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<JM Entrevista/ Jorge Miranda )rh>^ *n„^oJS

João Vitor Strauss


ituição não dá nm SAO PAULO — Casado com
uma colega de profissão e já
quatro décadas da
Salazarista.
ditadura ministração pública, detalhada-
mente tratada na Constituição por-
Jornal do Brasil — O que pode notificado pelo mais velho de Convidado pelo Instituto Pi- tuguesa, a ponto de se estabelecer
dizer uma Constituição a respeito seus quatro filhos, de apenas 15 menta Bueno de Estudos e Pes- que deixasse de ser burocrática?
de um país? anos, da intenção de seguir a quisas de Direito Constitucio- Miranda — A situação é ambiva-
Jorge Miranda — Eu diria que um mesma trilha dos pais, o consti- nal, criado por especialistas da lente. Há de tudo. Há funcionários
país é tanto mais avançado quanto tucionalista português Jorge USP, miranda participou em públicos que servem efetivamente ao
mais consciência tiver da importân- Miranda, nestes dias em visita São Paulo de uma congestiona- Estado e também há o servidor que
cia de sua Constituição, quanto mais ao Brasil, inclui-se no restrito da maratona de palestras e de- entrou por nepotismo ou por compa-
amor tiver à sua Constituição. círculo de estudiosos que tive- bates. Esta entrevista a João drismo partidário. Mas o apoio fami-
JB — Qualquer que seja ela? ram a rara oportunidade de Vitor Strauss, chefe de redação liar diminuiu. Hoje é mais importan-
Miranda — Não. Deve constar, colocar em prática algumas de da sucursal paulista do JOR- te o nepotismo a nível partidário e
naturalmente, que a Constituição suas próprias teorias. NAL DO BRASIL, começou nu- não a nível de relações de parentes-
mereça esse amor. Acumulando hoje, aos 47 ma pequena sala da Fundação co. Há também um desfasamento
JB — Onde isso se verifica? anos, os títulos de professor ca- Getúlio Vargas, (onde acabara entre o setor público (administração
Miranda — A experiência mostra tedrático de direito constitucio- de fazer uma conferência, pros- direta) e o setor empresarial do Esta-
que os países que são economica- nal em duas respeitadas uni- seguiu no interior de um auto- do, fortíssimo em Portugal. Por
mente, culturalmente, politicamente versidades portuguesas — a de móvel pelo caótico trânsito da exemplo, o gestor de bancos do Esta-
mais estáveis e avançados, são tam- Lisboa e a Católica —, aos 35 cidade e terminou no saguão do do ganhava há pouco tempo mais do
bém aqueles em que a Constituição Miranda participou como depu- Shopping Center Eldorado, on- que o primeiro-ministro. No setor
desempenha um papel mais forte e tado constituinte da elaboração de o aguardava para jantar o público empresarial há também o
em que ela é entendida e compreen- da Carta que atualmente vigo- jurista Manoel Gonçalves Fer- nepotismo partidário: em vez de os
dida por seus cidadãos. ra em Portugal, democratica- reira Filho, presidente do Insti- órgãos de gestão serem preenchidos
JB — A propósito, essas Consti- mente votada em 1976 após as tuto Pimenta Bueno. por gente competente, muitas vezes
tuições bem-amadas tratam dos são preenchidos por ex-dirigentes
Direitos chamados direitos sociais, como se São Paulo — José Carlos Brasil partidários que vão tirar dali suas
Nas constitui- está fazendo detalhadamente na fu- aposentadorias.
ções dos tura Carta brasileira? JB — Poderia citar exemplos de
países Miranda — Observa-se um fenó- excessos de regulamentação conti- Frustração
meno curioso. Esses direitos não dos na Constituição portuguesa?
subdesen- aparecem nas constituições dos paí- Miranda — Os principais funda- É necessário
volvidos, ou ses mais desenvolvidos, em que os mentos económicos da Constituição desmitificar a
onde haja direitos sociais estão garantidos na portuguesa são abertos, mas há algu- Constitui-
grande prática. A Constituição holandesa é mas normas bastante fechadas. Uma ção, para que
divisão ou recente, de 1983, mas não tem direi- delas é a que diz que as nacionaliza- não se espere
contraste tos sociais. A sueca é um pouco ante- ções de empresas feitas entre 1974 e demais ou
social, rior e não tem direitos sociais. A 1976, durante a revolução, são irre- náo se
aparecem canadense, de 1982, é um carta de versíveis, não podem ser revogadas.
direitos e liberdades, mas não de descarregue
sempre Essa norma não faz sentido. E algo
direitos sociais. Nunca se fez emen- contrario às leis económicas. E só sobre ela
direitos da, igualmente, na Constituição agora ela vai ser modificada com a todas as
sociais. americana para acrescentar direitos revisão constituicional que teremos frustrações.
sociais. pela frente.
