evangélica é uma profunda orientação para a correta realização do trabalho teológico. Seu autor, Karl
Barth, foi um dos mais profundos teólogos do século 20. Teólogo neo-ortodoxo, defensor do método
dialético, escreveu obras que influenciou a teologia posterior, tais como; Epistola aos
romanos (1919) eDogmática cristã (1932). Foi pároco por doze anos e exerceu o magistério teológico
por quarenta. Esse texto foi primeiramente uma coleção de preleções expostas na Faculdade de
Basiléia após ter deixado sua cátedra naquela academia. Barth introduz o estudante no ambiente
(inteior/exterior, positivo/negativo) que envolve o trabalho do teólogo. Esse trabalho ele designa
como sendo a “pergunta pela verdade”. O livro tem uma introdução que situa o interesse do autor e
quatro ciclos de temas gerais (p. 125). Esses também se subdividem em quatro partes. O método
usado para abordar os temas, conforme o autor, é um “penetrar ao centro” em círculos concênctricos.
Os perigos que a Teologia enfrenta constitui o tema da terceira série de reflexões. Barth
deixa entender que sua Introdução a Teologia Evangélica seria incompleta se não abordasse os
perigos que ameaçam a teologia. O primeiro deles é a solidão. Esse isolamento advém do seu
empreendimento: “pergunta pela verdade”. Tal perigo seria exterior, acontece do ambiente que cerca
o teólogo. Contudo, existe uma ameaça interior, mais perigosa. Ela é tratada na décima primeira
preleção: a Dúvida. A dúvida que realmente se traduz em ameaça refere-se à pergunta pela viabilidade
do empreendimento (p. 96). O teólogo se pergunta se todo esforço em responder a “pergunta pela
verdade” é válido. Porém, o mais grave dos perigos está por vir... a Tentação (décima segunda
preleção). É o questionamento que a teologia sofre a partir do seu próprio assunto, Deus. O escritor
se refere a esse perigo com a auto subtração do próprio Deus da obra do teólogo. Deus dá as costas à
teologia, nega-lhe a presença e a ação do Espírito (p. 105). Fechando o terceiro tema geral, Barth diz
que em meio aos perigos há esperança, décima terceira preleção. Durante a discussão desse tema o
autor nos aconselha a “aturar e suportar” tais perigos. Isso só é possível por que Deus doa sua infinita
graça ao teólogo. Aí reside sua esperança. No último ciclo de preleções são abordadas as “tarefas que
o campo da teologia estão à espera para serem realizadas e cumpridas” (p. 125). O autor se refere ao
trabalho teológico. A primeira dessas tarefas é a Oração, décima quarta preleção. Ela é fundamental
e permeará as tarefas seguintes. O trabalho teológico, que é para igreja e para o mundo, não pode
acontecer sem “orientação do céu”. Na preleção seguinte temos a tarefa do Estudo, que é um esforço
ativo, sério, zeloso, aplicado e atuante. É a participação espontânea e ao mesmo tempo apaixonada
do teólogo. Esse estudo não pode estar limitado a um período específico da vida, deve ser constante.
Também não pode ser escravizado a uma única forma. Na penúltima preleção Barth nos dias que o
“trabalho teológico é serviço” (p. 144), serviço prestado à palavra de Deus. O teólogo atua visando à
causa do outro. Na última preleção temos o Amor, que é a condição básica que confronta a teologia
a partir de seu assunto (p. 153). O trabalho teológico só poderá ser obra boa se impregnado pelo amor.
Sem tal virtude não há edificação, mesmo com séria oração, esmerado estudo e zeloso serviço.
Vigor e piedade. Com certeza foram esses os sentimentos que imperaram sobre o autor
na ocasião das preleções. É com grande profundidade que Barth aborda o ambiente que envolve o
labor teológico. A metodologia com que aborda os temas é uma preciosidade. Fica bastante claro no
texto algumas características da teologia de Brath: 1) a limitação humana (mais especificamente o
teólogo) e a soberania divina; 2) a metodologia teológica permeia o texto; e 3) o homem em constante
crise; teologia da crise. Vejamos algumas observações. Quanto a primeira característica vale a
ressalva de não “abraçarmos” de tal forma essa visão bartiana e nos tornarmos minimalistas. Quanto
as outras duas, não desmerecendo duas virtudes, trazem dificuldades na compreensão do conteúdo
transmitido, deixando os leitores confusos no raciocínio do texto. A última em particular, quando mal
entendida, transmite uma visão muito pessimista da realidade. Pode até fazer com que os leitores
menos comprometidos desistam do empreendimento. Para uma compreensão melhor de Barth o leitor
deve entender qual foi seu contexto de vida. O texto é desafiador...
O livro é recomendado para todos aqueles que tentam responder a “pergunta pela
verdade”: pastores, teólogos, seminaristas. Acadêmicos da área de humanas também são leitores em
potencial. Contudo um alerta aos mais desavisados: Introdução à teologia evangélica não é um texto
para um leitor aventureiro. Por ter como título “introdução” muitos podem se enganar achando que
encontrará uma leitura fácil.