GRANDE DO SUL
DELAC – DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DE LINGUAGEM, ARTE E
COMUNICAÇÃO
CURSO DE DESIGN – HABILITAÇÃO PRODUTO
IJUÍ (RS)
2010
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IJUÍ (RS)
2010
2
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
In view of the problems involving the culture of the Indians Kaingangs, from ancient
times until today, covering prejudices related to the customs and values of their
ethnic background, one sees that this people has been losing its cultural identity.
Often this loss of identity from their own members of this group, often involving issues
of survival and adaptation to today. This monographic study constitutes an attempt to
rescue the cultural identity of Indians Kaingangs, taking etnodesign as a tool for
creating new products. Developed, a set of jewelry based on Indian crafts Kaingangs,
more specifically in its basket, to contribute to cultural appreciation and rescue these
people, showing possibilities of creating interesting products based on indigenous
culture.
LISTA DE FIGURAS
Figura 74 – Teste dos mocapes com relação ao conforto na usabilidade .............. 100
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 12
INTRODUÇÃO
1.1 Etnodesign
Todos os homens são designers. Tudo que fazemos, quase todo o tempo, é
design. O design é básico em todas as atividades humanas. Planejar e
programar qualquer ato visando um fim específico, desejado e previsto, isto
constitui o processo de design [...] design é compor um poema étnico,
executar um mural, pintar uma obra de arte, escrever um concerto. Mas
design é também limpar e organizar uma escrivaninha, arrancar um dente
quebrado, fazer uma torta de maçã, escolher os lados de um campo de
futebol e educar uma criança.
defesa. Deste modo, esta transformação nos padrões sócio-cultural afetou estes
indígenas a ponto de levá-los à quase desintegração de seu povo.
Os denominados Kaingangs do século XIX são encontrados na mesma área
em que viviam os Guaianás nos séculos XVII e XVIII, sendo estes conhecidos como
seus ancestrais. A denominação direta dos Kaingangs do Rio Grande do Sul de
antigos Guaianás da mesma região fica em dúvida, pois, segundo os próprios
Kaingangs eles teriam vindo de São Paulo e migrado recentemente para o estado do
sul (TESCHAUER, 1929).
A real comprovação de seu movimento migratório se dá através dos seguintes
termos descritos por João Cezimbra Jacques: “quando há mais de cem anos
passaram os índios Kaingangs ou Coroados, o Rio Uruguai, para a Terra Sul-Rio-
Grandense, era um dos seus grandes capitães o notável cacique Nonoai” (1912 in
1957, VIII pg. 65).
Neste século, estes índios viviam em pequenos grupos formados por família
entrelaçadas e parentes próximos, seus alojamentos e cabanas eram de chão de
terra batido coberto com folhas de palmeira com diferentes tamanhos, de acordo
com o número de ocupantes. O seu ambiente natural eram as matas situadas nos
lugares mais altos do planalto Rio Grandense junto de pinheirais, podendo assim,
dominar com a vista seus alojamentos (MABILDE, 1897).
A economia do grupo era baseada na colheita, especialmente de pinhões e
na caça que lhe era garantida, respeitando o limite de caça de cada grupo. A sua
alimentação envolvia carne de caça e peixe, mel, frutos silvestres, abóbora e milho.
A única bebida alcoólica era a “chicha”, fabricada pelos próprios índios. Com relação
ao trabalho, este era dividido por sexo (MABILDE, 1897).
O grupo tinha o costume de andar nu, até o contato com o povo jesuíta,
passando então a usar um tipo de vestimenta de fibra de caraguatá fabricado pelas
mulheres da aldeia nas suas horas de lazer, sendo que para os homens usavam
apenas uma tanga feita com fibra vegetal. (TESCHAUER, 1929).
Cerca de quarenta anos mais tarde, os índios mudaram o modo como se
vestiam. Com a influência do povo branco começaram a usar vestidos e roupas
como a gente civilizada. Mas isso teve conseqüências negativas causando doenças,
entre elas dores reumáticas e epidemia de varíola, em função das vestimentas
(SERRANO, 1957).
26
Por ser considerada uma personalidade sábia, o Cacique Doble, líder dos
Kaingangs aldeados, reuniu um grupo de índios conhecedores dos modos de ação e
reação de seu grupo e juntos prestaram auxílio eficiente e necessário à ação
punitiva contra os seus irmãos descontentes e inconformados com a ação
colonizadora.
27
O gosto pelas armas e pelos utensílios dos brancos era outro resultado desse
contato com as diferentes culturas. Apesar de que, por volta do século XIX,
permaneçam ainda com o uso de armas tipicamente indígenas, começa a ter uma
maior aceitação ao metal e utensílios de metal, para a fabricação de seus
instrumentos de caça (HENSEL, 1928).
