Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código,
ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de
Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º,
e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);
V - os processos por crimes de imprensa.
Interpretação da lei.
a) Quanto à origem: autêntica, quando dada a interpretação na mesma lei; doutrinária e
jurisprudencial;
b) Quanto ao modo: gramatical, teleológica, histórica e sistemática.
c) Quanto ao resultado: declarativa, restritiva, extensiva.
INQUÉRITO POLICIAL
Conceito: conjunto de atos de télos investigatório instaurados em virtude de uma infração
penal. Destinatário imediato é MP; mediato, o Juiz.
Inquérito policial e termo circunstanciado: crimes com pena inferior a 2 anos serão
objeto de inquérito policial; menos disso, é termo circunstanciado. Caso seja violência
contra mulher, ainda com pena inferior a 2 anos, ter-se-á inquérito policial.
o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em contraditório
judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos
colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas
b) Apreender objetos que tiverem relação com o crime, após liberação pelos
peritos: salvo se não mais interessarem como prova, deverão tais objetos
acompanharem o inquérito (art. 11, CPP). O que definirá a utilidade dos objetos é a
perícia criminal (cf. art. 175, CPP).
Pode também: nos crimes cuja pena não for superior a 4 anos poderá o delegado de
polícia arbitrar fiança (cf. art. 322, CPP); lavrar termo circunstanciado; representar acerca de
prisão temporária ou de interceptação telefônica.
Conclusão do inquérito: ao fim, a autoridade policial fará um relatório que será entregue
ao juiz.
AÇÃO PENAL
a) Princípio do juiz natural (art. 5º, inc. LIII, CF): conforme referido princípio, os
juizes ad hoc não são permitidos, ou seja, o juiz que irá julgar deve estar legalmente
estabelecido antes do crime.
b) Princípio do promotor natural (art. 5, inc. LIII, CF): semelhante ao princípio do juiz
natural, aplicando-se, entretanto, ao promotor.
c) Princípio do devido processo legal (art. 5º, LIV, CF): o procedimento a que o
acusado estará submetido deve estar contido no ordenamento jurídico.
d) Princípio da vedação de prova ilícita (art. 5º, inc. LVI, CF): as provas obtidas de
maneira ilícita não são permitidas.
e) Princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CF): até o trânsito em julgado
da sentença penal, ninguém será considerado culpado.
f) Princípio do contraditório e da ampla defesa (art. 5º, LV, CF): deve ser dado ao
réu a possibilidade do réu de rebater a acusação que se lhe é feita por meio da
ampla defesa.
g) Princípio da proibição da autoincriminação: o acusado não poderá ser
constrangido pelo Estado a produzir provas contra si próprio.
h) Princípio da publicidade (art. 5º, LX, CF): salvo quando a intimidade ou o interesse
social exigirem, os atos processuais serão públicos. E ntretanto, pode o JUiz de ofício
ou a requerimento das partes ou MP, decretar o segredo de justiça.
i) Princípio da razoável duração do processo (art. 5, LXXVIII, CF): a prestação
jurisdicional deve se dar em tempo adequado.
j) Princípio da motivação das decisões judiciais: as decisões proferidas pelo Poder
Judiciário devem ser fundamentadas, dado que vivemos em Estado Democrático de
Direito.
k) Princípio da imparcialidade do juiz: o Juiz deve ser imparcial; não o sendo,
poder-se-á arguir suspeição ou impedimento.
l) Princípio do duplo grau de jurisdição: em conformidade com tal princípio, as
partes têm o direito de verem sua questão novamente apreciada pelo Poder
Judiciário.
m) Princípio da iniciativa das partes: o Poder Judiciário é inerte. Por conseguinte, não
pode este dar início à Ação Penal, cabendo tal prerrogativas ao ofendido, seus
representantes ou ao Ministério Público.
n) Princípio da intranscendência: significa que a pena não passará da pessoa do
apenado.
o) Princípio da verdade real: no processo penal, o juiz não pode adotar presunções
processuais, devendo, ao contrário, busca a verdade como de fato ela ocorreu. Há,
entretanto, limitações, como é o caso da sentença que transita em julgado e, após,
surgem evidências que contradizem o que foi decidido nela. Nesse caso, não se
poderá fazer a revisão da decisão, salvo se para beneficiar o réu.
p) Princípio da oficiosidade ou impulso oficial: assim que o poder judiciário é
retirado de sua inércia, caberá a ele passar o processo para suas fases seguintes.
q) Princípio da correlação: referido princípio informa que a sentença deve manter
direta correlação com a denúncia ou queixa, não podendo extrapolá-la.
r) Princípio da identidade física do juiz: informa-nos tal princípio que o juiz presidiu a
dilação probatória deve ser o mesmo que irá proferir a sentença
s) Princípio do favor do rei ou in dubio pro reo: h avendo dúvidas na hora de
sentenciar, o juiz deve tomar a posição favorável ao réu.
