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Noelio Dantaslé Spinola

Carolina de Andrade Spinola


Denise de Andrade Spinola

TEORIA DO
PROJETAMENTO

PARA AS PEQUENAS EMPRESAS


INDUSTRIAIS, COMERCIAIS E DE
SERVIÇOS

Salvador
Editora Unifacs
2013

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Copyright © 2013 by Noelio Dantaslé Spinola

Editoração de texto e projeto gráfico


Eliana Moreira

Capa
Ruy Tadeu

Revisão
Vera Lúcia Nascimento Britto

Produção gráfica e impressão


Press Color Gráficos Especializados Ltda.

Editora da Unifacs
Alameda das Espatódias nº 915 – Caminho das Arvores
CEP 41820-460 – Salvador – Bahia – Tel. (71) 3273-8515
E-mail: editora@unifacs.br
www.unifacs.br

Ficha Catalográfica elaborada pelo


Sistema de Bibliotecas da Universidade Salvador – Unifacs

Spinola, Noelio Dantaslé, 1941 -

TEORIA DO PROJETAMENTO - PARA AS PEQUENAS


EMPRESAS INDUSTRIAIS, COMERCIAIS E DE SERVIÇOS

Noelio Dantaslé Spinola; Carolina de Andrade Spinola; Denise


Andrade Spinola – Salvador: Editora da Unifacs, 2013.

1. Projeto Industrial. 2. Projeto de Serviços. 3. Economia da


Empresa. 4.Economia dos Serviços. I. Título

ISBN: CDU 658.512.2

[ 2013]
Este livro não pode ser reproduzido no todo ou em parte, por qualquer meio, sem autorização
de: Noelio Dantaslé Spinola
Rua Amazonas, 1335 – Apto.1001 CEP 41830-380 Salvador – Bahia – Brasil
Telfax: 71-3344 1650 e-mail: dantasle@uol.com.br

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Dedico este livro, in memoriam: ao engenheiro
JULIO MELNICK, das Nações Unidas – Ilpes,
precursor da elaboração de projetos na América
Latina, em cuja obra seminal – Manual de
Proyectos de Desarrollo Económico – me ensinou
a teoria; ao economista ZACARIAS DE SÁ
CARVALHO e ao engenheiro LUÍS CARLOS
LEME da SPL – Serviços de Planejamento Ltda.
que me encaminharam na prática. Estendo-a ao
filósofo ANTONIO FERREIRA PAIM com quem
aprendi a usar a Lógica e ao professor VICTOR
GRADIN que me abriu as portas da profissão de
Economista. Ao fazer isto homenageio também,
a todos os professores que batalham ingloria-
mente nas salas de aula, buscando formar o
capital humano tão indispensável para o
desenvolvimento deste país.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Fac-símile da Nota Preliminar do Manual de Proyectos de desarrollo


económio 000
Figura 2 – Papel dos serviços empresariais na economia 000
Figura 3 – Evolução dos intangívei no ativo total das empresas 000
Figura 4 – Distribuição percentual das empresas prestadoras de serviços
não financeiros, por atividades – Brasil – 2010 000
Figura 5 – Distribuição percentual das empresas prestadoras de serviços
não financeiros, por outras atividades de serviços prestados
principalmente às famílias e variáveis selecionadas – Brasil – 2010 000
Figura 6 – Brasil: distribuição do total das empresas de serviços de tecnologia
da informação, 2009 000
Figura 7 – Categoria dos serviços segundo o volume da demanda 000
Figura 8 – Vida média de fábricas completas 000
Figura 9 – As cinco forças que determinam a competitividade das empresas 000
Figura 10 – Análise da concorrência 000
Figura 11 – Elasticidade preços da demanda (procura) 000
Figura 12 – Caracerísticas e efeitos da elasticidade da demanda 000
Figura 13 – Elasticidade da procura de alguns bens 000
Figrua 14 – Classificação dos bens de acordo com a elasticidade-renda 000
Figura 15 – Classificação dos bens de acordo com a elasticidade cruzada 000
Figura 16 – Produção do bem Alfa. 1994/1999, Brasil (em 1.000 t) 000
Figura 17 – Demanda do bem Alfa (1992/1999). Brasil (em 1.000 t) 000
Figura 18 – Demanda do bem Beta (1994/1999). Brasil (em 1.000 t) 000
Figura 19 – Diagrama de dispersão 000
Figura 20 – Tamanho econômico da empresa 000
Figura 21 – Manufaturas classificadas por sistemas de organização 000
Figura 22 – Condicionantes do tamanho 000
Figura 23 – Símbolos tradicionais de um fluxograma 000
Figura 24 – Símbolos modernos de m fluxograma 000
Figura 25 – Fluxograma descritivo: um serviço de entrega 000
Figura 26 – Fluxograma descritivo: produção de blocos cerâmicos 000
Figura 27 – Fluxograma vertical: fabricação de blocos cerâmicos 000
Figura 28 – Diagrama de blocos: serviço de tratamento de efluentes líquidos 000
Figura 29 – Modelo de fila única 000
Figura 30 – Modelo de fila múlipla 000
Figura 31 – Tipos de layout linear 000

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 32 – Layout circular 000


Figura 33 – Layout funcional 000
Figura 34 – Tipos e fontes de poluição 000
Figura 35 – Insumo x Produto 000
Figura 36 – Materiais de oferta permanente 000
Figura 37 – Materiais de oferta cíclica 000
Figura 38 – Fatores locacionais para ramos industriais selecionados 000
Figura 39 – Condicionantes dos serviços 000
Figura 40 – Orientação locacional de serviços 000
Figura 41 – As funções “bid rent” e o uso do solo na cidade monocêntrica 000
Figura 42 – Seleção de alternativas locacionais 000
Figura 43 – Planilha de avaliação 000
Figura 44 – Cronograma físico de execução 000
Figura 45 – Pert/Cpm 000
Figura 46 – Demanda de Energia – Resolução ANEEL 456 de 29/11/2000 000
Figura 47 – Estrutura dos custos 000
Figura 48 – Ponto de Equilíbrio – Conceito Econômico 000
Figura 49 – Ponto de Equilíbrio – Conceito Caixa 000

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Projetos de Investimentos. Brasil – SUDENE 1959/1999 000


Tabela 2 – Balanço Oferta X Procura – Região Y Produto Z – 2013/2022 000
Tabela 3 – Cálculo das Primeiras Diferenças 000
Tabela 4 – Cálculo das Primeiras e Segundas Diferenças 000
Tabela 5 – Produção do bem Alfa. 1994/1999, Brasil (em 1.000 t) 000
Tabela 6 – Demanda do bem Alfa. 1992/1999. Brasil (em 1.000 t) 000
Tabela 7 – Demanda do bem Beta 1994/1999. Brasil (em 1.000 t) 000
Tabela 8 – Produção do bem Gama 1994/1999. Bahia (em 1000 t) 000
Tabela 9 – Tratamento Estatístico da Tabela 8 000
Tabela 10 – Tratamento Estatístico da Tabela 9 000
Tabela 11 – Produção do bem Delta 1991/1999 – Sergipe (em 1.000 t) 000
Tabela 12 – Consumo aparente do bem Y 1995/1999. Brasil (em 106 t) 000
Tabela 13 – Tratamento Estatístico da Tabela 12 000
Tabela 14 – Tratamento Estatístico da Tabela 13 000
Tabela 15 – Ampliação e tratamento estatístico da Tabela 14 000
Tabela 16 – Oferta do PRODUTO Z: dados brutos e tratamento estatístico
1993/1999. Brasil (em 1.000 t) 000
Tabela 17 – Oferta do PRODUTO W: dados brutos e tratamento estatístico
1994/1999. Brasil (em 1.000 t) 000
Tabela 18 – Produção do bem Delta: dados reais e ajustados (Em 1.000 t) 000
Tabela 19 – Caso em que b é positivo 000
Tabela 20 – Caso em que b é negativo 000
Tabela 21 – População urbana e consumo de cimento em dez regiões
metropolitanas – Ano de 2013. Brasil 000
Tabela 22 – Tratamento estatístico da Tabela 21 000
Tabela 23 – Balanço de materiais, produção de calçados sociais masculinos 000
Tabela 24 – Indústria Simulada: regime de produção (*) 000
Tabela 25 – Cronograma de amortização de juros durante a execução do
projeto (R$) 000
Tabela 26 – Dimensionamento do capital de giro (*) 000
Tabela 27 – Cálculo alternativo do financiamento das vendas 000
Tabela 28 – Investimento total (Em R$) 000
Tabela 29 – Cronograma de desembolso (*) (Em R$) 000
Tabela 30 – Usos e fontes dos recursos (Em R$) 000
Tabela 31 – Depreciação linear 000
Tabela 32 – Depreciação acelerada 000

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 33 – Cálculo da Depreciação. Valores Anuais em R$ 1,00 000


Tabela 34 – Cálculo dos Seguros. Valores Anuais em R$ 1,00 000
Tabela 35 – Cronograma de Desembolsos e de Amortização do Principal e Juros.
Valores em R$ 1,00 000
Tabela 36 – Estrutura de Custos e Despesas. Produção de 180.000 kg do produto
Alfa (Em R$ 1,00) 000
Tabela 37 – Resultados da empresa em regimes tributários alternativos 000
Tabela 38 – Determinação das capacidades de pagamento do projeto 000
Tabela 39 – Resultados do projeto e o seu fluxo de caixa (Valores em R$ 1,00) 000
Tabela 40 – Balanço de Divisas (1) – Em US$ Mil 000

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SUMÁRIO

UM PREFÁCIO A GUISA DE INRODUÇÃO 000

TITULO I – PLANEJAMENTO E PROJETOS 000


1.1 Do planejmento ao projetamento 000
1.2 Natureza dos projetos 000
1.3 Etapas do projetamento 000
1.4 Regras de procedimento técnico 000

TITULO II – OS SERVIÇOS 000


2.1 A Importância dos serviços 000
2.2 Conceito e caracterização de serviços 000

TITULO III – O ESTUDO ADMINISTRATIVO 000


3.1 A Estrutura administrativa 000
3.2 A Decisão de empreender e a caracterização do empreendimento 000
3.2.1 A decisão de empreender 000
3.2.2 Caracterização do empreendimento 000
3.3 Histórico Empresarial 000
3.4 Estrutura da Organização 000
3.5 Análise Patrimonial 000
3.6 Tópicos especiais 000

TÍTULO IV – O ESUDO DO MERCADO 000


4.1 Considerações gerais 000
4.2 As características do estudo do mercado no projeto 000
4.3 Horizonte Temporal do Planejamento 000
4.3.1 Horizonte Temporal do Planejamento nas atividades de serviços 000

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TEORIA DO PROJETAMENTO

4.4 O Estudo do Mercado dos produtos industriais 000


4.4.1 Características 000
4.4.2 O estudo do mercado de bens de consumo final 000
4.4.3 O estudo do mercado de produtos novos 000
4.4.4 O estudo do mercado dos bens intermediários 000
4.4.5 O estudo do mercado dos bens de capital 000
4.5 O estudo do mercado dos serviços 000
4.5.1 Peculiaridades 000
4.5.2 Caracerísticas dos serviços 000
4.5.3 Delimitação do Mercado 000
4.5.4 Análise do comportamento da procura 000
4.6 A elasticidade como um instrumento para análise do mercado dos bens
e dos serviços 000
4.7 Análise de Preços 000
4.8 Métodos usuais de estimativa da procura de bens e serviços 000
4.8.1 Métodos quantitativos de projeção 000
4.8.1.1 Ajustamento 000
4.8.1.2 Ajustamento pelo processo gráfico 000
4.8.1.3 Ajustamento pelo processo dos pontos escolhidos 000
4.8.1.4 Ajustamento pelo processo das médias 000
4.8.1.5 Ajustamento pelo processo dos mínimos quadrados 000
4.8.1.6 Análise de correlação 000
4.8.1.7 Amostragem 000
4.8.2 Métodos qualitativos de previsão 000
4.8.2.1 Cenário 000
4.8.2.2 Método Delphi 000
4.8.2.3 Painel de especialistas 000
4.8.2.4 Elaboração dos modelos de contextos futuros prováveis 000
4.8.2.5 Outros processos de previsão qualitativa 000
4.9 Tópico especial 000

TITULO V – O ESTUDO TÉCNICO 000


5.1 Introdução 000
5.2 O programa de produção, e o tamanho das empresas 000
5.3 O processo produtivo e a tecnologia 000
5.3.1 Descrição do processo, fluxograma e filas 000
5.3.2 Balanço de materiais 000
5.3.3 Regime de produção 000
5.3.4 Layout 000
5.3.5 Tecnologia 000
5.3.6 Segurança industrial 000
5.3.7 Proteção ao meio-ambiente 000

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5.4 Mobilização dos Fatores 000


5.4.1 Insumos 000
5.4.2 Estoques 000
5.4.3 Mão de obra 000
5.5 Estudos da Localização 000
5.5.1 Orientação locacional 000
5.5.2 Fatores locacionais 000
5.5.3 Localização dos serviços 000
5.6 Programa de Investimento 000
5.7 Cronograma de Execução 000
5.8 Tópico especial 000

TÍTULO VI – ESTUDO FINANCEIRO 000


6.1 Introdução 000
6.2 Definição do Capital de Giro 000
6.3 Capital de Giro nos Serviços 000
6.4 Determinação do Investimento Total 000
6.5 Cronograma de Desembolsos e Definição do Esquema de Fontes 000
6.6 Análise das Fontes dos Recursos 000
6.7 Tópico especial 000

TÍTULO VII – ESTUDO ECONÔMICO 000


7.1 Introdução 000
7.2 Montagem da Estrutura dos Custos 000
7.2.1 Custos segundo o enfoque econômico 000
7.2.2 Custos quanto à apropriação 000
7.2.3 Custos segundo o enfoque financeiro 000
7.2.4 Tratamento dos impostos no projeto 000
7.3 Análise dos resultados 000
7.4 Projeção dos resultados 000
7.5 Análise dos resultados 000
7.5.1 Análise Macroeconômica 000
7.5.2 Análise Microeconômica 000
7.5.3 Análise de Sensibilidade 000
7.6 Tópico especial 000
7.7 Conclusão do Projeto 000

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UM PREFÁCIO A GUISA DE INTRODUÇÃO

Este é o terceiro livro que escrevo sobre projetos agora dividindo a tarefa com
Carolina de Andrade Spinola, minha sucessora na disciplina dos cursos da Universi-
dade Salvador – Unifacs. Contei também com a preciosa colaboração de Denise de
Andrade Spinola que cuidou dos aspectos jurídicos relacionados às micro e peque-
nas empresas, segmento privilegiado pelo trabalho.
O motivo do êxito das versões anteriores, editadas nos anos de 1993 e 2000, já
esgotadas, deveu-se à simplicidade do estilo e à preocupação de ensinar a fazer um
projeto sem necessariamente descambar para uma manualização elementar. Duran-
te a minha vida acadêmica os livros de projetos que consultei, sem exceção, tratavam
teoricamente do assunto, mas não o explicavam ou exemplificavam. Nenhum dos
autores se preocupava com a carpintaria do projeto, o que resultava na impossibili-
dade de os leitores aplicarem, na prática, o que aprendiam. Foi, pois, com o objetivo
de sanar esta falha que escrevi o primeiro livro, o segundo e, este terceiro.
O novo livro traz atualizações relativas aos temas tratados com acréscimos que
se tornaram indispensáveis e uma abordagem específica dos projetos para o setor
dos serviços que constituem na atualidade práticas dominantes no cenário econômi-
co nacional e mundial.
Os projetos de modo geral, se dividem em títulos em que se explicitam os aspec-
tos administrativos e organizacionais da empresa que se pretende implantar, moder-
nizar ou ampliar; o estudo do mercado para os produtos ou serviços que se pretende
oferecer; o estudo dos aspectos técnicos inerentes ao processo produtivo; o financia-
mento dos investimentos programados e, por último, a demonstração da viabilidade
econômica sob os prismas micro e macroeconômico. Todos estão encadeados
logicamente e devem estar fundamentados nos princípios da consistência e solidez.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Neste livro inova-se com a inclusão de um título e capítulos em que se trata das
atividades do setor de serviços, da legislação das micro e pequenas empresas, das
normas para a constituição de empresas e dos mecanismos de financiamento dispo-
níveis no país.
O estudo relativo à administração do empreendimento que se implanta, mo-
derniza ou amplia, ocupa, normalmente, o primeiro lugar do projeto. Constitui a
caracterização do empreendimento, fornece informações básicas sobre o grupo em-
preendedor, define a estrutura organizacional e suas diretrizes de política. Nos pro-
jetos de implantação, o estudo assume uma condição de declaração de propósitos (já
que o empreendimento ainda não existe), constitui uma peça do planejamento glo-
bal da nova empresa. Nos projetos de modernização e ampliação, vai mais além,
constitui um demonstrativo da estrutura da organização, promovendo uma análise
administrativa da situação atual, de sorte a fundamentar as novas inversões progra-
madas.
Na prática, quando dos procedimentos de elaboração dos projetos de implan-
tação, o administrativo deve ser o último dos estudos a ser elaborado para que possa
o planejamento da estrutura organizacional se fazer compatível com o porte, a di-
mensão e o grau de complexidade do empreendimento projetado cujo tamanho, a
priori, não se conhece com precisão.
Nos casos de projeto de modernização e/ou ampliação, não somente este estu-
do como também a própria atividade de projetar devem ser precedidas de um diag-
nóstico de gestão que, analisando a empresa em termos de seus grandes subsistemas
(gerência, vendas, produção e finanças), indicará as principais linhas de ação
norteadoras do planejamento.
Geralmente o estudo administrativo é relegado, nos projetos, a um plano se-
cundário, notadamente naqueles empreendimentos cujo estágio de cultura
organizacional se encontra concentrado na solução das questões que envolvem o
binômio produção x vendas. Esta prática tem se demonstrado nociva às empresas
que assim procedem, sendo responsável por problemas logísticos que influencia-
rão, negativamente, o desempenho operacional do empreendimento, em alguns
casos de forma irreversível ao longo de toda a sua existência.
Lamentavelmente, mesmo em alguns projetos de grande porte, nota-se, no
Brasil, um considerável descuido no que diz respeito à arquitetura da organização.
É frequente elaborarem-se os estatutos sociais de uma empresa, copiando-se, literal-
mente, estatutos de instituições similares como se a estrutura organizacional e as
políticas da empresa, reguladas por este instrumento básico, pudessem ser padroni-
zadas. Em muitos projetos, desprezam-se, completamente, os aspectos relativos ao
arranjo físico (layout) da administração e das atividades meio, auxiliares da planta.
Empreendimentos de grande porte, responsáveis pela geração de numerosos em-
pregos, implantam-se sem possuir uma estrutura e uma política de recursos huma-

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nos, definidas, confundindo, muitas vezes, a estrutura de recursos humanos com a de


uma seção de pessoal, – que cuida apenas dos registros específicos nesta área.
O estudo do mercado constitui o mais importante capítulo do planejamento
empresarial, notadamente quando se trabalha em uma economia globalizada e ca-
racterizada pelo elevado nível de competitividade dos seus agentes econômicos.
Neste caso, pode-se afirmar que a sua elaboração de forma precisa, revestida da
cautela e dos cuidados técnicos necessários, representa meio caminho andado no
sentido do sucesso de qualquer empreendimento projetado. Trata-se de um trabalho
complexo, difícil de ser realizado, dado o conjunto de variáveis com que se tem de
trabalhar, projetadas para um espaço de tempo consideravelmente longo. Afinal,
neste estudo, busca-se responder a três questões básicas: o que produzir, para quem
produzir e quanto produzir dos bens e serviços. Isto implica o conhecimento de
hábitos do consumidor, a identificação de suas preferências em relação a determina-
dos produtos ou serviços, em um horizonte temporal que varia de cinco até dez
anos, a depender do setor1. Objetiva-se quantificar a demanda provável, que, por seu
turno, deve ser confrontada com a oferta (a produção, também estimada para idên-
tico período), definindo-se, então, os eventuais déficits ou superávits de mercado, o
seu regime operacional e, consequentemente, o espaço de atuação disponível para
os produtos da empresa que se projeta implantar ou ampliar.
Já o estudo técnico trata da questão fundamental relacionada ao como e onde
produzir os bens e serviços. Este importante título do projeto interage, de forma
acentuada, com o estudo do mercado de quem recebe informações analíticas referen-
tes ao comportamento dos consumidores, ou seja: o quê e quanto devem ser ofereci-
dos para satisfazer à demanda e para quem se destinará o produto ou serviço. Ou
seja, para um público de elevado nível de renda e sofisticado ou para as classes de
menor renda e poder aquisitivo. O estudo técnico fundamenta-se no projeto de
engenharia básica, que fornece os elementos necessários à sua elaboração. Por este
motivo, em muitos trabalhos, costuma-se também denominá-lo engenharia do pro-
jeto, em que são estabelecidos os aspectos da tecnologia empregada (know-how, má-
quinas e equipamentos), do leiaute de produção e operação e do regime de funciona-
mento da empresa. É no estudo técnico, também, que são dimensionados os custos
variáveis com matérias-primas e insumos, informações que alimentarão o cálculo
do estoques no estudo financeiro. O onde, mencionado acima, refere-se à futura

(1) É importante diferenciar os horizontes temporais do projeto da empresa (Plano de


Negócios) do utilizado no planejamento de novos produtos. Notadamente nas indústrias
de alta tecnologia, o tempo de obsolescência dos produtos muitas vezes não alcança um
ano. Mas são processos distintos. Aqui, fala-se de investimento, de seu direcionamento,
porte e condições de retorno. Neste caso, não é concebível trabalhar-se com períodos
inferiores a cinco anos.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

localização da empresa, decisão fundamental, tanto para uma indústria – que deve
ponderar os custos logísticos de suprimentos e distribuição – como para as empresas
de serviços, a depender de sua necessidade de afluência dos consumidores. Cabe
dizer que me estendi bastante sobre este tema de localização por considerá-lo insu-
ficientemente examinado na literatura sobre os projetos.
O estudo financeiro, pela ordem sequencial, constitui outro título do projeto,
vinculando-se, estruturalmente, a seu antecessor, que trata da engenharia e fornece
os elementos básicos para a sua elaboração. Neste título, abordam-se, especifica-
mente, as questões relativas ao investimento financeiro requerido (dimensionamento
do capital de giro) e ao financiamento das inversões programadas que, a esta altura,
já são totalmente conhecidas.
Entende-se aqui por financiamento a mobilização dos recursos totais, não
exigíveis (recursos próprios) e exigíveis (recursos de terceiros, financiamentos ban-
cários), necessários à implementação de qualquer empreendimento.2
Por fim o estudo econômico representa, no projeto, o coroamento de todo o
trabalho realizado. Afinal, é nele que, reunindo o conjunto de informações produzi-
das ao longo dos estudos precedentes, se realiza a análise do investimento, se avaliam
os méritos macro- e microeconômicos do empreendimento e se instruem as decisões
do orçamento de capital da empresa a se implantar ou ampliar, apresentando seus
principais indicadores de desempenho, segundo a escala de produção adotada,
projetando-os no tempo até o limite do horizonte temporal de planejamento esta-
belecido.
Cabe aqui observar que o projeto de uma empresa de serviços, do ponto de
vista metodológico, salvo peculiaridades de nomenclatura ou enfoque, não difere
substancialmente dos projetos industriais ou agrícolas nas abordagens que tratam
dos aspectos administrativos, financeiros e econômicos da empresa. A diferença
substancial se encontra no capítulo técnico – a engenharia – em que são peculiares o
processo produtivo, regimes de produção, coeficientes técnicos e o estudo da locali-
zação considerando a intangibilidade dos bens com que se opera.
O estudo do mercado para serviços também se reveste de maior complexidade,
notadamente na estimativa da demanda presente e na sua projeção para o futuro.
Outrossim, não há porque falar especificamente de um projeto para as opera-
ções de comércio isoladamente. Comércio e serviços são atividades do setor terciário
de qualquer economia e na sua funcionalidade estão interligadas. O ato de vender
ou comprar um bem implica numa prestação de serviços assim como a compra e a
venda de um serviço constitui um ato de comércio. Ademais, existem substanciais

(2) Por tanto, financiamento não significa exclusivamente a obtenção de um empréstimo


bancário. Pode-se perfeitamente financiar um projeto exclusivamente com recursos
próprios, pois para isso existe o Mercado de Capitais.

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diferenças dentro da própria categoria quando se projeta um hospital, um hotel, um


restaurante, uma escola, uma empresa de transporte de pessoas ou de mercadorias,
por exemplo.
Neste livro, buscar-se-á, com as devidas limitações de espaço, exemplificar
essas peculiaridades.
Cabe, por fim, explicar o porquê do título Teoria do Projetamento neste livro.
Os objetivos que o norteiam buscam ampliar o seu escopo, fazendo-o extrapolar a
simples, mas não menos importante, função de um livro de projetos, para assumir as
premissas da teoria desenvolvida pelo economista Ignácio Rangel, em 1959, apre-
sentada em curso promovido à época pela Faculdade de Ciências Econômicas e
transformada em livro editado pela Universidade Federal da Bahia.3 Naquela época
dizia Rangel (1959, p.17) “o projetamento é, ao mesmo tempo, macro e micro-
economia; é teoria e prática; é apreciação do particular no geral, do concreto no
abstrato e a verificação do abstrato no concreto”. Era, na verdade, uma defesa da
função e do papel dos economistas que na sociedade brasileira da época enfrenta-
vam a hegemonia dos engenheiros, contadores e advogados. Ao definir o projeta-
mento, o velho mestre assinalava que a elaboração de um projeto consistia, em
última análise, em ordenar o emprego dos recursos consumidos que se transforma-
vam em custos e dos resultados obtidos que se tornavam benefícios. E afirmava:
“custo e benefício são as categorias fundamentais do projetamento, abstrações úteis
para o encaminhamento da solução dos problemas implícitos.” (1959, p.26) E toda
a teoria do projetamento não passa em última instância de um esforço para preci-
sar estes dois termos e construir uma razão segundo a resposta que se pretenda
obter. Considerando a amplitude e a importância do projeto no enfoque que o
insere na categoria do projetamento, concluía Rangel (2005, p.378) ser absoluta-
mente indispensável entender que os efeitos de cada projeto são, ao mesmo tem-
po, globais e específicos e os projetos de desenvolvimento são aqueles que por si e
pelas mudanças induzidas nos outros, conduzam à elevação da utilidade per capita
e introduzam novos desequilíbrios de natureza especial, provocados pelas mu-
danças tecnológicas e pela redistribuição (realocação) dos recursos sociais entre as
diferentes indústrias.
Para ilustrar a abordagem teórica da elaboração do projeto será examinado e
comentado, no final de cada um dos estudos que compõem este livro, um roteiro
demonstração, extraído de modelos adotados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelos BNDES, voltados para os pleitos dos
empreendimentos industriais, comerciais e de serviços. Trata-se apenas de um exer-
cício, uma criação livre do autor, que não vincula, sob quaisquer formas, as institui-

(3) Reeditado posteriormente pela Contraponto em 2005.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

ções aqui citadas. Até mesmo porque essas instituições mudam com frequência os
roteiros utilizados, que também variam de acordo com as exigências e prioridades
das diferentes linhas de crédito. Note-se que, quando o primeiro livro desta série foi
editado, não havia a excelente disponibilidade de informações, sempre atualizadas,
pela internet em sites como o do Sebrae (http://www.sebrae.com.br) e do BNDES
(http://www.bndes.gov.br).
Na montagem do roteiro-demonstração, adotou-se uma numeração específica
que será sequenciada ordenadamente ao logo dos capítulos. Esta numeração
independe da adotada no livro. Assim, o estudo administrativo é numerado 1.0; o do
mercado, 2.0; o técnico 3.0; o financeiro 4.0 e o econômico 5.0. As tabelas destes
estudos acompanham a sua numeração. Exemplo: Tabela 1.1; Tabela 2.1; Tabela 3.1,
etc. O mesmo critério se aplica aos quadros e às figuras. Já as tabelas, quadros e
figuras do livro obedecerão a uma numeração simples, crescente a partir do Título I.
As notas de rodapé são numeradas por título isoladamente.
O leitor deve observar que as tabelas, quadros e figuras e demais elementos
que compõem este trabalho obedecem às diretrizes da Associação Brasileira de Nor-
mas Técnicas (ABNT) vigentes em julho de 2010. Os roteiros das instituições de
fomento, consultados para a montagem do roteiro padrão, utilizam, de modo geral,
a mesma estrutura e sequência de abordagem dos temas considerada neste livro,
(estudos administrativo, do mercado, técnico, financeiro e econômico) o que consti-
tui um padrão usual adotado na América Latina desde a edição do clássico Manual de
Proyectos de Desarrollo Económico de Júlio Melnick, publicado em 1958 pelas Nações
Unidas. Por fim esclarece-se que, em todos os casos, serão consideradas as distinções
entre as atividades industriais e aquelas de serviços.

Salvador, maio de 2013

Noelio Dantaslé Spinola

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

TÍTULO I
PLANEJAMENTO E PROJETOS

1.1 Do planejamento ao projetamento1

O conhecimento das técnicas de projetamento (alocação de recursos) constitui


uma importante vantagem competitiva, seja ela em termos da empresa ou do setor
público. Segundo ensinava Rangel (1959, p.26) a missão do projetamento econômico
consiste em encontrar a denominação comum para os dois termos da razão benefí-
cio/custo sob o ponto de vista econômico. Ou, como preferia a Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe (Cepal), o projetamento permite estimar as vanta-
gens e as desvantagens econômicas que derivam de determinar recursos de um país
para a produção de determinados bens e serviços, num contexto de escassez desses
recursos.
Trata-se, pois, no projetamento, de um conjunto multidisciplinar de técnicas
que se fundamentam, no plano teórico, em conhecimentos derivados da micro e da
macroeconomia. Isto porque o projeto instrumenta o planejamento empresarial que
serve de elemento norteador de um conjunto de ações concretizadas a partir do
início das obras de implantação de uma empresa, da sua constituição e operação por
um lado e, por outro, como parte de um todo desenvolvido segundo as diretrizes do
planejamento nacional e de suas prioridades.
Como dizia Campos (1974, p. 47) um plano de desenvolvimento avança pela
especificação de um cronograma de implementação de programas, pela designação

(1) Termo introduzido por Ignácio Rangel em 1959, no seu livro Elementos de Economia do
Projetamento editado pela Universidade Federal da Bahia.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

do agente econômico (público ou privado) e pela alocação de recursos financeiros e


materiais. O projeto constitui o detalhamento operacional de planos ou programas.
Conceitualmente o termo planejamento tem sido utilizado no Brasil de forma
livre e imprecisa, compreendendo tanto as atividades empresariais, na área da
microeconomia, quanto os diversos tipos de intervenção macroeconômica para a esta-
bilização de preços e para o combate à inflação como tem ocorrido recentemente.
As preocupações com o desenvolvimento e sua discussão, no Brasil, pelas di-
versas correntes do pensamento econômico, remontam ao século XIX acentuando-
se, contudo, a partir das décadas de 1930 e 1940, sobretudo no período imediato ao
pós-guerra e no contexto de uma época de reconstrução mundial, gestada nos acor-
dos de Breton Woods, na criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), do Banco
Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BIRD)2, no Plano Marshall
para a Europa e na constituição da Organização das Nações Unidas, de que brotou a
Cepal sem dúvida um dos maiores celeiros de ideias e proposições para a promoção
do desenvolvimento econômico da América do Sul.
É nesse período que surge um novo paradigma no seio da economia política
burguesa, visando a superar o fracasso do liberalismo econômico e do seu dogma do
mercado como regulador absoluto da economia. Os precursores da nova economia
política foram Piero Sraffa, Joan Robinson e Edward Chamberlain, que se preocupa-
ram em demonstrar que a concorrência capitalista não era tão perfeita quanto julga-
va a economia clássica, contribuindo para a formulação do que viria a ser a teoria da
concorrência imperfeita; enquanto Joseph Schumpeter, Michael Kalecki e John M.
Keynes, seus contemporâneos, se empenhavam em dar consistência a uma teoria do
ciclo econômico que auxiliasse a neutralizar os períodos de contração das ativida-
des. Coube, no entanto, ao lorde Keynes o papel de maior projeção na revolução
teórica em curso, que passou a denominar-se a “revolução keynesiana”.
Segundo a nova ótica keynesiana, as forças de mercado, deixadas a si mesmas,
estariam longe de promover a alocação ótima de recursos, causando, pelo contrário,
capacidade ociosa, desperdício e desemprego. Nesse contexto, fazia-se necessária a
intervenção mais decidida do Estado na economia, não mais apenas como adminis-
trador da coisa pública (defesa, educação, justiça, etc..) ou mero regulador das ativi-
dades privadas, mas também como agente direto da produção, aumentando os in-
vestimentos e gastos da sociedade (tidos como insuficientes no capitalismo avança-
do), privilegiando determinados setores em detrimento de outros, enfim, orientan-
do a estrutura econômica para uma produção mais equilibrada.
Estavam lançadas as sementes do intervencionismo ou dirigismo econômico
que iriam frutificar nos vários países capitalistas, inclusive nos mais atrasados,

(2) Mais tarde conhecido como Banco Mundial.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

cindindo a economia política burguesa em pelo menos duas grandes correntes rela-
tivamente antagônicas: o intervencionismo e o liberalismo econômico (MANTEGA,
1987, p. 25)
No Brasil, foi preponderante, nessa época, a influência do pensamento
keynesiano nas análises formuladas por autores estrangeiros dedicados ao estudo
do subdesenvolvimento, entre os quais Raul Prebisch, Gunnar Myrdal e Ragnar
Nurkse e brasileiros como Celso Furtado, Rômulo Almeida e Ignácio Rangel, entre
outros que contribuíram para a formação das diretrizes da Cepal e do Instituto
Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), fundamentando teoricamente o planeja-
mento desenvolvido no país, inclusive o modelo de substituição de importações e,
politicamente, o que se convencionou denominar paradigma nacional-desen-
volvimentista.
A Cepal investiu contra a lei das vantagens comparativas, um dos pilares da
teoria clássica do comércio internacional, sustentando, no final da década de 1940,
que o problema dos países subdesenvolvidos, decorria, entre outras causas, da dete-
rioração dos termos de intercâmbio com os países desenvolvidos, tendo em vista a
condição de exportadores de produtos primários. Segundo a doutrina da Cepal a
relação de preços de intercâmbio se moveu contra os produtos primários. Deste
modo, à parte o fato de negar-se a estes uma coparticipação razoável no progresso
tecnológico do chamado primeiro mundo, obrigou a periferia a transferir para estes
últimos partes dos avanços de produtividade do próprio setor primário exportador.
Assim sendo, enquanto os centros mais avançados absorviam todo o benefício do
desenvolvimento técnico de suas indústrias, os países periféricos transferiam para
eles parte dos frutos do seu próprio progresso técnico. (PREBISCH. 1950, p. 5, 6).
Desta forma, segundo a Cepal, o subdesenvolvimento dependia da estrutura
interna dos países subdesenvolvidos, prisioneiros de um sistema econômico primá-
rio-exportador com baixo nível de integração entre os setores produtivos e desem-
prego estrutural dada a baixa capacidade de absorção da mão-de-obra pelas ativida-
des agroexportadoras.
A industrialização, a reforma agrária e o desenvolvimento do mercado inter-
no constituíam, na visão da Cepal, a solução dos problemas de atraso econômico.
Para atingir esses objetivos a Cepal sugeria a decidida participação do Estado na
economia e a adoção do planejamento, objetivando o fortalecimento da economia
nacional. A doutrina da Cepal adquiriu uma coloração nacionalista orientada para a
promoção da acumulação capitalista em bases locais e em oposição ao imperialismo
comercial e financeiro internacional.
O Iseb incorporou parte do pensamento da Cepal e consolidou a ideologia
nacional-desenvolvimentista que objetivava liquidar com o passado colonial e abrir
uma nova fase de desenvolvimento no Brasil. Esta ideologia dominou o cenário
político-econômico brasileiro a partir do segundo governo Vargas até o governo

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Collor (em 1990) quando o neoliberalismo recuperou o poder de influenciar a con-


dução da economia nacional.
Na prática, as experiências relacionadas com o planejamento foram tomando
corpo ao longo do período de 1939 a 1951, provocadas principalmente pela escassez
e gargalos característicos da economia de guerra. Mobilizou-se a cooperação inter-
nacional para melhorar o sistema de transporte e facilitar o acesso às matérias-
primas. Segundo Campos (1974) o centro dos esforços de planejamento era então o
recém-criado Departamento Administrativo do Serviço Público (Dasp), um organis-
mo do governo federal, diretamente vinculado ao gabinete do presidente da Repú-
blica, no qual estavam lotados alguns funcionários que tinham recebido treina-
mento em administração pública, vários deles no exterior, notadamente nos Esta-
dos Unidos. Os primeiros três planos de investimento preparados no Brasil – o
Plano Quinquenal de Obras e Reaparelhamento da Defesa Nacional (1942), o Plano
de Obras (1943) e o Plano Salte (1946/1950) – tiveram sua origem em ideias de
técnicos do Dasp. Durante o período de guerra, buscou-se cooperação internacio-
nal para esforços limitados de planejamento. Nesse contexto inserem-se a Missão
Taub, de 1942, um grupo de engenheiros que preparou um programa de investi-
mentos de dez anos, nunca executado; e a Missão Técnica Americana (Missão
Abbinck), que, em 1943, promoveu a primeira aproximação de formulação de uma
política macroeconômica no Brasil, tendo como orientador, do lado brasileiro, o
professor Otávio Gouvêa de Bulhões. No tempo em que iniciou seus trabalhos
havia crescente percepção dos problemas de inflação e de balanço de pagamentos.
Formularam-se recomendações de políticas sobre ambos esses assuntos, junta-
mente com propostas de reforma tarifária e reabilitação ferroviária.
A Constituição de 1946, liberal por excelência, como reação ao extinto regime
Vargas, não faz menção ao planejamento, mas plantou as sementes do planejamento
regional através da destinação de 3% da receita federal para o desenvolvimento
econômico da Amazônia, e de montante equivalente para investimento nas áreas
deprimidas do Nordeste.
Isto posto, a introdução do planejamento no Brasil com o Estado desempe-
nhando o papel de coordenador econômico e mesmo de empresário em vários
setores da economia ocorreu segundo as prescrições da ideologia nacional -
desenvolvimentista, fundamentada nas concepções da Cepal, aqui anteriormente
mencionadas.
A política estatal que se realizou no país a partir dos anos 1950, foi influenciada
pelo trabalho da Comissão Mista Brasil - Estados Unidos (1951 /1953)3 e do Grupo
Misto BNDE / Cepal (1953/1955) que forneceram preciosos subsídios para a elabo-

(3) Introdutora do projetamento no Brasil. Ver a respeito Spinola (2003, p.66).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

ração dos planos nacionais de desenvolvimento da época, a saber: o Plano de Reabi-


litação da Economia Nacional e Reaparelhamento Industrial (segundo governo
Vargas), o Plano de Metas (governo Juscelino Kubitschek) e o Plano Trienal de
Desenvolvimento (governo João Goulart).
Em 1952 foi criado o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE)4,
em 1954 o Banco do Nordeste do Brasil (BNB) e em 1959 a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene).
Com a criação desses três organismos e logo de imediato, de uma série de
bancos de desenvolvimento estaduais em todo o país, foi introduzida a técnica de
projetamento no Brasil com ênfase na elaboração de projetos industriais dado que a
industrialização dos países latino-americanos era a prioridade da Cepal a grande
divulgadora do projetamento em toda a região.

Figura 1 – Fac-símile da nota preliminar do Manual de proyectos de desarrollo


económico

Fonte: Melnick (1958 p. 2).

(4) Posteriormente, acrescentaram o Social ao nome do Banco que passou a utilizar a sigla
BNDES. Uma medida demagógica, típica do governo José Sarney (1988), como se o
social não fosse condição sine qua non para o desenvolvimento econômico.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Segundo Spinola (2003, p. 100) somente a Sudene no período de 40 anos da sua


existência efetiva (1959/1999) financiou 2.105 projetos o que indica ter recebido para
exame um número substancialmente maior.

Tabela 1 – Projetos de investimento. Brasil – Sudene 1959/1999

Fonte: Sudene/CAA, apud Spinola (2003, p.100).


*Nota: Preços de 01/jul./94.
**Posição: 30/nov./99

1.2 Natureza dos projetos

Como já foi visto, o projeto constitui um importante instrumento de planeja-


mento empresarial e não “apenas” um formulário mediante o qual se toma um
financiamento no banco, uma crença ainda vigorante na cabeça de muitos empresá-
rios culturalmente atrasados e mal-acostumados.
Um conceito que deve ser fixado por todos aqueles que pretendem trabalhar
com projetamento é o de financiamento. Definimos financiamento como a mobili-
zação de recursos próprios e de terceiros para a realização de um determinado
empreendimento. Portanto, ao contrário do que muita gente ainda pensa, financia-
mento não é sinônimo de tomar dinheiro emprestado ao banco, apenas.
Relembrando velhos e imprescindíveis conceitos da contabilidade o patrimônio
de uma empresa se forma mediante a mobilização de recursos próprios (não exigíveis)
e recursos de terceiros (exigíveis).
Assim, um empreendimento pode ser realizado exclusivamente com recursos
próprios, mediante a mobilização de poupanças dos sócios empreendedores e a

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

poupança de terceiros que compram ações da empresa. Isto ocorre há muito tempo
e com frequência nos países desenvolvidos onde o mercado de capitais (mercado
acionário que opera nas bolsas de valores) é bastante amplo e difundido e onde
existe uma cultura de risco. Os empréstimos bancários se concentram, preferencial-
mente, no financiamento do capital de giro de curto e de médio prazo.
Por isto a viabilidade econômica que se expresse em um projeto interessa
sobremaneira ao empreendedor em qualquer circunstância. Não é uma exigência
burocrática que se cumpre para receber o dinheiro dos bancos. No passado, ainda
recente, muita malandragem foi realizada com projetos – notadamente os destina-
dos aos organismos regionais e estaduais de fomento – acobertadas pela espessa teia
de compadrio, impunidade e corrupção que parece endêmica no país. Este quadro
vem gradativamente se revertendo na medida em que a sociedade brasileira vai se
tornando esclarecida e graças ao inestimável serviço prestado ao país por uma im-
prensa livre e aguerrida.
De qualquer sorte, reduzidos o poder do compadrio e a impunidade o dinheiro
emprestado ao banco é cobrado e bens particulares dos empreendedores são muitas
vezes arrestados para cobrir as dívidas.
Assim, em qualquer circunstância, não é uma boa ideia considerar o projeto
uma mera formalidade.
Feitas estas considerações pode-se dizer que são três os tipos de projetos que
nos interessam, a saber:

a) o estudo de viabilidade econômica


b) o projeto econômico financeiro
c) o plano de negócios

O estudo de viabilidade econômica (EVE) como o nome está dizendo busca


definir a priori se o empreendimento é rentável. De modo geral ele antecede o proje-
to econômico financeiro por ser bem menos dispendioso reduzindo os gastos no
caso de ser constatada a inviabilidade do negócio.
O EVE subdivide-se em duas partes: um estudo de mercado (elaborado com
todo o rigor e em termos definitivos para o projeto) e um estudo da rentabilidade
pela análise do investimento com base na recuperação de informações da literatura
(são os conhecidos perfis industriais bastante difundidos).
O projeto econômico-financeiro (PEF) varia de complexidade a depender do
porte do empreendimento. Não existem termos de comparação entre um PEF desti-
nado a uma microempresa e outro para um empreendimento de grande porte, se
bem que em ambos, guardadas as proporções, os fundamentos são os mesmos.
Um PEF completo se faz acompanhar de outros projetos específicos, a saber:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

1. projeto de engenharia básica5


2. projeto arquitetônico
3. projeto de obras civis, elétricas e de instalações
4. projeto de segurança industrial
5. projeto ambiental (Rima)6
6. projeto organizacional

O projeto econômico-financeiro pode assumir as seguintes modalidades:

a) implantação
b) ampliação
c) modernização
d) relocalização

O PEF de implantação trata do empreendimento novo, sem antecedentes. Quan-


do o grupo empreendedor não possui tradição na área apresenta um grau de risco
mais elevado. Os casos de ampliação são mais tranquilos pela existência de anteceden-
tes. Em alguns casos as instituições de fomento exigiam a realização prévia de uma
análise administrativa da organização (também conhecida como diagnóstico), notada-
mente em empresas de porte médio da indústria tradicional. Esta análise, para a qual
existe toda uma metodologia sedimentada, faz um exame completo de todos os siste-
mas da empresa: organização, marketing, finanças, custos, produção e logística. Da
conclusão deste trabalho identificam-se as reais necessidades da empresa, as quais se
podem caracterizar com uma ampliação da escala; uma modernização que pode visar
à remoção de gargalos, uma introdução de nova tecnologia, uma reestruturação organi-
zacional, uma correção de déficit estrutural de funcionamento (capital de giro), como
também pode ser uma relocalização por questões logísticas ou ambientais, entre outras.
O plano de negócios7 é uma derivação dos projetos econômico-financeiros,
introduzido pelos administradores de empresas. Segundo o Sebrae – SP (2010) é um
documento pelo qual o empreendedor formalizará os estudos a respeito de suas
ideias, transformando-as num negócio. No Plano de Negócios estarão registrados o
conceito do negócio, os riscos, os concorrentes, o perfil da clientela, as estratégias de
marketing, bem como todo o plano financeiro que viabilizará o novo negócio. Além
de ser um ótimo instrumento de apresentação do negócio para o empreendedor que

(5) O projeto de engenharia de detalhamento depende da forma como será negociada a


tecnologia.
(6) Relatório de impacto sobre o meio-ambiente (RIMA).
(7) Esta modalidade de projetamento não será detalhada neste livro cujo escopo é econômico.
Poderá no entanto ser facilmente acessado no site do Sebrae São Paulo.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

procura sócio ou um investidor é uma forma de comprometê-lo com a gestão do


planejado.

1.3 Etapas do projetamento

O projetamento como atividade econômica se divide em três estágios, a saber:

a) elaboração;
b) análise e avaliação;
c) administração.

