■■ Introdução
A Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde publicada em 1996 – Normas e Diretrizes
para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos1 – constituiu um marco no controle social da ética
em pesquisa no Brasil, tendo sido responsável pela criação do sistema formado pela organização
em rede da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e dos Comitês de Ética em
Pesquisa (CEP). As normas e diretrizes da Resolução CNS 196/96 propugnam fortemente pela
proteção aos participantes de pesquisa, estabelecendo a avaliação prévia dos protocolos de
estudos envolvendo seres humanos.
LEMBRAR
Devido seu forte viés protetivo, a Resolução CNS 196/96 foi considerada uma
das normas mais rigorosas do mundo, uma vez que contemplava diretrizes não
explicitadas nos documentos de mesma natureza adotados por outros países ou
agências internacionais.3-5
Contudo, foi justamente esse êxito incontestável que ensejou a necessidade de aperfeiçoar o
documento, tanto com vistas a eliminar as dificuldades detectadas em sua aplicação no âmbito
dos CEPs e da CONEP quanto para acompanhar o previsível avanço de técnicas e tecnologias da
área de pesquisa, em processo já previsto na versão inicial do documento. Como consequência,
a norma foi revista atendendo à reivindicação de diversos setores implicados no complexo campo
das pesquisas envolvendo seres humanos.
Para promover a revisão, foi instaurado processo de consulta pública, entre 12 de setembro e 10
de novembro de 2011, que “resultou em 1.890 sugestões por via eletrônica e apresentação de 18
documentos pelo correio”.6 Essas sugestões foram sistematizadas na Resolução 196/96 versão
2012, disponibilizada em meio eletrônico em dezembro daquele ano. Com data retroativa ao ano
de 2012, em 13 de junho de 2013 foi publicada a versão final do documento, a citada Resolução
CNS 466/12,7 que traz alterações significativas e não constantes da versão aprovada a partir de
consulta pública, ou seja, a Resolução CNS 196/96 versão 20126.
Em 2011, por exemplo, relatório publicado pela Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa
(Interfarma) apontou recomendações para revisão da estrutura normativa do Sistema CEP/
CONEP, propondo uma perspectiva “desburocratizante” sob a justificativa de que essa adequação
favoreceria a competitividade das indústrias instaladas no Brasil frente ao mercado internacional
de pesquisas clínicas.10 O documento questionou, em especial, a necessidade imposta pela
resolução para que ensaios clínicos com cooperação internacional fossem avaliados por mais de 1
instância de revisão (a saber, CEP, CONEP e Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA).
O argumento da Interfama era que esse procedimento, “além de ser discriminatório quanto
ao tratamento desigual entre estrangeiros e nacionais, gera demora na aprovação dos testes
clínicos”.13 Nesse relatório, a Interfarma enfatizou a necessidade de “mudança cultural”, voltada
a estabelecer ambiente mais atrativo para as indústrias internacionais se instalarem no país.
Essa mudança deveria propiciar condições favoráveis para que os players instalados no país
aumentassem suas operações.14 Reivindicando uma concepção business friendly, o documento
expressou a necessidade de “adequação dos atuais marcos regulatórios para a realização de
testes clínicos, tendo como objetivo reduzir o tempo de aprovação e promover igualdade no
tratamento de empresas nacionais e internacionais”.15
A flexibilização dos marcos regulatórios sob a vigência da Resolução CNS 196 também foi
reivindicada pela Sociedade Brasileira de Medicina Farmacêutica (SBMF). No mesmo sentido,
afirmaram que o “gargalo regulatório” do país – também pejorativamente chamado de “selva
regulatória brasileira”16 – resultava em subaproveitamento da capacidade de pesquisa no Brasil,
deixando-o em desvantagem em relação a outros países em desenvolvimento.
