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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC

CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS


CAMPUS FLORESTA - CRUZEIRO DO SUL
FORMAÇÃO DOCENTE PARA INDÍGENAS
ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES

Aldenor Rodrigues da Silva


Bane

HUNI KUÎ YUNU: LEGUMES DO POVO HUNI KUÎ

Cruzeiro do Sul - Acre

2013

1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE - UFAC
CENTRO DE EDUCAÇÃO E LETRAS
CAMPUS FLORESTA – CRUZEIRO DO SUL
FORMAÇÃO DOCENTE PARA INDÍGENAS
ÁREA DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANIDADES

Aldenor Rodrigues da Silva Kaxinawa

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Formação Docente para Indígenas, Área
de Ciências Sociais e Humanidades, da
Universidade Federal do Acre campus Floresta
como requisito parcial para obtenção de
Licenciatura em Docência Indígena.

Orientadora: Profa. Dra. Andréa Martini.

Cruzeiro do Sul - Acre

2013

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ALDENOR RODRIGUES DA SILVA KAXINAWA

HUNI KUÎ YUNU: LEGUMES DO POVO HUNI KUÎ

Banca Examinadora

_______________________________
Profa. Dra. Andréa Martini

_________________________________
Professora Dra. Marta Dias de Moraes

_________________________________
José Osair Sales, notório saber

CRUZEIRO DO SUL – AC
2013

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AGRADECIMENTOS

Aos familiares, em especial aos meus pais Yube Dua Bake Getúlio Rodrigues da Silva
Kaxinawa e Ibãtsai Inani Bake Maria Albertina Kaxinawa que me ensinaram a viver
nos dois mundos. O mundo de conhecimentos Huni Kuĩ e o mundo de outros
conhecimentos que nos cercavam como ameaça.

As minhas companheiras, amigas de todas as horas, com as quais tivemos a


oportunidades de gerar vidas, de Yube Duabake, Aldenilson da Silva Kaxinawa; Siã
Dua Bake, Adelino da Silva Kaxinawa; Dani Banu Bake, Luceida da Silva Kaxinawa;
Beu Banu Bake, Jaqueline da Silva Kaxinawa; Yube Dua Bake Genilson da Silva
Kaxinawa.

Aos meus parentes do lado paterno e do lado materno e ao meu povo, tanto os que
vivem em outras Terras Indígenas acreanas como no Peru.

As instituições que me têm apoiado na minha carreira profissional como professor e


pesquisador.

Comissão Pró-Índio do Acre (CPI/AC), Organização dos Professores Indígenas do Acre


(OPIAC), Associação de Produtores e Criadores Kaxinawa da Praia da Carapanã
(ASKAP), Secretaria Estadual de Educação do Acre (SEE), Fundação Nacional do
Índio (FUNAI), Universidade Federal do Acre, Campus Floresta (UFAC/FLORESTA).

Às pessoas que contribuíram para a conquista deste conhecimento,

Terri Vale de Aquino (Txai Terri), Nietta Lindemberg Monte, Vera Olinda Paiva,
Marcelo Piedrafita, Maria Luiza Ochoa (Malu), Aldir Santos de Paula, Marilda
Cavalcanti, Kleber Matos Gesteira, Marcia Spyer, Solange Albuquerque de Souza,
Maria Aldenora dos Santos, Manoel Estébio Cavalcante da Cunha, Enock Pessoa e
Andréa Martini.

E a todos os outros parceiros que têm colaborado na construção da escola indígena no


estado do Acre. Agradeço ainda ao cacique geral da Terra Indígena Kaxinawa da Praia
do Carapanã, Jorge Leme Ferreira, Kana Ibã.

O meu muito obrigado!


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RESUMO

Yunu são todos os legumes que temos na Terra Indígena Kaxinawa da Praia do
Carapaná, no estado do Acre, Brasil. Antigamente, Huni Kuĩ fazia roçado no mês de
abril e maio. É a época das frutas nativas como hunû ou arueiro. E manã yukã ou araçá;
uma goiaba da terra firme. Isso em língua huni kuĩ que se chama hatxa kui e português.
O tempo, para nós Huni Kui, o nosso calendário, se baseia nos costumes de animais da
floresta como pássaros, floração e frutificação de frutas nativas e na experiência dos
sapos.

Palavras-chave: Huni Kuî (Pano); agricultura florestal, cultivares.

