Covenant 04
Jennifer L. Armentrout
No entanto, tudo o que eu podia fazer era ir para frente e para trás.
Enjaulada e impotente pelas marcações gravadas no cimento em cima de
mim e por barras criadas por um deus.
— Alex.
Claro, eu não estava sozinha. Oh, não. Meu próprio inferno pessoal era
uma festa para dois. Bem, era realmente um trio... talvez um quarteto. Soava
mais divertido do que era. Vozes... havia muitas vozes na minha cabeça.
— Você se lembra?
Olhei por cima do meu ombro, meu lábio curvando com o que vi. Rapaz,
eu tinha um osso do tamanho de um T-Rex para lidar com o puro-sangue.
Aiden St. Delphi estava do outro lado das grades. Lá, ele era uma força
imóvel. Mas, sem as proteções de Hefesto ou Apolo entre nós, ele se tornaria
um nada insignificante.
Eu ri com frieza.
— Eu sei que você ainda está aí, Alex. Debaixo dessa conexão, você ainda
é você. A mulher que eu amo.
Aiden tomou fôlego, mas não desviou o olhar de vergonha ou culpa. Ele
encontrou e segurou o meu olhar, trancando os seus com olhos que eu sabia
que ele odiava com cada fibra do seu ser.
— Coloquei.
— E você vai matar todo mundo com quem eu me preocupo. Eu sei. Nós
estivemos aqui antes — Ele se inclinou contra as grades. Não havia um
indício de barba em seu rosto suave desta vez. Ele estava usando seu
uniforme de Sentinela, todo preto. Mas havia sombras escuras sob os olhos
marcantes dele.
— Eu sei que você não vai me machucar se você sair — continuou ele. —
Eu acredito nisso.
— Triste.
— O que?
— Que alguém tão bonito como você seja tão incrivelmente estúpido —
Sorri quando seus olhos se estreitaram. No momento em que brilhou prata,
eu sabia que tinha atingido um nervo. Isso me deixou morna e distorcida por
cerca de três segundos, e então eu percebi que eu ainda estava em uma
maldita gaiola. Provocar Aiden ajudava a passar o tempo, mas isso não
mudava nada.
Aiden passou a mão pelo cabelo, e depois empurrou para trás das grades.
— Bem, isso vai piorar, Alex. Metade dos Doze olimpianos querem fazer
guerra ao Seth e Lucian. — Continuou ele. — E eu tenho certeza que ele sabe
disso. Talvez seja isso que ele quer, mas é isso que você quer? Sabe quantas
vidas inocentes serão perdidas? Ambos mortais e mestiços? É algo com o que
você pode viver?
— Porque eu sei que no fundo você não poderia viver com você mesma,
sabendo que ajudou a causar a morte de milhares, se não milhões -
especialmente daqueles mestiços. Você estava questionando se tornar uma
Sentinela por causa de como eles estavam sendo tratados. Se Seth continuar
com isso, eles vão morrer. — A convicção em sua voz era irritante. Assim era
a paixão que alimentava as palavras. — Caleb - você se lembra como você se
sentiu depois de Caleb…
— Você se lembra de estar tão rasgada que você ficou na cama por cinco
dias? Seu coração foi quebrado quando você o perdeu. Você acha que ele
gostaria de vê-la fazer isso para si mesma? Sua morte foi por estar em um
lugar errado na hora errada, mas isso? Haverá milhares de Calebs, mas vai
ser culpa sua.
— Isso não era o que ela queria! — As barras tremeram quando ele as
atingiu com o que eu imaginei que eram os punhos.
Isso tinha que doer. — Esse não é o motivo pelo qual ela morreu para
protegê-la. Como você ousa apenas rolar e deixá-lo fazer isso…
Meu corpo inteiro estalou como um elástico puxado com muita força.
— Cale a…
O zumbido rugiu nos meus ouvidos, abafando Aiden e tudo mais. Em um
instante, ele estava lá, deslizando pelas minhas veias, como mel rico e
quente.
Ouça-me. As palavras estavam em meus pensamentos, acalmando como o
ar ameno de verão. Ouça-me, Alex. Lembre-se o que vamos fazer juntos uma
vez que nos conectarmos. Libertar os mestiços e seu pai.
— Alex, — Aiden estalou.
Bons deuses, ele não tem nada melhor para fazer? O suspiro exasperado
de Seth estremeceu pelo meu corpo. Ignore-o. Ele não é importante. Nós
somos.
Meus dedos apertaram no meu cabelo.
— Ele está ai agora, não é? — Raiva aprofundou a voz de Aiden. As barras
agitaram novamente. No ritmo em que ele estava indo, seus dedos estariam
massacrados. Assim como meu cérebro. — Não dê ouvidos a ele, Alex.
A risada de Seth era como lascas de gelo. Ele está entrando aí? Acabe
com ele, Anjo. Em seguida, fuja. Ninguém será capaz de pará-la.
Eu puxei meu cabelo até agulhas minúsculas esfaquearem no meu couro
cabeludo.
— Alex, olhe para mim. — O tom desesperado na voz de Aiden alcançou
uma parte de mim que eu não estava totalmente familiarizada. Meus olhos se
abriram e me apeguei a ele. Eles eram prateados, como o luar. Lindos olhos.
— Juntos podemos quebrar o vínculo entre você e Seth.
Diga a ele que você não quer quebrar o vínculo.
Incrível... e assustador quanto o meu Seth podia ver e ouvir quando
estávamos conectados. Era como ter uma outra pessoa vivendo dentro de
mim.
— Alex, — disse Aiden. — Mesmo se você for ter com ele, ele vai drenar
você exatamente como um daimon faria. Talvez ele não queira, mas ele fará.
Meu coração disparou. Eu tinha sido avisada antes - por minha mãe,
meses atrás. Era uma das razões pelas quais ela queria me transformar em
um daimon. Uma razão confusa cheia de lógica falha, mas ainda...
Eu nunca faria isso com você, Alex. Tudo que eu quero é mantê-la
segura, te fazer feliz. Libertar o seu pai é o que você quer, não é? Juntos,
podemos fazer isso, mas apenas em conjunto.
— Eu não vou desistir, — disse Aiden. Um bendito silêncio se estendeu
por alguns instantes. — Você ouviu isso, Seth? Não vai acontecer.
Ele é irritante.
Vocês são irritantes. Então eu disse em voz alta:
— Não há nada para desistir, Aiden.
Seus olhos se estreitaram.
— Há tudo.
Aquelas palavras me pareceram estranhas. “Tudo” era um fantasma do
que foi e nunca poderia ser. Tudo mudou no momento em que eu tinha me
ligado com o meu Seth. Era difícil de explicar. Meses atrás, quando eu tinha
problemas para dormir, e a conexão entre nós tinha facilitado o meu corpo e
mente? Bem, isso era assim, uma centena de vezes maior.
Não havia nada meu nisso. Mais ou menos como tinha havido nenhum
Seth nisto antes de eu ter Despertado. Eu entendia isso agora. O quanto ele
se esforçou estando em torno de mim, lutando para não ser sugado para o
que eu tinha em curso. Agora havia apenas nós - um único ser existente em
dois corpos distintos. Uma alma separada. Solaris e o Primeiro…
Dor aguda explodiu atrás dos meus olhos.
Não. Seu sussurro entrou em minhas veias. Não pense sobre eles.
Eu fiz uma careta.
E então meu Seth continuou conversando. Assim como Aiden. Mas ele
não era estúpido o suficiente para entrar na cela. Mesmo cansada e retida
pelas paredes, eu tinha certeza que eu poderia derrubá-lo. Minutos se
passaram, talvez horas, enquanto os dois abatiam minhas células cerebrais.
Quando tudo acabou, eu caí contra o colchão. Um inferno de uma dor de
cabeça me bateu. Aiden só saiu porque alguém - o meu tio? - abriu a porta de
cima, o que geralmente significava que algo estava acontecendo. Rolei para
o meu lado, lentamente me esticando.
Finalmente, Seth suspirou.
Eu soltei meus dedos. As articulações doíam. Ele não vai ficar fora por
muito tempo.
Nós não precisamos de muito, Anjo. Nós só precisamos descobrir onde
você está. E então nós vamos estar juntos.
Um leve sorriso curvou os meus lábios para cima. Se eu me concentrasse
bastante, eu podia sentir meu Seth na extremidade da corda como se
estivesse sempre presente. Às vezes, ele se escondia de mim, mas não agora.
Minha memória puxou junto a sua imagem. Sua pele dourada e
sobrancelhas ligeiramente arqueadas se formaram em meus pensamentos. A
curva forte de sua mandíbula pedia para ser tocada, e o sorriso maroto nos
lábios cheios se espalhava. Deuses, seu rosto era sobrenatural - frio e duro
como as estátuas de mármore que eram utilizadas para forrar o edifício do
Covenant.
Mas não... não havia mais estátuas na Ilha Divindade. Não havia nada.
Poseidon tinha rasgado tudo isso e puxou de volta ao oceano. Edifícios,
estátuas, areia, e as pessoas, tudo isso desapareceu.
Eu perdi a imagem do meu Seth.
Mal-estar formou-se na boca do meu estômago. Aiden estava certo antes –
mais ou menos. Algo sobre toda essa situação me incomodava, fazia eu me
sentir impotente, e eu não podia fazer nada.
Eu era o Apollyon.
Volte a pensar sobre o quão bom eu pareço. Eu gosto disso.
Algumas coisas nunca mudam. O ego do meu Seth estava tão grande
como nunca.
Mas a minha imagem de Seth floresceu na minha frente. Seu cabelo era
crespo ao redor de suas têmporas e a core de fios de ouro. Lembrou-me as
pinturas de Adonis. Mas Adonis não era loiro. Através do conhecimento dos
Apollyons anteriores, eu sabia que seu cabelo tinha sido marrom.
Onde você está? Eu perguntei.
No norte, Anjo. Você está no norte?
Eu suspirei. Eu não sei onde estou. Há bosques ao redor de mim. Um
riacho.
Não é útil. Houve uma pausa, e eu imaginei a sensação de sua mão no
meu rosto, traçando a curva do osso. Eu tremi. Eu sinto sua falta, Anjo.
Essas semanas quando estava escondida de mim me deixaram louco.
Eu não respondi. Eu não tinha sentido falta do meu Seth. Enquanto eu
estava sob a influência do Elixir, eu nem sabia que ele existia.
Seth riu. Você pode fazer maravilhas para a minha autoestima. Você
deveria dizer que sentiu minha falta, também.
Rolando para as minhas costas, eu tentei trabalhar a torção na perna. O
que vai acontecer quando eu transferir o meu poder para você?
Houve uma pausa, e eu comecei a ficar nervosa. Não vai doer, sua voz
sussurrou. Será como quando nos tocávamos antes, quando as runas
apareceram. Você gostava disso.
Eu gostava.
Haverá algumas palavras ditas, nada enorme, e então eu vou tomar o seu
poder. Eu não vou drenar você, Alex. Eu nunca faria isso.
E eu acreditava nele, então relaxei. Qual é o plano, Seth?
Você sabe qual é o plano.
Ele queria eliminar os Doze Olimpianos antes que eles encontrassem uma
maneira de nos eliminar. A lenda dizia que nós éramos apenas vulneráveis a
outro Apollyon, mas nenhum de nós estava seguro na crença. Lacunas e
mitos menos conhecidos eram algo que todos os Apollyons tinham procurado
descobrir. Mas uma vez que os deuses estivessem fora do quadro, iríamos
governar. Ou Lucian iria governar. Eu não sabia ou me importava. Tudo que
eu queria era estar perto do meu Seth. Eu estava tendo um caso louco de
ansiedade de separação.
Não. Qual é o plano para que possamos estar juntos?
A aprovação de Seth tomou conta de mim como se eu tivesse acabado de
sair para o sol do verão. Eu me deleitei com ela, como um bom cachorrinho
com uma barriga cheia. Eventualmente, eles vão mostrar uma fraqueza. Eles
sempre fazem. Especialmente St. Delphi. Você é a fraqueza dele.
Eu me contorci. Eu sou.
E quando te for apresentada uma chance de escapar, pegue. Não reprima,
Anjo. Você é a Apollyon. Uma vez livre, eles não podem pará-la. Confie nisso.
E no momento em que você tiver uma ideia de onde você está, eu estarei lá.
Eu confiava em meu Seth.
Houve aquela névoa agradável e inebriante de novo, me invadindo. Você
já viu Apolo ou qualquer outro deus recentemente?
Não. Não desde que eu tinha saído do efeito do Elixir, e isso era estranho.
Apolo tinha estado na minha cola desde o momento em que eu tinha
Despertado, mas eu não o tinha sentido ou visto – ou qualquer outro deus.
Abri os olhos e olhei para as barras. Será que Hefesto necessitaria de
reforçar as barras em breve? Deuses, eu esperava que sim. Se elas
enfraquecessem, então as proteções também enfraqueceriam. Então eu
poderia sair.
Seth disse algo que fez com que os meus dedos enrolassem para me fazer
prestar atenção nele novamente. Aonde você foi?
Mostrei-lhe as barras e os meus pensamentos. Ele estava duvidoso. Um
trabalho de Hefesto raramente era enfraquecido, mas eu estava
esperançosa... por um segundo quente. Este... este vínculo não era o negócio
real. Mesmo que o meu Seth estivesse dentro de mim, ele realmente não
estava aqui. Eu estava sozinha - sozinha em uma cela.
Ele nunca vai me deixar sair. Aiden nunca vai me deixar perto de você.
Lágrimas queimaram meus olhos como um abismo sem fim de desesperança.
Eu nunca vou ver o meu pai.
Sim, você vai. Não importa o que ele fizer. Vou chegar até você. Os
deuses dizem que só pode haver um de nós, mas eles estão errados. Um
enrolamento estranho, e depois relaxamento me encheram. Você é minha,
Alex - sempre foi e sempre será. Nós fomos criados para isso.
Parte de mim aqueceu em resposta. E parte de mim, a fonte da outra voz
que aparecia sempre que Aiden estava por perto, aninhada e escondida do
meu Seth, recuou quando eu toquei o cristal rosa em volta do meu pescoço.
Dois
Algum tempo depois eu não tinha ideia se era noite, dia, ou quanto
tempo eu havia dormido - eu estava sozinha. Não havia Aiden sentado na
cadeira me olhando. Nenhum Seth na extremidade da corda. Isto era um
presente.
Invoquei fogo.
Idiota.
No que parecia horas depois, uma porta se abriu no andar de cima. Havia
vozes. Uma deles era Aiden, mas a outra...
— Luke? — Eu gritei.
— Você realmente acha que eu vou permitir que um mestiço chegue perto
de você?
Ele segurou o prato através do espaço nas barras. A última vez que eu
tinha feito a coisa toda de não-comer, não tinha funcionado. Eu
praticamente morri de fome e acabei no Elixir por causa disso. Comida era
minha amiga desta vez.
A mão vazia de Aiden serpenteou fora e enrolou no meu braço. Sua mão
era tão grande que engoliu meu pulso. Ele não disse nada, mas seus olhos me
imploravam para fazer alguma coisa. O quê? Lembrar de nós juntos?
Lembrar o quanto ele tinha consumido os meus pensamentos? Como eu
ansiava por estar com ele? Será que ele queria me lembrar de como era
quando ele me contou sobre a noite em que os Daimons atacaram e
massacraram sua família? E como era estar em seus braços, ser amada por
ele?
Não. Não. Não. Essa pequena voz estava de volta. Aiden era o futuro. Por
alguma razão pensei no maldito oráculo - Vovó Piperi. Saiba a diferença
entre necessidade e amor, ela havia dito. Não havia diferença. Ela não
poderia ter tentado me ensinar sobre como sair dessas barras?
Aiden me soltou, seus olhos tão duros como essas paredes de cimento. Ele
se afastou enquanto eu levava minha comida para o colchão.
Surpreendentemente, ele me deixou comer em silêncio.
Eu tinha dito.
— Você também disse que ia largar esse hábito quando eu falei sobre as
regras. — Aiden sorriu.
— Onde o Apolo tem estado? Uma vez que ele é o meu tataravô ou assim,
estou me sentindo não amada.
Ele cruzou os braços.
— E você realmente acha que eu vou lhe dizer quando você vai correr
para dizer a Seth?
— Se você me deixar ir agora, eu juro que você e todos aqueles com quem
se preocupa não serão tocados.
— Não. Você não estará a salvo. — Tristeza penetrou em seus olhos antes
de ele fechá-los.
Meu estômago se deslocou em advertência. Recordando os pedaços de
informação que eu tinha pegado sob o Elixir, eu sabia que havia mais que ele
não tinha dito.
— Se você sair daqui ainda ligada a Seth... você vai morrer. — A última
parte saiu irregular.
Eu ri.
— Isso não importa. Tudo o que você precisa saber é que é a verdade.
Minha boca se abriu, mas fechou. Aiden estava tentando me irritar. Era
isso. Se Thanatos e sua Ordem não tinham encontrado o calcanhar de
Aquiles dos Apollyons em todos os seus séculos de tentativas, um puro-
sangue não teria conseguido. A Ordem não tinha...
Ou tinha?
Mas eles não contavam. Meu Seth e seus Sentinelas tinham os tirado
sistematicamente da Terra.
Eu dei de ombros.
— Só responda a pergunta.
Silêncio, e então Aiden estava bem na minha frente, sua testa tocando a
minha através das grades. Suas mãos eram maiores que as minhas e, quando
ele falou, sua respiração estava quente. Eu não fui para trás, e eu não
entendia o porquê. Estar tão perto dele não estava certo em tantos níveis.
— Eu mudei.
Aiden suspirou.
Abri os olhos.
— Você nunca vai ficar entediado com isso? Você tem que ficar,
eventualmente.
— Porque você não vai desistir de mim, não importa o que eu te disser?
— Exatamente.
— Às vezes eu nem sei o que dizer. — Ele chegou através das barras e as
pontas de seus dedos roçaram minha bochecha. Um momento depois, ele
colocou toda a palma da mão contra a minha bochecha. Eu vacilei, mas ele
não tirou a mão dele. — E há momentos em que eu duvido de tudo o que
faço.
Ele inclinou a cabeça para trás para que meus olhos encontrassem os
dele.
— Mas eu não duvido por um segundo que o que estou fazendo agora é a
coisa certa.
— Não, — Aiden sussurrou. — Eu sei o que você está prestes a fazer. Não
faça isso.
Sua mão estava estendida, como se ele ainda pudesse sentir meu rosto.
— Eu só sei.
Parte de mim não esperava que Aiden respondesse, mas ele fez.
— É o símbolo de Phoebe.
Ele bufou.
— Sim.
— Quem?
— Leto, — ele respondeu. — Que por sua vez, deu à luz Apolo e Artemis.
Eu gemi.
— Claro. Por que não? Então Apolo pediu sua avó um pouco de sangue?
Ótimo. Mas eu não entendo como ele funciona. — Fiz um gesto em torno de
mim. — Como pode negar os meus poderes?
— Eu odeio isso, — admitiu Aiden tão baixinho que eu não tinha certeza
se tinha ouvido realmente. Ele virou-se, dando-me as costas. — Eu odeio que
Seth não faça nada além de jogar com você - mentir para você - e você
confia nele. Eu odeio que essa conexão é mais importante do que tudo que
está acontecendo lá fora.
Eu estava prestes a discutir, mas o meu Seth havia mentido para mim.
Ele provavelmente jogou comigo desde o momento em que ele descobriu que
eu era a segunda Apollyon. Sem dúvida, Lucian o tinha feito. Desconforto
deslizou pela minha espinha, deixando calafrios em seu rastro.
— Isso de Seth mentir para mim. Não importa. Porque o que ele quer, eu
quero. Se eu...
— Você não quer o que Seth quer porque não há você em nada disso.
Existe apenas ele.
Seu riso fez cócegas na minha nuca. Ele fala. Anjo, não será por muito
mais tempo. Lucian nos fez um grande favor.
Outra risada agradável enrolou através de mim. Vamos apenas dizer que
ele me deu uma fonte infinita de isca e manobra.
Houve uma pausa, e eu podia sentir o que Seth estava querendo pelo
vínculo. Ele estava em um clima de brincadeira, mas a conversa era muito
importante para brincar. Finalmente, ele respondeu. Os puros que estiveram
contra nós têm provado ser úteis.
Como assim?
Havia uma outra lacuna e a intensidade do que ele estava sentindo, o que
ele queria, rugiu através da conexão. Por um momento, eu realmente
acreditei que eu podia senti-lo e a emoção me inundou, drenando os meus
pensamentos e me enchendo com a alegria da conexão.
Alex. Sua voz estava repreendendo, auto satisfeita. Você está prestando
atenção?
Bom. Deixe-me lhe fazer uma pergunta, Anjo. Você realmente acha que
daimons orquestraram os ataques sozinhos?
Eu não conseguia pensar quando o meu pulso batia tão forte. Então eu
tinha razão? Um gosto amargo encheu o fundo da minha garganta.
Suspeitar que Lucian tivesse estado por trás desses ataques era uma coisa
- eu não esperava nada menos daquele homem - mas o meu Seth? Ele não
poderia estar bem com isso. Acreditar que ele era uma parte de todas as
pessoas inocentes que morreram era aceitar algo horrível. O que o meu Seth
queria, eu queria, mas os Daimons... eles eram e sempre seriam o inimigo.
Mas ele não foi, e eu nunca iria deixar que nada acontecesse com você.
Nada aconteceu.
Ele não respondeu de imediato, o que fez o meu coração tropeçar em si.
Eu poderia, Anjo, se eu quisesse. Você sabe disso, mas eu não estou. Nós só
queremos as mesmas coisas.
***
Aiden voltou com a comida, e ele trouxe companhia com ele desta vez,
meu tio Marcus. O homem estava realmente sendo meio decente para mim
agora. Irônico. Eu comi e bebi minha água como uma boa prisioneira.
Achei que merecia uma recompensa, como um tempo fora da cela ou algo
assim, mas isso era pedir demais. Em vez disso, Marcus saiu para ir ver o que
os outros estavam fazendo. Assim que a porta se fechou no andar de cima,
Aiden se sentou com as costas pressionadas contra as grades.
— Nada, — eu murmurei.
— Que tom?
— O tom de 'eu tenho algo que eu quero dizer, mas não deveria'. — Um
pouco de humor infiltrou em sua voz. — Estou bem familiarizado com ele.
Bem... droga. Meu olhar caiu para minhas mãos. Os dedos estavam bem,
eu acho. Mas minhas unhas estavam lascadas e curtas. Mãos de um
Sentinela - um Sentinela que matava daimons. Eu empurrei a manga da
minha blusa. Marcas de mordida branco-pálidas cobriam o meu braço direito.
As marcas em forma de lua crescente eram difíceis de esconder e elas
estavam em ambos os braços, bem como no meu pescoço. Elas eram tão
feias, um lembrete vil de ser presa por eles.
Mas o meu Seth iria ficar puto. Ele ia bisbilhotar nas minhas memórias, e
eu queria que ele estivesse feliz comigo. Eu queria...
Eu não queria trabalhar com daimons. Isso era um tapa na cara de todos
aqueles que haviam morrido em suas mãos - minha mãe, Caleb, os servos
inocentes - e as minhas cicatrizes.
Meu Seth... ele só tinha que entender isso. Ele iria, porque ele me amava.
— Só para você saber, eu não estou dizendo isso por causa de alguma
coisa a ver com você. Ok?
— Eu só estou dizendo isso porque eu não acho que isso está certo. Vai
contra alguma coisa... inerente em mim. Eu tenho que dizer alguma coisa.
— O quê, Alex?
— Você se lembra como Marcus achava que havia mais sobre os ataques
daimon, especialmente o do Catskills?
— Sim.
— Aiden?
— Como?
— Eles... eles estão usando os puros como motivação. Os que são contra
eles, nós, eu quero dizer nós.
Aiden virou tão rápido que eu soltei as barras e me afastei. Seus olhos
ardiam em prata.
Eu desviei o olhar.
— São inocentes?
— Sim, e Caleb... ele foi morto por um daimon. Minha mãe foi
transformada por um. — Minha respiração transbordou através de mim e eu
congelei. — Eu quero o que Seth quer, mas eu não posso apoiar isso. Ele vai
entender.
— Será que ele vai? Você sabe que eu vou passar essa informação adiante.
Isso irá dificultar seus planos.
— Obrigado.
— Eu não entendo.
***
Meu Seth não estava louco por que eu tinha tagarelado. Eu não tinha
sequer tentado esconder isso dele. Assim que ele nos conectou, eu disse a ele
o que eu tinha feito. Na verdade, ele parecia ter esperado por isso. O que eu
não entendia, mas de qualquer forma, ele não queria falar sobre isso.
Me contando sobre sua infância, ele era um Seth diferente - um lado dele
que eu raramente tinha visto. Quando ele começou a falar sobre sua mãe, a
vulnerabilidade atravessou o vínculo, como se estar falando sobre sua mãe o
deixasse nervoso.
Callista.
Bonito.
Ela era muito bonita. Alta e loira, régia como uma deusa. Suas
palavras se afastaram por um momento. Considerando a referência verbal no
passado, eu achava que ela tinha morrido. Mas ela não era amável, Anjo.
Ela era fria e inacessível, e acima de tudo, quando ela olhava para mim,
havia sempre o ódio em seus olhos.
Ela me odiava. Sua resposta afiada era como ser encharcada com água
gelada. Eu era um lembrete constante de sua vergonha. Ela conseguiu
provar do fruto proibido, e depois se arrependeu. Mestiços e puros eram
proibidos de se misturar. Só recentemente eu tinha descoberto que o
primogênito de um mestiço masculino e uma pura feminina era um Apollyon.
Quando voltou a falar, sua voz estava suave como um cobertor. Ela não
era nada como sua mãe, Anjo. Não houve um grande caso de amor. Ela
costumava me dizer que a única razão pela qual ela ficava comigo era
porque um deus a tinha visitado depois do meu nascimento. O homem
mais bonito que ela já vira, ou então ela disse. Que o deus lhe disse que
ela tinha que me proteger a todo custo, que eu me tornaria um grande
poderoso um dia.
Em seguida, aos oito anos, ele foi levado perante o Conselho para
determinar se ele iria entrar no Covenant. Sua experiência não foi nada
parecida com a minha. Ninguém o cutucou ou beliscou. Ele não chutou um
ministro. Eles tinham dado uma olhada nele e pareciam saber o que ele iria
se tornar.
Eram os olhos.
As coisas melhoraram para ele uma vez que ele foi enviado para o
Covenant, na Inglaterra, e depois para o de Nashville. Tão estranho que
tínhamos estado tão perto um do outro por muitos anos e nunca termos nos
cruzado.
Mas agora, a dor no peito o estava comendo por dentro. Onde você
nasceu? Eu perguntei, na esperança de levar o tema para longe de sua mãe.
Você nunca me disse.
Ele riu e eu sorri. Seth feliz era um Seth melhor. Você não vai acreditar,
mas você sabe como o destino gosta de mexer com as pessoas?
Como você pode ter tanta certeza? Porque se nós somos como Luke e
Leia, eu vou vomitar.
Minha família não está ligada à sua de qualquer forma. Além disso,
sua linhagem é Apolo.
Encostada na pia, eu quase colei meu rosto contra o espelho. Meu reflexo
estava ondulado, distorcido pela qualidade barata, mas meus olhos estavam
me olhando.
Eles eram âmbar, assim como todos os outros Apollyons depois que
tinham Despertado. Era meio estranho ver os meus olhos assim, mas
também me senti bem. Como se eu tivesse entrado em algo que eu estava
destinada a me tornar. Duh, eu tinha.
Inclinei minha cabeça para o lado. O que acharia o meu Seth quando ele
finalmente me visse - realmente me visse – depois que eu Despertei? Ele
ficaria satisfeito, tão diferente de Aiden, que odiava os meus olhos...
— Oh, Alex, ainda estou impressionado pela forma como o seu ego se
tornou inflado. Deuses, se eu fosse totalmente corpóreo, eu totalmente
chutaria o seu traseiro agora.
— Caleb?
— Uh...
Houve um riso suave atrás de mim. Chicoteando ao redor, eu só... eu só
podia olhar.
— Caleb?
— Não, Alex, você não pode. Você iria passar direto através de mim. —
Ele sorriu. — Embora você parecesse gostar da primeira vez.
— Por quê? Não estou entendendo. Eu preciso sair daqui. Meu Seth
precisa...
— Estou aqui como um último esforço, Alex. — Ele estendeu a mão como
se quisesse me tocar, mas parou. — Apolo me enviou.
— Sim, eu ouvi. Todo mundo no submundo ouviu, mas Alex, você meio
que mereceu. — Quando eu abri a minha boca, ele me silenciou. — Apolo
estaria aqui se pudesse.
— É por isso que você veio do além? Para falar sobre a minha vida
amorosa?
— Bem, o amor de sua vida proibiu Apolo de entrar na casa porque ele
tem medo de que Apolo possa machucá-la. — Oh, sim, Caleb ganhou um
olhar cheio de choque. — E Apolo fez uma de suas ninfas descerem ao
submundo, me puxando para fora debaixo do nariz de Hades para ajudá-la.
Ambos - Aiden e Apolo - estão fazendo coisas malucas para salvá-la.
— Então por que você não está me ajudando a escapar? Você poderia ir
até onde estão as chaves. Eu tenho certeza que Aiden as tem.
Meus lábios apertaram. Caleb era o meu melhor amigo - meu melhor
amigo morto - mas eu não o tinha visto no que parecia ser para sempre, e
nós estávamos discutindo. Eu não queria discutir com ele.
— O que você está fazendo, Alex? Isto não é você. Não é isto o que você
sempre quis.
— Você realmente acha que isso é o que vai acontecer depois que você
conseguir aniquilar todos do Conselho? Lucian vai libertar os mestiços e
todo mundo vai amar uns aos outros?
— E vamos fingir que não é um absurdo e todos nós vamos ser elevados
em pílulas da felicidade. Os deuses nunca vão permitir isso. Eles vão arriscar
expor-se a todo o mundo mortal para pará-lo. Pessoas inocentes vão morrer.
Você vai morrer.
— Cale a boca.
— Alex, você tem que quebrar o vínculo com Seth. Quebre-o e você vai
entender tudo.
— Era assim quando você estava... você sabe, vivo. Você era totalmente
um menino apaixonado por ele.
— E eu ainda sou. Ele é muito legal, mas agora ele está no alto da
energia. Como uma cabeça com metanfetamina. Não. Melhor ainda. Como
uma cabeça com crack e metanfetamina juntos. Ele está fora de controle.