O relatório da SBMF também questionava, com ênfase crítica, a “duplicidade de avaliação ética”
das pesquisas clínicas internacionais realizadas no país, as quais, segundo os signatários,
deveriam deixar de ser avaliadas pela CONEP e passar apenas pelo crivo de CEP institucionais.11
Como se observa, a reivindicação da revisão do sistema regulatório brasileiro foi motivada por
interesses distintos. Por um lado, representantes do controle social, em especial aqueles
vinculados à Sociedade Brasileira de Bioética, defendiam o fortalecimento normativo e institucional
do sistema. Por outro, o setor regulado defendia a flexibilização do que chamavam “gargalo
normativo”, visando favorecer a aprovação mais célere dos estudos clínicos realizados no país.
Assim, embora a mudança do sistema regulatório brasileiro apontada como importante por ambos,
os objetivos e as perspectivas a serem adotados eram radicalmente distintos.
12
■■ Objetivos
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
■■ Esquema conceitual
Justificativas do artigo
Supressão do controle do
Sistema CEP-CONEP sobre
ensaios clínicos internacionais
Retirada da necessidade de
aprovação das pesquisas
internacionais pelo país de origem
– double standard ético em
Flexibilização das normas estudos clínicos internacionais
Retirada da obrigatoriedade
de suspensão do ensaio por
suspeita de risco ou dano
e imediato provimento dos
benefícios do melhor regime
Remuneração de participantes
de ensaios clínicos fase 1 e
pesquisa de bioequivalência
Caso clínico
Considerações finais
13
■■ justificativas do artigo
Portanto, o objetivo deste artigo é apresentar uma análise crítica das alterações consideradas
fundamentais em relação às Normas e Diretrizes para Pesquisa Envolvendo Seres Humanos,
que afetam a proteção e a segurança dos participantes de pesquisa no Brasil, especialmente
das pesquisas biomédicas e dos ensaios clínicos. Os aspectos considerados pontualmente nesta
análise referem-se ainda a esta flexibilização no que tange à diminuição das atribuições e
competências das instâncias do Sistema CEP-CONEP.
ATIVIDADE
1. Por que se pode considerar que a Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde
publicada em 1996 constituiu um marco no controle social da ética em pesquisa no
Brasil?
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3. Que empecilhos ao pleno funcionamento do sistema CEP-CONEP podem ser
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
relacionados?
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6. Mencione avanços, a primeira vista, trazidos pela Resolução 196/96. Compare sua
resposta com o texto a seguir.
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15
■■ Flexibilização das normas
■■ a orientação para que se estabeleça resolução específica para regular a ética em pesquisa nas
áreas das ciências sociais;
■■ a garantia às “mulheres que se declarem expressamente isentas de risco de gravidez, quer
por não exercerem práticas sexuais ou por as exercerem de forma não reprodutiva, o direito de
participarem de pesquisas sem o uso obrigatório de contraceptivos”.7
De maneira geral, a Resolução CNS 466/12 não detalha a composição dos CEPs e da CONEP
e não faz menção à representação social ampla, defendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS),
não identificando sequer a necessidade de manter “representante dos usuários” ou “bioeticistas”
na composição, como textualmente indicava a Resolução CNS 196/96. Igualmente, a nova
resolução também não especifica a forma de organização, o mandato, os mecanismos de
escolha dos membros e os métodos para manutenção de arquivos, bem como as atribuições e
atuação detalhada dos CEPs e CONEP – que, segundo o próprio documento, serão objetos de
regulamentação suplementar.
Esses aspectos não causariam inquietação maior se o cotejo pontual dos 3 documentos –
Resolução CNS 196/96, Resolução 196/96 versão 2012 e Resolução CNS 466/12 – não revelasse
alterações substanciais no documento final, algumas sequer previstas na versão intermediária,
obtida por meio da consulta pública. Tais alterações consorciadas atentam fortemente contra o
exercício do controle social no Sistema CEP-CONEP, especialmente em ensaios clínicos de
origem internacional, como se especifica na análise que se segue.
Quadro 1
Ainda que se possa argumentar que a medida tenha o intuito de estimular a participação de
pesquisadores e instituições brasileiras em ensaios clínicos internacionais, não se pode esquecer de
que, geralmente, as pesquisas aplicadas no país já contam com a participação de pesquisadores
e instituições nacionais, como admite o próprio MS.20 Embora não sejam os protagonistas desses
ensaios, os pesquisadores e instituições brasileiros vêm atuando em pesquisas estrangeiras, sendo
encarregados de recrutar e aplicar os protocolos desenvolvidos em outros países, os quais, até
então, eram previamente examinados pelos CEPs e pela CONEP.