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Sumário
INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 7

ROÇADOS HUNI KUÎ............................................................................................................. 7

II. CULTIVARES, PRÁTICAS ALIMENTARES E PLANTIO ............................................... 11

FEIJÃO ................................................................................................................................... 11

SHEKI KUÎ ............................................................................................................................. 12

MANI ...................................................................................................................................... 15

ATSA ...................................................................................................................................... 17

PUA ......................................................................................................................................... 20

TAMA ..................................................................................................................................... 21

CONCLUSÃO ............................................................................................................................ 24

BIBLIOGRAFIA......................................................................................................................... 25

ANEXO A - Roteiro de perguntas para entrevista ...................................................................... 26

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INTRODUÇÃO
Breve história da Terra Indígena Kaxinawa da Praia do Carapanã.

A Terra Indígena Kaxinawa da Praia do Carapanã situa-se no rio Tarauacá entre


os municípios de Tarauacá e Jordão. Tem uma extensão de 61.696 hectares. É habitada
por 593 pessoas da etnia Huni Kui (Kaxinawa). Constitui-se por nove comunidades ou
aldeias. São elas: Segredo Artesão, Morada Nova, Água Viva, Cocamera, Yube Tuwe
Bena, Vida Nova, Carapanã, Povo Junto e Mibayã.

Em cada comunidade, podemos contar com os serviços de Agente Indígena de


Saúde (AIS), Agente Agroflorestal Indígena (AAFI), representante comunitário, pajés,
parteiras, representante das mulheres, professores e Agente Indígena de Saneamento
(AISAN).

Nossa Terra Indígena é vizinha a Terra Indígena Yawanawa do Rio Gregório,


Terra Indígena Kampa do Igarapé Primavera, de usufruto do povo Ashanika e também
com comunidades e/ou áreas habitadas por populações ribeirinhas não indígenas.

Limita-se com Igarapé Mina e São Joaquim, no lado direito de quem vai subindo
à montante. Já do lado esquerdo são os Igarapés Apuanã e Chico Luiz que fazem a
divisão. Cada comunidade tem sua área de refúgio e também pontos de vigilância.
Dentro do Igarapé Minas, São Joaquim e num afluente do Igarapé Apuanã, conhecido
como Igarapé Carnaúba. A vegetação está preservada. Temos várias palheiras ou
palmeiras importantes para a alimentação e com variados usos como buriti, açaí, patoá,
bacaba, paxiubão, cocão, jarina, taboca, coco jaci, coco ouricuri, dentre outras espécies
vegetais importantes para subsistência do povo Huni Kuî.

ROÇADOS HUNI KUÎ


Yunu são todos os legumes que
temos na Terra Indígena.
Antigamente, Huni Kuĩ fazia
roçado no mês de abril e maio. É a

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época das frutas nativas como hunû ou arueiro. E manã yukã ou araçá; uma goiaba da
terra firme. Usamos a língua huni kuĩ que se chama hatxa kui e também o português. O
tempo, para nós Huni Kui, o nosso calendário se baseia nos costumes de animais da
floresta como pássaros, na floração e frutificação de frutas nativas e na experiência dos
sapos. Assim, o roçado era chamado de hunũ bai ou manã yukã. Há informações em
diversos autores (CASTELO BRANCO, 1950; AQUINO & IGLESIAS, 1994;
IGLESIAS, 2010).
Os indígenas antigos, eles não tocavam fogo nessa época. Derrubavam sem
queimar e plantavam com espeque; um toco de pau. Em agosto, madura o milho e
debulha. Após colher o milho, brocavam, desbastavam novamente os brolhos ou brotos
e aí sim, tocavam fogo no mês de agosto ou setembro. E em setembro, colocavam novo
roçado nesse mesmo local após a queima. Hoje, o povo Huni Kuĩ acompanha o
calendário do mundo ocidental. Iniciamos plantando no mês de maio ou junho e
tocamos fogo no mês de agosto ou setembro.

Desde sempre, em nossa história pregressa até o tempo de hoje, nós Huni Kuĩ
temos bastante cuidado com a floresta. Não é sem motivo que está preservada. Para
fazermos um roçado na mata bruta ou virgem, nos ajuntamos em dois ou três
companheiros. Procuramos então, um lugar que não prejudique os igarapés e suas
cabeceiras ou nascentes, áreas de palmeirais ou plantas medicinais.

É certo que algumas poucas vezes, nós não podemos nos livrar de derrubar uma
madeira. Mas, as madeiras derrubadas que têm boa durabilidade e as palheiras, usamos
na construção de casa de farinha, paiol e casa de morada. Para produzir na agricultura
usamos diversos ambientes como mata bruta, capoeira, várzea e a areia da praia do rio.
Através do roçado é possível trabalhar variados conhecimentos relacionados às ciências
naturais, sociais e artes.