Quando o utensílio era de seu agrado ou cobiçado, a sua valorização era
muito alta ao ponto de ceder sua mulher como empréstimo, ao branco que possui o
valioso objeto (SERRANO, 1957).
1.2.3 O Século XX
mais outras cinco reservas que, por motivos financeiros, até hoje ainda não puderam
ser assumidas pelo Governo Federal, mobilizando o Governo do Estado para
responsabilizar-se por estas reservas, já que a terra, na qual se encontram é
propriedade do estado (FISCHER, 1959).
Sobre as características dos atuais Kaingangs, sabe-se que não seriam
ciumentos com relação as suas mulheres. Em função do trabalho da catequese,
teriam tornado-se bastante humildes, obedientes e dóceis, sabendo também ser
cruéis quando provocados, revidando vingativamente pelos antigos hábitos tribais.
Segundo Fischer (1959, pg. 12):
Suas casas são cada vez mais substituídas por simples ranchos de madeira
feitos de tábuas fornecidas pelos postos, cobertas de palha ou de lascão
também de pinho conforme outros. Não tem divisões internas e o fogo é
aceso no chão, onde, ao redor do mesmo passam grande parte do tempo e
aí mesmo dormem, conservando um hábito do passado. Influenciados pelo
posto, alguns aldeados aderiram ao uso de beliches ou redes de fibra para
dormir.
A acusação freqüentemente feita aos índios como sendo dados ao furto não
é verdadeira. Além de que eles não têm da propriedade a mesma noção
dos ocidentais, em regra, eles furtam somente pequenas coisas nos casos
de grande necessidade.
muito desconfiado. Por outro lado, podiam ser corajosos e valentes em combates,
capazes das maiores crueldades, tornando-se indivíduos maus, falsos, vingativos,
rudes e oportunistas.
A coragem dos nativos era relacionada às guerras dentro de suas
possibilidades, pois reconheciam que em uma luta contra os brancos as suas armas
são praticamente inúteis em relação às armas de fogo, preferindo, muitas vezes,
abandonar a luta, porém, sem deixar seus feridos para trás. Este costume de guerra
vem de seus ancestrais, onde nenhum indivíduo abandona seu companheiro ferido.
Como descreve Mabilde (1899, pg. 140 – 141): “ainda mesmo debaixo do fogo mais
vivo e mortífero, agarram-nos e os carregam consigo, incorrendo em risco suas
próprias vidas. De fatos dessa ordem tenho sido testemunha ocular”.
Alem do medo das armas dos brancos, os indígenas também tinham muito
medo da água, sendo considerados péssimos nadadores, explicando o fato de
escolherem como habitat os lugares mais altos longe dos grandes rios (SERRANO,
1957).
Finalizando as considerações sobre características e personalidade do povo
Kaingang, vale ressaltar algumas palavras escritas por um grande estudioso.
Segundo Fischer (1959, pg. 12 – 13):
Ainda nos dias atuais, a diferenciação dos sexos é bastante visível com
relação aos diferentes aspectos do dia a dia da tribo. Segundo Vieira dos Santos
(1949, pg. 5 e 13):
A consideração do Kaingang pela mulher se manifesta pelo luto que por ela
guarda. Nas visitas, das quais o Kaingang não é muito amigo, compete ao
homem receber o visitante e longe de seu rancho, acontecendo estarem à
mulher ou as crianças sós em casa, fecham o rancho e correm para o mato.
Quando as visitas se realizam em outra aldeia, compete ao homem recebê-
las e a presença das mulheres só se faz sentir, quando o visitante anuncia a
morte de algum parente, então elas começam a chorar. Em contato com o
branco, mesmo estando o marido presente, só a este compete entabular
conversação, pois a mulher é muito comportada e recatada.
Outro aspecto que ainda persiste no século XX, diz respeito às viagens
realizadas pelo grupo, onde as mulheres se responsabilizam por transportar os
objetos da casa e os filhos, já os homens cuidam da segurança da família durante
todo o percurso (TESCHAUER, 1929). Este costume pode ser analisado na figura
08.
