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lização, o que, consequentemente, fez com que iniciativas. Como exemplos dessas tentativas,
a procura pela escola aumentasse. Torres et al.3 podemos destacar as campanhas de alfabetiza-
destacam que a universalização do ensino está ção nas décadas de 1930 e 1940; os movimentos
associada ao movimento da Escola Nova, o qual de cultura popular de 1960; o Movimento Bra-
também buscava igualdade de oportunidades sileiro de Alfabetização (MOBRAL) na década
e acesso à educação de uma forma igualitária. de 1970; o ensino supletivo dos Governos Mi-
Esses movimentos, bem como as inovações litares; e, por fim, na década de 1980, a criação
pedagógicas na década de 1930, tinham como da Fundação EDUCAR. Ainda de acordo com
objetivo alcançar a modernização e a democracia o autor7, destacamos que a referida fundação
no Brasil, o que se refletia no planejamento de extinguiu-se na década de 1990, sendo que, na
propostas curriculares voltadas para a educação mesma época, a EJA começou a perder prestígio
cívica e para a cidadania. em função dos poucos investimentos governa-
Pela primeira vez, a educação foi destacada, mentais e da transferência da responsabilidade
na legislação brasileira, através da Constituição dessa modalidade de educação para os estados
de 19344, em seu capítulo II, art. 150, o qual e municípios. Somente no ano de 2003, a EJA
tratava da educação e da cultura. Tal docu- voltou a ser prioridade para o Governo Federal,
mento propunha como uma das competências tendo novamente a meta de erradicar o analfa-
da União fixar o Plano Nacional da Educação,
betismo no Brasil. Diante disso, o Ministério da
compreendendo todos os graus e ramos do en-
Educação lançou o Programa Brasil Alfabetizado
sino. Além disso, apontava a necessidade de
(PBA), voltado à alfabetização de jovens, adultos
obedecer à oferta de ensino primário integral
e idosos.
e gratuito, cobrando frequência obrigatória, in
Analisando a trajetória histórica da EJA e os
clusive dos adultos. Porto5 relembra que, entre
recentes investimentos no país a ela relaciona-
1937 e 1945, com o Estado Novo, as conquistas
dos, acreditamos que através da compreensão
referentes à oferta de escolarização para adultos
acerca dos sujeitos a quem esta se direciona, po-
eram ainda muito reduzidas. Isso porque se
deremos mobilizar diversos saberes relacionados
ampliava a oferta de educação, mas havia muita
com a aprendizagem desses indivíduos. Essas
abertura à iniciativa privada, que reservava a
reflexões podem conduzir a um entendimento
escola secundária para as elites do país e des
sobre as diferenças no processo de aprender dos
tinava a educação profissionalizante para a
jovens e adultos, de modo a contribuir para uma
classe trabalhadora.
educação de qualidade a esse público.
Na tentativa de ampliar os espaços educativos,
no período do Governo Militar, foi instaurada, na
década de 1970, a primeira Lei de Diretrizes e SUJEITOS DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E
Bases da Educação (LDB), Lei nº 5692/716, que ADULTOS
tinha como um de seus objetivos a organização da Vivemos em um panorama de mudanças, com
educação de adultos por meio do ensino supletivo. um ritmo acelerado das transformações sociais
Essa medida teve por intuito escolarizar grande e tecnológicas, em que a sociedade torna-se
parte da população mediante baixo custo, além mais exigente e busca profissionais qualificados
de tentar satisfazer as necessidades emergentes. que atendam às demandas emergentes. Essas
Nessa época, havia uma forte influência de Paulo transformações vêm se refletindo no cenário
Freire nos métodos pedagógicos. educacional, pois os sujeitos com pouca escola-
Sobre as tentativas de universalizar o ensino, rização estão retornando ao campo educacional,
Haddad7 destaca que a EJA não só foi reconhe- sejam eles jovens, adultos ou idosos, e a EJA vem
cida como um direito desde os anos 1930, mas propiciando essa oportunidade de aprender e
também ganhou relevância por meio de diversas se qualificar.