RETRATAÇÃO
Conforme dispõe o art. 25 do CPP, até o oferecimento da denúncia a vítima pode retirar a
representação, impossibilitando o oferecimento da denúncia.
LEI MARIA DA PENHA
Em sendo o caso de incidência da lei maria da penha, a vítima poderá se retratar, todavia,
tal retratação será informada ao Ministério Público que comparecerá em audiência a fim de
se certificar que a manifestação de vontade da vítima é livre e espontânea. Sendo de fato
livre e espontânea, tal manifestação de vontade será reduzida a termo.
AÇÃO PÚBLICA CONDICIONADA À REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA
A requisição do Ministro é condição de procedibilidade. Não obstante, tal requisição não
vincula o Ministério Público, que pode solicitar o arquivamento do inquérito. Não há prazo
para tal requisição, podendo ser feito a qualquer tempo, desde que antes da prescrição.
OFERECIMENTO DA DENÚNCIA
Estando o indiciado preso, o prazo para oferecimento da denúncia é de 5 dias; se estiver
solto, de 15 dias, contados a partir do recebimento do inquérito pelo Ministério Público (cf.
art. 46, CPP). Se porventura o inquérito retornar à delegacia para a realização de novas
diligências, o prazo começará a contar novamente quando os autos voltarem. O MP pode
oferecer a denúncia após referidos prazos, entretanto, transcorrido o prazo in albis, o réu
poderá requerer sua libertação, ao passo que vítima poderá ingressar com queixa-crime
subsidiária.
REQUISITOS DA DENÚNCIA
Conforme elencado pelo artigo 41 do Código de Processo Penal, os requisitos para o
oferecimento da denúncia pelo Ministério Público:
a) A exposição do fato criminoso com todas as suas circunstâncias: cuida-se de
um breve relato do crime cometido, devendo conter: todas as elementares do tipo
penal e a maneira como ocorreu no caso concreto; as circunstâncias que possam
implicar alteração da pena; as circunstâncias de tempo, local e modo de execução
b) Qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa
identificá-lo: regra geral, o indiciado é qualificado no inquérito, razão pela qual o MP
pode, na denúncia, apenas mencionar como “já qualificado nos autos”.
c) Classificação do crime: ou seja, deve mencionar o artigo infringido (ex: art. 121,
CP). Caso surjam novas provas, tal classificação pode ser alterado (cf. art. 384,
CPP). É com base na classificação constante na denúncia que se averigua a
possibilidade ou não da suspensão condicional do processo, bem como de prisão
preventiva.
d) Rol de testemunhas: caso não sejam arroladas as testemunhas, ter-se-á preclusão;
pode o mp, entretanto, solicitar que o juiz ouça testemunhas de juízo (art. 209, cpp)
podendo tal pedido ser indeferido.
→ A denúncia tem forma de petição, tendo, por conseguinte, os mesmo requisitos
(endereço, exposição do fato e de direito e requerimentos).
Recebimento da denúncia
→ A decisão que recebe a denúncia, e que deve ser fundamentada, tem natureza
interlocutória simples. É ela quem dá início à ação penal.
→ A denúncia pode ser aditada a qualquer tempo, conforme dispõe o art. 569 do Código de
Processo Penal. Tal aditamento pode, inclusive, incluir outro réu.
→ Contra decisão que rejeita a denúncia é cabível recurso em sentido estrito (cf. art. 581,
inc. I, CPP).
→ O juiz pode fixar valor mínimo para reparação dos danos causados (art. 387, IV, CPP).