Na falta de pinhão, outro alimento que também era apreciado pelos índios era
o palmito, bem como grande variedade de frutos como bacupari, araçá, banana-do-
mato, guabiroba, cereja-do-mato, umbu e cincho, que serviam como
complementação à sua dieta. A caça e a pesca parecem ter um papel secundário
na dieta Kaingang. Assim preferem caçar animais menores como papagaios, pelo
fato de não estragarem as suas flechas, deixando os outros animais maiores como a
anta, por exemplo, para serem caçados somente em situações de muita fome do
grupo. Pelo fato de não saírem para caçar, esta atividade só é realizada por acaso,
ou seja, somente quando um animal encontra-se nas proximidades de seu
alojamento. Quando, nestas condições, acabam por caçar alguma anta ou porco-do-
mato, preparam estes animais assando-os sem lhes tirar os intestinos. No caso das
aves, estas são assadas tirando-lhes antes as penas, enquanto que para os
mamíferos somente tiram o pelo por meio do fogo (MABILDE, 1899).
Embora a participação da mulher esteja presente na maior parte da
preparação dos alimentos, há algumas exceções como no caso da caça, onde o
alimento é preparado pelo homem e repartido entre todos pelo fato de terem abatido
o animal em sociedade.
A caça é consumida somente assada, onde cortam os pedaços de carne com
as próprias mãos. O peixe é outro animal que costumam comer assado, utilizando
uma grade de madeira no formato retangular posicionada próxima ao fogo que se
encontra em uma plataforma dentro das cabanas.
A dieta do Kaingang do século XX é de certa forma idêntica a do passado.
Porém, verificou-se um aumento no regime alimentar decorrente do incentivo
agropecuário dos postos indígenas, hoje sob controle da FUNAI. Este aumento pode
44
ser notado com o plantio de milho, feijão e batatas em maior escala, também como a
criação de suínos, aves, entre outros animais.
Como costume deste povo nativo o consumo dos alimentos por eles
preparados tem certa função de interação social, sendo comuns em seus bailes e
festas os assados de leitão e galinha. Já no seu lazer diário é freqüente o consumo
de chimarrão à beira do fogo acompanhado de milho debulhado nas brasas e
retirado grão por grão utilizando uma lâmina de taquara.
É muito comum o uso de líquido, tanto para satisfação das necessidades
nutricionais como também por mera satisfação pessoal. É considerado também
como elemento medicinal, podendo ser consumido na sua forma natural como água,
ou também acrescido de ervas como no chimarrão e no chá, bem como na forma de
bebidas fermentadas e alcoólicas.
O hidromel, bebida fermentada à base da mistura de água e mel e o “Kiki”,
também fermentado, feito com grão de milho ou pinhão, eram bastante produzidos
no século XVIII, sendo ainda muito apreciados pelos Kaingangs da atualidade
(SERRANO, 1936).
As bebidas fermentadas são bastante consumidas, principalmente nas
cerimônias e nas comemorações festivas, como, por exemplo, o feito d’armas, as
missas e as cerimônias fúnebres, sendo que para cada uma é preparado uma
bebida diferente, merecendo também um preparo especial. Como descreve Fischer
(1959, pg. 14 e 23):
A alimentação dos Kaingang, tanto líquidos quanto para sólidos, parece não
estar condicionada a horário determinado, mas sim a satisfação das necessidades
de cada indivíduo. Estando com fome, não estão preocupados com a particularidade
dos bens de consumo. Simplesmente pegam o alimento para matar a fome como se
todos os frutos da terra fossem comuns (TESCHAUER, 1929).
Em relação à vestimenta do Kaingang, dentro do conceito do grupo,
desempenhava função de resguardo, principalmente para as mulheres e também
diferenciação de sexo e status, diferenciando o cacique dos demais indivíduos do
45
grupo. A vestimenta era completada com um adorno, onde alguns pintavam o corpo,
outros usavam algum tipo de enfeite. O corte de cabelo era característico dos
homens, os quais receberam o apelido de “Coroados” por ser semelhante ao
formato de uma coroa. Os mesmo praticavam a depilação de todas as partes pilosas
do corpo.
Entre os antigos Guaianás a vestimenta entre os homens era a nudez
completa, sendo que alguns usavam um tipo de camiseta que adquiriram, por troca,
dos Guaranis. Já as mulheres, pelo contrário, usavam uma manta confeccionada por
elas mesmas utilizando fibras de urtiga ou caraguatá, cobrindo dos peitos até os
pés, deixando descobertos somente os ombros e os braços. Usavam também um
manto, feito da mesma fibra, o qual cobria a cabeça e os ombros.
Apesar de confeccionarem suas vestimentas, tanto os homens quanto as
mulheres preferiam andar completamente nus, não importando as estações do ano.
Com o passar do tempo, em meados do século XIX, a vestimenta sofreu um grande
impacto em função do constante contato com a civilização, forçando o índio a vestir-
se de forma a tapar as partes do seu corpo, resultando em problemas de saúde e
morte de alguns membros do grupo (MABILDE, 1897).