A melhor terra para plantio é considerada a terra fofa preta e misturada com
areia. Os principais legumes para comercialização são milho, inhame (cará), amendoim,
banana, pupunha, feijão, melancia, jerimum. Também comercializamos goma e farinha,
macaxeira, milho, arroz, banana, cana, mamão que se dão bem em plantios
consorciados. Ou seja, quando a combinação das espécies cultivadas beneficiam-se

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umas às outras, como no consórcio milho, macaxeira, banana, cana. Quando se trata de
um produto agrícola para comercialização ou venda, se costuma plantar o roçado em
separado. Para que a variedade de espécies não atrase a produção exclusiva para venda.

Costumamos plantar nos seguintes ambientes: terra firme, baixo, várzea e praia
do rio. Várzea serve para plantar banana, feijão e milho. Amendoim, jerimum e
melancia planta-se na praia do rio. Na terra firme e no baixo plantam-se legumes que
têm resistência como macaxeira, milho, inhame (cará), abacaxi, abacate, pupunha,
laranja, tangerina, pimenta. Para uma descrição de categorias locais de paisagem,
ambientes e geomorfologia no Alto Juruá, ver ROIG & MARTINI, 2002;
EMPERAIRE, 2002; FRANCO, ALMEIDA, et alli, 2002; KAXINAWA, 2006.

Os roçados são uma atividade comemorativa para todas as famílias Huni Kui. Na
broca, derruba ou derrubada, colheita e plantio, envolvem-se todas as famílias de uma
comunidade. Já no início do ano, o responsável pelo trabalho comunica seu interesse ao
representante local. O representante se reúne com toda a comunidade e faz seus planos
entre homens e mulheres. Huni Kui nunca trabalha dividido. Pode ser na broca de
roçado, derruba, plantio, colheitas de legumes, pescarias, nas caçadas ou mesmo, na
hora das refeições.

Todos participam das atividades, homem, mulheres, jovens e crianças. O


amendoim é plantado pelas mulheres. Homem só limpa o terreno e faz a cova para que
as mulheres plantem amendoim. O plantio de macaxeira, milho, já envolve todas as
pessoas da comunidade. Os principais ajudantes são, pois, os parentes de nossa própria
comunidade. Na época do verão, o responsável por cada categoria profissional ou grupo
de trabalho, faz seu planejamento por grupo. Por exemplo, o Agente Indígena de Saúde,
o Agente Agroflorestal Indígena, professores e outros responsáveis da comunidade,
elaboram seu planejamento de serviço. Depois, marca-se o dia avisando para o
representante da comunidade. É ele quem reúne com todos os moradores para organizar
as atividades.

Todos os trabalhos da comunidade são organizados pelos homens e mulheres. É


no trabalho que encontramos nossos parentes como cunhados, pais, sogro, genros,
filhos, tios, etc (KAXINAWÁ, 2002; ÔCHOA, IGLESIAS, et alli, 2003). Já nossa
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alimentação é organizada pelas mulheres, juntamente com suas cunhadas, irmãs, mães,
sogras, noras e avós. Onde os homens estão trabalhando, as mulheres estão ao seu lado,
fazendo a comida para seus maridos. Roçados, pescarias, caçadas, colheitas de legumes
e festas tradicionais é onde estão sendo desenvolvidos nossos conhecimentos.

No trabalho masculino são envolvidos adultos e crianças. Huni Kuĩ com oito
anos de idade já vai praticando o trabalho, juntamente com seus pais. Crianças e jovens,
acompanhando os pais no trabalho de roçado, ganham o apelido de bombeiro porque ele
busca água para o trabalhador. Assim, ele vai praticando e desenvolvendo seu apoio
junto aos pais. E, com pouco tempo, vai administrar os trabalhos deles. Casando-se,
mesmo bem jovem, pode ser considerado representante de sua comunidade.

Na época de trabalho comunitário, cada um dos responsáveis administra o dia,


juntamente com seu povo ou famílias. Tanto os homens como as mulheres. O
responsável do trabalho somente informa data e hora para início e finalização do
trabalho. Dou um exemplo. O sogro marcou um terreno para colocar roçado. Ele
participa para seu genro e o genro participa para o representante local.

O representante comunica para comunidade, o responsável pelo trabalho só


organiza a alimentação. E as mulheres fazem do mesmo jeito. As mulheres sempre
trabalham em grupos. A dona do trabalho se reúne com as outras mulheres e fazem as
colheitas dos legumes. Um grupo prepara caiçumada; bebida fermentada de macaxeira
e/ou batatas diversas. Outras mulheres cozinham macaxeira, tratam das carnes,
carregam água, lavam louça. E assim é administrado pela representante das mulheres na
comunidade.