JURISDIÇÃO
Princípios:
a) Juiz natural: significa dizer que o juiz que julgará o caso deve ter sua competência
definida antes da ocorrência do crime;
b) Investidura: só aquele regularmente investido do cargo pode julgar.
c) Indeclinabilidade: O juiz não pode deixar de julgar.
d) Indelegabilidade: o juiz não pode delegar a competência para julgar; caso contrário,
ter-se-ia ofensa ao princípio do juiz natural.
e) Inércia: o juiz só inicia a ação penal se provocado pelas partes.
f) Irrecusabilidade: salvo caso de suspeição, impedimento ou incompetência, as
partes não podem recusar o juiz.
Classificação da jurisdição:
a) Quanto à matéria: civil, penal, trabalhista et cetera.
b) Quanto ao objeto: contenciosa, quando há litígio; voluntária, quando não houver.
c) Quanto à graduação: inferior, quando estiver na primeira instância; superior, quando
estiver julgando recursos.
d) Quanto à função: comum (estadual ou federal). Especial (militar ou eleitoral).
Justiça Federal (art. 109, IV, V, V-A, Vi, VII, IX, X, CF).
A Justiça Federal é competente para julgar
a) Crimes políticos: crimes que, além da motivação e objetivos políticas, que firam os
bens jurídicos elencados na Lei de Segurança Nacional, quais sejam: integridade
territorial, soberania nacional, regime representativo e democrático, a Federação e o
Estado de Direito ou a pessoa dos chefes dos poderes da União.
b) ■Infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da
União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as
contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral: ou seja, crimes contra bens e serviços da união.
c) Crimes previstos em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a
execução no país, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro ou
reciprocamente (art. 109, V): caso comum é o de tráfico internacional de drogas --
se nacional, a competência é da justiça estadual (art. 70 da lei de drogas). Ademais,
os crimes de tráfico internacional de pessoas para fim de exploração sexual (231,
CP) e de envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das
formalidades legais ou com fim de obter lucro (art. 239 da lei 8069/90) são de
competência da Justiça Federal
d) Casos de grave violação de direitos humanos, se houver necessidade de
assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados
internacionais sobre direitos humanos dos quais o Brasil seja parte (art. 109,
V-A): deve o fato ser muito grave e, além disso, deve haver indícios de que a justiça
estadual não está apurando o fato apropriadamente.
e) Crimes contra a organização do trabalho (art. 109, VI, 1ª parte): o direito atingido
em tais crimes não é do trabalhador individual, mas de um todo ou grande número
de trabalhadores. O crime de redução à condição análoga à de escravo é, também,
de competência da justiça federal.
f) ■ Crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômica nos casos
determinados por lei (art. 109, VI, 2ª parte): O sistema financeiro ou a ordem
devem ser atingidos. Assim, o crime de estelionato, ainda que por meio do sistema
financeiro, é de competência da justiça estadual.
g) Habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o
constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente
sujeitos a outra jurisdição (art. 109, VII): autoexplicativo.
h) Crimes cometidos a bordo de navio ou aeronave, ressalvada a competência da
Justiça Militar (art. 109, IX): o texto menciona “navio”, não alcançando, por
conseguinte, as pequenas embarcações. Além disso, não importa, nesse caso, a
espécie de infração cometida e sim o local.
PREVENÇÃO E DISTRIBUIÇÃO:
Hipóteses em que a competência será definida pela prevenção:
1) Quando há mais de uma vara para a qual o inquérito pode ser direcionado, porém, antes
da distribuição, algum juiz pratica ato relevante relacionado ao delito investigado, fica ele
prevento. Neste caso, a prevenção define o juízo, a vara onde a ação penal tramitará (art.
83 do CPP).
2) Quando for cometido crime permanente no território de duas ou mais comarcas (art. 71
do CPP).
3) Quando for cometido crime continuado no território de duas ou mais comarcas (art. 71
do CPP).
4) Infração praticada em local incerto entre duas ou mais comarcas (art. 70, § 3º, do CPP).
5) Infração cometida em lugar que não se tem certeza se pertence a uma ou outra comarca
(art. 70, § 3º, do CPP).
6) Se for desconhecido o lugar da infração e o réu tiver duas residências (art. 72, § 1º, do
CPP).
7) No caso de conexão quando não houver foro prevalente, por serem os delitos da mesma
categoria de jurisdição e tiverem as mesmas penas (art. 78, II, c, do CPP).
CONEXÃO E CONTINÊNCIA
Hipóteses de conexão:
Para que haja conexão, é necessário que haja duas ou mais infrações penais.