Bons deuses, ele está trabalhando com daimons! E se você sair daqui e se
conectar com ele - transferir seu poder para ele? Está tudo acabado, Alex.
Ele irá drená-la, mesmo sem querer.
Engoli em seco.
— Ele não quer fazer, Alex. Mas ele o faria. E uma vez que ele fizer, ele
vai se tornar o Assassino de Deuses e ninguém precisará de você. — Ele
balançou a cabeça tristemente. — Isto é, se você viver o suficiente para se
conectar com ele. Apolo vai parar você. Cada deus vai descer aqui para pará-
la.
— Não. Não! Porque eu sou forte o suficiente agora, ninguém que eu amo
vai morrer de novo!
— Alex...
— Não diga isso. Nunca diga isso. — Meu peito estava muito apertado. Ele
diminuiu um pouco. — O que está acontecendo?
Eu balancei minha cabeça tão rápido que meu cabelo bateu no meu rosto.
Antes que eu pudesse dizer uma palavra, ele apagou e foi embora. Fiquei ali
por alguns minutos, talvez horas, olhando para o local onde ele esteve de pé,
lutando contra as lágrimas e tudo o que ele tinha dito. Eu não - não podia
acreditar no que ele tinha dito.
Caleb não entendia. Ele nunca tinha perdido as pessoas como eu perdi -
pessoas como ele. Enquanto ele estava no submundo jogando Mario Kart, eu
estava aqui, até os joelhos na dor e angústia de perdê-lo e minha mãe. Eu
estava lidando com o fato de que meu pai era um servo.
Estar conectada com o meu Seth era a única maneira de nos salvar. No
momento em que o meu Seth e eu terminássemos, não haveria mais dor.
Cinco
Eu tive a impressão distinta que o Caleb havia falhado de alguma forma
depois que ele fora embora, e eu esperava que ele não fosse ser punido. Eu
não pensei que o Apolo faria alguma coisa com ele, mas, no entanto, o que
eu sabia?
Uma mão cheia de fritas foi até a minha boca, e então outra. Sal e
gordura revestiam meus dedos. Hum.
Ele havia dado apenas duas mordidas, mas jogou o restante em sua
sacola. Um músculo pulou em sua mandíbula.
— Alex, eu odiei te ver daquele jeito. Por mais que eu odeie te ver desse
jeito. Então se você quer que eu me sinta culpado, eu me sinto. Se você quer
que eu me odeie por tomar aquela decisão, eu me odeio.
Algum tempo depois, talvez umas duas horas, eu ouvi a porta abrir e
fechar rapidamente... muito rapidamente e silenciosamente para ser o Aiden,
que sempre descia as escadas como um guerreiro se preparando para a
batalha.
Duas pernas finas vestidas com jeans vieram à vista, e então uma
camiseta branca larga enfiada na frente do jeans. As botas da altura dos
joelhos entregaram o meu visitante. Elas eram botas lindas.
Olivia.
Ela parou no final da escadaria, seus cachos presos atrás de seu rosto. A
pele cor de caramelo de Olivia era linda, mesmo quando ela estava pálida.
Ela parecia estar olhando para uma horda de daimons agora.
— Não vá, — eu disse, segurando as barras. Uma pálida luz azul brilhou. —
Por favor, não vá.
Eu sorri ironicamente.
— Eles falaram que você ameaçou fazer uma coroa com as costelas do
Deacon.
Ah, infernos...
— Sim, você diz. Alex... — Seu olhar passou pelas barras. — Droga...
Eu tinha que proceder com cautela, mas eu tinha que fazer isso
rapidamente. Vai saber quanto tempo eu tinha antes que Aiden percebesse
que a Olivia estava aqui embaixo e arruinasse minha diversão? Usar
compulsão seria muito fácil e a maneira mais fácil de lidar com isso, mas...
mas uma parte de mim, aquela parte estúpida de mim, queria conversar com
ela... minha amiga.
E havia algo que eu não tinha tido a chance de contar a ela, algo
importante.
— Eu estou?
— Você está dormindo? — Seu olhar passou por mim. — Você perdeu peso.
— Eu não me sinto ótima. Você não tem ideia do que está acontecendo lá
fora. Todo mundo está enlouquecendo, por causa do...
— Nossa?
— Nós íamos, mas está muito ruim lá. Eles não estão deixando ninguém
entrar lá. O lugar está bloqueado, mas há muita luta acontecendo lá dentro,
eu ouvi dizer.
— Que negócios?
— Eu não sei. Eles são meio touros, meio homens... mas máquinas. Nós
os encontramos quando nós estávamos indo para Nova Iorque. Minha mãe
continuou, mas ela não me queria lá. Ela me mandou para cá com a Laadan.
Uma memória nebulosa ressurgiu, uma do Apolo e do Aiden conversando
sobre essas criaturas. Eu me perguntava se o meu Seth sabia sobre elas.
Provavelmente. Eu larguei das barras e coloquei meu cabelo embaraçado para
trás. As pontas se curvavam pelo meu peito e provavelmente estavam
precisando ser cortadas. Perto de Olivia, eu não podia evitar a comparação.
— Eu vi o Caleb.
A boca dela se escancarou, e seja o que for que ela iria falar foi esquecido.
— O quê?
— Você morreu?
— Sim, eu estava morta, e então eu não estava mais. Longa história. Mas
eu vi o Caleb.
— Você está brincando comigo, porque eu juro pelos deuses, Alex, eu vou
te machucar.
— Caleb está bem. Ele realmente está bem. Ele passa a maior parte do
tempo dele jogando Wii, e ele estava com uma aparência ótima. Nada como...
— A parte de trás da minha garganta ardeu. - Ele está realmente bem.
— Ele queria que eu te contasse algo. Eu não consegui, com tudo que
aconteceu.
— Eu não sei o que significa, mas ele disse para te contar que ele teria
escolhido Los Angeles.
Houve uma inspiração afiada, e o silêncio se esticou por tanto tempo que
eu eventualmente tive que olhar, e quando eu o fiz, eu quase desejei não ter
feito.
Ela ficou tensa, e então suas mãos deixaram sua boca quando seus olhos
encontraram os meus. Lágrimas se prendiam aos cílios grossos, mas não
eram elas que deixavam os olhos dela agora vítreos. Era a compulsão na
minha voz, uma habilidade que havia se tornado inata ao Despertar. Parte de
mim abominava o que eu estava fazendo. Olivia era minha amiga. Usar
compulsão nela era errado, mas não havia outro jeito. Eu tinha que chegar
ao meu Seth. Ela eventualmente iria entender.
— Ele está com o seu tio e a Laadan. — Um suave suspiro escapou de seus
lábios.
— Sim.
Sem perder tempo, eu pulei pela lacuna, meio esperando ser cortada por
algum tipo de defesa desconhecida, mas em seguida eu estava do outro lado
das barras.
— Fique aqui, ok? Fique aqui até que alguém venha te buscar.
Olivia assentiu.
Com a boca escancarada, Lea piscou e deu um passo para trás, ficando
contra a parede.
— Não...
Sentinela. Sem pensar duas vezes, eu ergui meu braço e o mais próximo
de mim pegou a maior parte do elemento de ar.
Luke voou para trás, seus olhos arregalados e atordoados. Ele atingiu a
Lea, que havia se movido para frente do Deacon como que para protegê-lo.
Havia vários resmungos, um grito de dor, e então alguém gritou o meu nome.
Virando-me, eu segui em direção à cozinha. Meus pés descalços batiam no
chão enquanto eu fazia a volta na mesa e entrei no solário. Eu alcancei a
porta em segundos, puxando-a e então percebendo que ela estava trancada.
— Alex! Não!
Como eu iria contar ao meu Seth onde eu estava quando eu não tinha
nada a não ser árvores...
— Alex! Pare!
A água se agitou, e então um fluxo se lançou pelo ar, arqueando bem alto
acima de mim. A parede de água continuou vindo, drenando o riacho raso
dentro de segundos. Ela girou em funil, batendo na terra atrás de mim. Um
palavrão foi abafado. Isso deve ter me comprado mais algum tempo.
Correndo para o leito do riacho, lama salpicava meus pés e jeans. Galhos
baixos passavam pelo meu cabelo, arrancando fios e rasgando minha
camiseta. Mesmo com roupas rasgadas, eu continuei seguindo. A luz do sol
espiava por dentre os galhos grossos enquanto eu seguia ainda mais afundo
pela floresta, longe do chalé... longe dele.
Estou fora. Eu pulei por uma pedra sobre um pequeno buraco e cai
agachada. Correndo, eu saí fora. Eu não sei onde estou, mas estou fora.
Seth, eu...
Eu podia ouvir Aiden. Ele estava perto e rápido, alimentado por algo mais
forte que o éter e eu sabia, mesmo eu sendo rápida, que não seria capaz de
correr mais do que ele essa distância se uma parede de água não o tinha
impedido. Eu teria que lutar. Mas eu não estaria sozinha. Meu Seth estava
aqui.
Houve um aperto no meu peito que não pertencia ali. Eu dei um passo
para trás, sentindo um calor radiando dos meus dedos.
A voz do meu Seth zunia através da ligação e eu sabia o que ele queria
que eu fizesse, portanto, eu entendi o porquê eu tinha que fazer isso.
— Que seja.
Eu me lancei em Aiden.
Ele estava preparado para isso. Ele correu para a esquerda, evitando o
meu ataque. Ele era rápido e também muito habilidoso. Eu sabia, porque ele
havia me treinado, mas eu era melhor que ele. Eu era outra coisa.
A luz do sol refletia nas adagas presas às suas coxas, e eu fui atrás delas.
Eu inclinei o meu peso para frente e nós dois caímos de joelhos. Eu senti
o gosto de sangue, mas Aiden não havia me atingido. Nem uma vez. Mas o
meu rosto tinha conectado com o rosto dele mais do que algumas vezes.
— Você já deveria saber que eu não vou desistir de você. Você não é tão
estúpida assim.
— Não posso dizer o mesmo sobre você. — Eu abri minhas pernas e juntei
minha força. — Você não pode ganhar.
Ele estava errado, tão errado. Eu pertencia ao meu Seth. Eu fui criada
para ele, apenas ele, e Aiden estava no caminho.
— Deuses.
Aiden me puxou para cima para que as minhas costas estivessem presas
em seu peito.
— Você pode me odiar o quanto quiser, mas isso não muda nada. — Ele
conseguiu ficar de pé e começou a me arrastar para trás, e eu sabia que ele
me arrastaria o caminho todo até o chalé, até a jaula. — Eu não vou deixar
você fazer isso consigo mesma.
— Você não entende, Alex. Você não pode ficar aqui fora.
— Eles vão te matar. Você entende? — Ele me balançou. — Eles virão para
te matar!
— Para! — ele sibilou em meu ouvido. — Isso não vai funcionar, Alex.
Você pode não se importar em morrer, mas eu me importo o suficiente por
você.
O mundo estava colorido em tons de âmbar. Eu não era eu. Eu não era
nada mais.
Eu era uma deusa, assim como Seth havia dito. Nós éramos deuses.
Meus pés tocaram o chão e eu dei um passo para frente... um, e então
outro. E Aiden não se mexeu. Ele esperou. Estava naqueles olhos dele, a
finalidade disso. Ele não iria ganhar, ele não conseguiria e ele sabia disso.
Aiden tinha aceitado. Enquanto eu o alcançava, a chuva parou e as nuvens
se dissiparam. O sol seguiu os meus passos.
— Amar não é ser fraco. O amor é a coisa mais forte que existe.
A luz do sol caía sobre nós, e eu recuei. Akasha cobria minha mão direita.
Quando eu a soltasse, ela iria extinguir a vida de tudo em seu caminho.
Havia morte naquela beleza. E Aiden não fez nenhum movimento para
defender sua vida.
O meu olhar caiu entre nós. O colar de rosa havia deslizado para fora,
exposto pela gola rasgada da minha camiseta. Um raio de luz pegou as
bordas do cristal vermelho da rosa florescida... uma coisa tão delicada,
trabalhada pelas mãos de um verdadeiro guerreiro. O ar deixou os meus
pulmões e o meu braço começou a tremer.
Nós estamos nisso juntos, Alex, até o fim. Aquelas palavras não eram de
Seth, mas esse era o fim. Os meus olhos queimavam como se estivesse
chovendo ácido, mas o céu estava claro. Eu estava a segundos da liberdade...
mas tanta coisa, tantas memórias começaram a passar pela minha cabeça.
Seth gritou agora, sua voz rugindo na minha cabeça, e não havia como
escapar dele. Ele estava em todo lugar, em cada célula e pensamento, me
puxando. Mas eu não conseguia respirar e embaixo de mim, ele estava
debaixo de mim, e eu não conseguia pensar direito. Havia tantas vozes
novamente. Tantas vozes diferentes, algumas eram minhas... e eu não
conseguia pensar.
Foi como ver Aiden depois de meses de separação. Ele estava claro para
mim. A curva larga das maçãs de seu rosto, as covinhas, e a forte linha de
sua mandíbula - características que eu havia guardado na memória eras
atrás. Ondas escuras se enrolavam sobre sua pele naturalmente bronzeada -
uma pele marcada por contusões e manchas vermelhas. Machucados que eu
tinha feito nele, mas ele ainda possuía aquela beleza masculina que sempre
me desfazia.
Eu explodi em lágrimas.
Sete
Sim, eu não ia parar de chorar tão cedo. Estes eram os tipos de soluços
grandes, embaraçosos e de tremer o corpo inteiro. Aqueles dos quais eu não
conseguia pensar ou enxergar... Diabos, até mesmo respirar.
Eu não podia escapar de todas as coisas que eu havia dito desde que eu
havia Despertado. Desde o momento em que eu havia me conectado ao Seth,
eu havia me transformado em uma personificação viva e respirando do meu
maior medo e eu nem tinha percebido isso. Seth e o que ele queria me
consumiram até não haver mais nada, e eu pensei que eu seria mais forte
que isso.
Não, eu queria dizer, porque eu não tinha certeza de que alguma vez
estaria pronta para encarar todo mundo. Além de me transformar na Alex
Má, eu também havia sido a Alex drogada e que se escondia nos armários.
Mas eu respirei fundo e eu me senti ok, bem até.
— Ok.
Ele me colocou de pé, suas mãos nos meus quadris. Um olhar em seus
olhos preocupados e eu sabia que ele estava pensando a mesma coisa.
Antes que ele pudesse abrir a boca, um gemido agudo sacudiu os ramos
acima. O ar ao nosso redor parou, e então o som de asas batendo tirou o
fôlego dos meus pulmões em uma saída dolorosa.
— Não. Não...
Elas eram lindas - as duas fúrias. As duas eram pálidas com uma pele
translúcida e cachos longos e loiros que fluíam enquanto elas subiam
simultaneamente, seus corpos movendo sinuosamente enquanto uma dava
um passo para frente, seus pés descalços afundando profundamente no solo.
Thanatos.
Ela gemeu uma mistura de grito de bebê e uma hiena enquanto ela se
arqueava segurando seu toco ensanguentado.
Droga.
Eu engoli o enjoo.
— Nojenta?
A outra fúria estava indo no Aiden com o seu braço bom remanescente,
encurralando-o enquanto ela evitava a foice perigosa. Ele olhou para mim e
aquele pequeno momento custou a ele.
— Puro-sangue bonito...
Aiden passou por debaixo do braço da fúria, aparecendo atrás dela, mas
ela se virou muito rapidamente e atacou, atingindo o Aiden ao longo do peito
com a parte mais larga de seu braço.
Jogando meu braço para frente, uma rajada de luz azul intensa surgiu na
minha palma aberta e arqueou. A minha mira estava ruim já que eu estava
tentando acertar a cabeça da biscate, mas a rajada de energia atingiu a asa
da fúria, fazendo-a girar.
Thanatos rugiu sua raiva. A fúria disparou para o ar, mas engasgou com
uma asa e voltou para baixo espiralando. Aiden correu para o lado, mas não
rápido o bastante. Cansada de lutar contra mim como eu estava exausta da
nossa batalha, ela bateu nele e os dois rolaram em um emaranhado de
braços, lâminas, e garras mortalmente afiadas.
O deus virou seus olhos estranhíssimos para o meu tio e ergueu outra
mão.
— Desculpa, mas essa é minha sobrinha, então isso não vai acontecer.
Algo com garras afiadas e hálito horrível segurou o meu cabelo e puxou
com força. Eu caí no chão e, num piscar de olhos, o ar perfurou os meus
pulmões. Lutando para ficar de joelhos, um segundo passou e os pés
descalços da fúria conectaram com o meu queixo, empurrando minha cabeça
para trás.
Um gosto metálico inundou minha boca. A adaga voou das minhas mãos
enquanto a dor radiava pela minha espinha, explodindo sobre os meus
nervos.
Morte? A ficha então caiu. Eles não podiam me matar. Sim, eles podiam
me machucar seriamente, mas me matar? Não. Eu era o Apollyon. Eu
exercia controle sobre os quatro elementos e o quinto e mais poderoso -
akasha. Eu era a força do Assassino de Deus. Eu era a combustão dele - o ás
na manga dele. Eu era o começo e ele era o fim. E juntos... não havia juntos.
Ela hesitou.
Eu me lancei de pé.
Um raio de luz branca voou da mão do Thanatos e não havia uma única
coisa no mundo que poderia ter se movido rápido o bastante para evitá-lo.
Nem mesmo Seth, eu estava apostando.
Aiden gritou o meu nome, e então eu pensei ter ouvido o meu nome sendo
chamado novamente, mas era dentro da minha cabeça, alto, e tão, tão
bravo... e soava como o Seth.
— Como se isso importasse. O tempo vai passar e ela vai se conectar com
ele novamente.
— Isso importa sim! — Apolo rugiu. — Se ela não está conectada com o
Primeiro, nós não devemos machucá-la! Você... — Apolo grunhia um som
cada vez mais próximo a um sibilo. — Chame suas duas fúrias para longe ou
elas vão se juntar à irmã delas. Eu te prometo.
— Nós devemos...
Eu fechei meus olhos e esperei que o Apolo ganhasse essa rodada, porque
de jeito nenhum eu ia lutar mais. De jeito nenhum.
Aiden havia vivido dias melhores. Sangue escorria do canto da boca dele.
Uma contusão sombreava sua mandíbula e a parte da frente da camiseta dele
estava rasgada, mas ele estava vivo e estava bem.
— Mas eu terei que responder por isso, eu acho. — Apolo entregou a adaga
para um Solos machucado. — E pode levar alguns dias...
— Sim, — eu sussurrei.
Aiden assentiu.
Apolo virou para os outros homens e acenou com a cabeça. Sua forma
começou a desaparecer.
— Espera, — eu chamei. Eu tinha tantas perguntas, mas tudo que ele fez
foi olhar por cima do ombro e sorrir
Oito
Eu não me lembro muito da caminhada de volta para a cabana. Em
algum momento, eu me contorci o suficiente para conseguir me libertar e
caminhar por mim mesma, mas estava me movendo tão lentamente e tão
pateticamente que Aiden tinha finalmente parado de resmungar baixinho e
me pegou de volta.
— Sim, você meio que precisa - nós dois precisamos. — Girando, ele se
dirigiu para o banheiro. Me colocando de pé, os olhos sombrearam com
preocupação quando eu balancei um pouco. — Você está bem?
Seus olhos procuraram meu rosto com tanta intensidade que eu agarrei a
pia.
Eu tremi sob a água, pressionando meu rosto com minhas mãos. Elas
tremeram. Eu tremi. Mudei-as para a corrente em volta do meu pescoço,
deslizando os meus dedos na rosa. Algo tão pequeno tinha sido a única coisa
forte o suficiente para quebrar a ligação.
Mas não era ela em si, mas o que ela simbolizava - o amor de Aiden por
mim e como eu me sentia por ele - algo puro e natural, uma emoção não
forçada. Ver isso tinha quebrado o vínculo entre Seth e eu.
O vínculo foi quebrado, mas Seth ainda estava lá... no final da corda
adormecida na boca do meu estômago. Deuses, ele tinha estado tão furioso,
realmente assassino, mas o choque tinha percorrido a nossa ligação um
segundo antes de ter terminado. E, novamente, quando Thanatos tinha me
atingido com a força do deus, ele estava lá como um perseguidor assustador
com um bilhete só de ida para o meu cérebro.
Seth não tinha acreditado que eu seria capaz de quebrar o vínculo. E até
que ponto isso teria ido se não tivesse?
Eles estão vindo para te matar. E apesar de Thanatos não ter força para
realizá-lo, ele com certeza não tinha problema em me ferir - ou qualquer
pessoa que me defendesse. As pessoas poderiam ter morrido hoje por minha
causa.
Eu tomei fôlego.
E por que Aiden expulsou Apolo da cabana? O que aconteceu com aquele
amor incondicional?
Água fluiu sobre meu corpo, sobre a pele que estava tão ferida como o
meu interior e meu cabelo colou às minhas costas. Fechando os olhos, eu
levantei meu queixo e deixei o chuveiro fazer seu trabalho, apagando as
lágrimas que haviam se agarrado aos meus cílios com força, limpando a
mente de tudo.
Mordi o lábio e as minhas pernas começaram a tremer. Mas ele estava lá.
Como sempre, me segurando quando eu não conseguia ficar de pé e me
deixando ir quando ele sabia que eu precisava dele para isso. Ele era mais do
que apenas um abrigo. Aiden era a minha outra metade, meu igual. E ele não
precisava da estranha conexão Apollyon.
Aiden esperou, imóvel como uma estátua, paciente como nunca, até que
meus músculos destravaram, um por um. Então suas mãos desceram até
minha cintura e ele me virou para ele. Um instante passou e ele colocou os
dedos no meu queixo, inclinando minha cabeça para trás.
Não era o tipo de amor que era impulsionado pela necessidade e que
destruía cidades e civilizações inteiras, mas o tipo que reconstruía, isso eu
sabia.
Eu não sei como nós fomos para a cama ou se a água já estava desligada
no chuveiro. Mas estávamos juntos, nossos corpos escorregadios, nosso
cabelo molhado ensopando os lençóis onde estávamos emaranhados. E então
nós estávamos emaranhados, as pernas e os braços. Suas mãos estavam em
todos os lugares, prestando reverência às muitas cicatrizes em meu corpo.
Seus lábios acompanharam, e eu me adaptei mais aos músculos rígidos de
seu estômago, sentindo ele.
— O quê? — Aiden segurou meu rosto, levando meus olhos de volta para
ele. — Isso está muito rápido? Eu deveria…
— Não. Não, são... são as marcas de Apollyon. Elas estão fazendo seu
trabalho agora.
— Eu as vi, — disse ele, sua voz rouca e profunda, e seus olhos como
piscinas de prata líquida. — Quando você Despertou, e quando você entrou
no Elixir. — Suas sobrancelhas se apertaram enquanto ele passava a mão
sobre meu quadril. — Elas eram bonitas.
— Sério? — Eu me senti bonita quando ele olhou para mim, mesmo toda
tatuada.
Algum tempo depois, nós nos colocamos frente a frente, a sua mão em
volta da minha menor. Nossos corpos estavam pressionados. Exaustão me
perseguia agora, e a Aiden, também - há semanas. Os combates e tudo o mais
nos tinham desviado para a borda. Sono me pegou primeiro. Eu só sabia disso
porque eu podia sentir o olhar de Aiden na minha cara, e segundos antes de
eu adormecer, senti seus lábios na minha testa. Eu o ouvi sussurrar,
Aiden tinha ido embora na hora em que eu tinha me arrastado para fora
da cama. Eu queria ficar entre as cobertas, inalando seu aroma único de mar
e folhas queimando, segurando o travesseiro que ele tinha usado perto do
meu peito. Eu queria esperar lá até que ele voltasse, para que eu pudesse me
enrolar em volta dele, fazendo um replay de ontem à noite.
Mas a realidade não ia fazer uma pausa ou esperar por nós. Havia demais
para ser feito e eu precisava enfrentar todos. Eu dei um longo suspiro e
afastei-me do espelho. Olhar para a minha cara por horas não ia resolver
nada.
Ele se virou.
Meu rosto corou e eu parei no degrau, totalmente sem saber o que dizer.
— Isso é o que eu ouço. — Seus olhos azuis brilhavam. Agora eu corei por
toda uma nova razão. — Tenho certeza de que você está com fome. Você
dormiu por quase um dia inteiro. Todo mundo está na cozinha agora.
— Não. É uma noite de comida pronta, então você está com sorte.
— Oi.
Estremeci.
— Ah, não se preocupe com isso. — Deacon sorriu quando ele se inclinou
para trás em sua cadeira, balançando-se sobre duas pernas. — Ele está bem.
— Meu ego não está. — Ele atirou ao irmão de Aiden um olhar obsceno. —
Ela nem me tocou.
Eu me senti horrível.
— Alexandria...
Meu tio sempre se recusou a me chamar pelo meu apelido e eu sempre lhe
chamei de reitor, devido a sua posição no Covenant, mas as coisas... as
coisas eram diferentes agora.
— Marcus?
— Ha, — eu disse.
— Deuses.
Solos e Marcus deram um passo adiante, mas eu acenei minha mão para
eles.
Eu pensei que ela poderia me bater de novo, então eu dei um passo para
trás.
— Mas eu estou melhor agora, especialmente por que pude bater em você.
— Então ela saltou para frente e me abraçou.
— Nós vamos conversar mais tarde. Prometo. — ela disse, e eu sabia que
ela estava falando sobre meu pai. Pegando minha mão, ela me puxou para o
lugar vazio ao lado de Olivia. — Sente-se. Coma.
Olhando pela mesa, vi um prato de plástico passando, cada pessoa
derramando uma porção de comida nela. Mesmo Lea, que não tinha dito uma
palavra para mim, no entanto, colocou alguns camarões no prato. Quando
chegou em mim, minha boca encheu de água, mas eu tinha de dizer alguma
coisa primeiro.
— Gente, eu realmente sinto muito por tudo. — Olhei para o meu prato,
mas forcei meus olhos de volta. — Eu sei que era um terror e eu desejo... eu
desejo que nenhum de vocês tivesse que passar por isso.
— Nós sabemos que você não era você, Alexandria. Nós compreendemos.
— Eu não sei se eu diria que foi divertido, — uma nova voz acrescentou.
Minha cabeça virou e meu coração caiu sobre si mesmo. Aiden estava na
porta da cozinha, vestido como sempre - como um Sentinela. Ele caminhou
até a mesa e pegou o maço de arroz integral. Ele encostou-se ao balcão, a
curva de sua mandíbula forte, olhos como pedra.
Eles encontraram os meus. Ele apontou para o meu prato com o seu
maço.
Ele sorriu.
— Poser.
— Punk — Retorqui.
Eu terminei tudo o que tinha sido dado, comi o arroz restante que Aiden
tinha despejado no meu prato quando ele rondava em torno da mesa, em
seguida, acabei com bondade açucarada que eram os donuts.
— Mmm, Big Macs... Por favor, me diga que há um McDonalds por aqui?
Na verdade, onde eu estou?
— Okay. Vou chover neste desfile feliz. Como sabemos que você ainda
não está conectada ao Seth?
Deacon bufou.
— Lea, querida, ela não tem motivos para fingir. — Laadan sorriu
gentilmente. — Se ela estivesse ligada ao Primeiro, ela não estaria sentada
aqui.
— Eu sinto o amor.
— Eu não estou ligada a ele e tenho certeza que ele não pode passar
através dos escudos. Mas sei que ele está lá. Eu posso senti-lo.
— Quer dizer, eu posso senti-lo, mas ele não pode me atingir, não
realmente. Há apenas um zumbido de baixo nível. Nada como antes. Ele não
pode chegar até mim. Tenho certeza.
— Olha, eu não posso dizer que alguma coisa esquisita não vai acontecer.
Eu não sei o que ele é realmente capaz de fazer, mas vai ser realmente difícil
passar por esses escudos.
— Bem sei.
O grupo seguiu Marcus, mas eu fiquei para trás. Pegando as latas vazias,
levando-as para o caixote de lixo onde Aiden estava colocando um saco
limpo dentro.
— Aiden?
— O quê? Você está com as mãos pegajosas e está tocando tudo. — Ele
esguichou o sabão em minhas mãos. — Você vai deixar impressões digitais
em todo o lugar.
— Você está?
— Você sabe como é quando você está em uma casa com uma TV no
mudo? Há aquela frequência que você pode estranhamente sentir? — Quando
ele acenou com a cabeça, sorri. — É assim. Ele só está lá, mas ele não pode
me alcançar.
— Alex…
— É.
Era como segurar uma bomba - uma bomba projetada para decompor
minha mente.
— Aiden?
Sem dizer uma palavra, ele jogou o que restava do Elixir. Doçura encheu
o ar, indo embora quando ele abriu a torneira. Eu esperava que ele não
estivesse cometendo um erro.
— Só garantindo que vocês dois estão bem, — disse ele, uma sobrancelha
arqueada.
Uma onda de vergonha e culpa bateu no meu estômago.
Eu suspirei.
— Deuses, eu meio que sinto falta de Apolo. Pelo menos ele não achava
que eu queria matá-lo.
— O que você fez? Você baniu ele, certo? Como? Por quê?
— Hoje é 5 de abril.
— E onde eu estou? Se isso faz você se sentir melhor, você pode me dizer
o estado.
— Ok, eu sei que você tem que estar inventando esse nome.
— Illinois? — Meu cérebro estava preso no nome Apple River sendo real.
— Nós não vimos muitos dos deuses, exceto Hefesto que reforçou as
barras, — disse Lea, estudando as unhas. — Ele era um pouco assustador.
— Eu não posso acreditar que Aiden deu um soco nele, — disse Marcus
derrubando o resto de seu vinho.
— Eu fiz.
— Todas as vezes que você gritou comigo por bater em pessoas, e você
acertou um deus? — Eu não podia acreditar.
— Tudo bem, tem havido mais ataques como... como o que aconteceu
com o Covenant?
— Exceto por dizer a você que eles estavam trabalhando com daimons, —
ela disse, e eu assenti. Ela olhou para Marcus e suspirou. — Muita coisa está
acontecendo lá fora, querida. E pouco disso é bom.
— Diga-me.
— Nós realmente não temos que lhe dizer. — Lea pegou um controle
remoto fino e virou, apontando para uma tela plana na parede. — Nós
podemos apenas lhe mostrar.
Lea pegou uma das estações de notícias em todo o país. Eu não achava
que haveria qualquer coisa acontecendo neste instante, mas aparentemente
tanta coisa tinha acontecido que estava sempre nas notícias.