17
O “ente” governo brasileiro inclui desde empresas e fundações estatais, como Embrapa, Fiocruz,
Hemobrás, além da nova Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), que reúne
todos os hospitais universitários federais do país, até os Ministérios Executivos federais e suas
incontáveis secretarias.
Assim, deixarão de ser avaliadas pela CONEP quaisquer pesquisas realizadas em consórcio
ou copatrocínio com, por exemplo, a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos
do Ministério da Saúde, cuja relação com instituições de pesquisas internacionais é intensa.
Exemplifica tal relação informação disponibilizada em agosto de 2013 no site da Secretaria,
que informava o lançamento de edital de pesquisa em saúde materno-infantil destacando “que
marcará o início da cooperação científica e tecnológica entre o Ministério da Saúde e a Fundação
Bill & Melinda Gates”.21
O mesmo site informa, também, outras parcerias para pesquisas com diferentes organizações
internacionais, entre elas o Council on Health Research for Development (COHRED), e o
Global Forum for Health Research, por exemplo. Com a revogação da Resolução CNS
196/96 e a publicação da nova Resolução CNS 466/12, nenhuma destas pesquisas passará –
necessariamente – pelo controle ético e social do sistema CEP-CONEP.
Ainda que os diferentes agentes do “governo brasileiro” possam, de fato, exigir que os estudos
sejam avaliados pelo sistema, é pouco prudente suprimir uma obrigação transformando-a em
opção, que pode ser facultativamente requerida.
Como com a publicação da Resolução CNS 466/12 qualquer pesquisa internacional em cooperação
governamental só passará pelo Sistema CEP-CONEP se houver solicitação neste sentido do
próprio governo, pode-se presumir que o grau de controle social – ético, técnico e político – será
sobremaneira reduzido.
18
Retirada da necessidade de aprovação das pesquisas internacionais pelo
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
Quadro 2
III.3.s − comprovar, nas III.3.q − comprovar, nas III.2.p − comprovar, nas pesqui-
pesquisas conduzidas do pesquisas conduzidas no sas conduzidas no exterior ou
exterior ou com cooperação exterior ou com cooperação com cooperação estrangeira, os
estrangeira, os compromissos e estrangeira, os compromissos compromissos e as vantagens,
as vantagens, para os sujeitos e as vantagens, para os para os participantes das
das pesquisas e para o Brasil, participantes das pesquisas pesquisas e para o Brasil,
decorrentes de sua realização. e para o Brasil, decorrentes decorrentes de sua realização.
Nestes casos, devem ser de sua realização. Nestes Nestes casos, devem ser
identificados o pesquisador e casos, devem ser identificados identificados o pesquisador e a
a instituição nacionais corres- o pesquisador e a instituição instituição nacional, responsá-
ponsáveis pela pesquisa. O nacional responsáveis pela veis pela pesquisa no Brasil. Os
protocolo deverá observar as pesquisa no Brasil. Os estudos estudos patrocinados no exterior
exigências da Declaração de patrocinados no exterior também deverão responder às
Helsinki e incluir documento também deverão responder às necessidades de transferência
de aprovação, no país de necessidades de transferência de conhecimento e tecnologia
origem, entre os apresentados de conhecimento e tecnologia para a equipe brasileira,
para avaliação do Comitê para a equipe brasileira, quando quando aplicável e, ainda, no
de Ética em Pesquisa da aplicável. caso do desenvolvimento de
instituição brasileira, que novas drogas, se comprovadas
exigirá o cumprimento de sua segurança e eficácia, é
seus próprios referenciais obrigatório seu registro no
éticos. Os estudos patrocinados Brasil.
do exterior também devem
responder às necessidades
de treinamento de pessoal no
Brasil, para que o país possa
desenvolver projetos similares
de forma independente.