Conexão intersubjetiva:
a) Por simultaneidade: nessa hipótese, várias pessoas cometem duas ou mais
infrações penais sem que haja, no entanto, prévio acordo entre as os agentes
criminosos.
b) Por concurso: semelhante ao item a, havendo, entretanto, prévio desígnio dos
agentes criminosos.
c) Por reciprocidade: quando os crimes são cometidos por duas ou mais pessoas uns
contra os outros
Conexão objetiva
a) Teleológica: quando uma infração penal é praticada para facilitar outra. Ex: matar
segurança para roubar shopping.
b) Consequencial: nesse caso, o segundo crime se dá em decorrência do primeiro.
Ex: ocultar corpo para ocultar assassinato.
Conexão instrumental: ocorre quando a prova de uma infração influi na prova de outro. Ex:
roubo e receptação.
CONTINÊNCIA
a) Por cumulação subjetiva: quando duas ou mais pessoas forem acusadas da
mesma infração penal
b) Por cumulação objetiva: quando o agente, com uma só ação ou omissão, pratica
duas ou mais infrações penais
SEPARAÇÃO FACULTATIVA:
A) Quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstância de tempo ou de lugar
diferentes
B) Em razão do número excessivo de réus
C) Para não prolongar a prisão provisória de qualquer dos réus
D) Qualquer outro motivo relevante
Modalidades de exceção:
a) suspeição
b) incompetência do juízo
c) litispendência
d) ilegitimidade de parte
e) coisa julgada
SUSPEIÇÃO
→ Destina-se a afastar juiz parcial.
Motivos de parcialidade:
a) amizade íntima
b) inimizade capital
c) a circunstância de estar o juiz, seu cônjuge, ascendente ou descendente,
respondendo processo análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; o
fato de o juiz, seu cônjuge, ou parente consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau,
inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por
qualquer das partes;
d) o aconselhamento a uma das partes, acerca de fatos que tenham relação com a
causa;
e) o fato de ser o juiz credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
f) e, ainda, a circunstância de ser o julgador sócio, acionista ou administrador de
sociedade interessada no processo.
EFEITOS DA SUSPEIÇÃO
→ Se acolhida, os autos decisórios e probatórios praticados pelo juiz serão nulos.
EXCEÇÃO DE INCOMPETÊNCIA
→ Ao receber a denúncia, pode o juiz, de ofício, declarar-se incompetente (art. 109, CPP).
Tal decisão pode ser atacada por RESE (art. 581, II, CPP).
→ Caso a exceção não seja oposta em momento oportuno, há a preclusão de tal direito.
EXCEÇÃO DE LITISPENDÊNCIA
CONFLITO DE COMPETÊNCIA
→ Ocorre nas situações elencadas pelo art. 114 do Código de Processo Penal:
I - quando duas ou mais autoridades judiciárias se considerarem competentes, ou
incompetentes, para conhecer do mesmo fato criminoso;
II - quando entre elas surgir controvérsia sobre unidade de juízo, junção ou separação de
processos.
No caso de bens não restituíveis (instrumentos do crime, se seu porte constituir fato ilícito,
bem como do produto do crime), haverá o confisco em favor da União (art. 91, inc. II, CP).
Aperfeiçoa-se com o trânsito em julgado da sentença, mesmo que absolutória.
Por outro lado, caso o direito à devolução do bem restituível seja manifesto ( art. 120,
CPP), poderá haver a restituição sem incidente processual. Pode ser determinado pela
autoridade policial ou pelo juiz; nos dois casos, necessário manifestação do MP.
Por outro lado, caso não seja manifesto ou interesse, só poderá haver a instituição em
incidente próprio. A decisão proferida no referido incidente é atacável por apelação.
Caso a coisa seja facilmente deteriorável, haverá, o quanto antes, a restituição. Ou,
havendo dúvida sobre a propriedade, poder-se-á: i) avaliar as coisas e vendê-la,
depositando-se o dinheiro apurado; ii) entregá-las a terceiro que as detinha, com assinatura
de termo de responsabilidade.
Destino dos bens: a) bens obtidos em virtude do crime cometido ou instrumento de
infração passível de confisco: serão leiloados e revertido os valores obtidos em favor da
União, ressalvado os direitos dos terceiros ou lesados. No segundo caso, no entanto, há de
se aguardar o período de 90 dias; b) no caso de coisas restituíveis: se o interessado não se
manifestar no prazo de 90 dias, haverá venda em leilão, inutilização ou recolhimento a
museu.