A preocupação dos nativos em cobrir sua nudez com a finalidade de manter a
sua dignidade com relação ao povo branco, fez com que as mulheres ocupassem do
tempo que lhe sobrava de seus afazeres tecendo certos panos com os fios de uma
urtiga brava, que os índios chamavam de “luru”, que serviam para cobrir seu corpo e
de seus filhos. Alguns homens usavam estes panos como forma de pala.
Diferente dos homens, as mulheres e as moças nativas sentiam certo pudor,
sentimento de vergonha, de incômodo, constrangimento, por sua nudez completa na
presença de estranhos. Este pudor parecia estar menos presente em casos de
amamentação, porém, as moças sempre que apareciam na presença de estranhos,
eram com os peitos cobertos com as mãos ou com panos. Esta preocupação não se
fazia presente quando se tratava da convivência com indivíduos da mesma tribo,
uma vez que na ausência dos brancos voltavam a ficar totalmente descobertos,
sendo essa a forma que se sentiam melhor na convivência tribal.
Com relação aos homens, ainda que andassem nus, usavam algumas vezes,
junto à cintura e em volta dos quadris uma espécie de tanga por eles fabricada.
Estas tangas eram feitas utilizando cordões da grossura de um barbante comum, de
fibra de tucum ou de urtiga brava, sendo entrelaçados sem haver muito espaço entre
46
eles até que a tanga ficasse no comprimento apropriado para cobrir suas partes
intimas, como está ilustrado na figura 10.
Para a missa reúnem-se todo o povo ou grande parte dele junto ao rancho
de algum principal. Usam-se velas de cera silvestres e uma bebida de mel
misturada com uma erva. Esta bebida se prepara numa grande gamela de
cabriúva com dimensões várias, atingindo às vezes 10 pés de comprimento.
Enche-se o recipiente com mel; se junta erva e tapam tudo até o momento
da missa. Entre velas de cera e diversas cerimônias, o Kuiem instrui o povo
sobre o que deve fazer ou deixar de fazer para viver direto, para evitar
secas e outras calamidades, enfim, aquilo é como a missa. Costuma durar
das oito ou nove horas da manhã até a tarde.
Uma linha também pode ser formada por uma fileira de pontos, os quais, por
estarem próximos, dão a impressão de estarmos vendo um traço. Neste caso a linha
é conceitual e não visual, pois o que estamos vendo ainda são pontos próximos um
do outro, ilustrados na figura 17.
Todas as formas que não são reconhecidas como pontos ou linhas são
consideradas formas planas em uma superfície bidimensional. Deste modo o plano é
limitado por linhas, as quais constituem as bordas da forma. Estas linhas têm como
característica determinar o formato da forma plana, tendo esta, por sua vez, uma
variedade de formatos classificados como geométricos, que são construídos
matematicamente (fig. 18a); orgânicos, representados por curvas livres sugerindo
alteração no tamanho da forma (fig. 18b); retilíneos, constituídos por linhas retas não
relacionadas matematicamente (fig. 18c); irregulares, representados por linhas retas
e curvas não relacionadas matematicamente (fig. 18d); feitos à mão, formas criadas
a mão livre sem a utilização de ferramentas (fig. 18e); e acidentais, determinados
pelo efeito de processos obtidos acidentalmente (fig. 18f).
54
Uma forma plana pode ser criada somente por contorno, tendo, neste caso,
uma considerável largura na espessura da linha. Outra forma de se obter um plano é
através do contorno feito por pontos enfileirados e próximos, representando, deste
modo, a forma desejada. As linhas e os pontos, quando bem agrupados também
podem representar um plano, tornando-se a textura do mesmo.
No caso da forma branca no fundo preto (b), temos uma forma negativa, já na
forma preta com o fundo branco (c), a forma se apresenta positiva. Nos outros dois
casos (a e d), a forma desaparece pelo fato de ter o fundo da mesma cor que a
forma. Pode-se obter a forma contornando-a com a cor contraria do fundo,
destacando-a, como representada na figura 22.
Como foi demonstrado anteriormente, quando duas formas cruzam uma com
a outra, os resultados não parecem ser tão simples. Pelo contrário, em alguns
casos, pode ser bastante complexa a identificação da forma.
