Escola da Exegese
como se não houvesse fora da lei a manifestação do Direito. Vai criticar não só isso, mas
também as consequências disso, como, por exemplo, a supervalorização da figura do
legislador.
O principal nome da Escola Histórica é Savigny, influenciado por Kant (onde ele
vai buscar a autonomia do Direito, isto é, aquela distinção kantiana entre autonomia e
heteronomia, que há a diferenciação entre Direito e moral); Hegel (pois trata da história
como um processo. Ele tenta mostrar que nós somos um produto de um processo
histórico); e Schelling (os institutos jurídicos estão em um processo evolutivo, isto é,
transformados ao longo do tempo. Ex: família).
Métodos de interpretação
isoladamente, como algo que estivesse fechado dentro de um sistema hermético, sem
relação com a sociedade. Hoje nós utilizamos o método sistemático para entender a norma
como parte de um sistema.
Não tem uma pretensão de ser uma escola hermenêutica. Surge como um
movimento de autores que se contrapõem ao que está posto pelo sistema e vai surgir, entre
outras coisas, porque há uma demanda social por uma outra proposta hermenêutica para
o direito. A fase é em meados do século XIX para o final do século XIX, de uma Europa
já muito transformada pela Revolução Industrial, então precisava de um Direito mais
Leonardo David – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1
dinâmico. Então o Movimento de Direito Livre surge com uma proposta de Direito que
se adeque a essa nova dinâmica. Ao se colocar nesse lugar, automaticamente faz uma
crítica ao que lhe antecede. Então faz uma crítica ao legalismo francês (Escola da
Exegese) e ao racionalismo alemão (a Escola Histórica do Direito).
Os fundamentos são:
Outro ponto é que o Movimento do Direito Livre traz à tona essa noção da
jurisprudência e da doutrina como fonte do Direito. Isso porque, até então, a teoria das
fontes apontava, como fonte do Direito, apenas a lei.
OBS: Isso não significa dizer que a regra é ser uma decisão contra legem. É apenas
apresentar a possibilidade de isso ser uma saída para o aplicador do Direito.
É possível decisão contra legem quando o texto da lei não apresenta uma resposta
inequívoca. Ou seja, quando o texto da lei deixa margem para dúvida se ele de fato
responde àquela demanda. Se você não encontra no texto legal uma resposta “certa” para
a questão, é possível, portanto, uma decisão contra legem.
Daí vem outra questão: uma vez que sustenta-se a possibilidade de uma decisão
contra legem, admitindo que o juiz pode atuar como uma espécie de legislador, duas
consequências diretas vão acontecer:
Nasce no contexto das escolas teóricas alemães. Surge como uma crítica ao
Historicismo e ao Movimento do Direito Livre. Já não é mais uma crítica a Exegese, pois
ela já tinha ficado bem mais para trás.
Critica o Movimento do Direito Livre, pois diz que ele vai para o outro extremo.
Apresenta uma proposta hermenêutica sem qualquer limite racional para a decisão
judicial. Então ninguém tem como saber o que é certo e o que é errado.
Os principais elementos:
Falam da lei como um meio para atingir a uma finalidade. Ela não tem uma razão
de ser em si, e sim para algo fora de si. Ou seja, ela não existe porque existe, mas sim
porque é uma norma do Estado, instrumentalizada em uma finalidade que se quer
alcançar.
Definir o sentido de finalidade, a partir de uma tensão entre valores, como justiça
material, e segurança formal. Os autores compreendem que há uma questão posta entre
realizar a justiça material ou resguardar a segurança jurídica. Assim, o aspecto que vai
prevalecer vai depender do caso concreto.
Não é possível interpretar a lei alheia à realidade social. A lei tem que ser sempre
interpretada se fazendo uma conexão com a realidade social;
Kelsen faz uma crítica no sentido de que a jurisprudência dos interesses se vale
do método sociológico. Então Kelsen, dentro do seu purismo, entendia que qualquer
recurso a elemento sociológico, seria uma descaracterização da ciência do direito.