MEDIDAS ASSECURATÓRIAS
Em síntese:
INCIDENTE DE FALSIDADE
Ocorre nos casos em que há dúvida sobre a autenticidade dos documentos apresentados
(seja fotografia, seja vídeo etc). Contudo, não é requisito para que o Juiz decida sobre a
falsidade de determinado documento.
Caso a instauração do incidente se dê com a finalidade probatória, será necessário
comprovar a relevância e a necessidade do referido incidente.
O incidente pode ser requerido pelas partes ou pelo juiz, de ofício, por portaria (art. 147,
CPP). Se por procurador, exige poderes especiais (art. 146, CPP).
O processamento do incidente, por outro lado, dar-se-á do seguinte modo: uma vez
instaurado, intimar-se-á a parte contrária, para no prazo de 48 horas, manifestar-se (art.
145, CPP). Após, dá-se ao MP e as demais partes, sucessivamente, o prazo de 3 dias para
requerer a produção de provas. Determinada as diligências necessárias, haverá a decisão.
A decisão poderá ser objeto de recurso em sentido estrito (art. 581, XVIII, CPP).
Ocorre nos casos em que há dúvida sobre a sanidade mental do acusado. Neste caso,
instaura-se o incidente a fim de submeter o acusado à exame médico-legal (art. 149, CPP).
Só ocorrerá se o juiz entender necessário (art. 184, CPP). A decisão no referido incidente
é irrecorrível, mas pode ser atacada por HC se a prisão for manifestamente ilegal.
Pode o referido incidente ser requerido em qualquer fase, seja da investigação, seja do
processo:
a) Pelo juiz, de ofício
b) Pelo MP.
c) Pelo defensor, ou CAD;
d) Na fase do inquérito policial, por representação da autoridade policial (art. 149, p.
primeiro, CPP).
Caso a defesa que requeira a instauração do incidente, não haverá que se falar em
constrangimento ilegal por excesso de tempo de prisão (entendimento da súmula 64, STJ).
Realizada a perícia, haverá o apensamento do incidente aos autos principais (art. 153,
CPP). Não haverá decisão, uma vez que a matéria será apreciada em sentença.
Ter-se-á, apenas, a homologação (que poderá ser atacada por APELAÇÃO).
Caso a perícia aponte para a imputabilidade, o processo terá seguimento normal; caso
contrário, será necessária a intervenção do curador (art. 151, CPP). Se a conclusão for no
sentido de que a doença mental sobreveio à infração, o processo continuará suspenso.
aguardando o restabelecimento do acusado ou a ocorrência da prescrição; caso ocorra na
fase de execução, poder-se-á substituir a prisão por medida de segurança (art. 183, LEP).
Caso presente os requisitos do art. 319, VII, CPP, poderá o acusado ser internado em
manicômio judiciário.
DA PROVA
Conceito: é o conjunto de elementos que autoriza a conclusão acerca da veracidade
acerca de determinado fato.
Tais fatos, contudo, são os úteis e relevantes. Desse modo, os fatos que não mantêm
relação com a ação penal, ou que são notórios, não necessitam ser provados. Nessa
situação, poderá o Juiz indeferir a produção de tais provas (art. 400, p. primeiro, CPP), o
que não implica cerceamento de defesa.
Não há fatos incontestes. Desse modo, ainda que haja ausência de contestação por ambas
as partes, ainda assim deve-se prová-los.
Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos
informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e
antecipadas.
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.
Pelo artigo supracitado, vê-se que, no Brasil, vigora o sistema da livre convicção (ou da
persuasão racional). Desse modo, pode o Juiz valorar os elementos de prova com
liberdade, devendo, no entanto, motivar suas escolhas (há, no entanto, a
imprescindibilidade do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígio (art.
158, CPP)).. Mais ainda, os elementos de prova, salvo a exceção contida no artigo acima,
não poderão, exclusivamente, servir como razão de decidir; pode-se, no entanto, utilizá-los
como complemento.
Por outro lado, o ônus da prova é de quem alegar. Pode o Juiz, no entanto, de ofício:
(Art. 156, CPP).
I — ordenar, mesmo antes de iniciada a ação penal, a produção antecipada de provas
consideradas urgentes e relevantes, observando a necessidade, adequação e
proporcionalidade da medida;
II — determinar, no curso da instrução, ou antes de proferir sentença, a realização de
diligências para dirimir dúvida sobre ponto relevante.