19
Porém, é indispensável considerar que a supressão da Resolução CNS 404/08 não interferiu
com uma das garantias que estava prevista nas versões mais rígidas da Declaração de Helsinki,
relativa ao acesso ao tratamento após o término do ensaio.
De fato, enquanto na Resolução CNS 196/96 o acesso estava abstratamente dirigido aos
“benefícios resultantes da pesquisa, seja em termos de retorno social, acesso aos procedimentos,
produtos ou agentes da pesquisa” (item III.p), no item III. 3d da Resolução CNS 466/12 se explicita
que o benefício refere-se ao “acesso gratuito, e por tempo indeterminado, aos melhores métodos
profiláticos, diagnósticos e terapêuticos que se demonstraram eficazes”, e que deve ser garantido,
inclusive, no intervalo entre o término da participação do indivíduo e o final do estudo.
Assim, neste ponto, mesmo com as alterações, a nova norma brasileira aperfeiçoa a exigência de
o pesquisador assegurar ao participante acesso ao melhor benefício identificado no estudo. Isto,
além de ser um avanço em relação à Resolução CNS 196/96, representa progresso também em
relação às versões mais recentes da Declaração de Helsinki, depois de 2008, cujo texto elimina a
obrigatoriedade do patrocinador garantir o acesso ao benefício pós-estudo.
LEMBRAR
Apesar disso, é preciso considerar que mesmo que seja um avanço importante
à proteção dos participantes das pesquisas, este novo item não contraria os
interesses dos promotores das pesquisas clínicas internacionais, uma vez que
é cada vez mais comum a realização das chamadas “pesquisas pós-mercado”.
Por esse critério, a Fase IV do estudo clínico, em que os pesquisadores continuam
a monitorar a segurança e os efeitos adversos dos medicamentos, que geralmente
ocorre enquanto o produto está sendo comercializado,23 passa a incluir os
participantes das fases anteriores, aos quais foi assegurado o benefício.
Cabe ressaltar ainda que a Resolução CNS 466, ao tratar sobre o acesso aos benefícios no
período entre o término da participação individual e o término global do estudo, explicita que
a garantia de acesso pode “ser dada por meio de estudo de extensão, de acordo com análise
devidamente justificada do médico do participante” (item 3.d.1), o que coaduna neste novo
desenho metodológico os interesses dos participantes e dos próprios pesquisadores.
20
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
ATIVIDADE
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I. A partir da nova Resolução CNS 466/12, a CONEP deixará de ter o direito de exigir
o exame prévio dos protocolos aplicados no Brasil, quando o estudo for classificado
como de copatrocínio governamental, o que tende a ocorrer na grande maioria dos
casos.
II. Acréscimo no item IX.4.1.1 na Resolução CNS 466/12 admite análise pela CONEP
de protocolo de pesquisa que implique em envio ao exterior de material genético
ou qualquer material biológico humano para obtenção de material genético, salvo
nos casos em que houver cooperação com o governo brasileiro.
III. Com a publicação da Resolução CNS 466/12, qualquer pesquisa internacional em
cooperação governamental passará pelo Sistema CEP-CONEP.
A) Apenas I e II.
B) Apenas I e III.
C) Apenas II e III.
D) Todas.
Resposta no final do artigo
21
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12. Que consequências podem ser ressaltadas a partir da revogação da Resolução CNS
404/08?
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14. O que explicita a Resolução CNS 466/12 ao tratar sobre o acesso aos benefícios no
período entre o término da participação individual e o término global do estudo?
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15. Em que difere o texto da Resolução CNS 466/12 em relação às normas anteriores
quando trata da obrigatoriedade de suspenção do ensaio por suspeita de risco ou
dano ao participante da pesquisa? Compare sua resposta com o Quadro 3 a seguir.