E havia mais.
Laadan assentiu.
— É muito para engolir, hein? — Luke disse, enquanto olhava para suas
botas pretas. — O mundo foi para a merda em cerca de um mês.
— Não é tarde demais. Os deuses estão nos mostrando o que eles querem.
— Lea soava muito madura para ser a garota que eu tinha jogado uma maçã
a alguns meses atrás. — Eles querem Seth morto.
Eu sabia que não era tanto o caso. Eles queriam um de nós mortos, de
preferência antes de nos juntarmos. Tentei pensar em algo útil. Depois que
eu tinha Despertado, eu aprendi a história de todos os Apollyons, mas nada
disso era útil. Nada disso, exceto algo com Solaris...
— Isso não é tão simples como matar Seth. — Solos coçou a barba em seu
queixo. — Há o problema de chegar perto. Dionísio disse que Lucian tinha
muitos Sentinelas e guardas, principalmente mestiços.
Dionísio? Como no mundo ele tinha vindo parar na cena? Não era ele o
deus dos bêbados ou alguma coisa assim?
Então ele iria levar o meu poder, possivelmente até me drenar, porque
agora eu não tinha certeza de que poderia parar Seth mesmo se ele quisesse.
Não importa o que ele disse para mim enquanto estávamos conectados, eu
não poderia confiar em suas promessas, seu discurso de vendas, porque eu
realmente não acreditava que Seth sabia o que estava fazendo.
— Por favor, pelos deuses, me diga que você não é ainda contra matar
Seth.
— Não, — Lea disse. — Seth tem que morrer e Alex é a única pessoa que
pode fazer isso!
Todos, incluindo Aiden, olharam para mim. Ele começou a falar, mas
fechou a boca. Verdade seja dita, eu detestava a ideia de matar qualquer
coisa neste momento. Não quer dizer que eu não faria isso quando
enfrentasse um daimon novamente, e mesmo que Seth tenha sido um real
idiota sobre as coisas, eu sabia que no fundo ele não era nada mais do que
um menino mal amado que queria aceitação. E sim, ele tinha um vício
grande com Akasha, mas ele era uma vítima de tudo isso, também. A única
pessoa que eu provavelmente desfrutaria eliminar, só um pouco, era Lucian.
Sim, eu poderia aceitar isso.
Aiden parecia que não tinha gostado de ouvir isso, mas ele se virou para
Solos e assentiu.
— Apolo disse que pode demorar alguns dias para voltar, mas ele pediu
que não tirasse as proteções até que ele pudesse vir até nós. Essas proteções
os impedem de nos encontrar, e agora elas são a única coisa que impede os
deuses de nos encontrar.
— Você foi para fora, além das proteções, — disse Aiden. — Esperamos
que Apolo possa nos dizer mais quando ele retornar.
— Então, vamos esperar aqui até ele retornar e não fazer nada? — Lea
caiu contra a almofada, cruzando os braços. Um olhar petulante atravessou o
seu rosto.
Ninguém parecia esperançoso, mas Aiden sorriu para mim, e eu sabia que
ele tinha feito isso para me fazer sentir melhor, porque era o que eu queria
ouvir. Precisei de muito para não cruzar o quarto e pular em cima dele.
Prioridades, Alex, prioridades...
— A única coisa que Seth me contou foi sobre os daimons, e ele sabia que
eu tinha dito a Aiden depois. Eu não acho que ele estava muito preocupado.
Ele realmente não me disse mais nada. Os planos que ele... os planos que
fizemos foram sobre libertar o meu pai.
Minha boca se abriu para negar que Aiden era o meu garoto apaixonado.
A resposta foi imediata, inerente a minha natureza. Eu forcei minha boca
para ficar fechada antes que pudesse dizer qualquer coisa. Todos nesta sala
já sabiam que Aiden e eu estávamos juntos juntos. Inferno, todos no mundo
provavelmente já adivinharam, cortesia do anúncio de Lucian antes de Seth
explodir o Conselho, o que tinha feito de Aiden o Inimigo Público Número
Dois.
Era estranho ser tão aberta sobre isso - não estranho de uma maneira
ruim, mas algo que iria levar um pouco de tempo para me acostumar. Eu não
era o segredinho sujo de Aiden.
Eu nunca tinha sido seu segredinho sujo.
Deacon riu.
— Oh, você está tão próxima de ser a próxima pessoa a ser atingida.
Estou colocando dinheiro nisso.
— Isso é algo para seguir. — Marcus olhou para o vidro, como se ele não
conseguisse entender como estava vazio. — Ele não vai alcançar isso. Não
com os Khalkotauroi cercando o lugar.
Olivia estremeceu.
— Eles vão atrasá-lo. — Marcus se empurrou para fora da mesa, indo para
a porta. — Mais alguém necessita de bebidas?
Depois de alguns minutos, era apenas Aiden e eu. Ele se sentou ao meu
lado, exalando um longo suspiro.
Parecia que ele ia dizer alguma coisa, mas se inclinou e beijou minha
testa em vez disso.
— Ele não estava com você antes. Isso é o que você estava fazendo
quando todo mundo estava comendo, certo? Verificando as redondezas,
certificando que daimons não irão aprontar com a gente?
Mas ele ainda estava patrulhando, porque é isso o que Sentinelas fazem, e
eu pensei sobre como ele estava disposto a deixar esta vida... deixá-la por
nós. Eu aposto que, se nós vivêssemos em um lugar como Apple River, ele
ainda verificaria o quintal toda noite. O pensamento me trouxe um sorriso
aos lábios.
— Eu sei.
Olhando pela janela, eu respirei, mas o ar ficou preso. Será que Seth
poderia me alcançar? Eu seria capaz de lutar contra o que ele queria? Se eu
fosse capaz, eu poderia de alguma forma discutir com ele? Ou será que eu só
me perderia de novo, e desta vez não haveria volta para mim? Uma dor
perfurou meu peito.
Incapaz de pensar sobre isso sem parar, peguei o controle remoto e liguei
a TV. A notícia ainda estava focada no terremoto terrível em Los Angeles e
no desenvolvimento da história do Noroeste do Pacífico.
Eu não sabia e isso realmente não importava. Este era o lugar onde
estávamos agora, e as coisas estavam ruins. Apesar de todo o conhecimento
dos Apollyons estar flutuando na minha cabeça, nada disso era útil quando
se tratava de corrigir isso.
Laadan apareceu na porta, vestida com calça e um suéter branco hoje.
Seu cabelo estava perfeitamente amarrado em um coque, apesar do fato do
mundo estar uma loucura lá fora. A mulher era deslumbrante.
— Você não tem que se desculpar. Isso não foi culpa sua. — E não era.
Laadan tinha sido obrigada a me dar o Brew – algo como um Boa Noite
Cinderela super potente dos deuses - por um dos guardas de Telly,
provavelmente o que eu tinha matado...
— Laadan, sério, você não tem que pedir desculpas. Eu sei que você
nunca estaria disposta a fazer algo assim. E sei que você não se lembra de
quem fez isso. Está tudo bem. — E, deuses, eu não queria falar sobre aquela
noite. Além do fato de que ela me fazia pensar sobre o Guarda que eu tinha
matado, se eu não tivesse acabado vomitando as minhas tripas para fora,
Seth e eu... nós teríamos transado, e depois de tudo agora, eu não acho que
algum dia superaria isso.
— O seu pai é um... é um homem incrível, Alex. Você deve saber disso
acima de tudo.
— Eu sei. — Eu sabia, porque ele tinha que ser incrível para quebrar as
regras e amar a minha mãe. — O Elixir não funcionou no meu pai, não é?
— Seu pai - Alexander - bem, ele sempre teve uma forte vontade, assim
como você. O Elixir exerceu o seu poder sobre ele, mas ele nunca caiu
completamente na compulsão. Eu não sei como, mas ele resistiu desde o
início.
— Você o viu. — Seu olhar mudou-se para a janela atrás de nós. A luz
solar da manhã cedo cortava o vidro coberto de geada. — Ele estava na
biblioteca na noite em que falamos sobre sua mãe e ele.
Ela assentiu.
Quantas vezes eu tinha estado perto do homem - do meu pai - sem saber?
Um furacão de decepção cresceu dentro de mim.
— Sim, ele sabe. — Ela esticou a mão vazia, tocando suavemente a pele
do meu rosto, perto de uma contusão que já estava começando a se curar. —
Ele iria reconhecê-la em qualquer lugar. Você parece muito com a sua mãe.
— Eu tentei falar com ele, Laadan. Na escada, mas ele só... olhou para
mim. E por que ele não veio até mim na biblioteca? Eu sei que ele não podia
simplesmente anunciar quem ele era, mas por que... — Minha garganta
apertou. — Por que ele não quis falar comigo, pelo menos?
— Oh, querida, ele queria falar com você mais do que qualquer coisa, mas
não é tão simples assim.
— Ele estava muito perto de você quando você estava lá e você não sabia,
mas era também muito perigoso para ele ser visto ao seu redor. A verdade do
que ele é, o que sua mãe era, e o que você é, era muito arriscada. Você já
tinha muitos olhos em você.
— As coisas são mais complicadas do que você imagina, Alex. Ele não
podia falar com você.
— Os Mestres sempre suspeitaram que seu pai era diferente, e que talvez
ele estivesse influenciando outros servos. Eles o trataram muito cruelmente.
Ele não podia falar com você, Alex. Eles removeram metade da sua língua.
Eu recusei o que ela disse. Eu tinha ouvido errado. Não havia outras
opções.
— Sim.
— Eu concordo, mas... —
Mas agora, neste instante, não havia nada que eu pudesse fazer. Acredite
ou não, nós tínhamos problemas maiores. A Ordem da Raça e como os
mestiços eram tratados não importavam se estivéssemos todos mortos.
Diante de Laadan, eu percebi uma coisa enorme - enorme para mim, pelo
menos. A antiga Alex teria provavelmente invadido algum lugar e chutado
um Mestre nas partes onde mais doía. Uma grande parte de mim queria fazer
isso, mas a nova Alex - essa menina/mulher/qualquer coisa, que veio do
nada, sabia que algumas batalhas tinham que ser planejadas.
— Ele ainda está lá? — Quando ela acenou com a cabeça, eu queria
levantar e descobrir como chegar a Nova York, mas a lógica se infiltrou.
Seria quase impossível chegar até ele. E com Seth lá fora, procurando por
nós? Seria apenas estúpido sair correndo.
Mas eu queria gritar que eu precisava dele aqui comigo. Eu não era mais
importante? Sua filha há muito tempo perdida? Eu fiz uma careta. Bem, é
bom ver que um pouco do meu egoísmo ingênuo ainda estava presente.
Eu comecei a sorrir.
Ela empertigou-se.
— Seu pai…
— Alexandria! — ela retrucou, mas não havia nenhum calor real no seu
tom de voz.
— Você é tão parecida com o seu pai. Sua teimosia e tenacidade. — Seu
olhar se dirigiu à porta fechada. O cheiro de café fresco cresceu. — E, assim
como seu pai, você se atreveu a amar um puro-sangue.
Eu achei que ela tivesse dado risada, mas eu tinha que estar errada,
porque isso seria tão grosseiro da parte dela.
Por alguma razão estranha, parte do peso saiu dos meus ombros e eu
deixei de ser uma Alex vingativa, apesar de ser mais madura, e virei uma
menininha em menos de dois segundos.
— Ele te ama tão fortemente. Era óbvio para mim desde o início.
— Era?
Sabendo o que tinha acontecido a seus pais na frente dele enquanto ele
ainda era um menino, eu podia ver porque ela achava isso. Tornar-se um
Sentinela e vingar seus pais havia se tornado tudo para ele.
— E então eu vi o jeito que ele era ao seu redor, em Nova York. — Ela
sorriu melancólica e virou-se novamente. — Estava tudo na forma como ele
olhava para você - do jeito que ele sempre olhou para você. Você era o seu
mundo, provavelmente antes de qualquer um de vocês perceberem isso.
— Você soube de tudo isso pelo jeito que ele olhava para mim? — Eu
talvez parecesse cética, mas oh, uau, aquela menininha estava pulando e
gritando dentro de mim.
— Ele olhava para você como um homem faminto pela única coisa que
poderia aplacar a sua fome.
Meus olhos saltaram e meu corpo liberou cerca de mil tons de vermelho.
— Oh, wow...
Isso era muita informação. Como é que mais pessoas não tinham notado
isso? E então isso me atingiu. Laadan saberia, porque era assim que ela
olhava para o meu pai... e, provavelmente, tinha testemunhado o meu pai
olhando para a minha mãe da mesma maneira.
— Obrigada.
— Conversar com você sobre o seu pai é o mínimo que eu poderia fazer.
Se você gostar, há muitas histórias que eu posso te dizer. Será uma alegria...
falar abertamente sobre eles.
— Quanto tempo você vai olhar para suas mãos? Eu não estou ficando
mais jovem por aqui.
Eu me mexi para frente, fazendo uma careta quando meu jeans frios
irritaram a minha pele.
— Eu não acho que esse é o tipo de treino que Apolo tinha em mente.
Solos colocou uma mecha de seu cabelo para trás de sua orelha.
— Eu acho que eles poderiam usar mais a sua ajuda. Eu poderia estar
trabalhando no uso de akasha agora. Seth tem anos de experiência prática a
mais que eu.
— E você vai trabalhar com isso, mas não agora. — Solos estava longe de
ser tão paciente como alguns dos meus treinadores anteriores tinham sido.
Ele estava na mesma categoria que Romvi.
Nossos olhos se encontraram, e não havia muito calor por trás de suas
palavras, mas ele estava frustrado comigo e eu odiava isso, porque eu estava
sendo uma pirralha. Eu não sabia o que havia de errado comigo. Desde que
Laadan e eu tínhamos nos falado, o meu humor havia caído. Falta de sono,
talvez?
A ferroada da advertência de Aiden me forçou a voltar para Solos, que por
sinal, tinha lama respingando nele como sangue na cena de um crime
horrível. Ninguém neste mundo poderia me convencer a fazer o que eu
deveria estar fazendo tão rapidamente quanto Aiden.
Uma parte de mim odiava isso. A outra parte respeitava e agradecia a ele
por isso.
Solos apoiou-se no chão, expirando pelo nariz. Nós nos mexemos para
desarmar um ao outro, o que geralmente tinha sido um ponto fraco para
mim.
— Isso você tem. — Ele deu um sorriso torto que não esticava a cicatriz.
Ele era bonito quando sorria daquele jeito. Inferno, ele era bonito mesmo
com a cicatriz - como um pirata. — Mas me corrija se eu estiver errada - usar
os elementos não te cansa?
— Utilizar os elementos pode cansar, mas não tanto como akasha. É por
isso que ele não o usa o tempo todo. Enfraquece-o - a nós, eu acho.
Ou titânio-contra-titânio.
Laadan assentiu.
Vesti uma das camisas de algodão fino que atingiu as minhas coxas, e de
jeito nenhum eu queria voltar para o quarto fresco intocado que deveria ser
meu. Deslizando sob as cobertas, eu me aconcheguei, inalando o cheiro de
terra que cobria a cama.
Minha boca se abriu, mas meu grito foi estrangulado pelo pedaço de
terror na minha garganta enquanto eu me torci para o lado e tentei me
manter acordada... acordada.
Sua cabeça se inclinou para o lado e o cabelo escuro caiu sobre sua testa.
Eu fechei meus olhos, querendo falar com ele sobre o sonho, mas ao
invés disso, outra coisa saiu.
— Eles cortaram a língua do meu pai, Aiden. Ele não pode falar. Eles
fizeram isso com ele.
Fora do silêncio que tinha caído no quarto mais uma vez, Aiden disse:
— Eu te amo.
Não havia como perder o fio pesado de emoção em sua voz. Minha
respiração ficou presa. Mesmo com a minha tentativa de sedução falha, ouvi-
lo dizer essas três pequenas palavras era algo de que eu nunca me cansava.
— Eu também te amo.
Estava mais frio lá dentro, mas de uma maneira estranha, cercado por
todas as plantas e janelas com nada além de escuridão iminente lá fora,
estava calmo.
Realmente pareceu que Seth tinha estado aqui esta noite, inclinando em
cima de mim e sussurrando sua advertência. Nem os meus pesadelos do que
havia acontecido em Gatlinburg tinham sido tão reais, e tinham sido
malditamente muito reais.
— Marcus.
Ele ainda estava vestido como no jantar, calça jeans e uma camisa de
flanela personalizada, um sinal claro de que ele não tinha ido para a cama
ainda.
— Você ficou se arrastando por toda a noite. Achei que você fosse dormir
por um dia inteiro.
Não era como se eu pudesse lhe dizer a verdade, então não disse nada.
Tão formal...
— E mesmo que os deuses não possam se projetar para nós neste exato
momento, isso poderia sempre mudar, — disse ele. — Então nós
observamos... e esperamos.
— Eu odeio isso.
A vontade de rir veio novamente, mas eu parei e coloquei meu rosto nos
meus joelhos.
— Você sabe?
Marcus assentiu.
— Você era como qualquer criança que estava procurando um lugar para
se encaixar. É especialmente difícil com vocês mestiços. Muitos de vocês
vêm de lares infelizes, ou nenhum lar. O ambiente em que são criados é
violento e agressivo. Eu vi tantos... — Ele balançou a cabeça ligeiramente. —
De qualquer forma, você era diferente, no entanto.
Olhei para a pergunta vazia.
— Por quê?
Algo... algo mudou no meu peito. Nunca Marcus tinha sido tão aberto
comigo. Parecia mais provável para mim valsar ao redor da sala com um
daimon antes de Marcus falar comigo sobre a minha mãe, mas ali estava ele.
— Ela sempre afirmou que o seu pai era um mortal, mas aquele Sentinela
estava sempre com ela, seguindo sempre ela... e você.
— Você era apenas um bebê. Sua mãe não podia sequer sair sem
Alexander ir atrás dela, especialmente se ela estava com você. Olhando para
trás, parece óbvio, mas Sentinelas e guardas estavam sempre por perto. E
eles participaram do Covenant juntos, dois anos depois de mim. Eu apenas
pensei que eles eram amigos. Mas eu acho que sempre soube, no fundo, e eu
não conseguia ver além disso. Toda vez que eu olhava para você, via a queda
de minha irmã.
— Ai.
— Sim, — ele suspirou. — Soa terrível, mas todas as pessoas sabem o que
acontece com mestiços e puros que se misturam. Eu estava tão irritado com
a minha irmã por se colocar nessa posição e por trazer uma criança para
isso. — Marcus fez uma pausa, pensativo. — Eu descontei isso em você. Foi
um erro.
— Eu acho que sua mãe esperava que ela não tivesse que se casar. Eu não
esperava. Nem mesmo Laadan. Mas quando sua mãe se casou com Lucian,
Alexander... você só sabia, se você conhecesse o homem por trás do
uniforme.
— Não havia nada que ele pudesse fazer exceto recuar e deixar a mulher
que amava se casar com outra pessoa. E ele tinha que viver sabendo que essa
pessoa estava criando sua filha. — Marcus pigarreou. — E eu tenho certeza
que Alexander sabia que Lucian não era gentil com você, mas não havia
nada que pudesse fazer. Tomar uma ação teria colocado tanto sua mãe como
você em perigo. Ele estava impotente.
Marcus me olhou.
— Quando você estava com três anos, Alexander desapareceu. Não era
incomum. Fomos informados de que ele tinha sido morto por um daimon.
— Como você não sabia para onde ele foi? Ele estava no Catskills, sob o
polegar de Telly.
— Como? Como eu ia fazer isso? O que você acha que teria acontecido se
todos percebessem que o seu pai era um mestiço? Mestiços e Puros se
misturaram antes e foram capturados. Aquelas crianças não tinham
permissão para viver.
— Telly queria que você me entregasse, né? Ele até lhe ofereceu um
assento no Conselho.
Eu sorri.
— Eu ouvi vocês.
— Ele pediu.
— E você recusou.
Uau. As coisas meio que faziam sentido agora, depois de todo esse tempo.
Eu o lembrava de minha mãe e ele sentia falta dela, o que provavelmente o
deixava desconfortável em torno de mim. E, de qualquer maneira, Marcus
não era realmente uma pessoa do povo. Ele não sabia sobre o meu pai, até
que fosse tarde demais. Eu acreditava nisso. E ele não tinha me entregado a
Telly. Lembrei-me de como ele me pegou e me levou depois de Seth ter
atacado o Conselho e eu ter ficado doente.
Eu dei de ombros.
— Você vai me dizer o que sabe sobre o meu pai? Quero dizer, se você não
estiver cansado ou algo assim?
E eu não podia evitar acreditar que ela sentia. E talvez ela estivesse
sorrindo para nós agora. Assim como os filtros de sol através das janelas,
aquecendo nossas costas.
Catorze
Durante os próximos três dias, nosso pequeno grupo caiu em um tipo de
ritmo. As coisas tinham se acalmado no mundo. Não tinha havido mais
desastres naturais, e o Monte St. Helens parecia ter se acalmado. Apolo ainda
estava desaparecido e a cabana no meio do nada se tornou uma zona livre de
deuses. Uma coisa boa, mas eu continuava com a sensação de que algum ia
aparecer, provavelmente na cama de Deacon ou algo assim, onde nós menos
esperávamos. Mas mesmo que não tivesse havido nenhuma interferência
divina, era como ver o relógio de contagem regressiva em uma bomba-
relógio. Nós todos estávamos esperando.
Sob a copa das árvores, Aiden e Olivia pararam seu treino para assistir.
Akasha crepitava por cima do meu braço direito quando eu joguei minha
mão. Um raio de luz irrompeu de minha mão, percorrendo os cerca de 3
metros e batendo na borda direita da pedra. Com um estalo alto, a coisa se
estilhaçou.
Luke correu para fora do caminho, mas ele ainda foi atingido por
escombros. Ele se curvou, prestes a beijar o chão.
Esfregando suas costas, ele acenou e mancou para onde Deacon estava
tentando esconder seu riso.
— Você deveria ter pensado melhor antes de ficar tão perto, — Deacon
respondeu.
Solos assentiu.
— É ligeiramente torta.
— Você está acertando o alvo, e eu acho que isso é tudo que importa.
Uma coisa tinha ficado clara nos últimos três dias - algo estava
definitivamente acontecendo com Aiden. Não que ele me evitasse. Toda
noite, ele se juntava a mim na cama, me puxava para perto, e me segurava.
Nada progredia mais do que isso, mesmo eu sentindo que ele queria mais. Ele
só não fazia um movimento, e eu não tinha ideia do porquê. Eu tinha certeza
que o jeito que eu acabava me enrolando em torno dele era prova de que eu
estava disponível para alguns momentos felizes.
Mas afastei a fadiga. Como Marcus disse uma vez, eu era um monte de
coisas, mas não era estúpida. Eu sabia por que Apolo me queria trabalhando
com akasha. Ele estava me preparando para lutar contra Seth. E eu
precisava de tudo em meu arsenal para evitar a transferência de poder que
acabaria com tudo.
Deacon tinha levantado e estava ao lado do seu irmão mais velho. Sob a
luz do sol, seus cachos loiros estavam de um platina pálida. Os irmãos
compartilhavam a mesma cor de olhos marcantes, mas era só isso. Como yin
e yang, noite e dia, de pé lado a lado.
O medo fez a minha pele ficar tensa enquanto era substituído pelo
pânico. Eu esfreguei minha têmpora, forçando a respiração para dentro e
para fora de maneira uniforme. Ninguém ia morrer. Não haveria mais mortes.
Não poderia haver. Todo mundo já sofreu o suficiente.
Mas havia o Destino. Não havia tal coisa como pagamento de dívidas,
quando se tratava do Destino. Ele simplesmente não se importava, ou
reconhecia experiências passadas.
Chamando pelo akasha, eu deixei isso passar. O raio de luz azul estava
incrivelmente intenso, quebrando em seu poder. Silêncio e em seguida outro
estalido. Desta vez atingiu a rocha no meio e a coisa não explodiu, mas foi
reduzida a um monte de pó.
Aiden aplaudiu.
Uma baixa e irritante dor floresceu em minha têmpora, fazendo meu olho
direito piscar todo nervoso. Eu joguei a garrafa para baixo e virei-me para
Solos. Sem mais rochas para destruir, fui entregue a Marcus para trabalhar
nos elementos.
Um pouco fora do grupo principal, ele levantou as mãos. Uma rajada de
vento pegou. Sacudiu ramos e folhas frescas, minúsculas, rodadas no ar
como um vento cilíndrico na minha direção.
— Mas…
— Você não precisa fazer isso. — Aiden acenou com a mão sobre as pilhas
de galhos queimando e as chamas fracassando. — Não quero você envolvido
em nada disto.
Deacon se esticou até sua altura total, o que significava que só vinha até
os ombros de Aiden.
— Você quer apostar nisso? — Aiden rosnou, sua cabeça caindo para seus
olhos ficarem no nível do seu irmão.
Destemido, Deacon manteve sua postura, mas deixou cair a sua voz.
— Você espera que eu me sente e jogue cartas, enquanto todo mundo está
fazendo alguma coisa importante?
— Eu posso ajudar.
— Eu sei que não estou treinado, mas não sou inútil, Aiden. Eu posso
ajudar. — Eles estavam em uma épica briga que eu não tinha visto antes,
especialmente não da parte do Deacon relaxado. — E me pedir para sentar e
assistir a todos os outros - pessoas que me preocupo, pessoas como você – se
prepararem para arriscar suas vidas enquanto eu não faço nada, não é justo.
Aiden abriu a sua boca, mas seu irmão foi mais rápido.
Ele deu um passo para trás, colocando suas mãos nos quadris. Quase
pensei que ele ia arrastar Deacon para dentro da cabana e trancá-lo lá, mas
em vez disso, ele mexeu a cabeça em um aceno lacônico.
Chocada que Aiden tinha desistido – e um pouco alegre de que ele estava
vendo Deacon como algo mais do que o seu irmãozinho que festejava demais
– eu segui Marcus para o resto do grupo.
Fogo e terra eram raros entre os puros. Aiden e Deacon eram os únicos
que eu conhecia que exerciam o fogo, e não conhecia um puro que
controlava a terra, embora já tivesse visto sendo usado uma vez, no
Covenant de Nova Iorque. O elemento água vinha a calhar, se o usuário
estivesse perto da água ou na chuva. Alguns pensavam que eles tinham um
elemento de baixa qualidade, mas eu sabia que não era verdade. Eles podiam
tirar água de canos – de qualquer coisa.
Eu estava escalada para lutar contra a Lea. Não muito tempo atrás, eu
teria experimentado uma espécie de satisfação em derrotá-la, mas as
coisas... as coisas estavam tão diferentes agora.
Olhamos uma para a outra por alguns segundos, e então ela assentiu.
Aiden se agachou atrás dela, latindo ordens a sua maneira suave, mas o
melhor que ela podia fazer era erguer as pernas para cima e só.
Onda após onda de ar batiam nela, e ela jogou a cabeça para trás e gritou
quando levantou a mão, os dedos agarrando um inimigo invisível.
Outro grito quando ela bateu as mãos nas lâminas curtas da grama. Seus
dedos cavaram, rasgando a poeira. Tufos surgiram quando ela se empurrou
em uma posição sentada. Eu comecei a sorrir, mas a força de Lea
recuperava-se rapidamente e eu me precipitei.
— Briga de garotas!
— Sobe?
Aiden se inclinou sobre mim, seu hálito quente contra a curva do meu
pescoço. Um arrepio se afundou sobre a minha pele, e a dor na minha
têmpora direita se abrandou. Eu respirei fundo, me cercando em seu
masculino cheiro de terra. Todo mundo em torno de nós desapareceu.
— O quê?
Havia outra longa noite pela frente, agravada por onde meus
pensamentos estavam. De todas as coisas com as quais eu deveria ter me
preocupado no momento, eu sabia que não era isso, mas eu odiava que havia
essa parede que tinha saído do nada. E era uma parede estranha que...
Essa era a segunda vez que alguém me dizia isso em poucas horas, e
honestamente, nenhum deles poderia realmente saber. Poderiam? Não era
como se eu usasse uma placa na minha testa.
Pensando sobre isso, eu acho que poderia ter cuspido nela, também.
Parecia tarde demais para pedir desculpas agora, e conhecendo Lea, não
mudaria nada, não que eu esperasse que mudasse.
Lea ficou me olhando agora, a cabeça inclinada para o lado como se ela
soubesse onde meus pensamentos tinham ido. Ela sorriu com força.
— Ow. Queime.
Virando a cabeça, ela escondeu o seu sorriso, mas rapidamente ficou séria
quando ela me encarou.
Parte de mim queria negar, mas era verdade. Enquanto eu olhava para a
menina de cabelos acobreados, percebi que nós duas tínhamos mudado
irrevogavelmente. Não havia volta para as meninas que nós tínhamos sido
durante o verão passado.
Eu ri.
— Olivia me disse que você viu Caleb duas vezes. Isso era... era verdade?
Eu balancei a cabeça.
— Eu o vi quando fui ao Submundo, e ele me visitou logo antes de eu
escapar.
E então me atingiu. Não era preocupação por Caleb ou algo assim, mas a
razão pela qual ela estava perguntando tinha a ver com sua meia-irmã.
— Sim, ele estava mais do que bem. Ele estava mais feliz do que estava
antes de morrer. — Um nó se formou na minha garganta e eu me concentrei
nas estantes vazias. — Ele disse que minha mãe estava lá também, então eu
tenho certeza que seus pais e Dawn estão lá... e eles estão bem.
Eu caí sobre a almofada ao lado de Lea e peguei o livro que estava lendo.
Virando o livro para cima, minhas sobrancelhas voaram quando eu dei uma
boa olhada na capa robusta.
— Sim.
— Sério?
— Mas eles são aliens gostosos. — Ela bateu no rosto do cara com um
dedo fino. — E ele pode ser meu ET a qualquer dia.
Uma fatia aguda de dor apareceu por trás dos meus olhos e em minha
têmpora. Estremecendo, levantei-me e respirei fundo.
— Não temos nenhum Tylenol por aí? — Outro golpe de dor, como o fogo
cruzando os vasos em meu cérebro, causado náuseas, subindo na minha
garganta. — Ou uma marreta? Alguma coisa?
— Eu tenho certeza que há algo – hey – hey – você está bem? — A voz de
Lea de repente soou tão, tão longe, mas sua mão estava no meu braço.