Havendo dúvida, contudo, o réu deverá ser absolvido (art. 386, VI, CPP).
Regra geral, não há limitação quanto aos meios de prova. Nega-se, contudo, as provas
ilícitos, conforme previsão da Constituição, e de próprio CPP (art. 157, CPP):
Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1º São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas puderem
ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2º Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e
de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
objeto da prova.
Ilegítimas, por outro lado, são as provas que violam norma processual.
São provas válidas:
a) Gravação de conversa;
b) Interceptação de comunicação telefônica, desde que com autorização judicial.
c) Filmagem feita pela vítima, ou por câmeras de segurança
d) Interceptação de correspondências, desde que com autorização judicial
e) Quebra de sigilo bancário, desde que com autorização judicial
f) Quebra de sigilo fiscal, desde que com autorização judicial.
g) Revista intíma em presídio (art. 244, CPP e 240)
PROVA EMPRESTADA
É aquela colhida em outro processo pendente de julgamento anterior.
É válida, se quando da colheita das provas, houve contraditório -- isso apenas no fase
processual, uma vez que no inquérito não há contraditório.
Trata-se da assim chamada teoria dos frutos da árvore envenenada. Nesse caso, a prova,
ainda que per si não seja ilícita, decorre de ação ilícita, razão pela qual deve ser
imprestável. (art. 157, p. primeiro, CPP). Só se aplicará tal teoria, contudo, quando
houver inequívoca relação da causalidade entre a prova e ação ilegal.
Nesses casos, a prova decorrerá de fonte independente, que são listadas pelo código (art.
157, parágrafo primeiro, CPP), e que tornam válidas as provas:
a) o elemento autônomo de informação que, embora derivado da prova ilícita,
não teve a ação maculada como causa determinante;
b) aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e de praxe, próprios da
investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato objeto da
prova: em tal caso, a prova seria adquirida pelos trâmites típicos da investigação.;
ou que, de modo inevitável, seria conhecida.
CRITÉRIO DA PROPORCIONALIDADE
Por tal critério, a vedação à utilização da prova ilícita não é absoluta; desse modo, ter-se-á
sua mitigação quando houver conflito com outra norma constitucional. Decorre tal critério da
teoria da concordância prática das regras constitucionais.
Por isso, caso a única prova de inocência do acusado seja ilícita, poder-se-á adotá-la.
INCIDENTE DE INUTILIZAÇÃO
É um incidente semelhante ao da falsidade documental. Caso haja o deferimento, haverá o
desentranhamento da prova e sua inutilização (art. 157, p. terceiro, CPP), o que não
impede, contudo, sua inutilização noutro processo.
Perícia
É o exame realiza com a finalidade de instruir o juiz. Envolve matéria técnica, científica ou
artística. É feita pelo perito. Cristaliza-se em uma laudo.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Averbe-se que a exigência em questão pode relacionar-se à demonstração do tipo básico
ou de forma qualificada de um tipo penal.
Assim, embora a comprovação de uma mera subtração não dependa do exame de corpo de
delito, a demonstração da existência do furto qualificado pela destruição de obstáculo
subordina-se à realização da referida prova técnica (art. 171 do CPP).
.Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a
prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. A confissão, por outro lado, não pode ser
utilizada de tal modo (art. 158, CPP).
Tal testemunho, entretanto, não pode ser vago nem impreciso, por força do que dispõe o
artigo 160 do CPP.
A prova pericial pode, e é, normalmente realizada na fase do inquérito. Não há
ineficácia de tal perícia por falta de contraditório, uma vez que as partes poderão,
oportunamente, apresentar parecer por meio de assistente técnico; contestar o laudo
apresentado; requerer complementação, bem como requerer a oitiva de perito em
audiência.
A perícia é feita por um perito oficial; em sua ausência, será feita por dois peritos
nomeados. Em se tratando de Carta Precatória, a nomeação será feita pelo Juízo
Deprecado (art. 177, CPP).
Se se tratar de tema muito complexo, pode-se nomeado mais de um perito (art. 159, p. 7,
do CPP).