Outra crítica é de que essa orientação a uma finalidade dá uma abertura que pode
levar a um risco de uma decisão política e não jurídica.
Kelsen
Para explicar a sua teoria, Kelsen traz a ideia de uma pirâmide normativa, onde
ele diz que no ápice está a Constituição Federal, abaixo dela as leis escalonadas de forma
hierarquizada. A partir disso, fica a pergunta: se a Constituição assegura a validade de
todas as outras normas, quem assegura a validade da Constituição? Para justificar esse
sistema escalonado, Kelsen diz que acima da Constituição há a norma hipotética
fundamental – um conceito criado por ele – onde ele coloca essa norma de caráter
meramente autorizativo, ou seja, ela não existe escrita, não tem um conteúdo, ela é uma
norma pressuposta e serve apenas para autorizar a própria Constituição enquanto norma
Leonardo David – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1
ápice. Fazendo uma analogia, o que Kelsen traz como o conceito de norma hipotética
fundamental é a legitimidade que nós damos à Constituição. Ou seja, nós reconhecemos
a Constituição e damos legitimidade para ela ser a Carta Maior.
Um dos pontos da teoria pura é a forma como Kelsen define o direito. A distinção
entre o “ser” e o “dever-ser”, onde a norma jurídica faz parte desta última. Então é a ideia
de que a norma traz uma prescrição de conduta, ou seja, ela fala como se deve agir. Se
não agir dessa forma, há previsão para essa antijuridicidade.
Para Kelsen, o Direito deveria estar isolado de qualquer fator externo. Isso porque,
para ele, a ciência do direito demandava, necessariamente, o isolamento disso no objeto
que era a norma jurídica. Então fora da norma, não poderia haver nenhum outro fator a
influenciar no Direito. Então Kelsen negava a influência de fatores econômicos, políticos,
sociológicos, etc., no qual tudo isso só estaria determinando o Direito, se estivesse
incorporado em uma norma jurídica, pois o direito é um ambiente hermeticamente
fechado. Isso se dá pela tentativa de Kelsen de trazer a racionalidade que era típica das
ciências naturais e que se alegava que as ciências humanas não tinham. Para isso, ele
afirma que o objeto dessa ciência é a norma jurídica.
Fazendo uma analogia, o que Kelsen traz como o conceito de norma hipotética
fundamental é a legitimidade que nós damos à Constituição. Ou seja, nós reconhecemos
a Constituição e damos legitimidade para ela ser a Carta Maior.
Interpretação não autêntica: São todos os demais intérpretes que não têm essa
legitimação política para interpretação e aplicação da lei. Ou seja, aqui ele exclui a
doutrina como um intérprete do Direito.
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É importante dizer que para Kelsen o juiz não é alguém axiologicamente neutro.
Ele fala de um juiz imparcial, mas não neutro. A neutralidade é a ausência de qualquer
valoração, enquanto que a imparcialidade é, diante de possibilidades valorativas, se
manter distante e decidir de acordo com o caso concreto. Nesse sentido, é autorizada uma
valoração (na medida em que não há uma ausência de valoração), porque o sistema dá
essa competência ao juiz para decidir e, dentro dessa margem, ele poderá valorar.
Exemplo: Um sujeito assalta alguém e este ato resulta em morte. O juiz, nesse
caso, poderá valorar se isto é um homicídio ou um latrocínio, de acordo com o caso
concreto. Ou seja, ele terá que exercer um juízo de valor a partir dos elementos que estarão
nos autos, levando-o a uma convicção.
Moldura normativa: Kelsen vai sugerir que a norma é uma espécie de moldura,
dentro da qual a gente constrói a interpretação. Ou seja, há uma margem de
discricionariedade do julgador que estará limitado pela moldura da norma. É diferente da
Exegese. Lá, o intérprete tem, praticamente, apenas a opção de acompanhar a literalidade
da norma. Kelsen, por outro lado, parte da premissa de que a norma deixa uma margem
de discricionariedade, ou seja, admite-se mais de uma interpretação possível, dentro dos
limites da norma jurídica.