Para entendermos melhor as inter-relações das formas serão utilizados dois
círculos do mesmo tamanho para vermos como estes podem ser unidos. Para esta
união podem ser apontadas oito formas diferentes de inter-relação, dentre elas estão
a separação, onde as duas formas circulares encontram-se separadas uma da outra,
embora a distância possa ser bastante próxima (fig. 24a); o contato, rompendo a
distância que existia entre as formas, fazendo com que ambas comecem a se tocar
(fig. 24b); a superposição, onde uma forma parece cruzar a outra, dando a
impressão de estar uma cobrindo parte da outra (fig. 24c); a interpenetração,
parecida com a superposição, porém ambas as formas parecem transparecer ao se
tocar, não havendo relação do tipo em cima ou embaixo uma da outra, sendo o
contorno de ambas bastante visível (fig. 24d); a união, fazendo com que as duas
formas sejam unidas, perdendo parte de seu contorno, formando assim uma nova
forma com tamanho maior (fig. 24e); a subtração, na qual uma forma invisível cruza
a outra forma que é visível, fazendo com que uma porção da forma visível se torne
também invisível, dando a impressão de estar faltando um pedaço da forma visível.
A subtração pode ser considerada a superposição de uma forma negativa em uma
positiva (fig. 24f); a interseção, semelhante à interpenetração, porém somente o
58
local onde as duas formas se cruzam é visível, formando assim uma nova forma com
tamanho menor (fig. 24g); a coincidência, onde a aproximação total das duas formas
coincidem tornando-se assim uma só forma, ou seja, um só circulo (fig. 24h).
A textura, por sua vez, pode ser criada com pontos, linhas curvas e
alongadas, ou qualquer tipo de combinação entre diferentes elementos. As texturas
em geral representam variações visuais aos planos e conferem características a
forma do desenho como, por exemplo, no contraste entre claro e escuro
estabelecendo volume para o mesmo, representado na figura 40.
As formas naturais são figurativas cujo tema aborda algo que se encontre na
natureza, incluindo organismos vivos e objetos inanimados existentes na terra, na
água ou no ar. As formas naturais são outro tipo de classificação para as formas
figurativas, como representado na figura 42.
No caso das formas feitas pelo homem, são formas figurativas obtidas através
de objetos e ambientes criados pelo homem, representados por mobiliários,
máquinas, ferramentas, produtos, entre outras possibilidades, como ilustrada na
figura 43.
forma dos objetos e desenhos através dos elementos visuais que neles se
encontram.
tons e as tiras de taquara são trançadas no sentido vertical e horizontal. O cesto tem
um formato arredondado com a tampa trançada com o mesmo material. As tiras de
taquara receberam acabamento sendo lixadas e alisadas dando melhor aparência
ao produto. Os trançados trabalhados neste cesto estão organizados de forma
simétrica, posicionando as tiras do material em traços bem ordenados. A borda
superior do cesto tem um trançado em forma de costura para evitar o aparecimento
das pontas das tiras de taquara. O tipo de material utilizado para a fabricação deste
produto é Taquara Mansa. Seu tamanho é cerca de um metro de altura e um
diâmetro de cinqüenta centímetros.
Com relação à figura 48 o cesto foi fabricado por Kaingang da metade Kainru,
sendo denominado Kre Ror. Tem formato pequeno com cerca de quarenta
centímetros de altura e um diâmetro com pouco mais de vinte centímetros. A
fabricação é de forma artesanal, com a utilização de tiras de taquara também
tingidas com tinta para tecido, como na observação anterior. A sua tampa tem um
trançado de forma mais separada, possibilitando a presença de pequenos furos para
uma melhor ventilação do que pretende transportar. A borda da sua tampa é
revestida com uma tira mais larga da mesma taquara do seu trançado, para dar
melhor acabamento. O trançado é de tiras pequenas tanto no sentido vertical como
no horizontal, tendo um grafismo representando formas quadrangulares e bem
próximas. As formas de grafismos presentes neste cesto apresentam-se bem
ordenadas, seguindo uma seqüência cuidadosamente elaborada com distâncias
iguais entre todos os grafismos. Utilizam um cordão para firmar a borda da tampa no
72
tecido, dando uma aparência colorida ao produto, sendo trançadas de forma que os
grafismos são quadrangulares e formados pelas linhas verticais. O trançado tem as
tiras verticais e horizontais da mesma espessura e bem próximas umas das outras.
O formato da cesta é retangular tendo em sua borda superior uma tira mais larga e
mais grossa de taquara amarrada e costurada com cordão e fita colorida para dar
melhor sustentação ao trançado e também para acabamento. Esta cesta possui uma
alça de taquara com a mesma largura e espessura da tira utilizada em sua borda.
Suas medidas são cerca de vinte centímetros de altura, cinqüenta centímetros de
comprimento e trinta centímetros de largura, tendo a alça uma altura de cinqüenta
centímetros. O material utilizado é Taquara Mansa lixada e alisada.