Espécies de perícia:
a) Autópsia ou necropsia: é o exame realizado no cadáver. Em se tratando de
cadáver já sepultado, ter-se-á a exumação (art. 163, CPP).
b) Perícia em caso de lesão corporal (art. 168, CPP): é um exame complementar
realizado a fim de que verificar a natureza das lesões sofridas pela vítima. Em caso
de lesão grave, deve ser após os 30 dias.
c) Exame do local do crime: é o exame fundamental para determinar o tipo legal
cometido: nos casos de furto qualificado, p ex., deve descrever os vestígios
encontrados (art. 171, CPP); nos de incêndio, a causa e o lugar em que as chamas
se iniciaram (art. 173, CPP)
d) Perícia de laboratório (art. 170, CPP): é a análise realizada em tóxicos de toda
ordem, bem como em produtos químicos; exame de balística etc.
e) Avaliação: é o exame feito para atribuir valor às coisas destruídas.
f) Exame grafotécnico (art. 174, CPP): exame feito para determinar a autoria de
escritos.
INTERROGATÓRIO
É a oitiva do acusado realizada pelo Juiz.
É tanto meio de prova quanto meio de defesa.
Características:
a) oral
b) personalíssimo
c) não preclusivo
d) público
É obrigatória a realização do interrogatório; caso contrário, há nulidade relativa.
Normalmente, realiza-se o interrogatório na audiência de instrução e julgamento. Inclusive,
é o último ato processual da instrução.
Quando preso, o réu é requisito para o interrogatório (art. 399, p. 1, CPP); em liberdade,
será intimado, sob a pena de sofrer a revelia (art. 367, CPP).
Se não ouvido em audiência, poderá ser ouvido a qualquer momento antes do trânsito em
julgado (art. 185), o que inclui a fase recursal (art. 616, CPP).
Antes do interrogatório, o acusado deve ser informado do seu direito de permanecer em
silêncio (art. 186, CPP). Tal prática cristaliza o direito ao silêncio.
Se solto, o réu será intimado para comparecer em Juízo e ser interrogado; preso, poderá
ser escoltado até o Juízo, ou, ademais, poderá ser ouvido no próprio presídio, o que
normalmente não ocorre.
Após o interrogatório, as partes podem sugerir perguntas ao magistrado (art. 188, CPP). No
entanto, em se tratando de litisconsórcio passivo, os corréus poderão, por meio de
advogado, realizar perguntas ao acusado. Não havendo tal procedimento, ter-se-á
nulidade absoluta.
CONFISSÃO
É a admissão pelo acusado da veracidade da imputação que lhe é feita. É pessoal.
A confissão é divisível e retratável (art. 200, CPP). Divisível porque o juiz pode tomar
como sincera apenas parte dela; retratável porque o acusado pode apresentar versão
diversa da confissão anterior.
Classificação:
1) Quanto ao conteúdo:
a) Simples: réu confessa um delito;
b) Complexa: vários delitos confessados;
c) Qualificada: admite o crime, mas invoca circunstância que realçam seu direito
à liberdade (legítima defesa, p. ex).
2) Quanto à oportunidade em que é apresentada:
a) judicial: na presença do juiz
b) Extrajudicial: sem a presença do juiz
DELAÇÃO
OITIVA DO OFENDIDO
É a oitiva da vítima.
Ainda que não tenha sido arrolado pela partes, deve ser ouvido pelo juiz (art. 201, CPP).
Não presta o compromisso de dizer a verdade; mais ainda, não pode ser imputado pelo
crime de falso testemunho.
É o primeiro ato da instrução.
Ofendido responde às perguntas feitas diretamente pelas outras partes.
Seu valor probatório é relativo.
Direitos do ofendido:
a) comunicação dos atos processuais que importe saída ou entrada do acusado na
prisão; intimação acerca de sentença e acórdãos
b) Garantia de lugar diverso e reserva antes e durante audiência
c) Preservação do sua intimidade, razão pela qual, em alguns casos, o processo
poderá correr em sigilo.
DAS TESTEMUNHAS
É a pessoa física, que não é parte no processo, e presta informações sobre os fatos
relacionados ao crime. Presta compromisso de dizer a verdade.
A testemunha não emitirá opiniões pessoais, se limitando a tratar de fatos (art. 213,
CPP).
Regra geral, qualquer pessoa pode ser testemunha (art. 202, CPP). Não é possível, no
entanto, autor da infração ser testemunha.