Diante de mim estava um deus, um que não parecia ser muito mais velho
do que eu. As asas aladas que ele usava escondiam a maior parte do seu
cabelo, mas mechas castanho-claro caíam para fora logo abaixo. Ele usava
um manto branco chlamys.
— Seth, — eu sussurrei.
O deus...
— Hermes?
Seth assentiu.
— Ele sempre foi um dos meus favoritos. Trazer você para mim
certamente irá irritar alguns dos outros deuses, que era tudo o que eu
precisava para convencer Hermes a fazê-lo. E antes de saltar para a
conclusão errada, Hermes não é o deus responsável por mim.
— Você está onde eu quero que você esteja. — Ele deu um passo calculado
para frente.
Eu avancei para trás.
Ele riu; enquanto estávamos conectados, ele ria muito, mas agora eu
percebi que havia uma diferença entre o Seth real e a versão fantasma dele.
Sua presença era potente; sua voz tinha uma qualidade musical rouca com o
menor sotaque. E sua risada... sua risada era profunda e presunçosa.
— Você não está sonhando, Alex. Como eu disse, eu usei a nossa ligação
e Hermes ajudou. Isso... — Ele abriu os braços para fora, e a pele dourada
estava coberta de símbolos em movimento. — Está aqui. — Ele bateu um
dedo no seu crânio. — É como conversar pelo Skype.
Eu acho que tinha andado para trás o suficiente e agora minhas costas
estavam contra a parede de arenito quente.
Relaxar? Era para eu relaxar quando eu estava aqui, onde quer que aqui
fosse, com o Seth pirado? Minha cabeça virou na direção dele. Nossos rostos
estavam a poucos centímetros de distância.
— Sinto falta da Alex que vivia para me fazer feliz. — Ele riu com o que
eu tinha certeza de que era um olhar de eu vou matar você que passou pelo
meu rosto. — Tudo bem. Eu queria ver se isso iria funcionar e funcionou.
Eu me empurrei para fora da parede, mas tudo o que consegui foi fazer
nossos corpos ficarem mais retos. Raiva aprofundou o tom de seus olhos,
com um interesse a mais e luxúria. E apesar da minha pele se arrepiar, eu
percebi uma coisa importante. A corda não estava batendo viva como ela
sempre fazia quando eu estava ao seu redor, especialmente quando ele estava
praticamente em cima de mim. Ela descansava dormente na boca do meu
estômago.
Isso era real... mas não era real. Ainda assim, eu não estava feliz com o
que estava acontecendo.
— Você está no meu espaço pessoal. — Meu queixo doía de quão duro eu
estava rangendo os molares. — Me solta.
— Você pode contar com isso! — Raiva fervia dentro de mim, engolindo a
confusão e o terror que tinham tamanho controle sobre mim. — Como você
pôde fazer isso comigo? — Eu chutei a parede, mas Seth empurrou de volta.
— Você prometeu que não iria usar a nossa ligação contra mim, e você usou!
Você me transformou na presidente do Fã Clube do Seth.
Eu fervia.
— Isso era errado, Seth! O que você está fazendo é errado! Você não
entende isso? Merda! — Jogando minha mão para trás, ela bateu contra a
parede rachada. Uma dor muito real explodiu no meu braço. — Merda!
Ele piscou.
— O quê?
— Mas você nunca teria feito isso comigo, usado o vínculo contra mim.
— Eu levantei o meu olhar. — Você nunca teria atacado o Conselho ou
ficaria ao lado de Lucian. O que aconteceu com você?
— Sim! — Movendo meus pulsos com uma mão, ele pegou meu queixo
com a outra, forçando-me a olhar para ele, e eu odiava o brilho quase febril
em seus olhos. — Ele quer mudar o mundo.
— Ele quer governá-lo, Seth! Há uma grande diferença. E você não é nada
exceto um peão. — Eu cavei a fúria em mim, agarrando-me a ela. — Ele está
usando você, Seth. Você costumava ser mais forte do que isso, mas você é
fraco, fraco pelo poder.
— Você entende o que eu vou ter que fazer? — Lágrimas brotaram nos
meus olhos, no mesmo momento eu ouvi o sussurro do meu nome sendo
chamado do que parecia quilômetros de distância.
Ele recuou, deixando-me ir tão rápido que eu quase caí. Algo muito
parecido com descrença cintilou em seu rosto e havia mais. Um olhar que eu
não consegui descobrir, e então sua expressão ficou fria.
— Eu vou encontrar uma maneira, porque eu não posso deixar você fazer
isso.
— Não há nada que você possa fazer, Alex. Você precisa aceitar o que
está acontecendo, aceitar o nosso destino. Você foi feita para mim, e eu vou
te encontrar. E, se alguém ficar em meu caminho, eu não vou pensar duas
vezes antes de derrotá-lo.
Engoli em seco, enojada, triste, e muito perturbada ao ouvi-lo dizer isso.
Ele tinha feito tantas coisas horríveis, mas ao ouvir aquilo, ver quão
realmente longe ele estava, me cortou profundamente.
— Seth...
— Então vá em frente e proteja tudo o que quiser. Como você pode ver, eu
ainda posso chegar até você. — Apertando a testa contra a minha, ele
arrastou uma respiração profunda. — Nós vamos nos ver outra vez em breve.
— Espera alguns minutos, — disse ele, virando de modo que suas costas
ficassem contra a parte inferior do sofá. — Você está bem?
O Elixir não teria sido uma opção. Ele jogou o último que restou pelo
ralo. O que ele teria feito? O olhar em seus olhos me quebrou.
Eu tinha certeza de que Aiden estava quieto porque ele estava com tanta
raiva que não podia formar palavras.
— Era real... mas não era real. Eu não sei se ele vai ser capaz de fazê-lo
novamente, ou se Hermes irá ajudá-lo novamente. Ou se havia algo que eu
estava fazendo ou não fazendo que tornou isso mais fácil.
— Eu me lembro.
— Você pode atingi-lo, o que significa que ele pode bater de volta, Alex.
Sim, ele não pode descobrir onde você está, mas isso é uma grande violação.
Eu assenti atordoada. Aiden estava certo. Não havia como dizer se Seth
poderia fazer novamente.
— E não há nada que eu possa fazer se ele fizer isso de novo. Eu juro aos
deuses... — Girando rapidamente, Aiden pegou uma pequena estatueta e
jogou-a através da sala. Ela quebrou a parede, uma explosão de gesso e vidro.
— Está...
Solos parecia que estava prestes a discordar, mas ele jogou um outro
olhar para Aiden e decidiu não fazê-lo. Ele fechou a porta.
Ver Aiden perder o controle era algo que eu sempre achei nada menos do
que um indutor de terror, principalmente porque ele nunca perdia o controle,
mas às vezes eu esquecia que ele estava longe de ser perfeito ou santo. Ele
tinha um temperamento – nada tão louco quanto o do Seth ou o meu, mas o
fogo cantarolava em seu sangue.
— Mas tem que haver uma razão para ele só ter sido capaz de fazer isso
agora. E – e – ele ouviu você chamar o meu nome. — Esperança despertou
dentro de mim. — Seu poder sobre mim não era tão forte.
Recordando a maneira que Seth tinha ficado quando ele ouviu a voz de
Aiden, eu tinha certeza que ele tinha estado malditamente perto de virar um
assassino.
— Tem que haver alguma coisa, Aiden. Nós só precisamos descobrir isso.
Aiden me lançou um olhar escuro quando ele andou pelo quarto, parando
diante da janela.
Mordi o lábio.
— Nós vamos descobrir. Nós sempre descobrimos.
— Eu sei. — Ele olhou por cima do ombro, com a voz baixa e controlada.
— Eu sei, Alex. Sinto muito.
Olhei para ele. Isto era algo mais do que o que tinha acontecido com
Seth. Sim, ele estava incomodado, principalmente para meu benefício e eu
apreciei isso, mas isso era mais. Pensei na diferença estranha entre nós nos
últimos dias.
— Você não sabe? — Andei até ele e estendi a mão para colocar a minha
mão em seu rosto. Ele se afastou, e eu senti a pontada no meu peito. — Isso!
Isso é o que eu estou falando.
— Talvez quando você não tiver acabado de ser sugada para deuses-
sabem-onde por Seth e não estivermos pensando em ir lá fora e ficar cara-a-
cara com deuses-sabem-o-quê. — Ele olhou por cima do ombro, os olhos de
um cinza frio. — Talvez depois.
— Você acha que terá um momento melhor para falar sobre isso? Que em
algum momento no futuro próximo, tudo fará uma pausa para que possamos
ter um papo de coração para coração? — Aiden tinha se voltado para a
janela, mas eu não precisava ver seu rosto para saber que ele não estava
feliz. — Tudo bem. Eu não entendo isso. Nós estávamos bem quando
voltamos. Nós…
— Eu não quis dizer isso. Aquela noite foi a melhor noite da minha vida.
Eu não me arrependo, mas eu deveria ter esperado até você ter tido tempo
para absorver tudo. Eu perdi... eu perdi o controle.
— Mentira! Você evita passar tempo a sós comigo, a não ser à noite.
— À noite, quando estou dormindo, é a única vez que eu não penso sobre
isso, o que eu fiz. Você... não entende. O que eu fiz para você, colocando-a
no Elixir? Eu não mereço outra coisa.
— Você…
— Você não pode se culpar por isso! Você fez o que era certo.
— Aiden…
— O Elixir era um dos seus maiores medos, Alex! E eu fiz isso com você!
— Como... — Ele veio para a frente, baixando a voz quando seus olhos se
encontraram com os meus. — Como é que o que eu fiz é diferente do que
Seth fez para você – ainda está fazendo com você?
Eu fiquei boquiaberta.
— Eu segurei você para baixo e forcei a sua boca para ficar aberta quando
Marcus lhe deu o Elixir. — Ele balançou a cabeça um pouco, como se ele
estivesse aturdido por suas próprias ações. — Você pediu para eu parar e eu
não fiz. Eu assisti o Elixir tomar posse, e fui eu quem se tornou o seu
mestre. Eu não posso... — Ele cortou e se afastou.
Lágrimas encheram meus olhos. Querendo nada mais do que afastar essa
culpa, eu estava sem ideias de como poderia. Dei um passo atrás dele,
querendo apenas abraçá-lo até que ele entendesse que eu não o culpava. Se
houvesse alguém mais teimoso do que eu neste mundo, este era Aiden. Se a
situação se invertesse, Aiden teria tido algo ridiculamente apoiativo para se
dizer. Ele usaria um eloquente conjunto de palavras que significava alguma
coisa, e quando isso não funcionasse, ele apenas me diria como era.
— Olha, eu odeio cortar a sua auto piedade com uma grande dose de
cresça.
Soltando minha mão, ele desviou o olhar e balançou a cabeça quando ele
ia para o sofá, sentando-se pesadamente.
— Nunca me agradeça por colocá-la no Elixir.
— Eu quero te estrangular.
— Você não está. — Eu balancei minha cabeça. — Você não pode estar
quando você está de mau humor por aqui, se culpando por algo que você
tinha que fazer. Eu preciso que você vire homem, Aiden.
— Se você me ama, vai superar isso. Você vai lidar com isso, aceitar que
você tinha que fazê-lo, e passar por isso. — Minha respiração ficou presa. —
Porque eu estou com medo da minha mente, Aiden, e eu não sei como
qualquer um de nós irá sobreviver ao que está acontecendo. Agora, eu preciso
de você, tudo de você. Nós – nós – somos mais importantes do que a sua
culpa, ou pelo menos eu pensava assim, mas, aparentemente, eu estou
gastando o fôlego.
Tão pouco estava Aiden. Seus olhos estavam queimando prata líquida e
seu braço apertou em volta de mim.
— Bons deuses, podemos parar de discutir e só, eu não sei, dar uns
amassos?
— Eu sei.
Ele sorriu contra a lateral do meu pescoço, seus lábios se movendo contra
o meu pulso batendo descontroladamente.
— Você está?
Ele sorriu e revelou as covinhas.
— Eu vou ficar.
Eu comecei a dizer algo, mas sua mão caiu ao meu lado, seguindo a linha
do meu peito e, em seguida, mais alto, e eu esqueci o que eu ia dizer. Eu me
senti tonta com a expectativa, de querer e precisar, e uma centena de outras
coisas, enquanto meu coração batia forte e minha respiração ficou curta.
Eu não tinha certeza de como fomos de discussão para isso, ou o que ele
realmente estava me agradecendo, mas eu não estava reclamando, e de uma
forma muito distorcida parecia normal. Aiden me adorou como se eu tivesse
nascido digna de um belo homem tão complicado, e ao longo da noite, ele
realmente me mostrou que estávamos bem, que ele estava bem, e, por
enquanto, era o que eu necessitava para enfrentar o amanhã.
Dezessete
Tive um sorriso estúpido no meu rosto pela maior parte do dia seguinte.
Mesmo que eu estivesse com frio, coberta de lama de treinar na área
protegida, e cansada de usar akasha e os elementos, parecia que eu fora
atingida com um raio da felicidade.
Marcus não atirara nada, mas estivera tão furioso quanto Aiden.
E eu sabia que era por isso que Marcus alternara com Solos quando
chegou o treinamento de hoje. Mas era esquisito espancar meu tio.
Sempre que o nosso grupo heterogêneo fazia uma pausa, Aiden estava ao
meu lado. Houve momentos quando ele se tornara insuportavelmente quieto
e introspetivo, e eu sabia que ele estava pensando sobre o que fizera com o
Elixir. Ele estava tentando, porém, e isso era o que importava.
Uma vez dentro do quarto, lancei a ele um olhar recatado sobre o meu
ombro. Pelo menos, eu pensei que era recatado, mas eu provavelmente
parecia que tinha alguma coisa no meu olho.
— Estou só estando aqui para você, e eu acho que você realmente precisa
de mim no momento.
— Ha. Ha. — Sem meus sapatos, Aiden se elevava sobre mim e eu me
senti como um hobbit em pé na frente dele.
Este não era o tipo de virar homem sobre o qual eu estava falando na
noite anterior, porque mesmo com meu conhecimento limitado de tais
coisas, ele se sobressaía nesse departamento. Mas eu não disse nada
enquanto o encarava.
Aiden deu uma risada baixa enquanto as pontas de seus dedos passavam
de leve sobre o meu estômago. Calor seguiu, afugentando o frio na minha
pele. Estendi a mão, querendo mais, sempre precisando de mais…
Guinchei ao som da voz de Apolo e saltei para trás, tropeçando nos meus
pés. Aiden pegou meu braço, me firmando antes que eu plantasse a cara no
chão.
— Bom saber.
— Onde está a diversão nisso? — Mas ele ficou de pé, sua cabeça
inclinando para o lado. — Precisamos conversar, mas vocês dois parecem
como se tivessem lutado na lama.
Ele deu uma olhada para a porta e depois pegou minha mão, me
arrastando para o banheiro.
***
— Obrigado.
— Você pode nos dizer como Thanatos foi capaz de nos descobrir? —
Marcus perguntou.
— Praticar com akasha é uma coisa, Alex. Nem sequer registra na nossa
escala, especialmente se você permanecesse dentro das proteções que eu
senti lá fora. — Seus olhos deslizaram em direção a Aiden. — Usá-la para
tentar matar alguém é como vomitar um farol.
Apolo deixou o colar cair na palma da minha mão. Era de uma cor ouro-
avermelhada, e uma asa grosseiramente formada estava gravada nele.
Revirei os olhos.
— Não. Sua energia só vai estar escondida dos deuses – todos, exceto de
mim – mesmo se você usar akasha.
— Oh, você sabe, eu não estive fazendo nada. — Apolo nos olhou de modo
penetrante. — Consegui convencer os meus irmãos e irmãs para parar a
destruição deles por tempo suficiente para nos dar uma chance de consertar
isto, mas eles não vão ficar contidos por muito tempo. A cada momento,
Lucian e o Primeiro se aproximam de derrubar o Conselho. E com daimons
atacando humanos aos montes, eles vão arriscar milhões de vidas inocentes
para colocar um fim nisso.
Sem dizer uma palavra, Apolo ficou de frente para o irmão de Aiden. Eu
sabia que ele provavelmente estava dando ao garoto um de seus olhares
Leon/Apolo que dizia eu realmente preciso explicar isto?
Deacon se inquietou.
— Portais?
Ele assentiu.
— Eles são dirigidos para lá. É como nos movemos entre o Olimpo e o
mundo mortal.
— Sabe, — Aiden disse. — Este tipo de informação teria sido útil semanas
atrás. Nós poderíamos ter tido Sentinelas em que confiamos guardando esses
portais.
A maior parte da sala não pareceu impressionada com isso, mas Aiden
chamou minha atenção e sorriu tranquilizadoramente. Dei um sorriso largo
de volta. Ler grego era uma muita coisa para mim.
— Os deuses esperam que ela faça alguma coisa. — Apolo apontou com o
queixo para mim.
— Mas como ela pode lutar contra ele sem tocá-lo? — Aiden se empurrou
da parede e caminhou a passos largos até o meio da sala. — Os deuses têm
que entender isso.
— Você tem sempre que estar movendo alguma parte do seu corpo?
— É irritante.
— Pense, Alex, tem que haver algo que possa nos ajudar – possivelmente
com Solaris. — Apolo inclinou-se, plantando as mãos em cada lado das
minhas agora-paradas pernas. Sobre seu ombro, vi Aiden se mover em nossa
direção, mas então Apolo moveu a cabeça de modo que o bloqueasse. — Alex.
Quando me conectara com Seth, houvera algo sobre o qual ele não queria
que eu pensasse, e tinha a ver com Solaris – provavelmente sobre todo o
mórbido fim dos dois Apollyons. Mas voltando ainda mais, havia algo que eu
tinha visto, algo que Solaris tinha feito, ou… tentado fazer.
— Solaris tentou deter o Primeiro, e houve algo que ela fez… ou estava
tentando fazer. Algo que teria funcionado, mas a Ordem de Thanatos fez sua
jogada antes que ela pudesse ter terminado. — Soltei um suspiro frustrado. —
Ela sabia como deter o Primeiro – matá-lo, de alguma forma – mas eu não sei
o que era. É como se essa informação estivesse blindada ou apagada de
alguma forma. — Frustrada, soltei um gemido. — Pena que eu não possa
conversar com Solaris.
Laadan pigarreou.
— Mas isso é alguma coisa, querida. Pelo menos sabemos que há algo lá
fora.
— Estaria, mas eu não posso viajar para o Submundo. Hades ainda está
chateado.
Solos sorriu maliciosamente enquanto se inclinava sobre o encosto do
sofá.
Apolo moveu-se para ficar na frente da janela. Pálida luz da lua lançava
uma incandescência estranha ao seu redor.
— Bem, se Alex acha que Solaris pode nos ajudar, então é uma avenida
que queremos verificar. E quem melhor do que Alex?
Aiden enrijeceu.
— O quê?
Eu o ignorei.
— Então?
Luke e Deacon pareciam felizes demais com essa ideia, e então Deacon
lançou.
— Você está correto. — Uma bola de luz dourada apareceu sobre a mão de
Apolo e ele começou a jogá-la para o alto, sem parar, me lembrando de Seth.
— A passagem era na verdade dentro de uma igreja lá, mas Hades atravessou
uma noite no Halloween e todo mundo pensou que o idiota fosse o diabo.
Meio que estragou nosso disfarce – nós destruímos a igreja.
— Ah… não. — A bola sumiu e Apolo olhou diretamente para mim. — Eles
vão aparecer para deuses, semideuses originais, aqueles criados tomando
ambrosia, ou o Apollyon.
— Que você é. — Ele deu um sorriso largo quando eu lhe lancei um olhar.
— Então, encontramos o portão e o atravessamos. Parece fácil.
Apolo riu.
— Não é assim tão fácil. O portão é guardado agora, mesmo para aqueles
para quem aparece.
Ele deu um sorriso, e meu estômago atingiu meus dedos dos pés. Eu não
gostava mesmo quando Apolo sorria desse jeito.
— Oh, guloseimas.
Eu sorri.
— E é por isso que não pode ser você — Apolo disse antes que eu pudesse
responder. — Você vai estar focada em encontrar Caleb, em vez de se focar
na missão principal.
Eu não gostei nada dessa pergunta e abri a boca, mas Aiden respondeu
sem hesitação.
— Sim.
O deus assentiu.
Respirei fundo.
— Eu vi Seth ontem.
Assenti.
— Ela estava conversando com Lea e começou a ter dor de cabeça logo
antes de acontecer, como antes, quando ela estava usando o Elixir — Aiden
explicou, já que, obviamente, eu não poderia formar uma frase coerente. —
Alex desmaiou…
Foi difícil não rir quando Apolo ficou todo irritado, mas de alguma forma
eu controlei.
— Você acha que é por isso que ele pode ter ajudado Seth?
— Hmm… — O rosto de Apolo franziu. — Pode ser. De qualquer forma,
Seth te contou alguma coisa?
Caramba.
— Como no caso de ele fazer algo como isso quando você estiver no meio
de uma batalha ou no Submundo? — Apolo perguntou.
— Faz sentido sim. — Apolo esticou a cabeça para o lado, seu rosto
marcante tenso com irritação. — Vocês dois ainda estão conectados, e
mesmo que você tenha blindado o grosso dessa conexão, ele pode ser capaz
de chegar até você quando você estiver enfraquecida, com ou sem Hermes.
— A viagem para o Submundo não vai ser fácil, e isso é sem nem sequer
levar em consideração as tendências narcolépticas recém-adquiridas de Alex.
— E se isso acontecer novamente, você pode não acreditar que ele pode
recolher quaisquer informações importantes, mas precisa ter cuidado para
que não divulgue o que está fazendo, especialmente a sua nova missão.
— Haverá túneis que vocês vão entrar. Vocês devem ser capazes de
encontrar um lugar para descansar lá por algumas horas já que as almas são
incapazes de viajar através deles. Cheguem lá antes da noite cair e fiquem lá
até que o céu esteja dourado. Se vocês não chegarem lá antes da noite, vão
descobrir por que as almas não viajam para lá.
— Como eu disse, vocês dois vão querer se tornar tão invisíveis quanto
possível. Eu tenho boa-fé que Hades estará no Olimpo, mas ele tem muitos
olhos guardando o palácio. — Os braços cruzados de Apolo eram do tamanho
de troncos de árvore. — Preciso que vocês dois entendam que o Submundo
vai ser perigoso. Caleb poderia estar em qualquer lugar, e não vai ser como
da última vez, quando sua chegada foi notada. Você vai ver coisas que não
pode entender. Coisas em que vai querer intervir, mas não será capaz.
— Eu entendo.
***
Era cedo demais para estar se movendo por aí, mas aqui estava eu, em pé
ao lado de um dos Hummers, olhando fixamente para o sol da manhã.
— Alexandria?
Virei ao som da voz do meu tio e me dirigi para onde ele estava de pé à
saída da varanda.
— Hey.
— Eu sei que você terá cuidado, mas sério – tenha cuidado. Tudo bem?
Ao som dos passos se aproximando de Aiden, ele deu um passo para trás e
prendeu o outro puro com um olhar sombrio.
— Tente não deixar qualquer alma livre — Luke disse, dando um sorriso
largo.
Logo que peguei uma parte do pesado saco de armas e provisões, eu disse:
— Não isso.
— Você acha que eles vão ficar bem? — perguntei, encontrando os olhos
de Aiden.
— Eu não deixaria meu irmão para trás se não achasse que sim.
Um meio-sorriso apareceu.
— Eu me lembro.
Um rubor quente que não tinha nada a ver com o embaraço se espalhou
sobre mim.
— Eu sei.
Eu ri abertamente.
— Cheque o porta-luvas.
Curiosa, me inclinei para a frente e joguei o trinco. Dentro estavam dois
objetos brilhantes negros. Tirei um com cuidado, virando a coisa pesada. Era
uma Glock especialmente desenhada. Sentindo-me uma fodona, verifiquei o
carregador – balas de titânio.
Ele assentiu.
— Melhor prevenir do que remediar, Alex. Não temos nenhuma ideia com
o que ou quem vamos topar aqui fora.
Eu me endireitei.
— Ha. Ha. — Olhei para fora da janela, mordiscando meu lábio inferior. —
A cafeína é minha amiga.
— Tanto faz. Coma seu peito de frango sem graça, mas em breve... muito
em breve, vou influenciar você para o lado negro da carne vermelha.
— Por que você faz isso? É como se você tivesse algo contra sanduíches
de dois pães.
— Um pão é suficiente. — Ele olhou de relance para seu colo, uma mão
no volante e outra coberta com manchas de tempero. Olhando para cima,
suspirou. — Você pegou todos os guardanapos?
— Pervertido — resmunguei.
Aiden apertou os lábios, mas quando olhou de relance para mim e meu
pão dançante, explodiu em gargalhadas.
— Quer um pouco?
— Quer dirigir?
— Quando tudo isto acabar, eu vou te deixar craque. Você vai dirigir um
daqueles caminhões ali.
— Você vai dirigir bem – mais do que bem. — Ele deslizou o Hummer
entre dois caminhões. — Em qualquer coisa que você coloque na mente, você
tem sucesso nisso. Então sem preocupações.
Aiden estava dizendo algo, mas era baixo demais para eu decifrar. Tudo o
que ouvi foi a resposta de Apolo.
— Sinto muito.
Houvera algo no sonho que o tornava difícil de esquecer, que deixara para
trás um calafrio profundo em meus ossos. Foi preciso muito para expulsar o
sonho dos meus pensamentos. Eu me recostei no assento, observando Aiden
por trás dos meus cílios, imaginando-nos indo para outro lugar – qualquer
lugar que não fosse uma droga de um cemitério. Como se talvez estivéssemos
dirigindo para Disney World. Tudo bem, talvez não. Talvez uma praia para
um fim de semana ensolarado, romântico, e eu quase podia ver. Podia sentir
o gosto.
Nós sendo normais, vivendo entre mortais como tínhamos conversado,
tendo um futuro em que não estávamos fazendo coisas loucas como esta,
onde eu não estava conectada a um Seth psicótico. Teríamos uma casa,
porque eu não podia imaginar Aiden em um apartamento ou um sobrado. Ele
iria querer espaço – um quintal – e mesmo que um cão estivesse fora de
questão por causa do poder que os daimons tinham sobre os animais, era o
meu futuro perfeito, então tínhamos um labrador que corria ao longo da
cerca.
— Então o quê?
Era difícil olhar para o passado, mas eu sabia que não podia me afogar na
culpa agora ou analisar o sonho que tinha acabado de ter como se estivesse
analisando um caso louco de TOC. Eu precisava do meu melhor jogo.
Estávamos muito perto do Cemitério Stull.
— Sabe, Luke estava dizendo que só vinte pessoas vivem aqui e que
acredita-se que não são da Terra. — Eu disse, olhando para Aiden. — Você
acha que eles são deuses?
Seguindo seu olhar, eu dei um suspiro suave. Uma dúzia de metros abaixo
da estrada, ao lado direito, estava o Cemitério Stull. Não era uma porta de
entrada para o inferno, mas sim para o Submundo.
— Por alguma razão, eu acho que nós não vamos ter um problema. —
Aiden dirigiu o veículo para o lado e desligou o motor. Apagou as luzes.
Olhando para as lápides, eu estremeci.
Uma planta seca em forma de bola rolou por uma calçada que tinha visto
melhores dias e meus olhos se arregalaram enquanto a segui até que veio
descansar contra o muro.
O caminho não era nada mais do que uma pista de terra, e eu tinha quase
cem por cento de certeza de que estava pisando em valas comuns.
Assenti.
Sob as capas não havia nada além de ossos. Ossos brancos pálidos e
vazios, uma vasta escuridão onde as órbitas dos olhos e narinas deveriam
estar. As bocas... as mandíbulas estavam presas em juntas soltas, por isso as
bocas estavam penduradas, abertas. Não havia pele, carne ou cabelo. Eram
esqueletos – esqueletos flutuantes e assustadores.
Não eram tão assustadores ou perigosos como zumbis, mas ainda assim,
eles eram assustadores.
Olhei para eles, querendo desviar o olhar, mas sem conseguir. Eram
estranhos... seus olhos. Eles eram apenas buracos, mas quanto mais eu
olhava para eles, algo... algo se movia dentro deles, pequenos pontos de luz
bruxuleantes.
— Espero que eles não se mostrem para nós. Realmente não quero ver um
esqueleto pe...
O outro deu uma guinada em minha direção, passando a lâmina tão perto
do meu pescoço que eu senti o calor. Arremessando para o lado, dei um golpe
de foice em um amplo arco. A lâmina afiada mortal cortou o robe e o osso.
Eu esperei eles voltarem e fazerem alguma coisa, talvez até uma dança
divertida, mas nada. Abaixando a foice, eu fiz uma careta.
— Exibicionista.
Aiden sorriu.
Engoli em seco.
Totó recuou, sacudindo as três cabeças, tão afetado como se uma abelha
houvesse picado sua pata.
Totó rosnou. Todas as três cabeças vieram para cima de mim com a
precisão e letalidade de uma cobra-rei. Empurrando minha mão, meus dedos
cavaram o pelo emaranhado, grosseiro. Poder supremo correu pelo meu
braço. Luz azul crepitou.
Aiden estava sobre mim, com as pernas estendidas e ombros para trás, o
cabelo escuro caindo em um desalinho bagunçado, os olhos cor de aço e tão
duros. Poder natural, energia treinada que veio de anos de dedicação,
irradiava dele. Ele era uma força ameaçadora a ser reconhecida, e lá estava
eu, a Apollyon, deitada enquanto ele estava de pé.
— Não...
— Por nada.
O olhar de Aiden flutuou sobre o meu rosto e depois para baixo. Ele
ofegou.
— Lexie.
O nome, o som de uma voz que não era de Aiden, mas que reconheci no
meu coração e alma. Não podia ser, mas era. Minha respiração parou em
meus pulmões. Minhas pernas de repente ficaram fracas enquanto eu virava
de um Aiden em estado de choque. Meu coração – meu coração já sabia a
origem daquela voz maravilhosa, suave e bonita.
Eu tropecei para trás, de repente inundada por uma emoção que apertou
meu peito e roubou meu fôlego. A confusão continuou quando abanei a
cabeça em um transe. Lágrimas saltaram dos meus olhos. Meu peito rachou,
porque isso não podia ser real.
— Mãe?
Vinte
Essa imagem tinha manchado a memória que eu tinha dela. Algo que eu
tinha estado muito envergonhada para realmente avaliar. O fato de eu não
conseguir lembrar o quão bonita ela era me horrorizava, mas ela...