A elaboração consiste no primeiro estágio do projeto. Nela se incluem etapas


como a da realização do estudo de viabilidade econômica, do cadastro dos propo-
nentes, da confecção de cartas-consulta para fins de enquadramento do pleito e, por
fim, a elaboração do projeto propriamente dito.
A análise e a avaliação são etapas que competem aos financiadores do projeto;
A administração (ou gerenciamento) de projetos preocupa-se com o planeja-
mento, a programação e o controle das atividades para alcançar a conclusão dos
projetos dentro do prazo, dentro do orçamento e atendendo às expectativas de qua-
lidade. Questões relevantes que precisam ser discutidas incluem:

a) quais são as atividades necessárias para completar um projeto?


b) em que sequência essas atividades devem ser desenvolvidas?
c) quando essas atividades deveriam ser programadas para começar e termi-
nar?
d) quais atividades são críticas para concluir o projeto no prazo?
e) como devem ser alocados os recursos nas atividades?
f) qual é a probabilidade de se respeitar a data programada para a finalização
do projeto?
g) o projeto está dentro do programado?
h) como deve ser gerenciada uma etapa em atraso para que volte ao organo-
grama normal?
i) qual a equipe e os meios necessários para administrar o projeto?

1.4 Regras de procedimento técnico

A qualidade da apresentação de qualquer documento é algo que deve ser res-


peitado por todo o profissional que trabalha com critérios científicos.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Os projetos devem ser elaborados de acordo com as normas da Associação


Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), especialmente as seguintes:

1) NBR 6023 Referências


2) NBR 6024 Numeração progressiva de um documento
3) NBR 6027 Sumário
4) NBR 6028 Resumo
5) NBR 10520 Citações
6) NBR 10719 Relatório técnico e/ou científico

A elaboração de tabelas deve-se obedecer às Normas de apresentação tabular, do


IBGE, edição de 1993. As unidades de medidas devem estar de acordo com o Quadro
geral das unidades de medida editadas pelo Conselho Nacional de Metrologia, Norma-
lização e Qualidade Industrial (Conametro) em 1988.
Os autores devem estar atentos a atualização dessas normas o que ocorre com
certa frequência.
Por fim deve-se estar atento para as regras de redação de documentos técnicos
entre as quais as seguintes:

a) ao redigir um documento deve-se ter empatia, isto é colocar-se no lugar do


leitor, sem abusar da didática e da obviedade, expressar as ideias com
simplicidade, uniformidade e clareza;
b) redigir na ordem direta evitando parágrafos longos;
c) redigir preferencialmente na terceira pessoa do singular ou do plural evi-
tando sempre utilizar a primeira pessoa;
d) evitar os anglicismos e galicismos, somente utilizando palavras ou frases
em outros idiomas quando for absolutamente necessário;
e) não iniciar as expressões no gerúndio, notadamente em títulos e subtítulos;
f) evitar ao máximo as adjetivações, notadamente os superlativos;
g) nunca fazer rimas ou utilizar linguagem sentimental;
h) evitar cacófatos;
i) evitar a excessiva repetição de palavras;
j) observar as regras gramaticais: ortografia, concordância e pontuação.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

TÍTULO II
OS SERVIÇOS

2.1 A importância dos serviços

O setor de serviços, integrante do terciário da economia, é hoje, em todo o


mundo, o mais significativo em termos de participação na formação dos produtos
internos brutos. Segundo Kuznets (1952, apud MEIRELLES, 2008, p.23 - 35), a evolu-
ção histórica da participação do setor de serviços no produto nacional e na mão-de-
obra empregada ao longo dos séculos XIX e XX pode ser dividida em dois períodos
distintos: entre 1800 e 1950, período em que o crescimento econômico é liderado
pela indústria e o período pós 1960, a partir do qual os serviços passam a ganhar
forte expressão econômica.
Meirelles (2008, p.25) afirma que:

[...] a partir da segunda metade do século, o setor de serviços iniciou uma


trajetória de crescente participação no produto total das economias desen-
volvidas, atingindo no final do período, uma participação média de 65% do
produto total. Em contrapartida, a indústria ganhou relativa estabilidade,
situando-se num patamar entre 20% e 30% de participação. A agricultura,
por sua vez, manteve a tendência de queda, inaugurada no século anterior,
porém, verificou-se uma estabilização a partir dos anos 80, com uma parti-
cipação média em torno de 3% do produto total.

No Brasil, segundo divulgação do jornal Valor Econômico (SP 08/02/2010 p.1)


reproduzindo informações do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas – Ipea,
os serviços já empregam 13 milhões de pessoas. Ou seja: um em cada dois empregos
criados no Brasil em 2009 foi no setor de serviços. E é nesse segmento da economia
que se encontra o campeão das vagas na última década, a categoria dos empregados

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TEORIA DO PROJETAMENTO

na área de turismo. Ao todo, os serviços empregam quase tantos trabalhadores


quanto o comércio e a indústria somados. Em 2010, de acordo com o IBGE os serviços
foram responsáveis por 67,4% do Produto Interno Bruto brasileiro (PIB).
Com o advento da sociedade pós-industrial assiste-se em todo o mundo, inclusi-
ve em países emergentes como o Brasil, o desenvolvimento intenso das ciências e
das tecnologias em geral. A globalização, impulsionada pelo “salto” no ritmo das
mudanças nos sistemas de transportes e nas Tecnologias de Informação e Comunica-
ção (TIC) determinou notáveis avanços nos sistemas organizacionais, respondendo
pelo esgotamento das estratégias tradicionais de produtividade e pela busca por
uma diferenciação competitiva. Tudo isto resultou no incremento dos serviços e na
consequente passagem do estágio da produção em massa para a mass customization e
a especialização flexível.
Os serviços passam a ser, na sociedade pós-industrial, a estrela da economia,
em que se destaca o capital humano e, como parte significativa deste o capital intelec-
tual, derivado da intensa busca por uma concepção e uma visão novas da empresa,
objetivando a criação e a extração de valor. É este capital que vai potencializar a
força dos recursos não materiais (intangíveis).

Figura 2 – Papel dos serviços empresariais na economia

Fonte: Téboul (1999, p. 14).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Os dados disponíveis no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


na época da elaboração deste livro, referem-se a sua Pesquisa anual de serviços
(PAS) para o ano de 20101. Estas informações possibilitam avaliar a importância do
setor de serviços na economia brasileira. Segundo a PAS, no ano referido, existiam
992 808 empresas de serviços no país, não computados os serviços financeiros, de
saúde e administração pública. Estas empresas geraram um total de R$ 869 307 728
mil, de receita operacional líquida e R$ 510 443 152 mil de valor adicionado bruto,
ocuparam 10 621 7862 pessoas, e pagaram R$ 172 511 692 mil em salários, retiradas e
outras remunerações.

Figura 3 – Evolução dos intangíveis no ativo total das empresas

Fonte: Mislav Vuèiæ. Brookings Institute. Baruch Lev Analysis of S&P 500 Companies.

O IBGE informa que, a despeito de o segmento de serviços prestados às famílias


com 310 958 empresas (ou 31,3% do total), reunir o maior contingente do setor, em
2010, é o segmento de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio quem
responde pela maior parcela da receita operacional líquida gerada no setor (R$ 251,1
bilhões ou 28,9% do total). Também se destacaram, quanto à receita, os serviços de
informação e comunicação (R$ 233,5 bilhões ou 26,9% do total) e os serviços profissionais,
administrativos e complementares (R$ 220,8 bilhões ou 25,4% do total). Juntos, estes três
segmentos responderam por 81,2% da receita operacional líquida dos serviços. Ver
Figura 4, seguinte. (IBGE, PAS 2010, p.41).

(1) Pesq. anual Serv., Rio de Janeiro, v. 12, p.1-215, 2010.


(2) A discrepância entre os valores registrados pelo IBGE e os do Ipea deve-se a questões de
ordem metodológica, nas contagens do setor.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

O detalhamento das informações fornecidas pelo PAS-IBGE 2010 observa-se


que os denominados serviços prestados principalmente às famílias englobam um grande
número de empresas, cujas atividades são preponderantemente destinadas ao con-
sumidor final. Não obstante, ocupam, em média, um número relativamente reduzi-
do de pessoas por unidade empresarial.
Como o IBGE/PAS trabalha apenas com as pessoas jurídicas, no mercado for-
mal, não registram os empregos domésticos prestados em residências formalizados
ou não.3
Segundo a Agência Brasil (edição de 11/03/2012) lavar, passar, fazer comida,
cuidar da casa, levar as crianças para escola e todos os detalhes diários da manuten-
ção de uma estrutura familiar valem, em média, R$ 1,5 mil por mês, conforme
cálculos de três pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF). Eles con-
cluem também que, em média, as mulheres ocupam em afazeres domésticos o dobro
do tempo que os homens gastam com as mesmas tarefas.
Com base no estudo de 2001 a 2010, esses pesquisadores consideram que essas
atividades classificadas como “trabalho não remunerado e de invisibilidade” de-
vem ser incluídas no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) de cada país.
Segundo os pesquisadores, se os afazeres forem contabilizados, revelarão o
tamanho dos serviços criados pela mão de obra não remunerada4. Para chegar ao
valor de R$ 1,5 mil, os professores consideraram o gasto médio com a remuneração
da empregada doméstica.
A conclusão dos pesquisadores, que fazem o estudo desde 2001, é que no Brasil
os afazeres domésticos correspondem a cerca de 12,76% do PIB. Em 2004, por exem-
plo, representaram R$ 225,4 bilhões. Desse total, 82% (cerca de R$ 185 bilhões) foram
gerados pelas atividades desempenhadas por mulheres.
Outro fator a considerar é a informalidade existente, onde as atividades de
serviços são predominantes. No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Economia
(IBRE), situa-se em torno de 30 a 40% da população economicamente ativa (PEA).
Pelo Índice de Economia Subterrânea (IES), a informalidade em 2011 gerou R$ 695,7
bilhões, ou 16,8% do Produto Interno Bruto — PIB, conjunto de bens e serviços
produzidos no país.

(3) A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado da Bahia (Setre), considera
empregados domésticos os integrantes das seguintes categorias: babá, caseiro(a)
jardineiro(a), cozinheiro(a), faxineiro(a), acompanhante de idosos, auxiliar de enfermagem
que trabalha no domicílio, motorista particular, piloto de avião particular, governanta,
vigia, lavadeira, engomadeira, arrumador(a). * Observe-se: que o(a) empregado(a) que
presta seus serviços para condomínios residenciais não é considerado empregado doméstico.
(4) Os autores se referem às “donas de casa”, mães de família que não exercem profissões
e são classificadas geralmente como sendo “do lar”. Incluem-se também aquelas que
mesmo exercendo outras profissões, ainda cuidam dessas atividades domésticas.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Os serviços de alimentação, que incluem restaurantes, bares, lanchonetes, am-


bulantes e os fornecedores de comidas prontas, também se destacaram como uma
atividade responsável por elevada geração de receita, valor adicionado, massa sala-
rial, pessoal ocupado e número de empresas.

Figura 4 – Distribuição percentual das empresas prestadoras de serviços não


financeiros, por atividades –Brasil – 2010

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Serviços e Comércio, Pesquisa Anual


de Serviços 2010.

(1) Inclusive subvenções, dotações orçamentárias recebidas de governos, transferências de


recursos e transferências financeiras para empresas públicas. (2) O valor adicionado bruto
refere-se à diferença entre o valor bruto da produção e o consumo intermediário.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 5 – Distribuição percentual das empresas prestadoras de serviços


não financeiros, por atividades de serviços prestados principalmente
às famílias e variáveis selecionadas –Brasil - 2010

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Serviços e Comércio, Pesquisa Anual


de Serviços 2010.
Nota: a Definição das atividades que compõem esse segmento difere da utilizada pelas
Contas Nacionais.
(1) Inclusive subvenções, dotações orçamentárias recebidas de governos, transferências de
recursos e transferências financeiras para empresas públicas.

Em 2009, dada a importância estratégica do segmento de tecnologia da infor-


mação para o país, o IBGE, realizou uma pesquisa específica sobre este segmento. A
amostra estudada totalizou 1 799 empresas de TI, com 20 ou mais pessoas ocupadas,
constantes do cadastro de empresas do IBGE e os produtos e serviços por elas ofertados.
A receita bruta de serviços e subvenções das empresas pesquisadas totalizou R$ 39,4
bilhões no ano de 2009. Os três principais produtos e serviços do segmento foram

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

responsáveis por uma receita de R$ 16,9 bilhões, ou seja, 43,0% do total. São eles: a)
desenvolvimento e licenciamento de uso de software customizável (personalizável)
próprio, desenvolvido no país, que, ao gerarem uma receita de R$ 5,9 bilhões, repre-
sentaram 14,9% do total; b) consultoria em sistemas e processos em TI, que, com uma
receita de R$ 5,6 bilhões, participou com 14,1% do total; e c) software sob encomenda
– projeto e desenvolvimento integral ou parcial, com uma receita de R$ 5,5 bilhões,
ou seja, 14,0% da receita gerada pelas empresas pesquisadas. Destacaram-se, ain-
da, no segmento das empresas de TI, apresentando participações expressivas no
total da receita gerada, produtos/serviços, tais como: “processamento de dados (in-
clusive entrada de dados e gestão de banco de dados de terceiros)”, que apresenta-
ram receita de R$ 4,7 bilhões, representando 12,1% da receita; “suporte e manuten-
ção de software”, com R$ 3,3 bilhões de receita e 8,4% de participação no total da
receita gerada; “representação e/ou licenciamento de uso de software customizável
desenvolvido por terceiros, no exterior”, com R$ 2,9 bilhões de receita e 7,4% de
participação no total da receita gerada; e “desenvolvimento e licenciamento de uso
de software não customizável desenvolvido no país”, com R$ 1,5 bilhão de receita e
3,8% de participação no total da receita gerada pelas empresas pesquisadas.

Figura 6 – Brasil: distribuição do total das empresas de serviços de tecnologia


da informação, 2009

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Serviços e Comércio, Pesquisa de


Serviços de Tecnologia da informação 2009.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

2.2 Conceito e caracterização de serviços

A conceituação de serviços tem dado margem a muita polêmica em virtude da


circunstância de estes englobarem uma grande variedade de atividades.
Meirelles (2008, p.32) apresenta uma definição bastante resumida e extrema-
mente objetiva desta atividade. Para ela, serviço é única e exclusivamente trabalho,
mais especificamente trabalho em processo. A prestação de serviços revela sua natu-
reza contratual na própria etimologia da palavra. Etimologicamente, prestação
corresponde à ação de satisfazer, do latim praestatione. Do ponto de vista jurídico,
prestação é o ato pelo qual alguém cumpre a obrigação que lhe cabe, na forma
estipulada no contrato.
Complementarmente pode-se considerar que os serviços constituem ativida-
des de produção de bens intangíveis, frequentemente de consumo imediato e não
estocáveis.
Téboul (1999, p.7) propõe uma definição simples citando a revista inglesa The
Economist que, numa nota de humour tipicamente britânico, afirma representar um
serviço “toda coisa vendida no comércio e que não seja possível deixar cair em cima
do pé!”
Existem diversas classificações para a atividade de serviços, variando das aca-
dêmicas até aquelas adotadas pelos organismos oficiais como o IBGE e a Secretaria
da Receita Federal (SRF). A despeito de se trabalhar neste livro com a classificação
oficial, visto que ela é quem vale para as instituições de fomento, serão mencionadas
algumas abordagens acadêmicas como a de Meirelles (2008, p.33) que baseada na sua
definição de serviços anteriormente exposta classifica os diferentes serviços de acor-
do como o processo de trabalho desenvolvido.
Por seu turno, Corrêa e Caon (2002, p.75) apresentam uma tipologia dos servi-
ços “com base nos contínuos de volume e variedade/customização do serviço” como
pode ser visualizado na Figura 7. Estes autores introduzem o conceito de “pacote de
valor” em substituição à usual denominação de produtos. Isso porque na venda de
muitos produtos estão embutidos serviços que compõem o seu valor total.
Outra classificação importante dos serviços refere-se àqueles prestados às
empresas e que são intensivos em conhecimento. São conhecidos nos meios de
consultoria como KIBS (sigla da sua denominação original Knowledge-intensive
Business Services). O ponto de partida para o debate sobre este termo KIBS está no
texto de Miles et al (1995), intitulado Knowledge-intensive Business Services: Users,
Carriers and Sources of Innovation. Nesse trabalho, seus autores discutem a impor-
tância do setor de serviços para a economia a partir da centralidade que um grupo
de atividades definido como KIBS passou a ter nos últimos anos. Os autores tratam
a ideia de conhecimento e tecnologia a partir dos KIBS, bem como avançam no
debate sobre KIBS e inovação (tanto a inovação deles mesmos como seu peso em

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

outros setores) nas recomendações de políticas públicas para o desenvolvimento


dessas atividades.
Os KIBS são definidos por eles como serviços às empresas que fornecem fun-
ções de informação e conhecimento (MILES et al., 1995 p. 24). Para os autores, são
serviços que dependem fortemente de conhecimento profissional (cientistas, enge-
nheiros, técnicos e experts de todos os tipos), estando alguns deles envolvidos em
mudanças tecnológicas, especialmente relacionadas às tecnologias da informação.
Os KIBS fornecem produtos que são fontes primárias de informação e de conheci-
mento para seus usuários (consultorias, relatórios, treinamentos etc.) que utilizam
seu conhecimento para produzir serviços que são insumos intermediários para as
atividades de processamento de informação e geração de conhecimento dos seus
clientes (serviços de informática e de comunicação). (MILES et al., 1995 p. 28)
Meirelles (2008, p.33) apresenta uma classificação dos serviços de acordo com o
processo de trabalho. Segundo este critério a autora citada trabalha com três catego-
rias a saber:

a) serviço puro;
b) serviço de apoio à transformação;
c) serviço de troca e circulação.

O serviço puro, como o nome diz, é o próprio trabalho que resulta em um


determinado resultado que implica em algum tipo de satisfação ou benefício. São
exemplos disso os serviços domésticos, serviços de entretenimento e lazer, serviços
de consultoria, serviços de assistência médica, serviços educacionais, serviços finan-
ceiros etc.
O serviço de apoio à transformação consiste nos trabalhos de suporte às ativi-
dades industriais. É o caso dos serviços de manutenção das máquinas e equipamen-
tos de segurança das instalações de controles internos etc. A fábrica, enquanto pro-
duz sua atividade-fim, é cliente internamente de um conjunto de serviços que são
atividades meio.
O serviço de trocas e circulação envolve pessoas, insumos, mercadorias, e valo-
res. É o que fazem os serviços de transporte; as áreas de marketing e vendas; os
serviços financeiros; os serviços de logística etc.
Corrêa e Caon (2002) apresentam outras classificações interessantes para os
serviços conforme ilustra a Figura 7 seguinte.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 7 – Categoria dos serviços segundo o volume da demanda

Fonte: Corrêa e Caon (2002, p.75 fig.2.18).

De acordo com os autores citados os serviços podem ser divididos em:

a) serviços profissionais em que o volume de clientes servidos não é de gran-


de porte visto que o atendimento é personalizado. Estes serviços exigem
um “front office” de qualidade pois é grande a intensidade do contato.
Exemplo: medicina especializada; salões de beleza sofisticados; consultorias
de alto nível, private banking etc.
b) serviços profissionais de massa em que o volume de clientes é mais eleva-
do graças à padronização do atendimento e a adoção de protocolos. Um
exemplo típico são os serviços médicos do Sistema Único de Saúde – SUS;
c) lojas de serviços, que atendem a um volume considerável de clientes. Estão
numa posição intermediária no que tange às variáveis front office, customi-
zação e os serviços de massa em que predomina o back office.5
d) serviços de massa, que atendem a um volume considerável de pessoas.
Exemplo: metrô, ônibus etc.
e) serviços de massa customizados. A introdução da tecnologia aos serviços
possibilita uma relativa customização. Os serviços de venda pela Internet
são um exemplo. A primeira classe nos aviões são outro.

(5) Front-office abrange todo o pessoal de linha de frente, que faz contato com o cliente. O
back-office é o pessoal de retaguarda que dá suporte à ação de quem está na linha de
frente.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

O IBGE a partir de 2007 adotou a Classificação Nacional de Atividades Econô-


micas (CNAE) 2.03, o que levou a alterações em suas pesquisas econômicas e ensejou
o início de uma nova série continuada de dados. Os sete segmentos apresentados a
seguir, nas tabelas do IBGE/CNAE se desdobram em 44 divisões, 123 grupos, 230
classes e 306 subclasses que representam o total das atividades do setor serviços
consideradas como atividades econômicas. A PAS investiga atividades descritas
em divisões e classes da CNAE 2.04 relacionadas ao segmento de serviços. Neste
livro adota-se, no estudo do mercado, o mesmo agrupamento, de acordo com as
finalidades de uso, utilizados pelo IBGE na sua Pesquisa Anual de Serviços 2010
(p.37), com o acréscimo dos serviços financeiros, de saúde e administração pública
não computados.

a. Serviços prestados às famílias - serviços de alojamento; serviços de ali-


mentação; atividades culturais, recreativas e esportivas; serviços pessoais;
e atividades de ensino continuado.
b. Serviços de informação e comunicação telecomunicações; tecnologia da
informação; serviços audiovisuais; edição e edição integrada à impressão;
e agências de notícias e outros serviços de informação.
c. Serviços profissionais, administrativos e complementares - serviços técni-
cos profissionais; aluguéis não imobiliários e gestão de ativos intangíveis
não financeiros; seleção, agenciamento e locação de mão de obra; agências
de viagens, operadores turísticos e outros serviços de turismo; serviços de
investigação, vigilância, segurança e transporte de valores; serviços para
edifícios e atividades paisagísticas; serviços de escritório e apoio adminis-
trativo; e outros serviços prestados principalmente às empresas.
d. Transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio - transporte fer-
roviário e metroferroviário; transporte rodoviário de passageiros; trans-
porte rodoviário de cargas; transporte dutoviário; transporte aquaviário;
transporte aéreo; armazenamento e atividades auxiliares dos transportes; e
correio e outras atividades de entrega.
e. Atividades imobiliárias - compra e venda de imóveis próprios; intermedia-
ção na compra, na venda e no aluguel de imóveis.
f. Serviços de manutenção e reparação - manutenção e reparação de veícu-
los automotores; manutenção e reparação de equipamentos de informática
e comunicação; e manutenção e reparação de objetos pessoais e domésti-
cos.
g. Outras atividades de serviços - serviços auxiliares da agricultura, pecuária
e produção florestal; serviços auxiliares financeiros, dos seguros e da pre-
vidência complementar; e esgoto, coleta, tratamento e disposição de resí-
duos e recuperação de materiais.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Como se vê os serviços compreendem uma variedade muito vasta e complexa


de atividades econômicas. Pode-se estar fazendo um projeto para um escola, um
hospital ou um hotel, mas em todos, o que está envolvido no processo é o trabalho
desenvolvido pelos professores e seu pessoal de apoio; médicos, enfermeiras e todo
o front-office e back-office; num hotel: recepcionistas, concierges, maleiros, arrumadeiras,
garçons, barmans e maitres estão no front-office. Gerentes, supervisores, pessoal de
informática e telecomunicações, manutenção, cozinheiros estão na retaguarda. A
eficiência da equipe de frente se mede pelo grau de envolvimento do pessoal back-
office com as atividades de contato direto com a clientela.
O que é de se destacar nos projetos de serviços é a imaterialidade do serviço.
No caso da escola o que está sendo vendido e que gera receita são as aulas e orienta-
ções oferecidas aos alunos. No caso dos hospitais são os atendimentos, note-se que
hospitais também funcionam como hotéis (se bem que os “hóspedes,” com exceção
das parturientes, não vão para lá muito felizes). Os hotéis vendem “estadas” dos
hóspedes (diárias) e mais um bocado de serviços de recreação e lazer que, muitas
vezes, são terceirizados.
O problema no projeto de serviço consiste na estimativa da procura e da sua
natureza para, em função desta determinar a estrutura e os custos. Por exemplo:
quantos alunos teremos? De que grau de aprendizagem? ; em um hospital a questão
se torna mais difícil pela imensidão dos procedimentos que poderão ir de um sim-
ples curativo na emergência a um transplante de órgãos; os hotéis têm que ser
dimensionados em função da estimativa da demanda de leitos.
Alguns serviços, como os de consultoria, são muitas vezes de demanda flu-
tuante. Numa crise, as atividades que entram logo no corte são as de consultoria. O
mesmo ocorre nas mudanças de governo. Então é recomendável nestes casos a rea-
lização do menor custo fixo e de imobilizações possíveis.
Pelo visto dá para concluir que os projetos de serviços, muitas vezes, são mais
complexos que os agrícolas e os industriais, notadamente quando se considera que,
diferentemente destes setores, o que não é vendido em uma empresa de serviços, é
perdido, tendo em vista o fato de não existirem estoques.
Há, por fim, que distinguir os serviços públicos dos privados. Em tese o que os
distinguiria seria o fato de os primeiros pertencerem à sociedade e objetivarem o
interesse público. A sua relação benefício/custo seria medida em termos de resulta-
dos sociais. Os segundos possuem donos e objetivam os interesses desses, ou seja, o
lucro. Mas esta interpretação não é de toda verdadeira porque na sociedade moder-
na, competitiva e globalizada o que mais importa é a qualidade do produto. Uma
instituição de ensino privada que não trabalhe pela formação de bons alunos e
profissionais para o mercado de trabalho, perde conceito e mercado.
Atualmente as instituições de ensino privado, notadamente as do ensino supe-
rior, buscam obter qualidade para atender a dois públicos cada vez mais exigentes.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

O primeiro é composto pelo sistema MEC/CAPES cuja métrica é rigorosa e o sistema


de avaliação permanente. Aí estão: o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes
(Enade), que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes) e
tem o objetivo de aferir o rendimento dos alunos dos cursos de graduação em relação
aos conteúdos programáticos, suas habilidades e competências; e a Coordenação de
Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) fiscalizando e classificando os
desempenhos da pós-graduação em todos os seus níveis. O segundo público é a pró-
pria clientela. Cada vez mais o alunado foge das “fábricas”, pois vão descobrindo que
nestas estão comprando uma mercadoria (o conhecimento) de baixa qualidade.
É interessante, no contexto desta discussão entre o serviço (ensino) público e o
privado, transcrever a opinião de Adam Smith em seu clássico e sempre atual Rique-
za das Nações, escrito nos idos de 1776. Nele dizia o grande economista, pai do libera-
lismo econômico, não sem razão, sabemos nós, que também as instituições para a
educação podem propiciar um rendimento suficiente para cobrir seus próprios gas-
tos. Ele não se ocupa de se é dever do Estado propiciar educação gratuita aos cida-
dãos. Ele apenas garante que, se esse for o caso, infalivelmente será a pior educação
possível. Ele afirmava que:

[...] quando o professor não é remunerado à custa do que pagam os alunos:


o interesse dele é frontalmente oposto a seu dever, tanto quanto isto é
possível [...] é negligenciar totalmente seu dever ou, se estiver sujeito a algu-
ma autoridade que não lhe permite isto, desempenhá-lo de uma forma tão
descuidada e desleixada quanto essa autoridade permitir. Nesta situação,
mesmo um professor consciencioso do seu dever, irá, segundo Smith, aco-
modar seu projeto de ensino e pesquisa a suas conveniências, e não de
acordo com parâmetros reais de interesse de seus alunos. (SMITH, [1776]
1983, v.II, p.389) [Grifo nosso]

Não esqueçamos, porém, a taxa de exploração do trabalhador6 (no exemplo, os


professores) que no Brasil e, sobretudo na Bahia, é elevadíssima, beneficiando-se os
capitalistas do ensino privado pelo emparedamento da classe trabalhadora propici-
ada por um grande “exército industrial de reserva” que permite o pagamento de
baixos salários e a elevação das suas margens de lucro.
Existe uma permanente discussão entre correntes ideológicas (neoliberais x
socialistas) quanto ao papel do Estado na economia. Esta discussão é acirrada na área
de serviços e, no Brasil, a privatização ganhou grande impulso a partir de 1990 no
governo de Fernando Collor de Mello e posteriormente com Fernando Henrique
Cardoso. Os governos posteriores, do Partido dos Trabalhadores (Luís Inácio Lula
da Silva, Dilma Rousseff) estancaram as privatizações, porém não as reverteram.

(6) Demonstrada por Karl Marx em 1890.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Segundo Kon (2004, p.60)

Embora os serviços privados tenham recebido maior atenção nos estudos


recentes, os serviços públicos agregam uma grande parte do emprego em
serviços. Esses serviços são fornecidos por meio de várias combinações de
organizações locais e nacionais e algumas operam em conjunto com um
setor privado menor, que oferece a provisão complementar e competitiva,
por exemplo, em educação, saúde e mesmo segurança. Os serviços públicos,
porém, tendem a ser analisados não totalmente por critérios econômicos de
custos ou lucros, mas por critérios sociais, incluindo a possibilidade de
acesso dos consumidores e a qualidade do produto. Além disso, alguns
são bens públicos puros que não podem ser fornecidos pelo setor priva-
do ou por indivíduos, como, por exemplo, defesa, funções administrati-
vas e regulatórias da área pública. Em muitas nações, os monopólios
naturais são de propriedade pública, em especial os que se fundamentam no
controle de redes da infra-estrutura econômica, como as telecomunicações,
rede de transportes, e o controle público é muitas vezes justificado por
considerações de segurança nacional em áreas estratégicas. Contudo, recen-
temente essas justificativas têm sido questionadas, [no Brasil devida a
absurda incompetência e corrupção nos serviços públicos] resultando na
ampliação da tendência à desregulação ou privatização de tais atividades,
no sentido de atrair investimentos e capital privado, por exemplo, nas teleco-
municações, energia elétrica, suprimento de água, transporte aéreo e ferrovi-
ário. Ainda que em grande parte dos países o setor público venha gradual-
mente se retirando de funções e atividades consideradas não essencialmente
sociais, os serviços públicos ainda representam uma contribuição significa-
tiva para as economias [notadamente pelo empreguismo desbragado movi-
do por interesse políticos escusos]. (Inserções do autor).

Os serviços públicos quando bem prestados são essenciais para a qualidade de


vida da população. Lamentavelmente isto está muito longe de ocorrer no Brasil em
todas as esferas de poder.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

TÍTULO III
O ESTUDO ADMINISTRATIVO

3.1 A estrutura administrativa

Como já foi antecipado, pela ordem de apresentação, o estudo dos aspectos


relativos à administração do empreendimento que se implanta ou se amplia ocupa,
normalmente, o primeiro lugar do projeto. Constitui a caracterização do empreen-
dimento, fornece informações básicas sobre o grupo empreendedor, define a estru-
tura organizacional e suas diretrizes de política. Nos projetos de implantação, o
estudo assume uma condição de declaração de propósitos (já que o empreendimento
ainda não existe), constitui uma peça do planejamento global da nova empresa. Nos
projetos de ampliação, vai mais além, constitui um demonstrativo da estrutura da
organização, promovendo uma análise administrativa da situação atual, de sorte a
fundamentar as novas inversões programadas.
Na prática, quando dos procedimentos de elaboração dos projetos de implan-
tação, o administrativo deve ser o último dos estudos a ser elaborado, para que
possa o planejamento da estrutura organizacional se fazer compatível com o porte,
a dimensão e o grau de complexidade do empreendimento projetado, cujo tamanho,
a priori, não se conhece com precisão.
Nos casos de projeto de ampliação, não somente este estudo como também a
própria atividade de projetar deve ser precedida de um diagnóstico de gestão que,
analisando os grandes subsistemas (gerência, vendas, produção e finanças) da em-
presa, indicará as principais linhas de ação norteadoras do planejamento.
Geralmente, nos projetos, o estudo administrativo é relegado, a um plano
secundário, notadamente naqueles empreendimentos cujo estágio de cultura orga-
nizacional se encontra concentrado na solução das questões que envolvem o binômio

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TEORIA DO PROJETAMENTO

produção x venda. Esta prática tem-se demonstrado nociva às empresas que assim
procedem, sendo responsável por problemas logísticos que influenciarão negativa-
mente, o desempenho operacional do empreendimento, em alguns casos de forma
irreversível ao longo de toda a sua existência.
Lamentavelmente, mesmo em alguns projetos de grande porte, nota-se, no
Brasil, um considerável descuido no que diz respeito à arquitetura da organização.
É frequente elaborarem-se os estatutos sociais de uma empresa, copiando-se, lite-
ralmente, estatutos de instituições similares, como se a estrutura organizacional e
as políticas da empresa reguladas por este instrumento básico pudessem ser pa-
dronizadas. Em muitos projetos, desprezam-se, completamente, os aspectos relati-
vos ao arranjo físico (layout) da administração e das atividades-meio, auxiliares da
planta. Empreendimentos de grande porte, responsáveis pela geração de numero-
sos empregos, implantam-se sem possuir uma estrutura e uma política de recursos
humanos definidas, confundindo, muitas vezes, a estrutura do DRH com a de uma
divisão de pessoal, que cuida de aspectos específicos nesta área. Os capítulos que
aqui serão abordados tratarão de alguns assuntos considerados de extrema impor-
tância para o estudo administrativo, contemplando, entre outros, os seguintes
aspectos:

a) a decisão de empreender e a caracterização do empreendimento;


b) o histórico empresarial;
c) a estrutura da organização;
d) a análise patrimonial.

3.2 A decisão de empreender e a caracterização do


empreendimento

3.2.1 A decisão de empreender

A implantação de qualquer negócio implica em risco. Risco de perda do capital


empregado, das economias acumuladas ao longo de anos de poupança, além da
possibilidade da contração de dívidas e, até mesmo, dos graves problemas de uma
falência. O oposto corresponde ao sucesso, à possibilidade da ampliação do patri-
mônio e, até mesmo, do enriquecimento.
Decorre disso que a decisão de empreender, de implantar um negócio, é algo
muito sério: exige reflexão e prudência e não pode nem deve ser adotada precipitada
ou impensadamente.
Ser empreendedor não significa ser imprudente. A decisão de empreender é
tomada em condições de risco e de incerteza quanto ao futuro, de modo que inexistem
fórmulas mágicas que assegurem previamente o sucesso de uma iniciativa.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Segundo as informações do Sebrae – SP, no Brasil, são criados anualmente


mais de 1,2 milhão de novos empreendimentos formais. Desse total, mais de 99%
são micro- e pequenas empresas e empreendedores individuais (EI). Tudo indica
que as micro- e pequenas empresas brasileiras têm aumentado as suas chances de
sobrevivência no mercado. Eis o que diz aquele órgão de fomento:

Tomando como referência as empresas brasileiras constituídas em 2006, a


taxa de sobrevivência das empresas com até 2 anos de atividade foi de
73,1%. Esse nível de sobrevivência foi superior à taxa das empresas com até
2 anos, no grupo das constituídas no ano anterior (71,9%), qual seja, de
empresas constituídas em 2005. Como a taxa de mortalidade é complemen-
tar à da sobrevivência, pode-se dizer que a taxa de mortalidade de empresas
com até 2 anos caiu de 28,1% para 26,9%, quando comparadas as empresas
constituídas em 2005 e 2006. Sob o ponto de vista setorial, no mesmo perío-
do, a evolução da sobrevivência foi positiva para todos os grandes setores:
indústria, comércio, serviços e construção civil. A taxa de sobrevivência da
indústria cresceu de 74,8% para 75,1%, a do comércio cresceu de 72,2% para
74,1%, a taxa de sobrevivência das empresas do setor de serviços subiu de
71,3% para 71,7% e a da construção civil, de 62,6% para 66,2%.([...]) Por
regiões do país, verifica-se que a taxa de sobrevivência é maior na região
sudeste (76,4%), única região que apresenta taxa de sobrevivência superior
à média nacional (73,1%). Na sequência, vêm as regiões Sul (71,7% de sobre-
vivência para empresas com até 2 anos), Nordeste (69,1% de sobrevivência),
Centro-Oeste (68,3%) e Norte com taxa de sobrevivência de 66%. De forma
complementar, as taxas de mortalidade de empresas com até 2 anos são
respectivamente: 23,6% no Sudeste, 28,3% no Sul, 30,9% no Nordeste,
31,7% no Centro-Oeste e 34% no norte. ([...]) Entre as Unidades da Fede-
ração, verificam-se taxas de sobrevivência muito diferentes. Dez Unidades
da Federação apresentam taxas de sobrevivência de empresas com até 2
anos superiores à média nacional. São destaques os estados Roraima, Paraíba
e Ceará, com taxas de sobrevivência próximas a 79%, seguidos por Minas
Gerais (78%), São Paulo (77%) e o Distrito Federal (75%). Dezessete Unida-
des da Federação apresentam taxas de sobrevivência inferiores à média na-
cional. Os estados de Pernambuco, Amazonas e Acre são os que apresentam
taxas de sobrevivência mais baixas, com 58%, 59% e 60% de taxa de sobre-
vivência para empresas com até 2 anos, respectivamente. Entre as regiões,
apenas a região Nordeste apresentou queda na taxa de sobrevivência, de
69,6% para 69,1%, na comparação das empresas constituídas em 2005 e
2006. Nessa região, três estados apresentaram redução na taxa de sobrevi-
vência (BA, PE e RN). (Sebrae-SP 2010, – grifo nosso).

O empreendedorismo está na moda desde o final do século XX na área da


administração e dos negócios. Muito deste protagonismo se deve, em parte, a um
esforço no sentido de reduzir os efeitos negativos do desemprego estrutural que
assolou o Brasil nas últimas décadas, assim como a necessidade de enxugamento das
folhas de pagamento de empresas públicas privatizadas e de corporações automatiza-

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TEORIA DO PROJETAMENTO

das. Já que não se cria, ou mantêm postos de trabalho na forma clássica e convenci-
onal, criar-se-ão “empresários”.
Nos anos recentes, também algumas grandes corporações seguiram o mesmo
caminho, recorrendo a processos de desintegração vertical que tomam empresta-
dos, do inglês, a denominação de “downsizing”, mas nem sempre, resultam em ope-
rações de sucesso para as empresas criadas. Empreender requer muito mais do que a
“necessidade”. E, novamente, inclusive nestes casos, o planejamento é fundamental.
O mercado de livros está inundado de obras sobre o assunto e inúmeras insti-
tuições públicas e privadas trabalham com o objetivo de “formar” empreendedores.
Não se está aqui negando os méritos do empresário schumpteriano, do inovador e
do empreendedor, figuras essenciais no processo capitalista de formação e acumula-
ção de capital. O que se critica é a forma, a metodologia que vem sendo adotada por
algumas instituições que subestimam os aspectos histórico-culturais, antropológi-
cos, sociológicos, psicológicos e políticos que estão por trás do processo de surgimento
e formação de empreendedores.
Descobrir talentos, aperfeiçoá-los e incentivá-los é uma coisa. Fazer talentos é
impraticável. O talento é inato. Segundo a literatura sobre o tema, um empreende-
dor possui as seguintes características:

a) assume riscos, pois tem coragem para enfrentar desafios;


b) sabe aproveitar oportunidades, pois está sempre atento e é capaz de perce-
ber, no momento certo, as oportunidades de negócio que o mercado oferece;
c) conhece o ramo, pois tem grande capacidade de aprendizado;
d) sabe organizar, pos tem senso de organização e capacidade de utilizar re-
cursos humanos, materiais e financeiros de forma lógica e racional;
e) toma decisões, pois é capaz de tomar decisões corretas no momento exato,
uma vez que é bem informado, analisa friamente a situação e avalia as
alternativas para poder escolher a solução mais adequada;
f) possui vontade de vencer obstáculos e tem confiança em si mesmo;
g) possui capacidade de liderança, já que sabe seduzir e inspirar confiança às
pessoas;
h) tem talento, e certa dose de inconformismo diante das atividades rotineiras
para transformar simples ideias em negócios efetivos;
i) é independente e obstinado, pois não se deixa influenciar e não desiste
facilmente;
j) é um otimista.

Isto posto, estima-se que um negócio, para ser bem sucedido, depende da
combinação de talento empresarial, competência gerencial, existência de mercado e
conjuntura econômica favorável.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Sem condições favoráveis de mercado, com taxas de juros estratosféricas que


não alavancam qualquer negócio e numa conjuntura recessiva não existe empreen-
dedor que sobreviva.
Assim, a decisão de empreender deve ser adotada a partir das seguintes condi-
ções:

a) convencimento do candidato a empresário de que reúne efetivamente as


condições exigidas para colocar um negócio e correr os riscos intrínsecos
nesta iniciativa;
b) conhecimento do ramo em que vai iniciar o negócio e dos requisitos míni-
mos de organização para gerenciá-lo;
c) domínio pleno da tecnologia de fabricação do produto ou da prestação do
serviço;
d) convencimento pleno da existência de condições favoráveis de mercado
(ver Título IV deste livro);
e) capacidade de mobilizar recursos a taxas de juros que alavanquem o ne-
gócio;
f) capacidade de capitalizar o negócio com a reaplicação dos resultados, mini-
mizando as retiradas dos sócios nos períodos iniciais da sua existência;
g) capacidade de analisar a conjuntura econômica e posse do “senso de opor-
tunidade para investir”.

Outras condições poderiam ser acrescentadas às aqui enunciadas. Estas, porém,


são as fundamentais.
Há de se dizer que o micro- e o pequeno empresário, em sua maioria, não
reúnem estas condições. Isto pode ser um preconceito quando se tratar do micro- e
pequeno empresário modernos e, quando for verdadeiro, na ausência de uma com-
petente assistência técnica, é mais responsável que não se estimule a formação de
empresas. Pelo menos se reduzirá a taxa de mortalidade dos negócios no primeiro
ano de existência.

3.2.2 Caracterização do empreendimento

Todo projeto reúne, logo em seu início, um conjunto de informações cadastrais


que objetivam possibilitar a sua completa identificação pelos leitores, sejam eles a
equipe de cadastro e/ou análise de uma instituição de fomento ou investidores
junto aos quais se esteja pleiteando a aplicação de recursos.
Os principais elementos de caracterização do estudo administrativo do projeto
são os seguintes:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

a) dados gerais:
1.1 razão social e nome empresarial;1
1.2 endereços;
1.3 personalidade jurídica;
1.4 data de constituição;
1.5 objetivo social;

b) dados específicos:
1.6 capital social;
1.7 natureza do capital social;
1.8 constituição do capital social;
1.9 controle acionário;
1.10 vinculações societárias.

Todo este conjunto de informações deve ser disposto de forma precisa, sendo
extraído da documentação jurídica e contábil da empresa.
Em casos de projetos de implantação, tais informações podem ser mais restri-
tas dadas às condições do empreendimento e a sua natureza inicial, que pode, inclu-
sive, aguardar a confirmação das fontes que viabilizarão os investimentos para
constituir-se. Neste caso, os dados relativos às pessoas físicas promotoras suprirão
provisoriamente as informações formais faltantes (no caso, basicamente os núme-
ros de registros e datas, posto que os demais elementos possam ser apresentados em
nível de intenção ou projeto).
Quando se trabalha com projetos de ampliação, a caracterização do empreendi-
mento poderá requerer um conjunto complexo de informações, conforme se verá a
seguir.

3.3 Histórico Empresarial

O histórico empresarial aborda os antecedentes da empresa ou do grupo de


investidores que se decidiu pela realização do projeto.
Nos casos de projeto de implantação, quando a empresa não possui anteceden-
te, é necessário que sejam, clara e objetivamente, explicados os motivos que condu-
ziram os investidores à decisão de empreender o projeto e demonstrada sua experiên-
cia e qualificação para a condução do negócio.

(1) A razão social corresponde à denominação pela qual a sociedade é registrada no Registro
de Comércio (Junta Comercial). O nome empresarial é a denominação da sociedade
para fins mercadológicos. Nem sempre a razão social e o nome empresarial são iguais.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Em projetos de ampliação, devem ser fornecidas não só a história da empresa


e de sua evolução ao longo do tempo como também as suas vinculações e inter-
relações com outros grupos.
Quando os empreendedores de um projeto são pessoas jurídicas, uma holding,
por exemplo, algumas instituições de fomento exigem que sejam detalhadas as com-
posições acionárias das controladoras até que estas atinjam as pessoas físicas acionis-
tas originais.

3.4 Estrutura da Organização

O planejamento da estrutura organizacional do empreendimento será função


do seu porte e dimensão, da sua área de atuação (mercados interno e/ou externo) e
do grau de complexidade e sofisticação tecnológica requerida para a sua implemen-
tação. A definição destes aspectos ocorre nos estágios de elaboração dos estudos do
mercado e da engenharia do projeto (estudo técnico).
O planejamento da estrutura organizacional do empreendimento poderá con-
templar um sequenciamento de etapas cujo processo de implantação ocorra de for-
ma gradual e sincronizada com os diversos estágios percorridos pela empresa até
que esta atinja a plena maturidade. Em sua elaboração devem ser definidas:

a) as diretrizes das políticas;


b) a estrutura organizacional.

As diretrizes das políticas deverão estabelecer quais serão as linhas básicas de


atuação da empresa, nas seguintes áreas:

a) produção;
b) vendas;
c) finanças;
d) recursos humanos.

Estas diretrizes de política, em termos de planejamento estratégico, fixarão as


grandes linhas de ação da empresa. Assim, no que se refere ao planejamento e ao
controle da produção, é importante definir o tratamento programado para o desen-
volvimento da pesquisa e da tecnologia com vistas à racionalidade e eficácia opera-
cional. Na área de vendas, a estratégia de marketing e, na financeira, as opções priori-
zadas para a captação dos recursos próprios e de terceiros, indispensáveis à realiza-
ção e à manutenção dos investimentos. Na área de pessoal, as políticas de recruta-
mento, seleção e treinamento dos recursos humanos.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

A estruturação organizacional, decorrente das diretrizes de política, inicia-se


com a definição da personalidade jurídica adotada pela empresa, por exemplo: se
será uma sociedade de pessoas (por quotas de responsabilidade limitada) ou uma
sociedade anônima (e, em sendo, se será de capital fechado ou aberto). Conclui-se
com a elaboração do organograma, em que se estruturará o conjunto de cargos e
funções essenciais para o funcionamento normal do empreendimento.
Nos projetos de ampliação e modernização, este capítulo refletirá sobre as
conclusões da análise administrativa que, previamente, deve ser realizada pelo pro-
jetista sempre que tratar de empreendimentos já existentes e em operação.