Sempre quem carrega água são as meninas jovens. Para fazer comida, a lenha é
tirada pelos homens. Antigamente, o trabalho das mulheres era administrado pela
mulher do cacique geral. E hoje, como a Terra Indígena é dividida entre várias
comunidades, cada comunidade tem sua representante local. E a representante das
mulheres é escolhida pela comunidade. Assim como, cada categoria ou cargo exercido
por uma pessoa indígena na Terra Indígena e na comunidade são todos escolhidos,
primeiramente, pela comunidade.

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Temos dieta para mulher grávida desde o início da gravidez até sete dias depois
da criança nascida, sendo que a dieta só afrouxa depois da criança tomar três banhos
com plantas medicinais. Nesse período, temos certos alimentos que não utilizamos.
Como alguns animais da floresta e certos peixes.

II. CULTIVARES, PRÁTICAS ALIMENTARES E PLANTIO

FEIJÃO
Como dito anteriormente, nós, Huni Kui, iniciamos o plantio na praia, no mês de
maio, prosseguindo até o mês de setembro. Os legumes que plantamos na praia são
amendoim, feijão, melancia, jerimum. Os últimos três em carreiras ou leiras verticais.
Considero legumes todas os cultivares produzidos na praia ou em roçados (feijão, arroz,
macaxeira, milho). E verduras, aquelas de folhas verdes produzidas em canteiro ou
horta como cheiro-verde, coentro, salsinha.

Em agosto e setembro se plantam as manivas de macaxeira, milho, inhame, cará,


batata doce, taioba, pimenta nos roçados de terra firme, várzea e praia. Além de legumes
da região como feijões diversos, em canteiros e roçados localizados em terra firme e
praia. O feijão é um dos cultivares que chamo de legumes e pode ser semeado e
plantado no roçado. A maioria deles, no entanto, é plantada em praia do rio, fazendo as
covas com terçado. Plantando quatro ou cinco caroços em cada cova. Feijão para fazer a
colheita, não precisa de ferramenta, como terçado ou facão. Somente os vasos para
apará-lo como saco de palinha, paneiro ou cesto de cipó. Ou ainda, uma estopa de pano,
feita pelas próprias mulheres da aldeia.

Feijão é fácil de colher. É só arrancar com as mãos e ir colocando dentro dos


vasos. Após a colheita, coloca dentro de um vaso grande, um tambor, por exemplo. E
depois, coloca no sol para secar e desbulhar. Quando estiver seco coloca o feijão dentro
de um saco de pano e bata com um pedaço de pau. Ou pisa com os pés, machucando
como dizemos aqui, para ser desbulhado. Feijão não tem seu tempo determinado.

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Enquanto estiver no chão plantado, viça, soltando flor e vagem. Enquanto o repiquete
ou a cheia repentina dos igarapés, não cobre as praias sinalizando a chegada do inverno
amazônico. Para plantar no próximo ano a semente é armazenada da primeira colheita.
Feijão tem vários nomes e cultivaress. É feijão carioca, peruano, feijão da praia, feijão
manteiga, manteiguinha e feijão-de-arranca (FRANCO, ALMEIDA, et alli, 2002).

SHEKI KUÎ

MILHO MASSA

Milho massa, Huni Kuĩ chama de sheki kui. Pode ser utilizado, estando verde ou
seco. Milho duro também conhecido regionalmente como milho cearense é usado só
quando estiver verde. Depois de seco é utilizada para os animais como galinha, porco,
pato. Mulheres Huni Kuĩ começam a preparar o milho para alimento desde quando
estiver iniciando a brotar os caroços.

Quando o milho tiver iniciando a produção de caroços, chamamos de yaix maku


porque parece um dentinho diferente que os tatus têm. Na primeira “quebra do milho”,
ou seja, quando se vai ao roçado buscar pela primeira vez as espigas verdes já no ponto
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de colher quebrando-as no pé, as mulheres costumam utiliza-lo somente no preparo da
caiçuma. A “segunda quebra” já é cozida, assada, feita caiçuma, canjica (mabushe
bataia) e pamonha de milho (sheki mesi). Até ficar o grão ou caroço de milho secar. O
grão seco altera o sabor de cada preparo. Sendo que cada preparo tem um processo.

