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Anexo 1 - As fronteiras do tempo e do espaço

Só existe um problema filosófico realmente sério: é o


suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é
responder à questão fundamental da filosofia. O resto, se o
mundo tem três dimensões, se o espírito tem nove ou doze
categorias, aparece em seguida. São jogos.

“O mito de Sísifo”, Albert Camus, 19xx.

Aprofundando o nosso conhecimento da verdadeira natureza


da realidade física, reconfiguramos profundamente o senso a
respeito de nós mesmos e a nossa experiência do universo.

“O tecido do cosmo”, Brian Greene, 2005.

Com o intuito de investigar a figuração do espaço e do tempo na narrativa de Bioy


Casares, discorro sobre a construção dessas categorias a partir do conhecimento científico
da cosmologia. A física teórica engloba o campo científico da cosmologia, que tem por
objeto de estudos a estrutura, a evolução e a composição do universo. A escolha pela
cosmologia se dá pelo fato de que essa área, herdeira das teorias da relatividade e da
mecânica quântica, se propõe em descobrir os segredos do cosmos e consolidar uma teoria
unificada (ou, simplesmente, a Teoria) que dê conta de explicar tanto o infinitamente
pequeno (os neutrinos, etc.), quanto o infinitamente grande (o movimento das galáxias e
etc.).
O pesquisador Brian Greene, que busca popularizar os conhecimentos da física
teórica, é autor de alguns livros dirigidos ao público não-especializado, onde é exposto
os avanços científicos da área da cosmologia. Compreender o tempo e o espaço, defende
o cosmólogo, é um projeto de longo prazo de “nossa espécie”1:

De Aristóteles a Einstein, das pirâmides aos observatórios no alto da montanha,


do astrolábio ao telescópio espacial Hubble, o espaço e o tempo estão presentes
no pensamento humano desde que aprendemos a pensar. Com o advento da era
científica moderna, a sua importância cresceu vertiginosamente. Ao longo dos
últimos três séculos, os acontecimentos da física revelaram que o espaço e o
tempo são os conceitos mais indispensáveis, mais capazes de causar
perplexidade, e, ao mesmo tempo, mais úteis na nossa análise científica do
universo. Esses avanços também mostraram que o espaço e o tempo ocupam o
alto da lista das construções científicas imemoriais que passam por fantásticas
revoluções, a cargo da pesquisa de vanguarda (GREENE, 2005, §2.133, meu
itálico).

1
Apesar da expressão mirar o universal -- ao se referir ao conjunto dos seres humanos, enquanto
uma única espécie--, o autor menciona apenas representantes da “tradição cultural do ocidente” (derivada
da matriz religiosa judaico-cristã; do direito romano; e da filosofia grega).
No trecho acima, está implicada a noção da ciência enquanto acumulação de fatos,
teorias e métodos ao longo da história, isto é, uma herança deixada pelas gerações
passadas. Trata-se do conceito de “desenvolvimento-por-acumulação”2, mobilizado pelo
historiador do conhecimento científico, que “deve determinar quando e por quem cada
fato, teoria ou lei científica contemporânea foi descoberta ou inventada” (KUHN, 1998,
p.20).
Greene prossegue nesta linha de raciocínio, onde o signo da perfectibilidade se
insere no âmago da ciência moderna; com efeito, a distância entre o conceito positivista
de história como progresso, e a ideia de ciência como “desenvolvimento-por-
acumulação”, vai se estreitando até a confusão entre um e outro, que até lembra a atitude
de alguns alquimistas do medievo:

Como a história do espaço e do tempo ainda não acabou de ser escrita, não
chegaremos a conclusões definitivas. Mas encontraremos uma série de
desenvolvimentos — alguns profundamente bizarros, outros que dão claro
prazer, alguns experimentalmente verificáveis, outros inteiramente
especulativos — que nos darão uma ideia sobre o quão próximos estamos de
envolver com as nossas mentes o tecido do cosmo e tocar com as mãos a
textura da realidade (GREENE, 2005, §2.136, meu itálico).