3.5 Análise patrimonial

Com a análise patrimonial, pretende-se averiguar o grau de solidez do empre-


endimento ou do grupo empreendedor (no caso de implantação) e a sua capacidade
de bancar o investimento projetado.
Nos projetos de ampliação, utiliza-se, com frequência, o método de análise
horizontal e vertical dos balanços e demonstrativos de resultados da empresa, con-
siderados para períodos que variam entre os últimos 3 a 5 anos. Desta análise são
extraídos índices que refletem o grau da saúde financeira do empreendimento.
Quando se elabora um projeto de implantação, em princípio, inexiste patri-
mônio. A sua formação inicia-se com a realização dos investimentos programa-
dos. Neste caso, a análise patrimonial será feita em relação à holding, ou empresa
controladora (no caso de o projeto estar sendo liderado por pessoas jurídicas).
Quando os acionistas controladores são pessoas físicas, devem ser apresentados
elementos comprovadores da sua capacidade patrimonial para bancar o investi-
mento.

3.6 Tópicos especiais


Este título é complementado por três tópicos especiais que abordam respecti-
vamente os seguintes assuntos:

1. roteiro-demonstração para o estudo administrativo;


2. comentários à Lei das Micro-s e Pequenas Empresas;
3. procedimentos para a constituição de empresas.

Por constituírem uma parte acessória do Título III, da qual é contínua, porém
distinta pela sua forma e apresentação, optou-se, por razões de ordem didática, pela

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

sua inclusão logo após a apresentação do tema principal, facilitando ao leitor a sua
compreensão e discussão. Desta forma receberam numerações específicas e indepen-
dentes.

1. ROTEIRO-DEMONSTRAÇÃO PARA O ESTUDO


ADMINISTRATIVO

O roteiro seguinte contempla situações de implantação e de ampliação. Deve-


se observar que, como o nome diz, roteiro não é modelo, cabendo que se proceda a
adaptações segundo as peculiaridades da empresa.
No caso da existência de uma fonte definida para o financiamento devem ser
seguidos os roteiros e as instruções desta.
Em caso de implantação, fazer um pequeno histórico das razões que funda-
mentaram a iniciativa. Tratando-se de ampliação, historiar a evolução da empresa
mencionando as solicitações de financiamento anteriores eventualmente feitas. Sin-
tetizar, outrossim, o entendimento da empresa quanto à conveniência de realizar o
projeto apresentado, tendo em vista as alternativas de investimentos existentes.
É importante lembrar a seguinte observação, já feita na Introdução. Na monta-
gem do roteiro-demonstração, adotou-se uma numeração específica que será sequenciada
ordenadamente ao logo dos capítulos. Esta numeração independe da adotada no livro.
Assim, o estudo administrativo é numerado 1.0; o do mercado, 2.0; o técnico 3.0; o financeiro
4.0; e o Econômico 5.0. As tabelas desses estudos acompanham a sua numeração. Exemplos:
Tabela 1.1, Tabela 2.1, Tabela 3.1, etc. O mesmo critério se aplica aos quadros e às figuras.
O roteiro aqui apresentado privilegia as pequenas e médias empresas.

1.0 Estudo Administrativo

1.1 Razão social


1.2 Endereços completos
a) escritório
b) fábrica
1.3 Sede e foro2

(2) Foro é o local onde se resolvem os litígios. Pode ser judicial ou arbitral. Os judiciais
ocorrem nas comarcas, que são estruturas do Poder Judiciário. As comarcas possuem
jurisdição sobre territórios definidos em lei. Os foros arbitrais mais apropriadamente
chamados de tribunais ou câmaras arbitrais são instituições privadas embasadas na lei
federal 9307/1996, que prevê a resolução de litígios através de uma justiça privada, em
que quem julga são árbitros, profissionais especializados das mais diversas áreas, em que
são resolvidas as pendências jurídicas da empresa.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

1.4 Forma jurídica de organização e data de constituição


1.5 Atos constitutivos
1.6 Registros
1.7 Inscrições
1.8 Objetivo da sociedade
1.9 Capital Social – estrutura do capital social (autorizado, subscrito e
integralizado)

1.10 Composição do capital social

Tabela 1.1 – Composição do capital social (no caso de S.A.)3

Fonte: Estatutos Sociais.

Tabela 1.1 (A) – Composição do capital (Sociedade Empresária)

(3) Observar que as tabelas designadas com a letra A, na numeração, representam uma
alternativa conforme o caso. Se a empresa é S.A. usa-se uma tabela, se é uma sociedade
empresária, utiliza a outra. Portanto as duas tabelas são excludentes entre si.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

1.11 Controle do capital social

Tabela 1.2 – Controle do capital social (no caso de S.A.)

Tabela 1.2 (A) – Composição e controle do capital social (sociedade empresária)

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TEORIA DO PROJETAMENTO

1.12 Administração da empresa

a) políticas administrativas projetadas ou utilizadas:


I. organização (management);
I I. recursos humanos;
III. suprimento;
IV. vendas;
V. finanças;
VI. produção.

b) organograma.

Tabela 1.3 – Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Diretoria

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 1.3 (A)– Direção da empresa (sociedade empresária)

1.13 Mão-de-obra

a) Direta
b) Indireta

(Nos projetos de ampliação, considerar a mão-de-obra existente, a projetada e


a total após a ampliação pretendida

Tabela 1.4 –Mão-de-obra direta

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 1.5 –Mão-de-obra indireta

(*) Remunerações que se agregam ao salário de forma eventual, como no caso, horas extras.
Ou de forma permanente como os adicionais.

Tabela 1.6 –Mão-de-obra fixa e variável (*)

(*) Esta tabela consolida as anteriores (1.4 e 1.5). Daqui se transfere os valores para a
composição dos custos fixos e variáveis.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

1.14 Estrutura financeira

Balanço de abertura (em caso de implantação) análise horizontal/vertical dos


balanços dos três últimos exercícios e balancete de verificação do último mês, ante-
rior ao fechamento do projeto, nos casos de projeto de ampliação. Adotar o modelo
de análise utilizado pelo BNDES, ver tabelas 1.7 até 1.10 seguintes.

1.15 Informações Cadastrais

Indicar referências bancárias e comerciais, bem como outras informações


esclarecedoras da idoneidade da empresa e de seus dirigentes, relacionar os bens
pessoais dos diretores e indicar, também, garantias pessoais possíveis.

1.16 Méritos e riscos do projeto

Destacar, sucintamente, os principais méritos do projeto e citar os riscos que


deverão merecer maior atenção por parte do empresário, a fim de garantir o sucesso
do empreendimento.

1.17 Providências para a implantação do projeto

Enumerar as providências previstas, a partir da consi-deração dos riscos a que


o projeto está exposto, ou, simplesmente, com o objetivo de minimizar o custo e o
prazo de sua implantação. Exemplo: elaborar um plano Pert para a execução do
projeto, contratar consultoria externa para reorganização administrativa da empresa,
contratar pessoal especializado, destacar uma equipe de funcionários da postulante
para se dedicar, exclusivamente, ao controle da implantação do projeto etc.

1.18 Apoio solicitado

Especificar o apoio solicitado para o empreendimento.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 1.7 –Balanços comparados – ATIVO*

(Continua)

(*) Aplica-se apenas aos projetos de ampliação.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 1.7 –Balanços comparados – PASSIVO*

(Continuação)

(*) Aplica-se apenas aos projetos de ampliação.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 1.8 –Demonstrativos Financeiros


(Continua)

(*) Aplica-se apenas aos projetos de ampliação.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 1.8 –Demonstrativos Financeiros

(Continuação)

(*) Aplica-se apenas aos projetos de ampliação.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 1.9 –Índices

(*) Aplica-se apenas aos projetos de ampliação.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 1.10 – Dívidas existentes

(*) Aplica-se apenas aos projetos de ampliação.

2. COMENTÁRIOS À LEGISLAÇÃO DAS MICROEMPRESAS

1. O estatuto nacional da microempresa e da empresa de pequeno porte

Roberto Campos, um dos mais importantes economistas que passaram por este
país, no século XX, dizia que o Brasil era “um país de contratos frouxos”. Referia-se
dessa forma, com a sua proverbial ironia, ao fato de ser uma marca da personalidade
nacional a produção feroz de legislação que tem como contrapartida uma profunda
displicência no seu cumprimento. Ademais, modificam-se as leis e regulamentos com
uma frequência que torna temerário introduzir-se em livro, que se espera manter
atualizado por um período de cinco anos, temas como o tratado neste capítulo.
Mas, fazer o que? A importância do assunto para uma orientação mais comple-
ta do leitor exige que se corra o risco.
Cumprindo dispositivo constitucional, especificamente os art. 170, IX e 179, a
lei complementar nº 123, de 14/12/2006, instituiu o Estatuto Nacional da Microem-
presa e da Empresa de Pequeno Porte (Emepp), que, com as modificações introduzidas
pela lei complementar nº 127, de 01.07.2007, substituiu integralmente as normas do
Simples Federal (Lei 9.317/1996) – vigente desde 1996 – e do anterior Estatuto da
Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei 9.841/1999), estabelecendo re-
gras para o tratamento diferenciado à microempresas e empresas de pequeno porte,
no âmbito dos três poderes da União, especialmente no que se refere:

a) à apuração e recolhimento dos impostos e contribuições da União, dos


Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, mediante regime único de
arrecadação, inclusive obrigações acessórias;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

b) ao cumprimento de obrigações trabalhistas e previdenciárias, inclusive


obrigações acessórias;
c) ao acesso a crédito e ao mercado, inclusive quanto à preferência nas aquisi-
ções de bens e serviços pelos poderes públicos, à tecnologia, ao associati-
vismo e às regras de inclusão.

2.3.1 Quem pode ser microempresa ou empresa de pequeno porte

A sociedade empresária, a sociedade simples e o empresário, devidamente


registrados no Registro de Empresas Mercantis ou no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, conforme o caso, desde que:

a) o empresário e a pessoa jurídica a ele equiparada, aufira receita bruta anual


igual ou inferior a R$ 380 mil, como microempresa; e
b) o empresário e a pessoa jurídica a ele equiparada que, não enquadrada
como microempresa, tiver receita bruta anual superior a R$ 380 mil, e igual
ou inferior a R$ 3,6 milhões, como empresa de pequeno porte.

A receita bruta considerada, consiste no produto de venda de bens e serviços, nas


operações por conta própria, no preço dos serviços prestados e no resultado nas opera-
ções em conta alheia, não incluídas as vendas canceladas e os descontos concedidos.

2.3.2 Quem não pode ser microempresa ou empresa de pequeno porte:

Determinadas atividades ou formas societárias são proibidas de aderir ao


Emepp, ficando vedado o enquadramento, as empresas seguintes:

a) aquelas de cujo capital participe outra pessoa jurídica;


b) a que seja filial, sucursal, agência ou representação, no país, de pessoa jurí-
dica com sede no exterior;
c) aquela de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empre-
sário, ou seja sócia de outra empresa que não seja micro- ou pequena em-
presa, cuja receita bruta global ultrapasse 360 mil ou 3,6 milhões como
empresa de pequeno porte;
d) cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de
outra empresa não beneficiada pela Lei Geral de MPE, desde que a receita
bruta global ultrapasse o limite R$ 360 mil reais ou R$ 3,6 milhões;
e) cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa
jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o
limite R$ 3,6 milhões;

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

f) as que forem constituídas sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo;


g) as que participem do capital de outra pessoa jurídica;
h) as que exerçam atividade de banco comercial, de investimentos e de desen-
volvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e
investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora
de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mer-
cantil, de seguros privados e de capitalização ou de previdência comple-
mentar;
i) as resultantes ou remanescentes de cisão ou qualquer outra forma de
desmembramento de pessoa jurídica que tenha ocorrido em um dos cinco
anos – calendário anteriores;
j) constituídas sob forma de sociedades por ações.

2.3.3 Enquadramento no regime da microempresa ou de pequeno porte

O enquadramento da pessoa jurídica no regime da micro-empresa ou empresa


de pequeno porte, excetuando-se as já enquadradas no regime jurídico anterior, dar-
se-á desde que se preencham os respectivos requisitos, com a simples comunicação
à Junta Comercial ou ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, em documento que,
obrigatoriamente, deverá conter:

a) tipo do enquadramento (microempresa ou pequeno porte);


b) nome, endereço, número do CNPJ;
c) número de registro na Junta Comercial (Nire) ou número do registro em
cartório e, no caso de empresa em constituição, o arquivamento dos seus
atos constitutivos;
d) declaração4 do titular (no caso de empresário) ou de todos os sócios, de que
o valor da receita bruta anual da empresa não excedeu, no ano anterior, os
limites exigidos para cada caso e que a empresa não se enquadra nas hipó-
teses de exclusão previstas em lei.

(1) Esta declaração, quando for utilizada para empresas em constituição, deverá o titular,
se for empresário, ou os sócios, no caso de sociedades, informar que a receita bruta
anual não excederá, no ano da constituição, os limites, conforme o caso, estabelecidos
em lei. O enquadramento de microempresa ou empresa de pequeno porte é gratuito,
ficando, portanto, essas empresas isentas de pagamento de taxas e emolumentos
remuneratórios referentes ao registro das declarações tanto nas juntas comerciais como
no Cartório de Registro Civil. As declarações de enquadramento poderão ser enviadas
por via postal com aviso de recebimento. Feita a comunicação à Junta Comercial ou ao
Cartório de Registro Civil, conforme o caso, a microempresa adotará, em seguida ao seu
nome, a expressão microempresa ou abreviadamente ME e a de pequeno porte, a expressão
empresa de pequeno porte ou EPP.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

2.3.4 Desenquadramento da microempresa e da empresa de pequeno porte

O desenquadramento da microempresa e da empresa de pequeno porte dar-se-á


quando são excedidos ou não são alcançados os limites de renda bruta estabelecidos
para cada um dos tipos, respectivamente.
A microempresa, ao ser desenquadrada, passa automaticamente à condição de
empresa de pequeno porte.
A empresa de pequeno porte, ao ser desenquadrada, pode ficar como micro-em-
presa ou ser excluída do regime.
Dar-se-á o desenquadramento com a comunicação ao órgão em que foi regis-
trada a empresa (Junta Comercial ou Cartório de Títulos ou Documentos) no prazo
de 30 (trinta) dias a contar da data de ocorrência do fato que lhe deu causa.
Deverá ser solicitado o desenquadramento em decorrência do excesso da ren-
da bruta, somente quando se verificar durante dois anos consecutivos ou três anos
alternados, em um período de cinco anos.
O desenquadramento é gratuito e também poderá ser feito por via postal com
aviso de recebimento.

2.3.5 Benefícios auferidos pela microempresa e empresa de pequeno porte

No campo administrativo, as empresas enquadradas como micro- ou de pe-


queno porte estão dispensadas da exigência do visto do advogado nos seus atos
constitutivos não necessitarão apresentar Certidão Negativa do INSS para transferir
o controle de cotas do seu capital, bem como não lhes será exigida qualquer prova de
quitação, regularidade ou inexistência de débito referente a tributo ou contribuição
de qualquer natureza nem mesmo no caso de extinção.
Na hipótese de protesto de título, quando o devedor for microempresário ou
empresa de pequeno porte, os emolumentos devidos ao tabelião de protesto não
excederão a um por cento do valor do título, incluídas neste limite as despesas de
apresentação, protesto, intimação e certidão será dispensada da exigência de cheque
administrativo para pagamento de título em cartório e o cancelamento do pagamen-
to registrado do protesto, fundamento no pagamento do título, será feito indepen-
dentemente da declaração de anuência do credor.
No campo previdenciário e trabalhista, as microempresas e empresas de pe-
queno porte estão dispensadas de afixar o quadro de horário de trabalho dos seus
empregados, proceder à anotação de concessão de férias no livro ou nas fichas de
registro dos empregados; e de apresentar o livro intitulado “Inspeção do Trabalho”.
A fiscalização trabalhista e previdenciária deverá orientar prioritariamente as
micro e pequenas empresas, observando sempre o critério da dupla visita para a
lavratura de autos de infração, salvo quando se tratar de falta de registro de em-

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

pregado, anotação na CTPS, ou ocorrência de reincidência, fraude, resistência ou


embargo à fiscalização.
As microempresas e empresas de pequeno porte também têm procedimentos
simplificados os na homologação de rescisão de contrato do trabalho, quando subs-
titui o extrato de conta vinculada do trabalhador relativo ao FGTS, pela Guia de
Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informações à Previdên-
cia Social (GFIP) do mês anterior.
No campo creditício, por disposição legal, as instituições financeiras oficiais
que operam com crédito para o setor privado dispõem de linhas específicas para as
microempresas e as de pequeno porte, devendo o montante disponível e suas condi-
ções de acesso ser amplamente divulgadas.

2.3.5.1 Penalidade para o enquadramento indevido

A pessoa jurídica ou a firma individual mercantil que, sem observância dos


critérios exigidos, solicitar seu enquadramento ou se mantiver enquadrada como
microempresa ou empresa de pequeno porte estará sujeita às penalidades seguintes:

a) cancelamento de ofício, de seu registro como microempresa ou como em-


presa de pequeno porte;
b) aplicação automática, em favor da instituição financeira, de multa sobre o
valor dos empréstimos obtidos, independentemente do cancelamento do
incentivo que tenha conseguido;
c) enquadramento no crime de falsidade ideológica, sem prejuízo de outras
figuras penais.

2.3.6 O Simples nacional ou Supersimples

Além de regras de tratamento diferenciado para as pequenas empresas, o Es-


tatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte traz novo tra-
tamento tributário simplificado, também conhecido como Simples Nacional ou
Supersimples.
O Simples nacional estabelece normas gerais relativas ao tratamento tributá-
rio diferenciado e favorecido a ser dispensado às microempresas e empresas de
pequeno porte no âmbito da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos municípios,
mediante regime único de arrecadação, inclusive obrigações acessórias.
Tal regime substituiu, a partir de 1º de julho de 2007, o Simples federal (lei
9.317/1996), que ficou revogado a partir daquela data.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

2.3.6.1 Recolhimento único

O Simples nacional implica o recolhimento mensal, mediante documento úni-


co de arrecadação, dos seguintes impostos e contribuições:

a) Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica – IRPJ;


b) Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI;
c) Contribuição Social sobre o Lucro Líquido - CSLL;
d) Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins;
e) Contribuição para o PIS/Pasep;
f) Contribuição Patronal Previdenciária – CPP para a Seguridade Social, a
cargo da pessoa jurídica, de que trata o art. 22 da Lei no 8.212, de 24 de
julho de 1991, exceto no caso da microempresa e da empresa de peque-
no porte que se dedique às atividades de prestação de serviços referidas
no § 5o C do art. 18 da Lei Complementar n. 123;
g) Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e So-
bre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal
e de Comunicação – ICMS;
h) Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza – ISS.
i) Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro, ou Relativas a
Títulos ou Valores Mobiliários – IOF;
j) Imposto sobre a Importação de Produtos Estrangeiros – II;
k) Imposto sobre a Exportação, para o Exterior, de Produtos Nacionais ou
Nacionalizados – IE;
l) Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural – ITR;
m) Imposto de Renda, relativo aos rendimentos ou ganhos líquidos auferidos
em aplicações de renda fixa ou variável;
n) Imposto de Renda relativo aos ganhos de capital auferidos na alienação
de bens do ativo permanente;
o) Contribuição para o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS;
p) Contribuição para manutenção da Seguridade Social, relativa ao tra-
balhador;
q) Contribuição para a Seguridade Social, relativa à pessoa do empresá-
rio, na qualidade de contribuinte individual;
r) Imposto de Renda relativo aos pagamentos ou créditos efetuados pela
pessoa jurídica a pessoas físicas;

O valor devido mensalmente pela microempresa e empresa de pequeno por-


te comercial, optante pelo Simples nacional, será determinado mediante a aplica-
ção das inúmeras tabelas anexas à lei complementar nº 123, de 14/12/2006, As-

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

sim, é preciso que o empresário/contador, antes de decidir pelo enquadramento ou


não à nova sistemática, faça ensaios com as situações concretas que possui, pois,
serão os casos concretos que ditarão, nas situações específicas, a vantagem ou a
desvantagem de tal opção. De imediato, podemos afirmar que há situações em que
a tributação pelo Supersimples é mais onerosa que a tributação pelo regime do
lucro presumido.

2.3.6.2 Inscrição no Simples nacional

Nem todas as atividades empresariais têm a opção de adotar o regime unifi-


cado. Esta limitação acaba por reduzir bastante a abrangência do Simples nacional.
Assim, não poderão ingressar no Simples nacional as microempresas e empre-
sas de pequeno porte, seguintes:

a) as que explorem atividade de prestação cumulativa e contínua de serviços


de assessoria creditícia, gestão de crédito, seleção e riscos, administração de
contas a pagar e a receber, gerenciamento de ativos (asset management),
compras de direitos creditórios resultantes de vendas mercantis a prazo ou
de prestação de serviços (factoring);
b) a que tenha sócio domiciliado no exterior;
c) aquela de cujo capital participe entidade da administração pública, direta
ou indireta, federal, estadual ou municipal;
d) a que possua débito com o Instituto Nacional do Seguro Social – INSS, ou
com as Fazendas Públicas Federal, Estadual ou Municipal, cuja exigibilidade
não esteja suspensa;
e) a que preste serviço de transporte intermunicipal e interestadual de passa-
geiros;
f) a que seja geradora, transmissora, distribuidora ou comercializadora de
energia elétrica;
g) a que exerça atividade de importação ou fabricação de automóveis e moto-
cicletas;
h) a que exerça atividade de importação de combustíveis;
i) a que exerça atividade de produção ou venda no atacado de:

I. cigarros, cigarrilhas, charutos, filtros para cigarros, armas de fogo, mu-


nições e pólvoras, explosivos e detonantes;
II. bebidas a seguir descritas:
i. alcoólicas;
ii. refrigerantes, inclusive águas saborizadas gaseificadas;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

iii. preparações compostas, não alcoólicas (extratos concentrados ou sa-


bores concentrados), para elaboração de bebida refrigerante, com
capacidade de diluição de até 10 (dez) partes da bebida para cada
parte do concentrado;
iv. cervejas sem álcool;

j) que tenha por finalidade a prestação de serviços decorrentes do exercício de


atividade intelectual, de natureza técnica, científica, desportiva, artística ou
cultural, que constitua profissão regulamentada ou não, bem como a que
preste serviços de instrutor, de corretor, de despachante ou de qualquer
tipo de intermediação de negócios;
k) que realize cessão ou locação de mão-de-obra;
l) que realize atividade de consultoria;
m) que se dedique ao loteamento e à incorporação de imóveis;
n) que realize atividade de locação de imóveis próprios, exceto quando se
referir a prestação de serviços tributados pelo ISS.

2.3.6.2 Exclusão do Simples nacional

A exclusão deste regime simplificado dar-se-á de ofício ou mediante comuni-


cação do titular ou sócios.
Assim, de oficio ocorrerá entre outras possibilidades quando:

a) for verificada a falta de comunicação obrigatória;


b) praticar qualquer infração ao disposto na LC 123;
c) comercializar mercadorias objeto de contrabando ou descaminho; omitir
folhas de pagamento ou documento de informação previdenciária, traba-
lhista ou tributária.

A exclusão por comunicação, ocorrerá:

a) por opção dos sócios;


b) obrigatoriamente, quando incorrer nas vedações da LC 123.

A exclusão deverá ser comunicada à Receita Federal.


A legislação aplicada às empresas optantes pelo Supersimples contém nos seus
anexos muitas tabelas, que refletem a aferição do valor mensal devido por elas,
conforme o seu ramo de atividade.
Assim, torna-se necessário um criterioso exame para averiguar se realmente
valerá a pena aquela empresa aderir ao Simples nacional, pois para certas ativida-
des, configura-se mais oneroso a opção por esse regime tributário.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

2.3.7 Microempreendedor Individual – MEI

Com uma ambiciosa meta de formalizar mais de dez milhões de trabalhado-


res, o Programa do Empreendedor Individual, criado pela lei complementar n. 128/
2008 e implementado em julho de 2009, tem como objetivo legalizar os microem-
preendedores que não têm nenhum direito previdenciário nem personalidade jurí-
dica e consiste no empresário individual, o que exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, pre-
visto no art. 966 do Código Civil, desde que tenha auferido receita bruta, no ano-
calendário anterior, de até R$ 60.000,00 (sessenta mil reais).
No caso de início de atividades, o limite de receita será de R$ 5 mil multiplica-
dos pelo número de meses, compreendido entre o início da atividade e o final do
respectivo ano-calendário, consideradas as frações de meses como um mês inteiro.

2.3.7.1 Como efetuar o registro como MEI

Para se registrar como MEI, o empreendedor deve procurar um contador ou


determinadas entidades de apoio, por exemplo, o Sebrae, e fornecer o número de
sua carteira de identidade, o de seu CPF e seu endereço residencial. Deve informar,
ainda, o endereço do local em que trabalha ou pretende trabalhar e a atividade que
vai exercer.
O autônomo pode ainda acessar o portal www.portaldoempreendedor.gov.br e
preencher um formulário, escolhendo uma das 170 atividades disponíveis. O siste-
ma de cadastro é autoexplicativo.
O processo de formalização não custa nada. Para a formalização e para a pri-
meira declaração anual existe uma rede de empresas de contabilidade optantes do
Simples nacional, que irão realizar essas tarefas gratuitamente no primeiro ano. O
empreendedor já receberá seu número de identificação do registro empresarial (Nire)
seu número no Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas (CNPJ) e o número de inscri-
ção no INSS. Tudo é feito eletronicamente. Não há necessidade de assinatura nem
documento.
A Secretaria Executiva do Comitê Gestor do Simples Nacional instituiu o Simei,
que é o Sistema de Recolhimento em Valores Fixos Mensais dos Tributos abrangi-
dos pelo Simples nacional, independentemente da receita bruta auferida pelo
microempreendedor individual (desde que dentro do limite de R$ 60 mil anuais). É
o sistema de pagamento em valores fixos por carnê mensal.

2.3.7.2 Condições para enquadramento

As condições para enquadrar-se no Simei são as seguintes:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

a) ter auferido receita bruta no ano-calendário anterior de até R$ 60.000,00,


sendo que, para empresas novas, o limite é proporcional: R$ 5.000,00
multiplicados pelo número de meses compreendido entre a abertura e o
final do exercício. de modo que, para a empresa aberta em julho, por exem-
plo, o limite será de R$ 30.000,00;
b) ser optante pelo Simples nacional;
c) não ser titular, sócio ou administrador de outra empresa;
d) não ter filiais;
e) ter, no máximo, um empregado que receba até 1 salário mínimo (ou o
salário-mínimo da categoria profissional);
f) exercer atividades ou ocupações típicas para o microempreendedor indi-
vidual, uma entre outras estão as seguintes: açougueiro, artesão, mani-
cure, pedicure, cabeleireiro, taxista, quitandeiro, padeiro, professor parti-
cular, empregado doméstico, costureiro, músico, tradutor, capoteiro, en-
canador, etc.

2.3.7.3 Recolhimento

O microempreendedor pagará apenas valores simbólicos para o município (R$


5,00 de ISS) se for o caso de prestação de serviços, e para o Estado (R$ 1,00 de ICMS),
se houver incidência. Já o INSS será reduzido a 5% do salário mínimo (R$ 33,90).
Com isso, o empreendedor individual terá direito aos benefícios previdenciários a
que têm direito os demais empresários.
O microempreendedor individual recolherá, até o dia 20 de cada mês, em
valores fixos, por meio do Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS):

a) R$ 33,90 (5% do salário mínimo), destinados ao INSS do segurado empresá-


rio (contribuinte individual), valor que será reajustado anualmente;
b) R$ 1,00 de ICMS;
c) R$ 5,00 de ISS.

Assim, temos os seguintes valores mensais totais (válidos para 2013):


R$ 34,90 – para o comércio ou indústria
R$ 39,90 – para o prestador de serviços

O carnê para pagamento poderá ser impresso no aplicativo PGMEI, que está
disponível no www. portaldoempreendedor.gov.br.
Com isso, o empreendedor individual terá direito aos benefícios previdenciários
a que têm direito os demais empresários, recolhendo estes valores fixos até o dia 20 de
cada mês, por meio do documento apropriado, o DAS.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

2.3.7.4 O PGMEI

O microempreendedor terá acesso livre, ao aplicativo, pois não há exigência


de qualquer código ou senha. O aplicativo possibilitará a emissão imediata e simul-
tânea de todos os documentos de arrecadação (DAS) para todos os meses do ano-
calendário. Para a empresa aberta em julho, por exemplo, será possível emitir o
carnê para os meses de julho a dezembro.

2.3.7.5 Desenquadramento por excesso de receita bruta

Quando o empreendedor exceder a receita bruta anual de R$ 60 mil será


desenquadrado do Simei. Todavia, a data-limite para o início de seus efeitos, poderá
variar, conforme as seguintes situações:

a) quando a receita bruta total for de até R$ 72.000,00 (excesso de até 20%), ele
será desenquadrado a partir do ano-calendário subsequente ao que estiver
em curso, caso em que recolherá os tributos relativos ao excesso juntamen-
te com a competência janeiro do ano-calendário seguinte, adotando uma
forma de pagamento pela qual deverá somar o excesso às receitas obtidas
em janeiro e passará a recolher os tributos pelo regime do Simples nacional
também a partir do ano-calendário seguinte;
b) quando a receita bruta total for maior que R$ 72.000,00 (excesso superior a
20%), será desenquadrado retroativamente ao ano-calendário do excesso
caso em que, terá que recolher todos os tributos relativos ao Simples nacio-
nal desde o ano anterior, com acréscimos legais.

2.3.7.6 Contratação de empregado

O microempreendedor individual poderá contratar um único empregado que


receba exclusivamente um salário mínimo ou o piso salarial da categoria profissio-
nal. Nesse caso, ele deverá:

a) recolher, em Guia da Previdência Social (GPS), a cota patronal previden-


ciária de 3%, juntamente com a cota do empregado (de 8%), totalizando
11% sobre a remuneração;
b) preencher e entregar a Guia de Recolhimento do FGTS (GFIP) depositando
a respectiva cota do empregado.

É proibido ao microempreendedor individual realizar cessão ou locação de


mão-de-obra. Isso significa que o benefício fiscal criado pela LC 128/2008 é destina-
do ao empreendedor e não à empresa que o contrata.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

2.3.7.7 Documentos fiscais

O microempreendedor individual está dispensado da emissão de documentos


fiscais nas operações e serviços para o consumidor final pessoa física. Será porém
obrigado a emitir o documento fiscal nas operações com mercadorias e nas presta-
ções de serviços realizadas pelo empreendedor individual para destinatário cadas-
trado no CNPJ.
Para isso, é obrigatório o preenchimento do resumo mensal de vendas/recei-
tas cujo modelo se encontra na internet. A este resumo, deverão ser juntados os
documentos fiscais que comprovem as aquisições de mercadorias e serviços toma-
dos.

2.3.7.8 Declaração anual

O microempreendedor individual deverá prestar informações anualmente de


forma extremamente simplificada.
Informará, até 31 de janeiro de cada ano, tão-somente:

a) a receita bruta total auferida relativa ao ano-calendário anterior;


b) a receita bruta total auferida relativa ao ano-calendário anterior, referente
às atividades sujeitas ao ICMS;
c) se contratou empregado.

3. PROCEDIMENTOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE EMPRESAS

3.1 Considerações preliminares

Este seção5 reúne informações essenciais para os projetistas quanto aos aspec-
tos legais de que se reveste a constituição de uma empresa. Isto porque, com o novo
Código civil (2002), muitas alterações surgiram, exigindo uma revisão dos procedi-
mentos, notadamente no que tange aos atos de registro de comércio.
O processo de constituição de uma empresa tem início com o seu registro no
órgão competente. O Código civil acabou com a dicotomia até então existente entre
sociedades civis e sociedades comerciais. Atualmente, as sociedades ou são empre-
sárias, devendo ter seus atos constitutivos arquivados no Registro Público de Em-
presas Mercantis (Junta Comercial), ou simples (não empresárias), devendo o seu

(5) Atualizada em abril de 2013.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

contrato social ser inscrito no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (Cartórios de
Títulos e Documentos).
A sociedade não se confunde com os seus sócios, titularizando direitos e con-
traindo deveres próprios. Por isto, quem é empresário é a sociedade e não os seus
sócios. Não obstante existir através de um sócio ou administrador, é ela (a socieda-
de) quem celebra os negócios jurídicos que são honrados com o seu patrimônio.
A sociedade simples é aquela que não desempenha atividade empresarial. A
sociedade simples é a pessoa jurídica que realiza atividade intelectual, de natureza
científica, literária ou artística, ainda que com o concurso de auxiliares ou colabo-
radores, por exemplo, as que são constituídas por profissionais do mesmo ramo
como médicos, arquitetos ou engenheiros, embora esses tipos sociedade atual-
mente estejam migrando para as juntas comerciais estaduais, transformando-se
em empresárias.
As empresas brasileiras pelo Código civil podem ser constituídas por um ou
mais empreendedores.
Assim é que está prevista legalmente a existência do empresário e da socieda-
de empresária. Aqui, destacam-se esses dois tipos de sociedades, por serem os mais
usados no Brasil, e serem estruturas jurídicas mais recomendáveis para as microem-
presas e empresas de pequeno porte). Mais resumidamente, serão consideradas tam-
bém, as sociedades cooperativas dada a sua importância social.

3.2 Vantagens e desvantagens dos tipos de empresas

O empresário é a forma jurídica mais simples e também a mais ágil, pois se


confunde com a pessoa física do titular da empresa. Substitui a antiga firma indivi-
dual. É indicado para pequenos empreendimentos, pois a responsabilidade do titu-
lar é ilimitada, atingindo, se necessário, os seus bens particulares para saciar os
débitos para com os credores.
Entre a forma jurídica do empresário e da sociedade limitada foi introduzida,
no Código civil brasileiro, através da lei 12.441/2011 a empresa individual de res-
ponsabilidade limitada (Eireli) que é constituída por única pessoa titular da totalida-
de do capital social.
A sociedade empresária é indicada para pequenos, médios e grandes empreen-
dimentos. É o tipo de sociedade mais comum porque é formada por mais de um
sócio, podendo juntos congregar esforços e capital para alcançar os objetivos pro-
postos. Neste tipo de sociedade, a responsabilidade dos sócios é limitada ao mon-
tante do capital social, embora atualmente, em algumas hipóteses, no caso de
desconsideração da pessoa jurídica, os sócios respondem subsidiária, mas ilimitada-
mente pelas obrigações sociais. As sociedades empresárias, considerando o seu ramo

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TEORIA DO PROJETAMENTO

de atividade e o porte do seu empreendimento, podem escolher qualquer um dos


seguintes tipos societários permitidos legalmente:

a) sociedade em nome coletivo;


b) sociedade em comandita simples;
c) sociedade em comandita por ações;
d) sociedade limitada;
e) sociedade anônima;
f) sociedade cooperativa.

O primeiro passo desses tipos a sociedade em nome coletivo é pouquíssimo utiliza-


do, pois exige que os sócios sejam pessoas físicas, com responsabilidade solidária e
ilimitada por todas as dívidas da empresa, podendo o credor executar os bens parti-
culares dos sócios, mesmo sem ordem judicial. A firma ou razão social de sociedade
em nome coletivo, se não individualizar todos os sócios, deverá conter o nome de
pelo menos um deles, acrescido do aditivo e companhia, por extenso ou abreviado
(Cia).
O segundo tipo a sociedade em comandita simples também é pouco utilizado,
sendo a empresa constituída por sócios comanditados, que participam com capital e
trabalho, tendo responsabilidade solidária e ilimitada e comanditários, que apenas
aplicam o capital, possuindo responsabilidade limitada ao capital empregado e não
participando da gestão dos negócios da empresa. Trata-se de empresa de capital
fechado (não negociável em Bolsa) e no nome empresarial só devem figurar os
sócios comanditados, sob pena de responsabilidade solidária e ilimitada do sócio
que constar na denominação social.
A sociedade em comandita por ações também em processo de extinção, é regida
pelas normas relativas às sociedades anônimas Os sócios comanditados, nomeados
no estatuto podem ser destituídos por 2/3 do capital, respondendo ilimitadamente
pelas obrigações da empresa, enquanto os sócios comanditários (demais acionistas)
possuem responsabilidade limitada ao capital social. Assim como as S.A., pode ser
empresa de capital aberto (ações em bolsa de valores). Pode utilizar a denominação
ou nome fantasia, acrescidas da expressão comandita por ações.
O quarto tipo, a sociedade limitada: está representado em mais 90% das empre-
sas no Brasil. Nela a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas
cotas, embora respondendo solidariamente pela integralização do capital social,
referente à parte não integralizada pelos demais sócios. No nome empresarial,
utiliza-se a denominação ou nome fantasia, acrescida obrigatoriamente da expres-
são LTDA.
A sociedade anônima é a forma jurídica indicada para grandes projetos, pois o
seu processo de constituição não é tão simples, exige uma série de atos para que

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

tenha existência legal e também é o mais oneroso. Em geral, ela surge da necessida-
de de reunir capitais para grandes empreendimentos, de longa duração, com a divi-
são dos riscos entre muitos. O capital encontra-se dividido em ações e cada acionista
é responsável somente por aquilo que subscreveu, e ainda não integralizou. Vale
dizer que, se todo o capital social estiver integralizado, os credores da sociedade não
poderão alcançar o patrimônio particular de nenhum sócio. A responsabilidade é
limitada e não solidária. Os acionistas controladores respondem por abusos. Rege-
se por lei específica (a lei 6.404/76).
As sociedades anônimas, principalmente no caso de grandes empresas, pos-
suem várias espécies de títulos (ações, partes beneficiárias, debêntures e bônus de
subscrição), são regulamentadas por diversos órgãos (Assembleias Gerais e Espe-
ciais, Diretoria, Conselho de Administração e Conselho Fiscal), devendo publicar
seus atos no Diário Oficial e em jornal de grande circulação, editado no local da sede
da companhia. Os seus atos são arquivados no Registro do Comércio. Utiliza a
denominação ou nome fantasia, acrescido da expressão S.A. ou antecedido da ex-
pressão Companhia ou Cia.
Por fim, as sociedades cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natu-
reza jurídica próprias, independentemente do seu objeto, não sujeitas à falência, e
constituídas para prestar serviços a seus associados. Têm um modelo societário que
viabiliza a busca e a realização de um dos princípios básicos expresso na nossa
Constituição e pilar da democracia: proporcionar oportunidades iguais a todos àque-
les que compõem a sociedade. A função social da cooperativa é compreendida por
sua possibilidade de formalizar as atividades de pessoas que estão na informalidade
por força da rigidez do mercado de trabalho.

3.3 O registro

Compete às juntas comerciais executar os serviços de registro dos empre-


sários, das sociedades empresárias e das cooperativas segundo as normas da lei nº
8934/94 regulamentada pelo decreto nº 1800/96 e instruções normativas emana-
das do Departamento Nacional do Registro do Comércio (DNRC), na forma que se
segue:

3.3.1 Empresário

A constituição deste tipo de empresa consiste na apresentação, para registro na


Junta Comercial, de Requerimento disponível na Internet sendo admitida a repre-
sentação do titular por procurador legalmente habilitado.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

O requerimento que deverá ser em quatro vias, terá todos os seus campos
preenchidos exceto os reservados para uso da Junta Comercial. O documento tem
que ser legível, de formas que permita a sua reprografia e microfilmagem.
O empresário individual responderá pelos débitos por desventura existentes
com o seu patrimônio pessoal, pelas dívidas contraídas, vez que o Direito brasileiro
não admite a figura do empresário individual com responsabilidade limitada e,
consequentemente, não admite, também, a distinção entre o patrimônio empresarial
(o patrimônio do empresário individual afetado ao exercício de sua empresa) e o
patrimônio particular da pessoa física (natural – fora da atividade empresarial).

Assim, no requerimento devem ser preenchidos os seguintes campos:

I. Qualificação do titular

i.indicar o nome completo, sem qualquer supressão ou abreviatura;


ii.cidade e sigla do Estado em que nasceu o titular;
iii.indicar o país em que o titular nasceu;
iv. informar se o titular é solteiro, casado (declarar o regime de bens), viú-
vo, separado judicialmente, divorciado;
v. informar nome do pai e da mãe do titular, sem abreviatura;
vi. indicar o dia, mês e ano do nascimento do titular;
vii. informar dados do documento de identidade: mencionar a sigla do ór-
gão expedidor e a da respectiva unidade da federação constantes no
documento de identidade (são aceitos como documentos de identidade a
Cédula de Identidade, Certificado de Reservista, Carteira de Identidade
Profissional, Carteira do Trabalho e Previdência Social ou Carteira Na-
cional de Habilitação (modelo da Lei 9.503/97), valendo a seguinte ob-
servação: se o titular for estrangeiro, é exigida identidade com prova de
visto permanente e dentro do período de sua validade ou documento
fornecido pelo Departamento de Polícia Federal, com indicação do nú-
mero do registro, salvo se o titular for cidadão dos países dos Estados
Participantes do Mercosul e obtiverem a residência temporária por dois
anos;
viii. indicar o número do Cartão de Identificação do Contribuinte (CPF);
ix. caso o titular seja menor de 18 anos e maior de 16 anos, emancipado,
deverá indicar esta condição e a forma de emancipação, a qual deverá
estar averbada no Registro Civil;
x. fornecer endereço completo da residência do titular, compreendendo o
nome do logradouro, número, complemento, nome do bairro/distrito,
número do CEP, nome do município e sigla da unidade da Federação.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

II. Nome empresarial

Consiste no nome completo ou abreviado do titular. Não se pode abreviar o


último sobrenome, nem excluir qualquer dos componentes do nome. Recomenda-se
que seja feita pesquisa do nome desejado na Junta Comercial em que a empresa será
registrada para evitar nome idêntico ou semelhante. Havendo nome igual já registra-
do, o titular deverá aditar ao nome escolhido a designação mais precisa de sua pessoa
ou gênero de negócio que o diferencie do outro já existente.
A adição, ao nome empresarial da sigla ME (microempresa) ou EPP (empresa
de pequeno porte), não pode ser efetuada no requerimento de inscrição do empresá-
rio. Pode sim, ser requerida em processo apartado, concomitantemente com o pedi-
do de inscrição. Somente depois de arquivada a declaração de enquadramento é que
a empresa, obrigatoriamente, adicionará ao nome empresarial os termos acima
citados.

III. Endereço da firma

i. fornecer endereço completo;


ii. nome do bairro ou distrito;
iii. código de endereçamento postal (CEP) correspondente ao endereço;
iv. nome do município onde se localizará a firma;
v. sigla da unidade da Federação em que se localiza o município;
vi. indicar o endereço de correio eletrônico (se houver).

IV. Capital

Deve ser declarado o valor do capital por extenso.

V. Objeto (atividade econômica) de acordo com o CNAE fiscal

Preencher com o código correspondente às atividades descritas no objeto,


conforme tabela de Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE fis-
cal). Ordenar o código das atividades indicando as principais (a que proporcionar
maior valor de receita esperada) e secundárias. Devem ser descritas as atividades
que expressam os objetivos do empresário, não podendo ser inseridos termos
estrangeiros na descrição, exceto quando não houver termo correspondente em
português. O objeto da firma individual não poderá ser ilícito ou contrário aos bons
costumes ou a ordem pública.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

VI. Data do início das atividades

É facultado indicar a data (dia, mês e ano) do início das atividades. Caso seja
informada, deverá corresponder à data prevista que não poderá ser anterior à data
do requerimento de inscrição.

VII. Assinatura da firma pelo empresário

Deverá ser aposta a assinatura da firma profissional, reproduzindo o nome da


empresa indicado no campo empresarial. O uso da firma é privativo do empresário.

VIII. Data da assinatura

Preencher com o dia, mês e ano em que o requerimento foi elaborado.

IX. Assinatura do empresário

A assinatura deve ser a que o titular, representante ou assistente, usa normal-


mente em relação ao seu nome civil.
Observação: qualquer modificação de dados do empresário, por exemplo,
mudança de endereço, de estado civil, filiais, capital social, far-se-á com o mesmo
requerimento, desta vez para alteração de dados.

3.3.2 Empresa individual de responsabilidade limitada

Esta nova forma jurídica de empresa, constituída com um único sócio, também
chamada de Eireli, tem personalidade distinta da pessoa do seu sócio e rege-se, no
que couber, pelas normas aplicáveis às sociedades limitadas. Assim é que, para a sua
constituição é necessário um contrato social, que é registrado nas juntas comerciais
dos Estados, apresentado em três vias, no mínimo, sendo pelo menos uma no origi-
nal e assinado pelo sócio titular da sociedade ou seu procurador. Neste caso, deve
ser anexada a procuração respectiva, condecedendo-lhe poderes específicos para o
ato, que poderá constitui-se como instrumento público ou particular, apresentada
no original ou em cópia devidamente autenticada.
O contrato social conterá o título que representa o nome da sociedade, deven-
do, no nome empresarial, ser incluída a expressão Eireli, após a firma ou denomina-
ção social. O preâmbulo conterá o nome e a qualificação completa do titular da
sociedade, que deverá ser pessoa física, indicando-se no primeiro caso:

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

a) nome civil por extenso;


b) nacionalidade;
c) domicílio e endereço completo;
d) estado civil (se solteiro, indicar a data de nascimento);
e) profissão;
f) documento de identidade, número e órgão expedidor;
g) e nº do CPF.

Se, na assinatura do contrato social, o sócio for representado por procurador,


deve constar, no preâmbulo ou em outro local, esta circunstância e a qualificação do
procurador. São aceitos como documento de identidade: cédula de identidade; certi-
ficado de reservista; carteira de identidade profissional e carteira de identidade de
estrangeiro com visto permanente, se residente no país, ou passaporte se residente
no exterior.

O corpo do contrato deverá conter:

a) nome empresarial, que poderá ser firma ou denominação social sempre


seguido da expressão Eireli;
b) capital da sociedade, que não precisará ser divido em quotas será expresso
em moeda corrente, totalmente integralizado e não poderá ser inferior a
100 (cem) vezes o salário mínimo, o que corresponde atualmente a R$
67.800,00 (sessenta e dois mil e oitocentos reais);
c) município da sede, com endereço completo, inclusive o CEP, bem como o
endereço das filiais, se houver;
d) declaração precisa e detalhada do objeto social;
e) prazo de duração da sociedade;
f) data de encerramento do exercício social, quando não coincidente com o
ano civil;
g) qualificação do administrador que, se for estrangeiro, deverá possuir visto
permanente.