Cabelo castanho escuro caía pelos ombros, emoldurando o rosto oval. Sua
pele era ligeiramente mais escura do que a minha, mais azeitonada. Ela
parecia como eu, mas melhor – mais refinada e bonita – e seus olhos eram de
uma cor de esmeralda brilhante. Mesmo na escuridão, eu podia vê-los, era
atraída para o calor neles.
— Mãe?
— Mamãe. Mamãe...
Ele deveria estar feliz por mim. Ver minha mãe de novo era algo que eu
esperava secretamente que ocorresse enquanto estivéssemos no submundo,
de modo que vê-la tão cedo, antes de nós sequer conseguirmos passar pelos
portões, era tão...
— Você não deveria estar aqui. Afaste-se antes que seja tarde demais.
— Alex, é...
— Não diga isso. — Eu balancei minha cabeça, porque eu não podia lidar
com isso agora. Eu tentei e não estava conseguindo ver isso objetivamente.
— Por favor, não.
— Você tem que se virar. Deixem este lugar antes que seja tarde demais.
Você não pode ir lá. Você nunca mais vai voltar.
Esta não era a minha mãe. Era apenas uma ilusão para nos impedir de
alcançar os portões. Com o peito contrito, eu levantei os meus cílios úmidos.
— Bebê, não faça isso. Qualquer que seja a razão por que você acha que
tem que fazer isso, não faça. Afaste-se, antes de perder tudo.
Aiden colocou a mão nas minhas costas e eu tirei força do gesto simples.
Eu respirei fundo e deixei o ar sair lentamente.
— Isso não vai funcionar. Você não é minha mãe. Então... eu não sei.
Faça o que deve ser feito.
Um suspiro exasperado, tão parecido com o da minha mãe, veio dela. Por
um momento, eu duvidei de mim mesma. Talvez fosse ela e eu estava
cometendo um erro terrível. Mas, então, ela mudou.
Cara pálida, veias deslizando debaixo de sua pele de papel como bebês
cobras. Seus olhos estavam afundados, fossas negras, e quando ela abriu a
boca, estava cheia dentes afiados.
— Você vai ter que passar por mim, e bebê, ambas sabemos que você não
vai conseguir fazer isso novamente.
— Merda...
A rigidez de sua mandíbula me disse que ele não queria ouvir, mas quando
eu assenti, ele deu um passo para trás e me entregou a foice que eu tinha
deixado cair. Senti os meus dedos frios em volta do punho. Eu odiava o
tremor em meu braço e o peso da arma.
— Ah, querida, você realmente quer fazer isso? — Ela deu um passo em
linha reta através dos escombros, parando na minha frente. Ela riu de novo.
— Matar sua mãe duas vezes? Espere. Na verdade, são três vezes.
— Você não traz nada além de morte para aqueles ao seu redor. — Ela
continuou. — Você nunca deveria ter nascido, porque vai matar as pessoas
que ama, de uma forma ou de outra.
— Bem. — eu disse um pouco insegura. — Não pode ficar pior do que isso.
Aiden não disse nada enquanto olhava para eles. Eu nunca tinha visto ele
tão quieto – nem mesmo depois da primeira vez que ele me viu limpa, depois
que eu dei um soco no seu rosto e, em seguida, o beijei. Ou mesmo quando as
fúrias atacaram o Conselho, ou depois que ele percebeu que eu tinha matado
um puro-sangue. Nem mesmo quando ele estava em cima da minha cama,
esperando que eu acordasse depois que Linard tinha me esfaqueado.
— Claro que ele quer. — O pai de Aiden falou. — Meu filho não é covarde.
Insensato, mas não covarde.
— Meu filho, você não quer fazer isso. As respostas que você procura não
existem onde você deseja ir.
— Não. O que você tem que fazer, a coisa certa, é se virar e deixar este
lugar. — Quando Aiden não respondeu, seu pai se aproximou e sua voz era
severa, implacável. — Você tem que fazer a coisa certa, Aiden. Nós sabemos
que você sempre faz a coisa certa.
— A coisa certa teria sido tomar o seu lugar no Conselho, como você foi
criado para fazer.
Ah, não...
Um músculo tremeu na mandíbula de Aiden.
— Você acha que pode alcançar alguma coisa como um sentinela? — Seu
pai perguntou, e eu me perguntei se ele tinha sido assim na vida real. Frio.
Disciplinado. Era daí que vinha o controle de Aiden? Mas se sim, Aiden
nunca deixou transparecer que era o caso.
— Você não entende. — disse Aiden. — E... nada disso importa agora.
A mudança que veio da sua mãe era nada menos do que dramática. Foi-se
o conforto e elegância.
Eu pisquei.
— Espere um segundo...
— Você não tem controle. — Nojo escorria da voz do seu pai. — Nós te
ensinamos a nunca tirar proveito daqueles que estão sob seu comando. Olhe
o que você fez.
— Você põe ela em risco, sabendo que ela poderia ser prejudicada por
causa da sua falta de controle. Como você pode ser tão imprudente? Como
você pode fazer isso com alguém que você diz amar?
— Você não pode protegê-la. — Seu pai fez um gesto para mim. — Você
não pôde nos proteger. Você é um fracasso. Você simplesmente não vê ainda,
mas você só vai continuar até não poder ir mais.
— E ela, olha o que você fez com ela. Colocou-a no Elixir, a despiu de sua
vontade. Você é menos do que um homem.
— Aiden, não ouça eles. Eles não são reais. O que eles estão dizendo são
mentiras. Você...
— O que a minha mãe disse... somos nós. — Eu virei para ele lentamente.
— O que eles estão dizendo? É o que você realmente pensa?
Quando Aiden não disse nada, eu acho que fiquei mais horrorizada com
isso do que qualquer outra coisa que tinha acontecido até agora. Ele pensava
essas coisas terríveis, horríveis sobre si mesmo? E quanto tempo tinha
estado levando isso com ele? Anos?
Eu ainda não tinha visto ou sentido ele tomar a foice dos meus dedos,
mas ele tomou. A lâmina se arqueou pelo céu escuro.
Aiden ficou de costas para mim. Sem dizer nada, ele pressionou o botão
de recolher a foice e com um ruído suave ela desapareceu dentro do punho.
Não havia nenhum perigo agora. Três obstáculos tinham surgido: guardas,
cães infernais e espíritos.
— Aiden...?
Seus ombros estavam tensos e ele virou a cabeça para o lado. Seu perfil
era sombrio, a linha do queixo dura.
— Mas você não está se esquivando dos seus deveres ou qualquer outra
coisa. Você ainda está fazendo algo importante, Aiden. E um dia, se você
quiser ter o seu lugar... você pode. — As palavras feriram mais do que
deveriam, e por uma razão puramente egoísta. Se Aiden tomasse o seu lugar,
não haveria nenhuma possibilidade de nós estarmos juntos. No futuro, com a
casa, o cão e o gato.
Mas eu não pararia Aiden se ele sentisse que precisava tomar o seu lugar.
E seus pais ou sua voz interior poderiam estar certos em algum sentido. Com
um assento no Conselho, ele poderia fazer mais no que diz respeito a mudar
as coisas, mas...
— Sim.
Aiden fechou os olhos por alguns instantes. Quando os abriu de novo, eles
eram de um cinza suave.
— Eu tenho que dizer que foi bom calar essas vozes malditas ao menos
por uma vez.
— Você ficaria surpresa com o que o pai de Solos tem guardado em suas
cabanas. Na verdade, eu peguei estas quando estávamos em Atenas. Imaginei
que poderíamos precisar delas.
Eu retruquei.
‘Bonito’ não era uma palavra forte o suficiente, mas eu assenti. Ele
estendeu a mão, e eu a peguei, confortada pelo constante aperto quente.
— Sim. — eu disse.
Juntos, nós fomos para baixo da linha das pedras caídas e encontramos a
abertura. Juntos, atravessamos onde a porta ficava. Não houve mais avisos
ou guardas. Nós fomos através das manchas de cimento em ruínas e as ervas
daninhas crescidas.
Esperamos.
— Sim.
Com a mão livre, Aiden abriu o portão com um empurrão. Ele balançou
para trás, sem fazer nenhum som, revelando nada além de escuridão, não do
tipo associado com a noite, mas um buraco negro. Um portal. E juntos, lado
a lado, nós atravessamos os portões para o Submundo.
Vinte e um
Este... este lugar continuava tão longe quanto eu podia ver, até a beira
das colinas que Apolo tinha falado. Eu não entendi o que este lugar
realmente era. Não era o limbo – isso eu sabia – já que eu já tinha estado lá
antes.
— O que...?
Engoli em seco.
Agora era uma boa hora para mudar de ideia. Enquanto eu olhava através
do meu capuz, havia algo medonho em algumas das almas. Muitas delas
pareciam sólidas e de quando elas tinham tocado em mim, eu sabia que elas
tinham massa, mas outras tinham essa imprecisão vacilante nelas. E quanto
mais eu prestava atenção, mais os outros simplesmente desapareciam.
Eu suspirei.
Esse era Aiden, sempre olhando para o lado positivo das coisas.
Puxando meu capuz mais para baixo, eu marchei para a frente. As almas
não prestaram atenção à chuva forte. Talvez elas tivessem se acostumado
com isso. Eu queria parar e gritar com elas para irem ao julgamento, porque
o que esperava por elas não poderia ser pior do que isso.
Comecei a dirigir-me para ele, não sabia o que eu faria, mas eu tinha que
fazer alguma coisa, talvez convencê-lo a ir ao julgamento. Deus sabe quanto
tempo ele esteve aqui. Sua família já poderia estar nos Campos Elísios.
— Mas...
— Isso é errado.
***
Demorou horas para passar pelos campos de Asfódelos. No momento em
que deixamos a lama, que ia até os tornozelos, e as nossas botas tocaram
manchas dispersas de grama, nós estávamos encharcados e com frio, nossos
casacos pesados e densos. A chuva tinha entrado de alguma forma em minha
bota e, a cada passo, meu pé deslizava para frente e para trás. Exaustão me
perseguia, e provavelmente a Aiden também, mas nenhum de nós reclamou.
Viajar através do campo com todas aquelas almas serviu como um lembrete
de que as coisas podiam sempre ser piores.
— Sim. — Aiden estava ao meu lado em um segundo. Sua mão saiu do seu
manto e entrou dentro do meu capuz. Sua palma estava quente contra
minha bochecha. O gesto foi breve, e desapareceu demasiado rápido.
Elas subiam para o céu, seus ramos nus na maior parte, como dedos finos
que alcançam a crescente escuridão. Em torno dos ramos mais baixos, frutas
vermelho-rubi pairavam no ar. Romãs.
— Não — ele disse asperamente. Por trás da capa, seus olhos eram de um
prata brilhante. — Você não sabe nada de Perséfone?
— Eu não disse que você era estúpida. — Seu aperto afrouxou quando ele
me levou por entre as árvores, em direção ao último monte. — No entanto,
eu realmente estou começando a achar que você deveria ter passado menos
tempo dormindo em sala de aula ou fazendo o que você estava fazendo.
— Ha. Ha.
Ele riu.
Mas todo o humor desapareceu quando ele deu uma boa olhada no morro.
— Deuses...
— Oh, meus deuses... eles não são frutos. — E agora eu entendi muito
bem por que as almas não viajavam perto dos túneis.
Uma aranha gigante caiu da árvore, batendo no chão em seis de suas oito
pernas. Seu grito transformou meu sangue em gelo. Outra bateu na grama...
e depois outra e outra. Seus coros abafando o som de todo o resto.
Aiden deslizou pela colina, chutando pedrinhas soltas e ossos quando ele
veio para o meu lado. Ele agarrou minha mão enquanto uma caiu ao nosso
lado, presas reluzentes, duas de suas pernas levantadas e fez um guincho
como unhas arranhando uma lousa.
Merda.
Aiden se inclinou para baixo, enganchando sua mão em meu braço. Ele
me levantou e me empurrou para frente.
Com as mãos nas minhas costas, ele me empurrou para cima da colina,
xingando baixinho.
— Sim.
— Uh-uh.
— Sim.
— Jasmim — eu disse.
— Deuses, Alex, você não pode apenas enfiar o dedo nas coisas.
— Aranhas — eu sussurrei.
Aiden assentiu.
Estremeci.
— Você é tão feroz. — Ele veio para ficar diante de mim, inclinando a
cabeça para o lado enquanto ele colocava as pontas dos seus dedos no meu
queixo. — E tão valente, mas as aranhas te fazem pirar.
Um quente e doce rubor deslizou através do meu rosto. Quando ele era
assim – aberto, flertante e francamente sexy – eu era do meu jeito mais
brega. Eu não estava acostumada com esse lado dele. Eu acho que nunca
estaria, e havia algo de emocionante nisso. Mas eu olhei para ele, presa entre
as imagens rodando na minha cabeça e o homem muito real diante de mim.
Aiden riu.
— Como estou?
— Bonita.
— Bonita?
Mas eu ficaria totalmente nua. Não havia nenhuma necessidade para que
eu fosse tímida perto dele, mas alguma coisa sobre isso, aqui...
Ele tirou o manto e deu de ombros para tirar a mochila. Como se lesse
minha mente, ele levantou a sobrancelha.
— Empacotei dois cobertores. Eles não são muito grandes, mas são
grandes o suficiente para cobri-la.
— Você é incrível.
O olhar que ele lançou por cima do ombro disse que ele sabia.
— Não estão. — A última coisa que eu queria era ser chorona e fraca na
frente de Aiden.
— Yum.
— Duplo Yum.
— Vou ver a entrada só para ter certeza de que estamos bem pela noite.
— Alex...
Oh...
Parte de mim esperava que eu teria que implorar bastante. Aiden estava
'trabalhando', e eu estava preparada para implantar todas as técnicas que eu
conhecia, incluindo choramingar.
Então, quando ele deu um passo para trás e deslizou para fora de suas
botas, eu fiquei muito surpresa. Choque espirrou em mim quando ele
calmamente puxou a camisa para fora da cintura de suas calças táticas e
puxou o tecido molhado sobre sua cabeça.
Eu reprimi um suspiro.
Muito mais alto do que eu, a água roçava seu umbigo. Espuma branca
lambia as nervuras planas de seu estômago, e eu estava impressionada com a
imagem de Poseidon saindo do oceano.
Ele deslizou pela água borbulhante, suas mãos nos seus lados. Eu tive que
inclinar minha cabeça para trás para encontrar seu olhar.
— Hey — eu disse.
— Por quê?
Entrei no círculo que seus braços criavam enquanto ele brincava com
meu cabelo. Colocando minha mão em seu peito, fiquei emocionada pela
forma como ele tremeu e respirou fundo.
Aiden preguiçosamente jogou uma mecha úmida por cima do meu ombro
e mudou para outra.
— Você é uma mentirosa. Suas habilidades de multitarefa são uma droga.
Ele tinha reunido todo o meu cabelo agora, torcendo-o em torno de seu
punho.
— Nós podemos fazer turnos — Aiden disse contra o meu queixo, e então
no outro maxilar. — Você dorme primeiro. Descanse algumas horas e eu vou
acordá-la. — Ele fez uma pausa, dando um beijo no ponto sensível abaixo da
minha orelha. Eu tremi. — Tudo bem?
— Depois saímos assim que for seguro. — Aiden abaixou a mão enrolada
no meu cabelo, arqueando minha costas. O ar frio da caverna propagava
arrepios na minha pele exposta. Eu respirei fundo, quando senti seus lábios
voltarem para onde minha pulsação batia e depois mais baixo, sobre a curva
da minha clavícula, e ainda mais baixo.
— Não. — Eu o segui enquanto ele continuava recuando, até que ele não
tinha nenhum outro lugar para correr, até que suas costas estavam contra a
borda da piscina de pedras e ele estava preso. Colocando minhas mãos em
cada lado dele, olhei para cima. — Tá bom. Eu lhe disse para calar a boca,
mas eu fiz isso gentilmente.
— Para alguém que não fala muito, com certeza você está falando muito
quando eu preferia que não estivesse falando.
Por um momento, eu congelei maravilhada com ele. Não era sempre que
alguém via Aiden assim, completamente vulnerável a outra pessoa. Toquei
seu rosto, querendo lembrar deste momento. A enormidade do que estava por
vir era uma corrente de ar frio na minha pele e mais profunda, em minha
alma. Não havia como dizer o que o meu futuro reservava – o que Aiden
acabaria sendo. Tantas coisas ainda eram tão incertas.
Poderia não haver anos para Aiden e eu – talvez nem mesmo meses ou
semanas. Poderia não haver nem mesmo dias. E o tempo que tínhamos
sobrando, estaríamos gastando em constante perigo. A próxima hora nem
estava garantida, e eu não queria gastar cada momento correndo para o
tempo final.
— Alex?
Sua cabeça levantou, seus olhos procurando os meus, e talvez ele tivesse
visto o que eu estava pensando. Talvez ele também soubesse que, no final,
haveria mais vidas perdidas – aquelas que seriam quase impossíveis de
superar e seguir em frente, perdas que iriam roubar uma parte de nós. Que
este momento juntos, nunca poderíamos ter novamente.
[V1] 17/2
[V2] nnn
Vinte e três
Aiden estava deitado de lado, com um braço pesado sobre minha cintura.
— Eu estou bem. É a sua vez. Vou ficar de olho nas coisas, ter certeza de
que nenhuma aranha fuja com você.
— É mesmo.
Com a curiosidade aguçada, eu joguei minha cabeça para trás para que
pudesse ver seu rosto.
— Sim?
— Eu sei que Seth não deixou escapar quem poderia ser, mas Marcus tem
suas apostas sobre Hermes, e já que ele ajudou Seth...
— Oh querido...
Aiden insistiu que ele não estava tão cansado, mas não demorou mais do
que alguns momentos antes de que sua respiração se tornasse profunda e
constante. Eu fiquei em seus braços, os olhos grudados na entrada. Eu ainda
estava cansada, e a dor de cabeça tinha voltado desde o momento em que eu
tinha acordado, espalhando-se a partir de minhas têmporas, mas era
controlável.
Remoendo o que Aiden tinha dito, eu tinha que concordar com a ideia de
que havia algo pessoal por trás disso. Mas o único problema com isso era o
fato de que todos os deuses provavelmente tinham uma boa razão para
causar discórdia. Apolo mesmo tinha dito uma vez que, depois de milhares de
anos estando juntos, eles não tinham nada melhor para fazer do que brigar
uns com os outros.
Precisávamos descobrir quem estava por trás disso, mas o que poderíamos
fazer? Eliminar um deus era algo inédito. Mesmo os Titãs haviam sido
sepultados, e não mortos. A perda de qualquer deus acarretava consequências
cósmicas. O mundo não pararia de girar, mas todos os deuses seriam
enfraquecidos se um caísse. Isso era, provavelmente, a única coisa que os
impedia de matar uns aos outros, mas...
Mas quem era eu para dizer que isso o absolvia de seus pecados? Se um
viciado em drogas matasse uma pessoa sob influência, ele ainda era culpado.
Seth tinha feito o que tinha feito e parecia que não havia como voltar atrás
com isso.
Eu não tinha certeza de quanto tempo se passou, mas não poderia ter
sido mais de uma hora. O céu espreitando pelos buracos no teto da caverna
ainda era de um azul profundo e minha dor de cabeça... tinha aumentado
constantemente. Agora pulsava atrás dos meus olhos.
Então eu esperei pela dor vir, mas ela nunca veio. Em vez disso, o
zumbido da corda tornou-se mais alto e mais forte, até que parecia que meu
corpo inteiro vibrava. Em seguida, fora do ruído branco enchendo minha
cabeça, um sussurro cresceu até que eu pudesse entender as palavras e
reconhecer a voz.
Seth.
Revirei os olhos. A boa notícia é que Apolo deve ter tido uma conversa
com Hermes. Não, mas você é um pé no saco. Isso conta?
Bater em Seth ainda parecia como uma opção viável. Eu não tenho
tempo para isso agora.
Houve aquela risada novamente. Era uma boa risada. Não tinha o mesmo
efeito que a de Aiden, mas era rica e profunda e lembrava-me de Seth.
Sim, isso não vai acontecer. Olhando por cima do meu ombro, eu vi
Aiden mexer um pouco. Então eu fechei os olhos e foquei na conexão. Eu
percebi que eu poderia muito bem recolher algumas informações a partir
disto.
Mas sim, havia uma parte de mim que sentia falta disso – falta dele.
Por que você não começou a gritar comigo ainda? Perguntou ele.
Eu sufoquei uma risada. Só você faria essa pergunta. O quê? Você quer
que eu grite com você? Eu duvido que isso fizesse algum bem. Isso não vai
te mudar.
Mas isso nunca te impediu de fazer alguma coisa antes. Mesmo se você
soubesse o resultado e que isso era inútil, você ainda faria.
Foi uma coisa boa Hermes não ter aparecido, porque a minha mão coçava
para se conectar com seu rosto. Oh, deuses... Seth, eu não posso fazer
isso...
Ainda mais chocante, havia uma abertura súbita na conexão. Não que eu
pudesse ler qualquer um dos pensamentos de Seth, mas havia uma
vulnerabilidade que não tinha estado lá antes. Isso não teria sido ruim
entre nós, mesmo se você nunca conectasse comigo. Não teria sido terrível.
Meu peito estava pesado e doía, porque também havia alguma verdade
nisso.
Plano de mestre? Seth riu, mas era sem humor. Por que eu não teria
perguntado? Eu me sinto atraído por você, Alex. Não é preciso muito para
descobrir isso. E há mais. Vim sendo atraído por você, desde que eu te vi
pela primeira vez. É assim que acontece para nossa espécie.
Havia uma coisa física entre nós, em parte devido ao vínculo de Apollyon
e nossa própria atração pelo outro. Eu era adulta o suficiente para admitir
que isso ainda estava lá, mas era diluída em comparação com o que eu sentia
por Aiden. Mas algumas coisas não mudaram.
Eu posso ajudá-lo.
Eu soube na hora que eu tinha dito a coisa errada. Irritação virou raiva e
foi como estar muito perto de uma fogueira. Eu não preciso de sua ajuda,
Alex. O que eu preciso é que você entenda que não pode escapar do
destino. Isso tudo vai ser diferente – vai ser melhor – se você deixar
Lucian fazer o que precisa ser feito.
Seth...
E eu preciso que você entenda Alex, se você puder, que talvez – apenas
talvez – Lucian realmente se importa comigo, que eu valho isso, e que ele
quer o melhor para mim – para nós. Você acha que pode fazer isso?
Minha garganta trabalhou no caroço que se formou lá. Você vale alguém
se importando com você, mas...
Mas o quê? Sua voz estalou como fogo, me provocando a dizer o que ele
sabia que eu ia dizer.
Não é tarde demais. No final, não importa, eu vou ter tudo o que eu
quero.
— Bom dia.
— Bom dia.
— Eu estou supondo que nós não fomos invadidos por aranhas? — Aiden
se levantou e estendeu mais uma vez, levantando os braços, as costas
curvando-se.
— Não.
Eu assenti.
— Ok.
— Eu realmente não o vi. Não como da última vez. Ele falou comigo
através da conexão. Ele não sabe o que estamos fazendo. Ele perguntou, mas
eu não disse nada.
— Sim, ele... Eu acho que há uma parte dele lá. Você sabe, uma parte
dele que está confusa, mas ele realmente acredita que Lucian se preocupa
com ele. — Eu parei, balançando minha cabeça. — Isso não importa. Você
está pronto?
Eu desejei que eu tivesse visto o que estava acontecendo com Seth antes
que se tornasse tarde demais, percebido como o éter e o akasha tinham
estado afetando ele. Acima de tudo, eu gostaria de ter visto o quanto ele
precisava de alguém – alguém que o aceitasse, o amasse. Em vez disso eu
tinha estado tão ocupada com meus próprios problemas que eu não tinha
visto tudo o que tinha feito para ele.
Ele parou na abertura irregular e áspera e olhou para fora sobre a colina
inclinada que levava a uma espessa névoa que cobria o céu de laranja.
E não demorou, levamos apenas meia hora para descer o morro e para
entrar na névoa, que deu forma quando a fumaça se mexeu, revelando o
Vale.
Eu não poderia ter passado por essas pessoas rápido o suficiente. Embora
ninguém se aproximasse de nós, uma vez que pareciam tão perdidos em sua
miséria até mesmo para nós, o nó que estava na minha garganta durante
toda a manhã cresceu rapidamente. A depressão estava no ar que era soprado
aqui. Tristeza enchia o rio. Tristeza enraizava as árvores mortas no local.
— Eu não quero estar aqui — disse eu, finalmente, à deriva perto dele.
Mas nós não éramos uma parte do Vale, por isso viajávamos por ele sendo
capazes de fazer o que essas pobres almas tinham sido incapazes de fazer na
vida e na morte. Nos movíamos, passando os desejos e necessidades que
nunca viriam a ser concretizadas, além do amor que tinha sido perdido, ou
nunca tinha sido deles.
Algo pesado levantou junto com a névoa e diante de nós estava uma
estrada de paralelepípedos que honestamente veio do nada junto com o céu
limpo, laranja queimando estranhamente. Mas não estávamos sozinhos.
Centenas, se não milhares, de almas percorriam o mesmo caminho que nós.
Todos os tipos de pessoas – jovens e velhos, puros e mestiços – viajando para
o seu julgamento. Distinguir os Sentinelas e os Guardas foi fácil, apesar de
seus uniformes não estarem cobertos de sangue como estavam enquanto eu
estava no limbo. Estas almas tinham sido enterradas.
Muito poucas almas que viajam usavam capas de qualquer espécie, já que,
obviamente, não era a tendência da moda acima do solo. Se alguém tinha
morrido em um manto, eu estaria curiosa para saber como e o porquê. A
maioria estava com roupas de rua. Alguns até tinham bonés, e talvez a gente
devesse ter guardado algumas delas. Alguém estava até balançando um
chapéu de cowboy.
Nós nos movemos para o centro do grupo, na esperança de nos perder nas
massas de Sentinelas. Alguns deles passaram olhares superficiais por nós,
mas ninguém falou conosco. Ao som de cascos se aproximando, meu coração
disparou enquanto eu coloquei minha mão sobre o punhal debaixo da minha
capa. Senti Aiden mover-se para fazer a mesma coisa.
Tártaro.
Mais para uma fortaleza medieval do que uma casa, o palácio de Hades
subia pelas montanhas que nós percorríamos, lançando uma sombra escura
em toda a Planície do Julgamento. Quatro torres chegavam até o céu
alaranjado, uma em cada canto do reduto.
— Eu sei o que você quer, — ele disse em voz baixa, — mas iria chamar a
atenção.
Eu já estava a ponto de chorar, por isso agradeci aos deuses que o capuz
escondia. Afastando Aiden, eu parei na frente de Caleb.
Eu estremeci.
— Sim, sobre isso... desculpa?
Caleb riu.
— Que bom que estão cobertos pela capa. Venha, temos que fazer isso
rapidamente. — Ele fez um gesto em direção à estrada que conduzia ao
palácio de Hades. — Estou surpreso que vocês mesmo chegaram até aqui sem
serem pegos. Todo o submundo está em um estado de confusão sobre o que
está acontecendo lá em cima.
— Eu imagino que é por isso que eles estão tão ocupados aqui em baixo —
Aiden comentou.
— Vamos lá, temos que ir. — Caleb deslizou na frente de nós. — Pode
levar anos para encontrar Solaris, mas eu sei de uma coisa que…
Aiden pegou sua adaga e acabou com uma espada apontada para sua
garganta. O olhar na cara do guarda gritava que ele não estava assustado,
nem com medo de usá-la.
— Merda — eu murmurei.
— Você me disse para não me mover, então eu não sei como eu posso
levantar minhas mãos — foi a resposta seca de Aiden.
— Vocês três venham com a gente — outro guarda anunciou quando ele
embainhou sua espada. — Se vocês não obedecerem, nos foi dada a permissão
para usar qualquer método necessário. Tenha certeza de que a morte no
submundo é o mesmo que no mundo superior.
— E há coisas piores que a morte aqui, rapaz. Você deveria ter pensado
nisso.
Caleb não disse nada, mas tínhamos que fazer alguma coisa. Nós não
poderíamos deixá-los nos levar onde quer que eles planejassem nos levar. O
problema era, apenas Caleb sabia como chegar e sair do submundo, e não era
como se pudéssemos realmente perguntar-lhe isso agora. E eu não estava
deixando Caleb para enfrentar isso sozinho.
Um guarda em pé veio entre os dois cavalos e foi direto para mim. Aiden
se moveu apenas uma fração de uma polegada e a ponta da espada espetou
sua pele.
— São eles.
Meu coração caiu aos meus pés. Ele disse como se alguém tivesse estado
nos esperando, o que não era bom. Eu tentei tirar o pânico da minha cara,
mas deve ter sido evidente, porque o guarda riu quando ele voltou.
— Desarmem todos eles — disse ele. — E então nós temos que ir.
Com o medo aumentando mais e mais a cada passo, eu não podia fazer
nada senão seguir os guardas para o palácio de Hades.
— Não fale. — O guarda que gostava de brincar com sua espada surgiu ao
nosso lado. — Ou vou fazer com que nenhum de vocês possa falar de novo.
Que nem o meu pai? Raiva doce e quente explodiu. Minha boca se abriu,
mas o olhar de advertência de Aiden a fechou. Estávamos concentrados em
direção ao palácio, em silêncio. Dois guardas montados em cavalos na nossa
frente, dois atrás de nós, e um no chão tornava impossível fazer qualquer
coisa.
Mas quando a figura se aproximou, eu soube que não era Hades. Não era
nem mesmo um cara. Era uma fêmea – e era uma deusa.
Ela era linda e alta, próximo dos 2,13 metros. Ondas de cabelo vermelho
encaracolado caiam para uma cintura incrivelmente estreita. Seus olhos
eram brancos, maçãs do rosto altas, lábios carnudos e nariz empinado.
Aiden estava olhando. Caleb também estava, embora parecer que ele
estava bastante acostumado a toda essa... exposição. Inferno, mesmo eu
estava olhando.
Ela cruzou o grande salão, suas longas pernas dividindo o chiffon da saia,
brincando de esconde-esconde. Caros deuses, eu senti meu rosto começar a
queimar, mas eu ainda não conseguia desviar o olhar. Enquanto ela se
aproximava, os olhos totalmente brancos queimaram e escureceram. Dois
brilhantes olhos cor de esmeralda apareceram.
Caleb relaxou ao meu lado, um sorriso lento rastejando em seu belo rosto
– o rosto que eu tinha sentido tanta falta.