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Retirada da obrigatoriedade de suspensão do ensaio por suspeita
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
Quadro 3
V.4 – O Comitê de Ética em V.4 – Nas pesquisas na área V.4 – Nas pesquisas na área
Pesquisa da instituição deverá da saúde, tão logo constatada da saúde, tão logo constatada
ser informado de todos a superioridade significativa de a superioridade significativa de
os efeitos adversos ou fatos uma intervenção sobre outra(s) uma intervenção sobre outra(s)
relevantes comparativa(s), o pesquisador comparativa(s), o pesquisador
que alterem o curso normal do deverá avaliar a necessidade de deverá avaliar a necessidade
estudo. adequar ou suspender o estudo de adequar ou suspender o
em curso, visando oferecer a estudo em curso, visando
todos os benefícios do melhor oferecer a todos os benefícios
regime. do melhor regime.
ATIVIDADE
16. Em que difere o texto da Resolução CNS 466/12 em relação às normas anteriores
quando trata do uso não previsto no protocolo de dados e material biológico? Compare
sua resposta com o Quadro 4 a seguir.
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17. Em que difere o texto da Resolução CNS 466/12 em relação às normas anteriores
quando trata da remuneração de participantes de ensaios clínicos Fase 1 e pesquisa
de bioequivalência? Compare sua resposta com o Quadro 5 a seguir.
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Uso não previsto no protocolo de dados e/ou de material biológico
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
As alterações até agora analisadas se tornam ainda mais graves quando da verificação da mudança
do item III.3q da Resolução CNS 466/12, relativo à utilização de achados de pesquisa (Quadro
4). Diferentemente da versão que a precedeu, a Resolução CNS 466/12 separa as normas relativas
a dados e material biológico, garantindo em ambas a possibilidade de uso pelo pesquisador dos
achados da pesquisa apenas em decorrência da concordância do participante, mesmo que isto não
tenha sido previamente definido no protocolo e aprovado pelo Sistema CEP-CONEP.
Quadro 4
III.3.t – utilizar o material biológico III.3.r – utilizar o material e os III.2.q – utilizar o material e
e os dados obtidos na pesquisa dados obtidos na pesquisa os dados obtidos na pesquisa
exclusivamente para a finalidade exclusivamente para a finalidade exclusivamente para a finalidade
prevista no seu protocolo. prevista no seu protocolo, ou prevista no seu protocolo, ou
conforme o consentimento do conforme o consentimento do
participante; participante;
III.4.c – utilizar o material biológico III.3.c – utilizar o material biológico
e os dados obtidos na pesquisa e os dados obtidos na pesquisa
exclusivamente para a finalidade exclusivamente para a finalidade
prevista no seu protocolo, ou prevista no seu protocolo, ou
conforme o consentimento conforme o consentimento
dado pelo participante da dado pelo participante da
pesquisa. pesquisa.
LEMBRAR
A Resolução CNS 196/96 previa a utilização de material biológico e dados
exclusivamente para fins previstos no protocolo. O novo documento, seguindo
os ditames já indicados na versão obtida a partir da consulta pública (Resolução
CNS 196 versão 2012), admite essa utilização conforme o consentimento do
participante. Ou seja, ao retirar a exigência de que o material obtido no estudo seja
usado exclusivamente para os fins previstos no protocolo este item da Resolução
CNS 466/12 abriu a possibilidade de que tal uso decorra apenas do consentimento
individual, o que torna mais vulnerável não apenas o participante, mas o sistema
como um todo.
É importante considerar, ainda, que tal vulnerabilidade repercute, inclusive, na dimensão ética
das políticas de Estado. Isto porque permite que os pesquisadores, patrocinadores e a indústria
definam a posteriori novas finalidades para o uso e envio ao exterior de material biológico ou
dados, eliminando qualquer possibilidade de exercício do controle ético pelo Sistema CEP-
CONEP. Além disso, tal processo facilita a apropriação indevida e a transferência ao exterior de
material genético.
25
Quadro 5
A esse respeito, é importante destacar que a versão da consulta pública tampouco previa
a possibilidade de pagamento. Naquele documento, a descrição do conceito “participante
da pesquisa” apresentava-se como: “indivíduo que, de forma esclarecida e voluntária, ou sob
o esclarecimento e autorização de seu(s) responsável(eis) legal(is), se submete a protocolo de
pesquisa (item II.14)”. Já na versão homologada 6 meses depois, esta mesma definição foi
sub-repticiamente alterada, eliminando a menção ao protocolo de pesquisa e acrescentando o
seguinte adendo: “A participação deve se dar de forma gratuita, ressalvadas as pesquisas clínicas
de Fase I ou de bioequivalência (item II.10)”.
