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Palavras testamentárias – um percurso entre textos

de Machado de Assis

Helena Tornquist

Não se termina jamais de puxar os fios que unem entre si um


texto a outros textos. Jean Molino.

Neste ano em que se comemora o centenário de Esaú e Jacó, um retorno a este

romance será por certo prazeroso, pois, como bem lembra Brito Broca, Machado de

Assis era desses escritores em que nunca deixamos de descobrir uma novidade,

sempre que a ele voltamos 1 Como lembra o Conselheiro Aires, personagem que, de

certo modo, conduz a essa narrativa, para o entendimento das coisas, o melhor é ler

com atenção.2 Especialmente por que na obra de Machado de Assis já se observa o que

mais tarde Mikhail Bakhtin afirmaria: as palavras não pertencem a ninguém;

relacionando-se entre si, os enunciados criam redes de sentido, do mesmo modo que

as obras, formadas na tessitura de enunciados, mantêm entre si relações dialógicas.3

Minha proposta é ver nesse romance o diálogo com elementos presentes em

textos precedentes que, nesse momento, surgem como resultado da cristalização do

processo de escritura. Em outras palavras, o último caderno encontrado entre os

manuscritos de Aires, de acordo com a Advertência que precede a narrativa, pode ser

lido como um balanço do legado da escritura que próprio Machado deixou a todo os

seus leitores.


Professora Adjunta da Universidade Federal de Santa Catarina
1
BROCA, BRITO. Machado de Assis e a Política. Prefácio de Silviano Santiago. São Paulo: Polis, 1983, p. 259.
2
MACHADO de ASSIS, J.M. Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Jackson, 1957, p 28
3
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1922 p.188 et sqq.
2

Como assunto, o testamento é a presença na ficção de uma prática jurídica

comum na época do império, numa sociedade fortemente marcada pelo

patrimonialismo; testamentos e heranças são referidos com freqüência, sendo

inclusive o título de um conto que integra o volume Papéis Avulsos. Com efeito, em

“Verba Testamentária”, o protagonista, acometido de estranha doença que o vai aos

poucos afastando do convívio social, deixa, ao morrer, um testamento que seria a

própria negação dessa prática, pois sua única disposição era a exigência de que fosse

enterrado em um caixão encomendado a um determinado marceneiro, o mais humilde

da cidade. No conto, além da crítica de cunho psicossocial, mais aprofundada que em

Esaú e Jacó, há uma referência ao 7 de abril, a data da Abdicação de D Pedro I, que

coincide com o dia em Nicolau abandona definitivamente a política, sendo também a

data em que nasceram os gêmeos Pedro e Paulo, protagonistas do romance de 1904.

Essa coincidência, como outras menos explícitas, reforça a idéia de que, em sua

escritura, Machado antecipava procedimentos que se tornariam comuns no século XX.

Sua compreensão do modo como os textos se influenciam fica clara também nos

comentários que assinava na imprensa. O diálogo permanente que manteve com

outros textos – desde escritores da Antigüidade até autores do século XIX,

consagrados ou não, caracteriza-se pela ausência de preocupação com hierarquias.

Tratava-se de um diálogo entre textos, simplesmente. A presença da citação – direta

ou subentendida – que, em dado momento causou certo desconforto entre alguns

críticos, é uma das marcas de uma escritura sempre em construção, que deve ser

levada em conta. Atentar para elas é seguir os caminhos da criação, embora sabendo

que se está diante de um processo complexo no qual muitas são as vias e muitos os

desvios que as atravessam.


3

Num artigo publicado na imprensa do Rio de Janeiro, a propósito de uma peça

de Antonio José, Machado dava destaque à resposta negativa do dramaturgo português

à recomendação de que tomasse por modelo a comédia de Molière. O argumento do

dramaturgo português apoiava-se na atenção ao público para o qual escrevia,

entendendo ser a contextualização uma condição da obra de arte. Assim, na comédia

Guerras de Alecrim e Mangerona, Antonio José seguira o Anfitrião de Plauto apenas

no fundamental, pois havia introduzido as alterações que o gosto das platéias de sua

época exigiam. Machado sublinha que o valor da peça estava precisamente nos

elementos que ele de sua casa introduziu...4 O dramaturgo não foi um simples

imitador, mas um homem de talento que soube ser autêntico, buscando construir

caminhos próprios, ainda quando estabelecia diálogo com a tradição clássica.

