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Leonardo Oliveira Sassi, Graduando em Geografia, UFRGS,

leonardo.o.sassi@hotmail.com.
Paulo Roberto Rodrigues Soares, Professor Titular do Departamento de
Geografia, UFRGS, paulo.soares@ufrgs.br

A Cidade-Região de Porto Alegre: Análise da desconcentração


metropolitana a partir de dados socioeconômicos
Introdução

De forma ampla e simplificada, pode-se datar o início do processo de


metropolização, a nível nacional, a partir das políticas desenvolvimentistas
voltadas para a modernização do campo e a industrialização, implementadas
na década de 1960 e 1970 pela ditadura civil-militar1, ocasionando a
concentração de população no entorno de áreas industriais relativamente
próximas às metrópoles. Desde então as dinâmicas que compõem a
configuração deste processo estão em constante mudança, como aponta
Lencioni (2011, p. 33), para quem as áreas metropolitanas estão “...em
constante movimento de estruturação - desestruturação - reestruturação. ”

As estruturas, formas e funções socioespaciais, bem como o próprio


processo de metropolização, divergem conforme seus contextos e locais de
enunciação específicos, onde leves alterações nas dinâmicas socioeconômicas
são rapidamente traduzidas na (re)estruturação das áreas metropolitanas.
Contudo sem deixar de seguir as tendências globais homogeneizantes,
guiadas pela racionalidade econômica capitalista. Podemos entender tais
movimentos como um processo dual, contraditório e complementar
(MARICATO, 2011, p. 08).

Assim cabe destacarmos dois momentos da história recente que são de


suma importância para a análise das atuais áreas metropolitanas brasileiras. O
primeiro consiste nas mudanças que se deram a partir da década de 1990 com
a expansão globalizada do capitalismo sob as égides neoliberais (FEDOZZI;
SOARES; MAMARELA, 2015, p. 20), que associada aos avanços do período,
caracterizado por Santos (2014), como técnico-científico-informacional,
conduziram-nos a desregulamentação fiscal, trabalhista e de gestão do
território. Impulsionando a dispersão das áreas industriais para localidades
mais distantes das metrópoles, mas ainda dependentes destas em serviços
avançados, funções administrativas e contingentes de força de trabalho.
Consequentemente a urbanização acompanha esta dispersão industrial

1
Maiores informações sobre o processo de metropolização no Brasil e os múltiplos fatores da sua
constituição, nas diferentes regiões do país podem ser apreciados no estudo realizado pelo IBGE, IPEA e
UNICAMP nos anos de 2001 a 2003, denominado “Caracterização e tendências da rede urbana do
Brasil”.
ocasionando um aumento significativo da malha urbana e do setor de serviços
(LACERDA, 2012, p. 37).

O segundo momento histórico refere-se à subordinação do Brasil ao


capitalismo financeiro mundializado, onde a lógica dominante vê os espaços
urbanos como mercadorias à serviço da produção e reprodução do capital
financeiro, intensificando ainda mais a dispersão industrial e urbana
(LENCIONI, 2015, p. 154), realizadas de forma planejada apenas para a
maximização dos lucros. Também na escala nacional, testemunhamos neste
período, de modo mais relevante, a ascensão e ruína de um modelo político-
econômico neodesenvolvimentista ou neoliberal periférico. Onde os inegáveis
avanços sociais ancorados em políticas públicas, foram construídos sob a
exploração insustentável da natureza, robustos programas e incentivos ao
setor da construção civil associados a desregulamentação do setor financeiro
com o crescimento astronômico das concessões de crédito (GUDYNAS, 2009;
MARICATO, 2013; ROLNIK, 2015).

A Cidade-Região de Porto Alegre e os objetivos de pesquisa

Entendemos por Cidade-Região um conjunto de centro urbanos, entre


os quais se estabelecem relações de interdependência e complementaridade,
formando uma estrutura socioespacial complexa, multicêntrica e hierarquiza.
Fruto das condições de flexibilidade exigidas pelo atual regime de acumulação
do capital, produzindo uma homogeneização das condições gerais de produção
e da própria paisagem (LENCIONI, 2005, p. 54).

O município de Porto Alegre e os núcleos urbanos do seu entorno


conformados desde os anos finais da 1960 como “área metropolitana” e
institucionalizados como Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) em
1974, acompanham essas transformações com mudanças importantes, tanto
com a incorporação de novos municípios ao seu território, como com
mudanças na sua organização socioespacial interna2.