A caiçuma de milho torrado, por exemplo, tem sabor distinto das outras. Para
fazê-la, as mulheres se juntam para debulhar o milho e torrar num vaso grande. Depois
de torrados os grãos e após esfriar, se pisa, bem pisado, no pilão tradicional chamado
shashu. Coloca água no fogo e quando a água estiver esquentando, coloca o pó obtido
em um vaso à parte. Molha-se, então, essa farofa com água esquentada feito um pirão
escaldado e se coloca para ferver. Assim, já é feita a caiçuma chamada de tubã mabesh.

Outro sabor é hushu mabesh. É a caiçuma feita com o pó de milho cru. Para isso
temos outro processo. Pisa milho cru e coloca em um vaso com água. Depois disso, coa-
se com a peneira e coloca no fogo para ferver e cozinhar. Está feita a caiçuma. Se
misturar com amendoim é hushu mabesh tamaya. Caso não misture com amendoim é só
hushu mabesh. Para isso o milho é pisado junto com amendoim cru.

No plantio de milho tem ciência na hora de plantar. Você não pode jogar os
grãos de milho fora do buraco, nem abrir a boca na hora de plantar, pois, pode fugir o
espírito da planta e nem mulher menstruada para plantar. Milho é plantado com espeque
de pau afiado na ponta e/ou com máquina plantadeira. Se for plantada com espeque, é
um trabalhador furando a terra e outro, colocando quatro ou cinco caroços dentro do
buraco ou cova.

Quando o milho estiver nascendo e que começa a sair o broto fora da cova
chamamos de pitsu hina; rabo de periquito. Quando está na altura boa para brocar com
facão ou cerca de dois ou três centímetros, chamamos de sepa buru. Quando está bom
para derrubar com machado é rera buru. Caso o verão venha forte e o barro estiver
duro, colocamos os caroços de milho de molho para não falharem na brotadura. E
quando estiver pendoando, ou seja, fazendo pendão não devemos andar por dentro do
milharal. Porque pode atrapalhar a chegada do milho e sua produção, derrubando
espigas, brotos e pendões.

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Na colheita, quebramos o milho na lua escura para que os grãos durem um ano
ou mais. Se quebrar em qualquer tempo é danado para dar gorgulho. E a semente para
plantar no próximo ano é escolhida entre espigas de excelente qualidade que são
amarradas em atil pela palha, de duas em duas espigas que são então, dependuradas em
varas próximas ao telhado das casas. Sem descascar.

Hoje em dia e sendo pouco milho, as espigas são debulhadas e os caroços são
guardados numa garrafa escura de vidro ou em garrafas de plástico PET. O milho tem
sua casa própria onde fica armazenado com palaha. Em português se fala paiol. Bai
shubu, em hatxa kuin.

VARIEDADES DE MILHO

1. Sheki kuĩ: milho massa;


2. Huxĩ sheki: milho amarelo;
3. Mexu sheki: milho preto;
4. Hushu sheki: milho branco;
5. Bunã itsu: milho roxo;
6. Taxi sheki: milho vermelho;
7. Shehi tubã paxia: milho pipoca.

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MANI

BANANA

A banana pode ser plantada em qualquer lugar, roçado na terra firme, roçado de
capoeira na terra firme e até pelo barranco dos rios e igarapés.Mas, Huni Kuĩ prefere
plantar na várzea do rio, pois, facilita o transporte pelo barco. A banana é plantada em
separado. Ela tem seu roçado próprio. Banana comprida ou grande é considerada parte
de um grupo e as bananas curtas são de outro grupo. A banana prata, maçã têm duração
plantadas dentro da mata. Já a banana comprida tem menos resistência dentro da mata.

Por isso devemos deixar o bananal sempre no limpo. Um bananal junta variados
tipos de animais da floresta. Como macaco soim, irara, japó. Para plantar a banana é só
arrancar os filhotes, filhos com toda a raiz e cuidado, deixando num lugar adequado até
nascerem os olhos ou brotos. Um local fresco e úmido próximo à fonte d’água. Não
pegando muito sol, pode ser em qualquer lugar.

Quando estiver nascendo o olho podemos plantar que não falha um pé. Banana
comprida e banana chifre-de-bode são preferidas para mingau e para comer cozida
verde. E também para fazer um mingau chamado betẽ com carne de caça da mata como
tatu, jacaré, nambu. Para isso, as mulheres Huni Kuĩ ralam banana comprida verde no
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ralo e cozinham juntamente com a carne fazendo um mingau. Betẽ é a comida preferida
para Huni Kuĩ.

Além do betẽ há inúmeras outras formas de preparar a banana comprida e a


chifre-de-bodecomo: 1) Mani shui, banana assada; 2) Mani mutsa, mingau de banana;
3) Mani hua, banana cozida; 4) Mani tush, banana cozida e bem pisada, socada com
porrete de madeira; 5) Mani huxĩ, banana madura.