26
A ressalva para a possibilidade de participação não “gratuita” apenas para ensaios
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
Além dessa falha relativa ao incentivo monetário, a alteração da Resolução CNS 466/12 também
não considera as implicações desiguais na distribuição dos riscos e benefícios da pesquisa
na coletividade, dado que nestes termos o recrutamento estimula a participação dos grupos
mais vulneráveis. Os mais pobres e mais necessitados submetem-se aos danos dos estudos
remunerados, enquanto os grupos com mais recursos usufruem dos benefícios auferidos com a
utilização daqueles corpos-mercadorias.
Para além das fragilidades que esta flexibilização impõe ao processo consentimento, o retrocesso
moral mais grave na questão do pagamento para participantes de pesquisa refere-se aos Direitos
Humanos.28 Isso porque, ao permitir a utilização do ser humano como mercadoria biológica, um
meio e não um fim em si mesmo,29 a norma acaba por comprometer a noção de Autonomia
e Dignidade, princípios basilares dos instrumentos orientadores da ética em pesquisa, como o
Código do Nüremberg,30 bem como daqueles voltados às garantias individuais e coletivas como a
Declaração Universal dos Direitos Humanos.31
ATIVIDADE
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21. Por que a ressalva, na Resolução CNS 466/12, que prevê a possibilidade de
participação não “gratuita” apenas para ensaios clínicos fase 1 e pesquisas de
bioequivalência é preocupante?
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28
■■ Caso clínico
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
Além do envio ao exterior dos mosquitos coletados, tal como previsto no protocolo,
os pesquisadores solicitaram, como procedimento adicional, o consentimento dos
participantes que contraíram malária para realizar envio de amostras de seu sangue aos
laboratórios da Eunice Rivers Alabama University. Foi solicitado seu consentimento
também para enviar seus dados cadastrais e histórico de prontuário, visando facilitar
a caracterização não apenas biológica, mas epidemiológica e sociodemográfica das
respectivas amostras. Esse estudo de caso baseia-se em fatos reais, mas foi também
adaptado para descaracterizar pessoas e instituições, resguardando seu anonimato.
29
24. No caso clínico, o pagamento aos participantes da pesquisa foi legitimado pela
Resolução CNS 466/12?
25. Segundo a diretriz ética para pesquisas vigente no país em 2014, a continuidade do
estudo no caso clínico após o diagnóstico de malária entre os participantes foi correta,
porque:
■■ Considerações finais
Não se pode negar a contribuição da pesquisa nas transformações dos últimos 60 anos no que
tange a melhoria da qualidade e ao aumento da expectativa de vida, assim como no controle
de fatores associados à morbimortalidade dos grupos e seguimentos para a maioria da população
em todo o planeta. O avanço tecnológico neste período acompanhou o florescimento de novos
patamares de sensibilidade, relacionados ao reconhecimento dos direitos e da dignidade de
todos os seres humanos. Esses 2 processos emergiram direta ou indiretamente da Segunda
Guerra Mundial e podem ser relacionados ao Código de Nüremberg, de 1947, e à Declaração
Universal dos Direitos Humanos, de 1948.
Apesar de terem sido originados no mesmo momento histórico, 2 guerras em dimensão global no
mesmo século, que implicaram em pouco mais de 10 anos de conflito, o avanço tecnocientífico e a
emergência dos direitos humanos não se consolidaram como processo comum.32 Caminhando
em paralelo, repercutiram em instâncias distintas que nem sempre se coadunaram para produzir os
melhores resultados para os seres humanos, por reforçarem o hiato entre ciência e ética.