JB — E nos países subdesenvol- JB — Encontra exageros no que
vidos? se votou até agora da futura Consti-
Miranda — Em todos os países tuição brasileira?
subdesenvolvidos — ou onde há Miranda — Não posso dizer que
grande divisão ou contraste social e saiba de tudo, mas parece-me que
económico — aparecem sempre di- em alguns casos estará havendo exa-
reitos sociais. A Constituição mexi- gero em matéria de direito.
cana, em vigor desde 1917, é um JB — Como avalia, por exemplo,
exemplo. É o caso da francesa de a inclusão da licença-paternidade -
1946, cujo preâmbulo continua em no texto constitucional?
vigor na Constituição de 1958. É o Miranda — Isso é exagero. Na
caso da italiana de 1947. O da portu- Constituição portuguesa temos uma
guesa de 1976. O da espanhola de norma obrigando o Estado e a socie-
1978. O da peruana. O da equatoria- dade à proteção da maternidade. Em
na. Sem falar dos países africanos, princípio, concordo. Não concordo
que pertencem a uma civilização di- com a estipulação do prazo. Isso não
ferente da nossa. é matéria para a Constituição. Colo-
JB — O que explicaria esses dois car esse prazo no mesmo nível do
estilos? mandato do presidente da Repúbli-
Miranda — Nas constituições dos ca é desconhecer o que é uma Consti-
países desenvolvidos não tem muito tuição, i
sentido prometer essas coisas, por- JB — E quando ao habeas-data,
que elas já estão na consciência jurí- que possibilitará ao cidadão tomar Omissão
dica da comunidade. Ao contrário, conhecimento das informações so- O mandado
em países socialmente menos avan- bre sua pessoa arquivadas pelo Es- de injunção é
çados é importante prometer. É uma tado?
forma de se encontrar certo equilí- uma
Miranda — Parece-me redundan- originalida-
Neutralidade brio social, evitar as rupturas e ten- te em face de outras normas que já
As constitui- sões. estão na Constituição, que decorrem de. Em
ções liberais JB — Não seria temerário estabe- até do sistema constitucional de Portugal
do século lecer direitos como, por exemplo, princípios: o mandado de segurança, temos a
habitação, saúde ou instrução, que o Miranda — É indispensável que a pois surgiu na sequência dos dois por exemplo. figura da
XIX queriam Estado não tem condições materiais linguagem constitucional seja clara, anos da Revolução dos Cravos. O
ser neutras JB — Como avalia o mandado de inconstitu-
de honrar? para que o cidadão comum não se Brasil não teve uma revolução. Mas injunção, que permitirá exigir a re- cionalidade
em economia, Miranda — Quem promete uma perca. Ela não deve ser objeto de a transição democrática aqui inicia- gulamentação, por lei ordinária, de
mas não estudo de advogados e juristas, co- por omissão.
sociedade ideal para amanhã é um da em 1985 não deixa de ter alguma normas constitucionais em aberto? É
deixaram demagogo. Mas em termos pruden- mo um Código Civil com 2 mil ou 3 aproximação com a experiência Miranda — Eu não conheço bem
tes a consagração dos direitos so- mil artigos. Deve ser um guia cívico constitucional portuguesa. A Consti- interessante,
tudo para a a figura. Não a conheço no direito mas
legislação ciais na Constituição pode ter um do povo, que lhe permita conhecer tuinte portuguesa teve menos liber- constitucional internacional. É novo.
efeito propulsor de modificações. Em seus direitos e deveres. dade do que a brasileira, justamente É uma originalidade e eventualmen- complicado.
ordinária.
