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Este documento resume as principais características da Lei de Organizações Criminosas no Brasil. Ela define organizações criminosas como grupos de quatro ou mais pessoas que se associam para cometer crimes graves. A lei também permite novas técnicas de investigação como delação premiada, gravação ambiental e monitoramento de comunicações para combater essas organizações.
Deskripsi Asli:
Legislação Penal Especial - Lei de Organização Criminosa
Este documento resume as principais características da Lei de Organizações Criminosas no Brasil. Ela define organizações criminosas como grupos de quatro ou mais pessoas que se associam para cometer crimes graves. A lei também permite novas técnicas de investigação como delação premiada, gravação ambiental e monitoramento de comunicações para combater essas organizações.
Este documento resume as principais características da Lei de Organizações Criminosas no Brasil. Ela define organizações criminosas como grupos de quatro ou mais pessoas que se associam para cometer crimes graves. A lei também permite novas técnicas de investigação como delação premiada, gravação ambiental e monitoramento de comunicações para combater essas organizações.
1. Desde o ponto de vista da política criminal, organização criminosa é uma
atividade praticada em grupo, mais ou menos estável, e ordenada para a prática de delitos graves. A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional definiu organização criminosa como “um grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o fim de cometer crimes graves, com a intenção de obter benefício econômico ou moral”. Levando em conta esses conceitos é possível estabelecer que, para a existência de uma organização criminosa é preciso a concorrência dos seguintes elementos: atuação conjunta de mais de duas pessoas; estrutura organizacional; estabilidade temporal; atuação concertada; finalidade de cometer infrações graves; intenção de obter benefício econômico ou moral. 2. Em processos ou procedimentos que tenham como objeto crimes praticados por organizações criminosas, a lei permitiu (L 12.694/13) a formação de um colegiado de juízes para a prática de qualquer ato processual (decretação de prisão, medidas assecuratórias, prolação de sentenças, concessão de liberdade condicional, transferência de preso para penitenciária de segurança máxima, etc.). O objetivo da lei seria dar proteção a integridade física do juiz natural do caso, que é também quem pode decidir instaurar o referido colegiado, que será formado por ele e outros dois juízes escolhidos por sorteio eletrônico. As decisões do colegiado serão devidamente firmadas e fundamentadas por todos os integrantes, mas publicadas sem qualquer referência a voto divergente de algum dos membros. A medida passa longe da instituição, que teve lugar em outros países, da figura do juiz sem rosto ou juiz anônimo. O objetivo, no entanto, é o mesmo: proteger a figura do magistrado de atos de vingança das organizações criminosas. A nossa lei visou fracionar a responsabilidade pelas decisões judiciais em primeiro grau quando essas envolvem crimes praticados por organizações criminosas. 3. Mais recentemente, em 2013, surgiu nova legislação sobre organizações criminosas, a qual sucedeu duas outras leis que versaram sobre o tema, uma de 1995 e a outra de 2001. Trata-se da lei 12.850/2013. Essa lei estabeleceu organização criminosa como “a associação de quatro ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a quatro anos, ou que sejam de caráter transnacional”. A definição de organização criminosa que aparece na lei citada no tópico anterior (L L 12.694/13) que versa sobre a formação de um colegiado de juízes, é ligeiramente diferente dessa conceituação que acabamos de mencionar (caracteriza organização criminosa com a associação de três ou mais pessoas e que praticam crimes apenados com pena máxima igual ou superior a quatro anos), mas se aplica apenas àquela lei. 4. A nova lei de organizações criminosas se aplica, além das organizações criminosas no sentido estrito e os crimes praticados por elas, também (a) às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no país, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente e (b) às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos (regulados pela lei 13.260/16). 5. Existia, antes da nova lei, uma confusão entre organização criminosa e o crime de associação criminosa. Essa confusão foi desfeita pela nova lei que definiu o crime de associação criminosa (art. 24), deixando de existir os crimes de quadrilha ou bando. 6. A doutrina faz uma distinção entre crime organizado por natureza (a própria estrutura orgânica das organizações criminosas) e crime organizado por extensão (os crimes efetivamente praticados por essas estruturas criminosas). 7. No art. 3, a LOC trata da investigação e dos meios de obtenção de prova permitidos para repressão penal das organizações criminosas. Trataremos desses meios de prova nos próximos tópicos. 8. Colaboração premiada: a delação ou colaboração pressupõe que o delator/colaborador tenha participado da empreitada criminosa. Se não participou, é testemunha e não delator. A delação pode favorecer o delator com diminuição da pena (em até 2/3), substituição por restritiva de direitos ou mesmo perdão judicial. Para isso a delação deve produzir pelo menos um entre esse conjunto de resultados que a lei elenca: a) a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; b) a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; c) a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; d) a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; e) a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. A depender do resultado da colaboração, o MP e o delegado podem requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao delator, ainda que esse benefício não conste da proposta inicial. Durante as medidas de colaboração, o prazo para oferecimento da denúncia relativamente ao colaborador pode ser suspenso por até seis meses, prorrogáveis uma vez, suspendo-se também o prazo prescricional. A colaboração pode ocorrer após a sentença, o que permite a redução da pena até a metade e progressão de regime, mesmo se os critérios gerais para essa progressão não estiverem presentes. As negociações para o acordo de colaboração são realizadas entre o delegado (ou o MP), o investigado e seu defensor: o juiz não participa dessa fase; atua posteriormente realizando o controle judicial do acordo celebrado, homologando-o ou não. Apenas após homologado o acordo, o colaborador poderá ser ouvido pelo delegado ou membro do MP. As partes podem retratar-se da proposta, e nesse caso as provas autoincriminatórias produzidas pelo delator não poderão ser utilizadas em seu desfavor, mas podem ser utilizadas em desfavor dos outros coréus. O colaborador deve estar sempre assistido pelo seu defensor. A lei prevê ainda que nenhuma sentença condenatória pode ser proferida apenas com base nas declarações de agente colaborador e elenca (art. 5º) alguns direitos e prerrogativas do colaborador, visando sobretudo a garantia de sua segurança. Até o recebimento da denúncia, o acordo de colaboração é sigiloso. 