Outro tipo de cesta fabricada pelos índios Kaingangs está ilustrada na figura
52. Utiliza um tipo de cipó fino que é entrelaçado e trançado próximo um do outro,
mas com um pequeno espaço entre eles. Este trançado parte da base da cesta e
sobe até as abas laterais que têm cerca de pouco mais de dez centímetros de altura.
Esta cesta possui uma alça também de cipó mais grosso e tem cerca de trinta
centímetros de altura. O comprimento desta cesta é cerca de quarenta centímetros e
sua largura é de vinte centímetros. No trançado desta cesta é utilizada linha reta,
embora a sua base disponha de linhas curvas representando sua forma oval. O
material utilizado é o cipó São João, que por sua vez recebe um acabamento em
verniz aplicado em toda a cesta, incluindo a alça.
75
desenhos para transmitir e resgatar a cultura deste povo indígena, que está sendo
aos poucos esquecida.
78
3 CONJUNTO DE JÓIAS
3.1 Preparação
seja, à junção de diferentes idéias e estilos para a criação de algo novo com visual
único e agradável, sempre com o espírito de arriscar e apostar em algo que prenda
a atenção do público.
No caso da joalheira não é muito diferente, sendo que as tendências atuais
estão cada vez mais coloridas, usando e abusando de diferentes materiais, metais e
pedras. Segundo informações fornecidas pelo IBGM (Instituto Brasileiro de Gemas e
Metais Preciosos), primeiramente as tendências direcionam-se para formas
inspiradas na natureza, com a finalidade de incentivar o cultivo e cuidado com o
meio ambiente. Sendo assim, formas envolvendo folhas, flores e animais, utilizando
materiais como ouro amarelo e branco, prata, entre outros, começam a se fazer
presentes nas vitrines de joalherias. As pedras também fazem parte destas peças
com formas e traços ousados, bem como aparência surpreendente e agradável,
como mostra a figura 55.
A figura masculina está cada vez mais presente no mundo das jóias deixando
os preconceitos e adquirindo personalidade e estilo próprios através das peças
criadas. Na atualidade não existe somente a diferença entre homens e mulheres,
mas também entre homens e homens, fazendo com que queiram ter seu estilo único
e pessoal. Traços e formas masculinas misturando o ouro com outros materiais
discretos como o titânio, por exemplo, bem como alguns tipos de pedras, fazem
81
● Prata
A prata, por sua vez, é um material nobre geralmente utilizado na confecção
de jóias, mas também em moedas e objetos de decoração. Juntamente com o ouro,
vem sendo usada como objeto de adorno por homens e mulheres desde a
antiguidade.
Na atualidade, a prata obtida industrialmente é, em sua maioria, impura com
cerca de um a dois por cento outros metais, como o cobre e o chumbo. A obtenção
deste material em sua forma pura só é possível através de sua fundição com
acréscimo de produtos químicos como cloreto de sódio, fazendo com que as
impurezas do metal sejam eliminadas resultando em prata pura.
A prata como matéria prima em seu estado natural é retirada de superfícies
rochosas, muitas vezes entre veios encontrados nestas superfícies. Este material é
extraído de minérios como a argentita (fig. 60a), encontrada em veios de baixa
temperatura, bromargirita (fig. 60b), cerargirita (fig. 60c), prousita (fig. 60d) e galena
(fig. 60e), também conhecida como sulfureto de chumbo.
a b c
d e
Figura 60 – Minérios de extração de prata
Fonte Site –www.portalsaofrancisco.com.br
83
O metal prata possui diferentes gradações que indicam o seu nível de pureza,
ou seja, a prata pura, também conhecida como prata fina, tem um teor de pureza
igual a 1000. Deste modo, é dificilmente utilizada neste estado na confecção de jóias
por ser um material muito maleável, tendo grande chance de sofrer arranhões e
machucados.
À medida que há a necessidade da obtenção de prata mais sólida e
resistente, o material é fundido com uma pequena porcentagem de outros materiais
como o cobre. Este acréscimo de metal junto à prata é chamado de liga de metais,
tornando o material mais firme, com características adequadas para a fabricação de
jóias artesanais.
A liga mais usada com este metal é conhecida como prata 950, contendo 5%
de liga de cobre, apresentando assim alto brilho e ótimo grau de dureza. Outra liga é
a prata 925, que contém 7,5% de liga de cobre. A prata 900 é o metal de menor
valor utilizado somente para banhar outros metais como objetos de latão, cobre e
ferro. No caso da fabricação de jóias, tanto artesanal quanto industrial, a prata
empregada é a 950, proporcionando ao produto uma aparência agradável e uma
resistência satisfatória, como mostra a figura 61.