Portugal, muitos dos direitos sociais JB — A Constituição brasileira porque algumas decisões fundamen- te uma redundância, porque a mes-
que estão na Constituição estão lon- em elaboração parece-lhe clara? tais já estavam tomadas pela Revo- ma Constituição já possibilita a sa-
ge de serem conquistados, mas ou- Miranda — Sem qualquer crítica lução. Isso explica também que a tisfação do interesse em jogo pelo
tros estão muito mais perto, como o ou intromissão nos assuntos do Bra- Constituição portuguesa tenha sido direito de açâo em caso de inconsti-
direito ao ensino. sil, eu diria que causa uma certa feita num período relativamente tucionalidade por omissão.
JB — Como avalia a tese segundo impressão notar que o texto é muito curto — dez meses, incluídos dois JB — E quanto a esta nova fi-
a qual as Constituições deveriam pesado, muito longo. Não é enxuto. É meses ocupados com a definição das gura?
restringir-se a definir um sistema de muito carregado. Aparecem artigos regras do regimento parlampntar. Miranda — Nós em Portugal te-
governo, deixando tudo o mais, co- com não sei quantos itens... Mas não há dúvida de que tar )ém mos a figura da inconstitucionalida-
mo os direitos sociais e a ordem JB — E quanto à Constituição no Brasil, como em Portugal, se deu de por omissão. É interesse. Falta
económica, por conta da legislação portuguesa? um salto de uma ordem constitucio- saber como é que a lei vai regula-
ordinária? Miranda — É um texto muito nal para outra. mentá-la. A grande dificuldade está
Miranda — Parece-me que isso longo. Compreende um preâmbulo e JB — Em que medida tal mudan- em que um Tribunal não pode fisica-
não pôde ser assim nem mesmo nas 300 artigos. É uma das Constituições ça correspondeu às expectativas em mente obrigar o legislativo a fazer
Constituições liberais do Século mais longas do mundo. Maior do que Portugal? isso, ou seja, aprovar uma lei.
XIX: todas elas tinham normas so- a portuguesa, talvez só a indiana e a Miranda — A nova Constituição JB — O que recomendaria da
bre o direito de greve. Para os libe- peruana. Entretanto, seus artigos em representou um pouco, por vir em Constituição portuguesa aos consti-
rais desse século, uma constituição geral são bastante sintéticos, com sequência a uma revolução, a ideia tuintes brasileiros?
não deveria ocupar-se da economia. regras bastante genéricas, tentando de um novo começo. É um pouco a Miranda — Recomendaria viva-
Deveria ser economicamente neutra. tanto quanto possível serem claros e ideia de que uma nova era vai se mente que, em matéria de direitos e
A experiência mostra que por trás enxutos. abrir. Isso se liga ao fenómeno tam- liberdades fundamentais, consignas-
dessa tese não deixa de estar presen- JB — Entre Portugal e o Brasil há bém presente agora no Brasil, de sem as regras que constam do artigo
te uma maneira determinada e nada influências constitucionais? uma certa mitologia em volta da 18 da Constituição portuguesa e que
neutra de encarar a vida económica. Miranda — As duas primeiras Constituição. Em Portugal criou-se tentam garantir mais apertadamen-
Por isso é que a partir das constitui- Autonomia
Constituições portuguesas têm uma nos primeiros anos de vigência da te as liberdades dos cidadãos. Parece
ções mexicana de 1917 e alemã de relação umbilical com o Brasil. A Constituição aquilo que eu chamo de que a Constituição portuguesa nisso Em Portugal
1919 todas as cartas têm normas primeira, votada em 22 de setembro ilusão constitucional. vai muito mais longe do que o proje- estabele-
Clareza sobre matérias económicas. de 1822, incluía o Brasil como reino JB — Em que se iludiram os to constitucional brasileiro. ceu-se que as
Ao contrário JB — Uma Constituição deveria unido, sem que se soubesse, pela portugueses? JB — E que diz o artigo 18? Forças
de Napoleão, ser, então, um programa econó- dificuldade das comunicações, que a Miranda — Ilusão constitucional Miranda — Diz que os direitos, Armadas
que queria mico? independência do Brasil já fora de- e a expectativa de que alguns proble- liberdades e garantias vinculam as podem
uma Miranda — Não. Outra coisa é clarada. A segunda Constituição mas do país pode em ser facilmente entidades públicas e privadas. Diz colaborar
constituição dizer isso. Há uma grande diferença portuguesa foi feita no Brasil, no Rio resolvidos através das normas cons- que as restrições aos direitos, liber- excepcional-
entre as constituições do Estado So- de Janeiro, em apenas sete dias, por titucionais. Ou, no sentido inverso, dades e garantias são excepcionais.
