súmula 385 do STJ.
ITEM PONTUAÇÃO
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prova capaz de gerar dúvida razoável”, nos termos Art. 311, inciso IV, do
CPC/15, elementos que autorizam a concessão da tutela provisória de
evidência. Embora a negativação indevida, em regra, configure perigo de dano
(o que justificaria um pedido de tutela de urgência), no caso da questão o
consumidor “já estava com o nome negativado em virtude de anotações
legítimas de dívidas preexistentes com instituições diversas, sendo um devedor
contumaz”.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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