A crítica do folhetim dramático, exercida no início de sua vida literária, permitiu

que Machado dialogasse com os textos de teatro que lia por dever de ofício e,

principalmente, com os que ele mesmo selecionava. Está nesse caso uma comédia de

Alfred de Musset intitulada Il faut qu’une porte soit ouverte ou fermée 5, pois ela

serviu de ponto de partida para O caminho da porta, sua primeira peça encenada na

Corte. Nessa comédia provérbio, que aludia à indecisão humana, Musset concretizava

na marcação cênica a situação do personagem que, sem saber como agir,permanecia

diante da porta entre-aberta, no decorrer de uma longa situação dramática. Ao citar

esse texto, Machado atribuiu-lhe outro sentido, pois adaptou o dito sentencioso, quase

um provérbio corrente em língua francesa, para a expressão “tomar o caminho da

porta” que, obviamente, implicava a decisão de ir embora. Mas a prova de que a peça

4
O comentário foi publicado na Revista Brasileira em 1872. Cf. MACHADO de ASSIS, J. M. Crítica teatral. Rio de
Janeiro: Jackson,1957,v.27, p.271-291.
5
MUSSET, Alfred de. Comédies et proverbes. Paris: Garnier, 1950. v1
4

lhe causara viva impressão está nas referências que seriam feitas mais tarde nas

crônicas semanais. Já na década de 80, alude a essa peça a propósito de protestos de

rua envolvendo o fechamento de portas de uma casa comercial, e em outro momento,

quando compara o drama Fechamento de portas que acabara de assistir, com o texto

de Alfred de Musset, que qualifica de um atozinho gracioso e límpido.6

A situação psicológica concretizada na indecisão diante de uma porta

permaneceria como um motivo das criações machadianas. A afirmação de que era

imperioso tomar uma decisão, citada na comédia inicial, iria reaparecer em Lição de

Botânica, escrita em 1906, portanto dois anos após Esaú e Jacó. Nesta peça, o título

da comédia de Musset aparece na fala de uma das personagens, empenhada em fazer a

irmã decidir-se a aceitar um pedido de casamento. A reiteração do provérbio, passados

mais de quarenta anos, certamente inscrita no quadro dos temas obsessivos do autor,

que não deixa de se manifestar também em Esaú e Jacó na permanente indecisão de

Flora, incapaz de abrir a porta de seu coração para um dos pretendentes, também

poderia ser vista como manifestação da memória da escritura.

Outro elemento a ser destacado no presente percurso, e que está entre os motivos

reiterados por Machado de Assis, é a preocupação com o destino. A existência de

muitas coisas entre o céu e a terra que o homem não pode explicar, lembrada no conto

“A Cartomante” pelo narrador que cita Hamlet, também reaparece com freqüência,

seja nos comentários semanais, seja em textos ficcionais. Entre as figuras com acesso

ao desconhecido, destacam-se as referências a Sibila, uma sacerdotisa de Apolo,

encarregada dos oráculos nos templos da Grécia antiga. No epílogo de Os deuses de

6
MACHADO DE ASSIS, J.M. Bons Dias. São Paulo: Huicitec, 1990. p.116. (crônicas de 16 de setembro e 28 de
outubro de 1888).
5

casaca aparece o verso David olhando em face a Sibila de Cuma, com nota

explicativa remetendo ao Dies Irae, um hino religioso da Idade Média. Por outro viés,

“Teste David cum Sybila”, entrará também no romance Esaú e Jacó como título para

o capítulo 65, quando ironicamente são mostradas as duas formas de previsão do

destino humano naquela sociedade: a “científica” realizada no gabinete de um mestre

espírita e a popular, com raízes autóctones, já que a cabocla vivia em um morro mais

afastado. O verso religioso sinaliza assim no texto a conciliação de mundos diferentes,

para o propósito comum de desvendar o futuro dos gêmeos Pedro e Paulo.