9. Captação de sinais eletromagnéticos, ópticos e acústicos. A captação ambiental de sinais foi introduzida em nosso ordenamento em 2001 (L 10.217/01). É basicamente a captação de uma conversa alheia (não telefônica) valendo-se de qualquer meio de gravação. Se nenhum dos que participam da conversa sabem da gravação, fala-se em interceptação ambiental; se um deles tem conhecimento, fala-se em captação ambiental. Segundo Habib, o que a LOC permite é a captação ambiental, não a interceptação. Exige autorização judicial. 10. Ação controlada, que consiste em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada pela organização criminosa. Para tanto, é preciso manter essa ação sob observação e acompanhamento, de modo a que a intervenção se realize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. Trata-se de situação excepcional de diferimento do flagrante. O retardamento da intervenção deve ser comunicado ao juiz competente, e essa comunicação deve ser distribuída de maneira sigilosa. Até que a diligência seja encerrada, o acesso aos autos ficará restrito ao delegado, juiz e membro do MP. Ao fim da diligência, será elaborado termo circunstanciado sobre a ação controlada. Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime. A ação vigiada tem um instituto irmão previsto na lei de drogas: a entrega vigiada, que permite “a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível” (art. 53, II, L 11.343/06). 11. Acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais: sem autorização judicial o delegado ou membro do MP podem ter acesso apenas aos dados cadastrais do investigado que informem sua qualificação pessoal, filiação e endereço mantidos na Justiça Eleitoral, empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de cartão de crédito. Existe alguma questionamento sobre a constitucionalidade do dispositivo, ao argumento que violação do direito à intimidade exigiria a imposição do acesso à cláusula de reserva de jurisdição. Entendimento de boa parte da doutrina é que acesso apenas aos dados cadastrais não configura violação à intimidade, razão pela qual o dispositivo não viola a Constituição. Empresas de transporte devem manter por cinco anos bancos de dados com dados de bancos de reservas e registros de viagens, dados que também podem ser acessados por delegados e membros do MP. Empresas de telefonia fixa e móvel devem manter, pelo mesmo prazo, banco de dados com registros de identificação dos números dos terminais de origem e de destino das ligações telefônicas internacionais, interurbanas e locais. 12. Interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; a interceptação é tratada em legislação específica (L 9296/96). Sempre exige autorização judicial. 13. Afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; por força do direito constitucional à intimidade, o afastamento dos sigilos em questão também exige autorização judicial. 14. Infiltração, por policiais, em atividade de investigação; agentes policiais podem se infiltrar em tarefas de investigação, dependendo, para tanto, de autorização judicial circunstanciada, motivada e sigilosa. A infiltração será admitida se houver indícios de infrações penais praticadas por organizações criminosas e as provas não puderem ser produzidas por outro meio. As infiltrações podem ser autorizadas pelo prazo de seis meses, sem prejuízo de eventuais renovações. Concluída a diligência, o delegado de lavrar relatório circunstanciado que será encaminhado ao juiz competente. O requerimento do delegado ou a representação do MP dirigida ao juiz para permissão da infiltração devem conter o maior número de elementos possíveis (demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração). O agente infiltrado deve atuar de forma proporcional com a finalidade da investigação e responderá pelos excessos praticados. Caso cometa crime e for verificado que era inexigível conduta diversa, tal delito não será punível. É o caso de infrações cometidas visando obter a confiança dos membros da organização investigada. Obviamente, as infrações cometidas devem ser proporcionais aos objetivos investigatórios (não seria razoável, por exemplo, admitir que o agente infiltrado cometa um homicídio). 15. Cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal; trata-se de natural colaboração entre orgãos públicos. 16. A LOC prevê alguns crimes. No art. 2º o crime de “promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa”. O crime é apenado com reclusão de três a oito anos e multa e na mesma pena incorre quem “impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.” Os parágrafos do artigo tratam de causas de aumento de pena e de agravamento dela, sobre a possibilidade de afastamento cautelar do cargo no caso de funcionário público sobre o qual recai indícios suficientes de integrar a organização criminosa e a possibilidade de perda do cargo em decorrência de eventual condenação, além da perda suspensão dos direitos políticos. 17. Dos artigos 18 ao 21, a lei prevê crimes relacionados aos processos de investigação e obtenção de provas que ela mesma regula. São eles: a) Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua prévia autorização por escrito; b) Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas; c) Descumprir determinação de sigilo das investigações que envolvam a ação controlada e a infiltração de agentes; d) Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, no curso de investigação ou do processo. 18. A lei dá ainda nova redação ao crime de associação criminosa: “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes” (art. 24).