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A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
A EJA proporciona esse acesso, pois ao passo pararam por longo tempo de estudar e retorna-
que o sujeito aprende e se qualifica, consegue ram à escola para terminar os estudos com vistas
ter mais forças para caminhar em busca da sua a um emprego melhor ou a uma promoção nos
cidadania. Os alunos da EJA são pessoas que seus locais de trabalho. Hoje, a EJA, além de
caminham em busca do conhecimento, superam oferecer espaço para o adulto, também se destina
limites e rompem com barreiras, pois participam ao jovem que, por motivos diversos, não conse-
de uma sociedade em transição, na qual os traba- gue acompanhar o ensino regular e, em alguns
lhadores descobrem como canal de crescimento casos, a adolescentes que vêm de um histórico
e libertação, a educação8. de fracasso escolar.
Porto5 referencia que essa libertação e busca Nesse sentido, Oliveira9 e Brunel10 fazem
pelo conhecimento e qualificação, hoje, ocorre referência ao número de jovens e adolescentes
em um cenário sociocientífico permanentemen- que cresce, a cada ano, nessa modalidade de
te reformulado, em incessante movimento de ensino, modificando, dessa forma, o cotidiano es-
renovação. Reforça que, para se situar nessa colar e as relações que se estabelecem entre os
sociedade em constantes transformações, o ser sujeitos que ocupam esse espaço. Esses jovens
humano precisa construir patamares cada vez que chegam nessa modalidade de educação,
mais elevados de conhecimento, aprender ao em geral, são desmotivados, desencantados
longo da vida e estar em constante evolução. Ao com a escola regular, pararam de estudar há
pensar nessa constante aprendizagem, salien pouco tempo, são egressos do ensino regular
tamos que o adulto não pode ser considerado e possuem um histórico de repetências e re-
nesse processo como uma “criança grande”9, provações.
mas como uma pessoa repleta de experiências De forma distinta, o adulto que retorna à
e aprendizagens. Na visão de Oliveira9, esse escola apresenta outras peculiaridades, pois
território da educação não diz respeito a refle está inserido no mundo do trabalho e das re-
xões e ações dirigidas a qualquer jovem ou lações interpessoais de um modo diferente
adulto, mas a um grupo de pessoas que fazem do adolescente. Traz uma trajetória de vida e
parte, no interior da diversidade, de grupos aprendizagens que precisam ser consideradas
sociais, e que precisam de materiais didáticos, e, além disso, carrega uma história mais longa
conteúdos e métodos de ensino específicos para e complexa, com experiências, conhecimentos
sua realidade. acumulados e reflexões sobre o mundo, sobre si
Historicamente, os sujeitos da EJA são edu e outras pessoas.
candos provenientes de diversas camadas so- Diante disso, pensando na identidade desses
ciais, culturais, étnicas, o que os torna pessoas educandos da EJA como heterogênea, sujeita
com diversas experiências e, por isso, precisam a transformações, caracterizada por diferentes
ser pensados visando à diferença. Oliveira9 des- etapas da vida, é que poderemos romper com a
taca que o adulto dessa modalidade de educação exclusão, a desigualdade e desenvolver práticas
não é o estudante universitário, nem o profissio- pedagógicas significativas e que tenham sentido
nal qualificado que frequenta cursos de forma- para esses indivíduos.
ção continuada. Geralmente, esse educando é o Santos11, pensando nessas singularidades
migrante que chega às grandes metrópoles, pro- que caracterizam o processo de aprendizagem
veniente de áreas rurais empobrecidas, com uma da EJA, realizou um estudo em que buscou com-
passagem curta pela escola, ou o trabalhador preender os impactos que a vivência de escolari-
não qualificado, que busca a escola tardiamente. zação tardia gera na vida de adultos de camadas
No entanto, atualmente, a EJA passa por um populares. Através da análise das trajetórias de
processo de rejuvenescimento dos educandos, escolarização da vida dos sujeitos, identificou
pois não é mais exclusiva àquelas pessoas que que, embora cada história seja ímpar, constituída
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vive na cidade, pois esse último pode apresentar aprendizagem ao longo da vida e a noção de
um envelhecimento mais tardio. envelhecimento ativo.