— Olá, Perséfone.
Perséfone sorriu.
Eu esperava que fosse o tipo platônico de companhia, pois Hades não era
conhecido por sua natureza de perdoar.
— Guardas, vocês podem nos deixar agora. — Quando hesitaram, ela riu.
— Eu estou bem. Por favor, vão e não falem disso para ninguém.
Um por um, eles saíram da sala, o cara da espada olhando Aiden como se
quisesse cortar a sua face. Aiden segurou seu olhar enquanto um sorriso
cruzou os seus lábios.
Homens. Suspiro.
— É cientista espacial — Caleb corrigiu quando ele puxou para baixo seu
capuz e tirou seu boné.
— Ela é muito legal, e realmente isso torna meu trabalho muito mais
fácil.
— Não disse?
Eu assenti.
Um arrepio dançou pela minha espinha. A última coisa que eu queria era
que Caleb entrasse no tipo de problema da eterna condenação.
— A maioria deles — ela murmurou, seu olhar deslizou de volta para mim
e, em seguida, para Aiden. — Mas não todos, pelo que parece.
Algo me atingiu.
— Você sabe quem é o deus – aquele que está ajudando Seth e Lucian?
— Se eu soubesse tal coisa, então esse deus teria que ter cuidado. Mas eu
raramente estou no Olimpo e tenho pouco interesse na política sobre quem
irritou alguém o suficiente para acabar com o mundo como nós o
conhecemos desta vez.
Aiden pigarreou.
— Mais do que você jamais saberá. O mundo tem estado à beira da total
devastação várias vezes por um motivo ou outro. Mas agora... é como quando
enfrentamos os Titãs. Foi além de algumas palavras bonitas usadas para
encobrir um insulto. — Ela soltou um pequeno suspiro. — Mas de qualquer
forma, eu tenho muito pouco a fazer, e se esta Solaris pode ser de alguma
ajuda para você, então ela vai ser de alguma ajuda para o meu marido. Siga-
me.
Aiden sorriu.
— Isso é bom.
Nós três seguimos atrás da deusa. Pobre Aiden estava tentando olhar em
toda parte, menos para ela, mas por baixo de tudo, ele era um cara.
Estranhamente, eu não estava com ciúmes – provavelmente mais divertida
do que qualquer outra coisa, porque ele estava fazendo o possível para
manter seus olhos para o norte.
— O quê? — Perguntei.
Meu coração deu uma dança feliz na última parte. Apenas ouvi-lo dizer
isso – a palavra com A – poderia afastar todas as sombras escuras e
expectativas ruins.
— Isso não é a verdade? Além disso, eles não são os primeiros e nem
serão os últimos.
— E você não vai tentar esconder o relacionamento uma vez que tudo se
acalme?
— Não vai acontecer — Aiden disse a ele. — Não vai ser fácil, mas vamos
encontrar um caminho.
Eu cai na gargalhada e assim fez Aiden, mesmo que nós dois sabíamos
que Caleb estava falando sério. Deixando de lado a mão de Aiden, eu passei
meus braços ao redor de Caleb.
Limpei a garganta.
— Belo quarto...
— Vocês conhecem Ares — Perséfone disse, nos atraindo ainda mais para
a sala de guerra. — Para ele, tudo é sobre a guerra e seus despojos. Paz
praticamente não existe. Ele acredita que nunca se deve virar as costas para
a guerra... — Ela parou de falar e deu de ombros. — Ele deve estar feliz
agora, com tudo à beira do caos.
— Sim, mas eu só posso permitir que você use-a uma vez. Então escolha
sabiamente. — Perséfone riu. — Eu me sinto como se eu estivesse em
Indiana James e a Arca Perdida.
Aiden lançou o olhar para o chão, o queixo flexionando para esconder seu
sorriso.
Meu olhar caiu para a bacia. O nome da minha mãe estava na ponta da
minha língua, e eu sabia, sem olhar para Aiden que ele estava pensando em
seus pais. Qualquer um de nós, provavelmente, daria qualquer coisa para vê-
los, especialmente depois do quão ruins os espíritos tinham estado no portal.
— Não. Você foi inteligente. Você fez o que pode para ter os dois – Hades e
sua mãe.
Se ela se sentia convencida pela forma como tudo acabou, no final, toda
a divisão de tempo e as estações do ano, ela não mostrou – surpreendente, já
que os deuses não eram um bando de gente humilde.
Olhei para Aiden, que assentiu. Havia um toque de tristeza em seus olhos,
refletindo o que eu sabia. Caleb colocou a mão no meu ombro. Por mais que
eu quisesse ver a minha mãe, tanto quanto eu queria que Aiden tivesse a
chance de ver seus pais, nenhum de nós poderia ser tão egoísta.
— Solaris.
— Você é o Apollyon.
Não havia muito tempo para eu descobrir como ela sabia quem eu era.
— Eu sou um deles.
— Como você pode ter Despertado e não ficar com o Primeiro? Você não
está morta.
Ainda.
Solaris endureceu.
— É. Eu não estive perto dele desde que eu Despertei. Há algo sobre o éter
e akasha com ele, mas ele ainda é apenas o Apollyon. — Fiz uma pausa,
dando um longo suspiro. — Eu preciso saber como parar a transferência.
Olhei para a deusa, imaginando o que ela sabia, mas ela parecia tão
confusa quanto eu me sentia.
— Mas eu vi…
— Quando eu o conheci, ele não era como ele era no final. Ele era um
belo homem gentil que apenas era o Apollyon. — Um pequeno e triste sorriso
puxou seus lábios. — Nós realmente não entendíamos nada disso. Fomos os
primeiros a existir na mesma geração. Ele nem sequer entendia por que ele
veio me encontrar. Era como se ele fosse atraído e eu não entendia o que
estava acontecendo quando eu Despertei. A dor... Eu pensei que estava
morrendo.
— Ela me disse o que iria acontecer. Que ele iria puxar todo o meu poder
de mim e que iria atacar o Conselho. Eu não acreditei nela, porque isso seria
uma loucura. — Solaris riu suavemente. — Mas ela insistiu que eu o
impedisse. Que se eu não pudesse encontrá-lo em meu coração para matar o
que eu mais amava, então eu devia tomar o poder.
— Eu nunca pensei que ele iria agir, mas o Conselho se moveu contra
nós. Eles queriam nos separar e nenhum de nós, em nosso egoísmo ingênuo,
poderia suportar tal pensamento. Saímos da segurança do Conselho e saímos
por nossa conta. — Solaris balançou a cabeça. — Eles nos seguiram,
enviando seus sentinelas mais qualificados. Quando não conseguiram, a
Ordem de Thanatos veio.
Mordi o lábio.
Solaris assentiu.
Deuses, por uma vez o destino não estava tentando me forçar a tomar um
pela equipe. Mudança agradável.
— Talvez.
— Ισχύς. — Força.
Deixando de lado a minha mão, ela colocou o dela abaixo do meu peito,
por cima do meu umbigo.
— Você terá que pressionar a sua carne para ele e convocar cada marca
pelo seu verdadeiro nome.
— Espere — disse Aiden. — Não é assim que ele iria transferir o poder dela
para ele?
— Sim — ela disse. — Ela vai ter que fazê-lo antes que ele faça.
Aiden abriu a boca, mas não havia palavras. Nós tínhamos aprendido a
transferir o poder e isso era algo, mas também seria quase impossível.
Perséfone pigarreou.
Parecendo muito triste, como se ela soubesse que esse era um grande
segredo, ela suspirou.
— E, para qualquer fim que os deuses procuram usá-la, uma vez que eles
o façam, você vai ficar de pé no final? Como o oráculo me avisou, não pode
haver dois de nossa espécie, em nenhuma geração.
— Nenhuma ofensa.
Cada vez que eu tinha visto Caleb, ele não parecia deprimido. Como se
lesse a minha mente naquele momento, ele sorriu e me lembrei do que ele
disse quando eu estava no limbo.
Caleb se aproximou de mim, parecendo tão vivo que era doloroso de ver.
Envolvendo seus braços ao redor de mim, ele me abraçou forte.
Eu pressionei meus dedos na minha boca antes que a massa subisse. Não
era tanto o destino do Primeiro, mas o que isso significava. Se eu
conseguisse e fosse capaz de matar Seth, seu destino seria o mesmo. E assim
seria o meu.
***
Eu assenti.
Aiden voltou para o meu lado, balançando a mochila nos ombros antes de
me devolver as armas que os guardas haviam me tirado, assim como o meu
manto nojento. Perséfone foi em direção ao centro da sala de guerra e
acenou com a mão. Um buraco negro apareceu, completamente opaco.
Eu me ofereci para dirigir na volta, mas Aiden insistiu que ele estava bem
e eu sabia que ele queria que eu fosse dormir. Eu sabia que devia – para evitar
que Seth usasse a conexão – mas isso não parecia justo. Aiden tinha de estar
esgotado.
Mas era uma batalha que eu não estaria ganhando em breve, assim me
aconcheguei no banco do passageiro e tentei dormir um pouco. O único
problema foi que o meu cérebro não iria parar. Desde que eu estive na sala de
guerra, algo tinha me incomodado. O que Perséfone tinha dito, os rabos de
cavalo cortados na parede – tudo parecia familiar, mas eu não poderia dizer
como ou por quê. E era mais do que isso. As palavras de despedida de Solaris
foram inquietantes e entraram na minha cabeça.
O que eu nunca pude perceber foi porque Apolo tinha me mantido viva
uma vez que Seth tinha deixado todos loucos no Conselho. Ou por que
Artemis tinha impedido Hades de me levar para o Submundo. Os deuses – ou,
pelo menos, todos eles, exceto um – temiam a transferência de poder, porque
quando isso acontecesse não haveria modo de parar Seth. Tirar-me da
equação antes que eu Despertasse, ou me colocar fora de combate depois,
fazia sentido.
Desconforto floresceu no meu peito. Apolo e os outros sabiam que isso era
possível? Então eu me senti idiota mesmo por questionar isso. Os oráculos
pertenciam a Apolo, e mesmo que ele não soubesse de todas as suas visões, a
parte que o oráculo tinha dito a Solaris poderia ter sido compartilhada com
Apolo. O que fazia sentido já que Apolo havia sido tão favorável à ideia de eu
descer para ver Solaris.
Parte de mim era ingênua o suficiente para esperar que não fosse o caso,
porque isso significava que Apolo tinha algumas explicações a dar. A outra
parte era mais analítica sobre o assunto, mais razoável. Apolo havia dito
antes que eles precisavam parar o deus que estava, obviamente, trabalhando
com Lucian. E como eles poderiam impedi-lo?
A parte pior de toda esta situação de porcaria era que Lucian controlava
Seth, e esse deus – quem quer que fosse – controlava Lucian, e, portanto,
ele/ela controlava Seth e todos aqueles que estavam seguindo Lucian. Então,
se Seth conseguisse transferir meu poder para ele, esse deus, então,
controlaria o Assassino de Deuses. Arriscado, porque Seth poderia sempre
liquidá-lo, mas, no final, uma vez que o deus tinha Seth fazendo o que ele
queria, eu tinha certeza que ele ia ser criativo o suficiente para mantê-lo sob
controle de alguma maneira. Possivelmente isso significava manter um
membro da Ordem pronto, são e salvo.
Ele não tinha ouvido o que Solaris tinha dito, e eu não queria
sobrecarregá-lo com isso em cima de todo o resto. Se minhas suspeitas
estivessem corretas, se tudo estivesse levando para uma coisa...
— Eu não gosto disso, Alex. Eu vou ser honesto, acho que é insano. Para
mim, é como tentar atacar uma cobra. Isso não vai funcionar.
— Eu sei, mas que escolha temos? Além disso, nós não temos apenas que
descobrir como chegar perto o suficiente dele. Há também todos os
Sentinelas e guardas que estão apoiando ele.
— Essas proteções fazem o seu poder invisível para os deuses, mas não
nos repelem. Você carrega a minha linhagem. Eu posso encontrá-la quando
eu quiser.
— Seis horas não vão mudar nada — Aiden respondeu, virando os olhos de
um cinza aço.
— Eu espero que não. — Apolo voltou seu olhar para mim. — O que você
aprendeu?
Eu debati entre dizer que eu não tinha aprendido coisa alguma, mas era
inútil.
— Na verdade...
— O quê?
— O quê, Apolo?
— Cerca de uma hora depois que vocês partiram, um dos sentinelas que
usou uma das cabanas de Solos antes de vocês nada gentilmente o
expulsarem apareceu. Ele trouxe notícias.
— Vamos apenas dizer que tenho a certeza que ele estava jogando no
nosso time.
— O que tem eles? Eles vão aonde os puros estão, e os puros estarão bem
protegidos. Depois, há os daimons que Lucian está alimentando. Não há nada
que possamos fazer sobre isso. — Apolo sentou-se, olhando para o teto do
Hummer como se ele nunca o tivesse visto antes. Ele bateu na luz interna
uma vez e ela acendeu, depois ele a desligou. Coisas brilhantes devem ser
uma distração para os deuses também. Ele fez isso de novo, suas
sobrancelhas franzidas.
— Apolo — eu repreendi.
— Meu…
— Então, o que eles estão fazendo? Movendo a base de operação para lá?
Agora, eu me senti como uma idiota por apenas pensar no que eu poderia
ganhar.
— Eu também — murmurei.
***
— Venha aqui.
Ele era, provavelmente, a única pessoa no mundo que poderia exigir isso
de mim e eu ouviria. Toda obediente, eu fui para frente do Hummer e parei
na frente dele.
— Nem você.
— Eu estava dirigindo.
— Não?
— Eca.
Aiden beijou minha testa, enquanto suas mãos escorregaram por minhas
bochechas. Soltando o braço em volta dos meus ombros, ele me puxou para o
abrigo de seu corpo e eu fui, descansando a minha bochecha contra seu
peito.
— Como podemos acreditar que Dionísio não é o deus por trás disso? —
Eu sufoquei outro bocejo. — E que ele não vai mentir para nós?
— Devemos ouvi-lo até o final do dia. — O olhar de Apolo virou para o céu
azul profundo. — É quase de manhã. Vocês dois deveriam descansar.
— Vamos entrar.
— É verdade.
— Alexandria...
— Eu sabia que havia algo que estava escondendo de mim. Que havia
uma razão maior para todos vocês quererem me manter viva, quando seria
muito mais fácil simplesmente me matar. Isso iria resolver o problema com
Seth, então eu só não entendia por que vocês iriam arriscar.
Ele parecia como se tivesse esquecido o que iria dizer. Boa – eu deixei um
deus mudo. Ponto para mim. Eu estava indo para o ponto dois.
Ele bufou.
— Na maioria dos dias eu quero, mas você deve tomar o seu poder, e ele
tem que estar vivo para isso. Eu preciso que você seja capaz de derrotá-lo e
transferir seu poder para você.
Apolo fez tudo parecer tão simples, como se ele estivesse me pedindo para
ir até a loja e pegar Cheetos Crunchy e se não tivesse, para pegar Puffs
Cheetos. Insano.
— Eu não quero que isso acabe como você teme, mas não há muito que
eu possa fazer para ficar nas mãos dos outros.
— Todo mundo morre, mas no final tudo se resume pelo o que você está
disposto a morrer, Alexandria.
Deuses, havia uma parte de mim – uma grande parte de mim – que queria
chutar Apolo nas bolas, mas eu me controlei. Tão fodida como eu era, eu
entendia. E talvez fosse por isso que eu não estava pirando. A perda de uma
vida, talvez duas, valia a pena pela segurança de milhares, de milhões. Eu
podia ver isso e se eu estivesse totalmente imparcial sobre isso – digo, se eles
não estivessem falando de mim – então eu provavelmente os apoiaria.
Seria eu.
Isso era um monte para engolir. Era algo que eu realmente não podia
sequer começar a processar. Eu me senti muito egoísta, mas eu também
sabia que tinha de ser feito.
Deuses, eu não era tão velha ou madura o suficiente para fazer esses
tipos de decisões.
Ficou tão tranquilo entre nós que o vento suave agitando os ramos
parecia muito alto. Se eu não tivesse as minhas estranhas habilidades agora,
eu teria pensado que ele havia partido. Mas ele ainda estava lá, esperando.
— Você pode ter certeza de que... que Aiden vai ficar bem?
— Ele... ele teve que ver seus pais depois, Apolo. Eu não quero que ele me
veja, ok? Você pode ter certeza que ele não verá?
— Sim.
— Alex…
Eu tentei não pensar no meu pai. Talvez fosse errado, mas era difícil
estar aqui, sabendo que ele estava no Catskills. E era ainda mais difícil
reconhecer que pudesse haver uma boa chance de que nunca nos
encontraríamos cara-a-cara, cientes do que éramos um ao outro.
Não sei quanto tempo fiquei lá, mas não poderia ter sido muito, antes que
a porta atrás de mim se abrisse. O assoalho rangeu quando os passos se
aproximaram.
Aiden sentou ao meu lado, ainda em seu uniforme de Sentinela. Ele olhou
para frente e não disse nada. Eu olhei para ele. As ondas escuras estavam
sujas, indo em todas as direções. Uma ligeira sombra estava se formando em
sua mandíbula.
— Há pouco tempo.
— Não.
Provavelmente não é o método mais sábio, mas era a única maneira que
eu poderia fazer isso e me manter sã, porque agora eu não sabia como mudar
nada disso.
Apolo não retornou sozinho. Quando ele apareceu na sala, ele trouxe
Dionísio. Era a primeira vez que eu tinha visto o deus. Ele parecia um garoto
de fraternidade em sua camisa havaiana e bermuda cargo.
Ele sorriu.
— Bem, eu cheguei o mais perto que pude. Algo diferente desta vez.
Apolo fez uma careta. Eu não gosto quando deuses franziam a testa –
geralmente isso significava algo muito, muito ruim.
Dionísio bufou.
— O que você quer dizer? — Luke se inclinou para frente em sua cadeira,
deixando cair os braços sobre os joelhos. — Um dos principais?
Dionísio podia não ter pupilas, mas eu tinha certeza de que, quando sua
cabeça girou de volta para mim, ele estava olhando para os meus peitos. E eu
também tinha certeza de que Aiden acreditava nisso, também, considerando
a maneira como ele se enrijeceu.
— Zeus e Hera, seguidos pelo cada vez mais popular Apolo e sua irmã
Artemis, em seguida, Ares e Atena — respondeu Dionísio. — Por último, mas
não menos importante, Hades e Poseidon. Eles são os deuses mais poderosos
e os únicos que poderiam fazer aquilo.
— Realmente eu não estava procurando por isso. Você me disse para ver
quantos idiotas puro-sangue estavam com ele, e eu o fiz.
— Nada de bom.
— O quê?
— Um dos mortais deve ser de alta patente no exército, alguém que possa
fazer esse tipo de ordem e dar algum tipo de razão — Os lábios de Apolo se
diluíram. — Pelo menos isso é o que eu faria.
— Pense sobre isso. Por que mais um deus estaria orquestrando tudo isso?
Ou indo junto com o que Lucian quer? — perguntou Aiden. — Para eliminar
os deuses e depois o que… governar o Olimpo? Ou governar o Olimpo e o
reino mortal?
Desviei o meu olhar, porque agora eu não queria pensar sobre o que parar
esse deus significava. Limpei a garganta.
— Eu acho que não, mas você tem que saber quem está usando quem. E o
que vai acontecer com eles no final, se o deus for bem sucedido. Será que ele
pretende mantê-los por perto ou se livrar deles? Será que eles sequer têm
uma pista?
A maioria das pessoas na sala não poderia se importar menos – isso era
evidente – mas Marcus caminhou até onde eu estava e encostou-se à mesa do
outro lado a mim.
— Eu duvido que eles saibam. De certa forma, não importa pelo que eles
foram responsáveis, isto é trágico.
— Tudo bem. Quem mais acha que ele estava mais alto que uma pipa?
Olhei para Apolo, mas ele estava olhando para o globo sobre a mesa.
— Fazer qualquer movimento vai ser tão perigoso quanto estar aqui —
Marcus disse finalmente. — Mas em Dakota do Sul, estaremos mais seguros.
— Alex estará mais segura lá também — Luke murmurou, olhando para
suas mãos.
— Bem, eu acho que o nosso trabalho é ter certeza de que Seth e este
deus não consigam chegar até a Alex.
— Não podemos deixar que você fique toda psico-Alex de novo e acabe
com o mundo como nós o conhecemos.
— O quê? — Aiden me cutucou com o cotovelo. — Você não quer nos ter
te dando cobertura?
— Isso não é o que é — Olhei para Apolo, mas porra, aquele globo o
fascinava. — Se vai haver um deus perseguindo o meu traseiro…
— Além de Seth estar lá fora, procurando por mim, isso... isso vai ser
realmente perigoso. Eu não quero vocês arriscando suas vidas por mim.
Lea bufou.
— Droga, Alex, seu ego está fora de controle. Você me conhece. Prefiro
jogá-la na frente de um daimon qualquer dia, mas se te manter longe deles
significa salvar milhões de vidas, então eu estou em sua equipe. Portanto,
isto é maior do que você.
— Todo mundo aqui sabe os riscos, Alex — A voz de Marcus era severa,
lembrando-me dos dias no Covenant quando ele passava a maior parte de seu
tempo gritando comigo. — Ninguém está sendo forçado a fazer isso.
Uau. Eu acho que eu meio que amava a todos nesta sala agora, mesmo
Lea. Lágrimas queimaram meus olhos, e eu inclinei minha cabeça para
frente, para que ninguém pudesse ver. A coisa é que, desde que eu percebi
como tudo isso podia acabar, provavelmente iria acabar – eu nunca me senti
mais sozinha. Mas, sentada aqui, ouvindo eles...
Luke sorriu.
Eu ri novamente.
Lea deslizou para Olivia um sorriso que disse que ela estava mais do que
pronta.
Quando Aiden passou ao meu lado e deixou cair um braço sobre minha
cintura, eu fiz uma careta.
— Sinto muito.
— Pelo quê?
Caramba.
Elas eram. Especialmente Lea, ela era como She-Ra. E Solos e Marcus
tinham saído mais cedo, levando dois telefones celulares descartáveis para
nos ajudar a manter contato.
— E você sabe que Solos nunca vai deixar que nada aconteça a elas. Nem
Laadan — Enquanto ele falava, ele massageava as minhas mãos e enfiava os
dedos nos meus. — Nós temos 600 milhas de terra desconhecida para passar.
Vamos ficar bem.
— Eu…
Então eu sorri.
— Eu falei palavrão.
Por um momento, ele não respondeu. Tudo o que se podia ouvir era o
marcador do antigo relógio de parede, lento e firme, e o assobio distante dos
pássaros fora das paredes da madeira rústica.
— Sim.
Ouvi-lo admitir isso era ao mesmo tempo assustador e um alívio.
— Me diga.
Estendendo-se ao meu lado, ele me puxou mais perto para que meu rosto
estivesse pressionado contra seu peito.
Eu levantei minha cabeça para que eu pudesse ver os seus olhos. Eles
eram de um cinza escuro e sombrio. Ele tentou um sorriso, mas como o meu
mais cedo, parecia aflito.
— Eu quero que você esteja mais do que bem — Aiden segurou meu rosto
delicadamente. — Eu não quero que você tenha pesadelos para o resto de sua
vida, e ver o rosto de Seth em vez de sua mãe. Eu não quero isso a
assombrando.
— Eu sei, Alex. Eu também sei que você vai fazer isso, porque eu não
posso sequer pensar por um segundo que você vai falhar. Você não pode.
Você não vai.
Eu não tinha percebido que eu desviei o olhar, mas eu senti a mão dele
na minha bochecha. Ele guiou o meu queixo para cima até que nossos olhos
se encontraram e eu não podia mais me mover.
— Mas eu também sei que matar Seth não vai ser fácil, e eu não me refiro
a um nível físico. Eu sei que no fundo você se importa com ele. Talvez uma
parte de você ainda o ame.
— Aiden…
— Ele... — Eu não sabia o que dizer. Aiden estava certo. Parte de mim
ainda amava Seth, e não era do jeito que eu sentia por Aiden, mas não era
menos real ou poderoso. Mesmo depois de tudo o que Seth tinha feito, eu não
poderia esquecer tudo o que ele tinha feito antes. Fazia o mesmo com a
minha mãe, mas no final, eu tinha tomado a sua vida como se tivesse sido
destinado o tempo todo.
Eu respirei surpresa.
— Ele fez — Aiden deu um beijo na minha testa. — Mas ele fez algumas
coisas boas, e eu sei que você não pode se esquecer de como ele costumava
ser. Eu sei que nada disso vai ser fácil para você.
Matar Seth iria quebrar um pedaço de mim, e não importa quanto tempo
eu andasse nesta terra depois, isso não poderia ser reparado. Ele era uma
parte de mim – uma parte que era um pouco louca – mas ainda assim. Isso
me mudaria de uma maneira que eu não conseguia entender. Assim como a
minha mãe tinha feito. Mas desta vez era diferente.
Apolo não me queria para matar Seth, ele queria que eu tirasse o seu
poder. Conhecendo Seth, ele provavelmente iria preferir a morte. E se Seth
descobrisse o que eu estava fazendo, ele viria atrás de mim. Então, eu teria
que detê-lo, matá-lo. Matar Seth seria a única maneira que eu saísse dessa
com vida.
— Não tenha medo — Minha voz estava rouca. — Eu vou ficar... bem.
Sua mão escorregou para a minha nuca, e ele me segurou como se ele
pudesse me manter lá para sempre.
— Você vai me dizer que você vai ficar bem. E você vai agir como se
estivesse tudo bem, mas...
— Você vai matar as pessoas que você ama — Minha risada era seca e
quebrada. — Eu odeio esse oráculo maldito.
Eu ri, porque sempre que Aiden xingava, eu não podia evitar. Parecia
errado saindo da sua língua, mas ainda elegante, de alguma forma. Como
uma pessoa britânica xingando. De qualquer forma, eu simplesmente não
conseguia mais falar sobre isso. Eu nem sequer queria pensar sobre isso, mas
eu precisava limpar o meu cérebro para corrigir isso.
Olhando em seus olhos, eu pensei de volta nos dias em que ele costumava
aparecer e me ver treinar. Isso me fez sorrir.
— Eu tenho.
Eu sorri para ele, sorrindo de verdade pela primeira vez desde que esta
conversa começou.
— Mas você é tipo como a minha fonte de força, mesmo quando eu não
conseguia me concentrar por causa de você.
Aiden inclinou a cabeça para o lado, fazendo com que seus lábios
pousassem na minha bochecha.
— Duvido.
— Você não tem ideia de como era difícil — Aiden suspirou contra meus
lábios. — Treinar você – estar tão perto quando tudo que eu queria...
— E se eu lhe mostrar?
Oh, eu realmente gostava de onde isto estava indo. Muito melhor do que
a desgraça e a porcaria da tristeza que queria me puxar para baixo, trazendo
Aiden comigo.
— Aceito.
— Bom dia! — Muita alegria tocou em sua voz para esta hora da manhã.
— Bom dia.
Antes que qualquer um de nós pudesse dizer outra palavra, Deacon correu
da porta e lançou-se sobre a cama, subindo pelo ar, como um projétil
humano. Eu me afastei para o lado com uma fração de segundos de sobra.
Ele caiu com as pernas sobre seu irmão e a parte superior de seu corpo entre
nós.
— Bom, porque vocês têm que se apressar. Estamos saindo em uma hora
— Deacon cruzou os tornozelos, deixando escapar um suspiro satisfeito. — É
hora de pegar a estrada.
Coloquei meu cabelo para trás, imaginando o quanto de café ele tinha
que ter tomado tão cedo.
O olhar que Aiden me enviou disse que não tinha planejado fazer isso
sozinho, e meu estômago fez todos os tipos de reviravoltas malucas e giros.
Não ajudou ele ter atravessado a sala em toda a sua glória com o peito nu. O
calor que corria em alta velocidade em minhas veias era difícil de negar, mas
Deacon, aparentemente, não estava indo a lugar nenhum.
— O quê?
— Precisamos conversar.
Não tendo nenhuma ideia do que ia sair de sua boca, mas positivamente
seria divertido, eu me mexi e me estendi a seu lado.
— Não, mas você tem o olhar de alguém que está voltada para baixo na
morte, praticamente esperando — Deacon fez uma pausa e seu olhar foi para
as vigas nuas no teto. — Eu sei o que parece. Eu vi no espelho por um longo
tempo.
— Deacon...
— Ah, eu estou bem agora. Eu acho que estou, pelo menos. Mas você sabe
por que eu nunca fui lá? — Deacon virou a cabeça para mim e eu sabia o que
ele queria dizer. — Eu não estava com medo da morte, mas eu estava com
medo do que eu, morrendo, faria com ele.
— Você tem o mesmo olhar desde que voltou do Submundo — Houve uma
pausa, e ele olhou para mim com toda a seriedade que ninguém lhe dava
crédito, e nesse momento ele me lembrou muito de Aiden. — Faça o que
fizer, não magoe o coração do meu irmão. Você é o mundo dele. E se você o
deixar, isso irá destruí-lo.
Trinta
Nosso Hummer era o carro de partida – o único legal. Ou pelo menos isso
é o que eu acreditava. Entre Luke e Deacon, a viagem de dez horas da
floresta para a Dakota do Sul não iria se transformar em algo tão ruim
assim. Pobre Marcus parecia que ele queria por fitas adesivas para fechar as
bocas dos dois rapazes após seu resumo de duas horas ininterruptas da
última temporada de Supernatural. Eu não estava reclamando. Em seguida,
Luke mudou para este novo programa sobre tronos e dragões, que tentou
explicar a Aiden. Considerando que Aiden era um fã de programas de TV em
preto-e-branco, Luke não estava indo muito longe.
Marcus parecia que tinha uma dor de cabeça, o que refletia como eu me
sentia. Não tinha nada a ver com a conversa dos meninos ou com os
ridículos – mas hilários – jogos que eles insistiam em jogar no carro. E eu
tinha certeza de que, se Deacon se inclinasse entre os assentos e Aiden
desse-lhe um soco no braço mais uma vez quando ele visse um Fusca, Aiden
encostaria o carro e iria estrangulá-lo.
Eu também tinha certeza de que Marcus iria jogar Deacon para fora. O
homem devia ter uma contusão ímpia em sua perna do último soco que
Deacon tinha lhe dado.