Salvo quando não for possível, de outro modo, obter-se prova acerca dos fatos e
circunstâncias, ascendentes, descendentes, afim em linha reta, cônjuge e irmão podem se
recusar a testemunhar (art. 206, CPP). Caso testemunhem, não prestaram compromisso
de dizer a verdade. O mesmo se dá com os menores de 14 anos e com os deficientes
mentais. Nesse caso, denomina-se-os de informantes.
Certas pessoas, por outro lado, estão proibidas de testemunhar. Salvo se autorizadas
pela parte interessada.
Número de testemunhas:
a) Ordinário: 8 testemunhas
b) Sumário: 5 testemunhas
c) Sumaríssimo: 3 testemunhas.
d) 2ª fase do procedimento do Júri: 5 testemunhas.
A testemunha que residir fora da jurisdição será ouvida mediante carta precatória. Ao juiz
cabe apenas intimar do envio da CP, não da data da audiência (súmula 273, STJ). Não
havendo intimação, ter-se-á nulidade relativa (art. 273, STJ). Se o réu querer, deve
comparecer à audiência, ainda que preso, sob pena de nulidade.
Se a testemunha estiver fora do país, será ouvida por carta rogatória, desde que tal
testemunha seja imprescindível e que a parte que solicitar a testemunha pague as custas
(art. 222-A, CPP).
A intimação das testemunhas, regra geral, é feita por oficial de justiça. Se tratando, de
militar, contudo, este será requisitado ao seu superior hierárquico; o mesmo se dando com
o servidor público. A testemunha presa, por outro lado, será requisitada ao diretor do
estabelecimento.
A substituição das testemunhas é possível nos casos arrolados pelo CPC: falecimento;
enfermidade; mudado de residência ou não for encontrada.
ACAREAÇÃO
Consiste em colocar duas pessoas frente à frente que prestaram versões diferentes.
Admite-se-a entre:
a) acusados
b) acusado e testemunhas ou pessoa ofendida
c) entre testemunhas
d) entre ofendidas.
DOCUMENTOS
São de duas espécies
a) Em sentido lato: incluem fotos, vídeos, pintura etc.
b) Em sentido estrito: são apenas os escritos.
Classificação
Quanto à finalidade:
a) pré-constituídos: são feitos para provar os fatos neles representados
b) causais: formados com finalidade diversa, mas que, circunstancialmente, servem de
prova.
Quanto ao autor:
a) públicos: formados por agentes públicos em razão de sua função
b) privados: feitos por particular
Quanto à forma:
a) originais
b) cópia
Quanto ao meio de formação
a) Diretos: o fato é transmitido sem intermediação
b) Indiretos: há intermediação
Quanto à possibilidade de identificação do autor
a) Nominativos: contém o nome de quem fez
b) Anônimos: não contém o nome de quem fez.
INDÍCIOS
São circunstâncias conhecidas e provas que, por indução, dão a entender outras
circunstâncias (art. 239, CPP).
Por não haver hierarquia entre as provas, não há que se falar em posição subalterna dos
indícios, razão pela qual uma sentença poderá ser fundamentada apenas por meio deles.
DA BUSCA E APREENSÃO
Busca são os atos para procura e descoberta daquilo que interessa ao processo;
apreensão: retira pessoa ou coisa de local para fins de sua conservação.
Pode servir para
a) meio de prova
b) meio de obtenção de prova
c) meio de assegurar direitos.
Busca domiciliar
Ocorrerá nos casos previstos no artigo 240, p. primeiro, do CPP:
a) prender criminosos;
b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos;
c) apreender instrumentos de falsificação ou de contrafação e objetos falsificados ou
contrafeitos;
d) apreender armas e munições, instrumentos utilizados na prática de crime ou destinados a
fim delituoso;
e) descobrir objetos necessários à prova de infração ou à defesa do réu;
f) apreender cartas, abertas ou não, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja
suspeita de que o conhecimento do seu conteúdo possa ser útil à elucidação do fato;
g) apreender pessoas vítimas de crimes;
e h) colher qualquer elemento de convicção.
Formalidades:
Necessário mandado, que será lido ao morador, requisitando que este abra a porta. Se o
morador se negar, a porta será arrombada. Se morador não estiver, vizinho acompanhará.
Busca pessoal
Se houver fundada suspeita de que pessoa possua arma ou objetos relacionados à infração
penal, poderá ser objeto de busca pessoal (art. 240, p. segundo, CPP). Se for mulher, será
feita por mulher, salvo se importar prejuízo à diligência.