O fecho do contrato social indicará o local, a data e a assinatura identificada do


titular da sociedade ou de seu representante legal e o visto do advogado, se não for
micro ou pequena empresa.
A Eireli poderá ser incluída no Supersimples se atender às exigências para este
tipo de tributação e se o patrimônio da Eireli não se confundir com o patrimônio do
sócio (titular da sociedade).
A pessoa natural que constituir empresa individual de responsabilidade limi-
tada somente poderá possuir uma única empresa dessa modalidade.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

3.3.3 Sociedade limitada

A constituição deste tipo de sociedade consiste no registro, nas Juntas Comer-


ciais dos Estados, do contrato social apresentado em três vias, no mínimo, sendo
pelo menos uma no original e assinado pelos sócios ou seus procuradores. Neste
caso, deve ser anexada a procuração respectiva concedendo-lhes poderes específicos
para o ato, que poderá constituir-se como instrumento particular, apresentada no
original ou em cópia devidamente autenticada.
A procuração que designar representante de sócio pessoa física residente e
domiciliada no exterior, ou de pessoa jurídica estrangeira, deverá atribuir àquele os
poderes para receber citação inicial em ações judiciais relacionadas com a sociedade.
A sociedade limitada também pode ser constituída de forma pública e o registro na
junta comercial é feito mediante a Certidão de inteiro teor do Contrato Social,
fornecida pelo Cartório.
O contrato social é celebrado pelos sócios com vistas à exploração, em conjun-
to, de determinada atividade comercial, unindo seus esforços para a obtenção de
lucros que repartirão entre si.
Assim, deve o Contrato Social conter, no mínimo, os seguintes elementos:

I. título;
II. preâmbulo;
III. corpo do contrato:
IV. cláusulas obrigatórias;
V. fecho.

I. Título

Este primeiro elemento do contrato consiste na colocação, no início do instru-


mento da indicação, de que é um contrato de constituição de determinada sociedade
(indicar o nome).

II. Preâmbulo

Deverão constar no preâmbulo do contrato social:

a) qualificação dos sócios e seus representantes (observar a capacidade dos


sócios), variando o tipo de informação conforme o tipo de sócio;
I. sócio pessoa física brasileiro ou estrangeiro residente e domiciliado no
Brasil ou no exterior:
1.1. nome civil por extenso,

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1.2. nacionalidade,
1.3. domicílio e endereço completo,
1.4. estado civil (solteiro indicar data de nascimento),
1.5. profissão,
1.6. documento de identidade, número e órgão expedidor,
1.7. número do CPF.

II. sócio pessoa jurídica com sede no Brasil:


2.1. nome empresarial,
2.2 .nacionalidade,
2.3. endereço completo da sede,
2.4. número de identificação no Registro de Empresa (Nire), ou de inscri-
ção no cartório competente,
2.5. número do CNPJ,
2.6. representante legal: qualificação completa.

III. sócio pessoa jurídica com sede no exterior:


3.1. empresarial,
3.2. nome nacionalidade,
3.3. endereço completo da sede,
3.4. dados de sua inscrição no registro próprio no seu país de origem,
3.5. número do CNPJ,
3.6. representante legal: qualificação completa.

b) tipo jurídico da sociedade (sociedade empresária limitada).

Se, na assinatura do contrato social, qualquer dos sócios for representado por
procurador, deve constar do preâmbulo, ou em outro local, essa circunstância e a
qualificação do procurador. São aceitos como documento de identidade: cédula de
identidade; certificado de reservista; carteira de identidade profissional e carteira de
identidade de estrangeiro com visto permanente, se residente no país, ou passaporte
se residente no exterior.

III. Corpo do contrato

As cláusulas obrigatórias do contrato social deverão contemplar, obrigatoria-


mente, o seguinte:

a) nome empresarial, que poderá ser razão social ou denominação social;


b) capital da sociedade, expresso em moeda corrente, a participação de cada
sócio e a forma e o prazo de sua integralização:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

c) município da sede, com endereço completo inclusive o CEP, bem como o


endereço das filiais, se houver;
d) declaração precisa e detalhada do objeto social;
e) prazo de duração da sociedade;
f) data de encerramento do exercício social, quando não coincidente com o
ano civil;
g) qualificação do administrador, não sócio designado no contrato; quando
for o caso;
h) participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
i) foro ou cláusula arbitral.

IV. Nome empresarial

O nome empresarial pode ser de dois tipos: razão social ou denominação social
e obedecerá ao princípio da veracidade e da novidade, incorporando os elementos
específicos ou complementares exigidos ou não proibidos em lei, contendo obriga-
toriamente a expressão limitada ou LTDA.
De acordo com o princípio da veracidade, a razão social deve ser constituída
com sobrenome ou nome civil completo ou abreviado de pelo menos um dos sócios.
Quanto à denominação, se houver indicação do objeto social, esta deverá dar a
conhecer uma das atividades da sociedade.
Quanto ao princípio da novidade, todo nome empresarial deve ser suficiente-
mente distinto de qualquer outro registrado na Junta Comercial do Estado onde será
a sede da empresa.
Não é registrável o nome empresarial que inclua ou reproduza em sua compo-
sição sigla ou denominação de órgão público ou da administração direta, indireta e
fundacional, federal, estadual ou municipal, como também de organismos interna-
cionais.

V. Capital social

O contrato social deverá especificar o capital da sociedade, bem como o modo


e o prazo de integralização, o número e o valor das cotas sociais pertencentes a cada
um dos sócios. Aqui, torna-se necessário fazer a distinção entre “subscrever” e
“integralizar”. Quando uma sociedade inicia suas atividades, todos os sócios devem
colaborar para a formação de seu capital. Este pagamento não precisa ser à vista.
Assim, quando o sócio se compromete a desembolsar uma determinada quantia, ele
está subscrevendo sua participação societária, mas, na hora em que ele coloca na
empresa aquele valor que subscreveu, ele estará integralizando o capital que foi por
ele subscrito.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

As cotas de capital poderão ser de valor igual ou desigual, cabendo uma ou


diversas a cada sócio, não sendo permitida a indicação de valor inferior a um
centavo.
Para a integralização do capital poderão ser utilizados quaisquer bens, desde
que suscetíveis a avaliação em dinheiro. No caso de imóvel, o contrato social por
instrumento público ou particular, deverá conter sua descrição, identificação, área,
dados relativos à titulação, bem como o número de sua matrícula no Registro Imo-
biliário.
No caso de sócio casado, a integralização das cotas com bens imóveis só se dará
com a necessária anuência do cônjuge, salvo se o regime for de separação absoluta
dos bens.
Se existe um sócio menor, não emancipado, participando da sociedade, o capi-
tal social deverá estar totalmente integralizado e, se desta integralização participa-
rem bens do sócio menor, não emancipado, necessário se torna uma autorização
judicial.
Não pode haver integralização de capital com prestação de serviços.

VI. Local da sede, endereço e filiais

Deverá ser indicado, no contrato social, o município onde se localiza a sede e


seu endereço completo e o local onde, ordinariamente, pode ser encontrado o seu
representante legal.
Havendo filiais, para cada uma delas também deverá ser indicado o respectivo
município e endereço completo.

VII. Objeto social

O objeto social não poderá ser ilícito ou contrário aos bons costumes ou à
ordem pública. O contrato social deverá indicar com precisão e clareza as atividades
a serem desenvolvidas pela sociedade, sendo vedada a inserção de termos estrangei-
ros, exceto quando não houver termo correspondente em português. Entende-se por
precisão e clareza a indicação de gêneros e correspondentes espécies de atividades.

VIII. Responsabilidade dos sócios

O contrato deverá esclarecer a responsabilidade dos sócios.


Na sociedade limitada, mesmo que o sócio tenha integralizado totalmente a sua
parte, ele ainda responde solidariamente pelo valor subscrito e ainda não efetiva-
mente pago pelos demais sócios (com direito a ação de regresso). Assim, na socieda-
de limitada, teoricamente, apenas não haverá responsabilidade dos sócios se todos

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TEORIA DO PROJETAMENTO

integralizarem suas quotas, porque atualmente está sendo permitido que o patri-
mônio dos sócios assegurem o pagamento de algumas obrigações, por exemplo, as
trabalhistas e tributárias. Trata-se, apenas, de reprodução, no instrumento da res-
ponsabilidade, do que já vem preestabelecido em texto legal, para fins de conheci-
mento por parte de terceiros que contratam a sociedade, e nele deverá constar que
a responsabilidade dos sócios é limitada ao valor do capital social.
A responsabilidade dos sócios pelas obrigações da sociedade poderá também
ser ilimitada alcançando de logo os bens particulares.
Assim, quanto à responsabilidade dos sócios, a sociedade pode ser:

a) limitada, quando é formada por sócios que possuem responsabilidade sub-


sidiária limitada;
b) ilimitada, quando é formada por sócios que possuem responsabilidade
subsidiária ilimitada;
c) e mista, quando é formada por sócios com ambas as formas de responsabi-
lidade.

IX. Prazo de duração da sociedade

A data do término do prazo da sociedade, quando for determinado, deverá ser


indicada ou, se for indeterminado, esta condição deverá ser declarada. Quando a
sociedade é constituída por prazo indeterminado, o direito de retirar-se dela pode
ser exercido por qualquer sócio, a qualquer tempo, independendo do motivo, desde
que ele notifique os demais com 60 dias de antecedência, para a alteração contratual.
Já quando a sociedade é de tempo determinado, a sua saída antecipada será sempre
judicial e fica condicionada a uma justa causa, como a discordância sobre a fusão,
incorporação, cisão ou transformação da sociedade, entre outros motivos.
Quando uma sociedade é criada com termo final, o vínculo entre os sócios se
presume mais forte, em decorrência de um planejamento elaborado em cima da
equação: tempo da sociedade e aptidões dos sócios. Por isto, na sociedade contratual
de prazo determinado, para ocorrer a dissolução total pela vontade dos sócios é
necessário o consenso unânime e, para se dar a dissolução parcial pelo exercício do
direito de retirada é necessário justa causa, sempre prevista no contrato.

X. Administração

O sócio-gerente foi substituído pela figura do administrador, de maneira que a


representação legal da sociedade será definida entre os sócios e inserida no contrato
social. Não havendo cláusula contratual indicando o administrador, todos os sócios
são considerados como tal.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

O(s) administrador(es) poderá(ão) ser designado(s) no contrato ou em ato se-


parado. Também é admissível o administrador não-sócio, desde que esta possibili-
dade tenha sido acordada e conste do contrato. Se o contrato social nada dispuser
sobre a administração, esta competirá separadamente a cada um dos sócios, os quais
poderão impugnar qualquer operação pretendida por um deles, cabendo a decisão
por maioria de votos.
Quando, pelo contrato social, a administração for atribuída a todos os sócios,
não se estenderá, de pleno direito, aos que posteriormente adquiram essa qualidade
e, em qualquer caso, o administrador será sempre pessoa física.
O uso da firma ou designação social é privativo dos administradores que te-
nham para isso tais poderes.
Para que o estrangeiro possa exercer o cargo de administrador, sendo ele sócio
ou não, necessário se faz que comprove o visto de residência permanente no país.
O(s) administrador(es) deverá(ão), em cláusula própria, declarar, sob as penas
da lei, que não está(ão) impedido(s) de exercer o comércio ou a administração da
sociedade em virtude de condenação criminal.

XI. Data de encerramento do exercício social

Deverá ser indicada uma data de encerramento do exercício social. Se os sócios


decidirem adotar um exercício social não coincidente com o ano civil, deverão esta-
belecer cláusula contratual que especifique o término deste.

XII. Foro

O contrato necessita estabelecer o foro contratual, eleito pelos sócios, para a


apreciação de pendências resultantes ou indicar eleição do juízo arbitral para diri-
mir litígios relativos a direitos e obrigações decorrentes do contrato.

XIII. Fecho do contrato social

Do fecho do contrato social deverão constar:

a) localidade e data do contrato;


b) assinaturas dos sócios;
c) visto do advogado.

XIV. Localidade e data do contrato

Deverá figurar a cidade e o Estado da assinatura do instrumento bem como o


dia, mês e ano.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

XV. Assinatura dos sócios

Todos os sócios devem, ao final, assinar o contrato social sempre com a indica-
ção do signatário por extenso, datilografado ou em letra de forma.
Havendo sócio analfabeto, o contrato deverá ser assinado por seu procurador,
nomeado através de procuração passada por instrumento público, contendo poderes
específicos para assinar o contrato ao qual será anexada a documentação, no original
ou por cópia autenticada.
Havendo sócio absoluta ou relativamente incapaz, o contrato, na primeira
hipótese, deverá ser assinado pelo representante legal e, na segunda, pelo sócio e
por quem o assistir.
As folhas do contrato que não estejam assinadas, deverão ser rubricadas, por
todos os sócios ou representantes.

XVI. Visto de advogado

O contrato social deverá conter o visto de advogado, com a indicação do nome


e do número de sua inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB);.Constitui-se
na necessidade, para a validade do ato constitutivo de qualquer pessoa jurídica, pois
o visto de um advogado devidamente habilitado, para as sociedades empresárias, é
uma condição para o registro do contrato social nas junta comerciais. Após o regis-
tro, a sociedade adquire personalidade jurídica, tornando-se uma pessoa com direi-
tos e deveres próprios.
Na hipótese de empresa incluída no regime da lei 9.841, de 05.10.1999 – Estatuto
de Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte –, o visto do advogado é dispensado.
Observe-se que para as modificações que ocorrerem na sociedade, como altera-
ção de endereço, criação ou extinção de filiais, entrada e saída de sócios, aumento ou
diminuição do capital social, exclusão de sócios, nomeação e destituição de adminis-
trador, utiliza-se a alteração contratual, respeitado para cada caso, o disposto no Códi-
go civil. Na alteração, será dito somente o que foi modificado, podendo-se, porém,
apresentar, no mesmo instrumento e após a alteração, uma consolidação do contrato.

3.3.4 Sociedade anônima

As sociedades anônimas, também chamadas por ações, são aquelas que têm o
seu capital dividido em ações. São organizadas com fins lucrativos e todos os sócios
respondem pelas obrigações sociais apenas quanto à parte com que entraram ou
prometeram entrar para a formação do capital social.
Existem duas formas de constituição de uma sociedade anônima, conforme
haja ou não apelo ao público investidor, ou seja, depende do meio utilizado para a

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

busca de recursos para constituir a sociedade. Assim, quando existe divulgação para
a subscrição de suas ações, diz-se que ela é pública. Mas, se não houver o procedi-
mento de divulgação, a subscrição é particular. A sociedade anônima poderá ser de
capital aberto quando suas ações são negociáveis na Bolsa de Valores, (com registro
na Comissão de Valores Mobiliários) ou de capital fechado, quando as ações são
negociadas perante os próprios sócios, quando o procedimento é simplificado, poden-
do ocorrer por escritura pública ou em uma assembleia de constituição que deliberará
sobre o projeto do estatuto sendo, em ambos os casos, assinado por todos os acionis-
tas, quando então os atos são levados para registro na junta comercial, bem como para
publicação, podendo, somente depois disto, iniciar as atividades de forma regular.
A constituição de uma sociedade anônima depende dos seguintes requisitos
preliminares:

1. subscrição, pelo menos por duas pessoas, de todas as ações em que se divi-
de o capital social fixado no estatuto;
2. realização, como entrada, de 10%, no mínimo, do preço de emissão das
ações subscritas em dinheiro;
3. depósito, em estabelecimento bancário autorizado, da parte do capital rea-
lizado em dinheiro.

A S.A. pode emitir diversos títulos de investimento ou valores mobiliários que


servem para a captação de recursos. São eles:

a) ações;
b) partes beneficiárias;
c) debêntures;
d) bônus de subscrição;
e) commercial papers.

As ações são bens móveis (títulos negociáveis) que representam as frações em


que está dividido o capital, concedendo a seu titular a qualidade de sócio da compa-
nhia e, consequentemente, um complexo de direitos e deveres.
O estatuto da companhia fixará o número de ações em que se divide o capital e
estabelecerá se este terá ou não valor nominal, que é o valor obtido pela divisão do
capital social pelo número de ações.
Classificação das ações de acordo com os direitos que conferem aos seus deten-
tores:

a) ordinárias – são sempre nominativas e conferem ao seu titular o direito de


voto nas assembleias gerais, (cada ação corresponde a um voto) permitin-

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TEORIA DO PROJETAMENTO

do, também a participação não preferencial nos resultados da companhia


atribuindo a seu proprietário a obrigação correspondente ao montante de
ações possuidas;
b) preferenciais – possuem a vantagem da prioridade na distribuição de divi-
dendos e no percentual, bem como no reembolso de capital no caso de
liquidação da sociedade, mas, não possibilitam ao seu titular o direito de
voto nas assembleias gerais, ou restringem o exercício desse direito;
c) fruição – são aquelas distribuídas aos titulares de ações ordinárias ou
preferenciais em substituição a dessas ações que foram amortizadas (dis-
tribuição aos acionistas), a título de antecipação e sem redução do capital
social da quantia a que teriam direito em caso da liquidação da compa-
nhia.

Quanto a forma de circulação as ações ordinárias e preferenciais classificam-se


em nominativas e escriturais.
Ações nominativas são aquelas cujos certificados identificam seu titular, tam-
bém inscrito no Livro de Registro de Ações Nominativas. A transferência entre
titulares exige o expresso consentimento do acionista vendedor e a inscrição do
acionista comprador no Livro de Transferência de Ações Nominativas.
Ações escriturais não são representadas por certificados, sendo títulos manti-
dos em conta de depósito, em nome de seus titulares, na instituição financeira
que o estatuto da empresa designar. Esta modalidade de ação objetiva facilitar a
circulação, proporcionada pela transferência, mediante ordem à instituição fi-
nanceira e registro dessa transação, bem como eliminar os custos com a emissão
de certificados.
A lei n° 6.404/1976, que regulamenta o funcionamento das sociedades anôni-
mas, confere aos acionistas o direito a dividendos, a bonificações, e de subscrição
no caso de a empresa pretender aumentar seu capital pela captação de novos recur-
sos.
Dividendos são decorrentes da distribuição de uma parcela do lucro da empre-
sa aos acionistas, sendo pagos em dinheiro. O dividendo se constitui na renda do
investimento em ações.
Fala-se em bonificação, quando, em decorrência do aumento do capital da
sociedade anônima, realizado com a incorporação de reservas ao capital da empre-
sa, é feita uma distribuição de ações aos acionistas. A bonificação distribuída aos
acionistas é efetuada na proporção de sua participação no capital social da compa-
nhia e normalmente na mesma espécie das ações possuídas.
A Subscrição corresponde ao direito garantido aos acionistas ordinários e pre-
ferenciais de prioridade de aquisição de ações da empresa, quando esta aumentar o
seu capital social pela emissão de novos títulos.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Partes beneficiárias são títulos negociáveis sem valor nominal e estranhos ao


capital social. Só podem ser emitidos por companhias fechadas e conferem a seus
titulares um direito de crédito eventual contra a companhia, consistente na partici-
pação nos lucros anuais até 10% do lucro da empresa, mas apenas permitem ao
acionista fiscalizar os atos dos administradores.

Alguns órgãos que compõem uma sociedade anônima:

a) Assembleia Geral;
b) Conselho de Administração (obrigatório nas companhias abertas);
c) Diretoria;
d) Conselho Fiscal (permanente ou não).

A Assembleia Geral constitui-se na reunião de todos os acionistas, é soberana


e tem o poder de decidir negócios relativos ao objeto da companhia e tomar as
resoluções em prol de sua defesa.
As assembleias gerais, considerando o assunto a ser tratado podem ser:

a) Assembleia Geral Ordinária, a que tem por finalidade a aprovação de


contas da administração, destinação dos lucros, distribuição de dividen-
dos e eleição dos administradores e conselheiros fiscais, realizando-se
anualmente, após os quatro primeiros meses do encerramento do exercí-
cio social;
b) Assembleia Geral Extraordinária é de convocação obrigatória para a cria-
ção de ações e partes beneficiárias; para a mudança de objeto da sociedade;
para incorporação, fusão e transformação e dissolução da companhia, para
sua participação em grupos de sociedades e demais assuntos de interesse
da sociedade.

Ao Conselho de Administração compete orientar os negócios da companhia e


fiscalizar gestão dos diretores. É obrigatório nas companhias abertas, todos os que o
integram devem ser acionistas, podendo ou não ser residentes no país e seu mandato
máximo é fixado em três anos.
A Diretoria é responsável pela representação da companhia e pela prática dos
atos necessários ao seu funcionamento regular. É composta por dois ou mais direto-
res, acionistas ou não, mas obrigatoriamente residentes no país.
O Conselho Fiscal, que é responsável por fiscalizar atos da administração, é
obrigatório nas companhias abertas. É constituído por no mínimo três e no máximo
cinco, pessoas nascidas e residentes no país, com escolaridade de nível superior.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Constituição por subscrição pública em assembleia geral

Para se constituir uma sociedade anônima por subscrição pública, em Assembleia


Geral, necessário se faz levar para registro na Junta Comercial os seguintes documen-
tos, em pelo menos uma via no original:
a) ata da assembleia de constituição;
b) estatuto social, salvo se transcrito em ata;
c) relação completa dos subscritores do capital social ou lista/boletim/carta
de subscrição;
d) recibo do depósito bancário da parte do capital realizado em dinheiro;
e) ata de eleição de peritos ou de empresas especializadas, se a nomeação não
ocorreu na assembleia de constituição, na hipótese de realização em bens;
f) ata de deliberação sobre laudo de avaliação dos bens, (contendo a nomea-
ção dos peritos) se não contida a deliberação na ata de constituição, acom-
panhada do laudo, salvo se transcrito na ata;
g) folhas do Diário Oficial e do jornal particular de grande circulação que
publicaram o anúncio convocatório da assembleia de constituição e das
assembleias preliminares, quando for o caso, sendo tal publicação dispen-
sada quando constar da ata a presença da totalidade dos acionistas, assim
como é dispensada a apresentação das publicações quando a ata consignar
as folhas dos jornais em que foram efetuadas;
h) nomeação dos administradores e, se for o caso, dos conselheiros fiscais;
i) visto do advogado com o número de registro na OAB e seccional;
j) cópia autenticada do documento de identidade e CIC dos administradores
eleitos.

Constituição por subscrição particular, mediante instrumento público

Para se constituir uma sociedade anônima por subscrição particular, mediante


instrumento público, deve-se levar a registro na Junta Comercial os seguintes documen-
tos, em pelo menos uma via no original:

a) certidão de inteiro teor da escritura de constituição, apresentado em no


mínimo, uma via original contendo:
i. a qualificação dos subscritores;
ii. estatuto;
iii. relação das ações subscritas e entradas pagas;
iv. transcrição do recibo de depósito bancário da parte do capital realizado
em dinheiro;
v. laudo de avaliação de bens, se for o caso;

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vi. nomeação dos administradores e, se for o caso, dos conselheiros fiscais;


vii. menção ao visto do advogado, indicando nome e número de inscrição
na Ordem dos Advogados do Brasil.

b) cópia autenticada de documento de identidade e do CIC dos eleitos.

Quorum de instalação da assembleia

A assembleia de constituição instalar-se-á, em primeira convocação, com a


presença de subscritores que representem, no mínimo, metade do capital social e,
em segunda convocação, com qualquer número, admitindo-se a presença por procura-
ção que não necessariamente deverá acompanhar o processo, devendo ficar arquiva-
da na companhia.

Declaração de constituição

Observadas as formalidades legais e não havendo oposição de subscritores


que represente mais da metade do capital social, o presidente da assembleia geral de
constituição declarará constituída a companhia.

Atas de assembleias gerais preliminares

As atas de assembleias gerais preliminares para avaliação de bens devem conter:

a. local, hora, dia, mês e ano de sua realização;


b. composição da mesa: nome completo do presidente (um dos fundadores) e
secretário;
c. quorum de instalação;
d. publicação do edital de convocação, salvo no caso de comparecimento de
todos os subscritores;
A indicação dos jornais (Diário Oficial e o jornal particular de grande circula-
ção) que publicaram o edital, por 3 vezes, mencionando as datas e os núme-
ros das folhas/páginas, torna desnecessária a apresentação à Junta Comer-
cial dos originais dos jornais para arquivamento.
e) ordem do dia: registrar; as deliberação sobre:
i. a nomeação de peritos ou de empresa especializada para avaliação dos
bens;
ii. o laudo de avaliação;
g) fecho da ata e assinatura dos subscritores.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Ata da Assembleia Geral de Constituição

A ata da assembleia deve indicar:

a) local, hora, dia, mês e ano de sua realização;


b) composição da mesa: nome completo do presidente e do secretário;
c) quorum de instalação;
d) as publicações do edital de convocação, salvo no caso de comparecimento
de todos os subscritores bastando a indicação dos jornais (Diário Oficial e o
jornal particular de grande circulação) que publicaram o edital, por três
vezes, mencionado as datas e os números das folhas/páginas o que torna
desnecessária a apresentação à Junta Comercial dos originais dos jornais
para arquivamento;
e) ordem do dia: registrar as deliberações, entre elas, pelo menos:
i. a avaliação dos bens, se for o caso, com a nomeação dos peritos ou de
empresa especializada e a deliberação a respeito, desde que essas for-
malidades sejam tomadas na própria assembléia de constituição;
ii. aprovação do estatuto;
iii. declaração da constituição da sociedade;
iv. forma de eleição dos membros do Conselho de Administração, se já se
tiver processado, ou dos diretores, devendo ser indicados a respectiva
qualificação completa, o prazo de gestão e a remuneração, assim como
o registro de posse do conselho que elegerá os diretores, em reunião da
qual será lavrada ata própria, a qual será levada a arquivamento, sepa-
radamente;
v. eleição dos membros do Conselho Fiscal, se permanente ou se pedida a
sua instalação;
vi. fixação dos honorários dos administradores e dos conselheiros fiscais,
estes se eleitos, respeitada, neste caso, para cada membro em exercício,
a remuneração mínima de 10% da que, em média, for atribuída a cada
diretor, não computada a participação nos lucros;
f) fecho da ata, assinatura de todos os subscritores ou quantos bastem à vali-
dade das deliberações, com a indicação de seus nomes, devendo as demais
folhas serem rubricadas;
g) visto de advogado com indicação do nome e número de inscrição na seccional
da Ordem dos Advogados do Brasil.

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Estatuto social

O estatuto social deverá conter, necessariamente, o seguinte:

a) denominação social;
b) prazo de duração;
c) o município da sede, com endereço completo (CEP) ;
d) classificação da sociedade, se aberta ou fechada;
e) objeto social, definido de modo preciso e completo;
f) capital social, expresso em moeda nacional;
g) ações: número em que se divide o capital, espécie (ordinária, preferencial,
fruição), classe das ações e se terão valor nominal ou não, conversibilidade,
se houver, e forma nominativa;
h) diretores e conselho de administração: número mínimo, modo de sua subs-
tituição, prazo de gestão, atribuições e poderes;
i) conselho fiscal, estabelecendo se o seu funcionamento será permanente,
com a indicação do número de seus membros,(mínimo de três) efetivos e
suplentes;
j) término do exercício social;
k) os casos de liquidação, se não forem apenas os da lei;
l) foro;
m) disposições transitórias e finais.

Podem constar dispositivos específicos, se houver, tais como:

a) ações preferenciais: indicação de suas vantagens e as restrições a que fica-


rão sujeitas;
b) aumento do quorum de deliberações: especificação, além do percentual, das
matérias a ele sujeitas;
c) conselho de administração: número de membros ou limites máximo ou
mínimo de sua composição, processo de escolha e substituição do presiden-
te do conselho, o modo de substituição dos conselheiros, o prazo de gestão
e normas sobre convocação, instalação e funcionamento.

O estatuto não pode conter dispositivos que:

a) sejam contrários à lei, à ordem pública e aos bons costumes;


b) privem o acionista dos direitos essenciais;
c) atribuam voto plural a qualquer classe de ação;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

d) deleguem a outro órgão as atribuições e poderes conferidos pela lei aos


órgãos de administração.

Se o estatuto constituir ato separado da ata de constituição, este deverá tam-


bém ser assinado e rubricado pelos subscritores necessários para conferir validade
aos atos, com indicação de seu nome por extenso.

Denominação

A sociedade anônima é designada por denominação acompanhada das expres-


sões companhia ou sociedade anônima, expressas por extenso ou abreviadamente,
mas vedada a utilização da primeira ao final.
A denominação pode conter o nome do fundador, acionista ou pessoa que, por
qualquer outro modo, tenha concorrido para o êxito da empresa, não sendo necessá-
rio constar indicação do objeto da sociedade.

Relação Completa ou Lista, Boletim ou Carta de Subscrição

A relação completa, a lista, boletim ou carta de subscrição deverá conter:

a) qualificação dos subscritores do capital, compreendendo:


I. pessoa física:
i. nome civil, por extenso,
ii. nacionalidade,
iii. estado civil,
iv. profissão,
v. número de identidade e órgão expedidor,
vi. CPF,
vii. endereço residencial completo;

II. pessoa jurídica com sede no país:


i. nome empresarial,
ii. número de inscrição no Registro Próprio,
iii. número de inscrição no CGC,
iv. endereço da sede,
v. nome civil do representante, por extenso, e sob a que título assina,
bem como sua qualificação;

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III. pessoa jurídica com sede no exterior:


i. nome empresarial;
ii. nacionalidade;
iii. nome civil do representante, por extenso, e sob a que título assina,
bem como sua qualificação;
iv. número de inscrição do CGC.

b) número de ações subscritas, a sua espécie e classe, se houver mais de uma,


e o total da respectiva entrada, se a subscrição for em dinheiro; e
c) autentificação, pelos fundadores, pelo presidente da assembleia de consti-
tuição ou diretor, no caso da relação de subscrição, ou assinatura dos
subscritores, no caso de lista, boletim ou carta de subscrição.

As sociedades anônimas são constituídas através de ata de Assembleia Geral de


Constituição e as deliberações necessárias à continuidade da empresa serão formali-
zadas através das assembléias gerais dos sócios (ordinária ou extraordinária),
reuniões de Conselho de Administração ou de Diretoria, conforme seja o objeto do
assunto a ser tratado, das quais serão lavradas atas que com a observância à lei nº
6.404/64 e serão registradas nas juntas comerciais.

3.3.5 Sociedade cooperativa

As cooperativas fundamentam-se na reunião de pessoas e não no capital para


atender as suas finalidades. São sociedades simples, embora tenham obrigatoria-
mente o seu registro nas juntas comerciais. Elas são regidas pela lei nº 5.764/1976,
que definiu a Política Nacional de Cooperativismo, com o objetivo de reunir pessoas
com interesses comuns, em uma sociedade economicamente organizada de forma
democrática, isto é, contando com a participação livre de todos e respeitando os
direitos e deveres de cada um dos seus cooperados. Sua finalidade é a prestação de
serviços aos seus cooperados, já que não visa ao lucro e poderá ter ou não capital
social inicial.

1. Características:

1.1. é uma sociedade de pessoas,


1.2. o objetivo principal é a prestação de serviços,
1.3. a adesão é voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impos-
sibilidade técnica na prestação de serviços,
1.4. o controle é democrático: uma pessoa, um voto,

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TEORIA DO PROJETAMENTO

1.5. dispensa da formação do capital social inicial,


1.6. havendo capital será representado por quotas-partes;
1.7. limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado;
1.8. inacessibilidade das quotas partes do capital a terceiros estranhos à socie-
dade;
1.9. singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e
confederações (com exceção das que exerçam atividade de crédito), optar
pelo critério da proporcionalidade,
1.10. exigência de quorum mínimo para funcionamento e deliberação da
Assembleia Geral baseado no número de associados e não no capital,
1.11. retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às opera-
ções realizadas pelo associado, salvo deliberação em assembleia;
1.12. indivisibilidade dos fundos de reserva e de assistência técnica educacio-
nal e social,
1.13. neutralidade política e indiscriminação religiosa e social.

2. Forma constitutiva

A sociedade cooperativa constitui-se por deliberação da Assembleia Geral dos


fundadores, constantes da respectiva ata ou de instrumento público. A Assembleia
Geral é o órgão máximo da sociedade, composta por todos os associados tendo
poderes para criar, extinguir, decidir os negócios relativos ao objeto da sociedade e
tomar todas as resoluções em relação ao seu desenvolvimento e defesa. As decisões
assembleares [de assembleia], atingem a todos os cooperados, ainda que ausentes
ou discordantes.

2.1 A Ata de Constituição deverá conter:


2.1.1. título,
2.1.2. local, dia, mês e ano de sua realização,
2.1.3. composição da mesa:nome completo do presidente e secretário,
2.1.4. nome, nacionalidade, estado civil, número de documento de iden-
tidade e de CPF, profissão, data do nascimento, domicílio e resi-
dência dos associados pessoas física (procuração não será aceita),
2.1.5. identificação da pessoa jurídica associada desde que tenha as mes-
mas atividades e seja sem fins lucrativos,
2.1.6. valor e número de quotas-partes de cada cooperado, quando existir
capital, forma e prazo de integralização, com exigência de avalia-
ção quando se tratar de imóvel,
2.1.7. declaração da aprovação do Estatuto Social Obs: pode ser por ins-
trumento público ou particular.

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2.1.8. declaração de constituição da sociedade, indicando a denominação,


endereço completo da sede e o objeto de funcionamento,
2.1.9. nome completo dos associados eleitos para os órgãos de adminis-
tração, fiscalização e outros,
2.1.10. fecho da ata: assinatura identificada de todos os fundadores, com as
respectivas rubricas em todas as demais folhas,
2.1.11. visto do advogado, com a indicação do seu nome e número de
inscrição da OAB.

3 O estatuto da cooperativa conterá:

3.1 denominação social contendo a expressão cooperativa,


3.2 endereço completo da sede e prazo de duração,
3.3 área de ação da sociedade,
3.4 objeto social, definidos de modo preciso e detalhado,
3.5 fixação do exercício social,
3.6 data do levantamento do balanço geral,
3.7 capital social que é variável, expresso em moeda corrente, se houver,
3.8 indicar o capital social mínimo, fixar o valor da quota-parte, o mínimo e
o máximo a ser subscrito pelo associado e a forma de integralização,
3.9 explicitar a natureza da responsabilidade dos associados,
3.10 enumerar direitos e deveres dos associados,
3.11 explicitar as condições de admissão, saída e exclusão de associados e as
normas para representação de associados nas assembleias gerais.

4 Formação do quadro social dos associados

O ingresso nas cooperativas é livre para todos aqueles que desejarem utilizar
os serviços prestados por ela, desde que adiram aos objetivos sociais e preencham os
requisitos fixados no estatuto social.
O número mínimo de associados para a constituição da cooperativa é o neces-
sário para compor a administração da sociedade, órgão de administração e conselho
fiscal.

5 Denominação social

Neste tipo de sociedade, é sempre obrigatória a adoção da palavra cooperativa


na denominação social, sendo vedada a utilização da palavra banco para as coopera-
tivas de crédito.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

6 Capital social

O capital, se houver, será fixado no estatuto e dividido em quotas-parte que


serão integralizadas pelos cooperados, observando-se o que se segue:

6.1 o valor das quotas-partes não poderá ser superior ao salário mínimo;
6.2 nenhum associado poderá subscrever mais de 1/3 (um terço)do total das
quotas-partes, salvo nas sociedades em que a subscrição deva ser diretamen-
te proporcional ao movimento financeiro do cooperado ou ao quantitativo
dos produtos a serem comercializados, beneficiados ou transformados;
6.3 as quotas-partes não poderão ser transferidas a terceiros ou estranhos á
sociedade, ainda que por herança.

7 Administração

A sociedade cooperativa será administrada por uma Diretoria ou Conselho de


Administração ou por ambos ou ainda por outros órgãos necessários à administra-
ção com previsão estatutária, composto exclusivamente de associados eleitos pela
Assembleia Geral, com mandato nunca superior a 4 (quatro anos),sendo obrigatória
a renovação de 1/3 (um terço) do Conselho de Administração.

8 Conselho Fiscal

A fiscalização da sociedade cooperativa será feita por um conselho constituído


por (três membros efetivos e três suplentes), todos associados, eleitos anualmente
pela Assembleia Geral, sendo permitida somente a reeleição de 1/3 (um terço) dos
seus integrantes.

9 Deliberações posteriores

Depois de constituída, as deliberações da cooperativa são implementadas atra-


vés da aprovação dos cooperativados, em ata assembleia geral ordinária ou extraor-
dinária, conforme as matérias que serão tratadas, as quais deverão estar previstas no
edital convocatório e serem conhecidas dos associados.

10 Cooperativas de trabalho

São aquelas que, constituídas entre operários de uma determinada profissão


ou ofício, ou de ofícios variados de uma mesma classe, com proveito comum, auto-
nomia e autogestão para obterem melhor qualificação, melhorar o salário e as con-

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dições de trabalho pessoal de seus associados e, dispensando a intervenção de um


patrão ou empresário, se propõem a contratar obras, tarefas, trabalhos ou serviços
públicos e particulares, coletivamente por todos ou por grupo.
Esse conceito veio da lei federal nº 5.764/71, em que a cooperativa é definida
como uma organização de pessoas que visam unir-se mutuamente, pelo traço
diferenciador desta forma de sociedade que é a prestação de serviços aos associa-
dos, para o exercício de uma atividade comum, econômica, sem finalidade lucrativa.
As cooperativas de trabalho estão disciplinadas na lei nº 12.690/12 que permite
a sua constituição com o número mínimo de 7 (sete sócios) e exclui desta modalidade
as cooperativas de assistência à saúde, as que atuam no setor de transporte regula-
mentado pelo poder público, as compostas por profissionais liberais e as de médicos
cujos honorários sejam pagos por procedimento.
As cooperativas de trabalho podem ser de produção, quando os sócios contri-
buem com o seu trabalho para a produção em comum de bens ou de serviço quando
constituídas por sócios para prestação de serviços a terceiros.
Na denominação social da empresa é obrigatório o uso da expressão cooperati-
va de trabalho.

11 Cooperativas Sociais

Instituídas pala lei n. 9867/1999 têm a finalidade de inserir pessoas em desvan-


tagem no mercado econômico (deficientes físicos, auditivos e sensoriais psíquicos e
mentais, dependentes químicos, egressos de prisão e condenados a penas alternati-
vas de detenção e adolescentes em idade adequada ao trabalho em situação familiar
difícil), por meio do trabalho, fundamentadas no interesse geral da comunidade em
promover a pessoa humana e a integração social dos cidadãos.
Deverão conter a expressão cooperativa social na sua denominação e o seu estatu-
to poderá prever a categoria de sócios voluntários que prestarão serviços gratuitos,
sem que estejam incluídos na definição de pessoas em desvantagem.

Observação:

Antes de ser publicado este trabalho ocorreu uma modificação na estrutura do


governo federal que acarretou modificação na nomeação e numeração das Instru-
ções Normativas aqui citadas, para efeito de fudamentação das normas de Registro
do Comércio.
É que o Departamento Nacional de Registro do Comércio – DNRC, subordina-
do ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior foi substituído

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TEORIA DO PROJETAMENTO

pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI, subordinado à


Secretaria da Micro e Pequena Empresa vinculada à Presidência da República.
Na prática, porém, em nada modificou as orientações continas neste trabalho,
salvo como dito anteriormente, a nomenclatura do órgão normativo.
Cabe, por fim, comentar a falta de propósito nesta modificação que foi
implementada pelo Decreto nº 8.001, de 10 de maio de 2013, por não se conceber uma
Secretaria da Micro e Pequena Empresa editando normas e registro para todas as
sociedade brasileiras incluindo as sociedades anônimas e cooperativas além das
empresariais não enquadradas nese regime tributário.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

TÍTULO IV
O ESTUDO DO MERCADO

4.1. Considerações gerais

O estudo do mercado constitui o capítulo mais importante no planejamento


empresarial, notadamente quando se trabalha em uma economia caracterizada pelo
elevado nível de competitividade dos seus agentes econômicos. Neste caso, pode-se
afirmar que a sua elaboração, de forma precisa, revestida da cautela e dos cuidados
técnicos necessários, representa meio caminho andado no sentido da obtenção do
sucesso de qualquer empreendimento projetado.
Trata-se de um trabalho complexo, difícil de ser realizado, dado o conjunto de
variáveis com que se tem de trabalhar, dentro de um espaço de tempo consideravel-
mente longo. Afinal, neste estudo, busca-se identificar as preferências e o comporta-
mento do consumidor em relação a determinados produtos ou serviços por períodos
futuros que variam de cinco até dez anos. Objetiva-se quantificar a procura provável
que, por seu turno, deve ser confrontada com a oferta (também estimada para idên-
tico período), definindo-se, então, os eventuais déficits ou superávits de mercado e,
consequentemente, o espaço de atuação disponível para os produtos da empresa que
se projeta implantar ou ampliar.
Na elaboração do estudo do mercado, defronta-se o projetista com diversos
obstáculos. Dentre estes, podem ser destacados os seguintes:

a) carência de informações;
b) condicionantes sociológicos;
c) limitações temporais.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

No que se refere à carência de informações, este é, no Brasil, ainda hoje, em


plena era da informática, um problema particularmente sério. Os dados estatísticos
disponíveis são, em muitos casos, falhos, contraditórios entre as diversas fontes e,
frequentemente, defasados. A despeito dos notáveis progressos obtidos, percebe-se
que, ainda, os estudos e pesquisas setoriais são realizados de forma assistemática e
descontínua. Inexiste um monitoramento contínuo da economia no que tange aos
segmentos empresariais1. Os trabalhos, nesta área, quando surgem, correspondem
muito mais aos projetos pessoais de pesquisadores do que a uma iniciativa coorde-
nada e articulada a partir de uma política nacional voltada para a análise macroeco-
nômica do país.
A observação, ao longo dos últimos quarenta anos de trabalho em campo,
demonstrou a existência de uma síndrome da informação que se caracteriza, entre
outros, pelos seguintes sintomas:

a) inacessibilidade das fontes: notadamente quando o pesquisador é brasilei-


ro, existe, da parte de quem detém a informação, uma grande parcela de má
vontade e até mesmo de medo, dificultando o acesso aos dados disponíveis;
b) corporativismo na informação: em virtude do fato de que informação é
poder, implica em custo, muitos estudos e trabalhos são produzidos para
grupos e setores fechados em que circulam em caráter reservado e confi-
dencial, sendo, na maioria das vezes, inacessíveis ao pesquisador não iniciado
e passam despercebidos, quando alguns trechos não vazam pelas páginas
dos grandes jornais e revistas especializadas;
c) distribuição precária – mesmo os trabalhos elaborados com o objetivo de
atingir ao público tornam-se de difícil acesso dada a forma como se proces-
sa a sua distribuição: comumente, as bibliotecas especializadas, e mesmo as
representações e/ou escritórios técnicos regionais, não possuem – para
consulta – exemplares dos trabalhos editados pelos seus respectivos ór-
gãos;
d) divulgação insuficiente, pois são precários e pouco acessíveis os catálogos
nacionais, são caras as informações armazenadas nos reduzidos bancos de
dados e a produção científica produzida na universidade ressalvando-se
algumas exceções, fica restrita ao meio acadêmico, porém, é preciso regis-
trar que esta situação vem se modificando substancialmente com a expan-
são da internet e a difusão dos sites de busca.

(1) Notadamente no Norte e Nordeste.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

De modo geral o brasileiro não gosta de fornecer informações. Pesquisar a


razão e as causas desta síndrome é tema para um trabalho específico no campo da
história, da sociologia e da comunicação. Sem querer extrair conclusões apressadas,
imagina-se, contudo, que toda esta patologia da informação decorre da forma como
se estruturou, nos planos cultural, político e econômico a sociedade brasileira, do-
minada por um Estado patrimonialista e fiscalista.
Quanto aos condicionantes de natureza sociológica, deve o projetista acaute-
lar-se no que diz respeito ao bias, um fenômeno muito comum na área da pesquisa.
Consiste, basicamente, no envolvimento inconsciente do pesquisador com o objeto
pesquisado e o seu condicionamento na defesa de resultados preconcebidos. Ou seja,
sem aperceber-se claramente deste fenômeno, o pesquisador começa a trabalhar
manipulando os dados no sentido de comprovar que o que presume como certo
deve ser efetivamente verdadeiro. Nestes casos, contam muito os efeitos decorren-
tes da interação com os clientes que, em muitas circunstâncias, já estão “convenci-
dos” da existência do mercado e procuram transmitir esta convicção para o projetis-
ta. Diz-se, na prática, que, para enfrentar este problema, deve todo projetista munir-
se de um bom “desconfiômetro”.
O bias, em um cenário de desinformação, leva ao “achismo” que, por seu
turno, invalida muitos estudos de mercado e produz resultados negativos para os
empreendimentos dele resultantes.
Quanto às limitações temporais, há que se alertar o projetista para a vulnera-
bilidade dos métodos quantitativos2 na estimativa dos acontecimentos futuros. É
necessário entender-se que a matemática é o instrumento de uma linguagem lógica
que produz resultados a partir dos dados que lhe são fornecidos. Uma premissa de
raciocínio falso certamente resultará em conclusão errada. É necessário cuidado com
os “sofismas de composição”.
Em um estudo de mercado, os dados são representativos ou estão vinculados
normalmente ao comportamento humano, aos hábitos e costumes, que são dinâmi-
cos e mutáveis, tanto no tempo quanto no espaço geográfico onde ocorrem. Por isso,
o processo de tomada de decisão relativo a um determinado período futuro implica
em que se trabalhe com razoável margem de risco e incerteza cuja minimização
depende do nível da observação, do rigor científico no tratamento das informações
e do grau de isenção e bom senso do pesquisador. Infelizmente, estas qualidades não
podem ser transmitidas nos manuais.