Mostrar a preocupação das pessoas comuns com seu destino estava entre os

assuntos prediletos do escritor, tanto que em várias passagens das crônicas aparecem

referências diretas ou indiretas ao acaso, à sorte, às loterias, inclusive aos vaticínios da

Sibila. Já o acaso ligado ao golpe da fortuna, é tematizado em “Jogo do Bicho”, conto

integrante de Relíquias da Casa Velha, e em “Terpsícore” como elemento estrutural de

da situação narrativa.7 Em Esaú e Jacó a possibilidade de prever o futuro será o eixo

da narrativa, tanto que o romance tem início com a subida de Natividade ao morro do

Castelo, mas essa situação não deixa de contextualizar ironicamente as predições;

numa demonstração de que o autor sabia falar “ao público de sua casa” a consulta a

uma simples cabocla era a contrafação da consulta feita aos oráculos dos templos

antigos.

Entre os elementos das comédias dos anos 60 preservados na escritura de

Machado estão as figuras de retórica, que apesar de desconstruídas, não perderam a

feição original. Assim, se na comédia Desencantos, os personagens travam uma

discussão sobre o amor, na qual a mulher é associada a uma castelã, sendo necessário

7
MACHADO DE ASSIS, J.M. TC. Relíquias da Casa Velha. Rio de Janeiro: Jackson, 1957. v.12. p.169.
6

sitiar a praça a ser conquistada,8 numa crônica da década de 90, o Dr. Semana revela

as mesmas idéias dos personagens daquela peça quando diz: que é o amor mais que
9
uma guerra, em que se vai por escaramuças e batalhas, em que há mortos e feridos

Mais distante, mas não deixando de relacionar-se à metáfora guerreira da tradição

clássica, está a definição de amor do conselheiro Aires, desenvolvida no diálogo com

os pais dos gêmeos: citando Empédocles, que atribuíra à guerra o papel de mãe de

todas as coisas, conclui: o amor, que é a primeira das artes da paz, pode-se dizer que

é um duelo, não de morte, mas de vida.10

As crônicas que publicou na imprensa do Rio de Janeiro, ao longo e quarenta

anos, como lembra Sonia Brayner,11 foram o verdadeiro laboratório da prática textual

do escritor. Nestes textos sobre o cotidiano, Machado ia exercitando sua escritura, o

que explica o trânsito entre os textos de jornal e suas criações ficcionais. Assim, a

leitura atenta do que ele escrevia nesses comentários permite que se chegue mais

próximo do pensamento de Machado, um escritor que se vale de seus próprios textos

para falar sobre seu processo de criação. Em outras palavras, o crítico do folhetim

dramático está presente na elaboração dos textos de ficção, diluindo, na narrativa,

aspectos teóricos da criação ficcional. Como o Conselheiro Aires que ia registrando os

fatos do cotidiano, escrevendo a vida dos gêmeos da família Santos, Machado de

Assis, tendo já publicado uma obra considerável, parece estar nesse momento fazendo

um balanço do que deixara escrito ao longo de sua carreira: temas, motivos e

8
A metáfora do amor como conquista guerreira já vinha dos séculos precedentes, tendo Molière em Don Juan
explicitado essa situação.
9
MACHADO de ASSIS, J.M. Crônicas.v.27.
10
_________________. Esaú e Jacó, p. 66.
11
BRAYNER, Sonia.Labirintos do espaço romanesco.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. p.55
7

procedimentos usados em outros momentos, submetidos a outro tratamento, vão

reaparecer em Esaú e Jacó.