Ali fica explícito o uso das metáforas visuais que, segundo o historiador Martin Jay (1994,
p.30), herdamos da cultura grega:

But nowhere has the visual seemed so dominant as in that remarkable Greek
invention called philosophy. Here the contemplation of the visible heavens,
praised by Anaxagoras as the means to human fulfillment, was extended to
become the philosophical wonder at all that was on view. Truth, it was
assumed, could be as “naked” as the undraped body. “Knowledge (eidenai) is
the state of having seen,” Bruno Snell notes of Greek epistemology, “and the
Nous is the mind in its capacity as an absorber of images.”

Assim, embora o esquema newtoniano da física clássica tenha sido suplantado


pela teoria da relatividade de Einstein e, depois, pela mecânica quântica, ainda persistiria
esta necessidade de desvendar indefinidamente, de tocar o vazio absoluto do fora; do não-
lugar que seria “tocar com as mãos a textura da realidade”.
O télos, o objetivo final da ciência moderna, como mostrou Kuhn (1998), é, em
última instância, o que permite a prática científica. Mas, há aí um problema: se desde os
primeiros estudos da mecânica quântica, na década de 1930, o esquema explicativo para

2
Esse ofício do historiador como cronista de um processo de aumento, argumenta Thomas Kuhn
(1998, p.21), gradualmente se desgastou. E, como resultado das dúvidas e dificuldades metodológicas
daquela concepção de “desenvolvimento-por-acumulação”, logo uma revolução historiográfica no estudo
da ciência foi gestada.
o espaço-tempo é análogo ao do “jogo de azar”, isto é, não há como prever a ordem do
cosmo posto que tudo se arranja em termos de probabilidade; então, como sustentar um
modelo de ciência baseado na linearidade, na acumulação, na estabilidade do presente e
na certeza de um futuro?
Na verdade, argumenta Greene, as implicações das investigações da mecânica
quântica ainda soam como absurdas, pois colocam em questão nossa percepção dos
fenômenos. Assim, as teorias que rompem com o esquema clássico newtoniano de
explicação da realidade (onde o tempo e o espaço são entidades imutáveis, e onde a
causalidade é previsível), geram certa “estranheza”, já que divergem do que ele chamou
de “intuição humana”:

Enquanto a intuição humana e a sua expressão por meio da física clássica


supõem uma realidade em que as coisas são definitivamente ou de uma
maneira ou de outra, a mecânica quântica descreve uma realidade em que por
vezes as coisas flutuam em um estado nebuloso, em que são em parte de uma
maneira e em parte de outra (GREENE, 2005, §2.156).

Contudo, a realidade desvendada pela mecânica quântica constitui-se um ponto de


vista formal, somente detectável sob condições específicas; já a lei newtoniana de que as
massas se atraem (lei da gravidade), faz parte de nossas vidas desde quando frutas e outras
partes vegetais caem em nossas cabeças durante o cochilo da tarde. Enfim, não é estranho
que um pesado barco permaneça sob a água, pois estamos habituados com fatos assim e
etc.
Então, para todos os efeitos, ainda nos movemos na realidade newtoniana. Este
panorama que abrange as explicações científicas da realidade, aceitas em dada época e
em dada cultura, constitui o que Kuhn (1998) denomina “paradigma explicativo”. São
modelos de explicação incorporados a nível de cotidiano, nos baseamos neles o tempo
todo – ainda que não pensemos sobre isso. Eles delimitam nossa realidade que, assim,
permanece como uma entidade fechada, sujeita às leis da física clássica. Quando há
muitas mutações dentro da pesquisa científica, ocorrem estas “revoluções científicas” que
modificam, lentamente, nossa percepção do mundo.
Se pensarmos que no século XIX haviam campos de investigação considerados
legítimos e, até científicos (tais como o espiritualismo, o mesmerismo e o ocultismo),
onde se anunciava com a mesma intensidade com o qual a teoria das supercordas, hoje,
promete estar a um pequeno passo de um novo patamar que revolucionaria nossa
percepção de mundo; então, talvez, a ciência moderna continue operando sobre as
mesmas bases ontológicas “movediças”3. Ora, a maior ambição das teorias científicas
sobre o funcionamento da natureza, do mundo e do universo seria, justamente, a de se
tornar a Teoria Unificada, congregando em si todas as explicações dos fenômenos,
formando um todo harmônico que refletiria a ordem do cosmos, mesmo diante do que se
apresenta como invisível e/ou incontrolável pois, a visibilidade e o controle é, antes de
tudo, uma questão de nomeação.
Deste modo, é ilustrativo o efeito da escolha de termos oriundos do pensamento
metafísico (“origem”; “realidade”) para a divulgação dos avanços científicos:

Em razão do amplo papel que desempenha na nossa vida cotidiana e do seu


vínculo íntimo com a origem do universo, a seta do tempo preenche um lugar-
chave entre a realidade que vivenciamos e a realidade mais sutil que a ciência
de vanguarda trata de descobrir. Ela proporciona, assim, um fio condutor entre
muitos dos temas que discutiremos e reaparecerá constantemente nos capítulos
que se seguem. E isso é muito conveniente. O tempo está entre os fatores mais
importantes que dão conformação às nossas vidas. À medida que formos nos
familiarizando com a teoria das supercordas e com o seu desdobramento, a
teoria-M, o nosso conhecimento se aprofundará e o nosso enfoque sobre a
origem do tempo e a sua seta ganhará progressiva nitidez. Se deixarmos voar
a nossa imaginação, podemos até mesmo supor que o alcance do nosso
conhecimento nos permitirá, um dia, navegar pelo espaço-tempo e assim nos
libertarmos das amarras espaço-temporais às quais estamos presos há milênios.
É claro que a possibilidade de que alcancemos esse último propósito é
extremamente pequena. Mas mesmo que nunca cheguemos a ter o poder de
controlar o espaço e o tempo, o conhecimento traz as suas próprias
recompensas. Decifrar a verdadeira natureza do espaço e do tempo seria um
testemunho da capacidade intelectual humana. Poderíamos, finalmente,
entender o espaço e o tempo — os elementos que marcam, silenciosa e
permanentemente, os limites extremos da experiência humana (GREENE,
2005, §2.186-2.187, meus itálicos).

Vale lembrar que, para Greene (2005), os frágeis sentidos humanos só nos permitem
compreender a vida e o universo até certo nível, que se torna cada vez mais superficial
conforme as teorias científicas avançam. Essas seguem descrevendo e tentando nos
provar que nossa experiência da realidade é tão limitada quanto a daqueles moradores da
caverna de Platão. No fim, somos escravos de nossa percepção, que não excede o limite
imposto pelo próprio corpo.
Assim, pode-se dizer que, em nossa cultura ocidental (que dá crédito à explicação
científica), não é possível desassociar a ideia de percepção dos modelos explicativos da
realidade oriundos das pesquisas científicas, que guardam em germe resquícios do
pensamento metafísico4.

3
Alusão ao ensaio de Nietzsche, “Do sentido extramoral da verdade e da mentira”.
4
Segundo o Dicionário de Filosofia, organizado por Nicola Abbagno (2007, p.660), a “metafísica”
é a: “Ciência primeira, por ter como objeto o objeto de todas as outras ciências, e como princípio um
princípio que condiciona a validade de todos os outros. Por essa pretensão de prioridade (que a define), a
M. pressupõe uma situação cultural determinada, em que o saber já se organizou e dividiu em diversas
ciências, relativamente independentes e capazes de exigir a determinação de suas inter-relações e sua
integração com base num fundamento comum [...].”

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