(2) Sobre métodos de previsão da demanda ver APÊNDICE B – MÉTODOS DE PREVISÃO,


no final deste Livro.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

4.2. As características do estudo do mercado no projeto

A rigor, o estudo do mercado, visto como uma pesquisa do comportamento do


consumidor, e a projeção no tempo da sua procura de bens e serviços constituem um
capítulo da mercadologia.3
É bem antiga, porém atual, a definição da American Marketing Association (1948,
p. 210) que classifica a mercadologia como o estudo sistemático das atividades que
encaminham o fluxo de bens e serviços do produtor aos consumidores finais indus-
triais e comerciais.
Segundo Kotler (1985, p.36), marketing “é o conjunto de atividades humanas
que tem por objetivo facilitar e consumar relações de troca”.
Esta disciplina possui considerável importância para as atividades desempe-
nhadas no mundo dos negócios, pois se dedica ao exame de um complexo grupo de
funções inerentes às transações com os bens e serviços produzidos em um sistema
econômico. Dentre essas funções, destacam-se as de intercâmbio, que compreendem
as operações de compra e venda, as de suprimento físico, relativas ao transporte e
armazenagem de produtos e as funções auxiliares, que compreendem atividades de
financiamento, padronização, cobertura de riscos e informação.
A mercadologia também estuda as atividades negociais nos planos institucional
e do produto. No primeiro, dedica-se à análise das instituições que participam do
processo de mercadização – palavra equivalente ao inglês marketing, quando designa
a atividade propriamente dita –, ou seja: os consumidores, os intermediários e as
instituições auxiliares, tais como as agências de publicidade, propaganda, pesquisa
de mercado, financiamento etc. No segundo, estuda esta disciplina todo o processo
de comercialização de um produto.
A pesquisa mercadológica, de modo geral, desdobra-se em dois segmentos. O
primeiro abrange os estudos que se destinam à identificação de novas oportunida-
des negociais, enquanto o segundo se dedica ao exame das estratégias que possibili-
tam a exploração, com o máximo de eficácia, das oportunidades já conhecidas. As-
sim sendo, segundo Boyd e Westfall (1961, p.5) a pesquisa mercadológica pode ser
objeto da seguinte divisão:

Pesquisa das oportunidades de venda:

a) Pesquisa de produto;
b) Pesquisa de mercado.

(3) No Brasil, a expressão “mercadologia” foi substituída pela sua denominação inglesa
marketing.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Pesquisa do esforço de vendas:

a) Pesquisa de organização de vendas;


b) Pesquisa de vias de distribuição;
c) Pesquisa de propaganda.

No estudo das oportunidades de venda, a pesquisa do produto ou serviço


objetiva a descoberta de novas combinações que possibilitem a ampliação dos resul-
tados da empresa, estando associada a sua estratégia operacional no plano da con-
corrência no mercado. Deve ser diferenciada da pesquisa técnica (engenharia, estu-
dos e desenvolvimento tecnológico), que se preocupa com os aspectos físico-quími-
cos do material sob estudo. A pesquisa do produto busca adaptá-lo aos usos e prefe-
rências dos consumidores. Procura determinar as características que devem ser assu-
midas pelo produto de forma a obter uma boa aceitação pública.
A pesquisa de mercado objetiva a identificação da procura existente e potencial
para os bens e serviços. Busca determinar o mercado que possa ser explorado com
lucro.
Uma vez definido o produto ou serviço e identificado o mercado, surge a
necessidade de estudarem-se as condições em que deverá se processar o esforço de
vendas, que engloba um conjunto de pesquisas – como organizar as vendas, como
distribuir os produtos ou prestar os serviços, qual a forma, o nível e o conteúdo da
propaganda.
Como se vê, existe um encadeamento lógico nas etapas da pesquisa mercado-
lógica, que compreende segmentos de atividades bastante distintas, podendo-se
imaginar o seguinte esquema analítico:

a) definição do produto ou do serviço, a interface entre a pesquisa técnica e a


pesquisa mercadológica, constitui-se como pesquisa e desenvolvimento de
produtos e serviços;
b) definição do quê e quanto produzir, responde a perguntas como “Para
quem produzir?”, questões para serem resolvidas pelo estudo de mercado;
c) definição do como vender, cuida do processo de comercialização, sendo
protanto, uma questão para o esforço de vendas.

O projeto se preocupa, essencialmente, com a pesquisa do mercado. Parte-se


do pressuposto de que o produto ou serviço existem, a questão reside em definir-se
o tamanho, as características e o potencial do seu mercado4.

(4) No máximo, o estudo de mercado, tal como aparece abordado neste livro, pode sugerir
modificações ou adequações para o produto ou serviço com vistas a melhor adequá-lo
ao mercado consumidor.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

No caso de um projeto, a finalidade do estudo de mercado é provar que existe


um número suficiente de indivíduos, empresas ou outras entidades econômicas que,
em certas circunstâncias, apresentam uma procura que justifica a implantação de um
determinado programa de produção – de bens e serviços – num certo período. O
estudo deve incluir, além disto, “as formas específicas que serão utilizadas para tais
demandantes serem alcançados” (ILPES, 1975, p.72)
Assim sendo, esta é a característica básica do estudo de mercado no projeto. Nele
reúne-se uma visão macro- e microeconômica, com uma preocupação espacial – tanto
no plano físico-social como no tempo –, objetivando identificar a existência das condi-
ções básicas para o sucesso do empreendimento, quais sejam: a existência e a disposi-
ção dos consumidores para adquirirem os bens e serviços que serão ofertados.
Isto não reduz a importância do esforço de vendas, ou seja, das atividades
inerentes à comercialização que devem ser examinadas com bastante atenção pelo
empresário. Tanto é assim que nos roteiros de estudos do mercado inclui-se uma
preocupação com as circunstâncias que condicionarão o processo de vendas.

4.3 Horizonte temporal do planejamento

Entende-se como horizonte temporal do planejamento a data-limite estabelecida


para a realização das previsões. Nesse espaço de tempo, estuda-se o comportamento
das diferentes variáveis que podem influenciar tanto a procura quanto a oferta dos
bens e serviços do projeto.
A determinação do horizonte temporal deve levar em consideração uma série
de fatores, entre os quais se destacam:

a) limitações temporais de constância e validade das hipóteses;


b) vida útil dos equipamentos e prazo de maturidade do empreendimento;
c) expectativas do grupo promotor.

A previsão do mercado trabalha com hipóteses formuladas em relação ao


comportamento de múltiplas variáveis pertencentes ao campo das atividades
sócioeconômicas e baseia-se em cálculos de probabilidade da ocorrência dos resul-
tados previstos no tempo determinado. Desde que preenchida a condição ceteris
paribus, ou seja, desde que tudo o mais permaneça constante, ocorrerá o previsto.
Sabe-se, perfeitamente, que, dada a dinâmica social, quanto mais se distancia a pre-
visão da sua data original, no tempo, maior a probabilidade de erro. Por este moti-
vo, dificilmente formulam-se estudos de mercado com previsões para períodos su-
periores a dez anos. Os organismos de fomento solicitam, normalmente, previsões
para períodos de três a cinco anos.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

O conceito de vida útil se aplica às edificações, instalações, máquinas, equipa-


mentos, veículos, enfim todos os bens que compõem o ativo fixo da empresa e que
são objeto da depreciação. Segundo o gênero e as suas peculiaridades técnico-
operacionais, cada bem possui um tempo de vida útil distinto, que é determinado
em função das suas características técnicas e operacionais. No Brasil, é o governo
federal, representado pela Secretaria da Receita Federal (SRF) do Ministério da Fa-
zenda, que, através de instrução normativa, determina o prazo de vida útil e a taxa
de depreciação desses bens. Assim, não existe um prazo de vida útil de uma empre-
sa, visto que, além de os equipamentos possuírem vida útil distinta (as edificações,
por exemplo, possuem 25 anos de vida útil para a SRF, enquanto a determinadas
máquinas é atribuída uma vida útil de 10 anos5 e, aos veículos, de 5 anos) eles vão
sendo repostos na medida em que se extinguem pelo uso ou por obsolescência. O
que existe é a vida útil do investimento (empreendimento) para fins da montagem
do fluxo de caixa e cálculo da viabilidade econômica do projeto. Segundo Abreu e
Stephan (1982, p.19), a determinação do prazo do projeto deve ser realizado median-
te o seguinte procedimento:

a) identificar os itens de investimento mais importantes do projeto;


b) verificar o prazo de depreciação, do item mais importante, fixado pela
legislação (vida útil legal);
c) tomar esse prazo para vida útil do projeto.

Conforme se verifica na figura seguinte, existem atividades cujo período de


vida útil é bastante longo, circunstância que impede tornar-se coincidente tal perío-
do com o do horizonte de planejamento. Afinal, conforme aqui destacado, nenhuma
previsão mercadológica subsiste com credibilidade a períodos superiores a dez anos
no máximo.

Figura 8 – Vida média de fábricas completas

Fonte: AIRES e NESTON, 1955 (apud MELNICK, 1958, p. 147)

(5) Ver tabela no ANEXO I.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

O prazo de maturação refere-se ao estado no qual a empresa está em perfeitas


condições para alcançar seus objetivos (ANDERSEN; JESSEN, 2003). No nosso enten-
dimento, a empresa ingressa na maturidade a partir do momento em que ultrapassa
o seu ponto de equilíbrio. Nestes casos, como recomenda o professor Eugênio Gudin,
o horizonte da previsão deverá ser igual ao dobro do prazo de maturação dos inves-
timentos.
Ademais, devem-se considerar os impactos que podem ser produzidos pela
tecnologia e a inovação (destruição criadora). Setores existem, como o da informática,
em que é temerário estimar-se a vida útil dos equipamentos por prazo superior a
três anos.
Por outro ângulo, na fixação do horizonte, há de se considerarem eventuais
aspectos da estratégia do grupo promotor da iniciativa que poderão estabelecer,
conforme sua conveniência política, qual o período de retorno considerado atraente
para o investimento e, consequentemente, assumir que as previsões do comporta-
mento do mercado se circunscrevam a este espaço de tempo.
Contudo, em condições de normalidade econômica, tem sido usual admitir-se
que o horizonte do planejamento possa situar-se em torno de 10 anos tanto para o
estudo do mercado quanto para a análise da rentabilidade econômica. No plano
mercadológico, um decênio corresponde a um período de intervalo censal e represen-
ta o espaço máximo recomendável para a realização de previsões, consideradas as
margens de erro. No plano econômico, este período se ajusta, razoavelmente, para o
desconto do fluxo de caixa e o cálculo da taxa interna de retorno. Evidentemente, neste
caso, em determinados projetos (cujo empreendimento possua uma vida útil mais
longa) torna-se necessário efetuarem-se alguns ajustamentos no cálculo da depreciação
(valor residual), para que se possa efetivar corretamente o cálculo da rentabilidade.

4.3.1 Horizonte temporal do planejamento nas atividades de serviços

O horizonte de planejamento nas atividades de serviços também é condiciona-


do pelos fatores relacionados no tópico anterior. Nessas atividades, contudo, exis-
tem peculiaridades que devem ser observadas em instituições, como:

a) hotéis;
b) hospitais;
c) empresas de transporte (passageiros e/ou carga);
d) balneários, resorts, centros de recreação e lazer;
e) estabelecimentos educacionais (universidades, faculdades, escolas);
f) grandes supermercados.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Estas instituições possuem normalmente equipamentos e instalações de longa


vida útil e requerem um tempo maior para atingir a maturidade do que outros,
como:

a) lojas varejistas e atacadistas;


b) bares e lanchonetes;
c) oficinas de manutenção;
d) empresas de informática;
e) serviços profissionais (consultorias, médicos, advogados etc.).

Cada caso representa um caso, o que exige uma investigação específica para
que se determine o horizonte temporal de planejamento.
É possível, porém, admitir, a priori, que empreendimentos de grande porte,
que realizam investimentos substanciais em equipamentos, instalações e constru-
ção, como são aqueles do primeiro grupo aqui relacionados comportam um hori-
zonte temporal de planejamento para um período de 10 anos.
Os do segundo grupo tendem a ter existência como foot loose, ou seja, são mais
voláteis, pois, na maioria dos casos não implicam em maiores investimentos fixos.
Nesta circunstância sugere-se que o horizonte de planejamento seja de 5 anos.

4.4. O estudo do mercado dos produtos industriais

4.4.1 Características

O estudo do mercado assume características específicas em função do tipo de


projeto a que se destina. Assim, nos casos de projetos que objetivam a implantação
de um novo empreendimento, o grau de exigência do estudo deve ser bastante
elevado, dada a presumível inexistência de experiência anterior dos seus promoto-
res. Nestes casos, trata-se de uma unidade nova que ingressa no mercado, sem dis-
por de tradição anterior, o que envolve uma considerável margem de risco.
Quando se trata de projetos que objetivam a ampliação do empreendimento
existente ou a construção de uma nova unidade, o estudo do mercado se torna de
mais fácil elaboração, na medida em que o grau de organização da empresa original
assegure uma experiência consolidada com o mercado.
No primeiro caso, de implantação, a empresa nova obriga-se a provar que
existe mercado para os produtos que pretende fabricar e, sobretudo, que existem
espaço e condições favoráveis para a sua inserção neste mercado.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

No segundo caso, de ampliação, a empresa deverá demonstrar de forma con-


creta – com base em dados operacionais da sua área mercadológica – a existência das
condições que justificam a ampliação da sua capacidade produtiva.
Em relação aos produtos, o estudo de mercado deverá ajustar-se a suas pe-
culiaridades, dada a natureza específica da procura de cada um destes.
Os bens oferecidos e procurados no mercado obedecem, de modo geral, à
seguinte classificação6:

1 Bens de consumo final


1.1 Bens de consumo imediato
1.2 Bens de consumo durável

2 Bens de procura derivada


2.1 Bens intermediários
2.2 Bens de capital

Os bens de consumo final são todos aqueles colocados no mercado à disposi-


ção do consumidor. Podem ser de consumo imediato, utilizados uma única vez ou
em pequeno intervalo de tempo (como os alimentos, medicamentos, artigos de
perfumaria e higiene), ou de consumo durável, quando prestam serviço ao consumi-
dor por um longo espaço de tempo (por exemplo, eletrodomésticos, equipamentos
de som, veículos de passeio, etc.).
Os bens de procura derivada têm a sua procura como uma função da procura
dos bens finais aos quais integram. Nesta categoria estão os intermediários, que
correspondem às matérias-primas, e os bens de capital, constituídos pelos equipa-
mentos, máquinas, edifícios, veículos e outros, utilizados no processo de produção.

4.4.2 O estudo do mercado de bens de consumo final

Para exame do mercado de bens de consumo final, utiliza-se a mesma estru-


tura metodológica tanto para os bens de uso imediato quanto para aqueles que são
duráveis.
Neste caso, o que está sob exame é o comportamento do consumidor, que,
evidentemente, possui peculiaridades quando procura bens perecíveis ou duráveis.
Estas diferentes atitudes podem ser examinadas dentro do escopo do estudo, segun-
do a natureza do bem examinado.

(6) Existem inúmeras classificações para os bens econômicos, variando segundo o gosto do
autor.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

No caso dos bens de consumo imediato, a perecibilidade do bem e a existência


de substitutos possuem nítidos reflexos no comportamento do consumidor. Este
fato deve ser amplamente considerado quando da análise desse mercado.
No estudo do mercado dos bens duráveis, devem-se examinar alguns aspectos
que não são necessários na análise dos bens de consumo imediato. É o caso da
peculiaridade assumida pela procura destes bens, dada a sua durabilidade, que com-
preende os seguintes estágios:

a) procura de adaptação;
b) procura de expansão;
c) procura de reposição.

A procura de adaptação é específica dos produtos novos, lançados no merca-


do. Compreende um espaço de tempo transcorrido entre o momento de lançamen-
to do produto – quando o estoque dos consumidores é igual a zero – até sua plena
absorção pelo mercado – quando os estoques do bem em poder dos consumidores
atingem o seu nível de saturação, admitindo-se um determinado nível de renda,
padrão de consumo e o preço do bem considerado. A partir desse momento, a
procura se encerraria, passando a depender dos movimentos de expansão e reposi-
ção.
A procura de expansão está diretamente relacionada com a ampliação do mer-
cado, mediante o aumento do número de consumidores, da elevação da renda real
per capita e em função da elasticidade renda-consumo do bem. É evidente que, quan-
to maior for o coeficiente de elasticidade renda e o incremento da renda real per
capita, mais se expandirá a procura do bem em referência.
A procura de reposição está associada à vida útil do bem, à sua durabilidade e
ao seu grau de resistência ao processo de obsoletismo (destruição criadora).
Outro aspecto muito importante a se definir diz respeito ao nível da procura
que está sendo pesquisada, ou seja, se o estudo do mercado se refere a:

a) um item de produto;
b) uma linha de produto;
c) uma classe de produto;
d) uma indústria.

Cada um desses níveis insere um determinado grau de complexidade no estu-


do do mercado. Ou seja, o trabalho aumentará de intensidade na medida em que se
estude o mercado para, por exemplo: a) calças esportivas para homens; b) calças para
homens; c) confecções masculinas ou d) confecções em geral.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Mas, o projeto deve ser específico na medida em que se vai definir o quê,
quanto e como produzir. Esta exigência técnica, evidentemente, condiciona a ampli-
tude do estudo.7
Segundo Porter (1999, p.28) é de fundamental importância que no estudo do
mercado se identifiquem com clareza as forças que dirigem a concorrência.
Toda empresa enfrenta um determinado grau de concorrência que é produzi-
do pelas características de cada mercado de produtos. De modo geral, cinco fatores
criam estas condições de concorrência. São eles:

1. novos empreendimentos que podem ingressar no mercado;


2. o poder de negociação e de decisão dos fornecedores de insumos;
3. o poder de negociação e de decisão dos consumidores;
4. a ameaça e o grau de competição dos produtos substitutos;
5. a própria concorrência interna industrial.

Existem mercados que oferecem barreiras à entrada, tornando difícil o acesso de


concorrentes, e outros em que o ingresso é fácil, atraindo novos participantes sempre
que se registrarem aumentos expressivos da procura. Normalmente a tecnologia, o
know-how, o volume de investimentos requerido, a escala de produção e as políticas
reguladoras constituem barreiras à entrada, fechando o mercado. Por fim, ainda como
uma barreira de entrada, um aspecto que pode condicionar severamente a expansão e
o sucesso de um negócio está relacionado com a ecologia e o meio ambiente. Os
empreendimentos considerados politicamente incorretos, segundo estes parâmetros,
e que produzem danos ou déficits ambientais estão condenados por antecipação.
Dificuldades podem ser criadas pelos fornecedores (como o estabelecimento
de quotas), notadamente em mercados oligopolistas.
Compradores exigentes e com alternativas de substituição ou de acesso a outros
mercados podem simplesmente inviabilizar um negócio aparentemente promissor.
O nível e a forma de concorrência estabelecida no mercado conformam uma
outra variável que não pode deixar de ser investigada e se constitui no que chamamos
de análise da oferta. Quanto mais padronizada for essa oferta, maior será o nível de
competição que, nesses casos, se concentrará no argumento do preço. Neste quesito,
além do nível de diferenciação, Porter destaca a quantidade de firmas concorrentes,
o quanto elas são afligidas pela necessidade de cobrir seus custos fixos, o nível de
mobilidade do consumidor, dentre outros elementos.

(7) Um estudo específico do mercado de um produto não pode desprezar a análise dos
demais níveis de sua procura. Ou seja, de um exame sobre a situação específica da
indústria. Apenas a ênfase é que deverá se concentrar no produto objeto do projeto.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Figura 9 – As cinco forças que determinam a competitividade das empresas

Fonte:Porter (1989, p.4)

O estudo do mercado dos bens de consumo final deve contemplar, entre ou-
tros, alguns aspectos a seguir considerados:

O primeiro desses aspectos são as características básicas dos produtos. É preci-


so definir claramente as características dos produtos, suas especificações técnicas,
sua vida útil (tanto no que se refere ao ciclo de vida quanto à durabilidade) e seu
comportamento diante dos seus similares. Deve-se examinar, também, a sua posi-
ção em relação aos eventuais substitutos e complementares. Um determinado bem
ou serviço não pode ser examinado de forma isolada no mercado, uma vez que o
desempenho da sua procura está, na maioria das vezes, intimamente entrelaçado
com o comportamento daqueles bens que os substituem ou complementam. Por
exemplo: no caso de bens substitutos, se os preços dos aparelhos de ar condicionado
caírem consideravelmente em relação aos preços dos ventiladores, a procura destes
últimos poderá ser severamente afetada. Em se tratando de complementares, a ele-
vação da procura de roupas sociais (ternos e duques)8 implicará na ampliação da
procura de camisas sociais e gravatas. Em muitas circunstâncias, a escassez de dados

(8) Termos usados no comércio de confecções. Os duques são trajes formais masculinos
constituídos de duas peças confeccionadas em tecido da mesma cor e padrão. A saber:
paletó e calça; os ternos são compostos por três peças: o paletó, o colete e a calça, todos
em tecidos da mesma cor e padrão. Nas regiões de clima quente usam-se mais os duques
apesar de se utilizar pouco este termo.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

sobre a procura de determinado bem pode ser suprida com informações disponíveis
sobre os seus substitutos e/ou complementares, na medida do grau de correlação
existente. No que tange à permanência do produto no mercado, deve-se atentar,
cuidadosamente, para os aspectos relativos ao ciclo de vida, dada sua importância
para a projeção do comportamento da procura futura. Ao se estudar o ciclo de vida
do produto (CVP), deve-se buscar determinar o estágio evolutivo em que este se
encontra (introdutório, crescimento, maturidade ou de declínio) e o seu grau de
vulnerabilidade às mudanças tecnológicas e às estratégias de marketing (efeito de-
monstração, por exemplo).
Uma segunda questão é a delimitação do mercado. A amplitude do estudo
será função da área geográfica por este compreendida. É evidente que um estudo
do mercado internacional, para um determinado produto, será bem mais comple-
xo do que aquele outro realizado para um mercado nacional e este requererá um
volume maior de informações do que é necessário quando se estuda, apenas, uma
região ou o mercado de um núcleo urbano. A definição da área geográfica que será
atendida pela produção do projeto é, pois, básica e preliminar no estudo do merca-
do. Esta definição não é aleatória. Depende de um conjunto de fatores, tais como:
as características do produto, seu nível de especificidade/especialidade, a escala de
produção mínima requerida, a disponibilidade de recursos e a estratégia empresa-
rial.
Definida a área geográfica do mercado, deve-se proceder ao estudo da sua
estrutura demográfica e econômica. Em termos demográficos, o estudo se concen-
trará na população-alvo do projeto (não faz muito sentido em um empreendimento
voltado para a produção de roupas profissionais, por exemplo, estudar-se a popula-
ção infantil), reportando-se aos demais contingentes, se necessário, para o estabele-
cimento de correlações. O estudo da população deverá mensurar o seu quantitativo
atual, a sua taxa histórica de crescimento e projetar o contingente futuro, segundo o
horizonte temporal do planejamento, analisando, criticamente, as eventuais altera-
ções que possam ocorrer. No plano econômico compete examinar-se a renda real per
capita, observando-se com bastante atenção os dados relativos à população economi-
camente ativa e sua distribuição pelos diversos níveis de renda (grau de concentra-
ção da renda) e a sua taxa histórica de crescimento. Neste caso, o agregado econômi-
co com que se deve trabalhar é a renda disponível.
O terceiro aspecto é a realização de uma análise do comportamento da procura,
que compreende o exame das condições em que se processa a procura dos diversos
bens e serviços. Esta análise deve, se possível, compreender três estágios cronológi-
cos, ou seja: o passado – recuando-se até um decênio no tempo –, o presente e o
futuro – extrapolando-se para o limite do horizonte temporal do planejamento (no
máximo até dez anos) a tendência histórica observada. O estudo da procura de um
bem deve ser precedido por um exaustivo levantamento de toda a literatura sobre

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

ele editada e disponível. O pesquisador deve certificar-se de que conhece, suficiente-


mente, o bem ou serviço cuja procura irá pesquisar, para que possa formular as
indagações corretas e construir hipóteses de trabalho lógicas e coerentes. É precioso
e atual o conselho de Melnick ([1958]1972, p.20) a seguir transcrito:

Os antecedentes necessários ao estudo do mercado se referem tanto à


informação estatística pertinente como às características do mercado quanto
a comercialização, normas legais, tipificação, racionamento, controles de
preços ou outros elementos de incidência significativa, sobre o total da
demanda e dos preços do bem ou serviço em estudo. Esta diferenciação
entre antecedentes estatísticos e não-estatísticos é por certo convencional, e
é adotada apenas para facilitar a exposição. Os dados de tipo estatísticos
permitirão a computar alguns coeficientes empregados na análise da de-
manda, e a elasticidade desta em relação à receita e aos preços. Os demais
antecedentes ajudarão a qualificar estas estimativas e a estabelecer hipóte-
ses razoáveis sobre as condições de comercialização, racionamentos, con-
troles de preços e similares que poderão reger no futuro. A importância
relativa dos diversos antecedentes variará segundo o objetivo do estudo e
o tipo de bem que se deseja estudar. Ficará a critério do analista o grau em
que devam estender historicamente, as pesquisas. Na maioria dos casos
será preferível que uma parte importante das informações abranja um
período relativamente longo. Em geral, 10 ou 15 anos podem ser sufi-
cientes para que as linhas de regressão ou de tendência sejam utilizá-
veis na análise tendo-se em vista os possíveis transtornos econômicos
que possam ter ocorrido durante o período; o objetivo é eliminar esti-
mativas influenciadas por situações anormais que afetem períodos
relativamente curtos, e que correspondam apenas a uma determinada
conjuntura. Finalmente, cabe destacar a conveniência de considerar a situ-
ação do mercado internacional com relação ao bem em estudo e analisar,
tanto as repercussões do projeto sobre esse mercado, como a incidência
deste no mercado nacional. Em relação a este mesmo ponto, pode ser
necessário confrontar o projeto com as exigências de convênios ou tratados
vigentes, ou de uma possível política de complementação econômica inter-
nacional. (Grifos do autor)

Outro passo importante compreende a etapa do levantamento de dados e in-


formações estatísticas, sua análise crítica, sistematização e processamento. Em
muitos casos, dada a dificuldade de obtenção destes elementos, torna-se necessário
suplementar-se o exame da procura com a pesquisa de campo efetuada junto aos
consumidores e aos experts no produto, tais como fabricantes,produtores, distribui-
dores, vendedores etc. A pesquisa de campo junto aos consumidores, mediante pro-
cedimentos amostrais9, pode fornecer com segurança uma tendência do consumo do

(9) A adoção de técnicas amostrais deve ser efetuada com o auxílio de um estatístico. Uma
amostra mal determinada compromete o resultado do estudo.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

bem em exame. Também os vendedores (dados ao seu contato direto com o público
consumidor) constituem uma rica fonte de informações devido a vivência do dia-a-
dia no processo de comercialização. Neste caso, as informações tendem a ser mais
isentas quando o vendedor trabalha com vários similares, devendo o pesquisador
precaver-se quando a informação proceder de um “representante exclusivo” ou do
“fabricante do produto”.
As informações coletadas nesta etapa do estudo deverão servir para que se
determine o consumo aparente do bem pesquisado. O consumo aparente difere do
consumo efetivo por não considerar os estoques (de mensuração difícil) e é obtido a
partir da seguinte expressão:

Ca = P + M – X

em que P corresponde à produção nacional, M às importações e X às exportações do


bem em tela.
As séries de quantidade e de preços são extremamente úteis, pois poderão
alicerçar os cálculos da elasticidade da procura. O mesmo ocorre, no caso de bens
duráveis, quando é possível determinar-se, mesmo que hipoteticamente, o estoque
de unidades do produto pesquisado em poder do público; a idade média deste esto-
que e a vida média provável de uma unidade nova. A determinação do estoque em
poder do público praticamente se obtém mediante pesquisa direta e com a utiliza-
ção de técnicas de amostragem. A vida média é um dado técnico de fácil obtenção,
pois pode ser conseguido junto a fabricantes, fornecedores e oficinas de assistência
técnica. O processamento correto destas informações possibilitará avaliar-se qual a
tendência da procura de reposição do produto.
A despeito das notórias dificuldades de cálculo, dada a indisponibilidade de
informações estatísticas suficientemente desagregadas, constitui importante instru-
mento de análise da procura de um determinado bem a identificação dos seus coefi-
cientes de elasticidade.
Como a elasticidade representa um instrumental microeconômico que se apli-
ca tanto ao estudo do mercado dos bens industriais quanto ao dos serviços, este
tópico será abordado em separado.
O quarto aspecto a ser considerado à realizar uma projeção da procura futu-
ra. Dispondo-se de informações relativas ao comportamento histórico da procura
do produto, de suas peculiaridades, das suas relações com os complementares e do
seu grau de substituibilidade e tendo-se estruturado séries básicas do consumo
aparente e os coeficientes de elasticidades, é possível, com razoável margem de
segurança, estimar-se a procura futura do bem estudado. É preciso que o projetista
nunca esqueça, nesta oportunidade, que está trabalhando no campo de uma ciência

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

hipotética e probabilística. Quanto mais sólida for a hipótese, maior a possibilida-


de de acerto na previsão. A procura projetada – segundo os diversos métodos que
serão examinados no APÊNDICE B – deve ser objeto de análise crítica que buscará
testar a sua validade. É importante dispor-se de cenários em que se configurem as
prováveis alternativas conjunturais no futuro, sob critérios otimistas e pessimis-
tas. Neste contexto, devem ser examinados todos os fatores conhecidos que pos-
sam condicionar e influenciar o comportamento da procura, checando-se o impac-
to que sobre esta produzirão a médio e a longo prazo, em função das alternativas
de desempenho da economia que forem consideradas. Cabe, por fim, atentar-se
para a política econômica praticada pelo governo e seus reflexos sobre o projeto.
Ainda nas palavras de Melnick ([1958]1972 p.23):

O conhecimento adequado do mercado pode exigir uma análise separada


das influências relativas a fatores, como o racionamento de divisas, o raci-
onamento do produto, os tipos de câmbio, as fixações de preço, os subsí-
dios ou impostos e outros que tenham origem em decisões de natureza
política. As informações recolhidas a esse respeito serão úteis para que
possam ser feitas apreciações acerca da influência que a manutenção ou a
variação em determinado sentido da política econômica teria sobre o pro-
jeto. Estas apreciações ajudarão a estabelecer uma hipótese plausível a
respeito, com vistas à projeção da demanda ou à estimativa da demanda
potencial atual.

A seguir, em quinto lugar, situa-se a realização de uma análise da oferta.


Uma vez analisada e projetada a procura futura dos bens e serviços de consumo
imediato e/ou duráveis, torna-se necessário determinar qual é e qual será o com-
portamento presente e futuro da sua oferta. Aqui, também, será necessário montar
séries estatísticas básicas relativas às quantidades produzidas no país e as que são
importadas. Inexistindo dados estatísticos, a alternativa consiste na realização de
pesquisa direta junto ao mercado, o que traz implícito um conjunto de dificulda-
des, uma vez que não é fácil a obtenção destas informações junto aos produtores,
notadamente se eles perceberem que estas se destinam a um eventual concorrente.
Nesta circunstância, tem-se, muitas vezes, que recorrer ao cruzamento de várias
informações provenientes de fontes diferentes. Uma delas, que pode ser conveni-
entemente explorada, é representada pelo comércio atacadista e varejista assim
como os representantes de marcas. Também se pode recorrer a dados e informa-
ções dos órgãos públicos da administração tributária – sempre que se dispuser de
condições de acesso a estas fontes assim como os órgãos de registro, por exemplo,
juntas comerciais. Tendo sido quantificada a oferta e construída a sua série históri-
ca, há que se examinar o regime sob o qual opera o mercado (concorrência

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TEORIA DO PROJETAMENTO

oligopolista, monopolista, etc.) definindo-se, entre outros aspectos, o perfil dos


principais produtores, o tamanho, a capacidade instalada, a eventual existência de
capacidade ociosa, o nível de desenvolvimento tecnológico, e o sistema de
comercialização adotada. Estas informações são vitais para fundamentar a avalia-
ção da capacidade concorrencial do novo projeto e a previsão do que irá ocorrer
com a oferta instalada a médio e longo prazo. Por exemplo: os produtores atuais
possuem planos de expansão? Em quanto ampliarão a sua capacidade produtiva?
Em que prazo? Muitas das respostas a estas questões somente serão obtidas medi-
ante pesquisa direta e consulta a múltiplas fontes. Os organismos de fomento
(bancos e instituições responsáveis pelo desenvolvimento regional, como o
BNDES/BNB/BB, por exemplo) podem fornecer informações setoriais quanto aos
pleitos relativos a projetos que estão em curso de implantação, ampliação ou em
fase de análise de projetos ou de cartas-consultas. A estas instituições não interessa
uma saturação do mercado que venha a prejudicar a estabilidade dos empreendi-
mentos por elas assistidas. Também os órgãos de classe (tipo federações de indús-
trias, associações comerciais e sindicatos) e, aqui e ali, estudiosos isolados de seto-
res específicos podem ser fontes preciosas de informações, quando competente-
mente garimpados. O certo é que quase sempre não se encontrará um estudo setorial
atualizado que oriente plenamente o projetista. O Instituto Latino-Americano de
Planificação Econômica e Social (Ilpes) sugere a montagem de um quadro de dupla
entrada reduzindo-se os confrontos a seis tipos de oferta e seis de demanda. No
caso, o modelo exclui a oferta coberta por uma unidade de produção monopólica.
Segundo o estudo do Ilpes um projeto para a produção de calçados poderia
corresponder a uma oferta competitiva interna para uma demanda interna disper-
sa. O serviços de TI corresponderiam a uma oferta oligopólica interna para uma
demanda interna concentrada.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Figura 10 – Análise da concorrência

Fonte: ILPES (1975, P.81)

O sexto e último aspecto é representado por um balanço oferta x procura. Nos


casos em que seja possível a montagem de duas séries projetadas para o futuro, será
possível determinar-se matematicamente os espaços disponíveis no mercado.
Exemplo:

Tabela 2 – Balanço oferta x procura – região y produto z – 2013/2022


(dados em mil toneladas)

Fonte: Criada pelo autor. Dados fictícios

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Pelos dados do exemplo acima fica demonstrado que, dada a disparidade entre
as taxas de crescimento da oferta e da procura no período considerado, passa a
registrar-se uma procura insatisfeita a partir do terceiro ano, o que implica na neces-
sidade da ampliação das plantas existentes, da introdução de uma nova planta ou da
importação do produto.
A determinação do superávit/déficit do mercado não deve levar em considera-
ção a oferta do novo projeto. Desta forma, permitirá uma clara definição do volume
da procura adicional como condicionante do tamanho econômico que deverá ser por
este assumido.

4.4.3 O estudo do mercado de produtos novos

Notadamente no que se refere aos bens de consumo final, merece registro


especial o caso de produtos novos.
Um produto ou serviço é considerado novo em diversas circunstâncias. Pode
ser resultante de uma invenção e existir ou não algum tipo de similar no mercado.
Pode inexistir no mercado de determinado país, sendo, contudo, produzido e
comercializado em outros.
Estas são situações em que se tornam mais complexas as previsões do compor-
tamento do mercado. Faltam os antecedentes da procura que possam lastrear qual-
quer procedimento analítico. Nestas circunstâncias devem ser adotadas, entre ou-
tras, as seguintes providências:

a) estruturar pesquisa de mercado, selecionando amostra significativa, em


um mercado de prova, testando a reação dos consumidores e analisando os
aspectos relativos à procura de adaptação, expansão e reposição (no caso
dos bens de consumo durável);
b) examinar e analisar o comportamento dos produtos similares ou asseme-
lhados no mercado;
c) examinar e analisar o comportamento de eventuais produtos complemen-
tares no mercado;
d) examinar o comportamento do mercado em outros países que comercializem
o produto e que possuam estrutura sóciocultural e econômica passível de
comparação.

4.4.4 O estudo do mercado dos bens intermediários

Os bens intermediários constituídos pelas matérias-primas, secundárias, com-


plementares, de embalagem, utilidades, mão de obra e, enfim, todos os insumos ou
commodities, possuem uma procura reflexa (ou derivada) e conjunta.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Quando a procura dos insumos é uma função da procura dos bens finais de cuja
composição material (físico-química) estes participam, diz-se que ela é reflexa (ou
derivada). Assim, uma maior procura de brinquedos deve implicar na elevação da
procura de plásticos; o incremento da procura de automóveis implicará no acrésci-
mo da procura de chapas de aço e uma infinidade de outros insumos. A elevação do
ritmo da construção civil implicará no aumento do consumo de cimento, de tubos e
conexões e, consequentemente, de PVC.
É importante destacar que um dado insumo pode ser considerado de primeira,
segunda ou de terceira geração, conforme a sua posição, até chegar ao produto final
destinado ao consumidor, dentro da cadeia de processos produtivos. Na indústria
petroquímica, por exemplo, o eteno (etileno) é uma matéria-prima de primeira
geração que, em combinação com outras, dá origem ao cloreto de polivinila (PVC),
uma matéria-prima de segunda geração e esta, além de outros múltiplos usos, trans-
forma-se em tubos e conexões (terceira geração) que são colocados nos apartamen-
tos, casas etc., que são os bens de consumo final.
Assim sendo, conforme a sua posição numa árvore genealógica de produtos, a
procura de um dado insumo pode refletir o comportamento da economia como um
todo (veja-se o petróleo, o minério de ferro, o aço, a energia elétrica, entre outros) ou
simplesmente de um setor ou até de um produto (como é o caso dos tecidos, do
couro, da celulose e de muitos princípios ativos de fármacos, por exemplo, o ácido
salicílico). Esta circunstância resulta no fato de que um estudo do mercado de um
bem intermediário pode variar de complexidade, conforme a natureza do bem e a
sua posição em determinada árvore genealógica.
Como, de modo geral, uma matéria-prima, isoladamente, não responde pela
fabricação de outro produto, tendo que combinar-se com outras, mesmo em peque-
nas proporções, diz-se que esta é uma procura conjunta. Ou seja, compondo uma
equação de produção, sua procura está influenciada pelo comportamento dos de-
mais insumos que lhe são associados.
Imagine-se, por exemplo, que o bem intermediário MP1 participe da seguinte
equação de produção (coeficientes técnicos):

1BCF = 2(MP1) + 0,5 (MP2) + 3(MS) + 2(MC) + 1(U) + 5(MO)

Em que:
BCF = bem de consumo final
MP1 = matéria-prima principal
MP2 = matéria-prima adicional
MS = materiais secundários X
MC = materiais complementares Y
U = utilidades (energia, água, ar comprimido etc.)
MO = horas-homem, mão de obra direta

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Se existe mercado para 5BCF, admitindo-se uma proporcionalidade constante,


haveria uma procura reflexa para 10 (MP1). Ocorre que o atendimento a esta procura
dependerá da disponibilidade dos demais fatores, ou seja, a possibilidade de se
contar com 2,5 (MP2) + 15 (MS) + 10 (MC) + 5 (U) + 25 (MO). Basta que a oferta de um
destes componentes seja inelástica para comprometer a procura adicional de MP1
(admitindo-se a rigidez tecnológica da equação de produção).
O exame dos condicionantes tecnológicos também é importante neste estudo,
posto que rotas de processo diferenciadas, novas tecnologias, etc. podem afetar,
substancialmente as condições de procura de um determinado bem intermediário.
O estudo do mercado dos bens intermediários, atentando para as suas peculia-
ridades, deve absorver parte da metodologia anteriormente exposta para os bens
finais, notadamente no que se refere à caracterização do produto, área do mercado,
análise e projeção da procura e da oferta e seu correspondente balanceamento. Em
termos específicos, observará, entre outros, os seguintes aspectos:

a) exame das peculiaridades do bem intermediário, como produto de procura


reflexa (derivada) e conjunta, o que implica na realização de dois estudos
específicos: um, dirigido para o desempenho dos mercados dos bens a que
este intermediário insume10 e outro, relativo à disponibilidade dos seus
complementares nas equações de produção;
b) exame dos condicionantes tecnológicos e seus impactos sobre as condições
e proporções de consumo dos intermediários em relação, também, aos seus
complementares na equação de produção;
c) estabelecimento de correlações cabíveis, notadamente entre a elasticidade-
renda-consumo do bem intermediário sob exame e as taxas de crescimento
do agregado macroeconômico pertinente (no caso, quase sempre o PIB).

4.4.5 O estudo do mercado dos bens de capital

O exame da procura de bens de capital se assemelha, metodologicamente, ao


do estudo de mercado dos bens intermediários. Uma questão fundamental, neste
caso, reside no grau de durabilidade dos bens disponíveis e, consequentemente, o
seu estoque em poder dos produtores. A inovação tecnológica tem também impor-
tante significado posto que de um lado influi na durabilidade dos bens existentes e,

(10) É o que se chama de desagregação setorial que consiste em desagregar setorialmente


o consumo e estudar estatisticamente cada setor isolado. Ver Oliveira,Rodrigues e
Pinto (apud SIMONSEN e FLANZER 1974, p.118, 1ª edição).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

de outro, pode contribuir para a expansão da sua procura. No caso do estudo do


mercado destes bens, deve-se:

a) analisar a política e a programação econômica nacional, suas perspectivas e


projeções;
b) proceder a uma análise macroeconômica do setor a que pertence o bem sob
exame;
c) proceder a um inventário da capacidade existente para a estimativa da
procura de expansão e de reposição;
d) analisar o processo de pesquisa e desenvolvimento de tecnologia nas áreas
de influência do bem de capital estudado.

4.5 O estudo do mercado dos serviços

4.5.1 Peculiaridades

Esse estudo incorpora muitos dos aspectos relativos àqueles dedicados à análi-
se dos bens materiais. Mas é importante assinalar que as atividades de serviços
exigem técnicas diferenciadas de marketing, visto que não possuem produto tangível,
padronizado e estocável. Os prestadores de serviços interagem mais diretamente
com os clientes do que os fabricantes de produtos. Por isso, esta interação deve ser
sempre considerada como um elemento importante na agregação de valor às ativi-
dades realizadas.
Em todo estudo, deve-se caracterizar com precisão a natureza do serviço que se
pretende oferecer (o que produzir). No caso, não se pode dizer que o serviço a ser
prestado é o de “consultoria”, por exemplo. Consultoria em que? Deve ser detalha-
da a atividade. Exemplo: consultoria na elaboração e administração de estudos de
viabilidade econômica e projetos econômicos financeiros para a indústria, agricul-
tura e serviços.
O mercado para um hotel turístico, por exemplo, é diferente daquele
direcionado para um motel ou um hotel de trânsito. O mesmo ocorre com um
hospital. Ele pode ser uma maternidade, pediátrico, de trauma, de clínica geral etc.
contemplando, pois, públicos distintos.
Um determinado serviço, também não pode ser examinado de forma isolada
no mercado. O desempenho da sua procura está, na maioria das vezes, intimamente
entrelaçado com o comportamento de um conjunto de fatores que podem responder
pela sua substituição ou o complementam. Por exemplo: no caso de bens substitutos,
se o preço dos serviços de taxi subirem consideravelmente em relação às tarifas

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TEORIA DO PROJETAMENTO

cobradas pelas empresas de ônibus, a procura por estes últimos poderá aumentar
substancialmente. Em se tratando de complementares, a elevação da procura de
equipamentos de informática implicará na ampliação da procura de serviços de
suporte e tecnologia da informação. Em muitas circunstâncias, a escassez de dados
sobre a procura de determinado bem pode ser suprida com informações disponíveis
sobre os seus substitutos e/ou complementares na medida do grau de correlação
existente.
No que tange à permanência do serviço no mercado, deve-se atentar, cuidado-
samente, para os aspectos relativos ao ciclo de vida, dada a sua importância para a
projeção do comportamento da procura futura. O ciclo de vida do serviço (CVS) é
condicionado pela tecnologia, pela inovação e pelos hábitos dos consumidores. Deve-
se buscar determinar o estágio evolutivo em que esta se encontra (introdutório,
crescimento, maturidade ou de declínio) e o seu grau de vulnerabilidade às mudan-
ças e às estratégias de marketing. Assim, por exemplo, muitos serviços de manuten-
ção (máquinas de datilografia, telex etc.) vão desaparecendo e exigindo dos profissi-
onais que façam upgrade para outros estágios mais modernos, o que nem sempre é
possível, gerando um desemprego estrutural. A tecnologia embarcada nos veículos
– notadamente os de carga e os tratores –, a injeção eletrônica (que substituiu os
antigos carburadores) e outras inovações têm sido responsáveis pelo desapareci-
mento de muitos serviços mecânicos de manutenção e o surgimento de outros mais
sofisticados tecnologicamente.

4.5.2 Características dos serviços

O estudo do mercado deve adaptar-se às características específicas da atividade


de serviços. Em função do tipo de projeto a que se destina e contempla, de igual
forma que nos projetos industriais, situações de projetos que objetivam a implanta-
ção de um novo empreendimento, com um grau de exigência do estudo bastante
elevado ou projetos de ampliação do empreendimento existente, como a abertura
ou construção de uma nova unidade, situação em princípio mais fácil na medida em
que o grau de organização da empresa original assegure uma experiência consolida-
da com o mercado.
Por se constituírem bens intangíveis, cujo consumo se faz de forma imediata,
os serviços tanto podem estar classificados na categoria de bens finais, quando são
utilizados pelo consumidor (uma consulta médica, odontológica, uma aula), como
na de intermediários, na medida em que contribuem para a obtenção de um produto
final (ex.: uma consultoria técnica, um serviço de mão de obra específico etc.) ou até
mesmo bens de capital quando representam os Knowledge-Intensity Business Services
(KIBS) e incorporam tecnologia e inovações.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Em qualquer dos casos, o estudo de mercado deverá ajustar-se às suas peculia-


ridades dada à natureza específica da procura de cada um destes.
Os serviços oferecidos e procurados no mercado obedecem, de modo geral, à
seguinte classificação do IBGE/CNAE:

a) serviços prestados às famílias – serviços de alojamento, de alimentação,


atividades culturais, recreativas e esportivas, serviços pessoais e atividades
de ensino continuado;
b) serviços de informação e comunicação – telecomunicações, tecnologia da
informação, serviços audiovisuais, edição e edição integrada à impressão,
agências de notícias e outros serviços de informação;
c) serviços profissionais, administrativos e complementares – serviços técni-
cos profissionais, aluguéis não imobiliários e gestão de ativos intangíveis
não financeiros, seleção, agenciamento e locação de mão de obra, agências
de viagens, operadores turísticos e outros serviços de turismo, serviços de
investigação, vigilância, segurança e transporte de valores, serviços para
edifícios e atividades paisagísticas, serviços de escritório e apoio adminis-
trativo e outros serviços prestados principalmente às empresas;
d) transportes, serviços auxiliares dos transportes e correio – transporte fer-
roviário e metroferroviário, transporte rodoviário de passageiros, trans-
porte rodoviário de cargas, transporte dutoviário, transporte aquaviário,
transporte aéreo, armazenamento e atividades auxiliares dos transportes,
correio e outras atividades de entrega;
e) atividades imobiliárias – compra e venda de imóveis próprios, interme-
diação na compra, na venda e no aluguel de imóveis;
f) serviços de manutenção e reparação – manutenção e reparação de veículos
automotores, manutenção e reparação de equipamentos de informática e
comunicação e manutenção e reparação de objetos pessoais e domésticos;
g) outras atividades de serviços – serviços auxiliares da agricultura, pecuária
e produção florestal, serviços auxiliares financeiros, dos seguros e da pre-
vidência complementar e esgoto, coleta, tratamento e disposição de resíduos
e recuperação de materiais.

