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A tradição oral africana é essencial para compreender a história do continente. Ela contém não apenas histórias e lendas, mas também religião, ciência, arte e outros saberes. Os tradicionalistas africanos, como os griots, têm memórias extraordinárias e transmitem esses conhecimentos de geração em geração através da fala, que é vista como sagrada. A escrita não deve ser valorizada mais do que a tradição oral, pois ambas são formas igualmente válidas de preservar e transmitir informações
A tradição oral africana é essencial para compreender a história do continente. Ela contém não apenas histórias e lendas, mas também religião, ciência, arte e outros saberes. Os tradicionalistas africanos, como os griots, têm memórias extraordinárias e transmitem esses conhecimentos de geração em geração através da fala, que é vista como sagrada. A escrita não deve ser valorizada mais do que a tradição oral, pois ambas são formas igualmente válidas de preservar e transmitir informações
A tradição oral africana é essencial para compreender a história do continente. Ela contém não apenas histórias e lendas, mas também religião, ciência, arte e outros saberes. Os tradicionalistas africanos, como os griots, têm memórias extraordinárias e transmitem esses conhecimentos de geração em geração através da fala, que é vista como sagrada. A escrita não deve ser valorizada mais do que a tradição oral, pois ambas são formas igualmente válidas de preservar e transmitir informações
Primeiramente, em sua introdução, Amadou Hampaté Bâ, situa a
importância imprescindível da tradição oral para se compreender os aspectos de qualquer parte da história africana, não tendo validade qualquer avanço sem levar essa oralidade em conta. Chamando atenção para o fato de que essa herança corre perigo, mas ainda não se perdeu, residindo na memória da última geração de grandes depositários, a quem se refere como memória viva da África.
Logo em seguida, o autor apresenta a questão sobre a fidedignidade
concedida a escrita e que muitos recusam a oralidade no mesmo grau, sobre este pondo Hampaté Bâ é claro em sua interpretação, para ele, não há diferença entre testemunho escrito ou oral, pois no fim não é mais que testemunho humano, e vale o que vale o homem. Entendendo que o que se encontra por traz do testemunho é o valor do próprio homem em sua cadeia de transmissão, a fidedignidade das memórias individuais e coletivas e o valor atribuído a verdade em determinada sociedade.
Chamando atenção para o processo pelo qual a escrita se acontece,
mantendo um dialogo consigo mesmo e rememorando, bem como para as falsificações de materiais escritos, solidificando assim seu ponto e demonstrando o valor equilibrado que deveria existir entre as formas de narrar.
O autor, pontua que contrariamente ao pensamento de muitos, a tradição
oral africana não é apenas sobre história ou lendas, relatos mitológicos ou históricos, sen.do os não sendo os griots os únicos habilitados a transmitir saberes. Hampaté Bâ, classifica a tradição como ao mesmo tempo religião, conhecimento, ciência natural, iniciação à arte, história, divertimento e recreação, uma vez que todo pormenor sempre permite remontar à Unidade primordial. (pág. 169).
Ainda sobre a oralidade, nos é apresentado o caráter divino que a
Palavra carrega intrinsecamente, Hampaté conta que em a tradição bambara do Komo ensina que a palavram kuma, é uma força fundamento que emana do próprio Ser Supremo, Maa Ngala, criador de todas as coisas. Maa Ngala sentindo falta de um interlocutor, cria o Primeiro Homem: Maa.
Como provinham de Maa Ngala para o homem, as palavras eram divinas
pois ainda não conheciam a materialidade, após esse encontro, perderam um pouco de sua divinidade, mas continuam carregadas de sacralidade. Desta forma, a tradição africana concebe a fala como um dom de Deus, sendo ela divina no sentido descendente e sagrada no sentido ascendente.
Sendo a fala também considerada como a exteriorização/materialização
das vibrações das forças. Desta forma, se a fala é força, é porque ela cria uma ligação de vaivém que gera movimento e ritmo, e, consequentemente vida e ação. Assim a fala pode criar a paz, ou mesmo destrui-la, tendo a palavra a dupla função, de criar, mas também de destruir.
