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A passividade

Maria Rita Kehl

(...) a passividade é interessante porque não pode ser sumariamente definida nem
como vício nem como virtude. Abordar a posição passiva exige que se levem em
conta algumas circunstâncias: o que com ela se obtém? Que relações ela permite
estabelecer? O que significa a passividade para cada sujeito? (p. 175)

Primeira consideração sobre a passividade:

(...) todos estão irremediavelmente marcados pela experiência da passividade. Mais:


de que somos/estamos marcados pela experiência radical da passividade, anterior a
qualquer possibilidade de escolha. (p. 176).

(...) o filhote humano permanece por muito tempo nesse estado de desamparo, nesta
dependência de que um Outro deseje se ocupar dele. (p. 176).

A cria do mamífero, por exemplo, busca instintivamente a teta, bastando, para tanto,
que a mãe coloque-a à disposição. Nisto consiste a diferença, para a psicanálise, entre
o instinto e a pulsão. Enquanto o animal é adaptado biologicamente ao meio – seu
código genético o provê de um “saber” sobre os objetos de satisfação de suas
necessidades -, o humano, marcado pela linguagem e destinado a um ambiente
cultural, discursivo, se não contar com quem “saiba” do que ele precisa, não
sobreviverá. É claro que os recém-nascidos contam com uma reserva vital. Talvez
vocês se lembrem do que se passou durante o terremoto do México, quando parte do
berçário de uma maternidade foi soterrada e as crianças sobreviveram uma semana,
pois ficaram em um bolsão de ar, contando ainda com suas respectivas reservas vitais
provenientes das placentas que há pouco tempo ainda as envolviam. (p. 176).

(...) a posição passiva que marca a entrada do recém-nascido no mundo deve-se não
apenas à falta de habilidade corporal para obter, por exemplo, alimento ou calor junto
ao corpo materno, mas também à falta de conhecimento instintivo sobre os objetos
que possam satisfazer suas necessidades. Estes objetos já estão inscritos o campo da
cultura. Todo bebê, antes mesmo de nascer, já ocupa um lugar na cultura – pensem na
escolha do nome, no desejo de que seja menino ou menina, no lugar que ele ocupa,
desde a gestação, na fantasia dos pais. Diríamos que os humanos são desnaturados,
apartados da ordem da natureza e atravessados pela linguagem; todo recém-nascido é
incluído, através dos cuidados advindos do Outro materno, nas práticas discursivas da
sociedade a que pertence. Este é o sentido de sua passividade, que, entretanto, não faz
dele um ser inerte: desde o início ele manifesta seu desconforto e sua insatisfação, às
vezes violentamente. Ele é capaz de despender enorme dose de energia gritando e
esperneando, como se protestasse com fúria contra seu desconforto – seja fome, frio,
todo tipo de tensão corporal que Freud chamou de “tensão de necessidade”. Reparem
que eu escrevi “como se protestasse”, pois nisso reside seu desamparo: para que seus
gritos tenham o valor de um protesto ou de um apelo, é preciso que um adulto o
escute e o interprete assim. Não é que o passivo não aja. Ele age como pode. Ele se
expressa. Isso é tudo o que ele pode fazer, uma vez que não pode, por si só, alcançar
seu objetivo – e é partir daqui, então, que começo a construir a ideia da passividade.
(p. 176-177).

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