Assim, na abertura, o romance está recuperando um traço muito presente em

narrativas que vinham da época romântica na alusão ao livro deixado entre os escritos

do conselheiro Aires, encontrado casualmente após sua morte. Já a conversa com o

leitor, procedimento típico dos narradores machadianos, assume em Esaú e Jacó uma

inflexão bem mais complexa, sugerindo a participação do leitor na obra; cabia a este

último preencher os vazios do texto, como se vê no capítulo XIII, quando comenta a

epígrafe que pretendia apor ao romance: esta era um modo de por lunetas para que o

leitor do livro penetre o que for menos claro ou totalmente escuro.12

O gosto pelo teatro, que vivenciou na mocidade, como registra Jean-Michel

Massa,13 marcou a escritura de Machado de Assis, sendo uma referência encontrável a

cada passo na ficção: é, pois, natural que o teatro esteja presente também nesse

romance.

À semelhança de Dom Casmurro que obedecia à estrutura de uma peça teatral

como foi observado José Barreto Filho na entrada e saída dos personagens, nos

diálogos curtos e breves: feito de pequenas cenas e incidentes, numa urdidura

cerrada, incorporando também o trabalho dos bastidores e as indicações da


14
movimentação cênica, Esaú e Jacó tem um capítulo cujo título é precisamente

“Entre um ato e outro”. Trata-se do capítulo 46, quando a trama ainda está iniciando,

sendo o leitor convidado a “fazer de conta que está no teatro, entre um ato e outro,

conversando”, pois lá dentro os atores ainda estão se vestindo para o espetáculo. 15


12
MAHADO de ASSIS, J.M. Esaú...p 62
13
MASSA, Jean-Michel. A juventude de Machado de Assis.Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, p. 316
14
BARRETO Filho, J.Op.Cit. p 146
15
MACHADO de ASSIS, J.M. Esaú e Jacó.p. 177
8

Além desses aspectos, no final do capítulo mencionado, o narrador alude ao

comportamento da platéia que aguarda o espetáculo, às conversas banais que

preenchem o tempo, concluindo que está, excepcionalmente, falando por imagem,

pois tudo o que diz “é verdade pura e sem choro”. 16 Como se vê, em Esaú e Jacó está

presente também a discussão da lei que regia aquele teatro – a verossimilhança. É

sabido que, na segunda metade do século XIX, a observação do cotidiano foi levada

por muitos ao extremo, chegando ser tomada como sinônimo de verdadeira atitude

artística.Como representação da realidade percebida, a mimesis era o critério

orientador por excelência. Se Boileau ainda gozava de prestígio, muitos estavam

esquecidos de que para ele a verossimilhança deveria se submeter às leis artísticas. 17

Não por acaso Machado, citando Boileau, lembra freqüentemente que o belo pode, às

vezes, não ser verossímil. Mesmo assim, em seus comentários sobre peças de teatro,

como se pode ver na análise da peça Primeiros Amores de Pedro Mendes de Leal, a

verossimilhança era também para Machado a lei primeira do teatro. 18

No romance de 1904, a verossimilhança, uma das marcas do teatro oitocentista,

recebe um tratamento singular, como, aliás, seria de esperar depois dos romances da

década de 80. Como bem lembra Gilberto P Passos, a verossimilhança tem papel

fundamental neste romance, mas ele se revela em sua face encobridora. 19 O mundo em

que circulam os personagens é representativo dos estratos privilegiados da sociedade

brasileira de então, e em nada difere da sociedade representada nas comédias

francesas nas quais a ação se passava invariavelmente em uma sala de visitas,

decorada com luxo e gosto burguês. É visível o esforço do narrador para conseguir
16
Loc.cit.
17
LABERT e MIZRACHI (Orgs.). L’Art Poétique de Boileau.. Paris: Union Générale d'Editions, 1966. p.24.
18
MACHADO DE ASSIS, J. M. Op. Cit. p.179 et sqq.
19
PASSOS, G. P. Op. Cit. p 130.
9

manter o tom geral daquele teatro, com o qual Machado dialogava. No capítulo LX,

intitulado “Manhã de 15”, descreve a reação das pessoas no Passeio Público e em

outras ruas do centro, no dia da Proclamação da República, percebendo-se nos

detalhes, a intenção de dar tom verossímil aos fatos evocados. É digno de nota este

fato: num romance cheio de pontos obscuros, fato já apontado pela crítica, encontram-

se muitas passagens em que a descrição assume requintes de um quadro realista: uma