Portanto, Kelsen admite a analogia, mas não admite uma interpretação contra
legem, pois isso seria uma decisão fora dos limites da moldura estabelecidos pela norma.
Com isso, Kelsen se coloca contrário à tese da única resposta correta. Já que ele
diz que essa moldura normativa nos traz mais de uma possibilidade de interpretação, não
é possível dizer que ele só admite uma única resposta correta.
Pós positivismo
Existe agora os hardcases, aqueles que não conseguem mais ser respondidos a
partir do positivismo. Precisaria de outros parâmetros para resolvê-los, e esse parâmetro
foi a utilização de princípios. O grande debate que se estabelecerá entre positivista vs.
Pós positivistas, que é entre Hart e Dworkin, respectivamente, girará em torno disso. Ou
seja, o primeiro afirma que o princípio não estaria abarcado pelo modelo positivista do
direito, e Dworkin mostrando a necessidade de estar.
Herbert Hart
Ele está no final do positivismo, início do pós positivismo, mas a teoria dele é
considerada positivista. Como qualquer positivista, no início da teoria dele, ele tenta
desenhar o ordenamento jurídico. Nesse cenário, Hart desenha os limites do ordenamento
jurídico concebido por ele. Para ele, o ordenamento que é jurídico não obriga pela
coerção, diferentemente de uma ordem moral, religiosa, etc. Para ele, a pessoa cumpre a
ordem jurídica não pela ameaça, mas sim pois o sujeito está vinculado. Assim, ele
diferença a obrigação da vinculação.
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Ele diz um ordenamento jurídico composto por regras. E o que seriam essas
regras? Ele divide em regras primárias e secundárias. As primárias seriam regras
prescritivas, aquelas que prescrevem condutas (Ex: não mate). As secundárias, por sua
vez, são as que sustentam as regras primárias. Assim, somente aquele ordenamento
jurídico composto por regras que vinculam. Essa ideia de vinculação é a descaracterização
daquilo que Kelsen tinha posto, como um direito meramente coercitivo. Ele está tentando
mostrar que o que conecta o sujeito ao direito não é a ameaça, mas sim o sentimento de
vinculação.
Quando um juiz, por exemplo, faz uma decisão, a sentença que está condenando
ou absolvendo é uma regra primária. Mas a regra do Código de Processo Civil que fala
que o juiz é competente para fazer isso, é uma regra secundária. Então a regra secundária
é o principal fator para a vinculação. Hart identifica dentro desse grupo de regras
secundárias, a regra de reconhecimento, a mais importante delas. Ele fala que se olhar a
regra de reconhecimento como um ponto interno, dá para fazer um paralelo com a norma
hipotética fundamental de Kelsen. A diferença entre elas é que na regra de
reconhecimento o que se está em jogo é a legitimidade e não a legalidade, como na teoria
kelseniana. Isso é justamente o que vincula e não obriga. Ou seja, o sujeito reconhece que
é importante cumprir essa norma, para a composição harmônica do sistema, e não por
medo da sanção.
Hart diz que quando se está compondo o ordenamento, as regras têm que ser as
mais genéricas possíveis, pois precisam contemplar o máximo de situações possíveis. Ele
fala que as regras têm uma textura aberta, que ele chama de zona de penumbra. Essa zona
deixa um ar de dúvida ao juiz, se é essa regra que ele vai usar no caso concreto, ou não.
Assim, permite uma maior discricionariedade do juiz para a solução dos hardcases. Isto
é, o juiz tem uma margem de interpretação, porque o próprio direito deixa essa
possibilidade de criatividade do julgador na decisão do caso. Então, na visão de Hart, é a
partir dessa zona de penumbra, dessa textura aberta da norma, que nasce a
discricionariedade do juiz. Essa textura aberta é necessária para que o direito possa regrar
a sociedade.