Segundo Hampaté Bâ, a África tradicional preza muito a herança
ancestral, o apego religioso a esse patrimônio imaterial se mostra em frases como: “aprendi com meu Mestre”, “Aprendi com meu pai”, “Foi o que suguei do seio da minha mãe”. Em seguida o autor, caracteriza os chamados “tradicionalistas”, detentores de conhecimentos e saberes muito respeitados e responsáveis por desempenharem o papel de guardar em suas memórias grandes volumes de informações, podendo ser iniciado em algum conhecimento especifico, mas não como nós concebemos na chave de especialização, mas sim como um conhecedor.
A relação entre os tradicionalistas -doma, e a verdade é algo muito sério
e importante, para eles, a mentira não é apenas um defeito moral, mas uma interdição ritual, sendo a sua violação impossibilitante no que diz respeito o preenchimento da função.
Posteriormente, o autor caracteriza e classifica os animadores públicos
ou “griots”, estes seriam um tipo de trovadores ou menestréis que percorrem o país ou estão ligados a uma família. Sendo classificados em três categorias: os griots mísicos, que tocam qualquer instrumento, os griots “embaixadores” e cortesãos, responsáveis pela mediação entre grandes famílias em caso de desavenças, e os griots genealogistas, historiadores ou poetas que em geral são contadores de histórias e grandes viajantes, não ligados a uma família necessariamente. Sendo a eles conferido status social especial, tendo direito de ser cínicos e gozam de grande liberdade para falar, podendo se manifestar imprudentemente, não tendo compromisso de serem discretos ou guardar respeito absoluto pela verdade.
Já sobre os meios de se tornar um tradicionalista, o autor diz que na
África do Bafur, qualquer um podia se tornar um tradicionalista -doma, isto é, conhecedor, em um ou mais conhecimentos tracionais. Sendo pontuado no texto, que a educação africana não fazia uso de sistemática do ensino europeu, sendo dispensada durante toda a vida, pois a própria vida era educação. No Bafur, até os 42 anos, os homens deveriam estar na escola da vida, não obtendo direito a palavra em assembléias, salvo excepcionalidades, tendo como dever, o ouvir e aprofundar o conhecimento que vem recebendo desde a sua iniciação, aos 21. Mas a educação poderia durar uma vida inteira, com aprofundamentos cada vez maiores.
Encaminhando-se para o final, Hampaté Bâ, conta que as peculiaridades
da memória africana, bem como a sua transmissão oral, não foram afetadas pela islamização, que atingiu grande parte dos países do antigo Bafur, sendo em todas as escolas de princípios básicos da tradição africana não eram repudiados, mas, utilizados e explicados à luz da revelação corânica.
Sobre as características da memória africana, A. Hampaté Bâ, diz que
entre todos os povos do mundo, constatou-se que os que não escreviam possuíam uma memória mais desenvolvida, assim, é realmente incrível a quantidade absurda de informações que um genealogistas guardavam em suas memórias, sendo uma habilidade excepcional dessas pessoas, que reconstituem o acontecimento ou narrativa em sua totalidade, tal como um filme de se desenrola. Não recortando, mas trazendo ao presente um evento do passado, podendo assim, essa atividade ser facilmente entendida como arte.
Dessa maneira é difícil para um tradicionalista “resumir” com
naturalidade, pois para isso, seria necessário em sua visão escamotear a memória em questão. Do mesmo modo que os mesmos, não receiam se repetir, podendo ser ouvidos diversas vezes contando as mesmas histórias, com as mesmas palavras sem que os ouvintes se cansem. É nessa chave interpretativa que compreendo, a partir deste texto, o que quer dizer Hampaté Bâ, quando este enuncia que “Na África, cada ancião que morre é uma biblioteca que se queima.”