Seth estava lá, perambulando, esperando por aquele momento onde ele
poderia aparecer e ter uma conversa. Parte de mim quase dava boas-vindas a
isso, porque seria algo para se fazer, mas era tão estúpido. Conversar com
Seth não iria ajudar em nada. Ele estava de um lado da barreira e eu estava
do outro lado.
Eu não queria pensar em tudo.
O tempo passou devagar até rastejar. Toda vez que eu olhava para o
relógio no painel eu teria jurado que duas horas haviam se passado, mas
eram apenas vinte minutos depois. Quando atingiu o ponto médio, Solos
chamou por Aiden. Eles precisavam abastecer.
Mas nós não tínhamos outra escolha. Ambos os veículos estavam ficando
sem gasolina, e também era parar agora ou ficar sem gasolina no meio do
nada e ser comido por coiotes selvagens e ursos.
Alguns momentos depois, Aiden veio para o meu lado do carro. Eu pensei
em deixar a janela fechada, mas eu a abri. Ele se inclinou, descansando em
seus braços.
Eu sabia que estava fazendo beicinho, mas eu não podia sentir o meu
bumbum.
— Eu vou garantir que Luke pegue para você algo diferente do que a
água.
— Tenha cuidado.
Ele ainda parecia querer me acompanhar até lá, mas Marcus também
estava de olho em Aiden como se quisesse socá-lo novamente. Aiden deixou-
me ir e me juntei às meninas na calçada.
Olhei por cima do meu ombro. A boca de Marcus estava voando a mil por
hora, e Aiden estava ali, rígido e silencioso. Eu fiz uma careta.
— Ei, é o que é. Ele é um gato. Eu estaria fazendo com ele a cada cinco
segundos.
Olivia bufou.
— Eu não acho que ele está com Seth e Lucian — eu disse quando
começamos a dobrar a esquina do edifício de cimento.
Tudo bem. Talvez essa viagem não fosse tão ruim para mim. Para Aiden
por outro lado...
— Skittles?
— Por favor.
Eu corei como uma pequena colegial e foquei nos restantes doces até
Deacon se voltar para o seu lugar. Eu entreguei todos os vermelhos para
Aiden.
Eu sabia que não deveria ter minhas esperanças. Meu pai pode não estar
lá. Ele nunca poderia aparecer lá. Ele poderia ser morto.
A questão era que – e eu ficava tentando dizer a mim mesma que era – eu
não sabia. E não havia razão para ficar excitada de qualquer maneira. E eu
tinha coisas mais importantes para me concentrar, por exemplo, como
diabos eu iria convencer um bando de sentinelas e guardas a arriscarem suas
vidas até a morte, guerreando contra Seth e um deus.
Aiden se mexeu em seu lugar, e o olhar em seu rosto enquanto ele ouvia
com atenção não era bom.
Porcaria.
Não haveria ninguém por perto para qualquer lado para se preocupar com
a exposição, se é que eles ainda se importavam com isso.
— Diga a Solos para seguir — Marcus disse, — e para chegar perto de nós.
Merda dupla.
Aiden assentiu.
Deacon tinha razão. Uma parte de mim tinha aceitado que minha morte
seria inevitável desde que eu tinha saído do Submundo, que meu destino final
seria encontrar uma maneira de vencer. Eu – eu tinha me sentido assim –
acredita nisso. Eu? A menina que praticamente disse FODA-SE para tudo,
especialmente para o Destino.
Caramba...
Seria eu.
Porque eu era uma lutadora. Porque eu não desistia. Porque eu era forte.
— Marcus?
— Alex, fique abaixada — Aiden segurou firme no volante com uma mão
enquanto ele estendia a outra mão para mim, agarrando o meu braço e me
puxando para baixo.
— Pare o carro!
Ele olhou para mim, e deuses sabem o que ele viu nos meus olhos, mas
ele xingou baixinho e desviou para o acostamento. Os outros veículos
dispararam atrás de nós, o som de seus pneus guinchando no asfalto.
— Que diabos?
— Eu não posso acreditar que eles realmente estão atirando em nós. Nós?
— Deacon começou a se levantar. — O que está errado...?
— Eu sei — Luke puxou Deacon para baixo e para trás dele. — Nada vai
acontecer com ele.
Mais à frente, Solos tinha estacionado e todos eles se jogaram para fora
do carro, mantendo-se para o lado do passageiro. Eu soltei um suspiro de
alívio e, em seguida, me lancei em direção à frente do Hummer.
Eu estava banhada nas luzes dos faróis quando eu levantei a minha mão,
chamando o elemento ar. Era como destravar uma porta dentro de mim.
Poder correu de dentro, em seguida, espalhando-se, deslizando sobre a minha
pele. O ar se jogou rodovia abaixo, soprando por mim, mais rápido e mais
forte do que um puro poderia exercer. Ventos com força de furacão se
chocaram com o primeiro Hummer.
Uma carga depois, e eu o atirei nos olmos grossos que enchiam a estrada
com um movimento do meu pulso. Houve uma barulho com o impacto que
disse que essa ferramenta estaria fora de serviço por um tempo.
O segundo brandiu dois punhais do Covenant quando ele foi direto para
mim.
— Bem, não é muito cliché? Que tal isso – vire as costas e eu posso
deixá-lo viver.
Marcus apareceu na nossa frente. Sem pestanejar, ele enfiou uma adaga
no peito do Sentinela que eu tinha deixado cair. O homem nem sequer fez
um som.
— Eles sabem que não podem matá-la — Marcus agarrou meu braço e me
empurrou de volta para o Hummer. — Mas eu acredito que pretendem levá-la,
não importa qual seja a sua condição.
Solos e Aiden estavam lutando com dois Sentinelas. Olhando para trás, vi
que Olivia e Lea tinham mais dois encurralados. Minha atenção girou de
volta para o Hummer amassado.
Olivia deu um passo atrás, seu olhar passando rapidamente de mim para
a adaga.
— Isso... isso não era nada parecido com o que eles ensinam em sala de
aula.
Aiden apareceu atrás dele e agarrou os lados de sua cabeça. Houve uma
rápida torção, outro som se rastejando de volta e repetiu uma e outra vez
mais tarde, e em seguida, o Sentinela caiu.
Comecei a responder, mas uma sombra deslizou por trás dele. Meu
coração parou.
— Aiden!
Antes que eu pudesse levantar a mão, ele virou-se como o vento, soltando
a adaga. Ela bateu no peito do guarda que se aproximava dele. Lançando-se
para frente, ele puxou a lâmina antes do guarda entrar em colapso, e em
seguida a jogou novamente, derrubando o outro guarda que tinha
encurralado Solos.
Apenas alguns minutos se passaram e tínhamos tido sorte até agora, mas
a aproximação de faróis nos avisou que estávamos com falta de sorte.
Seu olhar caiu para o Sentinela caído mais uma vez e, em seguida, ela
balançou a cabeça, desviando o olhar. Ela agarrou o braço de Lea e puxou-a
para onde Luke e Deacon começaram a surgir a partir do aterro.
— Não há nada para se ver aqui. Você não vai ver nada enquanto você
dirigir. Você vai voltar para casa e... beijar sua esposa ou qualquer outra
coisa.
Whoops.
— Uh, você tem namorada?
— O quê? — Eu exigi.
— Sinto muito.
— Você?
— Sim — Seu olhar mudou-se para o monte de cinzas e sua mão apertada.
— Nós precisamos ir.
— Por ‘eles’ você quer dizer Seth, Lucian, e esse deus? Você percebe que
não há um único deles que se importe sobre os meio-sangues, certo?
Raiva me queimou.
— Você acha que nós estamos falando sobre o Primeiro? — Ele riu. —
Você não tem ideia no que você já entrou, menina. Isso é maior do que você
e o Primeiro, maior do que um simples assento no Conselho.
Um arrepio disparou em linha reta na minha espinha e eu dei um passo
involuntário para trás.
— O que é?
Nenhum dos homens respondeu. Eles não disseram nada quando Solos
questionou sobre os planos de Lucian. Marcus entrou em cena então, mas
quando ele usou compulsão sobre eles, eles permaneceram em silêncio.
— Eles não vão falar — disse Marcus, mãos apertadas em seus lados. —
Ou é uma compulsão mais forte do que um puro pode fazer, ou é lealdade
cega. De qualquer maneira, estamos perdendo um tempo precioso e nos
arriscando demais.
— Eu posso...
— Não — Ele usou aquela voz que eu viria a odiar e respeitar – o tom sem
argumento. — Você não vai fazer isso.
Eu queria fazer, porque uma execução era a última coisa que eu queria
ver, mas quando Aiden conseguiu se libertar do meu lado e foi em direção a
eles, eu me forcei a ficar parada. Se ele tivesse que fazer isso, então eu tinha
que testemunhar isso. Era o máximo que eu podia fazer, pelo menos.
Aiden se moveu muito rápido. As mortes foram limpas e rápidas. Eles não
sentiram. Seus corpos caíram para frente, separados de suas cabeças.
Não importa o quão rápido e indolor Aiden tinha feito, eu sabia que ele
iria sentir isso nos cantos escuros de sua alma por um longo tempo.
Trinta e um
Nosso Hummer era o carro de partida – o único legal. Ou pelo menos isso
é o que eu acreditava. Entre Luke e Deacon, a viagem de dez horas da
floresta para a Dakota do Sul não iria se transformar em algo tão ruim
assim. Pobre Marcus parecia que ele queria por fitas adesivas para fechar as
bocas dos dois rapazes após seu resumo de duas horas ininterruptas da
última temporada de Supernatural. Eu não estava reclamando. Em seguida,
Luke mudou para este novo programa sobre tronos e dragões, que tentou
explicar a Aiden. Considerando que Aiden era um fã de programas de TV em
preto-e-branco, Luke não estava indo muito longe.
Marcus parecia que tinha uma dor de cabeça, o que refletia como eu me
sentia. Não tinha nada a ver com a conversa dos meninos ou com os
ridículos – mas hilários – jogos que eles insistiam em jogar no carro. E eu
tinha certeza de que, se Deacon se inclinasse entre os assentos e Aiden
desse-lhe um soco no braço mais uma vez quando ele visse um Fusca, Aiden
encostaria o carro e iria estrangulá-lo.
Eu também tinha certeza de que Marcus iria jogar Deacon para fora. O
homem devia ter uma contusão ímpia em sua perna do último soco que
Deacon tinha lhe dado.
Seth estava lá, perambulando, esperando por aquele momento onde ele
poderia aparecer e ter uma conversa. Parte de mim quase dava boas-vindas a
isso, porque seria algo para se fazer, mas era tão estúpido. Conversar com
Seth não iria ajudar em nada. Ele estava de um lado da barreira e eu estava
do outro lado.
Eu não queria pensar em tudo[V1] .
O tempo passou devagar até rastejar. Toda vez que eu olhava para o
relógio no painel eu teria jurado que duas horas haviam se passado, mas
eram apenas vinte minutos depois. Quando atingiu o ponto médio, Solos
chamou por Aiden. Eles precisavam abastecer.
Mas nós não tínhamos outra escolha. Ambos os veículos estavam ficando
sem gasolina, e também era parar agora ou ficar sem gasolina no meio do
nada e ser comido por coiotes selvagens e ursos.
Alguns momentos depois, Aiden veio para o meu lado do carro. Eu pensei
em deixar a janela fechada, mas eu a abri. Ele se inclinou, descansando em
seus braços.
Eu sabia que estava fazendo beicinho, mas eu não podia sentir o meu
bumbum.
— Eu vou garantir que Luke pegue para você algo diferente do que a
água.
— Tenha cuidado.
Ele ainda parecia querer me acompanhar até lá, mas Marcus também
estava de olho em Aiden como se quisesse socá-lo novamente. Aiden deixou-
me ir e me juntei às meninas na calçada.
Olhei por cima do meu ombro. A boca de Marcus estava voando a mil por
hora, e Aiden estava ali, rígido e silencioso. Eu fiz uma careta.
— Ei, é o que é. Ele é um gato. Eu estaria fazendo com ele a cada cinco
segundos.
Olivia bufou.
— Eu não acho que ele está com Seth e Lucian — eu disse quando
começamos a dobrar a esquina do edifício de cimento.
Tudo bem. Talvez essa viagem não fosse tão ruim para mim. Para Aiden
por outro lado...
— Skittles?
— Por favor.
Eu corei como uma pequena colegial e foquei nos restantes doces até
Deacon se voltar para o seu lugar. Eu entreguei todos os vermelhos para
Aiden.
Eu sabia que não deveria ter minhas esperanças. Meu pai pode não estar
lá. Ele nunca poderia aparecer lá. Ele poderia ser morto.
A questão era que – e eu ficava tentando dizer a mim mesma que era – eu
não sabia. E não havia razão para ficar excitada de qualquer maneira. E eu
tinha coisas mais importantes para me concentrar, por exemplo, como
diabos eu iria convencer um bando de sentinelas e guardas a arriscarem suas
vidas até a morte, guerreando contra Seth e um deus.
Aiden se mexeu em seu lugar, e o olhar em seu rosto enquanto ele ouvia
com atenção não era bom.
Porcaria.
Não haveria ninguém por perto para qualquer lado para se preocupar com
a exposição, se é que eles ainda se importavam com isso.
— Diga a Solos para seguir — Marcus disse, — e para chegar perto de nós.
Merda dupla.
Aiden assentiu.
Deacon tinha razão. Uma parte de mim tinha aceitado que minha morte
seria inevitável desde que eu tinha saído do Submundo, que meu destino final
seria encontrar uma maneira de vencer. Eu – eu tinha me sentido assim –
acredita nisso. Eu? A menina que praticamente disse FODA-SE para tudo,
especialmente para o Destino.
Caramba...
Seria eu.
Porque eu era uma lutadora. Porque eu não desistia. Porque eu era forte.
— Marcus?
— Alex, fique abaixada — Aiden segurou firme no volante com uma mão
enquanto ele estendia a outra mão para mim, agarrando o meu braço e me
puxando para baixo.
— Pare o carro!
Ele olhou para mim, e deuses sabem o que ele viu nos meus olhos, mas
ele xingou baixinho e desviou para o acostamento. Os outros veículos
dispararam atrás de nós, o som de seus pneus guinchando no asfalto.
— Que diabos?
— Eu não posso acreditar que eles realmente estão atirando em nós. Nós?
— Deacon começou a se levantar. — O que está errado...?
— Eu sei — Luke puxou Deacon para baixo e para trás dele. — Nada vai
acontecer com ele.
Mais à frente, Solos tinha estacionado e todos eles se jogaram para fora
do carro, mantendo-se para o lado do passageiro. Eu soltei um suspiro de
alívio e, em seguida, me lancei em direção à frente do Hummer.
Eu estava banhada nas luzes dos faróis quando eu levantei a minha mão,
chamando o elemento ar. Era como destravar uma porta dentro de mim.
Poder correu de dentro, em seguida, espalhando-se, deslizando sobre a minha
pele. O ar se jogou rodovia abaixo, soprando por mim, mais rápido e mais
forte do que um puro poderia exercer. Ventos com força de furacão se
chocaram com o primeiro Hummer.
Uma carga depois, e eu o atirei nos olmos grossos que enchiam a estrada
com um movimento do meu pulso. Houve uma barulho com o impacto que
disse que essa ferramenta estaria fora de serviço por um tempo.
O segundo brandiu dois punhais do Covenant quando ele foi direto para
mim.
— Bem, não é muito cliché? Que tal isso – vire as costas e eu posso
deixá-lo viver.
Marcus apareceu na nossa frente. Sem pestanejar, ele enfiou uma adaga
no peito do Sentinela que eu tinha deixado cair. O homem nem sequer fez
um som.
— Eles sabem que não podem matá-la — Marcus agarrou meu braço e me
empurrou de volta para o Hummer. — Mas eu acredito que pretendem levá-la,
não importa qual seja a sua condição.
Solos e Aiden estavam lutando com dois Sentinelas. Olhando para trás, vi
que Olivia e Lea tinham mais dois encurralados. Minha atenção girou de
volta para o Hummer amassado.
Olivia deu um passo atrás, seu olhar passando rapidamente de mim para
a adaga.
— Isso... isso não era nada parecido com o que eles ensinam em sala de
aula.
Aiden apareceu atrás dele e agarrou os lados de sua cabeça. Houve uma
rápida torção, outro som se rastejando de volta e repetiu uma e outra vez
mais tarde, e em seguida, o Sentinela caiu.
Comecei a responder, mas uma sombra deslizou por trás dele. Meu
coração parou.
— Aiden!
Antes que eu pudesse levantar a mão, ele virou-se como o vento, soltando
a adaga. Ela bateu no peito do guarda que se aproximava dele. Lançando-se
para frente, ele puxou a lâmina antes do guarda entrar em colapso, e em
seguida a jogou novamente, derrubando o outro guarda que tinha
encurralado Solos.
Apenas alguns minutos se passaram e tínhamos tido sorte até agora, mas
a aproximação de faróis nos avisou que estávamos com falta de sorte.
Seu olhar caiu para o Sentinela caído mais uma vez e, em seguida, ela
balançou a cabeça, desviando o olhar. Ela agarrou o braço de Lea e puxou-a
para onde Luke e Deacon começaram a surgir a partir do aterro.
— Não há nada para se ver aqui. Você não vai ver nada enquanto você
dirigir. Você vai voltar para casa e... beijar sua esposa ou qualquer outra
coisa.
Whoops.
— Uh, você tem namorada?
— O quê? — Eu exigi.
— Sinto muito.
— Você?
— Sim — Seu olhar mudou-se para o monte de cinzas e sua mão apertada.
— Nós precisamos ir.
— Por ‘eles’ você quer dizer Seth, Lucian, e esse deus? Você percebe que
não há um único deles que se importe sobre os meio-sangues, certo?
Raiva me queimou.
— Você acha que nós estamos falando sobre o Primeiro? — Ele riu. —
Você não tem ideia no que você já entrou, menina. Isso é maior do que você
e o Primeiro, maior do que um simples assento no Conselho.
Um arrepio disparou em linha reta na minha espinha e eu dei um passo
involuntário para trás.
— O que é?
Nenhum dos homens respondeu. Eles não disseram nada quando Solos
questionou sobre os planos de Lucian. Marcus entrou em cena então, mas
quando ele usou compulsão sobre eles, eles permaneceram em silêncio.
— Eles não vão falar — disse Marcus, mãos apertadas em seus lados. —
Ou é uma compulsão mais forte do que um puro pode fazer, ou é lealdade
cega. De qualquer maneira, estamos perdendo um tempo precioso e nos
arriscando demais.
— Eu posso...
— Não — Ele usou aquela voz que eu viria a odiar e respeitar – o tom sem
argumento. — Você não vai fazer isso.
Eu queria fazer, porque uma execução era a última coisa que eu queria
ver, mas quando Aiden conseguiu se libertar do meu lado e foi em direção a
eles, eu me forcei a ficar parada. Se ele tivesse que fazer isso, então eu tinha
que testemunhar isso. Era o máximo que eu podia fazer, pelo menos.
Aiden se moveu muito rápido. As mortes foram limpas e rápidas. Eles não
sentiram. Seus corpos caíram para frente, separados de suas cabeças.
Não importa o quão rápido e indolor Aiden tinha feito, eu sabia que ele
iria sentir isso nos cantos escuros de sua alma por um longo tempo.
Trinta e dois
— Não — Seu aperto reforçou. — Você não vai correr para o meio disto!
— Nós só temos bom gosto — Aiden respondeu, enquanto olhava por cima
do ombro para o Sentinela meio-sangue. — Ao contrário de alguns…
Solos bufou.
Ele assentiu.
— Eles estão do outro lado da estrada, em uma vala. Eles estão bem —
Solos deu uma olhada para Laadan. — Ela salvou meu bumbum vermelho
rosado, sabe? Uma bola de fogo estava indo direto para minha cabeça, e ela
só a arremessou para longe com ar.
Autômatos de Hefesto.
Não fazia sentido. Eles deveriam estar protegendo os Covenants. Eles
tinham nos julgado uma ameaça? Bem, obviamente, já que estavam
tentando nos transformar em criaturas chamuscadas. Mas aquelas pessoas
nos carros… De jeito nenhum eles iriam atacar primeiro e perguntar depois.
Derrotava todo o propósito de tê-los aqui e mover os membros do Conselho
para a Universidade a menos que…
— O deus… é Hefesto?
Suas coxas grossas como tronco de árvore e grandes cascos eram feitos
de titânio. Cabelo escuro e emaranhado cobria seus peitos largos e braços
musculosos. Cada cabeça era a de um touro – dois chifres e um focinho longo
e chato que descia para uma boca cheia de dentes e mandíbulas fortes.
Havia mais de uma dúzia deles formando uma linha inquebrável entre
nós e a Universidade, e eu duvidava que eles estivessem agindo como vigias
como eles deveriam estar.
Deacon assentiu.
— Sem dúvida.
Então ele abriu a boca mais uma vez e uma corrente de fogo brotou. Uma
bola se formou, indo direto para a vala do outro lado da estrada. As garotas
se espalharam pela colina.
Bem, essa era uma maneira de matá-los. Mais ou menos como zumbis…
Em uma corrida, recordei a premonição que tive mais cedo. Eles iam
morrer, todos eles. Como aqueles corpos bem-passados nos carros, eles
seriam grelhados e esse seria o fim deles.
Fogo veio deles, cegante e intenso. Nada existia fora das chamas.
Nenhum som. Nenhuma visão. Meu mundo estava vermelho e laranja…
Eu soltei.
Lea inclinou a cabeça para o lado enquanto franzia a testa para o sangue
coagulado pingando da lâmina.
Eu queria que eles calassem a boca – os dois, porque isso não era real.
Não podia ser, e, em seguida, em um momento de dolorosa e dura realidade,
eu não consegui entender como pude ficar tão surpresa. Como se eu não
tivesse esperado a morte. Como se a morte não pudesse nos tocar. Como
pude ficar tão surpresa? Cada um deles iniciara a jornada sabendo que isto
era perigoso, que qualquer momento poderia ser o seu último. E a alguns
quilômetros atrás, eu soubera que a morte estava chegando, tanto para que
eu pudesse provar a tristeza na ponta da minha língua.
Lea tinha ido, como Caleb e a Mamãe, como todas aquelas pessoas de
volta naqueles carros. Ela estava… Eu não conseguia terminar a frase.
Aquela palavrinha não podia ser levada de volta.
Alex?
Balancei a cabeça.
— Eu não posso... eu não posso fazer isto agora — Minha voz falhou. —
Preciso de alguns minutos.
Ele hesitou, e então senti sua mão no meu ombro. Me soltei com um
puxão e andei em frente, arrastando respirações profundas mesmo que elas
não parecessem estar puxando ar suficiente para os meus pulmões. Eu não
podia me dar ao luxo de perder o controle, como eu tinha feito depois da
morte de Caleb. Não podia me desconectar disto ou me autodestruir. Eu
tinha que lidar, mas…
Eu tinha pedido desculpas a ela pela babaca que tinha sido com ela
quando éramos crianças? Eu achava que não. Apertei meus olhos fechados e
vi seu corpo deitado no chão lá atrás.
Cale a boca! Eu não tenho certeza do que fez isso – a qualidade quase
sincera de sua voz, ou o fato de que ele tinha levado a irmã de Lea e minha
mãe tinha levado a família dela e, por causa do que Seth e eu éramos, ela
havia perdido a vida. Quebrei bem aberta em um instante. Cale a boca! Só
cale a boca! Você está feliz, Seth? É isso o que você queria?
Lágrimas trilharam minhas bochechas, velozes e furiosas. Meus braços
tremiam – todo o meu corpo tremia para manter os escudos levantados. Eu
não podia deixá-los baixar, não quando Seth estava dentro da minha cabeça
deste jeito. Ele saberia onde eu estava e haveria mais morte.
Pare, ele disse, e houve uma pressão a minha volta, quase como se Seth
estivesse envolvendo os braços a minha volta, me segurando imóvel. Você
precisa se acalmar, porque está estourando um monte das minhas células
cerebrais. Respire fundo. Só acalme-se. Tudo bem?
Quem está morto? Seth perguntou, e eu podia dizer pelo seu tom de voz
que ele esperava o pior.
Lea. Até mesmo a voz dentro da minha cabeça soou entorpecida. Ela está
morta, como toda a família dela.
Seth não disse nada. Talvez ele soubesse o significado. Afinal de contas,
quando tínhamos estado conectados antes, ele vira muito do meu passado, e
provavelmente podia adivinhar que eu não tinha ideia de como lidar com
isto. Talvez ele estivesse até mesmo pensando a mesma coisa que eu tinha –
que nossa conexão tirara tudo de Lea, incluindo sua vida. Eu duvidava que,
mesmo se estivesse pensando isso, faria qualquer diferença. Seth continuaria
fazendo o que estava fazendo. E eu também iria. Ele não disse nada
enquanto eu puxava minhas pernas para meu peito e me enrolava como uma
bola, desesperadamente não querendo sentir a perda cortante novamente. E
ele não disse nada enquanto a estranha pressão dentro de mim aumentava.
Éramos inimigos até o âmago, ainda mais agora do que nunca, mas a
minha perda era a dele. Quando eu sofria, ele sofria. Era o modo que nós
fomos construídos, e mesmo a morte que ele havia causado indiretamente
não poderia romper isso ou estilhaçar o que havia entre nós.
Nada poderia.
Trinta e três
Eu não sei quanto tempo fiquei lá, mas quando eu abri os meus olhos
novamente, o céu ainda estava escuro e a presença de Seth tinha ido
embora. Em algum momento, eu senti a facilidade da distância. Eu acho que
ele sussurrou algo antes da conexão desaparecer, mas eu tinha que estar
ouvindo coisas, porque isso não podia estar certo.
E todas aquelas pessoas. Minha cabeça girava quando eu olhei para Lea.
Alguém tinha fechado os seus olhos. Os meus estavam queimando.
— Nós temos que descobrir — Aiden enfiou a mão pelo cabelo — Estamos
a cerca de um quilômetro do campus.
— Pode haver mais deles. Inferno, pode haver uma dúzia ou mais ao
longo da próxima maldita colina e nós estaríamos andando cegamente.
— Eu sei.
— Nós não podemos... levá-la conosco — disse Solos. — Nós não temos
ideia do que vamos enfrentar.
Olivia saiu como uma bomba nuclear, sustentando a adaga que ela estava
considerando empalar entre os olhos de Solos.
— Nós não podemos deixá-la aqui assim. Isso é tão errado que eu nem
preciso explicar.
— Eu sei, mas...
Laadan colocou uma mão pálida no braço de Olivia, mas Olivia estava
além de ser consolada.
— Eu não sei se isso vai funcionar. Coloquei meu cabelo para trás, sem
ter ideia do que aconteceu com o meu rabo de cavalo.
Eu balancei a cabeça.
— Isso deve servir — disse ela, limpando a garganta. — Não é muito, mas
as árvores... ela gosta das árvores.
— Tudo bem. Lea realmente não era muito ligada a natureza ou árvores.
Ela piscou.
— Você acha?
— Essa é a coisa sobre a morte, eu percebi. Eles foram embora para nós,
mas não é verdade, sabe? Há vida após a morte, apenas um tipo de vida
diferente — Houve uma pausa. — Eu gostaria que tivéssemos nos tornados
amigas antes de toda essa porcaria. Lea... ela era muito legal se você
passasse por sua fase de vadia.
— O quê?
Olivia parecia que queria jogar algo para fora, mas não o fez.
Aiden apalpou os bolsos, assim como o resto dos rapazes. Eles vieram
para cima vazios e meu estômago se afundou.
— Não — Pânico borbulhou. — Nós temos que ter alguma coisa. Confie
em mim, ela precisa ter as moedas agora.
— Obrigada.
Ela sorriu quando ela entregou o colar para Marcus, que em seguida,
quebrou duas das moedas de ouro. Partindo para o cobertor, colocou-as nas
mãos de Lea.
***
Eu fui até uma, colocando minha mão sobre ela. Eu meio que esperei a
árvore cair, mas estava estável.
— Antes que alguém tenha alguma ideia, eu não irei fazer um buraco por
isso.
Aiden enviou um sorriso irônico sobre seu ombro enquanto ele se juntou a
Marcus e Solos que se aproximavam dos portões de titânio. As pontas afiadas
ao longo do topo chamaram minha atenção, e minha imaginação colocou
cabeças decapitadas nas coisas.
Estremeci.
Luke deixou cair um braço sobre meus ombros.
— É claro.
Eu quase ri.
Ao som de seu nome, Deacon fez uma careta por cima do ombro.
Marcus pigarreou.
— Olá! — Ele gritou, e sua voz ecoou no que pareceu uma eternidade. —
Nós... Nós viemos em paz.
— Uau.
Meu tio me lançou um olhar escuro e em seguida, continuou.
— Virem-se e abaixem suas armas agora — veio uma voz escura atrás de
nós.
Oh, merda.
Meus olhos foram para cima, encontrando Aiden por um breve segundo, e
depois, porque eu realmente não queria ser bombeada por balas de titânio,
virei-me e esperei que eu não tivesse usado muito do poder dentro de mim até
ficar completamente seca.
Estávamos cercados.
Trinta e quatro
Então eu percebi que ele não sabia quem eu era. Uma parte de mim
relaxou, porque se eles estivessem jogando no time do mal, eu tinha certeza
de que teria fotos do meu rosto rebocadas através de suas paredes do quarto.
— Eu ouvi de onde você disse que era e que não tinha más intenções, mas
por favor me diga, como nós deveríamos acreditar nisso.
— Nós éramos uma parte do grupo que escapou da Ilha Divindade — disse
Marcus.
Eu meio que gostei deste cara, arma apontada em nossos rostos, não
obstante. Um músculo se flexionou na mandíbula de Marcus.
— Se esse Sentinela foi mandando para chegar aqui nas últimas vinte e
quatro horas, então ele está entre as pobres almas para além do muro — O
olhar do líder derivou sobre nós. — Ninguém passou por eles há mais de um
dia, o que me deixa curioso para saber como o seu grupo conseguiu.
Ainda bem que eu não tinha mencionado que Seth e eu ainda tínhamos
um tipo de ligação.
— E esse deus não é o único com quem você vai ter que se preocupar. Há
um outro que atende pelo nome de Apolo – sim, aquele Apolo – e ele vai ficar
muito chateado se você nos virar as costas. Veja, nós somos meio que
relacionados e ele meio que gosta de mim.
— Soa como uma boa ideia — Um tom de humor negro se atou em Aiden.
— Você pode querer tirar a arma do rosto do meu irmão, enquanto você
pensa nisso.