Diante de todas essas mudanças cerebrais, que Nessa visão, Osório e Pinto19 abordam que a
fazem parte do envelhecimento natural do ser exposição a ambientes estimuladores e a utili
humano, podemos dizer que, um cérebro velho, zação de recursos culturais e educativos ao longo
desde que sadio, é capaz de ter um funcionamen da vida reduzem quantitativamente o declínio
to psicológico normal e, ter um adequado de intelectual. Essas pessoas estão menos expostas
senvolvimento das atividades cotidianas, além à depressão, enfrentam melhor os acontecimen-
da aquisição de novos conhecimentos e habili- tos da vida e, em geral, mostram níveis de saúde
dades. Desse modo, Palácios14 frisa que a manu- mais elevados do que as pessoas com níveis de
tenção da atividade intelectual contribui para a educação formal mais baixo.
boa capacidade de funcionamento cerebral; isso Aliar a Gerontologia com a Educação é, fun
significa que continuar aprendendo ao longo damental, principalmente em tempos que as
da vida contribui para o bom funcionamento de pessoas em processo de envelhecimento vis-
nosso cérebro. Entretanto, esclarece que não lumbram mais espaços na sociedade. Diante
podemos deixar de pensar nas peculiaridades disso, precisamos pensar no educando da EJA a
desse cérebro envelhecido, como a lentidão na partir dessas mudanças, pois é necessário con
transmissão de informações. Essa morosidade siderá-las ao planejar o ensino e as atividades
pode ocasionar tempos de reação mais longos, didáticas, a fim de que a aprendizagem tenha
diminuição dos reflexos, execução psicomotora significado para esses sujeitos e atenda às suas
mais lenta e funcionamento psicológico geral individualidades biológicas e sociais.
com uma rapidez e flexibilidade diferentes, se
comparados às idades anteriores. O ENVELHECIMENTO NATURAL
Considerando essas diferenças ocasionadas Diversas pesquisas no campo das Neurociên
pelo processo de envelhecimento natural, surge cias e da Psicologia têm evidenciado que o pro-
uma nova abordagem social e educativa que cesso de envelhecimento é acompanhado por
tenta relacionar aspectos biológicos, afetivos, um declínio cognitivo. Dentre esses estudos,
cognitivos e sociais, que ocorrem nas últimas apresentamos o trabalho de Vega et al.20, que
fases do ciclo vital, procurando compreender a abordam uma forte relação do declínio cognitivo
pessoa em sua individualidade. Essa abordagem quanto à atenção, à aprendizagem e à memória.
é chamada de Gerontologia Educativa; des Salientam que os danos ocasionados pelo pro-
tacada por Osório e Pinto19, que busca equilibrar cesso de envelhecimento são muito menores do
a educação e a gerontologia, tomando os conhe que se pensava a princípio.
cimentos disponíveis sobre as duas ciências para Muitas dessas perdas e lentidões nas ativi-
promover maior qualidade e quantidade de vida dades mentais e motoras são atribuídas às ques-
às pessoas em fase de envelhecimento. Para tões sensoriais que apresentam uma redução
esses autores19, a Gerontologia Educativa ajuda natural, conforme o envelhecimento da pessoa.