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Para Hart, o juiz age discricionariamente baseado em critérios meta jurídicos. Por
exemplo: usar estatísticas para decidir esses casos. É justamente isso que Dworkin vem
criticar, pois ele fala que a decisão não deveria ser baseada em critérios meta jurídicos,
mas sim em princípios, que está dentro do direito. Hart não admite o princípio, pois o
princípio, enquanto entendido como norma, é a afirmação de um valor jurídico. E os
positivistas entendem que o direito é uma coisa e moral é outra, isto é, afirmam que o
debate valorativo não é um debate do direito, mas sim de outro ramo.
Portanto, a vinculação dos critérios meta jurídicos é justamente baseada nas regras
secundárias, ou seja, naquela regra de reconhecimento que vincula, que legitima, que
imuniza tal decisão do juiz, pois lhe atribui competência para tanto.
Críticas de Dworkin
O critério que Dworkin usa dentro do direito são os princípios. Então Dworkin
enxerga o implícito e o explícito dentro do ordenamento, diferentemente de Hart, que só
enxerga o explícito, e os princípios podem justificar a regra. Ele diz que esses princípios
têm força cogente e são capazes de decidir. Assim, a escolha entre uma regra ou outra
não pode ser discricionária, ou baseada em critérios meta jurídicos, mas sim levando em
conta os princípios que regem aquele caso concreto.
Ronald Dworkin
Ele não resume o direito ao que está escrito em lei, ou seja, fatores explícitos no
ordenamento. Para Dworkin, o direito transcende aquilo que está escrito em lei, e leva em
consideração, inclusive, a moralidade pública. Nesse sentido, ele entende que no entorno
desse direito escrito, existe um direito não escrito que justifica a própria existência do
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direito positivado, que é, justamente, a moralidade pública, que é extraída dos valores
sociais.
Por fim, define o direito como integridade, isto é, o papel principal do direito é
produzir a integralidade da sociedade através desses princípios de moralidade pública que
são relevantes à comunidade.
Ele vai dizer que as regras funcionam aos moldes do tudo ou nada. Ou seja, ou ela
é aplicada ou não é aplicada. Assim, se a regra contém uma exceção, ela deverá estar
prevista na regra, pois uma vez que a regra tem um caráter prescritivo e tem uma exceção,
é necessário que diga expressamente qual é essa exceção.
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Os princípios, Dworkin diz que eles têm uma dimensão de peso ou importância e
que devem ser observados, pois é uma exigência de justiça ou equidade. Isto é, o princípio
carrega o conteúdo valorativo do ordenamento jurídico. É um conjunto de valores do
ordenamento jurídico.
Por fim, ele caracteriza as normas políticas. Dworkin diz que nesse conjunto de
normas, existem as normas que servem para afirmar objetivos ou metas a serem atingidas
pelo Estado.
Com relação a Hart, ele discorda da ideia da textura aberta das normas no sentido
de que isso seja motivo para a afirmação de uma discricionariedade total do juiz. Ou seja,
ele não nega a existência dessa textura aberta, mas discorda da fundamentação de Hart
quanto a esse fator.
Ele diz que além do sentido forte da discricionariedade, existem dois sentidos
fracos dela:
Então o que ele traz com esses três conceitos é estabelecer que ele não é contrário
à discricionariedade, mas sim contrário a ela em seu sentido forte. Assim, entende que a
discricionariedade perde força por duas razões: primeiro pela exigência da capacidade de
julgar do juiz e, segundo, porque em algum momento essa decisão se tornará definitiva.
Dworkin não é nem a favor do judiciário passivo, nem deseja um juiz “boca da
lei” e nem se coloca favorável a um ativismo judicial sem limites, porque entende ele que
o judiciário é um dos poderes do Estado e precisa conviver em harmonia com os demais.