A estes devem ser adicionados, por nosso critério, os seguintes:

h) serviços educacionais – serviços prestados por instituições de ensino de


diferentes níveis e graus;
i) serviços de saúde – serviços prestados por estabelecimentos de saúde pri-
vados tais como hospitais, clínicas, laboratórios, profissionais da área mé-
dica e correlatas;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

j) serviços financeiros – serviços prestados por instituições financeiras de


modo geral;
k) serviços públicos – que são prestados pelo estado, através dos órgãos da
administração centralizada e descentralizada dos governos federal, estadual
e municipal.

Outra classificação que simplifica os estudos do mercado refere-se àquela ado-


tada por Corrêa e Caon (2002, p.73) que consideram os seguintes tipos de serviços:

a) serviços de massa;
b) serviços profissionais;
c) serviços públicos.

Especificamente, têm-se: os serviços de massa quando uma grande quantidade


de consumidores é atendida simultaneamente, de forma padronizada objetivando
ganhos de escala. Inexistem adaptações para atendimentos individualizados (custo-
mização). Exemplo: o metrô e outras modalidades de transporte coletivo; os serviços
de utilidades como a energia elétrica, água e gás; os grandes espetáculos na indústria
cultural, tais como o futebol.
Os serviços profissionais normalmente são personalizados (customizados). Es-
tes serviços se adaptam às peculiaridades dos consumidores e, consequentemente,
não podem, de modo geral, ser prestados em grande escala. Exemplo: serviços mé-
dicos, odontológicos, salões de beleza, serviços de consultoria, serviços pessoais,
etc.11. Corrêa e Caon (2002, p.73) ainda consideram tipos híbridos de serviços que
denominam de serviços de massa customizados, (personalizados), serviços profissio-
nais de massa e lojas de serviços. Os dois primeiros tipos introduzem o volume de
atendimento, como é o caso dos sites de vendas Submarino, Amazon e de informa-
ções e vendas, como o Google, entre outros, que estabelecem um relacionamento
com cada cliente. No caso dos serviços profissionais de massa, são exemplos os
centros médicos que se especializam apenas em uma área. Já, segundo os autores
citados, as lojas de serviço concentram atividades que atendem um volume interme-
diário de clientes. Combinam relações de back office (retaguarda) e front office (linha
de frente) além da personalização (customização). Isto ocorre na maioria das opera-
ções de serviços e é exemplificado com as atividades exercidas em hospitais, hotéis,
restaurantes, laboratórios, lojas de varejo, supermercados, etc.

(11) Nesses serviços existe uma relação direta entre o tempo do atendimento e a qualidade.
Quando se tenta massificá-lo, sacrifica-se a qualidade. É o caso, por exemplo, do
Sistema Unificado de Saúde (SUS).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

4.5.3 Delimitação do mercado

Da mesma forma que no estudo dos bens industriais a amplitude e a complexi-


dade do estudo da procura de serviços serão função da área geográfica por este
compreendida. É evidente que um estudo do mercado internacional, para um deter-
minado serviço, será bem mais complexo do que aquele outro realizado para um
mercado nacional e este requererá um volume maior de informações do que é neces-
sário quando se estuda, apenas, uma região ou o mercado de um núcleo urbano. A
definição da área geográfica que será atendida pela produção do projeto é, pois,
básica e preliminar no estudo do mercado. Esta definição não é aleatória. Depende
de um conjunto de fatores, tais como: as características do serviço, a escala de produ-
ção mínima requerida, a disponibilidade de recursos e a estratégia empresarial. É
necessário observar que muitos deles não estão condicionados a restrições locacio-
nais. Assim, muitos serviços são deslocalizados12. Como exemplo, a Índia e, mais
recentemente, a China, concentram o maior número de call centers, que atendem ao
mundo inteiro, dado o fato de disporem de mão de obra qualificada a baixo custo. O
ensino a distância (EAD) é outro exemplo. Universidades de muitos países oferecem
seus cursos aos nacionais e estrangeiros em qualquer parte do mundo atingida pela
internet. Serviços das mais diferentes características também são hoje acessíveis na
web e em sites como o Google, o Yahoo, o MSN, etc.
Por outro lado, muitas atividades de serviços tradicionais, como os salões de
beleza, clínicas médicas, laboratórios de análise clínica e lan houses competem local-
mente, no âmbito das cidades ou, até mesmo, de áreas da cidade.
O que determina a amplitude geográfica da competição é o quanto os consumi-
dores estão dispostos a se deslocar ou precisam se deslocar (o que não acontece
quando o serviço ou produto pode ser adquirido a distância) para obter um benefício
equiparável em condições de custo e qualidade ao oferecido por sua empresa.
Definida a área geográfica do mercado deve-se proceder ao estudo da sua estru-
tura demográfica e econômica.
Em termos demográficos, o estudo se concentrará na população-alvo do proje-
to (não faz muito sentido em um empreendimento voltado para os serviços de uma
maternidade, por exemplo, estudar-se a população masculina), reportando-se aos
demais contingentes, se necessário, para o estabelecimento de correlações. O estudo
da população deverá mensurar o seu quantitativo atual, a sua taxa histórica de cres-
cimento e projetar o contingente futuro, segundo o horizonte temporal do planeja-
mento, analisando, criticamente, as eventuais alterações que possam ocorrer.

(12) São aqueles que independem da localização para serem prestados. Em outras palavras
podem ser prestados a partir de qualquer lugar.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Segundo a sua natureza os serviços são bastante condicionados pela renda.


Existem aqueles que são acessíveis apenas para a população de alta renda (como os
serviços de um personal trainer, um decorador, um estilista de moda etc.). Esta é
uma tendência dos serviços customizados. Assim, no plano econômico compete
examinar-se a renda real per capita, observando-se com bastante atenção os dados
relativos à população economicamente ativa e sua distribuição pelos diversos
níveis de renda (grau de concentração da renda) e a sua taxa histórica de crescimen-
to. Neste caso, o agregado econômico com que se deve trabalhar é a renda disponí-
vel.

4.5.4 Análise do comportamento da procura

Compreende o exame das condições em que se processa a procura dos diversos


serviços. Da mesma forma como ocorre com os bens industrializados esta análise
deve, compreender três estágios cronológicos, ou seja, o passado, o presente e o
futuro, extrapolando-se para o limite do horizonte temporal do planejamento (no
máximo até dez anos) a tendência histórica observada.
Na estimativa e na análise da procura muitos instrumentos das metodologias
quantitativa e qualitativa podem ser utilizados (ver APÊNDICE B).
Metodologicamente, o estudo da procura, no caso dos serviços, não difere
muito dos estudos de mercado dos bens industrializados. O que conta é o exame do
comportamento do consumidor. Existem serviços que são essenciais e cuja procura é
inelástica como é o caso daqueles relacionados à saúde, educação, transportes. Ou-
tros podem apresentar grande sensibilidade à variação nos preços e na renda do
consumidor, como ocorre com os produtos turísticos, de esportes e de lazer.
Em qualquer caso, o estudo do mercado de um determinado serviço deve ser
precedido por um exaustivo levantamento de toda a literatura sobre ele editada e
disponível. O pesquisador deve certificar-se de que conhece, suficientemente, o ser-
viço cuja procura irá pesquisar, para que possa formular as indagações corretas e
construir hipóteses de trabalho lógicas e coerentes. Outro passo compreende a etapa
do levantamento de dados e informações estatísticas, sua análise crítica, sua sistema-
tização e seu processamento. Em muitos casos, dada a dificuldade de obtenção desses
elementos, torna-se necessário suplementar-se o exame da procura com a pesquisa
de campo efetuada junto aos consumidores e aos experts no serviço, tais como pro-
dutores, distribuidores, vendedores etc.
A pesquisa de campo junto aos consumidores, realizada através de procedi-
mentos amostrais, pode fornecer com segurança uma tendência do consumo do
serviço em exame.

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4.5.5 Serviços públicos

Esses serviços se enquadram nas categorias anteriormente relacionadas, só que


são aparentemente gratuitos (visto que financiados pelos impostos e contribuições
recolhidos pelos contribuintes) como é o caso daqueles prestados pelos hospitais
públicos, do SUS, dos serviços de segurança pública, do ensino público, etc. Neste caso,
em tese, o que deve prevalecer na análise da demanda é a relação beneficio/custo.

São considerados neste estudo:

a) bens e serviços da natureza social;


b) bens e serviços de infraestrutura pública e de natureza econômica.

Os bens e serviços de natureza social são aqueles voltados para o atendimento


do interesse coletivo. Por serem bens públicos13, requerem a elaboração de projetos
especiais visto que a sua oferta não é condicionada necessariamente pelo critério
privado da rentabilidade econômica, mas, sim, pela relação benefício/custo. Nem
sempre este critério (ou qualquer outro, salvo o político-eleitoral-clientelista) é
observado quando da decisão de execução de obras ou serviços públicos, o que é
profundamente lamentável.
Este é o caso dos empreendimentos do setor público nas áreas de saúde (hospi-
tais, ambulatórios), educação (universidades, colégios e escolas), serviço social (cre-
ches e programas de desenvolvimento comunitário) e tantos outros como a segu-
rança pública, a urbanização e construção de equipamentos públicos, etc.
Os custos de investimento e manutenção desses projetos são rateados por toda
a sociedade, sendo pagos pelos recursos derivados do orçamento governamental
(impostos). Esta condição impõe à administração pública a obrigação de adotar um
procedimento racional que implique na otimização da utilização dos recursos arre-
cadados do contribuinte, devolvendo-os à sociedade sob a forma de obras e serviços
efetivamente por esta necessitados.
Assim sendo, nesses casos, o estudo do mercado assume um caráter de inven-

(13) Em economia, bem público é um bem não-rival e não-exclusivo. Possui uma característica
de indivisibilidade, o que faz com que todo indivíduo tenha acesso à mesma
disponibilidade do bem público. Não é necessariamente um bem provido pelo Estado,
mas a intervenção dos governos é necessária para assegurar o bem-estar da população.
O fornecimento de bens públicos pela iniciativa privada é de difícil implementação, uma
vez que, a análise do custo-benefício é complicada e a dificuldade em restringir a utilização
destes bens (o que os tornaria exclusivos) torna seu financiamento muito complexo. A
regulação do Estado na oferta de bens públicos é imprescindível, sendo que boa parte
deles, quando privatizados, trabalham com preços administrados.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

tário de necessidades, cujo atendimento deve ser priorizado e otimizado na escala


que possibilite maximizar-se a eficácia da utilização de recursos normalmente escas-
sos. Estes projetos devem contemplar, entre outros, os seguintes aspectos:

a) identificação e análise da necessidade social do equipamento ou serviço e


sua classificação em uma escala de prioridades;
b) qualificação e quantificação da procura presente e futura;
c) inventário crítico da oferta existente e de suas perspectivas de expansão;
d) definição da amplitude espacial, operacional e institucional compatível
com os critérios de racionalidade e de maximização de um coeficiente favo-
rável na relação custos-benefícios.

Os bens e serviços de infraestrutura pública, de natureza econômica, diferen-


temente daqueles projetos de cunho eminentemente social cujo custo é pago pela
sociedade como um todo, devem ser ressarcidos, segundo critérios econômicos de
rentabilidade, pois, somente assim, poderá o setor público sustentar a sua capacida-
de de realização de novos investimentos. Trata-se das obras relativas aos sistemas
de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, de limpeza pública, de abas-
tecimento de energia, de telecomunicações, transporte urbano e obras do sistema
viário – rodovias, hidrovias, ferrovias, portos, aeroportos, etc.
Recentemente, a maioria destes serviços está sendo transferida para a iniciati-
va privada ou executada através de parcerias público privadas.
Deve-se observar que, em alguns projetos, o pagamento dos gastos de investi-
mento e manutenção da obra podem ser mensurados diretamente, possibilitando o
estabelecimento de tarifas e de taxas. Em outros, o pagamento estará implícito no
incremento da receita pública decorrente da realização da obra. Assim, por exem-
plo, a geração adicional de impostos e taxas produzidos por um novo complexo
industrial poderá compensar os gastos governamentais despendidos na oferta, a
este complexo, de uma infraestrutura física determinada.
Nesses casos, o estudo de mercado instrumentaliza a análise da viabilidade
econômica do empreendimento. Ou seja, deve ser elaborado de forma a fundamen-
tar a determinação da capacidade de pagamento do investimento realizado, contem-
plando, entre outras, as seguintes providências:

a) identificação da procura;
b) qualificação e quantificação da procura e oferta atual e futura;
c) identificação dos rendimentos indiretos decorrentes do investimento.

Em muitos casos, a elaboração de roteiros para a execução de estudos de mer-


cado para projetos desta natureza deve absorver alguns elementos da metodologia

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utilizada para o exame do mercado de bens de consumo duráveis (definição da área


do mercado, análise da estrutura demográfica e da renda da população, tipologia do
consumidor etc.) e dos bens intermediários (procura derivada).

4.6 A elasticidade como um instrumento para análise


do mercado dos bens e dos serviços
A elasticidade é um coeficiente que indica o grau de sensibilidade da procura
ou da oferta de um bem em decorrência da variação dos seus preços e ou da renda
dos consumidores.
No estudo do mercado, trabalha-se, normalmente, com os conceitos de elasti-
cidade-preço, elasticidade-renda da procura e elasticidade cruzada. Em alguns casos
utiliza-se também o cálculo da elasticidade da oferta.
A elasticidade-preço da demanda (procura) mede a reação dos consumidores
diante da mudança nos preços de um determinado bem ou serviço. O seu conheci-
mento, em um estudo de mercado, permite formar-se uma ideia aproximada do que
ocorrerá com a demanda total e, consequentemente, com o valor das vendas dos
bens e dos serviços quando ocorrerem alterações em seus respectivos preços.

Coeficiente de elasticidade-preço da procura

Ou:

variação percentual na quantidade procurada) ÷ (variação percentual


nos preços)

Figura 11 – Elasticidade preço da demanda (procura)

Fonte: Pearson Education, 2004.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

A elasticidade-preço da procura é um indicador de sensibilidade que informa


ao analista do mercado as três tendências distintas que podem ser assumidas pela
procura de um dado produto ou serviço em função da variação dos seus preços. São
estas:

a) ep > 1 = procura elástica


b) ep < 1 = procura inelástica
c) ep = 1 = procura unitária

Na tendência a), uma variação nos preços para mais ou para menos reduzirá ou
aumentará a procura do produto ou serviço em uma proporção maior, conforme seja
a magnitude do coeficiente.
Na tendência b), a procura variará em uma proporção inferior à observada
para os preços. Na medida em que o coeficiente aproxima-se de zero (limite teórico),
ter-se-á uma curva de procura correspondente a uma reta vertical paralela ao eixo
das ordenadas. Seria o caso da inelasticidade absoluta (provavelmente o caso de um
produto como o sal).
A tendência c), indica uma procura variando de forma inversamente proporci-
onal à alteração dos preços
O cálculo da elasticidade-preço da procura pode ser efetuado na medida em
que se disponha de uma série de preços de venda do produto ou serviço ao consumi-
dor final e das respectivas quantidades vendidas, relativamente a um período consi-
derável. A série de preços deve ser considerada a preços constantes, eliminando-se
os efeitos inflacionários no período.
A elasticidade-preço da procura é um indicador microeconômico bastante
abrangente, porque engloba no seu contexto, os resultados implícitos no comporta-
mento do consumidor, decorrentes dos efeitos renda e substituição.
A elasticidade-preço da demanda para um bem em particular é influenciada
pela disponibilidade ou não de bens substitutos, pois, dado um aumento de preços,
o consumidor tem mais opções para “fugir” do consumo desse produto ou serviço,
provocando uma queda em sua demanda mais que proporcional à variação do pre-
ço. Assim, quanto mais bens ou serviços substitutos estiverem disponíveis mais
elástica é a demanda e, se não há bens ou serviços substitutos, a demanda é inelástica.
O tempo, o espaço a renda e o grau de essencialidade também influenciam os
resultados da elasticidade. Do ponto de vista temporal, quanto mais tempo os consu-
midores tiverem para procurar substitutos, maior será a intensidade de sua reação.
Em termos espaciais, a elasticidade de um mercado é diferente da elasticidade de
uma única firma. A elasticidade do mercado diz quanto a quantidade global mudará
se o preço geral mudar, mas, se uma única empresa muda seu preço, a elasticidade é
outra. Quanto à renda, a importância relativa ou peso do bem no orçamento, é dada

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

pela proporção de quanto o consumidor gasta no bem, em relação a sua despesa


total. Se um bem ou serviço representa pouco no orçamento total do consumidor, a
reação será menor a variações de preço. Por exemplo, considere-se um aumento de
10% no preço do lápis, que aumentou de R$ 1,00 para R$ 1,10. Poucas pessoas deixa-
ram de comprar lápis por isso. Entretanto, se o bem ou serviço tem uma participação
razoável no orçamento, então as reações serão maiores. Por exemplo, o preço de um
pacote turístico subiu 10%, aumentando de R$ 15.000,00 para R$ 16.500,00. Certa-
mente, um número maior de pessoas irá reagir a essa mudança, e a demanda será
mais elástica. Quanto à essencialidade, na comparação entre bens e serviços necessá-
rios x bens supérfluos, os primeiros, por serem essenciais (como pão, arroz, feijão,
um corte de cabelo, uma consulta médica, etc.) a demanda é mais inelástica. Para
bens de luxo, a demanda é mais elástica.
A relação entre a elasticidade-preço da demanda e a receita total do vendedor
(ou dispêndio total do consumidor) está em que a elasticidade da demanda determi-
na se um aumento no preço aumentará ou diminuirá a receita da empresa. A boa
notícia sobre um aumento no preço é que um preço mais alto aumentará a receita
obtida com cada unidade do que é vendida. A má notícia é que, a um preço mais alto,
menos unidades serão vendidas. A elasticidade-preço da demanda nos diz se as boas
notícias dominarão ou não as más notícias.
Em síntese: quando a demanda é inelástica é vantajoso aumentar o preço ou
diminuir a produção, pois a redução da quantidade é compensada pelo aumento do
preço, não ocorrendo a queda da receita total. Quando a demanda é elástica, o ven-
dedor é refém dos preços do mercado.

Figura 12 – Características e efeitos da elasticidade da demanda

Fonte: Pearsons Education, 2004.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 13 – Elasticidade da procura de alguns bens

Fonte: UTP — 2013 – publicações diversas.

A elasticidade-renda-consumo indica o que ocorre com a procura de um deter-


minado bem ou serviço em função da variação da renda do consumidor. No estudo
do mercado de bens de consumo final, deve-se trabalhar com a renda disponível.

Coeficiente de elasticidade-renda-consumo

Ou:

variação percentual na quantidade procurada ÷ variação percentual na


renda

A exemplo da elasticidade-preço da procura, o coeficiente da elasticidade-ren-


da-consumo pode assumir os limites mostrados na Figura 13.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Nesses casos, está-se trabalhando com a renda dos consumidores. Os bens de


consumo durável tendem a ser de procura elástica e são considerados, no jargão
econômico, como bens normais14. O mesmo ocorre com os serviços mais sofistica-
dos ou relacionados às atividades culturais, do turismo, recreativas, esportivas de
estética corporal, etc. Ao contrário destes, os bens de consumo imediato (ditos infe-
riores) tendem a ser, por este parâmetro, de procura inelástica. Este também é o caso
dos serviços de transporte coletivo (bens de Giffen).

Figura 14 – Classificação dos bens de acordo com a elasticidade-renda

Fonte: Pearson Education, 2004.

O cálculo da elasticidade-renda-consumo para bens de consumo final é dificul-


tado pela indisponibilidade de dados estatísticos. Pode ser realizado na medida em
que se dispuser das séries históricas da renda e do consumo por habitante. Contudo
esta alternativa peca por presumir constantes os preços e subestimar seu impacto na
procura do bem. Uma forma de evitar-se este método – que fatalmente apresentará
resultados distorcidos – consiste na elaboração e execução de pesquisa direta, com a
utilização de técnicas amostrais para determinar-se o orçamento dos consumidores.
Neste caso, determina-se o tamanho da amostra representativa do universo compre-
endido pelo mercado. Nesta amostra, as famílias devem ser agrupadas segundo
diferentes classes de renda. Ao efetuar-se a pesquisa por classe de renda, serão deter-
minadas as quantidades consumidas por pessoa e a sua respectiva renda per capita,
chegando-se a um resultado isento das flutuações de preço. Aplica-se, em seguida, a
fórmula de cálculo que possibilita a determinação do coeficiente – instantâneo de
elasticidade-renda-consumo.

(14) Também denominados superiores.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

em que:

= coeficiente instantâneo de elasticidade renda-consumo

= derivada primeira da equação de regressão

= consumo anual per capita ou por domicílio

= pontos médios de intervalos da renda, tomados em $ (unidade monetária


em vigor no país, na época).

A elasticidade cruzada da demanda é uma medida de sensibilidade de resposta


da quantidade demandada de um bem X em resposta a mudanças nos preços de um
bem Y, permitindo determinar se eles são substitutos ou complementares.

Figura 15 – Classificação dos bens de acordo com a elasticidade cruzada

Fone: Pearson Education, 2004.

Observe-se que se Exy = 0 (próximo de zero), os dois produtos ou serviços são


não-relacionados, os bens são independentes.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

A elasticidade preço da oferta é uma medida da sensibilidade de resposta da


quantidade ofertada em relação a uma mudança no preço.

Sendo:

Eo > 1 => bem de oferta elástica


Eo < 1 => bem de oferta inelástica
Eo = 1 => bem de oferta unitária

A oferta se torna mais elástica com o passar do tempo. Preços de mercado


maiores fornecem incentivos para uma empresa expandir sua produção. Quando o
tempo passa, a habilidade das empresas em expandir a capacidade produtiva é maior
e a oferta se torna mais elástica. O aumento na quantidade ofertada em resposta a um
aumento no preço é maior quando a oferta é mais elástica.
Segundo a corrente estruturalista da inflação a oferta de produtos agrícolas no
Brasil seria inelástica a estímulos de preços, em virtude da baixa produtividade da
agricultura, provocada pela estrutura agrária e pela péssima infraestrutura de trans-
portes. Assim, não responderia ao aumento na demanda de alimentos, elevando os
custos de produção e consequentemente repassando-os aos preços dos produtos.

4.7 Análise de preços

O estudo de mercado deve contemplar um cuidadoso exame do comportamen-


to e, se possível, dos mecanismos de formação dos preços dos produtos e/ou dos
serviços estudados15, qualquer que seja a sua natureza (de consumo final, intermedi-
ário ou de capital). Este exame deve se estender àqueles bens considerados como
substitutos ou complementares.
Esta análise, além de servir para instrumentar procedimentos específicos dos
cálculos de coeficientes de elasticidade (aqui anteriormente já referidos), possibilita
avaliar o regime do mercado, o grau de competitividade, a vulnerabilidade do produ-
to e, finalmente, instrumentar a determinação dos preços que balizarão o projeto.
Segundo o Ilpes (1975, p. 83), a fixação dos preços de um projeto pode ser
estabelecida a partir de uma das seguintes modalidades:

(15) É importante destacar que aqui se está considerando o preço do produto FOB. fábrica.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

a) preço existente no mercado interno;


b) preço dado por similares importados;
c) preço fixado pelo setor público;
d) preço do mercado internacional (especialmente para produtos de exporta-
ção);
e) preços discriminados (por regiões ou países);
f) preço estimado em função do custo de produção.

O estabelecimento dos preços referidos nas alíneas a, b, c, d, e, é externo à


empresa. Os dois primeiros (a e b) são determinados pelo mercado em função do
regime da concorrência. Se a empresa ingressa em um mercado de concorrência
monopolística (imperfeita), ela pouco poderá influenciar na sua fixação. No caso,
depois de fechados os custos, cabe determinar se ela será rentável e competitiva.
Os preços fixados pelo setor público (c) são tarifas. Quando os preços são fixados
pelo governo, é de essencial importância que se disponha dos critérios adotados
pelo setor que os determina, de forma a possibilitar uma análise efetiva do grau
de viabilidade do projeto diante desse condicionante. A determinação de preços
pelo setor público é, muitas vezes, ditada por fatores políticos os quais não
possuem qualquer compromisso com as regras normais de rentabilidade que
devem presidir a sua fixação pela iniciativa privada. Os preços da alínea d, são de
exportação, estão sujeitos a regimes concorrenciais imunes à influência da em-
presa. Cabe saber, no caso, se eles remuneram convenientemente o investimen-
to. Neste caso, pode-se estar tomando como referência preços que contemplam
situações as mais diversas, tais como: os decorrentes de uma oferta cartelizada
ou a de um setor que opere com altos níveis de produtividade. Os preços dados
por similares importados devem ser considerados como tetos referenciais para
efeito de estabelecimento do grau de concorrência do produto. Os praticados no
mercado internacional são determinantes para os projetos voltados para a ex-
portação no que tange ao limite máximo a ser cobrado que estabelecem. Neste
caso, é essencial o exame acurado do seu comportamento em uma série temporal
relativamente longa, visto que, em alguns gêneros de atividade, é frequente
ocorrerem variações bruscas produzidas tanto pela oferta quanto pela procura
deste mercado.
Preços da alínea e são discriminados. Ou seja, são estabelecidos de forma dife-
renciada por regiões ou países, de acordo com o nível de elasticidade da procura dos
grupos consumidores e a capacidade do monopólio ou oligopólio do produtor.
Trabalhar com preços discriminados no projeto (mercado interno x mercado exter-
no) depende do grau de competitividade e de controle da produção pelo grupo
empreendedor. Outrossim, ao assumir-se preços de mercado como referenciais para
preços do projeto, é importante distinguir se não se está defrontando com preços

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

discriminados no mercado ou se neste mercado os concorrentes não possuiriam


condições de discriminá-los. Isso porque, um dado grupo concorrente poderia redu-
zir seus preços, vis-à-vis os preços do projeto, compensando-se em outras áreas e
inviabilizando o concorrente. Esta é uma prática monopolista (dumping), condena-
da, porém nem sempre possível de ser evitada dadas as brechas da legislação antitruste
na economia brasileira.
Os preços estimados em função dos custos de produção do projeto, menciona-
dos na alínea f, aos quais se acrescenta a margem de lucro compatível com o nível
de remuneração pretendida para o investimento constituem a melhor modalidade
a ser contemplada pelo projetista. A rigor, esta deve ser uma modalidade obriga-
tória, após a qual poderão ser estabelecidas comparações com as demais modali-
dades antes referidas.
Assim, se os preços do projeto, calculados em função do seu custo mais mar-
gem de remuneração, forem, por exemplo, inferiores aos do mercado interno ou
àqueles objetivados pelo setor público, melhor para a empresa proponente. Se fo-
rem superiores, é o caso de se repensar o projeto no que tange à sua viabilidade.

4.8 Métodos usuais de estimativa da procura de bens


e serviços

A projeção da demanda e da oferta de bens e serviços, a longo prazo, consiste


sempre em um exercício de futurologia que pode ser realizado com o apoio de
métodos quantitativos e/ou qualitativos, ou seja, mediante o recurso a instrumen-
tais matemáticos, através da estatística e da econometria, no primeiro caso, e/ou
pela utilização de procedimentos específicos das ciências sociais, por intermédio da
associação à economia e à mercadologia, da antropologia, sociologia, psicologia e
ciência política, no segundo caso.
A associação desses dois métodos é sempre recomendável na projeção das
tendências futuras do mercado, por mais que se disponha de dados estatísticos. A
análise qualitativa funciona como uma crítica ao método quantitativo de forma a
conferir a solidez de suas conclusões.
Outrossim, é importante notar que toda previsão depende, de um lado, do
grau de solidez das premissas que fundamentam as hipóteses assumidas e, do outro,
da qualidade do instrumental de análise adotado.
É oportuno registrar que, atualmente, se tornou extremamente fácil a projeção
matemática de séries, mediante o uso de programas em computadores de pequeno e
médio portes. Preferiu-se, contudo, mesmo correndo o risco da consideração de
anacronismo, desenvolver a exposição de alguns métodos pelo processo convencio-
nal, por considerar-se a sua permanente utilidade, tanto no desenvolvimento de

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TEORIA DO PROJETAMENTO

uma consciência profissional crítica (fazer, sabendo o porquê) como objetivando


assegurar um backup instrumental intelectual, sempre útil na falha ou na falta do
equipamento, o que, de resto, tem sido ainda muito frequente.

4.8.1 Métodos quantitativos de projeção

De acordo com o fenômeno analisado e o grau de precisão que se pretende


alcançar na projeção, podem ser utilizados os seguintes processos:

a. ajustamento pelo processo gráfico;


b. ajustamento pelo processo dos pontos escolhidos;
c. ajustamento pelo processo das médias;
d. ajustamento pelo processo dos mínimos quadrados;
e. ajustamento à função exponencial;
f. análise de correlação.

4.8.1.1 Ajustamento

É o processo que consiste na identificação da curva que melhor se ajuste aos


dados e à determinação dos valores que devem assumir os seus parâmetros, de
forma que os valores teóricos possam ser considerados como os valores observados
desde que não estejam sujeitos a variações acidentais. O ajustamento será tanto
melhor quanto maior for o grau de aderência entre os valores observados e aqueles
teoricamente obtidos.
O problema inicial do ajustamento consiste na seleção da função ajustada,
devendo existir entre os valores observados e os valores teóricos certa semelhança
de forma. Seria um absurdo ajustar-se uma parábola do segundo grau a uma série
cujo desenvolvimento se processasse como uma reta e vice-versa. Neste sentido,
aconselha-se que, sempre que se pretender proceder à seleção de uma equação ajus-
tada, deve-se, preliminarmente, construir um gráfico representativo do fenômeno
observado.
A despeito da facilidade que oferece a representação gráfica, estatisticamente,
o método mais seguro de determinar-se a função ajustada consiste na análise das
diferenças entre os dados observados. Assim:

1. se as primeiras diferenças são constantes, ajustar-se-á uma linha reta, sendo:

Y = a bX

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

2. se as segundas diferenças são constantes, ajustar-se-á uma parábola do 2º


grau, sendo:

Y = a + bX + cX2

3. se as terceiras diferenças são constantes, ajustar-se-á uma parábola do 3º


grau, sendo:

Y = a + bX + cX2 + dX3

4. se as n-ésimas diferenças são constantes, ajustar-se-á um polinômio do


grau n, sendo:

Y = a + bX cX2 = .... + KXn

5. se as razões entre as primeiras diferenças são constantes, ou se a represen-


tação do fenômeno em escala semi-logarítmica se apresenta como uma
linha reta ajustar-se-á a exponencial simples Y = abx;

6. se as primeiras diferenças se distribuírem segundo uma curva normal, ajus-


tar-se-á uma logística do tipo:

7. se o produto apresentar as primeiras diferenças constantes, ajustar-se-á


uma hipérbole:

É evidente que estas constâncias não se apresentarão de forma rígida nos


dados estatísticos. O que, efetivamente, se poderá obter, na prática, é uma tendên-
cia à constância que se aproximará de uma das alternativas metodológicas aqui
mencionadas.

Exemplo:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 3 - Cálculo das Primeiras Diferenças

Neste caso, comportaria plenamente ajustar-se uma equação do primeiro grau


do tipo Y = a + bX.

Tabela 4 - Cálculo das Primeiras e Segundas Diferenças

Neste caso, comportaria plenamente ajustar-se uma parábola do segundo grau,


sendo Y = a + bX + cX2.

4.8.1.2 Ajustamento pelo processo gráfico

É o mais simples de todos os processos e, consequentemente, o mais impreciso.


A sua utilização somente se justifica quando se deseja uma informação aproximada
acerca da grandeza dos parâmetros da função ajustante e da dinâmica do fenômeno
em causa. Este processo comporta um grau elevado de subjetivismo dado o fato de
que observadores diferentes podem chegar a resultados diversos, de acordo com a
sua forma pessoal de observação.

Por exemplo, considerando-se a seguinte série:

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 5 - Produção do bem Alfa. 1994/1999, Brasil (em 1.000t)

Fonte: Spinola (2000).

em que Y corresponde aos quantitativos da série dada e x à ordem cronológica dos


períodos, e traçando-se um gráfico representativo dos dados observados, obtém-se
a figura seguinte:

Figura 16 - Produção do bem Alfa. 1994/1999, Brasil (em 1.000 t)

Distribuindo-se os espaços, pode-se imaginar uma reta como função ajustante,


neste caso Y = a + bx.
O parâmetro a é dado pela intercessão da reta com o eixo das ordenadas. O
parâmetro b (coeficiente angular) pode ser obtido pela diferença Yn – Yn–1, que
correspondem a dois pontos sucessivos da reta em apreço, obtidos mediante leitura
no eixo das abcissas.

145

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Assim, no caso, ter-se-á,


a = 84
b = Yn – Yn – 1 ∴ b = 101,5 – 95,5 ∴ b = 6

sendo a equação ajustante: Yt = 84 + 6X

O exemplo dado foi apenas uma ilustração, não querendo significar que o
ajustamento através de uma reta seja o mais adequado. Poder-se-á, também, tentar
ajustar uma curva, utilizando-se uma parábola do segundo grau.

4.8.1.3 Ajustamento pelo processo dos pontos escolhidos

Sabe-se, da geometria que por n pontos do plano pode-se fazer passar uma
função do grau n – 1. Este princípio é o que fundamenta o ajustamento pelo processo
dos pontos escolhidos, sem, contudo, retirar-lhe a subjetividade, uma vez que a
escolha dos pontos – fundamental para o sucesso do ajustamento – fica à mercê do
critério do projetista. Assim, diferentes pessoas, ajustando uma função de uma mes-
ma série por este processo, poderão chegar a resultados diferentes, bastando para
isso que divirjam na escolha dos pontos.

Para o processo de ajustamento é fundamental que:

a) proceda-se ao traçado da curva representativa do fenômeno efetivamente


observado (Yr);
b) proceda-se à escolha equidistante dos pontos de forma que a reta ou curva
ajustante (Yt), conforme a função esteja representando da melhor forma as
tendências assinaladas em (Yr).
Exemplo:

Tabela 6 – Demanda do bem Alfa 1992/1999. Brasil (em 1.000t)

Fonte: Spinola (2000).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

A expressão gráfica destes dados é dada pela figura seguinte, onde Y r


corresponde aos dados observados e Yt à reta ajustada.

Figura 17 – Demanda do bem Alfa 1992/1999. Brasil (em 1.000t)

Escolhendo os pontos:
P1 (X = 1; Y = 33)
P2 (X = 6; Y = 56)

e por eles fazendo passar a reta Y = a + bX, resta determinar os parâmetros


a e b. Neste caso, tem-se que:

33 = a + b
56 = a + 6b

Resolvendo-se este sistema, encontrar-se-á a = 28,4 e b = 4,6, em que

Yt = 28,4 + 4,6X

Considere-se o exemplo seguinte:

147

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 7 – Demanda do bem Beta 1994/1999. Brasil (em 1.000t)

Fonte: Spinola (2000).

Os dados observados (Yr) são expressos pela figura seguinte:

Figura 18 – Demanda do bem Beta 1994/1999. Brasil (em 1.000t)

No caso, o ajustamento suposto mais adequado será o de uma parábola do


segundo grau. Ou seja, Y = a +bX + cX2 , havendo, portanto, que se escolher três
pontos.
Admitindo-se que a parábola passe pelos pontos:
P1 (0; 83)
P2 (2; 66)
P3 (4; 78)

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poderá ser formado o sistema:


83 = a
66 = a + 2b + 4c
78 = a + 4b + 16c

que, resolvido, dará


a = 83,000
b = –15,750
c = 3,625

A equação ajustante será:

Yt = 83,000 – 15,750X + 3,625 X2

Nota: apesar de ser óbvio, é sempre bom lembrar que para a projeção dos
dados futuros (2000, 2001, 2002 etc.) basta fazer, na equação ajustante, X = 6, X = 7,
X = 8, X = n etc.

4.8.1.4 Ajustamento pelo processo das médias

Este processo conduz a resultados mais aceitáveis do que o anterior por envol-
ver, na determinação dos parâmetros da função ajustante todos os valores da série
observada. Considere-se a tabela seguinte:

Tabela 8 – Produção do bem Gama 1994/1999. Bahia (em 1000 t)

Fonte: Spinola (2000).

A seguir, construa-se nesta tabela uma quarta coluna, substituindo-se na equa-


ção da reta X e Y os correspondentes valores. Ter-se-á:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 9 – Tratamento estatístico da Tabela 8

Como foi visto, na equação da reta existem dois parâmetros desconhecidos.


Formando grupos de equações e somando-se membro a membro, chegar-se-á ao
seguinte sistema:
7. 557 = 3a + 3b...................(I)
12.725 = 3a + 12b...................(II)
Resolvendo-o, serão encontrados:
a = 1.944,8 e b = 574,2

a equação da reta ajustante será:

Yt = 1.944,8 + 574,2X

Substituindo-se X pelos valores integrantes da segunda coluna da tabela que


está sendo trabalhada, encontrar-se-ão os valores teóricos (Yt) que passam a constar
da quinta coluna da tabela de referência, agora completa.

Tabela 10 - Tratamento estatístico da Tabela 9

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Para a estimativa das produções futuras, toma-se a equação ajustante:

Yt = 1.944,8 + 574,2X

fazendo-se para:

2000, X = 6 → Yt = 5.389
2001, X = 7 → Yt = 5.964
2002, X = 8 → Yt = 6.538

e, assim, sucessivamente.

No caso em que se deva trabalhar com uma função do tipo:

Y = a + bX + cX2,

em que existem três parâmetros, dever-se-á dispor de três equações na série conside-
rada. Assim, na tabela seguinte, ter-se-á:

Tabela 11 – Produção do bem Delta 1991/1999 – Sergipe (em 1.000 t)

Agrupando e somando, teremos o sistema:

24,5 = 3a + 3b + 5c.................(I)
22,2 = 3a + 12b + 50c...............(II)
30,2 = 3a + 21b + 149c.............(III)

151

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TEORIA DO PROJETAMENTO

A resolução deste sistema nos dará:

a = 9,0580
b = –1,2093
c = 0,1907

sendo a equação ajustante:

Yt = 9,0580 – 1,2093X + 0,1907X2

Na tabela anterior, d (que corresponde à diferença Yr - Yt entre cada valor


observado e o correspondente valor teórico) é o desvio. No método das médias, é
nula a soma algébrica dos desvios.
Neste processo é importante que se determinem as variâncias residual, residual
relativa e o coeficiente de variação residual.

Variância residual:

Variância residual relativa

Coeficiente de variação residual

No exemplo:

a) variância residual

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

b) variância residual relativa

c) coeficiente de variação residual

Com base no coeficiente de variação residual é possível determinar-se a mar-


gem de exatidão de Yt obtido em função da equação ajustante. Quanto menor for o
coeficiente de variação residual, maior será o grau de ajustamento de Yt.

4.8.1.5 Ajustamento pelo processo dos mínimos quadrados

Entre todos os processos até aqui examinados, este é o mais rigoroso e, nor-
malmente, o mais utilizado, dado ao fato de poder ser aplicado com sucesso no
ajustamento dos mais variados tipos de curvas.
O processo dos mínimos quadrados fundamenta-se no princípio de que o me-
lhor ajustamento será devido à curva cuja soma dos quadrados dos desvios entre os
valores observados e os valores teóricos seja mínima.

Trata-se, portanto, de minimizar a expressão:

No caso do ajustamento de uma função linear:


Sejam Y1, Y2,....Yn n = valores observados de uma série, para a qual se presume
ser a reta Yt = a + bx a melhor função ajustante. Fazendo corresponder a cada ponto
da série um valor teórico oriundo da função ajustante e como não há, necessaria-
mente, identidade de valor entre eles, surgem os desvios:

.......................... (1)

isto é, a diferença entre cada valor real e o correspondente valor teórico. Haverá,
pois, n desvios desse tipo na série. Elevando-se ao quadrado e somando-se membro
a membro as n igualdades obtidas, tem-se:

153

miolo.pmd 153 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

....................... (2)

O ajustamento pelo processo dos mínimos quadrados impõe como condição


que:

= mínimo

substituindo, em (2), Yt por a + bx e fazendo Σd = U, tem-se:


2

Tomando-se as derivadas parciais em relação a a e b e igualando a

e dividindo-se por 2 e operando os somatórios, tem-se, feitas as transposições:

....................... (3)

O sistema de equações dado em (3) constitui as equações normais da reta pelo


processo dos mínimos quadrados. A sua resolução fornece os valores de a e b que
possibilitam a definição da linha reta específica à equação ajustante.
Os cálculos poderão ser simplificados se centrar-se a variável X na série. Neste
caso Σ x = 0, o que torna as equações:

................... (4)

Exemplo:
Projetar o consumo brasileiro do bem Y, a partir dos dados fornecidos pela
série seguinte:

154

miolo.pmd 154 16/9/2013, 12:30


Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 12 – Consumo aparente do bem Y 1995/1999. Brasil (em 106 t)

Fonte: Spinola 2000.

Tomando a origem no início do período, isto é, fazendo em 1995 X = 0, tem-se:

Tabela 13 – Tratamento estatístico da Tabela 12

Estruturando-se o sistema, ver ( 3):

18,5 = 5a + 10b
39,8 = 10a + 30b

Resolvendo o sistema, tem-se:

a = 3,14
b = 0,28

sendo a equação da reta ajustante:

Yt = 3,14 – 0,28X

Tomando-se, para a mesma série, a origem no centro do período, isto é, fazen-


do-se em 1997 X = 0, tem-se:

155

miolo.pmd 155 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 14 – Tratamento estatístico da Tabela 13

Construindo o sistema, ver (4):

18,5 = 5a
2,8 = 10b

Encontram-se os valores de a = 3,7 e b = 0,28 . A equação ajustante será:

Yt = 3,7 + 0,28 X

Admitindo-se uma série de números ímpares de anos e, por exemplo, incluin-


do-se o ano de 1994 à série aqui considerada, ter-se-á:

Tabela 15 – Ampliação e tratamento estatístico da Tabela 14

Montando-se o sistema, como em (4):

21,2 = 6a....................a = 3,5333


10,6 = 70b....................b = 0,1514

Yt = 3,5333 + 0,151 X

156

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Ajustamento à parábola do 2º grau

Y = a + bx + cx2

Para a determinação dos parâmetros a, b e c adota-se o sistema de equações


normais seguintes, cujo processo de obtenção é análogo ao estabelecido para a linha
reta.

Tomando a origem fora do centro do período, as equações normais são:

............................. (5)

Efetuando-se a simetrização de X, tem-se ΣX = 0, o que simplifica as equações


normais, pois ΣX = ΣX = 0. Então:
3

.......................................... (6)

Exemplo:

Considerando a série relativa à produção do bem Z (na coluna Y da tabela


seguinte):

Tabela 16 –Oferta do PRODUTO Z: dados brutos e tratamento estatístico


1993/1999. Brasil (em 1.000 t)

Fonte: Spinola, 2000.

157

miolo.pmd 157 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

Substituindo os correspondentes valores no grupo de equações dado em (6),


tem-se:
4.369 = 7a + 28c
1.059 = 28b
14.097 = 28a + 196c

Resolvendo:
a = 785,0477
b = 37,8214
c = –40,2262

A equação ajustante será:

Yt = 785,0477 + 37,8214X – 40,2262X2

Observação:
Yt na tabela anterior é obtido pela substituição de X na equação ajustante
pelos seus correspondentes valores na mesma tabela (X = –3, –2, 1, etc.). Os desvios
d = Yr – Yt.

Outro exemplo:
Considerando a série relativa à produção do bem W (na coluna Y do quadro
seguinte):

Tabela 17 – Oferta do PRODUTO W: dados brutos e tratamento estatístico


1994/1999. Brasil (em 1.000 t)

Fonte: Spinola, 2000.

158

miolo.pmd 158 16/9/2013, 12:30


Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Substituindo nas equações normais:

453 = 6a + 70c
19 = 70b
5.581 = 70a + 1.414c

Resolvendo, encontram-se os valores de:

a = 69,719
b = 0,271
c = 0,496

e a equação ajustante:

Yt 69,719 + 0,271X + 0,496X2

Cálculo da variância residual relativa

Aplicando-se os conceitos anteriormente expostos, deve-se calcular a variância


residual relativa das duas séries anteriores para determinar o nível de ajustamento
da parábola do 2º grau.

Série 1, PRODUTO Z:
V = V2
V = 0,0175966
V = 0,1327 / 13,27%

Série 2, PRODUTO W:

V = 0,001346
V = 0,0367 / 3,67%

Pelo visto, o grau de ajustamento da série 2 (produto W) é melhor do que o da


série 1 (produto Y).

Erro padrão da estimativa

Assim como se pode medir o grau de precisão do ajustamento de uma determi-


nada função, também é possível a determinação matemática da probabilidade dos
desvios na projeção de séries numéricas no tempo.

159

miolo.pmd 159 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

Como se pode observar nas quadros precedentes, sempre se encontra a seguin-


te condição:

ou

O erro padrão da estimativa é dado pela expressão:

Deve-se notar que o erro padrão das estimativas tem o mesmo significado do
desvio padrão em torno da média aritmética e, em se tratando de ajustamentos em
que a dispersão em torno da função ajustante é normal, será observado que, quando
se fizer:

III. Ytn ± Sy, estar-se-á trabalhando em um limite máximo e mínimo de 68,27%


de confiabilidade da previsão.
III. Ytn ± 2Sy, o limite se expande para 95,45% de confiança.
III. Ytn ± 3Sy, o limite se expande para 99,73% de confiabilidade.