a reconhecer que a estrutura temporal do enve- Vega et al.20 explicam que é preciso conhecer
lhecimento difere da infância, da juventude e os processos sensório-perceptivos, pois esses
da idade adulta, o que limita a compreensão dos mudam conforme o envelhecimento. A partir da
objetivos, propósitos, valores, crenças, neces idade adulta a visão apresenta maior opacidade
sidades e interesses assumidos pelos idosos. do humor vítreo, substância viscosa e transpa-
Esse campo do conhecimento busca acentuar rente, que preenche a porção entre o cristalino
as potencialidades do ser humano, independente e a retina. Isso faz com que as pessoas sintam
do momento cronológico vital. Para tanto, con- maiores dificuldades de enxergar em ambientes
sidera as ideias de potencialidade cognitiva, de pouco iluminados, apresentem leve declínio na
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A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
capacidade de diferenciar cores e maior sensibi- a informação mais lentamente do que na juven-
lidade a mudanças bruscas de iluminação. Essas tude, podendo esse acontecimento biológico ser
alterações se devem às mudanças que ocorrem confundido com dificuldades de aprendizagem
nos músculos da pupila, os quais fazem com que – quando, na realidade, essas alterações fazem
a resposta às situações seja mais lenta. parte do envelhecimento natural. Blakemore
Em se tratando da influência das questões & Frith21 afirmam que todos os seres humanos
sensoriais com relação ao ouvido, Vega et al.20 perdem células cerebrais de um modo rápido a
afirmam que esse órgão também sofre altera- partir dos 40 anos de idade. Essas perdas pro-
ções. Há uma progressiva sensibilidade auditiva movem certa lentidão progressiva e dificultam
chamada de presbiacusia, que impede de com- a realização de determinadas atividades, mas,
preender corretamente o que as outras pessoas sabemos que podem ser amenizadas por meio
falam. Também fazem referência ao problema do de atividades físicas adequadas e de manuten-
zumbido, percebido no envelhecimento, quando ção cerebral, ou seja, por meio de estímulos
há sensação de que os ouvidos retumbam. Esses apropriados ao raciocínio, sendo um deles a
problemas de audição das pessoas adultas e ido- aprendizagem.
sas se devem tanto a fatores ambientais quanto Diante dessas perdas que afetam o desenvol-
aos próprios efeitos do envelhecimento, sendo vimento cognitivo, Sternberg16 apresenta uma
que essas implicações auditivas, algumas vezes, explicação diferente. Faz uma distinção entre a
impedem que a pessoa interaja com as demais inteligência fluida e a inteligência cristalizada,
e, em alguns casos, faz com que o indivíduo dizendo que a fluída refere-se às habilidades
busque o isolamento, o que acaba por produzir cognitivas que nos capacitam a manipular sím
mal estar e solidão. bolos abstratos, como na matemática; já a inteli-
Outro fator sensorial apresentado pelos mes- gência cristalizada seria o conhecimento arma-
mos autores e que costuma diminuir a eficácia zenado, como o vocabulário, por exemplo. Há,
com a idade é o olfato. Há uma dificuldade por ainda, o fato de que a inteligência cristalizada é
parte do indivíduo em identificar alguns chei- mais alta para os adultos mais velhos, enquanto
ros, o que pode afetar as relações sociais, pois a inteligência fluída é mais alta para os adultos
a insensibilidade para odores leva ao afasta- mais jovens. Por isso, os mais velhos parecem
mento de amigos, familiares e demais pessoas ser mais lentos em tarefas de processamento da
do convívio social. A sensibilidade para o tato informação.
também começa a diminuir com o passar do Sternberg16 salienta que, em geral, as capa
tempo, principalmente por volta dos 50 anos. cidades cognitivas cristalizadas crescem ao
O problema é atribuído a uma diminuição na longo da duração média da vida, ao passo que as
quantidade de receptores e da sensibilidade capacidades cognitivas fluidas parecem crescer
individual produzida pela palma das mãos e até os 20 ou 30 anos, ou possivelmente até os
dedos. Contudo, a sensibilidade tátil não afeta 40 anos, após, começa a diminuir lentamente.
a todas as pessoas e não são todos os aspectos Entre os fatores que contribuem para reduzir as
táteis que diminuem, pois não chega ao ponto capacidades cognitivas e o ritmo de aprendiza-
de interferir na capacidade de localização, nem gem apresentam-se a redução das capacidades
na identificação de objetos. da memória e dos recursos de atenção.