VARIEDADES DE BANANA

1. Mani uapa: banana comprida;


2. Sĩti mani: chifre-de-bode;
3. Sapẽ mani: banana branca;
4. Muka mani: banana maçã;
5. Bitsitsi: banana ouro;
6. Bũkaix mani: banana prata;
7. Xini mani: banana najá;
8. Himi mani: banana roxa.

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ATSA

MACAXEIRA

A macaxeira é plantada cortando-se as manivas em pedaços com três ou quatros


olhos. Manivas são os galhos da macaxeira usados no plantio. Devemos cortar olhos ou
brotos para plantar. A maniva é plantada na lua cheia para que as batatas da macaxeira
fiquem grossas. A macaxeira, nós, homens, a transformamos em cada um de seus (sub)
produtos. E cada um desses produtos tem seu nome apropriado.

Primeiro é a maniva. Da maniva nasce a batata. Da batata, a massa e da massa, a


goma. E depois de passar na peneira, a sobra, nós chamamos de crueira ou quirera. A
crueira serve de alimentação para porco de casa e outras criações. Já a goma se
transforma em tapioca. E a massa gera farinha e beiju seco. Além disso, é utilizada
cozida, assada e feita caiçuma.

Durante a farinhada, primeiro você arranca, carrega e descasca para lavar dentro
da casa de farinha ou no igarapé próximo. Lavada a mandioca, colocamos dentro do
banco, uma estrutura onde está assentado o motor que funciona a bola ou caititu para
cevar a macaxeira.

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Após cevar, coloca a massa dentro de um saco e amassa numa engenhoca
chamada prensa que serve para enxugar a massa. Essa massa, depois de prensada, será
torrada no forno, se transformando então em farinha. A água da macaxeira que sobra da
prensagem é chamada de manipueira ou manicuera.

Para produção de goma, se coloca a massa prensada dentro de um vaso ou


recipiente e mistura com um pouco de água. Espreme essa massa em um pano com as
mãos e apara o líquido resultante dentro de um vazo novamente. Depois que a goma
estiver assentada no fundo do vazo, pode derramar a água. Deixando enxugar a massa
lavada dá para fazer tapioca.

Já a farinha tem de dois tipos. Farinha branca e farinha puba. Para produzir
farinha puba, se coloca as batatas de macaxeira numa japa ou jamaxim; espécie de cesto
para transporte de carga feita de palha de ouricuri que é posta de molho no rio ou em
poço de igarapé. Quando estiver a macaxeira mole, machuca com as mãos e coloca na
prensa para sair toda água, para torrar. E já está feita a farinha puba. Com a casca,
demora mais dias para amolecer, sendo que tirada a casca leva apenas três dias. A
macaxeira pode ser comida de várias maneiras. Como, por exemplo: 1) Atsa mewa,
macaxeira cozida com uma folha chamada nãwãti; 2) Atsa hua kuĩ, macaxeira cozida; 3)
Atsa tamaya aka, cozida com amendoim; 4) Atsa mutsa, caiçuma de macaxeira; 5) Atsa
mutsa tamaya, caiçuma de macaxeira com amendoim; 6) Atsa shui, macaxeira assada;
7) Atsa misi, beiju ou tapioca e 8) Atsa tush: macaxeira cozida bem pisada.

VARIEDADES DE MACAXEIRA

1. PESI ATSA, roça das folhas finas;


2. MEXU ATSA, roça pretona;
3. YURI ATSA, roça de maniva torta;
4. YUXU ATSA, roça dorso;
5. HEPE ATSA, roça amarela;
6. KUMÃ ATSA, roça cumaru;
7. SHAWÃ ATSA, roça arara;
8. MUKA ATSA, roça milagrosa.

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RECOMENDAÇÕES PARA BONS ROÇADOS

Bai wakinᾷ manᾷ pekaya uĩshũ atiki.

Maxi pekasmai, mai mexu pekayanu atiki. Na mawaira nukũ nishupu hayairama, na
mabu nixi hayairama, na hi uapabuanu na unᾷ hayamanu atiki.

Haskanu mĩ akimarᾷ, yunurᾷ pemiski.

Haska inũ mawaira pashku kesha inũ pashku rebu a nu atimaki.

Yunu bawarᾷ rayaki. Taewakinᾷ mĩ tsisũ aĩ, mĩ sepai, mĩ rerai, mĩ kuai.

Há kuatanᾷ mĩ yunu heshe xarabu mĩ tupiai,banakatsirᾷ.