breve e cial de Direito e as constituições dos Dom Pedro I, que foi o Dom Pedro IV descarregar sobre a Constituição to- Só podem ser feitas na base da lei. mente no
obscura, digo Estados marxistas-leninistas. Nestes de Portugal. Ele simplesmente co- das as frustrações, todos os males do Náo podem ser retroativas. estado de
que ela pode já fica definido o rumo do socialismo, piou, adaptando, a constituição bra- país. Devido a essa mitologia consti- JB — E quanto à norma constitu- sítio. Não
ser longa, do comunismo: é o planejamento au- sileira de 1824. Foi outorgada por ele tucional não poucas forças políticas, cional já aprovada no Brasil, segun- podem ser
mas deve ser toritário, burocrático, centralizado e em 1826, deixou de vigorar algumas sindicatos, confederações profissio- do a qual as Forças Armadas são um poder
clara. imperativo da economia. Ao contrá- vezes, mas voltou a vigorar ininter- nais têm vindo dizer que os males do responsáveis não só pela segurança autónomo.
rio, a Constituição de um estado ruptamente de 1842 a até 1910. Para país resultam da Constituição. externa, como também pela in-
social democrático não é um progra- um país latino, pode-se considerar JB — Como prevenir-se contra a terna?
ma económico. Contém, sim, normas um período extremamente longo. ilusão? Miranda — Eu entendo que as
sobre direitos e deveres económicos JB — E quanto às Constituições Miranda — No que diz respeito a Forças Armadas só são garantidoras
dos cidadãos, dos grupos, formas de posteriores? mim tentei, desde o princípio, invo- da segurança externa. Nós também
intervenção do Estado para a con- Miranda — Tivemos a terceira cando a minha capacidade de depu- em Portugal tivemos esse debate, e
versão de desigualdades, para a pro- Constituição em 1838. Foi efémera. A tado constituinte, chamar a atenção ficou claro que a função das Forças
teção dos mais fracos, para a prote- quarta foi a Constituição republica- para a necessidade de se desmistifi- Armadas é a garantia da indepen-
ção do consumidor, para a proteção na de 1911. Sua fonte principal foi a car a Constituição. Não se deve espe- dência nacional. Podem ser chama-
da ecologia. Constituição republicana brasileira rar dela nem o paraíso nem o inferno. das excepcionalmente a colaborar
JB — Até por consagrar direitos de 1891. A quinta foi a Constituição Seria maravilhoso que a Constitui- em caso de Estado de Sítio; podem
sociais e regular a ordem económi- do regime de José de Oliveira Sala- ção resolvesse os problemas do país. ser chamadas a colaborar em fun-
ca, a nova Constituição que se ela- zar, de 1933, uma das fontes de inspi- Infelizmente, apesar de algumas nor- ções de caráter económico. Mas su-
bora em Brasília é criticada como ração da Constituição outorgada no mas constitucionais — precisas bordinadas ao poder civil. Não po-
prolixa. Uma Constituição deve ser Brasil por Getúlio Vargas em 1937: a umas, vaga outras —, mas apontan- dem ser um poder autónomo.
breve? Constituição do Estado Novo Portu- do para metas generosas, o país con- JB — Com dispositivos constitu-
Miranda — Napoleão Bonaparte, guês tem muita parecência com a do tinua a ter muitos de seus proble- cionais dessa natureza algum país
o imperador francês, dizia que uma Estado Novo brasileiro. A Constitui- mas. A verdade é que se tem verifica- poderia ser recebido como parceiro
Constituição deveria ser breve e... ção agora em vigor é a de 1976. do que a situação do país é conse- de nações civilizadas, a exemplo dos
obscura. Eu digo que uma Constitui- JB — Algum paralelo a registrar quência não da Constituição, mas da países da Comunidade Económica
ção pode ser longa, mas deve ser com o Brasil neste caso? conjuntura económica. Europeia, da qual faz parte Por-
clara. Miranda — A Constituição portu- JB — Que resultados se obtive- tugal?
JB — Por quê? guesa de 1976 é pós-revolucionária, ram, por exemplo, no tocante à ad- Miranda — Bom... eh... Não sei.

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