Esses processos perceptivos relacionam-se ao Desde a década de 1940, sabe-se por meio de
desenvolvimento cognitivo por fazerem parte de estudos e aplicação de testes, que a partir dos
uma série de transformações neurofisiológicas 30-40 anos de idade as pessoas vão perdendo
que afetam a forma como o indivíduo percebe e gradativamente sua capacidade mnêmica para
interpreta os estímulos externos. Desse modo, à fatos recentes, ou seja, a capacidade de evocar
medida que as pessoas envelhecem, processam memórias, conservar e reproduzir-las, o que afeta
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Dorneles CL et al.
o aprendizado de fatos novos22. Essa diminuição passadas antes de se fazer julgamentos, a capa-
da capacidade mnemônica também é apontada cidade de se concentrar em determinadas tarefas
por Izquierdo23,24 como fruto das grandes perdas e a utilização de diferentes saberes.
neuronais ocorridas nesse período da vida. En- À medida que ficamos mais velhos, Stern-
tretanto, todos esses declínios não acontecem berg16 defende que nos tornamos mais capazes
somente no período do envelhecimento, mas de interações mais complexas de pensamento
ocorrem desde quando o ser humano começa a e de comportamento, e isso é reflexo das expe
caminhar, pois nesse período o cérebro começa riências e aprendizagens que construímos.
a eliminar os neurônios desnecessários, em uma Kieling et al.25 mencionam que as diferenças
breve velocidade, todos os dias, havendo uma particulares nas trajetórias cognitivas dos indi-
perda constante, até o fim da vida. víduos ao longo dos anos parecem sofrer fortes
As perdas acontecem em todos os indivíduos, influências de fatores ambientais. Diante disso,
sendo que em alguns de maneira mais acentua- o processo de envelhecimento cognitivo torna-se
da e, em outros, mais lenta, dependendo também mais evidente naqueles indivíduos com menor
do estilo de vida da pessoa. Por isso, a forma com capacidade cognitiva, por uma capacidade re-
que o indivíduo encara essas perdas pode fazer duzida de sua estrutura biológica, ou seja, por
diferença em sua vida, pois Izquierdo24 afirma influência do ambiente.
que, nessa fase de envelhecimento, a memória Em virtude dessas mudanças cerebrais que
fica mais lenta e mais seletiva. Nesse aspecto, as pessoas em processo de envelhecimento apre-
é possível utilizar essas características de modo sentam, há um estereótipo de que elas não têm
favorável, tendo em vista que, nesse mesmo mais idade para aprender, porém, Vega et al.20
período, há um aumento nos mecanismos de defendem que, quando se afirma isso, se está li
concentração. mitando os campos sobre os quais ainda podem
Outra explicação para essas perdas mne- ocorrer diversas aprendizagens. As pessoas mais
mônicas, atribuída por Izquierdo24, é o fato de velhas conservam boas capacidades para apren-
que, com o avanço da idade, as pessoas tendem der, principalmente quando são dadas condições
a lembrar, inconscientemente, de fatos mais de motivação e atitudes adequadas. Evidente-
antigos, os quais refletem um período de suas mente, quando comparadas com jovens, o nível
vidas de maiores prazeres e belas recordações. de execução das atividades desses indivíduos
Sobre isso, cabe salientar que lembrar de acon- mais velhos não é considerado tão bom, porém,
tecimentos prazerosos remete às experiências do é suficiente para ser atribuído como normal.
indivíduo, àquilo que ele é e ao que aprendeu Blakemore & Frith21 referem que “o cérebro
no decorrer de sua vida. Só lembramos aquilo adulto é flexível, permite o crescimento de células
que aprendermos, mas se aprendemos é porque novas e o aparecimento de novas conexões [...]
foi significativo24. embora a aquisição de novos conhecimentos se
Para o autor24, a arte de lembrar está asso- torne menos eficiente com a idade, não há ne-
ciada a ato de aprender, não há como separar nhum limite de idade para aprender”. O cérebro
memória de aprendizagem, pois estas trabalham adulto é maleável e, devido à plasticidade, se
juntas e isso nos faz acreditar que a capacidade adapta continuamente a novas circunstâncias.