— Isso é bom — Uma meia pausa. — Você disse que perdeu um?
Olivia pigarreou.
— Sim. Ela tinha apenas dezoito anos, treinando para ser uma Sentinela.
Seu nome era Lea.
— Eu sinto muito por tudo o que vocês perderam. Os deuses sabem que
podemos simpatizar com o que vocês estão sentindo — Com isso dito, voltou-
se para o portão. — Por favor, sigam-me.
— Não disse? — Perguntou Aiden, que de repente estava ao meu lado. Ele
colocou um braço sobre os meus ombros, e enviei-lhe um olhar curioso.
Oh, céus.
— Você disse que outros estariam felizes em saber que eu sei como parar
... o Primeiro? Quem seriam esses?
Quando ele acenou com a cabeça, eu estava perto de fazer algo como um
Muppet com o braço. Eu não tinha deixado de considerar que meu pai
poderia ter sido um daqueles corpos queimados ao longo da estrada, mas
sabendo que alguns tinham ido para a Universidade provocou uma segura
esperança no fundo do meu peito. Isso não aliviava a dor forte da perda de
Lea, mas era alguma coisa para continuar.
***
Marcus apertou as mãos dela nas suas e parecia que ele queria fazer mais
– talvez puxá-la em seus braços, abraçá-la... beijá-la como um homem que
nunca tinha esperado vê-la novamente.
— Eu não sabia que você estava familiarizado com a minha irmã, Reitor
Andros.
— Somos amigos... Reitor Elders. Ela é uma mulher linda, mas tanto
quanto eu gostaria de listar seus atributos brilhantes, não é por isso que
estamos aqui.
— Eu também sou grato ao ver que você está aqui em segurança. Muitos
não têm estado recentemente.
— Isso é o que temos visto e ouvido. Marcus cruzou as mãos atrás das
costas, me jogando de cabeça em lembranças dele em um escritório muito
semelhante a este, onde ele tinha estado a ponto de mentir por mim por algo
estúpido que eu tinha feito.
Porcaria. Com tudo que está acontecendo, nós esquecemos que Aiden foi
denominado como o Inimigo Público Número Dois.
— Este seria eu. E não se engane, se você estiver procurando por remorso
ou culpa, eu não tenho nenhum. Eu faria isso de novo.
O Reitor sorriu.
A maneira como ele anexou o agora não me deixou feliz de modo algum.
— Por favor, comece por explicar como você conseguiu passar pelos
autômatos.
— Eu posso parar Seth — eu disse finalmente. — Não vai ser fácil, mas eu
sei como.
— Mas você tem que estar perto dele para fazer isso, certo?
Eu balancei a cabeça.
— Tudo bem — Ele olhou sobre o resto do meu grupo. — Eu imagino que
todos vocês desejam se reunir com os Sentinelas e guardas aqui o mais
rápido possível, mas do jeito que vocês parecem, vocês poderiam usar
chuveiros, alimentos e camas limpas. Enquanto vocês descansam, o
Sentinela Hyperion e eu vamos ter tempo para definir alguma coisa para
você.
Eu não poderia dizer pela expressão de dor de Diana se ela sabia aonde eu
queria chegar, ou se ela estava ciente de que o meu pai tinha sido um servo
no Catskills.
— As paredes não haviam sido violadas, mas era apenas uma questão de
tempo. Lucian e o Primeiro desejavam tomar o Catskills. Não importa que a
maioria do Conselho já não residisse lá. É a sede do poder, e quem está
sentado no trono rege nossa sociedade. É a lei.
Era uma lei incrivelmente estúpida que não significa absolutamente nada
para mim.
— O que aconteceria com Seth? Ele ainda estaria vivo. Eu acho que ele
ainda seria o Apollyon, só que mais fraco. O placar se inverteria. As
profecias... — Eu balancei minha cabeça. — A profecia mudaria.
— Eu imagino que sim, com exceção do deus que está trabalhando com
Lucian. Esse deus quer obviamente, o Assassino de Deuses por suas próprias
razões. Falando nisso, ele deve ser Hefesto, considerando que ele criou os
autômatos — eu joguei isso, esperando que o assunto fosse mudar. — Eu não
sei por que ele faria isso, porém. Quero dizer, ele ajudou a manter-me longe
do Primeiro, certo?
Aiden assentiu.
— Ele ajudou.
— Não faz sentido, mas quando é que os deuses fazem sentido? — Forcei
uma gargalhada. — Acho que ele estava cansado de ser conhecido como o
manco.
— Mas o que acontece com os outros deuses? — ela insistiu. — Eles não
podem estar satisfeitos com a ideia.
Essa pequena cantiga era como o Titanic. Todo mundo estava muito
atordoado. Havia alguns palavrões perfeitos de Aiden e Marcus, e alguns
suspiros surpresos do resto da galera do amendoim[1].
— Meu quarto é o seu quarto, mas sério, você precisa falar com ele. É
óbvio que ele não sabia o que você tinha sido convocada a fazer. Nenhum de
nós sabia.
— Isso importa?
— Eu entendo isso. Tenho certeza que ele também entende, mas existem
algumas coisas que você não deve esconder daqueles que te amam — Olivia
se virou, abrindo a porta. — Fale com ele.
Não era como se eu tivesse uma escolha quando se tratava de falar com
ele.
— Obrigada.
***
Aiden sentou ao meu lado, colocando a bandeja entre nós. Ele cheirava a
sabão limpo e especiarias. Tirando algumas fatias do caminho, ele encontrou
um grosso pedaço de carne escura.
— Aiden...
— Coma primeiro.
Eu fiz uma careta para ele, mas ele segurou o peru muito perto e minha
boca encheu de água. Tomando isso dele, nós passamos os próximos vários
minutos ingerindo carne e frutas em excesso. Quando eu persegui um
morango maduro em toda a bandeja, ele inclinou-se e colocou uma mecha
úmida de cabelo de volta atrás da minha orelha. Olhei para cima e nossos
olhos se encontraram. Todo o ar fugiu dos meus pulmões. Aiden estava,
provavelmente, pronto para me estrangular, mas aquele olhar em seus olhos
prateados... uau, simplesmente uau.
— Antes que isso vá mais longe, o que você fez com os autômatos foi
nada menos que incrível. Eu não tive a chance de te dizer, mas eu queria que
você soubesse.
Eu pisquei.
— Sério?
— Não se culpe pelo que aconteceu com ela. Sua morte não foi culpa sua.
E se você não tivesse usado o seu poder, todos nós teríamos morrido.
— Eles esperam que você lute com Seth e tenha o poder transferido para
você. Então, eles esperam que você lute com esse deus?
Eu balancei a cabeça.
— Eu não gosto disso – eu não quero que você faça isso — Raiva queimou
em seu olhar. — Isso é muito perigoso, cada parte disso. Além do fato de que
Seth poderia transferir o poder de você, Nenhum deus vai facilitar. É uma
loucura.
Era, mas quando alguma coisa na minha vida tinha sido completamente
sã? Me mexi mais perto dele.
— Mas isso tem de ser feito, Aiden. Mesmo se conseguirmos parar Lucian
e Seth, este deus vai tentar algo novo. Olhe para todas as pessoas que
morreram.
Eu não tinha ideia do que dizer a isso, e eu sabia que foi preciso muito de
Aiden para admitir isso. Inferno, seria preciso muito de qualquer um para
admitir isso. Mas era a verdade, e às vezes a verdade não era bonita ou ética
ou justa. Ela só era.
Aiden fez um som na parte de trás de sua garganta e ele estendeu a mão
para mim. Eu fui, subindo em seu colo. Com os braços dele me rodeando, me
apertando com tanta força contra ele que eu podia sentir o seu batimento
cardíaco, eu não podia dizer-lhe isso agora. Eu não acho que eu poderia dizer
a ele.
— Não desde que... Lea morreu. Seth estava lá depois, mas ele se foi. Quer
dizer, eu ainda posso sentir a corda, mas é estranho. É como se ele tivesse
tirado umas férias.
— Grandes mentes pensam da mesma forma — Com uma mão, ele alisou
o polegar sobre meu lábio inferior. — Você deve estar exausta.
Eu dei de ombros.
Eu fiz beicinho.
— Eu disse sobre dormir juntos, Alex. O que tenho em mente não envolve
o sono.
— Sinto muito. Minha mente não está na sarjeta, como algumas pessoas
que eu poderia citar.
— Se você diz — Suas mãos se apertaram — Nós vamos ter que ver isso.
[1] Figurativo = pessoas cujas críticas são consideradas como irrelevantes ou insignificantes
lembrando as pessoas ignorantes que jogam amendoim no palco para expressar descontentamento
com a performance
Trinta e seis
Aiden não tinha deixado a cama, então suponho que tirar as coisas de
dormir não iria começar hoje. Não que eu estivesse reclamando. Depois de...
bem, não dormir e depois dormir por várias horas, e um pouco mais de não
dormir, nós fomos convocados por uma batida na porta.
— Uh-huh.
— Já estou indo!
Eu tinha certeza que Aiden conseguiu uma boa olhada divertida, e meu
rosto estava vermelho-sangue no momento em que cheguei à porta. Abrindo
o bastante para que eu deslizasse através dela, vi Dominic.
Eu não estava com sede, mas minha boca estava com certeza seca.
— Não. Só que era um Instrutor. Você acha que devemos dar uma olhada?
Eu pensava que seria bom para ele tirar aquela camisa, mas o que eu
sabia? Depois de passar uma escova pela minha massa de cabelo, peguei uma
adaga esguia, a escorreguei no meu bolso de trás, e puxei minha camisa para
baixo sobre o cabo.
Aumentei meu passo para ficar junto com as aberrações de pernas longas.
Tudo isto não era necessário. Eu já não era mais a aluna em aula. Eu era
o Apollyon e estava totalmente carregada. Deixe Romvi tentar alguma coisa.
Eu tinha seriamente ansiado por jogar sua bunda de macaco pela janela.
— Pelo que me lembro, não fui eu quem realizou a ação, que foi bem
sucedida, posso acrescentar.
— Significava na época.
— Tenho certeza que eu não parecia muito para você, St. Delphi.
— Não. Nunca se deve virar as costas em uma guerra. Acredito que é por
isso que estamos onde estamos hoje. Os tolos têm virado as costas para isso,
mesmo que guerra sempre exista.
— Que di…?
Os Guardas e Dominic trocaram olhares, e depois se moveram em direção
ao Diretor, rodeando-o e deslocando-o em direção à porta.
— Eu estava começando a pensar que você não era tão esperta assim,
Srta. Andros.
Ele usava calças de couro e uma túnica que estava perfurada pela adaga
do Covenant ainda em seu peito. Faixas tipo cobra cobriam seus bíceps, mas
enquanto ele levantava um braço, percebi que não eram faixas mesmo.
Dizer que eu não estava assustada seria uma mentira deslavada. Ares era
o deus da guerra e da discórdia. Exércitos tremiam aos seus pés e nações
caíam sob sua ira. Seus filhos eram deuses de terror e miséria. Não havia
uma única coisa sobre ele que não enviava um pico de medo direto através de
mim ou de qualquer outra criatura viva, respirando.
Este devia ser o deus que fazia parte da linhagem de sangue de Seth,
aquele que vinha trabalhando nos bastidores com Lucian.
— O que você quer? — Eu estava orgulhosa que a minha voz não tremeu.
— Oh, você sabe. Só... tudo. E para conseguir tudo, eu preciso que você
se conecte com o Primeiro.
Ele suspirou.
— Senão o quê? Você vai ficar aí e me encarar até a morte? Você não
pode me matar. E não pode me forçar a me conectar com o Primeiro.
O sorriso que foi gravado em seus lábios enviou uma onda de choque
gelada através de mim.
— Você está certa e errada. Eu posso não ser capaz de te matar, mas
posso te dobrar a minha vontade e posso fazer você desejar a morte. E posso
matar todos aqueles que você ama.
Ares jogou seu braço para fora, e várias coisas aconteceram em questão
de segundos. O Guarda mais próximo a ele foi arremessado do outro lado da
sala e através da janela de que eu quis atirar em Romvi/Ares. O segundo
Guarda aproximou-se dele e Ares fechou o punho. O Guarda desmoronou no
chão, sangue fluindo de seu nariz, boca e orelhas. Dominic estava ao lado.
Ele foi lançado para trás, seu corpo se contorcendo e torcendo no ar. Ossos
estouraram pela pele. Ele não era nada além de uma bagunça mutilada
quando atingiu o chão. Em seguida, Ares se virou contra o Reitor da
Universidade.
Ares piscou.
— Ah, isso é a sua cara. Fazer piada quando está com medo — Suas
grandes botas bateram forte quando ele deu um passo à frente. — Ou do que
eles chamam? Você é “irritável”?
— Estou supondo que, já que você está aqui, Seth não vai estar muito
para trás.
Eu estava?
— Bem, acho que você não tem camaradas por toda parte, se você não
sabe.
— Encantadora. Você vai me contar o que estava fazendo lá, ou isto vai
acabar com você não sendo capaz de falar. A escolha é sua.
— Pensei que isto ia acabar comigo implorando pela morte. Como posso
fazer isso quando eu não posso falar?
— Você pode querer repensar isso — Ele soava civil enquanto sugeria isso
— Olhe para isto racionalmente, garotinha. Tudo o que eu peço é que você se
conecte com Seth. Permita que ele faça o que foi feito para fazer. Isso é tudo.
Ele vai cuidar de você. Você sabe disso. Como isso é tão ruim?
— E daí? Você vai estar feliz e viva. Você não vai desejar nada —
Inclinou o queixo para baixo quase divertidamente. — Eu vou até deixar as
pessoas que você ama vivas. É uma situação de ganho dos dois lados.
— Consequências de guerra.
— Doentio — eu disse.
— É a verdade.
— Por que não? — Ele bateu um longo dedo de leve no meu queixo. — Por
tempo demais os Olimpianos têm se sentado em seus tronos sem fazer nada.
Deixando o mundo inteiro ser infestado dos filhos dos semideuses e mortais,
enquanto nós estamos isolados no Monte Olimpo. O mundo deveria ser nosso.
— Por que você só não me leva até Seth? Por que tentar me convencer?
— Bem, eu não posso realmente só fazer você surgir lá, agora eu posso?
— Você não pensou bem nisso, não é? — Forcei uma risada. — Você
poderia só me nocautear e me enfiar em um carro. Por que passar por isto?
— Há uma coisa. Você não pode me forçar a ir com você — Meu pulso
acelerou. — Pode?
— Você não tem ideia. As regras que protegem o Apollyon são como todas
as coisas na natureza – equilibradas. Embora você não possa ser forçada com
compulsão ou à mão, pode ser persuadida por certos outros meios.
— Você é uma droga como vendedor, então não está persuadindo uma
porcaria.
— Vá para o inferno.
Por um momento, ele quase pareceu desapontado, como o tipo de
desaprovação que os pais sentem quando seu filho é estúpido demais para
descobrir alguma coisa, mas depois sorriu amplamente.
— Eu não acho que Seth vai gostar disto, mas oh, bem.
— O que...?
Ares disparou para a frente, de frente para mim em meio segundo. Todos
os pensamentos de Seth fugiram, e instinto entrou em ação. Convoquei
akasha, sabendo que não iria matar, mas esperando que fosse mandá-lo de
volta ao Olimpo com o rabo entre as pernas, mas isso não foi o que
aconteceu.
Ele pegou meu braço pelo pulso e apertou com o que era provavelmente a
mais leve pressão, mas o pico de dor me fez perder a concentração.
— Errou.
Porcaria.
— Vou sempre estar um passo à frente. Vou sempre pensar mais rápido
que você. Você não pode lutar contra mim.
Atirando a cabeça para trás, atingi seu ombro amplo e duro. Então
balancei as pernas, mas Ares me largou. Tropeçando para os meus pés, vi que
ele não estava na minha frente.
Dupla porcaria.
Ares estava na minha frente. Sem uma única palavra, a parte de trás da
sua mão atingiu o lado do meu rosto. Estrelas estourando inundaram minha
visão como uma dúzia de fogo de artifício explodindo de uma só vez. Bati na
cadeira de couro atrás da mesa. Sangue se acumulou na minha boca
enquanto eu me agarrava na beira da mesa. Algo tinha se partido. Minha
bochecha? Rosto inteiro? Eu não tinha ideia. E acima da dor latejante, eu
podia ouvi-los na porta.
Houve um estalo que eu ouvi e senti. Dor aguda veio em um flash de luz,
e então cada terminação nervosa disparou de uma só vez. Meus sentidos
sobrecarregaram conforme eu escorregava até o chão, olhos fixos no teto.
Algo tinha ficado desarticulado dentro de mim. Eu podia sentir isso. Uma
dor escaldante rugia através de mim como uma explosão de tiro. Eu estava
úmida e quente no interior e se não tivesse sido o Apollyon – se eu tivesse
sido apenas uma meio-sangue ou uma mortal – sabia que o que quer que Ares
tinha feito teria sido fatal.
Mas eu não iria morrer e eu não podia me mover. Algo ruim estava
quebrado. As pontas dos meus dedos estavam dormentes, e eu não podia
sentir meus dedos dos pés, mas sentia tudo o mais. E percebi que, se alguém
sabia o lugar certo para romper a espinha para imobilizar alguém mas
garantir que eles ainda pudessem sentir tudo, seria Ares.
Eu posso lidar com isto – oh deuses, eu posso lidar com isto.
Quando ele estalou minha outra perna e depois cada costela, uma de cada
vez, a dor se tornou meu mundo. Não havia como escapar dela – como
respirar ao redor disso ou se esconder. Consciência estava escapulindo de
mim e eu lutei contra a névoa, porque quando terminasse comigo, se algum
dia terminasse comigo, ele passaria para Aiden e Marcus, para toda a
Universidade. Ele era o deus da guerra e ele iria assolar tudo.
Mas aquela dor... ela me apodreceu por dentro. Ela alcançou embaixo na
minúscula parte onde eu ainda era uma pessoa, onde eu ainda era Alex, e a
dor tomou conta. Eu não podia aguentar isso. Eu não podia lidar com isso.
Meus escudos desabaram e a corda rugiu, mas o zumbido crescente foi
ofuscado pela terrível dor, e a desesperança crescente cavou profundamente
com garras afiadas como navalhas e afastou todo o meu sentido de ser.
Eu não era tão forte quanto pensava que era, ou talvez eu tivesse só
atingido meu limite, porque eu queria ir – eu queria morrer. Não havia
nenhum orgulho nisso. Não havia nenhum propósito. Minha alma se
fragmentou e eu fiquei aberta.
— Diga as palavras.
Não era de mim, porque a pequena parte de mim que restava tinha se
enrolado em uma bola e estava esperando e rezando para que isto terminasse.
Ela tinha desistido, se encolhendo longe de mais dor como um cachorro
abusado. Ela queria que isto terminasse. Queria provar a tranquilidade da
morte.
Era Seth.
Ele estava com raiva que eu não tinha ido com Ares? Ou isso era porque
eu estava tão fraca que desejava a morte? Ou era algo mais, algo mais
profundo do que de qual lado estávamos, porque Seth... Seth tinha que sentir
isto agora. Ele tinha que saber, e esse último pequeno farrapo do meu ser se
recusava a acreditar que ele iria perdoar isso. Eu sofria, e então ele sofria.
Parte de mim morreu bem naquele momento, talvez não uma morte
física, mas em algum nível mental, algum nível emocional, eu estava boa
como morta. Quando tudo isto acabasse, eu não seria a mesma.
Madeira e metal se estilhaçaram, e eu soube que a porta finalmente tinha
sido violada. Enquanto o deus trazia a adaga para baixo, um corpo colidiu
com ele. A lâmina empalou o piso inofensivamente ao lado do meu pescoço.
Antes que eu pudesse tomar minha próxima respiração dolorosa, eles três se
moveram por cima de mim, se engajando em uma espécie de dança doente,
macabra. Ares. Aiden. Marcus. Eles se moveram rápido demais para eu
acompanhar. Os três estavam juntos demais.
Luz explodiu, deixando a sala em luz branca tão brilhante quanto o sol. A
presença de um outro deus encheu a sala, e eu fiquei cega. Tentei tomar
minha próxima respiração e arquejei. Calor úmido se espalhou ao longo do
lado esquerdo do meu corpo, se acumulando pelo chão como chuva
vermelha. Meu sangue? O de outra pessoa? Deuses... deuses não sangravam
como nós.
Houve um rugido desumano e Ares girou, sua atenção sobre o que quer
que estivesse atrás de mim. Em um instante, o deus da guerra atirou os
braços para fora. Uma onda de choque rolou através da sala destruída.
Madeira estilhaçada e móveis quebrados voaram para o ar, junto com corpos
prostrados, sem vida… e Marcus e Aiden.
Meu nome foi chamado, mas soou tão longe. Lutei para sentar, ver Aiden
e Marcus, saber que eles estavam bem, mas não conseguia me mover e não
conseguia respirar. Mãos pousaram em mim, mas minha pele parecia
destacada. Havia gritos no fundo, e eu queria que eles calassem a boca –
apenas calassem a boca. Todo o meu corpo parecia escorregadio enquanto eu
era levantada, minha cabeça caindo frouxamente para o lado.
Aiden…
— Alexandria.
Não percebi que meus olhos estavam fechados novamente, até que os
forcei a reabrir ao som da voz vagamente familiar. A princípio, eu não o vi,
ou qualquer coisa além do céu bonito, irreal.
Oh, pelo amor dos deuses, eu não conseguia ter um maldito intervalo.
Thanatos.
Então novamente, a minha morte, se era isso que isto realmente era, fora
tudo menos pacífica. Ele tinha vindo para responder às minhas orações?
Para levar esta dor embora?
Eu pisquei.
— Podemos ter sido inimigos no passado, mas eu não estou aqui para te
prejudicar agora. Estou cuidando de você até que Apolo possa retornar com
seu filho, Asclépio.
Thanatos se inclinou para perto, focando em mim com olhos brancos que
não possuíam nenhuma pupila ou íris.
— Não tente falar — Apolo disse. Ele se inclinou para trás, abrindo espaço
para outro deus — Meu filho vai te curar — Um sorriso irônico torceu seus
lábios. — E eu sei que se você pudesse, diria algo como “quantos filhos você
tem?” e minha resposta seria “muitos”.
— Da última vez que vi Aiden e Marcus, eles estavam bem. Mas não estive
de volta desde que trouxe você aqui.
Fechei os olhos e engoli em seco. Não era uma confirmação de cem por
cento que eles estavam bem, mas era algo em que eu poderia me agarrar.
— Sua mãe mortal morreu durante o parto, e, enquanto ela estava na pira
funerária, eu o cortei do útero — Enquanto Apolo falava, seu filho fitava as
numerosas lesões com um olhar misto de nojo e desafio. — Eu o dei para o
centauro Quíron, que o educou na arte da medicina. É claro, tendo meus
genes, ele já tinha um talento especial para a cura.
É claro.
— Mas a minha irmã tinha pedido a Asclépio para trazer Hipólito de volta
à vida, e entre Hades ficando puto com isso e o choramingo de Afrodite, Zeus
matou o meu filho com um raio — Um músculo saltou na mandíbula de
Apolo. — Então, eu matei Ciclopes, garantindo que Zeus não teria mais
nenhum raio.
Oookay…
Antes que eu pudesse processar o que aquilo significava, seu filho colocou
as mãos no meu peito. Em circunstâncias normais, eu não teria ficado
emocionada com a ideia de ser apalpada, mas um calor inacreditável passou
por mim. Das pontas dos meus dedos dos pés doendo até o topo do meu
crânio fraturado, um calor vertiginoso e maravilhoso invadiu cada poro.
O quê? Não, eu quis gritar, porque eu não podia aguentar mais, mas
então o calor empolou minha pele e eu gritei mesmo.
Pela segunda vez em não importa quantos minutos, fui puxada para o
vazio, perdida em um mar negro de nada.
***
Quando abri os olhos, a minha visão era clara e eu tinha sido movida
para uma câmara circular com paredes de mármore. Pássaros guinchavam
em um verso lírico, suave, de algum lugar fora do quarto. Uma mesa ficava
no meio de uma plataforma elevada. Descansando em cima da mesa estava
um jarro cheio de líquido cor de mel. Ar pesado, perfumado fluía através de
uma pequena abertura na parede, agitando o dossel branco pendurado nos
postes ao pé da cama onde eu repousava.
Seth sabia.
Não sei quanto tempo fiquei assim – minutos ou horas – mas o chão tinha
esta maravilhosa capacidade de conexão com a terra. Uma exaustão até os
ossos se assentou, o tipo que um guerreiro sentia no fim da batalha final,
quando ele estava pronto para entregar sua espada e desaparecer na
eternidade.
— Lexie?
— Mãe?
Ela sorriu, deslizando as mãos até minhas bochechas. Era ela – o rosto
oval e compleição ligeiramente mais escura que a minha, lábios espalhados
em um sorriso largo e olhos da cor do verde mais brilhante. Ela parecia como
ela tinha da última vez que eu a vi em Miami, na noite anterior ao ataque
daimon que a transformara em um monstro viciado-em-éter, antes que eu a
matasse.
Aquele punho espremeu até que eu não conseguia respirar, não conseguia
pensar, não conseguia ver nada além dela.
— Bebê, sou eu, sou realmente eu — Sua voz era como eu me lembrava –
suave e melodiosa. — Eu estou aqui.
Eu a encarei, até que seu lindo rosto começou a nadar. Parte de mim não
podia permitir que eu aceitasse isto – este presente – porque, se não fosse
real, seria cruel demais. Os espíritos guardando os portões para o Submundo
quase tinham me enganado.
Oh deuses…
— E você me disse que, como sua mãe, eu era obrigada a te dizer isso —
Ela riu e isso pareceu travar na garganta dela. — Mesmo que eu não soubesse
o quão especial você verdadeiramente era.
— Apolo pensou que seria bom para você depois do que aconteceu — Ela
recuou um pouco. Lágrimas reluziam nos olhos dela, e eu odiei isso. — Ele
cobrou um favor a Hades.
— Não, bebê, não se atreva a pedir desculpas por qualquer coisa que me
aconteceu. Nada disso foi culpa sua.
— Você não pode se agarrar a esse tipo de culpa. Ela não pertence a você.
E o que aconteceu depois que você Despertou não foi algo que você pudesse
controlar. Você quebrou a conexão no final. Isso é o que importa.
Suas palavras eram tão sinceras que eu quase fiquei convencida, mas eu
não queria passar este tempo com ela falando sobre todas as coisas terríveis
que aconteceram. Depois de tudo o que acontecera, eu só queria que ela me
abraçasse.
— Eu sinto sua falta, e existem outras coisas que eu sinto falta, mas
estou feliz — Pausando, ela puxou meu cabelo para trás. — Existe paz, Lexie.
O tipo que apaga um monte das coisas negativas e as torna mais fáceis de
lidar.
— Você não tem ideia de como me deixa feliz saber que você encontrou o
amor entre toda esta…
— Mas você tem sofrido, também — Ela guiou meu olhar de volta para o
dela. — Todo mundo, não importa o que está acontecendo ao redor deles,
merece o tipo de amor que aquele homem sente por você, especialmente
você.
— E as pessoas vão morrer, bebê, e não haverá nada que você possa fazer
sobre isso — Pressionou os lábios na minha testa. — Você não pode salvar
todo mundo. Você não está destinada a salvar.
Eu não tinha certeza de como me sentir sobre isso. Ser o Apollyon era
tudo sobre morte e destruição, em vez de salvar vidas?
— Estou bem.
— Você deve se sentar. Apolo disse que iria demorar um pouco para...
você se sentir normal.
Ela apanhou o jarro e uma taça que estava por trás dele.
— O que é isso?
— Está tudo bem, Lexie. Entendo a sua hesitação, mas isto não é para te
enganar.
Deixando escapar uma respiração falhada, tomei outro gole. Havia tanto
que eu queria dizer. Muitas vezes, desde que ela morrera, eu fantasiara sobre
vê-la novamente e criara esta massiva lista de coisas que eu queria dizer a
ela, começando com um montão de desculpas por escapar, xingar, brigar, e
ser um geral estorvo o tempo todo. E depois eu passaria para que grande mãe
ela tinha sido. Agora, era engraçado e estranho. Quando abri a boca, a
emoção sufocou essa lista, apagando-a completamente. As palavras que eu
falei foram:
— Sinto sua falta também, mas estou com você tanto quanto posso estar
— Ela me observou beber o néctar de cura. — Eu quero que você me prometa
uma coisa.
— Não importa o que aconteça, e não importa o que você tenha que fazer,
eu quero que você se absolva de culpa.
Eu a encarei.
— Eu…
— Não, Lexie. Você precisa deixar a culpa ir, e precisa deixar o que Ares
fez ir.
— Claro que contou. E onde estava Apolo quando eu estava levando uma
surra, a propósito?
— Está tudo bem — sua mão varreu minha bochecha, e fiquei surpresa ao
descobrir que meu rosto já não doía. — Apolo está muito preocupado com
você. Assim como eu.
— Eu não queria esta vida para você. Eu queria poupar você desta
escuridão.
— Eu sei — Olhando para ela, eu absorvi seus traços. Deuses, minha mãe
era linda. Era mais do que bom DNA divino. Era o que estava lá dentro que
saía sangrando – sua bondade, amor e tudo o que eu aspirava a ser. Aos meus
olhos, ela brilhava. E sua vida tinha acabado ainda muito cedo. Ela merecia
tão mais, e eu desejei que pudesse dar isso a ela. Mas eu não podia, então eu
dei-lhe a única coisa que eu podia.
Engasguei com a minha bebida. Eu não acho que já tinha ouvido minha
mãe dizer que queria matar alguém, a não ser depois que se transformara em
um daimon. Aí, ela quisera matar todo mundo. Um tipo diferente de dor
encheu meu peito. Sem querer pensar sobre isso, espantei esses pensamentos
com um golpe.
Com um sorriso que torceu meu peito, ela cobriu minha bochecha.
— Mas eu não estou pronta. Não quero te deixar. Por favor… — Estranho.
Esqueci o que estava dizendo. Aparentemente, eu tinha bebido o néctar de
Distúrbio de Déficit de Atenção.
FIM.
Continua:
No deslumbrante e cheio de ação clímax da série best-seller Aliança, Alex deve enfrentar
uma terrível escolha:. a destruição de tudo e todos que ela tem de mais precioso ... ou o
fim de si mesma.
Tradução
Késcia, Serena, Dayanne,, Dani, Ligia, Ravana
Revisão:
Bianca, Valdir