● Ouro
Outro material bastante empregado na criação de jóias é o ouro, tanto para
confecções artesanais quanto industriais. Há diferentes tipos de ouro, dentre eles os
84
mais utilizados são o ouro amarelo e o ouro branco, materiais com qualidades e
valores muito elevados.
O ouro amarelo, por ser encontrado de forma relativamente pura na natureza
e por suas propriedades físicas, é um material muito utilizado desde a antiguidade
nos ramos de joalherias, ourivesaria e decorações. Nos dias atuais a procura por
este metal preciso vem aumentando a cada ano.
Em temperatura ambiente encontra-se em estado sólido, porém a pureza de
seu material o torna muito maleável e mole, sendo necessária a sua mistura com
prata ou cobre, tornando-o mais resistente na sua confecção e na obtenção do
produto finalizado.
As ligas de ouro são classificadas por quilates que representam a
porcentagem de ouro com relação ao metal misturado. No seu estado puro a sua
classificação é de ouro 24 quilates, o qual pode se tornar ouro 22 quilates, 18
quilates, 12 quilates e até mesmo ouro 10 quilates. Geralmente se utiliza ouro 18
quilates, ou seja, 24 gramas de material contém 18 gramas de ouro, o que equivale
a 75% de ouro puro. No caso das ligas com menor teor de ouro (12 quilates e 10
quilates), são chamados de ouro baixo, enquanto em seu estado puro é denominado
ouro fino.
O alto valor deste metal se dá devido a sua raridade e dificuldade de
obtenção, sendo encontrado em rochas auríferas obtendo-se um teor de minério de
6 a 12 gramas de ouro puro por tonelada de terra e rocha. Outro tipo de extração de
ouro é nas minas de depósito como em vales, encostas de montanhas e leitos dos
rios, apesar de ser uma forma mais fácil de obtenção, o seu teor de minério é bem
mais baixo. Atualmente é rara a obtenção de ouro através dos depósitos, o qual
geralmente é extraído das rochas em forma de pepitas, como mostra a figura 62.
● Titânio
Outro material que vem sendo muito utilizado na fabricação de jóias é o
titânio, com a possibilidade de introduzir cores às peças criadas. Não é encontrado
de forma isolada, mas sim ligado a outros metais, bem como substâncias,
encontrando-se dessa forma distribuído na natureza. A sua extração se dá através
de minérios como o rutilo (fig. 65a), a anatase (fig. 65b) e a ilmenite (fig. 65c), entre
outros.
a b c
Figura 65 – Minério de extração de titânio
Fonte Site – www.webmineral.com/specimens/index.php
87
● Ametista
A ametista é considerada a pedra mais valiosa produzida no Rio Grande do
Sul. A principal característica deste quartzo está na sua cor roxa, que se diferencia
através de suas tonalidades que vai de um roxo claro até tons profundos. Apesar de
ser bastante produzida, somente 3% desta produção tem características adequadas
para lapidação. Mesmo assim é bem valorizada, fazendo com que o restante seja
comercializado para peças decorativas ou até mesmo para coleção. A pedra
ametista está representada na figura 68.
89
●Citrino
O citrino é um quartzo mais raro de se obter do que a ametista, porém o seu
valor é inferior, devido à simplicidade de sua cor, que varia em tonalidades de
amarelo a laranja e raramente vermelho. Neste caso a pedra tem um valor mais
elevado. Além de ser raro o citrino no Rio Grande do Sul, sua produção se dá
através do aquecimento da ametista, provocando uma oxidação no ferro existente
neste material, resultando na mudança de sua cor. Este processo só é realizado
quando a cor da ametista é consideravelmente fraca, tornando difícil a sua
comercialização no mercado. Na verdade, o que costumam chamar no comércio de
Topázio Rio Grande, nada mais é do que o citrino, ilustrado na figura 69.
● Ágata
A pedra ágata se caracteriza por ter cores de várias tonalidades apresentadas
de forma paralela através de linhas retas ou curvas. As suas variações de cores
90
apresentam-se entre cinza e cinza azulado, bem como em faixas branca, preta,
amarela, laranja, bege, vermelha e marrom. O fato de a ágata ser uma pedra porosa
e resistente a ácidos possibilita o processo de tingimento, caso a sua coloração não
seja agradável e atraente, surgindo assim à obtenção de ágatas com cores em
verde, rosa, roxa e azul. Esta atividade pode ser realizada a frio (processo bem mais
lento) ou por aquecimento, porém os dois processos levam dias para se obter um
bom resultado. O tingimento dessas pedras é realizado antes das mesmas
receberem o polimento, porque depois a sua porosidade é retirada dificultando e
penetração do corante. O processo de tingimento é utilizado em maior número no
exterior, onde mais de 50% das ágatas são de cores rejeitadas e 90% das
comercializadas são tingidas. No caso do Rio Grande do Sul, estas pedras são
consideradas as mais bonitas do mundo, resumindo para menos de 40% os casos
em que é necessário o tingimento, ressaltando que o fato de serem tingidas não
diminui o seu valor comercial. Esta atraente pedra gaúcha está demonstrada na
figura 70.