Desta forma, podem-se estabelecer os limites máximo e mínimo dentro dos


quais se pode esperar que se verifique a estimativa procedida.
Exemplo:
Considerando os dados da tabela seguinte:

Tabela 18 – Produção do bem Delta: dados reais e ajustados (Em 1.000 t)

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miolo.pmd 160 16/9/2013, 12:30


Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

a equação ajustante encontrada é:

Yt = 496,43 + 88,82X

e o erro padrão da estimativa é:

Sy = 25,4

Desejando-se estimar com a probabilidade de 68,27% os limites máximo e


mínimo da produção do bem (Yr ) constante na tabela anterior para o ano de 2001,
tem-se:

a) fazendo X = 5
b) substituindo na equação ajustante:
Yt = 496,43 + 88,82X
Yt = 496,43 + 88,82 x 5
Yt = 940,53

c) aplicando-se Sy
Yt = 940,53 + 25,4 = 965,93
Yt = 940,53 – 25,4 = 915,13

Assim sendo, pode-se esperar que:

1) 940,53 será o valor mais provável;


2) 965,93 será o valor máximo;
3) 915,13 será o valor mínimo.

A probabilidade de a produção ocorrer dentro deste intervalo é de 68,27%.

4.8.1.6 Análise de correlação

As estimativas da demanda ou da oferta futura de bens e serviços pode ser


efetuada mediante o exame das relações de causa e efeito que podem existir entre
duas ou mais variáveis no tempo. Por exemplo: a taxa de crescimento da renda

161

miolo.pmd 161 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

disponível e a elasticidade renda consumo da demanda de um determinado bem x de


consumo final.
Conforme o número de funções envolvidas, a correlação pode ser simples ou
linear (duas funções) e múltipla (no caso de três ou mais funções envolvidas).

Correlação linear simples

Examina como a variação conjugada de dois fatores se aproxima do sentido da


linha reta.
Sendo Y = a + bx, em que Y é a variável dependente e X a variável independente,
subentende-se que cada unidade de incremento absoluto atribuído à variável deter-
mina um incremento absoluto para a variável de valor igual ao do parâmetro b16 da
equação, equivalendo este parâmetro à razão ou quociente entre os acréscimos ab-
solutos das duas variáveis.
A correspondência entre os incrementos absolutos constantes de Y e os incre-
mentos unitários de X, é uma característica de toda a variação linear. Veja-se a
equação Y = 3 + 2x considerando-se os valores de 0 a 6 para X.

Tabela 19 – Caso em que b é positivo

Se o parâmetro b for negativo, mantêm-se os mesmos caracteres de uniformida-


de de variação conjunta, apenas registrando-se incrementos negativos ou decréscimos
da variável Y. Veja-se a equação Y = 12 – 2x ao se atribuírem valores de 0 a 6 a X.

(16) O parâmetro b é o coeficiente de regressão. Existe regressão entre as variáveis se b = 0.

162

miolo.pmd 162 16/9/2013, 12:30


Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 20 – Caso em que b é negativo

O estudo da correlação abrange três tipos de indicadores ou medidas, a saber:

a) uma equação, de estimativa ou avaliação ou previsão, que permite inter-


pretar a relação estatística ou tendencial entre as duas variáveis, cujo obje-
tivo é estimar ou prever os valores de uma variável em função dos valores
da outra, tecnicamente chamada de equação de regressão, é uma equação da
relação média;
b) um indicador de precisão das estimativas ou previsões, cuja medida se
obtém comparando os valores reais da variável dependente Y com seus
valores calculados ou estimados pela equação de regressão: a medida da
variação de Y, não explicada ou interpretada pela equação, semelhantemente
ao desvio padrão, serve para aferir, em termos absolutos, a dispersão dos
valores reais de Y em torno da linha de regressão, dando uma ideia do grau
de precisão das estimativas, o que vale dizer da maior ou menor utilidade
da referida equação na previsão da variável dependente – é o erro-padrão
de estimativa;
c) um indicador, ou medida do grau de associação ou relação entre as variá-
veis, em número abstrato, que vem representado pela letra minúscula r,
cujo quadrado r2 indica a proporção de variação na variável Y, que foi
explicada ou interpretada pela equação de regressão.
OBS.: r = coeficiente de correlação e r2 = coeficiente de determinação.

Equação de regressão

Na equação Y = a + bx, , atribuem-se valores aos parâmetros a e b para associá-


la a um problema específico em que se busca avaliar o comportamento da variável
dependente Y em função da variável independente X. Admitidos dois conjuntos:
X1, X2, X3,..... Xn e Y1, Y2, Y3...Yn exige-se, para a identificação da equação de regressão,

163

miolo.pmd 163 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

que os pares de valores X1, Y1; X2, Y2; X3, Y3... Xn, Yn se conformem ao sentido linear,
ou aproximadamente linear, dispersando-se, o menos possível, da linha reta ideal. A
Figura 19 corresponde a um diagrama de dispersão no qual os valores de X serão
abcissas e os de Y ordenadas. Obtidos os pontos correspondentes, por eles se fará
passar uma linha através da conjunção dos pontos correspondentes à conjunção dos
valores (XiYi).

Figura 19 – Diagrama de dispersão

Esta condição de máxima aproximação, ou de mínimo afastamento entre os


pontos e a linha, leva à adoção do método dos mínimos quadrados, onde, como já
visto:

................... (1)

Considerando que, nos termos da correlação linear, Yt = a + bx o valor estima-


do, ou calculado com a equação de regressão linear simples, (1), transforma-se na
expressão:

Substituindo-se Σdi2 por e e derivando-se, obtêm-se as seguintes equações


normais integrantes de um sistema de duas equações lineares a 2 incógnitas a e b.

164

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Exemplo:
Analisar o comportamento do consumo de cimento tendo em vista os dados da
série relativa à população urbana. No caso, a população urbana é a variável indepen-
dente, enquanto o consumo de cimento é a variável dependente:

Tabela 21 – População urbana e consumo de cimento em dez regiões


metropolitanas – ano de 2013. Brasil

Fonte: Spinola 2000.

Pelo exame da configuração gráfica, no caso, comporta utilizar-se uma equa-


ção de regressão linear simples. Para o seu estabelecimento deve-se resolver o
sistema de equações normais a partir da seguinte tabulação dos dados:

Tabela 22 – Tratamento estatístico da Tabela 21

165

miolo.pmd 165 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

Sendo

logo:

540 = 10a + 8.305b


803.712 = 8.305a + 10.694107b

Resolvendo:
a = 23,24
b = 0,09

a equação desejada será:

Yt = – 23,24 + 0,09x

Considerando o parâmetro b = 0,09x, pode-se concluir que a cada acréscimo de


1.000 habitantes haverá um aumento de 90 toneladas no consumo de cimento.
O coeficiente de correlação indica o grau de validade da correlação estabelecida
entre as variáveis X e Y (no caso população e consumo de cimento).
O objetivo básico da análise de correlação é dispor-se de um indicador qualita-
tivo do grau de associação entre variáveis, segundo o tipo de equação de regressão
escolhido, o qual servirá de respaldo para a equação de regressão, sempre que for
expresso por um elevado coeficiente.
O coeficiente de correlação r varia entre ± 1, ou seja:

–1 ≥ r ≤ 1

É interessante distinguir r (coeficiente de correlação) de r2 (coeficiente de de-


terminação). Enquanto r representa o grau de relação ou associação entre as duas
variáveis X e Y, r2 define a proporção da dispersão total de Y interpretada ou explicada
pela equação de regressão. É importante notar que quanto maior for o valor absolu-
to de r tanto mais associadas são as duas variáveis.

O coeficiente de correlação linear é dado pela seguinte expressão:

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

no exemplo dado:

r = 0,937 ∴ 0,94

Como o valor absoluto de r é bem alto, o grau de correlação é acentuado entre


as variáveis X (população) e Y (consumo de cimento).

Correlação simples e coeficiente de elasticidade

Quando o coeficiente de elasticidade renda-consumo de determinado bem é


bastante elevado, torna-se possível proceder à projeção da taxa de crescimento da sua
procura, tomando-se por base a correlação que existe entre os seguintes elementos:

a) renda;
b) população;
c) coeficiente de elasticidade renda.

Projetando-se no horizonte temporal de planejamento definido para o estudo


do mercado o comportamento da renda e da população-alvo, será possível montar-
se o seguinte conjunto de indicadores:

a) taxa anual de crescimento da renda per capita


b) taxa anual de crescimento da população-alvo

e determinar-se qual será a provável taxa de crescimento do consumo do bem em


estudo, a partir da seguinte expressão:

TAC = TCY .erc + TCP


Em que:

TAC = taxa anual de crescimento provável do consumo;


TCY = taxa anual de crescimento da renda per capita;
erc = coeficiente de elasticidade renda-consumo do bem sob exame;
TCP = taxa de crescimento da população-alvo.

167

miolo.pmd 167 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

Este método pressupõe a existência de um determinado grau de constância


(ceteris paribus) no comportamento de todos os fatores que contribuem para a forma-
ção dos indicadores da expressão considerada. Sua aplicação, contudo, é dificultada
pela escassez de indicadores da elasticidade renda-consumo para os diferentes bens
existentes no mercado.

4.8.1.7 Amostragem

A amostragem constitui uma técnica muito utilizada nas atividades de pesqui-


sa. Tem sido popularizada pelas pesquisas de opinião, notadamente as eleitorais,
estando a sua prática universalmente disseminada através dos institutos de opinião.
No Brasil, destacam-se, entre outros o Ibope e o Datafolha.
Nos estudos de mercado, utilizam-se as técnicas amostrais sempre que se pre-
tende investigar as preferências dos consumidores em relação a determinados pro-
dutos ou serviços.
Nos primórdios da informática, quando ainda se encarava o computador como
uma máquina mágica, os especialistas no ramo diziam para os iniciantes que ele, o
computador, era uma máquina burra. Se entrasse lixo, só sairia lixo. Com isto, ao
modo deles, queriam chamar a atenção para a qualidade da informação que se pre-
tendia processar. O mesmo ocorre com as técnicas amostrais. O seu sucesso depende
da qualidade da amostra que será utilizada e do processo de sua obtenção. Erros
cometidos nesta etapa desqualificam os resultados obtidos.
É fundamental que a amostra seja representativa da população-alvo. Isso signi-
fica que ela deve possuir as mesmas características básicas da população, no que diz
respeito à variável ou às variáveis que se deseja pesquisar.
A linguagem usual da amostragem apresenta uma terminologia bastante
simples. São usuais os seguintes termos:

a. amostra: subconjunto de uma população através do qual se busca obter


informação sobre o todo;
b. censo: levantamento de toda a população;
c. parâmetro: é um número que representa uma característica única;
d. população: no plano estatístico, representa o conjunto de elementos com
determinada característica em comum, cujas propriedades podem ser estu-
dadas a partir de subconjuntos (amostras);
e. unidade: qualquer elemento individual da população;
f. universo: o mesmo que população;
g. variável: característica das unidades que será medida a partir de uma uni-
dade da amostra.

168

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

No planejamento de uma pesquisa amostral, deve-se preliminarmente defi-


nir o território que será estudado. Observe-se que quanto maior a sua extensão
geográfica, mais complexa será a pesquisa, dado o número de variáveis que serão
envolvidas. Não obstante, o estudo pode contemplar o espaço mundial, nacional,
regional, urbano, rural, grupo de indivíduos, etc.
A construção da amostra importa na identificação da população-alvo, na sele-
ção da amostra e na definição do tamanho da amostra.
Existem vários processos de amostragem. Segundo Neto (1977), os mais co-
nhecidos são:

a. Amostragem probabilística;
b. Amostragem não probabilística;
c. Amostragem casual simples;
d. Amostragem sistemática;
e. Amostragem por meio de conglomerados;
f. Amostragem estratificada;
g. Amostragem múltipla.

A amostragem probabilística é aquela em que todos os elementos da popula-


ção têm probabilidade conhecida e diferente de zero no pertencimento à amostra.
A amostragem não probabilística é aquela que não preenche os requisitos da
anterior. Segundo Neto (1977)

“amostras não probabilísticas são muitas vezes, empregadas em trabalhos


estatísticos, por simplicidade ou por impossibilidade de se obterem amostras
probabilísticas, como seria desejável. Como em muitos casos os efeitos da
utilização de uma amostragem não probabilística podem ser considerados
equivalentes aos de uma amostragem probabilística, resulta que os processes
não probabilísticos de amostragem têm também sua importância”.

A amostragem casual simples, também conhecida como simples ao acaso, aleató-


ria, casual, simples, elementar, etc., é equivalente a um sorteio lotérico. Nela, todos os
elementos da população têm igual probabilidade de pertencer à amostra, e todas as
possíveis amostras têm também igual probabilidade de ocorrer.
A amostragem sistemática é utilizada quando os elementos da população se
apresentam ordenados e a retirada dos elementos da amostra é feita periodicamen-
te. Assim, por exemplo, em uma linha de produção, podemos, a cada dez itens
produzidos, retirar um para pertencer a uma amostra da produção diária.
A amostragem por conglomerados pode ser aplicada quando a população apre-
senta uma subdivisão em pequenos grupos, chamados conglomerados. Neste caso, é
possível fazer-se a amostragem por meio desses conglomerados. Consiste em sortear
um número suficiente de conglomerados, cujos elementos constituirão a amostra.

169

miolo.pmd 169 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

A amostragem estratificada aplica-se nos casos em que a população se divide


em subpopulações ou estratos, sendo razoável supor que, de estrato para estrato, a
variável de interesse apresente um comportamento substancialmente diverso, ten-
do, entretanto, comportamento razoavelmente homogêneo dentro de cada estrato.
Em tais casos, se o sorteio dos elementos da amostra for realizado sem se levar em
consideração sua existência, pode acontecer que os diversos estratos não sejam con-
venientemente representados na amostra, a qual seria mais influenciada pelas carac-
terísticas da variável nos estratos mais favorecidos pelo sorteio. Evidentemente, a
tendência da ocorrência de tal fato será tanto maior quanto menor o tamanho da
amostra. Para evitar isso, pode-se adotar uma amostragem estratificada.
A amostragem múltipla ocorre quando a amostra é retirada em diversas eta-
pas sucessivas e, dependendo dos resultados observados, etapas suplementares po-
dem ser dispensadas. Esse tipo de amostragem é, muitas vezes, empregado na inspe-
ção por amostragem, sendo particularmente importante a amostragem dupla. Sua
finalidade é diminuir o número médio de itens inspecionados a longo prazo, bai-
xando assim o custo da inspeção.

4.8.1.8 Outros métodos de quantificação

A projeção da demanda futura de bens e serviços não se prende ortodoxamente


aos métodos estatísticos até aqui alinhados. Pode o projetista construir o seu próprio
método de previsão, desde que o arcabouço do seu raciocínio seja consistente (hipó-
teses lógicas), caso em que deve este ser justificado em um anexo do projeto.

4.8.2 Métodos qualitativos de previsão

O exame, sob o prisma qualitativo, das perspectivas mercadológicas para um


determinado produto constitui, de um lado, uma alternativa, quando não se dispõe
de dados, antecedentes que permitam a montagem dos modelos matemáticos de
extrapolação das tendências históricas observadas e, de outro, um recurso crítico que
pode contribuir de forma significativa para consolidar as conclusões obtidas através
de métodos eminentemente quantitativos.
É importante destacar que, a despeito de priorizar os critérios de julgamento
fundamentados nas disciplinas das ciências sociais – notadamente a psicologia e a
sociologia –, os métodos qualitativos não necessariamente prescindem da matemá-
tica como instrumento de linguagem lógica e dos processos da estatística que auxi-
liem na montagem das suas hipóteses e inferências.
Dentre os métodos qualitativos, examinar-se-á aqui a montagem de cenários e,

170

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

acessoriamente, como instrumentos auxiliares na obtenção destes, o método Delphi


e o painel de especialistas.

4.8.2.1 Cenário

O cenário é a descrição de uma visão interna e consistente das condições ou


circunstâncias que definem o entorno em que a organização estará operando no futu-
ro. É a descrição de uma sequência hipotética de eventos construídos com o objetivo de
instrumentar decisões quanto às alternativas de ação que poderão ser implementadas.
A expressão cenário foi introduzida na literatura especializada por Herman
Kahn, quando trabalhava, na década de cinquenta, para a Rand Corporation e ali
desenvolvia estudos estratégicos e militares para o governo dos Estados Unidos da
América. Mais tarde, em 1967, Kahn e Wiener popularizaram os cenários ao escreve-
rem o livro O ano 2000. Pelo fato de fazer previsões pessimistas para o Brasil, a obra
feriu profundamente os brios nacionalistas, em uma época de grande ufanismo,
tendo sido alvo de violentas críticas e contestações entre as quais se destacam as
contidas nos livros do professor Mário Henrique Simonsen, intitulados Brasil 2001 e
Brasil 2002. Os “cenários”, notadamente, quando caracterizados como um exercício
econométrico de previsão e projeção macroeconômica, são ali questionados quanto
à sua validade prática como, de resto, qualquer esforço de futurologia econômica.
Segundo o professor Simonsen:

Diante dos repetidos fracassos dos futurólogos de ontem e de hoje, que pensar
das previsões econômicas de longo prazo? A resposta comporta várias quali-
ficações.
Em primeiro lugar, os modelos que tentam antever o futuro longínquo de uma
sociedade quase sempre contêm especulações esteticamente interessantes.
Contudo, até hoje essas especulações, das duas uma: ou se resumiram em
trivialidades ou foram desmentidas pelos fatos.
Em segundo lugar, as extrapolações, a longo prazo, no estilo das previsões de
Herman Kahn e Anthony Wiener, valem apenas como hipérbole literária. No
fundo, essas previsões se resumem em afirmar o seguinte: “se as tendências
dos últimos vinte anos se repetirem nos próximos trinta, no final do século
teremos tais e tais resultados”. Como progressões geométricas de razões dife-
rentes se afastam, cada vez mais, o exercício consegue o seu impacto psicoló-
gico: o de apresentar um quadro de hiatos muito mais chocante a longo prazo
do que no momento atual. Esse exagero pode até ser útil como alerta, desafi-
ando certos países a melhorarem as suas tendências. Mas é óbvio que a hipó-
tese da permanência das tendências está longe de ser idônea do ponto de vista
científico.17

(17) Simonsen, M.H. Brasil – 2002 – Apec 1974.

171

miolo.pmd 171 16/9/2013, 12:30


TEORIA DO PROJETAMENTO

A despeito desta colocação, é ainda o próprio professor Simonsen quem desta-


ca, em seu trabalho:

Há certa dose de previsão indispensável em política econômica, devido ao prazo de


maturação dos investimentos. É impossível, por exemplo, estabelecer um programa
de expansão siderúrgica ou de energia elétrica sem olhar cerca de dez anos à frente.
Diante dessa contingência, por mais que desconfiemos da futurologia, não podemos
escapar à fixação de certas metas a médio prazo, em termos de crescimento do produto
real etc. Em prazos mais curtos, inclusive, torna-se importante submeter os investi-
mentos públicos e privados a testes de consistência, em termos de recursos e aplica-
ções, em termos de necessidade do mercado e em termos de impacto sobre o balanço de
pagamentos. 18

Estas considerações são importantes como registro do papel relativo dos


cenários. A rigor, não se deve trabalhar com um só cenário, mas com múltiplos
cenários que projetem futuros prováveis em função do desempenho diverso das
variáveis que os compõem. Neste sentido, os cenários representam contextos al-
ternativos, quadros de situações conjunturais otimistas ou pessimistas de acordo
com as premissas adotadas. Assim sendo, o comportamento do mercado, para
determinado produto, será resultante da conjuntura econômica no tempo em que
se processar a sua demanda. É previsível que, por exemplo, produtos de elevado
coeficiente de elasticidade – renda consumo deverão ter substanciais incrementos
nas suas procuras dentro de uma situação de prosperidade, em função de elevadas
taxas de crescimento do produto interno bruto e da renda disponível conforme o
seu gênero. Ocorrendo uma situação adversa (de recessão, estagnação ou baixas
taxas de crescimento), a procura desses bens poderá declinar, estagnar ou crescer a
taxas reduzidas. O cenário trabalha, pois, com a análise de quadros econômicos
alternativos e dos seus efeitos no mercado dos bens e serviços examinados. O
processo de elaboração de um cenário compreende as seguintes etapas:

a) identificação das variáveis-chave;


b) atribuição de capacidades de influência (pesos) e estimativa das probabili-
dades de alterações nas variáveis selecionadas;
c) elaboração dos modelos de contextos futuros prováveis.

Na identificação das variáveis-chave, devem ser adotados os seguintes proce-


dimentos:

a) determinação do horizonte temporal de planejamento, isto é espaço de


tempo abrangido pelos cenários deve considerar um período mínimo

(18) Idem.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

necessário para o retorno do investimento realizado a uma taxa interna


compensadora, processo em que, o tempo ideal de trabalho se situa em
torno de 5 anos;
b) identificação das variáveis que afetarão a produção e a demanda do bem
sob exame, no espaço de tempo considerado, devendo sua seleção obedecer
a algumas diretrizes:
– ser efetuada de forma eclética, buscando-se cobrir todas as áreas que
possam exercer influência no comportamento do mercado, é
– processar-se com clareza, de forma a permitir uma eficiente análise do
comportamento probabilístico de cada variável a um dado estímulo posi-
tivo ou negativo,
– atentar para o grau de relevância das variáveis consideradas, a impor-
tância que possuem e o impacto que produzirão no mercado ao serem
produzidas alterações no seu comportamento,
– estabelecer o grau de interdependência existente no conjunto destas
variáveis, eliminando-se aquelas cuja probabilidade de influência seja
reduzida.

Atribuição de capacidade de influência e probabilidade das variáveis sele-


cionadas e a estimativa do grau de probabilidade da ocorrência de alterações em seu
comportamento constitui, provavelmente, a parte mais complexa da montagem de
um cenário, até porque é possível que algumas das variáveis não sejam mensuráveis.
Nesta etapa, além de recorrer-se aos parâmetros já estabelecidos pelas diversas dis-
ciplinas das ciências sociais (as correlações macro- e microeconômicas, o comporta-
mento e as reações dos diversos mercados e dos consumidores, etc.), pode-se recor-
rer a algumas técnicas específicas como é o caso do método Delphi e do painel de
especialistas.

4.8.2.2 Método Delphi

Trabalha-se com um grupo de especialistas que são mantidos no anonimato,


não se conhecem entre si (ou não sabem quem mais está participando do grupo),
mantendo comunicação apenas com o coordenador do programa, que funciona como
elo entre todos.
As comunicações são formais, por escrito. O processo tem início com a remes-
sa, a cada especialista selecionado, de uma exposição detalhada do problema com
todos os antecedentes relevantes, acompanhada de um questionário com o objetivo
de obter as opiniões com relação ao caso exposto, as tendências e perspectivas pro-
váveis dos acontecimentos no futuro proposto. Recebidas as respostas, são estas

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TEORIA DO PROJETAMENTO

resumidas, consolidadas e tabuladas, sendo novamente distribuídas aos participan-


tes do grupo para confirmação dos pontos convergentes e argumentação contrária
das divergências-. Recebidas as novas respostas, procede-se a outra consolidação,
repetindo-se o procedimento. As respostas então recebidas são novamente consoli-
dadas e distribuídas aos participantes, para que, com base no material apresentado,
procedam à suas previsões finais.
Este método é muito útil para a classificação de um problema e a eliminação da
subjetividade do julgamento. O seu sucesso depende, contudo, da capacidade da
coordenação na colocação dos problemas, na elaboração do questionário básico e na
isenção da seleção dos especialistas consultados.

4.8.2.3 Painel de especialistas

Por este processo, as questões são discutidas em seminário promovido com a


participação de especialistas de acordo com os métodos – entre outros – da dinâmi-
ca de grupo. A experiência tem demonstrado que, a despeito da sua maior rapidez,
têm os painéis conduzido a resultados inferiores àqueles obtidos pelo método
Delphi.

4.8.2.4 Elaboração dos modelos de contextos futuros prováveis

Uma vez selecionadas as variáveis-chave, conferindo-lhes pesos específicos e


avaliadas as suas probabilidades de ocorrência, cabe determinar as diversas pers-
pectivas de mercado para o bem sob exame.
A construção dos modelos poderá obedecer a critérios consagrados na teoria
da tomada de decisão no risco e na incerteza, tais como: o do enfoque pessimista
(maximin ou minimax), o otimista (maximax), o de menor pesar (pesar minimax) e
o da razão suficiente. O recomendável é que sejam produzidos pelo menos três
cenários, contemplando os critérios extremos e intermediários da teoria.
Pode-se, ainda, trabalhar, também, com a análise do impacto cruzado median-
te o qual se examinam os efeitos decorrentes do grau de interdependência existente
entre as diversas variáveis selecionadas. Ou seja: qual o possível impacto que as
alterações produzidas em uma variável produzirá sobre as demais dentro do con-
junto examinado?
Seja qual for o método escolhido, os cenários montados devem contemplar
projeções que reflitam qual será o provável comportamento do mercado em situa-
ções diversas.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

4.8.2.5 Outros processos de previsão qualitativa

O método Delphi e o Painel de Especialistas, anteriormente considerados como


instrumentos acessórios no processo de montagem dos cenários, podem ser também
utilizados isoladamente na previsão do mercado futuro para bens e serviços diver-
sos. Além destes, notadamente no caso de produtos novos, sem similar no mercado,
é comum recorrerem os projetistas à pesquisa do mercado.
O sucesso na aplicação deste método depende, essencialmente, da estruturação
da metodologia da pesquisa e da montagem de questionários. Em sua execução, não
se prescinde da utilização de sofisticados procedimentos estatísticos na determina-
ção do universo da pesquisa e seleção das amostras, assim como no seu processamento
e apuração.

4.9 – Tópico especial

Este título é complementado por um tópico especial que aborda um roteiro de


elaboração do projeto.
É importante tornar a lembrar da seguinte observação, já feita na introdução.
Na montagem do roteiro-demonstração, adotou-se uma numeração específica que será
sequenciada ordenadamente ao logo dos capítulos. Esta numeração independe da adotada
no livro. Assim, o estudo administrativo é numerado 1.0, o mercado, 2.0, o técnico 3.0, o
financeiro 4.0 e o econômico 5.0. As tabelas destes estudos acompanham a sua numeração.
Exemplo: Tabela 1.1, Tabela 2.1, Tabela 3.1, etc. O mesmo critério se aplica aos quadros e às
figuras.

ROTEIRO-DEMONSTRAÇÃO PARA O ESTUDO DO MERCADO

Examinou-se, nos tópicos precedentes, roteiro para a elaboração do estudo


administrativo. É evidente que, ao se elaborar um projeto para qualquer uma das
instituições de fomento, devam-se seguir, com o rigor possível, as normas do seu
roteiro específico.
Ocorre, porém, que, em algumas circunstâncias, pode ser o projeto, como
instrumento de planejamento em um processo de tomada de decisão, direcionado
a órgãos internos de um grupo empresarial (Conselho de Administração, Acionis-
tas, Controladores, etc.) ou a instituições que solicitem o estudo do mercado sem
estabelecer o roteiro específico Nestes casos, sugere-se que seja adotado o seguinte
roteiro:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

2.0 – Estudo do Mercado

2.1 – Análise do Produto ou Serviço


2.1.1 – descrição detalhada do produto ou serviço, suas características técnicas
e utilização, sob o prisma mercadológico;
2.1.2 – identificação dos eventuais similares, substitutos e complementares e
avaliação do impacto que podem estes exercer sobre a demanda do produto ou do
serviço;

Tabela 2.1 – Produtos/serviços: sucedâneos e substitutos

2.1.3 – discriminação de eventuais subprodutos e suas implicações na


viabilização mercadológica do produto;
2.1.4 – considerações sobre o ciclo de vida do produto ou do serviço.

2.2 – Horizonte Temporal de Planejamento


2.2.1 – definição do período de tempo abrangido pelo estudo (no mínimo 3 e no
máximo 10 anos) e justificativa da opção.

2.3 – Área do Mercado


2.3.1 – delimitação geográfica da área do mercado e justificativa da opção
realizada;
2.3.2 – análise da população-alvo, projeção do seu crescimento no horizonte
temporal;
2.3.3 – análise da estrutura e das tendências de comportamento da renda da
população-alvo no período compreendido no horizonte temporal.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

2.4 – Análise e Projeção da Demanda


2.4.1 – estudo de séries históricas de consumo, determinação do consumo apa-
rente (produção + importação – exportação);

Tabela 2.2 – Consumo aparente

2.4.2 – indicadores de consumo, coeficientes de consumo per capita (dados de


pesquisa direta junto ao varejo e a amostras de consumidores);
2.4.3 – identificação de elementos de correlação (linear ou múltipla);
2.4.4 – identificação de fatores comprobatórios de demanda insatisfeita (gêne-
ro: pedidos em carteira);
2.4.5 – projeção da demanda (extrapolação da série histórica e correlação) no
horizonte temporal;
2.4.6 – avaliação crítica da demanda projetada e conclusão.

2.5 – Análise da oferta


2.5.1 – identificação do parque produtor com a análise dos seguintes aspectos:
localização, volume de produção, nível de utilização da capacidade instalada, grau
de modernização, perspectivas de expansão;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

2.5.2 – regime de concorrência do mercado;


2.5.3 – projeção da oferta futura com base nos dados do comportamento histó-
rico da produção e de expansões identificadas;
2.5.4 – revisão crítica da projeção da oferta e conclusão.

2.6 – Balanço oferta X demanda


2.6.1 – confronto das projeções da oferta e da demanda no período definido
como horizonte temporal e identificação de eventuais superávits ou déficits
mercadológicos.

2.7 – Análise do mecanismo de preços


2.7.1 – avaliação do comportamento histórico dos preços no mercado;
2.7.2 – avaliação da política de preços e dos níveis de controle e regulamenta-
ção existentes.

2.8 – Conclusão
2.8.1 – perspectivas mercadológicas do produto ou serviço;
2.8.2 – espaço de mercado, volume de produção passível de colocação no mer-
cado.

Observação
Este roteiro se aplica para a empresa que vai operar no mercado interno, exter-
no ou em ambos. O detalhamento desta operação (mercado interno x mercado exter-
no) deve ser realizado no bojo de cada tópico.
A numeração dos capítulos do roteiro padrão, principiando com o numeral 2,
quer significar que, em um roteiro consolidado, o estudo do mercado é o segundo
título do projeto pela ordem sequencial.

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TÍTULO V
O ESTUDO TÉCNICO

5.1 – Introdução

O estudo técnico do projeto busca responder à questão clássica relativa ao


como produzir. Abrange, portanto, os seguintes estudos específicos:

a) programa de produção, tamanho;


b) processo produtivo e tecnologia;
c) mobilização dos fatores de produção;
d) estudo da localização;
e) programa de investimentos;
f) cronograma de execução.

Este título interage, de forma acentuada, com o estudo do mercado de quem


recebe informações analíticas referentes ao comportamento dos consumidores,
ou seja o que, quanto e para quem devem ser produzidos os bens e serviços para
satisfazer à demanda. O estudo técnico fundamenta-se em um projeto de enge-
nharia básica, que fornece os elementos necessários à sua elaboração. Por este
motivo, em muitos trabalhos, costuma-se também denominá-lo de engenharia
do projeto 1.

(1) Ademais, no corporativismo profissional, este é um campo considerado privativo dos


engenheiros.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Nos projetos econômico-financeiros, o estudo técnico absorve as informações


da engenharia básica sem, contudo, transcrevê-las integralmente. Neste caso, os
projetos de engenharia básica, arquitetônico, de construção civil e de instalações
constituem um corpo de anexos especiais.
Em alguns projetos – dado o grau de desenvolvimento dos estudos e as
peculiaridades do trabalho em curso de elaboração –, é possível dispor-se tam-
bém do projeto executivo, que corresponde à engenharia de detalhamento. Vale
ressalvar que este capítulo varia de complexidade em função do porte do empre-
endimento.
Não existem termos de comparação entre os estudos técnicos de uma empresa
de pequeno porte e outra de grande porte. Assim sendo, objetiva-se, com o estudo
técnico, criar embasamento necessário para que seja possível definirem-se:

a) a estrutura organizacional do empreendimento;


b) a estrutura de investimentos fixos e financeiros;
c) a estrutura de custos;
d) a análise da rentabilidade econômica e social.

No caso dos projetos de serviços, o estudo técnico apresenta substanciais dife-


renças em relação aos projetos industriais, tendo em vista que o produto é o serviço
e, na maioria das vezes, o insumo é o trabalho. Ambos intangíveis.
Contudo, os autores que trabalham esta área destacam enfaticamente a impor-
tância do processo de serviços. Johnston e Clark (2002, p.200), por exemplo, desta-
cam que o bom serviço – aquele que satisfaz tanto ao cliente quanto à organização –
resulta de um conjunto de processos inter-relacionados que, quando mal desenha-
dos e executados, geram graves problemas para as empresas do setor.
A questão que dificulta a abordagem dos serviços reside na multiplicidade de
situações em que estes ocorrem, aparecendo como “serviços puros”, “serviços asso-
ciados à comercialização”, “serviços associados à produção”, etc.
Para ilustrar, basta ver alguns casos. Por exemplo, uma fábrica de tubos e
conexões plásticas e um hospital. Na fábrica, o processo resulta numa relação insumo-
produto em que as matérias-primas e demais complementos entram na linha de
produção e resultam em um produto final. Já no caso do hospital, qual o seu produto
final? A cura do paciente? Sendo assim, tem-se que lidar com uma infinidade de
produtos (dependendo das patologias), cada qual requerendo um “procedimento”
cujo cumprimento rigoroso é um dogma da medicina. Então, cada tipo de cirurgia
deve ter seus procedimentos. Um parto igualmente. Um simples curativo é cercado
de exigências. Tudo isto dificulta bastante a descrição das atividades no projeto e a
consequente estimativa de custos.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tomando por base Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000, p.99) pode-se usar na


elaboração do estudo técnico (engenharia) dos projetos de serviços, o conceito de
divergência,2 em relação ao objeto para o qual a atividade de serviços é direcionada e
ao grau de contato mantido com o cliente, conforme se verifica no quadro seguinte.
Este conceito é semelhante ao utilizado por Corrêa e Caon (2002, p.73) , mencio-
nado no estudo do mercado (Título IV) definindo os serviços como de baixa diver-
gência (serviços padronizados, ou de massa) e de alta divergência (serviços persona-
lizados).
Fitzsimmons e Fitzsimmons (2000, p.102) demonstram que os serviços, em
muitas circunstâncias, podem ser prestados segundo uma sistemática industrial,
deixando de lado “uma percepção humanística que pode ser demasiadamente
restritiva e, consequentemente, impedir o desenvolvimento de um projeto de servi-
ços inovador”. E acrescentam:

[…] Os sistemas de manufatura são sempre projetados tendo em mente o


controle do processo. A saída frequentemente tem seu ritmo compassado
pelas máquinas, e as atividades são planejadas com tarefas explícitas a
serem executadas. Ferramentas especiais e máquinas são fornecidas para
aumentar a produtividade dos trabalhadores. Um serviço que utiliza esta
abordagem de linha de produção pode obter uma vantagem competitiva
com uma estratégia de liderança de custos. O McDonald’s fornece o mais
perfeito exemplo desta abordagem de manufatura aplicada para serviços. *
As matérias-primas (por exemplo, os bifes dos lanches) são medidas e pré-
embaladas fora do serviço, deixando os empregados sem arbítrio sobre ta-
manho, qualidade e consistência. Além disso, as instalações para armazena-
gem são projetadas expressamente para o mix de produtos predetermina-
dos. Não existe espaço extra para alimentos e bebidas que não são previstos
no serviço. A produção de batatas fritas ilustra a atenção do projeto com os
detalhes. As batatas são recebidas pré-cortadas, parcialmente cozidas e
congeladas. A frigideira foi dimensionada para fritar uma quantidade defi-
nida como ideal de batatas. Esta é uma quantidade que não será muito
grande de forma a gerar estoques de batatas já fritas murchas e nem tão
pequena que implique a fritura muito freqüente de novos lotes. A frigideira
é esvaziada em um tabuleiro largo e plano próxima ao balcão de serviço.
Este arranjo evita que a batatas caiam de algum recipiente inadequado para
o chão o que resultaria em perda de alimentos e ainda sujaria o ambiente.
Um funil especial é utilizado para garantir uma quantidade padronizada

(2) Expressão de múltiplos usos em diversas disciplinas. Aqui ele é importado da física.
Em geral, a divergência ocorre quando dois procedimentos não estão se movendo em
conjunto, como seria esperado. Por exemplo, se o procedimento A é muito rápido, mas
o B move-se muito pouco ou mesmo declina, a divergência está criada. Divergência e
amplitude (em estatística: diferença entre os limites de uma classe) são conceitos
relacionados.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

nos pacotes de batata-frita. O planejamento cuidadoso garante que os em-


pregados nunca sujem suas mãos nem as batatas, que o chão permaneça
limpo e que a quantidade seja controlada. Além disso, uma generosa porção
de fritas é entregue ao cliente por um empregado rápido, eficiente e atencio-
so. Este sistema é planejado detalhadamente do início ao fim, desde a pré-
embalagem dos bifes de hambúrgueres até a ostensiva presença de coletores
de resíduos que estimula os clientes a limparem suas mesas. A orientação
típica de linha de montagem adaptada a um sistema de serviços procura
transpor um conceito bem-sucedido na manufatura para o setor de serviços
e vários itens contribuem para o êxito deste processo.

5.2 O programa de produção e o tamanho das empresas

O programa de produção estabelece as quantidades dos produtos ou serviços


que serão produzidos anualmente pela fábrica, de acordo com as metas fixadas. A
sua definição pressupõe e exige a determinação do tamanho do projeto, que pode ser
entendido segundo diferentes enfoques, a saber:

a) o técnico;
b) o econômico;
c) o administrativo-financeiro;
d) o organizacional-cultural.

Do ponto de vista técnico, ele é definido como sendo a capacidade máxima de


produção que pode ser atingida pela planta com a mobilização das suas máquinas,
equipamentos, instalações e demais fatores, em relação a determinada unidade de
tempo, sob condições normais de funcionamento, ou seja, sem sobrecargas. Há,
aqui, de se distinguir a capacidade nominal da capacidade real, posto que corresponde
a primeira a um nível de operação definida pelo fabricante, enquanto a segunda é a
efetiva, depois de otimizada a utilização de todos os fatores. É evidente que esta é
uma condição que, às vezes, leva tempo para ser atingida, dado um conjunto de
fatores, tais como:

a) nível de qualificação e de experiência da mão de obra, que nem sempre está


apta a operar os equipamentos de modo eficaz;
b) qualidade de insumos, que se reflete no rendimento dos equipamentos;
c) condições operacionais – clima, altitude, necessidades de manutenção etc.;
d) gargalos (pontos de estrangulamento de fluxo) não percebidos na enge-
nharia básica e no balanceamento de linhas, notadamente quando a planta
está absorvendo tecnologia.

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A capacidade real corresponde ao nível de produção efetivo, dados os descon-


tos devidos aos fatores aqui mencionados. É com esta capacidade que se trabalha no
projeto.
Sob o enfoque econômico, o tamanho é estabelecido pela capacidade máxima
de utilização da planta, atingida antes que se produzam os efeitos da lei dos rendi-
mentos decrescentes. Ou seja, corresponde ao nível de utilização da capacidade ins-
talada dos fatores equivalente ao ponto mínimo da curva de custo médio do projeto
(CMe na Figura 20).

Figura 20 – Tamanho econômico da empresa

Fonte: elaboração do autor.

Pelo critério administrativo-financeiro, considera-se o valor do faturamento


(receita bruta), o volume do capital investido e similar. Segundo o art. 2º da lei
complementar nº 139, de 10 de novembro de 2011, a classificação é a seguinte:

a) microempresas, aquelas com receita bruta 3 anual igual ou inferior a


R$360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais);

(3) Considera-se receita bruta o produto da venda de bens e serviços nas operações de conta
própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações em conta alheia, não
incluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

b) empresa de pequeno porte, aquelas que aufiram, em cada ano-calendário,


receita bruta superior a R$ 360.000,00 (trezentos e sessenta mil reais) e igual
ou inferior a R$ 3.600.000,00 (três milhões e seiscentos mil reais).

Já o BNDES, para fins de financiamento, adota a seguinte classificação:4

a) microempresas, as que tenham receita operacional bruta (ROB) anual ou


anualizada inferior ou igual a R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos
mil reais);
b) pequenas empresas, aquelas com ROB anual ou anualizada superior a
R$ 2.400.000,00 (dois milhões e quatrocentos mil reais) e inferior ou igual a
R$ 16.000.000,00 (dezesseis milhões de reais);
c) médias empresas, as de ROB anual ou anualizada superior a R$ 16.000.000,00
(dezesseis milhões de reais) e inferior ou igual a R$ 90.000.000,00 (noventa
milhões de reais);
d) médias-grandes empresas, aquelas de ROB anual ou anualizada superior
a R$ 90.000.000,00 (noventa milhões de reais) e inferior ou igual a
R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais);
e) grandes empresas, as que apresentem ROB anual ou anualizada superior a
R$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de reais).

Do ponto de vista organizacional- cultural, uma classificação interessante, por-


que leva em consideração aspectos vinculados aos processos de promoção do desen-
volvimento econômico, é a apresentada por Staley e Morse (1971) na Figura 2 se-
guinte. Esta classificação se ajusta às peculiaridades das pequenas empresas brasilei-
ras, notadamente as localizadas no Norte e Nordeste.
Staley e Morse consideram como indústrias não fabris as manufaturas para uso
próprio (1), o trabalho artesanal caseiro (2), o trabalho artesanal em oficinas (3), o
trabalho caseiro a fação5 (4) e os pequenos estabelecimentos independentes ou quase
(5), sendo estes dois últimos híbridos. Compõem o sistema fabril as pequenas, mé-
dias e grandes empresas.

(4) As classificações expressas em valores monetários são periodicamente reajustadas em


função do processo inflacionário. Os valores aqui consignados são os que estavam em
discriminados na circular nº 34, de 06 de setembro de 2011.
(5) O termo fação ou façonismo é amplamente conhecido na área têxtil e diz respeito à
subcontratação de serviços entre empresas, cooperativas ou mesmo a domicílio. Segundo
Durand (1985), o termo é o aportuguesamento da expressão francesa a façon, que vem
significar um trabalho realizado com o fornecimento de material por intermediários.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Figura 21 – Manufaturas classificadas por sistemas de organização

Fonte: Staley e Morse (1971, p. 18).

A partir da análise Figura 2, pode-se observar a forma mais antiga de manufa-


tura, aquela em que os membros de uma família fazem as coisas para seu próprio
uso (item 1). Staley e Morse (1971) ressaltam, além disso, que esta modalidade ainda
tem certa importância tanto nas economias modernas como nas tradicionais:

[...] o sistema de usos da família proporciona apenas uma divisão rudimen-


tar de trabalho e de especialização, geralmente em base de sexo. Nas socie-
dades primitivas as mulheres moem o milho e os homens fazem arcos e
flechas. Nas sociedades tecnologicamente adiantadas e abundantes, as
mulheres podem fazer confecções com tecidos comprados e os homens
mobiliários em oficinas caseiras ou equipamentos com componentes com-
prados fora. (STALEY;MORSE, 1971, p.19).

O sistema artesanal, por seu turno, foi se desenvolvendo na medida em que


alguns trabalhadores se especializavam e adquiriam determinadas perícias: torna-
vam-se tecelões, sapateiros, ferreiros, carpinteiros, alfaiates, costureiras, ourives, etc.
O sistema artesanal permanece como o principal provedor de bens manufaturados das
economias modernas, embora se submeta a transformações drásticas e a mudanças da
manufatura propriamente dita, para os ofícios de serviços e de construção.
Podemos definir indústria artesanal como a manufatura executada por artífices
que trabalham isoladamente, ou com alguns auxiliares ou aprendizes, e sem extensa
divisão do trabalho. O artífice ou artesão é o ponto central. “Na maioria das vezes os
artigos são produzidos um de cada vez, com variações individuais, frequentemente de
acordo com as solicitações de um determinado freguês” (STALEY; MORSE, 1971, p.19).
Quando o trabalho é feito em casa ou em suas proximidades, Staley e Morse
(1971) o classificam de trabalho artesanal caseiro (normalmente é o que ocorre com os
fabricantes de instrumentos musicais, os fabricantes de estatuetas e pintores, as

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TEORIA DO PROJETAMENTO

costureiras e diversos tipos de pequenas manufaturas); quando é executado em ou-


tro local e utiliza auxiliares pagos, é classificado como oficina artesanal. Muitas vezes
o artesão é um empresário independente, mas a produção artesanal também é prati-
cada por artífices que se encontram em vários graus de dependência de comerciantes
ou de fábricas. A fábrica grande ou pequena, por sua vez, distingue-se da indústria
artesanal por uma maior divisão do trabalho de produção. Consequentemente, a
fábrica tem maior necessidade de coordenação interna, e mais do que o artífice, o
administrador é que é a figura central (STALEY; MORSE, 1971).
Entre o sistema artesanal e o de fábrica, insere-se o sistema fabril a fação ou
disperso. Nesse sistema de manufatura, um intermediário distribui materiais para os
trabalhadores em seus lares ou pequenas oficinas, prescreve as tarefas que devem
ser executadas e pagas pelo trabalho feito. Nesta categoria, os autores distinguem
duas “subformas”: a primeira, a do trabalho industrial caseiro, que semelhante àquele
da fábrica, mas realizado nos lares, para um agente que coordena as operações.
Difere do trabalho artesanal caseiro porque não há a elaboração de um produto
completo e sim de partes dele, como seria feito numa fábrica. Sob este tipo de
atividade, principalmente quando há uma dependência muito grande de um único
comerciante ou fabricante, pode estar disfarçada uma forma de trabalho caseiro
assalariado, a fim de serem evitadas as leis trabalhistas. A segunda é a das pequenas
oficinas ou fábricas dependentes, ou quase dependentes, que se constituem como dimi-
nutas unidades manufatureiras as quais, por um lado, se graduam como trabalho
industrial caseiro e, do outro, como pequenas fábricas. Também como na forma
anterior, uma fábrica ou um intermediário contrata o trabalho a fação para peque-
nas empresas que, de fato, são quase completamente dependentes da organização
principal, mas localizadas separadamente e legalmente independentes.
A determinação do tamanho está condicionada, entre outros, pelos seguintes
fatores:

a) capacidade de absorção do mercado;


b) tecnologia, capacidade mínima dos equipamentos;
c) disponibilidade de insumos e fatores.