2
O livro “Porto Alegre: Transformações na Ordem Urbana”, da série “Metrópole: Território, Coesão
Social e Governança Democrática”, organizado por Luciano Joel Fedozzi e Paulo Roberto Rodrigues
Soares, apresenta, sobre diversas perspectivas, estas mudanças ocorridas na área metropolitana de
Porto Alegre entre os anos de 1980 a 2010.
Neste artigo buscamos então investigar, através de alguns indicadores
socioeconômicos selecionados, como as recentes mudanças nos cenários
político e econômico, tanto na escala global como local, no período entre o
início do século XXI e o atual momento, impactam a área que concentra o
processo de metropolização no estado do Rio Grande do Sul (RS), qual seja, a
denominada por Soares, Schneider e Costa (2009), Cidade-Região de Porto
Alegre. Essa estrutura socioespacial influência e polariza a organização e
ordenação territorial de todo o estado, atuando também com relativa relevância
nas escalas regionais e nacionais (IBGE, 2008) e, apesar das poucas
investigações e trabalhos académicos, sem dúvida possui diversas relações
com outras grandes metrópoles meridionais da América Latina, como
Montevidéu, Buenos Aires, Santiago e Assunção.

Mapa 01 - Localização da Cidade-Região de Porto Alegre e das Regiões


Metropolitanas e Aglomerações Urbanas no estado do RS.

Elaborado pelos autores, 2018. Fonte: IBGE e MOURA; KLEINKE (1999).


Totalizando 164 municípios e 6.549.140 habitantes a Cidade-Região de
Porto Alegre corresponde a mais de 58% da população total dos 497
municípios do estado Rio Grande do Sul. Bem como representam 73,61% do
Valor Adicionado Bruto (VAB) do setor Industrial e 64,64% do Valor Adicionado
Bruto (VAB) de Serviços (FEE, 2015). A instituição deste recorte espacial de
análise se dá com base na identificação das aglomerações urbano-industriais
com distância de até 120 quilômetros da metrópole de Porto Alegre
(SCHNEIDER; SOARES, 2010, p. 119), posteriormente verificou-se a qual
microrregião da publicação do IBGE (1990) Divisão Regional do Brasil em
Mesorregiões e Microrregiões Geográficas pertenciam os municípios polo
destes aglomerados, sendo composta a Cidade-Região de Porto Alegre pela
somatória destas microrregiões.

Este artigo insere-se dessa forma no âmbito de investigações sobre


processos de transformação nos espaços metropolitanos, os quais estão
diretamente ligados às atividades econômicas e refletem-se nas questões
sociais, políticas e espaciais, não necessariamente organizadas como causa e
consequência, mas sim de forma dialética. Visamos assim aprofundar o
processo de conhecimento sobre as mais recentes transformações e os
possíveis rumos do desenvolvimento metropolitano e seus reflexos na
organização socioespacial da Cidade-Região de Porto Alegre. Contribuindo
com informações para o planejamento público e da sociedade civil organizada.

Metodologia

Buscamos deste modo entender, através da análise de indicadores


socioeconômicos e novas formas de organização espacial, como se dá o
processo de desconcentração metropolitana, principalmente a partir das
Regiões Metropolitanas institucionalizadas de Porto Alegre (RMPA) e da Serra
Gaúcha (RMSG), assumindo-se que estas regiões somadas a municípios do
seu entorno e a outras aglomerações urbanas conformam a Cidade-Região de
Porto Alegre, diretamente ligada à economia global devido à posição da
metrópole de Porto Alegre.
Para abordar os processos objetos de estudo deste artigo, foi realizado
o levantamento e estruturação de alguns indicadores socioeconômicos, quais
sejam:

- VAB (Valor Adicionado Bruto) na escala municipal e estadual, para os


anos de 2002, 2005, 2010 e 20153, disponibilizados pela Fundação de
Economia e Estatística (FEE), visando caracterizar, dimensionar e
localizar espacialmente a presença dos setores econômicos na Cidade-
Região de Porto Alegre e no estado do Rio Grande do Sul (RS).
- Potencial de consumo urbano municipal por classe de rendimento para o
ano de 2016 disponibilizado pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas do Rio Grande do Sul (SEBRAE/RS), com o intuito de
observar como se distribui espacialmente o poder aquisitivo da
população no recorte pesquisado.

Os dados coletados referentes aos indicadores foram organizados em


tabelas e inseridos no aplicativo computacional de licença aberta Quantum
GIS, conhecido como uma ferramenta de Sistema de Informação Geográfica
(SIG), no qual estas tabelas de dados são especializadas nos recortes
desejados, criando-se um catálogo de mapas. Por fim os resultados
provenientes dessas análises foram confrontados com trabalhos acadêmicos
tematicamente vinculados. Apontando caminhos de pesquisa e referenciais
interpretativos.