3.2 Elaboração
Brincos
94
Anéis
Pendentes
95
60
50
40
Este Modelo
30
Outros Modelos
20
10
60
50
40
Este Modelo
30
Outros Modelos
20
10
70
60
50
40 Este Modelo
30 Outros Modelos
20
10
0
Brincos
97
Anéis
Pendentes
Por serem peças criadas para serem confeccionadas em metal ouro branco e
tendo em vista seu elevado preço no comércio, o desenvolvimento do Mocape deste
conjunto de jóias, tratando-se de modelos de baixa fidelidade, envolveu um material
semelhante. O metal utilizado foi a prata, sendo um produto de menor valor e tendo
as características físicas semelhantes a do ouro branco como a cor clara, a dureza
do material e o brilho das peças prontas. As pedras utilizadas na confecção foram às
mesmas que serão empregadas nas peças reais feitas com ouro branco, ou seja, a
ametista e o citrino. As peças e/ou modelos de mocapes confeccionados foram
fotografados e estão representados a seguir nas figuras 71, 72 e 73.
Brincos
Anel
Pendente
Os testes realizados com os mocapes obtidos servem para ter certeza de que
o produto final irá responder as expectativas do projeto desenvolvido. Através desta
atividade podem ser analisados aspectos importantes com relação ao
funcionamento do que se pretende desenvolver, bem como pequenos ajustes dos
mesmos para um melhor desempenho.
Com relação a este conjunto de jóias, os testes foram direcionados
primeiramente ao conforto na usabilidade. Apesar de apresentarem espessura
necessária para sua confecção, as peças, principalmente os brincos, foram
cuidadosamente desenvolvidos para não tornarem-se pesados e acabar gerando
uma sensação de desconforto ao usuário. O teste do conforto no uso das jóias pôde
100
A resistência das peças também foi testada durante seu uso. Tratando-se de
um material resistente obteve sucesso em seu resultado tanto com relação a união
das peças de metal, realizada com utilização de solda apropriada para jóias, como
na fixação das pedras. As pequenas argolas confeccionadas para a montagem do
par de brincos também receberam solda nas suas emendas, tornando as peças
bastante resistentes.
Finalizando os testes, a beleza e aparência das peças em conjunto
apresentaram-se de forma satisfatória, obtendo sucesso em relação a união dos
materiais utilizados na confecção, sendo eles o ouro branco (metal precioso de cor
101
3.3 Finalização
CONCLUSÃO
essa perspectiva, optou-se por criar jóias a partir da cultura indígena como forma de
inovação e diferencial, características procuradas nas jóias modernas.
Os metais nobres, ouro e prata, pelo seu elevado custo não estão ao alcance
da maioria dos consumidores. Entretanto, percebeu-se que é possível a produção de
jóias de grande beleza e qualidade usando outros metais preciosos mais baratos
como a prata (quanto mais pura maior valor confere à peça), o titânio e grande
variedade de pedras preciosas. (O estado do Rio Grande do Sul é um dos maiores
produtores de pedras preciosas do Brasil). Apesar da existência de metais preciosos
de menor valor, o conjunto de jóias aqui proposto foi elaborado com ouro branco e
pedras preciosas ametista e citrino, provenientes do nosso estado. A elaboração, a
criação e a confecção destas peças foram totalmente manual e artesanal, seguindo
a mesma forma de produção dos objetos indígenas nos quais foram baseados, ou
seja, as cestaria Kaingang confeccionadas pelos próprios membros desta cultura.
Como conseqüência do estudo monográfico aqui exposto foi possível atingir o
objetivo proposto: criar um conjunto de jóias inspirado na cultura Kaingang
procurando valorizar a utilização de estudos em Etnodesign e, ao mesmo tempo,
modestamente contribuir para o resgate da cultura e identidade do povo Kaingang.
112
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECKER, Ítala Irene Basile. O índio Kaingang no Rio Grande do Sul. Editora
Unisinos, Vale do Rio dos Sinos, 1995.
DENIS, Rafael Cardoso. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Edgard
Blücher, 2000.
POMPEI, Márcia. Titânio: Essa novidade que chega para colorir. 2004.
Disponível em: <http://www.joia-e-arte.com.br/titanio1.htm>. Acesso em: 8 de maio
de 2010.