de aprender nos indivíduos adultos não diminui, Essa capacidade cerebral de mudanças é atri
o que ocorre são alterações na percepção e em buída à plasticidade cerebral, a qual sugere o cé-
recursos perceptivos que podem tornar o indi- rebro estar bem constituído para a aprendizagem
víduo mais lento. Por mais que não demonstrem ao longo da vida e para adaptação ao ambiente.
rapidez no processamento de informações, essa Nesse sentido, a forma como o processo de en-
deficiência pode ser substituída por benefícios, sinar e aprender são conduzidos pode contribuir
como a capacidade de refletir sobre experiências com os processos de ativação do cérebro devido
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A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
à plasticidade, mas, para isso, são necessários uma redução natural dos recursos perceptivos
estímulos. Para Rotta26, a plasticidade cerebral com o aumento da idade que afeta o desenvol-
é dependente dos estímulos ambientais e, além vimento cognitivo e a maneira como o indivíduo
disso, das experiências de vida. Essas interferên- interpreta os fatos. Com isso, apontamos que o
cias influenciam na plasticidade e na aprendi- público da EJA, merece uma atenção especial,
zagem, sendo as alterações plásticas as formas pois engloba educandos em diversas fases da
pelas quais se aprende. vida, que apresentam mudanças diferentes e em
Essa influência que os meios, social e edu- tempos diferentes.
cativo, exercem sobre as capacidades cognitivas Salientamos que a aprendizagem continua
é destacada por Blakemore21 pelas mudanças ocorrendo em diferentes períodos do ciclo vital,
que provoca no cérebro, pois a cada experiência porém, de forma peculiar, sendo que com as
nova há uma readaptação discreta da estrutura pessoas mais velhas, com um tempo e ritmo di
física do nosso cérebro. Isso permite dizer que ferente e isso requer metodologias de trabalho
o cérebro continua plástico e flexível na idade e políticas educacionais focadas para suas ne-
adulta e a aprendizagem, ao longo da vida, tem cessidades e interesses. A escola tem papel fun-
grandes implicações na plasticidade. Essas cons- damental nesse meio, pois faz parte do contexto
tatações reforçam de forma positiva a educação social desse aluno e, em razão disso, precisa
das pessoas adultas, a importância do retorno conhecer a trajetória desse sujeito para tentar
à escolarização e a continuidade dos estudos. compreendê-lo nos seus aspectos biológicos e
sociais, podendo, assim, propiciar uma educação
CONSIDERAÇÕES FINAIS de qualidade que priorize as individualidades.
Ao pensarmos na EJA, verificamos a neces Ao realizarmos essa revisão teórica, percebemos
sidade de compreender as complexidades do a necessidade de mais investimentos que aliem
ser humano, jovem e adulto, pois sabemos que os conhecimentos da educação com as Neuro-
esses sujeitos são diferentes e apresentam es- ciências, visto que os educadores também pre-
truturas biológicas e experiências sociais que cisam conhecer e compreender a influência dos
requer pensá-los em suas individualidades, aspectos biológicos e sociais que repercutem na
principalmente no processo de aprender. Há aprendizagem dos seus educandos.
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Dorneles CL et al.
SUMMARY
Youth and adults education from the perspective of the Neurosciences
This paper intends to discuss the Youth and Adults Education from the
perspective of the Neurosciences. It aims to further understand the pathway
of this educational modality in Brazil and outline a profile of these youth
and adults. From that, we focus on biological and social differences that
are part of this stage of life and, in some occasions, have an impact on their
learning process. We believe education, associated to neurosciences, might
help to understand the cognitive structure of adults and their aging process,
since many learning difficulties found by these adults are attributed to age,
several changes and decreases in their biological structure. However, in this
stage of life, there is also space to major learnings and achievements, and
education professionals must understand these changes so that they can help
to break with the stereotype that people undergoing the aging process are
not able to learn anymore. Therefore, when studying this person biologically
and socially, we can develop more significant pedagogical practices, aimed
at their interests and needs in order to allow their learning and continuity
of the studies.
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A educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências
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