Entende, também, que uma comunidade deve ser governada por representantes eleitos e
os juízes não são eleitos.
Segundo ponto é de que, ao atuar de maneira ativista, o juiz acaba criando, para o
caso concreto, uma norma que quem vai responder não violou aquela norma. Ou seja, a
pessoa responderá por uma coisa que, talvez, se ela tivesse conhecimento da norma, ela
não teria realizado a conduta.
Por fim, Dworkin diz que esse ativismo tem que estar limitado pela presença de
princípios e pela própria convicção de moralidade pública da comunidade.
Leonardo David – Hermenêutica – Cláudia Albagli – 2019.1
Isso deriva na tese da resposta correta de Dworkin. Então ele defende essa ideia
de que há uma resposta correta a ser dada pelo juiz e de que ele não age de maneira
discricionária absoluta, pois ele deve se basear em uma regra ou princípio.
Dworkin não fala da ponderação. Quem vai falar disso é Alexy. Mas Dworkin,
embora não fale de ponderação, ele fala da necessidade do juiz, diante de duas respostas
possíveis, escolher aquela que melhor se adeque à comunidade e ao caso concreto.
Críticas à Dworkin
Em segundo ponto, o fato de que Dworkin fica entre uma hermenêutica cientifica
e filosófica. Tudo levaria a crer que ele é um hermeneuta filosófico. Só que, ao trazer a
figura do juiz Hércules e descrever etapas que devem ser cumpridas por esse juiz, ele dá
a entender que traz uma hermenêutica metodológica.
Por fim, uma crítica ao excesso de dualismo, onde a teoria dele seria
excessivamente ideal e não teria uma realização prática.
Robert Alexy
A base da teoria alexyniana não se distingue muito do que Dworkin traz. Então a
grande questão é como preservar elementos do positivismo normativista agregando ao
direito elementos valorativos, dentro daquela ideia de uma constatação de que não era
mais possível o direito simplesmente ignorar a dimensão valorativa, justamente porque o
que se percebeu é que o fato de se distinguir direito e moral e criar um “muro” entre eles,
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foi o caminho para justificar o próprio regime nazista. A proposta que vem é uma teoria
que permita manter elementos do positivismo jurídico, porque o direito não vai se deixar
de valer de normas, mas agregando a dimensão axiológica, a preocupação da realização
da justiça.
Alexy vai muito pelo caminho de realizar isso a partir do discurso jurídico. Sua
visão é de que o modo para essa associação entre critérios de validade formal e critérios
de correção moral de justiça é a partir do discurso jurídico, pois é uma espécie do discurso
prático geral. Em outras palavras, nós nos comunicamos através da fala. O homem é um
ser discursivo e, entre os vários discursos produzidos pelos seres humanos, está o discurso
jurídico, que é um caso especial desse discurso geral.
A justificativa dele é que quando o discurso jurídico não está pronto para resolver
determinadas demandas, ele precisa ir buscar argumentos no discurso geral. Ele precisa
se abrir para o discurso prático geral. Então a racionalidade do discurso jurídico precisa
de seu complemento no discurso prático geral, justamente para encontrar esses
fundamentos axiológicos.
Gustav Radbruch traz a ideia das injustiças extremas. Nesse sentido, ele fala que
é muito difícil fixar uma ideia de justiça. Mas a ideia de injustiça é mais fácil de ser
identificada, mais ainda quando se fala em injustiças extremas, usando o exemplo do
Nazismo. Nesse sentido, é muito mais fácil conseguir a unanimidade. Então Radbruch
vem em um caminho inverso, no sentido de que é preciso que o Direito evite as injustiças
extremas. Isto é, já que não podemos evitar a injustiça, nem fixar uma ideia universal de
justiça, vamos trabalhar então o sentido de injustiça extrema para evitar que o Direito
permita isso. Daí Alexy vai dizer que no âmbito da justificação interna mantém-se os
elementos de um direito positivista (normativista), e para a justificação externa, vem a
questão pós-positivista, que é a exigência dos princípios.