sala, um quarto, a rua em dado momento, – às vezes até validado pelo narrador que

faz considerações sobre seu procedimento. Ao descrever uma cena de rua, recordada

anos depois, adverte o leitor de que essa outra vozearia, maior e mais remota não

caberia aqui, se não fosse a necessidade de explicar o gesto.20

O modo de contar a história ocupa o narrador no capítulo V, quando justifica as

escolhas feitas para descrever a ida do casal Santos à missa, num bairro afastado do

centro. O fato de deixar de lado a lógica aparente dos acontecimentos é explicado

pela intenção de escrever as coisas tais quais se passaram; chega a brincar com o leitor

que, se der mais explicações elas vão tomar tempo e papel, e prolongar a ação o que

acabaria em enfado.21 Na verdade, a advertência final ao leitor de que deve prestar

atenção aos pormenores tem uma conotação irônica, já que alude aos não-ditos de sua

fala, que muitas vezes é tudo. Os elementos descritivos da ida do casal à igreja

modesta, numa carruagem de luxo, eram uma crítica ao gosto pelas aparências e à

preocupação com o decoro da sociedade imperial.

O mundo social da corte é representado, embora sem seguir o viés naturalista.

Exemplo disso é a alusão indireta às diversões com que a sociedade ociosa preenchia

20
MACHADO de ASSIS, J. M. Esaú e Jacó, p. 143.
21
_____________. Op. Cit. p.28
10

seu tempo – entre as quais o baile. Em vários momentos da ficção, a descrição de uma

cena de dança está associada a uma festa mais refinada. É um prazer para os sentidos e

ao mesmo tempo um prazer fugaz para o casal do conto “Terpsícore que o organizara,

gastando todo o dinheiro ganho na loteria.22. Em Esaú e Jacó, a referência ao baile da

Ilha Fiscal, - que passaria à história como a última aparição da família real – do qual

as famílias Santos e Batista haviam participado, não recebe o mesmo destaque, apesar

de ser mencionado no capítulo com o mesmo título do conto. Se a festa que é

associada à queda da Monarquia, passa quase desapercebida, sendo vista apenas pela

reação dos diferentes personagens, a dança nos dois textos tem um sentido duplo. Para

os protagonistas do conto ela representou um momento de prazer e de participação na

vida da alta sociedade, que logo se esvai; já entre as pessoas que foram à Ilha Fiscal,

havia quem o tomasse como um prazer para os olhos, mas para D. Cláudia, a

ambiciosa mulher de Batista, o baile era um fato político, era o baile do ministério,

uma festa liberal que poderia abrir ao marido as portas de alguma presidência.23

Confirma-se assim que a história está muito presente em nos textos

machadianos, e “Verba testamentária” também deve ser incluída nessa linha.

Diferentemente de outros escritores de então, Machado inseria a história no texto: ou,

como observa Ivo Barbieri, ele fez da narrativa o lugar privilegiado de revelação da

história. 24

Ao atribuir a Esaú e Jacó a peculiaridade de uma obra para onde convergem

experiências narrativas e textuais anteriores, pretendi apenas mostrar que se objetivam

22
_____________. Terpsícore. São Paulo: Boitempo, 1966.
23
MACHADO de ASSIS, J. M. Esaú e Jacó, p. 187.
24
BARBIERI, Ivo.Machado e a história: um tempo de longa duração In: Espelho. Revista Machadiana, PoroAlegre,
UFGRS,1995.n.1 p.27.
11

nesse livro diferentes procedimentos que caracterizaram a prática textual do escritor

como um todo, e que pluridirecionam semanticamente o texto de modo a encaminhar

múltiplas leituras. Pela densidade do pormenor, próprio ou extraído de textos alheios,

pela ousadia de procedimentos formais que possibilitaram o trânsito de temas e

motivos de um texto a outro, de uma época a outra, de uma cultura a outra, a obra de

Machado de Assis permanece aberta à leitura e à reflexão, confirmando-se que

qualquer página escrita pelo escritor fluminense oferece encanto e proveito de

leitura.25

25
BRITO BROCA, Op.cit. p. 159

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