Há banakiᾷ ushe uĩshũ mĩ akai.

Bai kuatᾷ bana tae wakinᾷ pua atiki. Mapu shanapanukikairᾷ. Hás kawatᾷ betsa xarabu
akatsirᾷ.

Haskawaxĩshũ, sheki atiki. Há mĩ haskawaima pitsu hina biranaya, atsa iũ yunu betsa
xarabu mĩ akai. Haska pua banatᾷ nᾷ mĩ bushka inũ mĩ kixi, mĩ txishu kasmai, hi uapaki
metekere itiki.

Mĩ haskawamarᾷ pusismaki.

Puarᾷ rabeki: pua hushupa inũ, pua mexupaki.

Puarᾷ mĩ shupitirumaki. Unu bari meshtiakaya aĩ baibũ basᾷshũ betsemisbuki.

Há pusi uapabu pishũ, txuri mestĩ ana banatiki.

Yunu pikĩ taewakinᾷ sheki rukũ mĩ akai, patxirᾷ.

shekirᾷ patxi iũ txuxi atiki pikinᾷ.

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PUA

CARÁ

Cavar a cova de enxada e ajeitar as batatas bem no meio da cova, cobrindo


carinhosamente com terra. Após plantá-lo você só pode enxugar as mãos em coisas
grandes. Pode mexer sua cabeça, suas coxas e enxugar as mãos somente em árvores de
grande porte. Isso é uma ciência para que as batatas venham a nascer grandes. Se não
fizer isso, as batatas ficam pequenas. O cará é geralmente colhido em mês de agosto ou
setembro; época de roçado novo. Mas, isso depende do mês em que for plantado. Para
semente, se colocam as batatas dentro de uma pera ou cesta, feita de palha de ouricuri
nova ou de palha de jarina. Ajeita-se o saco num lugar fresco e quando estiver
brolhando você pode plantar. Para plantar cará, você cava a terra fazendo uma arruma;
uma espécie de ninho. Feito isso, ajeita-se a batata na arruma e cobre bem com barro.
Por cima, fazemos um jirau, um tipo de estrado fincando varas de pau ao redor para que
as ramas do cará possam subir, fazendo assim uma moita. Cará se come cozido e
assado.

VARIEDADES DE CARÁ

1. MEXU PUA, cará (do) periquito;


2. HUSHU PUA, cará branco.

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TAMA

AMENDOIM/MUDUBIM

Amendoim é produzido na praia do rio e no roçado. Ele tem um processo


delicado para produzir. Primeiro é procurar uma costa de praia do rio, laterais dos
barrancos dos igarapés que não tenha tacanha brava, cujo solo não tenha muita areia
branca e nem barro duro. Limpa o terreno, preferencialmente, bem zelado, arrancando
todas as raízes que tem, varrendo bem varrido o terreno para se plantar.

Amendoim é plantado pelas mulheres. Os homens somente limpam o terreno e


fazem as covas com espeque. São as mulheres quem plantam. Não devemos deixar o
mato invadir, por isso é limpo duas ou três vezes, antes da colheita.

Na colheita envolvemos todos os membros da comunidade como homens,


mulheres, jovens e crianças. As mulheres são para arrancar, as crianças para carregar e
os homens e jovens cortam as palhas. Depois que carrega até em casa tem o processo
para fazer as trouxas. Para fazer as trouxinhas temos uma envira preferida para amarrar.
Utilizamos para tal fim NIXI KUÎ, pau barrigudo, SHAPUÃ, algodão bravo que vive na
beira do rio ou na beira do igarapé grande e HEXI NIXI, envireira fofa de capoeira.

O amendoim é plantado no mês de maio e junho na praia do rio, na época seca.


E também na terra firme, na época das chuvas, em novembro, dezembro ou janeiro. Para
plantar, na terra firme é necessário procurar um lugar bem areiúsco que chamamos de

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MANÃ MAXI; terra misturada com areia. MAI KUXI é barro massa para cerâmica.
MAPU TESH é barro ligado. PUPUSH é lama. MAXI é areia.

E o processo de plantio é o mesmo que utilizamos na praia do rio. Na terra


firme, após limpar o terreno devemos varrer com o galho de uma planta que chamamos
XIWÊ. Em português regional, canela-de-velho. Amendoim não tem duração estando
armazenado. Por isso plantamos antes de completar um ano. Para arrancar, as folhas
devem estar murchando e a casca deve estar dura. Por dentro a casca deve estar pintada.

