x2 − sx − p = 0, p > 0, (1)
√ √
são dadas por x − 2s = ± 2∆ , com discriminante ∆ = s2 + 4p, ou seja, as raízes a e b distam 2∆ de
s
2 . Para construir, comece traçando duas retas perpendiculares, concorrentes em O e marque U à
direita de O, correspondendo ao tamanho 1. Veja a Figura 1.
√
Passo 1 – Construa p. Marque P à esquerda de O com OP = p. Trace o ponto médio M
de UP e a circunferência de diâmetro UP, que cruzará a reta vertical em K. Por construção, o
√
triângulo 4UPK é retângulo, e a altura OK mede p.
√
∆
Passo 2 – Construa 2 e as raízes. Marque à direita de O o ponto√S de forma que OS = 2s .
√
Então SK é a hipotenusa do triângulo de catetos p e 2s , medindo SK = 2∆ . Trace a circunferência
com centro em S e abertura até K, marcando A e B na reta horizontal, de forma que −OA = a e
OB = b são as raízes de (1).
√
∆
2
A B
P M O S U
2
A circunferência de Carlyle [2] é outra forma elegante e econômica em número de construções de
se construir as raízes de
x2 − sx + p = 0 (2)
que estão marcadas nas interseções do eixo x com a circunferência com o diâmetro de extremos
nas coordenadas (0, 1) e (s, p). Veja a Figura 2.
Vejamos por que funciona. Recorde que um quadrilátero é cíclico, isto é, seus vértices estão
sobre uma circunferência, se seus ângulos internos opostos somam 180°, e a circunferência é
determinada por quaisquer três de seus vértices.
Sejam os pontos O = (0, 0), U = (0, 1), Q = (s, p), P = (0, p), A = (a, 0) e B = (b, 0). Os
triângulos retângulos 4AOU e 4POB são semelhantes, uma vez que seus catetos medem {1, a} e
{b, ab = p} e portanto ∠OAU = ∠OPB, ∠OUA = ∠OBP. Daí, os ângulos opostos do quadrilátero
PUAB somam 180°, sendo então um quadrilátero cíclico.
Note que os pontos A, B, P e Q pertencem ao gráfico da função y = x2 − sx + p, uma parábola
que tem a reta x = 2s como eixo. Por simetria em relação ao eixo da parábola, o quadrilátero ABQP
é um trapézio isósceles, e portanto também cíclico. Como os dois quadriláteros compartilham três
vértices, a mesma circunferência passa pelos pontos A, B, U, P e Q.
Para ver que o segmento UQ é um diâmetro dessa circunferência, note que o triângulo 4UPQ
é retângulo, e portanto P tem que estar na circunferência de diâmetro UQ. Em outras palavras, a
circunferência com diâmetro UQ passa por A e B, os pontos que marcam as raízes. Veja a Figura 3.
(0, 1)
P Q
a b
O A B
(s, p)
3
eixo real positivo, sentido anti-horário) θ é z = cos θ + i sen θ , e sua n-ésima potência segue sendo
unitária, com argumento nθ . Daí a conhecida Fórmula de De Moivre
Em vista de que as funções seno e cosseno são periódicas, pela Fórmula de De Moivre, a equação
z17 = 1 torna-se
cos(17θ ) + i sen(17θ ) = 1 = cos 0° + i sen 0°
que está satisfeita apenas se 17θ = k × 360° para algum k ∈ Z, ou seja,
k × 360°
θ= , k ∈ Z.
17
O menor θ > 0 na forma acima é θ17 = 360° 17 . A partir de agora, tomaremos z = cos θ17 + i sen θ17 ,
k
de forma que, ao variarmos k de 0 a 16, z percorre os vértices de um polígono regular de 17 lados.
Como z17 = 1, temos zk z17−k = 1 = zk z−k e conclui-se que z−k = z17−k , que também é o con-
jugado de zk , isto é z̄k = z−k , em vista de que zk z̄k = |z|2k = 1 = zk z−k . Ora, a soma de um número
complexo com seu conjugado é o dobro de sua parte real, isto é, zk = zk + z−k = 2ℜzk é um número
real. Se para algum k encontrarmos zk , teremos encontrado (o dobro d)a parte real de zk , e portanto
zk , o que nos permite construir todos os outros vértices. Se nesta dedução, utilizarmos apenas uma
sequência de equações quadráticas, tal construção pode ser feita com régua e compasso. Esta foi a
sacada de Gauss na construção de seus polígonos regulares.
z5 z4
z3
z6
z2
z7
z
z8
1 = z17
z9
z16
z10
z15
z11
z12 z14
z13
Precisamos de uma identidade para começar. Se colocarmos massas idênticas nos vértices de
um polígono regular de 17 lados, seu centro de massa estará no centro do polígono. Esta é uma
forma de mostrarmos que
1 + z + z2 + · · · + z16 = 0 (3)
que utilizaremos muito frequentemente. Também algebricamente, o 1º membro de (3) é uma soma
de P.G., e seu valor é
z17 − 1
= 0.
z−1
4
Vale comentar que, como as partes reais de zk são cos k×360°
17 , poderíamos ter evitado números
1
complexos, apelando para identidades trigonométricas . Mas optamos pela via original de Gauss
com raízes (complexas) da unidade, pois nos parece que as ideias geométricas ficam mais claras.