Resultados e Discussões

A partir da análise da base de dados estruturada pelo levantamento dos


indicadores socioeconômicos construímos algumas interpretações passíveis de
auxiliarem na compreensão da organização socioespacial contemporânea da
Cidade-Região de Porto Alegre e para quais tendências apontam sua
estruturação. Apresentamos abaixo algumas informações que contribuem para
compreensão destes processos.

3
A amostra não se inicia no ano de 2000 devido a uma mudança metodológica no cálculo do VAB
estadual efetuada a partir do ano de 2002, tornando incompatível a análise comparativa com amostras
dos anos anteriores.
A organização socioespacial do setor da indústria e do setor de serviços
na Cidade-Região de Porto Alegre

No ano de 2002 os 10 municípios com maior participação no VAB


industrial total do estado do RS, pertenciam ao recorte espacial da Cidade-
Região de Porto Alegre somando uma participação de 48,49%, no ano de 2005
dos 10 municípios com maior VAB industrial do estado 09 pertenciam a
Cidade-Região correspondendo à 48,35% do VAB industrial total do estado,
nos ano de 2010 e 2015 se repete a quantidade de municípios da Cidade-
Região entre os 10 maiores VAB industrial do estado, com o percentual de
participação no VAB industrial total de, respectivamente 45,07% e 42,53%.

Da mesma forma os 164 municípios que compõem a Cidade-Região de


Porto Alegre, no ano de 2015 somaram um VAB Industrial correspondente a
73,60% do VAB Industrial total do estado do RS, nos demais anos analisados
essa porcentagem foi de 76,15% em 2010, 78,52% em 2005 e 76,36% em
2002.

Segundo publicação realizada pelo IBGE denominada Análise Detalhada


sobre os Setores de Atividade Econômica 2010 - 2015 (2017), entre os
municípios com participação percentual de ao menos 0,5% no VAB industrial
nacional, temos a presença de Porto Alegre como o único município do estado
do RS, que apresentava uma participação na faixa de 0,6% em 2010, 0,7% em
2011 e 2012, 0,6% em 2013, mantendo-se nessa porcentagem nos anos de
2014 e 2015.

Tabela 01: Número de municípios por faixa de contribuição no VAB Industrial


total para os anos 2002, 2005, 2010 e 2015.

Ano De 0,01% De 0,20% De 0,75% De 1,49% De 3,04% De 7,14%


a 0,20% a 0,75% a 1,49% a 3,04% a 7,14% a 10,71%

2002 116 24 11 5 5 2

2005 116 24 11 6 2 4

2010 111 30 11 6 3 2

2015 110 32 11 6 3 2
Elaborado pelos autores, 2018. Fonte: FEE.
Mapa 02 - Participação dos municípios da Cidade-Região de Porto Alegre no
VAB Industrial do estado do RS, nos anos de 2002, 2005, 2010 e 2015

Elaborado pelos autores, 2018.

Seguindo essa tendência, ao analisarmos os valores referentes ao VAB


do setor de serviços no ano de 2015 a contribuição dos municípios da Cidade-
Região correspondia a 64,64%, em 2010 a 66,11%, em 2005 a 67,48% e em
2002 a 66,27%. Entre os 10 municípios com maior VAB de serviços 06
pertenciam ao recorte da Cidade-Região no ano 2015, a quantidade se repete
em 2010, 2005 e 2002.

Em 2015 Porto Alegre era o sétimo município do país com maior


participação percentual no VAB do setor de serviços à nível nacional,
contribuindo com 1,6%, esse percentual de contribuição foi o mesmo do ano de
2010, nos anos de 2011, 2012, 2013 e 2014 ficou na casa de 1,5%, sendo
também o único município do estado do RS com participação percentual
superior à 0,5% no VAB do setor de serviços a nível nacional (IBGE, 2017).

Mapa 03 - Participação dos municípios da Cidade-Região de Porto Alegre no


VAB de serviços do estado do RS, nos anos de 2002, 2005, 2010 e 2015.

Elaborado pelos autores (2018).


Tabela 02: Número de municípios por faixa de contribuição no VAB de serviços
total para os anos 2002, 2005, 2010 e 2015.