O processo de associação crescente da ciência com o mercado pode ser identificado nas
entrelinhas do exposto nesta análise comparativa, na medida em que importantes critérios
protetivos foram abandonados e, em contraparte, medidas que facultam a flexibilização
do controle foram adotadas. Não é difícil perceber, portanto, que, em nome da celeridade dos
trâmites da avaliação dos protocolos de pesquisa, que justificaria um suposto fortalecimento do
setor produtivo nacional, algumas das reconhecidas demandas da indústria, pontuadas na
parte introdutória deste artigo, podem ser agora mais facilmente contempladas. Em decorrência,
se depreende, sem maior dificuldade, que a Resolução CNS 466/12 incorreu em flexibilização
injustificada das Normas e Diretrizes para Pesquisas Envolvendo Seres Humanos.
31
Diante da ruidosa polêmica que se instalou, foi aprovada por unanimidade pela Assembleia da
Sociedade Brasileira de Bioética, presente ao evento, a “Moção a propósito da Resolução
CNS 466/12”, produzida no Fórum dos Comitês de Ética em Pesquisa, que reiterou as principais
críticas apresentadas neste artigo. A moção enfatiza ainda a “necessidade de transparência
nas atividades da CONEP, incremento da comunicação entre todo o Sistema CEP-CONEP,
descentralização das atividades da CONEP com a criação de Comissões Regionais de Ética em
Pesquisa, garantia do financiamento adequado ao Sistema, modificações na Plataforma Brasil”,
entre outros.33
Considera-se que, ao menos nos aspectos discutidos neste trabalho, a Resolução CNS 466/12
resulta em retrocesso nos parâmetros éticos para pesquisas envolvendo seres humanos –
aplicados há quase 2 décadas –, sendo, por isso, prejudicial aos legítimos interesses do Brasil.
Como discutido, essas flexibilizações parecem responder diretamente aos interesses dos
patrocinadores de pesquisas internacionais que atuam ou que buscam atuar no país.
Ao apontar nesta análise tais retrocessos pretendemos contribuir para o aprimoramento das
normas e para a consequente proteção dos participantes de pesquisa, eliminando o hiato entre
a ética a tecnociência nos estudos clínicos realizados no país.
32
■■ Respostas às atividades e comentários
BIOÉTICA NA PESQUISA CLÍNICA: UMA CRÍTICA À RESOLUÇÃO CNS 466/12
Atividade 8
Resposta: A
Atividade 12
Resposta: C
Comentário: No item V.3, a Resolução CNS 196/96 obriga o pesquisador responsável a suspender
imediatamente o estudo ao perceber algum risco ou dano à saúde do sujeito participante da
pesquisa.
Atividade 17
Resposta: A
Comentário: O item III.3.c da Resolução CNS 466/12 mantém a permissão para o envio ao exterior
de material biológico exclusivamente para a finalidade prevista em seu protocolo, como previa a
Resolução CNS 196/96, mas acrescenta a possibilidade de que o material seja enviado também
apenas mediante consentimento do participante da pesquisa, ou seja, sem que o envio tenha sido
anteriormente informado no protocolo e aprovado pelo Sistema CEP-CONEP.
Atividade 18
Resposta: D
Comentário: A Resolução CNS 466/12, em seu item II.10, estabelece a ressalva acerca do
pagamento apenas em pesquisas clínicas de Fase I ou de bioequivalência, que não é a mesma
classe de pesquisa descrita no caso clínico.
Atividade 19
Resposta: D
Comentário: Diferentemente da Resolução CNS 196/96, de acordo com os itens V.3 a V.5 da
Resolução CNS 466/12, o pesquisador responsável deixa de ser obrigado a suspender imedia-
tamente o estudo ao identificar riscos ou danos à saúde, mas apenas a avaliá-lo em caráter
emergencial, verificando a necessidade de adequar ou suspender o ensaio.
Atividade 20
Resposta: A
Comentário: Segundo o item V.3 da referida resolução, o pesquisador responsável é obrigado a
suspender a pesquisa imediatamente ao perceber algum risco ou dano à saúde do participante
da pesquisa.
Atividade 21
Resposta: A
Comentário: Segundo o item X.4.8 devem ser avaliadas pelo Sistema CEP-CONEP todas as
pesquisas com coordenação e/ou patrocínio originados fora do Brasil, excetuadas aquelas com
copatrocínio do governo brasileiro, tal como exposto no caso clínico.
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