Alexy vai dizer qual é o dilema do pós-positivismo. Diz que a grande questão é
como manter as conquistas do positivismo, estabelecendo, ao mesmo tempo, relação com
os princípios morais e éticos que são importantes para a garantia do ideal de justiça na
prática das decisões jurídicas. A dificuldade de manter a tradição normativista, com a
integralização dos princípios, sem cair no jusnaturalismo.
Alexy traz o conceito de razão prática para a sua teoria. Isso é importante, pois
esse termo sempre aparece na filosofia do direito e na hermenêutica. Aristóteles falava de
uma razão prática e Kant falava de razão prática. Isso reaparece em Alexy, após um
desaparecimento. A importância disso é que um dos pontos do pós-positivismo é priorizar
a solução das situações concretas. Então não adianta nada ficar se prendendo na ideia de
que direito é norma e não conseguir responder a determinadas demandas. É preciso
construir uma razão voltada para a prática, voltada para a solução de situações que estão
surgindo. Portanto, é preciso de um Direito que se prenda à razão prática.
Princípios x Regras
Alexy não usa o termo “política” de Dworkin. Concorda com Dworkin que o
princípio é um tipo normativo, mas diz que a diferença entre uma regra e um princípio
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não é uma diferença de importância, mas sim de qualidade. Isso porque Dworkin dizia
que o princípio tinha uma dimensão de peso e importância. Alexy fala que há qualidade
distintas entre regras e princípios e não uma diferença de importância. Triando isso, a
definição deles para regras e princípios é muito semelhante.
Ele fala que regras são comandos de definição, pois elas contêm determinações,
ou seja, uma conduta a ser realizada, podendo ser satisfeitas ou não. Em caso de conflito
entre elas, o critério de solução é sempre a invalidação de uma das regras.
No caso dos princípios, eles são mandamentos de otimização, ou seja, são normas
que dizem que algo deve ser realizado na maior medida possível dentro das possibilidades
fáticas e jurídicas existentes. Em outras palavras, a proposta do princípio é otimizar o
valor dentro do caso concreto. Ou seja, só há como saber se o princípio está sendo melhor
otimizado diante do caso concreto. Ademais, traz a técnica da ponderação. Não é algo
criada por ele, pois a jurisprudência dos interesses já falava disso, mas ele trabalha isso
junto com a ideia de proporcionalidade. Ou seja, ele utiliza a proporcionalidade como
uma regra para a ponderação.
Ele fala que se estamos vivendo o tempo dos Estados Constitucionais, é preciso
se observar que essas Constituições demandam decisões legitimas, isto é, que tenham o
respaldo da sociedade, e isso só é possível a partir do momento em que haja espaço para
a construção plural de argumentos.
Por fim, Alexy discorda de Dworkin, pois não entende que haja uma resposta
correta, acha que é um erro falar disso, porque é muito difícil para o direito controlar a
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própria ideia de correção. Ele fala que a decisão racional é que seria a decisão correta. A
questão não é a correção da decisão, mas sim a racionalidade da decisão. Ou seja, não há
uma única decisão correta, mas sim uma decisão mais racional diante daquele caso
concreto, das circunstâncias e argumentos. E o que é uma decisão racional? É uma decisão
que é decorrência do cumprimento de regras procedimentais.
Por fim, a terceira crítica, é o fato de essa teoria de Alexy ser aplicada no
ordenamento brasileiro sem a consideração das peculiaridades locais quando comparado
com a Alemanha. Temos aqui no Brasil o hábito de importar teorias, esquecendo que elas
são pensadas para uma aplicação do Direito em uma sociedade totalmente diferente da
nossa. O que se vê é a teoria de Alexy sendo usada em larga escala pelo judiciário
brasileiro, muitas vezes sem relativizar aspectos sociais e econômicos que são muito
diferentes da realidade alemã.