Se deixar cair as folhas das plantas não se arranca mais amendoim que preste.
Fica tudo por dentro do chão, podendo até perder as sementes. Por isso, após ela
completar três meses, as mulheres seguem observando enquanto vão arrancando aos
poucos e cozinhando com macaxeira... Até achar que estiver no ponto de arrancar.
Nesse momento, ela participa ao seu marido e o marido comunica ao representante da
aldeia. Eles então, se combinam e vão arrancando do canteiro de cada dono, conforme o
amendoim vai ficando maduro.

Amendoim você come cozido quando é no inicio da colheita e torrado quando


estiver seco. Ou ainda, feito pão. Pode ainda comer cru, tirando da casca. Ou cozinhar e
quando estiver cozido, é só comer.

Já para fazer pão de amendoim, torra bem torrado com casca. Quando esfriar se
tira toda a palha e pisa no pilão tradicional shashu; bem pisado, no pilão de âmago de
cumaru ou de outro pau forte. E pisa com a mão também. Após amassar bem,
guardamos o pão num vaso, ou ainda, enrolamos o pão com palha seca de milho ou
banana. Pronto se pode comer com banana madura, farinha, macaxeira cozida. Ou
temperando o mingau de banana ou de macaxeira.

O amendoim cozido, Huni Kuĩ chama de TAMA HUA. Torrado é TAMA TSUI.
Pão de amendoim é TAMA MÊTU. No dia da colheita, as mulheres vão todas
preparadas, cada uma com seu vasinho para ajuntar o que está arrancando. Esse
amendoim se chama TAMA TSEKE. É o que comemos primeiro.

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VARIEDADES DE AMENDOIM

1. KENE TAMA, amendoim rajado;


2. MEXU TAMA, amendoim preto;
3. HUA TAMA, amendoim roxa;
4. MÃKU TAMA, amendoim da casca lisa;
5. NISHE BATI TAMA, amendoim branco;
6. HUXÎ TAMA, amendoim de cor alaranjada;
7. TXURI TAMA, amendoim de grão murcho;
8. TAXI TAMA, amendoim vermelho.

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CONCLUSÃO
A dieta é a proteção da vida. A dieta é uma ciência de cada povo.

Alimentação é saúde. Se não temos uma boa alimentação, não temos saúde. Para
ter saúde é preciso ter bastante variedade de legumes sendo plantados e comidos. Como
macaxeira, banana, milho, amendoim. Mas para ter tudo isso é preciso trabalhar
bastante.

Mas, a saúde não é só alimentação. A união também faz parte da saúde. Saúde é
você estar unido com o povo de sua comunidade e com sua família. E trabalhar unido.

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BIBLIOGRAFIA
AQUINO, Terri Valle de. & IGLESIAS, Marcelo Piedrafita. 1994. Kaxinawá do Rio
Jordão. História, Território, Economia e Desenvolvimento Sustentado. Rio Branco:
Comissão Pró-Índio Acre (CPI/AC).
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Histórico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, volume 207,
abril- junho.

COMISSÃO PRÓ-ÍNDIO DO ACRE (CPI/AC). Nuku Mimawa Sharabu. Rio Branco:


CPI/AC, 2002.
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da., & ALMEIDA, Mauro Barbosa de. 2002. Enciclopédia da Floresta. O alto Juruá:
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MENDES, M. (2002). "Botar Roçados". In: CUNHA & ALMEIDA, A Enciclopédia da
Floresta. O Alto Juruá: práticas e conhecimentos das populações. São Paulo: Cia. das
Letras, (pp. 229-248).
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civilização no Alto Juruá. Brasília: Paralelo 15.
KAXINAWA, E. M. Plantas medicinais - doenças e cura do povo Hunikuĩ. Rio Branco:
CPI/AC, 2006.

KAXINAWÁ, Joaquim Paulo Maná et. al. Índios no Acre: história e organização. Rio
Branco: Comissão Pró-Índio do Acre, 2002.
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organização e história indígena. Rio Branco: CPI/AC, 2003.

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Enciclopédia da Floresta. O Alto Juruá, práticas e conhecimentos das populações. (pp.
43-50). São Paulo: Cia. das Letras.

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ANEXO A - Roteiro de perguntas para entrevista
1. Tipos de terra para cada produto ou cultivar;
2. Legumes vendidos como produto, ou seja, produtos agrícolas que são
comercializados;
3. Local escolhido para plantar, o que se planta na várzea, na terra firme no baixo;
4. Quem planta o quê? Com quem planta;
5. Quem e quando se ajudam nos roçados;
6. Roçados em capoeira, várzea ou mata bruta;
7. Tem algum legume que vai bem junto com o outro;
8. É um alimento importante na dieta Huni Kui. Por quê?

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