A dedução de Gauss
Façamos agora a dedução da construção do heptadecágono regular, por uma adaptação simplifica-
dora do que foi feito por Gauss, seguindo o esquema didático das notas de aula de Paul G. Bamberg
[1].
Seja z = cos 360 360 17
17 ° + i sen 17 °, raiz de z = 1, e os números reais
k × 360°
zk = zk + z−k = 2 cos , k = 1, . . . , 8,
17
e observamos de (3) que
z1 + z2 + z3 + z4 + z5 + z6 + z7 + z8 = −1. (4)
Fórmulas de simplificação. Como multiplicaremos inúmeras vezes tais números, convém ter em
mãos as simplificações
za × zb = (za + z−a )(zb + z−b ) = za+b + z−(a+b) + za−b + zb−a
= za+b + z|a−b| , (5)
Nessa fórmula, às vezes a soma a + b ultrapassa 8, mas como z17 = 1, podemos simplificar
zk = zk + z−k = z−17+k + z17−k = z17−k , k > 8, (6)
ou seja, z9 = z8 , z10 = z7 , etc.
Gauss agrupou os zk da seguinte forma2
y1 = z1 + z4 , y2 = z2 + z8 ,
y3 = z3 + z5 , y4 = z6 + z7 ,
x1 = z1 + z4 + z2 + z8 ,
x2 = z3 + z5 + z6 + z7 .
Dessa forma, por (4), x1 + x2 = −1. Usando as simplificações (4), (5) e (6) e fazendo as contas,
x1 × x2 = (z1 + z2 + z4 + z8 ) × (z3 + z5 + z6 + z7 )
= z1 × z3 + z1 × z5 + z1 × z6 + z1 × z7 + z2 × z3 + z2 × z5 + z2 × z6 + z2 × z7
+ z4 × z3 + z4 × z5 + z4 × z6 + z4 × z7 + z8 × z3 + z8 × z5 + z8 × z6 + z8 × z7
= z4 + z2 + z6 + z4 + z7 + z5 + z8 + z6 + z5 + z1 + z7 + z3 + z8 + z4 + z8 + z5
+ z7 + z1 + z8 + z1 + z7 + z2 + z6 + z3 + z6 + z5 + z4 + z3 + z3 + z2 + z2 + z1
= 4(z1 + z2 + z3 + z4 + z5 + z6 + z7 + z8 ) = −4.
1 Considerando z = 2 cos k×360 °, (5) relaciona-se estreitamente com 2 cos a cos b = cos(a + b) + cos(a − b), e (6)
k 17
com a periodicidade do cosseno e do fato de ser uma função par, isto é, cos θ = cos(−θ ). Uma prova de (4) apenas
com trigonometria pode ser encontrada em [4].
2 A escolha criteriosa dos expoentes nas variáveis x , y e z , aqui dada sem maiores esclarecimentos, está explicada
k k k
na obra de Gauss [5] e de maneira acessível em [3].
5
Esta foi a conta mais complicada da dedução. Logo, pela soma e produto de x1 e x2 , estes são as
raízes da equação quadrática
x2 + x − 4 = 0, (7)
de forma que podemos calcular (e construir com régua e compasso) x1 e x2 .
Continuando, y1 + y2 = x1 e
y1 × y2 = z1 × z2 + z1 × z8 + z4 × z2 + z4 × z8
= z3 + z1 + z8 + z7 + z6 + z2 + z5 + z4 = −1
de forma que y1 e y2 podem ser construídos por serem as raízes da equação quadrática
x2 − x1 x − 1 = 0.
Também, y3 + y4 = x2 e
y3 × y4 = z3 × z6 + z3 × z7 + z5 × z6 + z5 × z7
= z8 + z3 + z7 + z4 + z6 + z1 + z5 + z2 = −1,
x2 − x2 x − 1 = 0. (8)
z3 + z5 = y3
z3 × z5 = z2 + z8 = y2 ,
e como os coeficientes todos já foram construídos, podemos fazer o mesmo com z3 , a maior raiz
da equação quadrática
x2 − y3 x + y2 = 0.