Ano De 0,01% De 0,15% De 0,51% De 1,19% De 2,70% De 5,33%


a 0,15% a 0,51% a 1,19% a 2,70% a 5,33% a 25,47%

2002 112 31 13 3 3 1

2005 110 32 12 5 3 1

2010 109 33 12 6 2 2

2015 109 33 13 6 2 1
Elaborado pelos autores, 2018. Fonte: FEE.

Buscamos representar estes resultados graficamente por meio das


Tabelas 01 e 02. Através das quais é possível aferir que apesar das pequenas
alterações nos números absolutos de municípios por faixa de contribuição no
VAB do setor da indústria e no VAB do setor de serviços, estas indicam um
aumento de municípios com maior contribuição, principalmente na transição da
faixa mínima (De 0,01% a 0,20% na indústria e De 0,01% a 0,15% no serviços)
para a seguinte (De 0,20% a 0,75% na indústria e De 0,15% a 0,51% no
serviços).

Pela análise dos Mapas 02 e 03 vemos a consolidação destes setores


em alguns determinados municípios da Cidade-Região, como o surgimento de
municípios com contribuição na segunda faixa de valores (das menores para as
maiores) no eixo que liga a Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA) à
Aglomeração Urbana do Litoral Norte (AULN). Bem como o estabelecimento
dos municípios da Região Metropolitana da Serra Gaúcha (RMSG) nas faixas
de contribuição médias e altas do VAB do setor de serviços. Também fica
evidente nos mapas a afirmação das Regiões Metropolitanas de Porto Alegre e
da Serra Gaúcha (RMPA e RMSG) e das Aglomerações Urbanas
institucionalizadas do Litoral Norte (AULN) e não institucionalizadas de Santa
Cruz do Sul e Lajeado-Estrela como os espaços da Cidade-Região de maior
predominância nestes setores.
A desconcentração do processo de metropolização

Entendemos assim que, apesar de em ritmo lento e fortemente atrelado


a antigas hierarquias de centralidade e concentração de infraestruturas, há na
região uma desconcentração do processo de metropolização. Baseamos nosso
entendimento deste fenômeno em Soares (2010) para quem a partir da
flexibilização das relações de produção e novas tecnologias de comunicação e
informação se produz uma flexibilização da localização industrial, levando a
uma desconcentração espacial da produção que busca os espaços
perimetropolitanos e cidades médias próximas às metrópoles, onde são
desonerados os custos da localização e funções da metrópole, mas ainda é
possível beneficiar-se de infraestruturas sociais e territoriais que perpassam os
limites da metrópole, assim como seus serviços avançados/de gestão.

Outra análise necessária se dá sobre a distribuição dos setores


econômicos predominantes por município no recorte da Cidade-Região de
Porto Alegre. Para tal tarefa os municípios foram divididos conforme o setor
econômico predominante, ou seja, contribuição do VAB de um setor igual ou
maior a 50% da contribuição dos demais. Os resultados, conforme o Mapa 04 e
Gráfico 01, indicam que nos 14 anos analisados, 45 municípios passaram a ter
o VAB de serviços como predominante, enquanto houve uma diminuição de, 34
municípios de VAB agropecuário predominante e 10 municípios de VAB
industrial predominante.

Gráfico 01: Caracterização dos municípios da Cidade-Região de Porto


Alegre pelo setor econômico predominante (+ de 50% de contribuição no VAB).

Elaborado pelos autores (2018). Fonte: FEE.


Mapa 04: Localização dos municípios da Cidade-Região de Porto Alegre pelo
setor econômico predominante (+ de 50% de contribuição no VAB).

Elaborado pelos autores (2018).

Este cenário converge com análises que apontam o atual momento


histórico como de transição entre o regime de acumulação fordistas para o
regime de acumulação flexível do capital, com predomínio do setor de serviços,
inclusive nos municípios considerados majoritariamente rurais, uma vez que
mesmo as atividades dessa área produtiva estão cada vez mais associadas a
serviços prestados por terceiros, como consultorias, transportes,
armazenamento e afins.
As centralidades na desconcentração

O indicador socioeconômico analisado na sequência, qual seja, o Índice


de Potencial de Consumo na escala municipal para o ano de 2016 apresentou
os resultados expostos abaixo e representados graficamente pelo Mapa 05.

Dos 10 municípios com maior potencial de consumo urbano no estado


07 pertencem a Cidade-Região de Porto Alegre, a quantidade se mantém a
mesma para o Potencial de Consumo por classe de rendimento, quando
analisada isoladamente a classe A4. Tal exercício buscava identificar onde se
concentram os mercados de consumo mais dinâmicos e com maior circulação
de capital, bem como os estratos da população com maior poder aquisitivo.