Com mais alguns passos construímos z3 .
Uma primeira construção. Já temos elementos suficientes para construir o heptadecágono com
régua e compasso, usando circunferências de Carlyle, se quisermos:
Passo 1 – Construir x1 > x2 , raízes da equação x2 + x − 4 = 0;
6
A trigonometria de Richmond
Em 1893, Richmond [6] publicou uma engenhosa construção, feita ao notar que as quantidades
y1 , y2 , y3 , y4 , x1 e x2 estão relacionadas com um certo ângulo φ , facilmente construível. Com isso
pôde-se eliminar diversos passos nas construções como a descrita anteriormente. Mostraremos
abaixo apenas as relações essenciais para nossa construção.
Recordemos algumas identidades trigonométricas
2 tan x tan x − 1
tan 2x = , tan(x − 45°) = .
1 − tan2 x tan x + 1
Seja um ângulo φ tal que
tan φ = y3 .
Fazendo contas,
e portanto
y3 − 1 tan φ − 1
y2 = = = tan(φ − 45°).
y3 + 1 tan φ + 1
As equações quadráticas (8) e (7) para y3 e x1 nos dão respectivamente que 1 − y23 = −x2 y3 ,
4 − x12 = x1 e x1 x2 = −4. Então,
2y3 −2y3 x1
tan 2φ = 2
= = ,
1 − y3 x2 y3 2
x1 4x1 4x1
tan 4φ = x1 2 = 2
= = 4.
1−( 2 ) 4 − x1 x1
Ora, é imediato construir um ângulo 4φ tal que tan 4φ = 4, e bissectando-o duas vezes, cons-
truímos φ e então φ − 45°, e suas tangentes y3 e y2 . A partir daí, poderíamos seguir a construção
anterior a partir do passo 4. Isso nos economiza várias construções!
A seguir faremos a construção proposta por Richmond.
4φ . Bissecte o ângulo ∠UQO duas vezes para encontrar E no diâmetro horizontal, nos dando que
∠OQE = φ e OE = y43 .
Passo 2 – Construa F. Trace uma perpendicular a QE por Q e bissecte o ângulo reto para
marcar um segmento que faz ângulo de 45° com QE. Marque F na interseção deste segmento com
o diâmetro horizontal. Assim, OF = |y42 | .
7
P
K
Q
M
U
F OE C
Figura 5: Construção do heptadecágono por Richmond. Para não rabiscar muito o esquema, as
construções básicas estão feitas sem passos intermediários: pontos médios marcados, bissecções
pontilhadas e perpendiculares tracejadas. As construções dos passos 1, 2, 3 e 4 detalhados na
construção estão feitas em azul, púrpura, verde e vermelho, respectivamente.
Passo 3 – Construa z3
2, a maior raiz de x2 − y23 x − |y42 | = 0. Isto segue do fato de que
z3 z5 y3 z3 z5 y2 |y2 |
+ = , × = =− .
2 2 2 2 2 4 4
8
O pentágono como exercício
Há uma construção simples mas pouco usual do pentágono, baseada nessas ideias de Gauss e
Richmond:
P
Desenhe uma circunferência com centro O, um raio horizontal OA,
um raio vertical e seja Q seu ponto médio. Trace a bissetriz do Q
ângulo ∠OQA e marque sua interseção E com o raio horizontal.
Trace uma vertical por E, determinando o vértice P. Transferindo o O A
E
arco AP, determinamos os outros vértices do pentágono.
Referências
[1] BAMBERG , P. G. Notas de aula do curso Calculating π: Heptadecagon Construction, Es-
cola de Extensão de Harvard (2004). Disponível em http://www.math.harvard.edu/
archive/fs21u_fall_04/Basic_topics/Heptadecagon17.rtf (Acesso em 23 de outu-
bro de 2017).
[2] D E T EMPLE , D. W. Carlyle circles and the Lemoine simplicity of polygon constructions.
American Mathematical Monthly 98, 2 (1991), 97–108.
[4] K NAPP, M. P. Sines and Cosines of Angles in Arithmetic Progression. Mathematics Magazine,
vol. 82, nº 5 (2009), 371–372. doi:10.4169/002557009X478436 (Acesso em 26 de julho de
2017).
[6] R ICHMOND , H. W. A Construction for a Regular Polygon of Seventeen Sides. Quart. J. Pure
Appl. Math. 26 (1893), 206–207.
9
Resposta do exercício do pentágono
z1
Sejam z1 = z + z4 , z2 = z2 + z3 . Note que ℜz = 2. Como antes,
z1 + z2 = z1 × z2 = z + z2 + z3 + z4 = −1
2z1
tan 2φ = = 2.
1 − z21
10