Mapa 05: Localização do Índice de Potencial de Consumo municipal da


Cidade-Região de Porto Alegre para o ano de 2016.

Elaborado pelos autores, 2018.

4
De acordo com a classificação instituída pelo ABEP (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa),
chamada de Critério Brasil, explicação metodológica para a divisão das classes de rendimento disponível
em http://www.abep.org/criterio-brasil.
O padrão de distribuição espacial do Índice de Potencial de Consumo
nos municípios reforça os padrões de organização espacial dos setores da
indústria e do de serviços. Fato que reforça nosso entendimento de que,
apesar do ainda modesto processo de desconcentração dos setores produtivos
para “novas periferias”, as demandas do regime de acumulação flexível de
capital por infraestruturas que condicionem a rápida circulação de produtos,
pessoas e capitais, bem como por serviços de gestão especializados, tende a
reforçar “velhas centralidades” já institucionalizadas nas Regiões
Metropolitanas de Porto Alegre e da Serra Gaúcha (RMPA), na Aglomeração
Urbana do Litoral Norte (AULN) e nas Aglomerações Urbanas não
institucionalizadas de Santa Cruz do Sul e Lajeado-Estrela.

Considerações finais, mudanças e manutenções

Diferentemente do processo de desconcentração industrial vivenciado


no fim do século XX nas metrópoles brasileiras e sul-americanas, onde se
faziam presentes notáveis movimentos do setor industrial em direção a periferia
metropolitana, a primeira década e meia do século XXI apresenta na metrópole
mais meridional do Brasil um novo paradigma que associado a diversos
aspectos, constitui um novo processo de desconcentração metropolitana, não
necessariamente dependente, apesar de ainda vinculada aos movimentos do
setor industrial.

A força motriz desse processo passa a ser do setor de serviço, da


expansão do estilo de vida metropolitano e da terceirização que permeia todas
as atividades produtivas, aspectos estes que vinculam-se diretamente ao novo
regime de acumulação flexível do capital, que em poucas décadas de vigência
já insta novas formas de organização econômica, social e espacial. Assim
entendemos que a desconcentração metropolitana se dá pelo fortalecimento
das relações de interdependência e complementaridade entre os municípios e
na expansão do modo de vida urbano contemporâneo. Apontando uma
manutenção das hierarquias regionais de poder político-econômico.

Os impactos dessas alterações nas configurações do processo de


metropolização ocorrem, principalmente, na forma de organização espacial das
metrópoles, regiões metropolitanas e estruturas socioespaciais mais amplas,
como as Cidades-Região ou as Mega-regiões. As quais anteriormente, a partir
de um centro polarizador de unidades industriais, e consequentemente, de
população, espalhavam o processo de forma “radial” perdendo intensidade em
direção às periferias ou bordas metropolitanas, e desde então passaram a se
organizar em arquipélagos de ilhas urbanas (LENCIONI, 2008), ou seja, de
forma policêntrica ou multicêntrica, com expansão e desconcentração do
processo de metropolização, contudo sem perda do papel centralizador da
metrópole, ainda segundo Lencioni, estas ilhas, não são isoladas umas das
outras mantendo relações matérias, através dos eixos viários de transporte e
virtuais, através das tecnologias de informação e comunicação, sendo
classificadas hierarquicamente conforme seu grau de internacionalização.

Ao falarmos em manutenções de características no processo


contemporâneo de metropolização, estamos consequentemente falando de
uma reprodução de certos padrões de organização socioespacial do território,
onde se fazem presentes a diferenciação e fragmentação do espaço urbano,
apesar da proximidade física entre estes fragmentos altamente diferenciados,
problemas de mobilidade e ambientais devido a expansão da malha urbana e
afins.

Consideramos de suma importância afirmar que as dinâmicas de


constituição e perpetuação desta estrutura socioespacial, aqui denominada
Cidade-Região de Porto Alegre, são regidas pela lógica de produção e
reprodução do capital. Com total ausência de entidades de governança e
planejamento. Impedindo uma organização espacial socialmente justa e
ambientalmente responsável. Levando a uma pulverizam do aparelhamento
estatal básico, muitas vezes dificultando o acesso a serviços como saúde e
educação para populações de diversos municípios, que vêm seus impostos e
verbas de investimentos voltados a obras de infraestrutura e logística que
obedecem a necessidades avessas as reivindicações locais, na maioria das
vezes mantidas sob um discurso estatal de desenvolvimento regional com
ampla abertura de postos de trabalho, mas que na verdade se traduzem na
precarização das condições de vida da população de renda baixa e média.
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