Em primeiro lugar, o dimensionamento da planta deve ter em vista a obtenção


de um programa de produção compatível com a capacidade de absorção do mercado
no horizonte temporal do projeto. A fábrica, em determinado espaço de tempo –
estimado em função do mercado, dos níveis de produção com rentabilidade e da
previsão de retorno do fluxo de caixa operacional –, deverá trabalhar a plena carga,
no tamanho projetado. A convivência com níveis de capacidade ociosa deve ser
entendida, pois, como uma contingência de natureza estratégica – superada
gradativamente com a conquista dos espaços no mercado (demandas de adaptação e

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expansão) – ou como uma decorrência de oscilações da procura, dadas as eventuais


situações conjunturais.
A tecnologia, por seu turno, pode ditar tamanhos mínimos ou padrões decor-
rentes de exigências do processo e da sua operacionalização com rentabilidade. É
preciso notar que a maioria dos equipamentos é fabricada com capacidade técnica de
produção padronizada e modular, o que estabelece condicionantes muitas vezes
rígidos no que tange a sua utilização no conjunto industrial da fábrica.
Neste aspecto, o estabelecimento da capacidade de produção pressupõe a rea-
lização de um estudo prévio de balanceamento de linhas (com o uso, inclusive, de
instrumentos da pesquisa operacional, como a programação linear) de forma a har-
monizar-se toda a equação de produção pretendida. O balanceamento de linhas
consiste no nivelamento com relação a tempos de uma linha de produção ou monta-
gem, distribuindo-se a carga de trabalho de forma equilibrada entre as pessoas e as
máquinas no fluxo do processo produtivo. Objetiva-se, desta forma, estabelecer
uma equivalência no conjunto máquina e homens, evitando-se a formação de “gar-
galos”, reduzindo-se as “esperas”, possibilitando a otimização dos custos, tanto dos
investimentos necessários quanto dos de fabricação. Do balanceamento das linhas
surgem importantes informações para a determinação do regime de produção e do
arranjo físico (lay-out) da fábrica.
Por fim, no estabelecimento da capacidade de produção, cabem examinarem-
se os aspectos relativos à disponibilidade de insumos, fatores e recursos.
Como se sabe, a produção de um determinado produto X decorre de uma
equação de produção, como no caso:

X = MP + MS + MC + ME + U + MO + T

Em que:

X = produto que se pretende fabricar


MP = matérias-primas
MS = materiais secundários
MC = materiais complementares
ME = materiais de embalagem
U = utilidades (energia, água etc.)
MO = mão de obra
T = tecnologia

Sendo o produto uma função de combinação de fatores, dependerá o tamanho


do projeto, notadamente nos casos de rigidez tecnológica, da elasticidade da oferta
destes fatores no mercado. Evidentemente seria impraticável dimensionar-se uma

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TEORIA DO PROJETAMENTO

planta na incerteza dos quantitativos de oferta dos insumos requeridos para a sua
operação normal e continuada.
A disponibilidade de recursos – fator capital – determinará, em última instân-
cia, a capacidade, selecionando-a entre alternativas técnicas e mercadológicas possí-
veis, levando em consideração não somente a disponibilidade pura e simples do
capital, mas, sobretudo, o custo de oportunidade do investimento.
Considerados todos esses aspectos, chegar-se-á ao tamanho ótimo que deve
maximizar a rentabilidade do investimento realizado e evitar os percalços de um
super ou subdimensionamento da planta.

Figura 22 – Condicionantes do tamanho

Fonte: Elaborado pelo autor.

Na elaboração do projeto, seja ele industrial ou de serviços, toda a estrutura


técnica, financeira, econômica e administrativa deve ser dimensionada em função
do tamanho determinado, ou seja, considerando-se a planta operando na escala
máxima, a plena carga (100%). Desta forma, será possível estabelecer-se com preci-
são o ponto de equilíbrio do projeto e proceder-se às simulações necessárias, em
função dos níveis operacionais alternativos que se pretenda praticar, assim como de
eventuais oscilações do mercado.

5.3 O processo produtivo e a tecnologia

O estabelecimento do programa de produção importa necessariamente na op-


ção por um dado processo produtivo decorrente de determinada tecnologia. Cabe,
nesta etapa do projeto, descrevê-lo e justificá-lo.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

O nível desta abordagem varia segundo o gênero da atividade estudada, o seu


porte e seu grau de sofisticação. Existem empreendimentos cujos processos e tecnologias
são de domínio público e de fácil acesso. É o caso, por exemplo, de atividades vincula-
das a alguns segmentos da indústria tradicional e normalmente de pequeno e médio
portes, tais como: artigos de vestuário, madeira, mobiliários etc.
Em outras circunstâncias, a abordagem se torna complexa. É o caso de empre-
endimentos cujos processo e consequente tecnologia estão protegidos por patentes.
Este fato requer a negociação prévia da tecnologia, estabelecendo-se as condições de
sua utilização pela empresa.
Isto posto, nesta seção do projeto são apresentados os seguintes elementos:

a) descrição do processo – fluxograma e filas;


b) balanço de materiais;
c) regime de produção;
d) layout;
e) justificativa da tecnologia;
f) segurança industrial;
g) proteção ao meio ambiente.

5.3.1 Descrição do processo, fluxograma e filas

Consiste na informação detalhada dos procedimentos operacionais que serão


necessários para se transformar os insumos em produtos acabados. Normalmente
esta descrição é ilustrada mediante a utilização de fluxogramas.
O fluxograma (ou flow chart) é uma representação gráfica sequenciada de um
determinado trabalho. Existem diferentes formas de apresentação do desenho de
um fluxo de atividades. Todos, porém, convergem para um mesmo objetivo: forne-
cer uma visão gráfica sintética do sequenciamento do processo produtivo.
Na elaboração dos fluxogramas, utilizam-se, conforme a escola do autor, sím-
bolos representativos das atividades desenvolvidas em cada etapa do processo: blo-
cos retangulares ou símbolos representativos de equipamentos.
Normalmente, trabalha-se no projeto com os fluxogramas descritivos que de-
monstram o curso da ação e os trâmites dos materiais ao longo das etapas do proces-
so. Utiliza-se também o fluxograma vertical, notadamente nos casos de fluxos sim-
ples (este modelo é muito utilizado em organização e métodos (O&M) e Análise de
Sistemas para a descrição de rotinas administrativas).
Os fluxogramas podem ser utilizados para descrever simplesmente o fluxo do
processo produtivo como também para, além desta descrição propriamente dita,
exprimir os coeficientes técnicos da produção. Neste último caso, levam a denomi-

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TEORIA DO PROJETAMENTO

nação de diagramas de bloco (constituindo uma derivação do método de ROY, utili-


zado em pesquisa operacional). O diagrama de blocos, além dos coeficientes técni-
cos, informa a capacidade de produção programada e o tempo total de campanha,
constituindo-se em uma forma gráfica do balanço de materiais.
A elaboração do fluxograma, por fim, constitui um dos primeiros passos para
a elaboração do layout.

Figura 23 – Símbolos tradicionais de um fluxograma6

Fonte: Spinola (2003, p. 224).

(6) Da época inicial do O&M. Não havia computadores, os símbolos eram desenhados com
réguas especiais.

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Figura 24 – Símbolos modernos de um fluxograma

Fonte: Compilação do autor.

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Figura 25 – Fluxograma descritivo: um serviço de entrega

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Fonte: Compilação do autor.
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Figura 26 – Fluxograma descritivo: produção de blocos cerâmicos

Fonte: Spinola (2003), p.225).

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 27 – Fluxograma vertical: fabricação de blocos cerâmicos

Fonte: Spinola (2003), p.228).

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Figura 28 – Diagrama de blocos: serviço de tratamento de efluentes líquidos

Fonte: Spinola (2003), p.230).

Os projetos de prestação de serviços não podem deixar de considerar, em seu


processo produtivo, o fenômeno das filas e consequentemente os métodos que serão
utilizados para reduzir o seu impacto na qualidade do serviço prestado e na satisfa-
ção dos clientes visto que estes constituem o “material em processo”.
A espera é uma contingência inevitável na demanda de serviços, sejam eles
físicos ou virtuais. A questão que se coloca para a empresa é a de como minimizar o
seu impacto negativo na satisfação do cliente visto que este insatisfeito é, potencial-
mente, um cliente perdido.
A atividade de prestação dos serviços deve ser previamente mapeada para que
se possa dimensionar o espaço físico necessário de forma que não seja exagerado e
sujeito a grandes ociosidades e também, ao contrário, não seja diminuto a ponto de
sufocar os clientes.
Tudo depende do volume estimado, do grau da frequência temporal, da natu-
reza da população demandante do serviço e, evidentemente, das suas próprias carac-
terísticas. Alguns serviços mais sofisticados podem trabalhar com um sistema de
hora marcada que, se praticado com rigor e disciplina, elimina a probabilidade de
insatisfação do cliente. Outros não podem limitar o afluxo da clientela sendo sujei-
tos a horários de “pico” e outros a de baixa frequência. Um consultório médico ou
um salão de beleza podem controlar o atendimento da sua demanda ao contrário de
um supermercado ou um banco.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Os processos de serviço podem ser divididos em estáticos e dinâmicos. Os


estáticos preveem o autoatendimento ou o atendimento definido mecanicamente. Já
os dinâmicos implicam numa demanda aleatória, variável e susceptível a procedi-
mentos não padronizados. Tais processos demandam tipos específicos de filas, de
espaços e de estratégias para o atendimento da clientela.

Figura 29 – Modelo de fila única

Fonte: Compilação do autor.


Nota: Muito utilizada em bancos e aeroportos.

Figura 30 – Modelo de fila múltipla

Fonte: Compilação do autor.


Nota: Muito utilizada em laboratórios clínicas.

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5.3.2 Balanço de materiais

É a determinação da relação insumo-produto do projeto em função do tama-


nho adotado e do programa de produção.
Através do balanço de materiais, determinam-se os diversos graus de utiliza-
ção das matérias-primas, secundárias, complementares, de embalagem e utilidades,
necessárias para a obtenção dos diversos níveis da produção previstos. O balanço é
construído a partir da identificação dos requisitos unitários de insumos, ou coefici-
entes técnicos, necessários à obtenção de uma unidade do produto ou de serviço.
Pode se aplicar aos serviços considerando-se como insumo, por exemplo, as horas/
homem despendidas. A partir da sua montagem, define-se toda a demanda de insumos
do projeto em seus diversos níveis operacionais previstos.

Tabela 23 – Balanço de materiais, produção de calçados sociais masculinos

Fonte: Elaborada pelo autor


(*) Comporta também a inclusão de utilidades (energia etc.) não contempladas neste exemplo.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

5.3.3 Regime de produção

Constitui a discriminação da sistemática de funcionamento da indústria ou


empresa prestadora de serviços. A especificação das horas de trabalho/dia (turnos),
dos dias de trabalho/mês e dos meses de trabalho/ano é de grande importância
para determinar os custos da mão de obra.
O regime de produção varia segundo o gênero da atividade industrial. É con-
dicionado pelas exigências do processo e função da tecnologia adotada. Existem
empresas que trabalham pelo sistema de processo contínuo, operando no regime de
24 horas diárias, só paralisando suas atividades (paradas técnicas) para manutenção
(normalmente programadas). Em alguns casos, como os de hospitais, e hotéis, são
remotas estas paradas técnicas e a administração – front office – trabalha pelo sistema
de processo contínuo.

Tabela 24 – Indústria simulada: regime de produção (*)

Fonte: Elaborada pelo autor


(*) Processo contínuo
(**) Média.

No caso de indústrias os volumes de produção podem variar dentro da escala,


mas obrigam a empresa a manter as turmas e os turnos, notadamente as relaciona-
das com o controle do processo e a manutenção. A parada abrupta de uma indústria
do gênero processo contínuo pode provocar graves acidentes e prejuízos. Este é o
caso de atividades vinculadas à química e petroquímica, à siderurgia, etc.
Outros gêneros de atividade possuem processos descontínuos, o que possibili-
ta ajustar-se o regime de produção a outras conveniências estranhas ao processo,
como as de natureza econômica (custos, rentabilidade), mercadológicas, trabalhis-
tas etc.

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Deve-se notar que o regime de produção exerce uma função condicionante


sobre os custos da depreciação das máquinas, instalações e equipamentos e da mão
de obra (o que leva, nos estudos do balanceamento, ao exame das alternativas
opcionais traduzidas pela relação capacidade das máquinas x turnos de trabalho).

5.3.4 Layout

Também conhecido pela denominação de arranjo-físico, o layout é a disposi-


ção, no espaço interno de uma empresa, das máquinas, equipamentos e dos homens
que os operam.
A montagem de um bom layout é indispensável para qualquer tipo de empresa,
seja ela industrial, comercial ou de serviços.
O estudo do layout objetiva a obtenção do máximo de rendimento (eficácia) no
processo produtivo, na prestação do serviços e na comercialização, otimizando-se a
utilização dos tempos e dos movimentos, reduzindo-se custos e propiciando melhor
atendimento aos clientes.
Os tipos mais conhecidos de layout são os seguintes:

a) linear (por produto);


b) funcional (por processo);
c) fixo (posicional).

No layout linear as máquinas são dispostas de acordo com as sequências das


operações. O material em processo transita pelos equipamentos que estão posiciona-
dos fixos. O layout linear pode assumir, na realidade, diversas formas em função da
área disponível na fábrica. Na sua essência, o conceito de linha expressa um sentido
de fluxo contínuo onde os materiais ingressam na máquina inicial da linha, saindo o
produto final nas máquinas de ponta, sem retorno.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 31 – Tipos de layout linear

Fonte: Spinola (2003, p.233)

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Figura 32 – Layout circular

Fonte: Spinola (2003, p.234)

Figura 33 – Layout funcional

Fonte: Spinola (2003, p.235)

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TEORIA DO PROJETAMENTO

No layout funcional ou por processo, as máquinas são agrupadas em seções


onde desempenham funções compatíveis. Os materiais transitam pelas diversas se-
ções, podendo não haver uma sequência de operações.
No layout posicional ou fixo, o produto é o centro do trabalho. Ou seja, as
máquinas, equipamentos e os homens se deslocam em seu entorno, dado que o
produto possui peso e dimensão consideráveis que tornam impraticável o seu des-
locamento dentro de uma fábrica. Exemplo: um navio, um avião, uma plataforma de
prospecção de petróleo no off-shore.
Na elaboração do projeto de layout devem ser considerados os seguintes prin-
cípios:

a) integração;
b) mínima distância;
c) fluxo;
d) uso do espaço cúbico;
e) satisfação e segurança;
f) flexibilidade.

Segundo o princípio da integração, entende-se que homens, materiais e máqui-


nas devem estar organizados de forma harmônica. A fábrica deve operar como uma
unidade, com todas as suas engrenagens entrosadas.
Para respeitar o princípio da mínima distância, layout deve procurar obter a
máxima redução possível nas distâncias entre as diversas estações de trabalho por
onde transita o material em processamento, promovendo destarte um ganho de
tempo na produção.
Seguir o princípio do fluxo é compreender que o fluxo deve ser contínuo, isto
é, o material em processamento deve correr livre na linha sem cruzamentos, esperas
e estocagens intermediárias.
O princípio vinculado ao uso do espaço cúbico determina que o layout deve
prever a maximização da utilização do espaço em todas as dimensões (comprimen-
to, largura e altura). A utilização de mezaninos, por exemplo, pode resolver proble-
mas espaciais que em outras circunstâncias demandariam a construção de um prédio
adicional.
Por outro lado, obedecer ao princípio da satisfação e segurança significa
considerar que o layout deve prever as melhores condições de higiene e segurança
no trabalho, objetivando conseguir o maior grau de produtividade da mão de
obra. Quanto melhores forem as condições ambientais das fábricas, maiores as
serão as probabilidades de obtenção de um elevado rendimento. São necessários

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cuidados especiais com iluminação (efeito estroboscópio)7, ventilação (refrigera-


ção/calefação), ruído, limpeza (higiene das instalações) e meio ambiente (a cor
utilizada na pintura de paredes, equipamentos, etc. deve obedecer às normas técni-
cas específicas. Existem cores quentes e frias, excitantes e relaxantes, etc., e sua com-
petente manipulação produz impactos subliminares sobre o rendimento do
empregado).No que tange especificamente à segurança deve o layout prever, cuida-
dosamente, a localização de equipamentos potencialmente perigosos.
Finalmente, atentar para o princípio da flexibilidade, consiste no estabeleci-
mento de margens (folgas) que possibilitem a realização de alterações futuras na
disposição das máquinas em função de mudanças no processo produtivo.

5.3.5 Tecnologia

Este elemento do projeto constitui o conjunto de informações técnicas especiali-


zadas referentes a um determinado processo de produção. Pode ser objeto de patente,
o que assegura ao seu proprietário os direitos exclusivos de uso e venda nos países em
que esteja registrada. Quando as informações não são objeto de patente, são habitu-
almente denominadas de know-how.8
Como o projeto é o instrumento do processo de tomada de decisão para a
realização de um investimento, é evidente que em diversos níveis, esferas de poder,
circunstâncias e situações a tecnologia envolvida será objeto de análises e questio-
namentos.
A opção tecnológica adotada condiciona o futuro do empreendimento e deve,
portanto, ser justificada, notadamente, quando disponíveis no mercado outras
tecnologias alternativas. Na justificativa, alguns pontos merecem especial destaque.
São estes:

a) compatibilização da tecnologia com as peculiaridades regionais – melhor


utilização de insumos – e com a economicidade do projeto;
b) grau de experiência dos licenciadores comprovado pelo funcionamento de
outras unidades industriais;
c) possibilidade de transferência e de desenvolvimento interno da tecnologia
(abertura da “caixa-preta”);

(7) Impacto de oscilações da iluminação sobre o nervo ótico, produzindo a aceleração do


cansaço visual. Estas oscilações (decorrentes de uma má combinação de luminárias, por
exemplo) não são claramente percebidas a olho nu.
(8) Equivalente, em língua portuguesa, a “conhecimento adquirido”. Refere-se a informações
técnicas não patenteadas. A exclusividade do uso destas informações só pode ser
mantida pelo sigilo (segredo industrial).

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TEORIA DO PROJETAMENTO

d) compatibilidade com a preservação do meio ambiente;


e) grau de atualidade da tecnologia e perspectivas do seu ciclo de vida (obsoles-
cência);
f) qualidade e competitividade dos produtos obtidos.

De modo geral a seleção e a negociação de tecnologia constituem uma área


bastante sofisticada existindo consultorias especializadas que cuidam do assunto.
Não obstante, apresentam-se sobre o tema as considerações seguintes.
A tecnologia para um determinado projeto pode ser obtida a partir das seguin-
tes modalidades:

a) compra;
b) transferência;
c) associação;
d) desenvolvimento.

A compra da tecnologia consiste no processo mais imediatista, apresentando


vantagens de curto prazo, tais como velocidade no processo de transferência, garan-
tia de funcionamento da fábrica, dadas as experiências anteriores, facilidades de
comercialização do produto. Inexistem vantagens de longo prazo. As desvantagens
desta alternativa consistem no desconhecimento dos fundamentos da tecnologia, no
aumento da participação de componentes importados no projeto 6 dada a impossi-
bilidade de interferência da equipe nacional na elaboração da engenharia básica 6 6,
no cerceamento comercial resultante de limitações eventuais de vendas em áreas
geográficas determinadas e na possibilidade de que o processo se torne obsoleto
sem que haja condições de desenvolvimento de novas alternativas.
A compra pura e simples da tecnologia pode caracterizar uma grave situação
de dependência tecnológica.
A transferência de tecnologia consiste na compra da tecnologia com o acesso
da equipe técnica da compradora aos dados do processo, de tal sorte que seja possí-
vel a sua plena assimilação e adequação à realidade nacional.
A associação com o detentor da tecnologia, dependendo do acordo realizado,
pode permitir não somente a assimilação e a transferência da tecnologia original,
mas também o acesso a desenvolvimentos posteriores que possibilitarão, no futuro,
o desenvolvimento de tecnologia própria.
O desenvolvimento de tecnologia consiste na solução ideal, pois possibilitará
a autonomia tecnológica da empresa com reflexos altamente positivos para o desen-
volvimento do país. Assim, deve ser um objetivo perseguido pelas empresas, sendo
relevante em todos os projetos (para fins de avaliação de seu mérito socioeconômico)
as aplicações de recursos em sua pesquisa e desenvolvimento (P&D). Contudo, não

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se aplica à finalidade imediata do projeto, dado o fato de tratar-se de uma alternativa


cujos resultados somente se processarão a longo prazo. Deve-se, para a consecução
desta etapa, optar-se, inicialmente, no projeto, pelas alternativas das alíneas b) ou c)
6 transferência ou associação, respectivamente.
A aquisição da tecnologia consiste em um procedimento técnico sofisticado
que envolve os seguintes estágios:

a) investigações preliminares;
b) identificação das fontes;
c) avaliação e seleção de processos;
d) negociação.

As investigações preliminares são normalmente realizadas mediante consul-


tas a bibliografia especializada (livros, revistas e outras publicações técnicas). Neste
estágio, obtém-se a indicação das diversas fontes detentoras de tecnologia, de suas
aplicações industriais e de seu grau de atualidade.
A identificação das fontes constitui um estágio mais avançado de contato dire-
to com os licenciadores, objetivando a coleta de informações para o processo de
avaliação.
A avaliação e a seleção de processos importam no exame das diversas tecno-
logias e processos com o objetivo de determinar a mais adequada para as exigências
da empresa. Nesta avaliação, são empregados diversos parâmetros de natureza téc-
nica e econômica que conduzem, entre outras, às seguintes indagações:

a) qual o nível de aprovação do processo, quando é utilizado em operação


comercial?
b) as matérias-primas requeridas se adequam às condições de suprimento
disponíveis no mercado de insumos?
c) os produtos obtidos se enquadram nos padrões mercadológicos exigidos
pela empresa e por sua clientela?
d) a tecnologia possibilita a obtenção de escala ideal de produção?
e) existem fábricas funcionando com capacidade próxima à desejada?
f) a capacidade desejada é rentável?
g) o processo é o mais econômico do ponto de vista das inversões e custos?
h) o nível de informações será suficiente para o detalhamento do projeto?
i) são satisfatórias as garantias oferecidas quanto aos requi-sitos e resultados
técnicos do processo?
Concluída a avaliação, dá-se início ao estágio da negociação da tecnologia.
Pela modalidade da transferência, o contrato ou acordo efetuado com o
licenciador pode prever os seguintes níveis de fornecimento das informações:

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TEORIA DO PROJETAMENTO

a) patentes;
b) patentes mais know-how;
c) patentes mais know-how e projeto básico;
d) todo o item c mais assistência técnica no detalhamento, pré-operação e,
eventualmente, o uso de marcas e assistência técnica para comercialização.

As modalidades de pagamento ao licenciador – que interessam ao estudo fi-


nanceiro e econômico do projeto – comportam, entre outros, os seguintes modelos
básicos:

a) pagamento inicial fixo (paid-up royalties)9;


b) pagamento inicial fixo mais importância percentual sobre as vendas;
c) percentual sobre as vendas (running royalties);
d) participação acionária.

A tecnologia será apropriada no projeto como um investimento fixo no caso


dos modelos a e d. No modelo b, apenas no que se refere ao pagamento fixo. Os
percentuais sobre vendas (modelos b e c) serão considerados despesas de vendas no
projeto (custo variável).

5.3.6 Segurança industrial

Este aspecto é, muitas vezes, desprezado no projeto, a despeito da sua impor-


tância, notadamente quando são avaliadas as consequências de sua omissão, tanto
no planejamento quanto na prática.
A questão da segurança no projeto deve contemplar os aspectos constantes do
seguinte esquema:

O controle com a segurança material diz respeito à preservação do patrimônio


da empresa e de terceiros (notadamente a vizinhança). Consiste na adoção das medi-
das técnicas preconizadas pela engenharia de segurança para a prevenção de sinistros,
tais como incêndios, explosões, vazamentos, contaminações, etc. No projeto, deve-se

(9) Licença perpétua, mundial, totalmente transferível, sublicenciável, não revogável,


integralmente paga e livre de royalties para usar o feedback que nos fornece da forma que
possamos entender como apropriada.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

especificar o conjunto de providências preventivas projetadas e o dimensionamento


dos custos correspondentes de equipamentos, instalações e operação.
No que tange à segurança pessoal, deve ser previsto no projeto – sempre que a
empresa vier a possuir mais de cem empregados – a constituição da Comissão Inter-
na de Prevenção de Acidentes (Cipa ).
A depender do grau de periculosidade da indústria, deve ser a Cipa constituída
sem limitação mínima do número de empregados. O projeto deverá conter uma
previsão dos dispêndios necessários à proteção do pessoal interno e externo (visi-
tantes) à fábrica.
É importante ressaltar que o custo de seguro (prêmio) é fortemente influencia-
do em seu cálculo pelo grau de segurança industrial praticado, o que, em termos do
projeto e da realidade empresarial, tem muito a ver com a questão da rentabilidade,
isto sem considerar a importante questão da responsabilidade civil, penal e social da
organização.

5.3.7 Proteção ao meio ambiente

Segundo o Sistema Estadual de Informações Ambientais e Recursos Hídricos


(Seia) a política e a gestão ambiental são estabelecidas em legislação federal (lei fede-
ral nº 6.938, de 31 de agosto de 1981) e em legislação estadual (lei estadual nº 10.431, de
20 de dezembro de 2006 e suas alterações), objetivando avaliar previamente os proje-
tos e as ações com potencial de impacto no ambiente, mediante exame sistemático ao
longo das suas distintas fases de planejamento, implantação e operação.
A matéria ambiental tem competência concorrente, sendo o Estado competen-
te para legislar sobre o tema, resguardadas as competências exclusivas da União.
Cabe ao município o licenciamento de empreendimento ou atividade de impacto
local, obrigando-se a cumprir, para o exercício dessa competência, as condições de
dispor de infraestrutura administrativa na área ambiental, de conselho municipal
de meio ambiente e de equipe técnica especializada.
A regularização ambiental no Estado da Bahia é de responsabilidade do Insti-
tuto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), órgão executor da Política esta-
dual de meio ambiente. A lei estadual nº 10.431/2006, posteriormente alterada pela lei
12.377 de 28 de dezembro de 2011, estabelece competências, critérios e diretrizes
relacionados com a regularização ambiental no Estado da Bahia e a melhoria dos
instrumentos de controle ambiental (licença, fiscalização e monitoramento).
A regularização ambiental se faz mediante a integração dos procedimentos de
licenciamento ambiental, autorizações ambientais, de controle florestal, outorga de
uso de recursos hídricos e a anuência do órgão gestor de unidade de conservação, por
meio da formação de processo único que contemple todos os atos administrativos
necessários à regularização ambiental do empreendimento ou atividade, por fase.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Como forma de institucionalizar a integração das políticas estruturantes de


meio ambiente e de recursos hídricos e a modernização e qualificação do processo
de gestão ambiental na Bahia, foi sancionada, no mês de dezembro de 2011 a lei nº
12.377/2011 alterando a 10.431/2006, trazendo novas modalidades de licenciamento:
a Licença de Regulamentação (LR), concedida para regularizar atividades ou empre-
endimentos em instalação ou funcionamento, mediante recuperação ambiental e a
Licença Ambiental por Adesão e Compromisso (LAC) concedida eletronicamente
para empreendimentos de pequeno e médio portes.
Além destas, as licenças podem ser de diferentes tipos, a depender da fase,
impacto e tipologia do projeto: prévia (LP), de implantação (LI), prévia de operação
(LPO), de operação (LO), de alteração (LA), unificada (LU), de regularização (LR),
ambiental por adesão e compromisso (LAC), além das autorizações ambientais.
As autorizações ambientais são concedidas pelo Inema para a implantação ou
operação de empreendimentos e atividades, pesquisas e serviços de caráter tempo-
rário, para a execução de obras que não resultem em instalações permanentes, para
a requalificação de áreas urbanas subnormais, para o encerramento total ou a
desativação parcial de empreendimentos ou atividades e para a execução de obras
que possibilitem a melhoria ambiental.
As licenças previstas poderão, ainda de acordo com o nova lei, ser concedidas
por plano ou programa, ou ainda, de forma conjunta para segmento produtivo,
empreendimentos similares, vizinhos ou integrantes de polos industriais, agrícolas,
turísticos, entre outros, desde que esteja definida a responsabilidade legal pelo con-
junto de empreendimentos ou atividades e todos deverão fazer parte do Sistema
Estadual de Informações Ambientais da Bahia (Seia).
Em alguns tipos de projetos as providências solicitadas são simples. Em outros
são complexas e exigem a elaboração de um estudo de impacto ambiental (Rima).
Tudo depende da natureza do empreendimento.
As atividades empresariais, de modo geral, podem ser responsáveis por uma
das seguintes fontes de poluição:

Figura 34 – Tipos e fontes de poluição

Fonte: Elaborada pelo autor.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

5.4 Mobilização dos fatores de produção

Neste estágio do estudo técnico, analisam-se os mecanismos de suprimento


necessários à consecução do programa de produção proposto. São especificamente
abordados:

a) o suprimento de insumos;
b) os estoques mínimos;
c) a mão de obra necessária.

5.4.1 Insumos

Os insumos são os elementos que entram no processo produtivo (input). Para


fins deste estudo compreendem as matérias-primas, os materiais secundários, os
materiais complementares, os materiais de embalagem e as utilidades.
No projeto, classificam-se como matéria-prima os insumos principais que par-
ticipam em peso, substância e indução para a obtenção do produto final. A figura 35
ilustra esta relação:

Figura 35 – Insumo x Produto

Fonte: Elaborada pelo autor.

Os materiais secundários são acessórios às matérias-primas para a produção


do bem projetado. Assim, a linha, o botão e a entretela são materiais secundários
que, associados ao tecido, dão origem à camisa. O irganox, carbonal, álcool kh-17,
álcool l-08 e a hidroquinona são materiais secundários que, associados ao MVC,
geram o PVC.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Os materiais complementares participam da obtenção do produto, são consu-


midos no processo, mas não se integram física ou quimicamente a este. Exemplo: a
lixa, na indústria de madeira e mobiliário, a “alma de aço” na indústria de calçados,
os catalisadores na indústria química.
Os materiais de embalagem acondicionam os produtos no seu transporte entre
a produção e o consumo.
As utilidades são acessórias ao processo e possuem características técnicas es-
peciais. É o caso, por exemplo, da energia elétrica, do vapor, da água bruta, da água
clarificada, do ar de instrumento, etc. na indústria química. Em alguns casos, como
no das indústrias eletrointensivas, uma utilidade pode ser classificada como maté-
ria-prima. Exemplo: a energia elétrica nas indústrias de cloro/soda e de alumínio.
Ao estudar-se o suprimento de insumos no projeto devem-se examinar os
seguintes aspectos:

a) origem;
b) fornecedores;
c) condições de fornecimento;
d) fluxo da oferta;
e) preços.

A identificação da origem (distância) dos insumos considerados é importante


para esclarecer os aspectos relativos à logística industrial – suprimentos e estoques
mínimos necessários, assim como os custos de transporte (fretes).
O exame dos fornecedores e das condições de fornecimento tem por objetivo
esclarecer:

a) a solidez das fontes de suprimento dos insumos;


b) as peculiaridades técnicas do suprimento que possam afetar a estrutura de
produção ou financeira (prazos de entrega e regimes de cotas, por exem-
plo);
c) as peculiaridades financeiras, condições de pagamento que poderão se re-
fletir no dimensionamento do capital de giro próprio.

A análise do fluxo da oferta contribui para um correto dimensionamento do


regime de produção e dos estoques mínimos necessários. Quando o fluxo se refere
a materiais de produção contínua, ininterrupta ao longo do ano, as atividades
industriais transcorrem dentro de um padrão rotineiro de normalidade. É o caso,
por exemplo, de materiais como os combustíveis, a madeira, o ferro, o aço, os
insumos químicos, etc.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Figura 36 – Materiais de oferta permanente

Fonte: Rosana Leal, 2006.

Contudo, se o fluxo é condicionado por sazonalidades (safras, estações de moda,


etc.), altera-se substancialmente, o projeto (regime de produção, volume de esto-
ques, etc.), que passa a assumir uma característica especial. Os estoques devem ser
consideravelmente elevados para suprir a empresa no período de entressafra.

Figura 37 – Materiais de oferta cíclica

Fonte: Rosana Leal, 2006.

Por fim, o pleno conhecimento dos preços e de seu comportamento no merca-


do de insumos torna-se indispensável para determinar-se a estrutura de custos
operacio-nais do projeto. Os quantitativos de insumos necessários para viabilizar-se
o programa de produção foram obtidos no balanço de materiais. Dispondo-se dos
preços, torna-se factível determinar os valores anuais que serão despendidos com a
sua aquisição nos níveis operacionais considerados.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

5.4.2 Estoques

O projeto deve conter a estimativa dos estoques mínimos necessários ao


funcionamento normal da empresa. Estes estoques devem ser dimensionados de
tal forma que não permitam a ocorrência de interrupções no fluxo operacional
nem, tampouco, pecando pelo excesso, sobrecarreguem os custos financeiros do
empreendimento.
No projeto industrial, são normalmente calculados os seguintes estoques:

a) de matérias-primas, secundárias, complementares e de embalagem;


b) de produtos em elaboração;
c) de produtos acabados.

Os estoques de matérias-primas, secundárias, complementares e de embalagem


podem ser determinados, levando-se em consideração os seguintes elementos:10

a) tempo transcorrido entre a formulação do pedido e a entrega dos insumos;


b) margem de atraso médio no atendimento e imprevisibilidade;
c) quantidade consumida no tempo expresso nas alíneas a + b;
d) quantidades encontradas em c, vezes os respectivos preços unitários.

Exemplo:

Se o tempo despendido entre a formulação do pedido e a entrega dos insumos


é de 45 dias e se, historicamente, a margem de atraso oscila em torno de 15 dias, o
estoque mínimo deve ser formado para atender a um consumo de 60 dias.
Os estoques de produtos em elaboração referem-se aos insumos que se en-
contram em trânsito, no processo produtivo da fábrica. Para o seu cálculo, conside-
ram-se:

a) o tempo gasto pela empresa para transformar os insumos em uma unidade


de produto acabado;
b) o custo dos insumos;
c) o custo dos insumos (b) multiplicado pela quantidade destes consumida no
ciclo da produção (a).

(10) Existem, na bibliografia da administração de materiais outros processos mais refinados


de cálculo do estoque, os quais – a despeito de não serem usuais – podem ser aplicados
no projeto.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Exemplo:

Uma empresa tem um ciclo de produção (a) de três dias para um determinado
lote de produtos. Sendo o custo dos insumos envolvidos (b) para a produção deste
lote igual a R$ 500 000,00 o estoque de produtos em elaboração (c = a x b) será de R$
1.500.000,00.
O estoque de produtos em elaboração assume um peso significativo nos em-
preendimentos cujo ciclo de produção é longo. O caso de um curtume, por exemplo.
O estoque de produtos acabados é determinado em função da política de
comercialização da empresa. Corresponde a uma quantidade mínima operacional
de produtos fabricados e que funcionam como uma reserva estratégica de suprimen-
to da área de vendas. O valor deste estoque deve ser calculado a custos de fabricação
(excluídos dos preços dos produtos todas as despesas e a margem de lucro).
Estoque implica diretamente em custo. Quanto menor o seu tamanho menor
será a imobilização financeira e os custos financeiros da empresa. Além disso, me-
nor será o espaço requerido para guardar os materiais. Logo, um armazém menor e
mais limpo, menor a manutenção e manuseio, diminuindo probabilidade de que-
bras e avarias, e ainda menores gastos com pessoal; menor obsolescência, giro mais
rápido, estoques mais novos; e menores riscos frente às flutuações de preços, para
citar algumas vantagens.
A administração de materiais evoluiu bastante na era cibernética. O uso dos
sistemas trazidos pela tecnologia da informação aposentaram antigos controles
manuais, sistemas de fichas como o kardex, etc. As palavras mágicas da moderna
administração são hoje a logística (apesar de ser antiga e herdada do estamento
militar), o just in time (quando os fornecedores entregam materiais e peças no
momento em que uma fábrica necessita deles, eliminando, assim, os dispendiosos
estoques), o kanban (gestão visuano controle de produção e estoques) e o
gerenciamento da cadeia de suprimentos (supply chain management – SCM), entre
outros. Segundo alguns estudiosos, a competição no mercado global não ocorre
entre empresas, mas entre cadeias de fornecimento. A gestão da logística e do
fluxo de informações em toda a cadeia permite aos executivos avaliar pontos for-
tes e pontos fracos na sua cadeia de fornecimento, auxiliando a tomada de decisões
que resultam na redução de custos, no aumento da qualidade, entre outros, aumen-
tando a competitividade do produto e/ou criando valor agregado e diferenciais
em relação à concorrência. Os resultados que se esperam da utilização de sistemas
que automatizem o SCM são:

a) manter o menor estoque possível;


b) reduzir custos;
c) aumentar a eficácia;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

d) melhorar os tempos de ciclos da cadeia de fornecimento;


e) obter o produto certo, no lugar certo, na quantidade certa e com o menor
custo;

Nos projetos de serviços o cálculo dos estoques também é importante. Imagi-


ne-se um hospital, um hotel, uma empresa de transporte aéreo ou uma rede de fast-
food do tipo McDonald’s.
Nos projetos industriais, por exemplo, devem ser considerados os seguintes
tipos de estoques:

a) de matérias-primas, secundárias, complementares e de embalagem;


b) de produtos e de peças de reposição;

O primeiro caso refere-se a empresas que trabalham com alimentos como é o


caso dos hotéis, das redes de fast-food, restaurantes, etc. A despeito de constituírem
serviços possuem atividades de produção dos alimentos o que as aproximam de
uma atividade industrial.
No segundo caso, a empresa utiliza produtos acabados em seu processo de
prestação de serviços. Medicamentos e outros componentes, nos casos de hospitais e
clínicas, além de peças de reposição em empresas aéreas, lembrando que, em ambos
os casos, lida-se também com alimentos.
Nos projetos de serviços, recomenda-se que a otimização dos estoques deva
ser obtida pelo modelo de reposição semiautomático ou modelo matemático de
reposição. Ou seja: pelos parâmetros do ponto de ressuprimento, os quais possibili-
tam mantê-los em níveis permanentemente ajustados em função dos volumes de
consumo, do prazo de reposição, da importância operacional e do valor de cada
material. Essas ferramentas, estão disponíveis na literatura que trata da administra-
ção de materiais. Segundo Martins e Campos (2000), recebem os nomes de reposição
contínua, lote padrão, modelo do estoque mínimo, modelo do ponto de reposição.
Todos eles emitirão o pedido de compras com quantidade igual ao lote econômico.
De acordo com Souza (2010, p.7) “o modelo de reposição semiautomático ou
modelo matemático de reposição é o mais indicado para as empresas prestadoras de
serviço e, consequentemente, para a adoção da logística interna nessas organiza-
ções”. Em sua opinião “os métodos do lote padrão (lote econômico) e Just in Time
(JIT)” são essencialmente adotados por sistemas produtivos industriais. “O primei-
ro considera que a demanda é totalmente previsível e estável e o segundo propicia
a diversificação da linha de produção a qualquer momento.”
A vantagem do método de reposição semiautomático, segundo o autor
precitado, é que “leva em consideração o conhecimento da demanda, o imprevisível
que gera a necessidade de estoques de segurança, o tempo entre o recebimento e a

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

expedição da mercadoria e o foco da organização que mantém um mix de produto


com pouca variabilidade”.
Por fim, afirma Souza (2010, p.9) que nas empresas de serviços,

[...] a qualidade dos serviços oferecidos passa pela flexibilidade do atendi-


mento, mas as bases de suas operações internas são iguais, tendo pouca
variabilidade de produto. As mercadorias consumidas nas realizações das
tarefas quase sempre são as mesmas e existe a questão da imprevisibilidade,
características pertencentes ao modelo de reposição semiautomática.

5.4.3 Mão de obra

O projeto comporta a seguinte estrutura da mão de obra:

• mão de obra operacional ou direta;


• mão de obra de apoio ou indireta.

A mão de obra operacional é aquela empregada na produção e nas atividades


de marketing e vendas. Estes contingentes estão envolvidos com as atividades-fim da
organização (produzir x vender).
A mão de obra de apoio está envolvida com as atividades de suporte, tais como
as relativas a administração e finanças.
O dimensionamento da mão de obra necessária ao empreendimento é condicio-
nado pelos seguintes fatores: modelo de organização proposto para o empreendi-
mento, seu tamanho e sua amplitude mercadológica (espaço territorial de atuação),
as exigências do processo de produção e do regime operacional.

5.5 Estudos da localização

Os estudos da localização das atividades industriais e de serviços objetivam


determinar a melhor alternativa espacial para a implantação de um empreendimen-
to. Entende-se como melhor alternativa aquela que possibilite a maximização de
resultados, sejam eles privados (lucro) ou sociais (benefícios/custos).
Esses estudos têm sido negligenciados por empresários e projetistas e, por isso
mesmo, cobram altos preços com o insucesso e até a falência de empreendimentos
mal localizados.
Talvez os problemas ocorram pela complexidade da questão, do ponto de vista
técnico, e das demandas político-regionais, sobretudo quando se trata de projetos de
grandes dimensões.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Esta seção abordará separadamente os aspectos relativos à localização indus-


trial e à localização das atividades de serviços, abordando os seguintes tópicos:

a) orientação locacional;
b) fatores locacionais;
c) transportes;
d) mão de obra e energia;
e) fatores técnico-locacionais;
f) mercado.

5.5.1 Orientação locacional

A indústria, tomando por base os fatores regionais de orientação, em busca da


maximização dos seus resultados deverá seguir uma das seguintes orientações
locacionais11:

a) orientação para as matérias-primas;


b) orientação para o mercado;
c) orientação para a mão de obra;
d) orientação para a energia;
e) orientação ubíqua.

Este esquema é consagrado pela lei do menor esforço nas teorias locacionais
apresentadas nos manuais de projetos. Na verdade, ele pode não funcionar em di-
versas circunstâncias. A sua justificativa consta dos tópicos seguintes.

5.5.2 Fatores locacionais

No plano técnico, Mota (1986, p.9,) ao examinar os fatores locacionais, ensina


que a influência desses, como forças de atração, sobre a atividade industrial,

(…) se exerce na prática, de dois modos distintos: 1°– no sentido de “orien-


tar” as indústrias para aqueles pontos geográficos em que as variações nos
custos de transporte ou nos custos do processo industrial sejam mais
vantajosas para as empresas; 2°– no sentido de “aglomerar” ou de “dis-
persar” a atividade industrial dentro do espaço geográfico. […]

(11) Segundo Weber, (apud Mota, 1968, p.16).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Na prática, tal classificação se torna bastante árdua em face da variedade e


multiplicidade dos fatores, particularmente, quando se têm em vista os diversos
tipos de indústrias. Uma indústria de celulose ou de carnes em conserva, por exem-
plo, não estaria na dependência, apenas, da matéria-prima e do mercado, mas,
ainda, da existência de água industrial na região. Indústrias que utilizem materiais
perecíveis dependem, consideravelmente, da umidade do ar. Indústrias cujos resí-
duos sejam nocivos ao bem-estar da comunidade necessitam de eliminá-los ade-
quadamente. Há indústrias, também, que por exigirem instalações amplas, têm a
sua localização subordinada à disponibilidade e ao preço da terra. Isto sem levar
em conta aqueles “fatores intangíveis”, como o bem-estar social ou as atitudes da
comunidade, que, ordinariamente, influenciam as decisões dos governos ou dos
empresários.

Assim, a localização das indústrias é influenciada pelos seguintes fatores:

a) regionais;
b) técnico-locacionais;
c) especiais;
d) motivacionais.

Os fatores regionais compreendem os custos de transporte dos materiais e


insumos e dos produtos acabados e seus subprodutos, os custos relativos de mão de
obra e energia além do mercado. Dependentes da vantagem geográfica que possuem,
estes fatores funcionam como forças de atração industrial.
Já os fatores técnico-locacionais destacam os impactos produzidos nos custos
empresariais pelas economias e deseconomias de escala, as economias e deseco-
nomias de urbanização e as economias e deseconomias de aglomeração. A aglome-
ração, segundo Mota (1966, p.10) constitui relações técnico-locacionais desde que
certas indústrias “têm suas atividades vinculadas a outras indústrias, porquanto os
produtos acabados, semiacabados ou “residuais” de umas são produtos intermediá-
rios ou matérias-primas de outras”.
Os fatores especiais abrangem as disponibilidades relativas em recursos
edafoclimáticos, como a água, o clima, a terra, os serviços e a compatibilidade com
os resíduos industriais.
Por fim, entre os fatores motivacionais são levados em conta os fatores tangí-
veis 6 tais como os recursos de capital e de crédito, os incentivos governamentais e
o peso dos impostos e taxas 6 e os fatores intangíveis, não mensuráveis, tais como
o bem-estar social, as atitudes das comunidades e aspectos psicológicos, pessoais e
comportamentais dos empresários.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 38 – Fatores locacionais para ramos industriais selecionados

Fonte: Weil, 1969, p.300.

5.5.3 Os transportes

teoria weberiana da localização apresenta conceitos importantes para a orien-


tação dos procedimentos locacionais na elaboração de projetos. Tais conceitos, que
continuam válidos na atualidade, foram reforçados com as contribuições de Lösch e
Isard e foram transcritos por Fernando Mota em seu livro Manual de localização indus-
trial.12 Referem-se ao que se entende especificamente por custos de transporte; tipos de
matérias-primas utilizadas pelas indústrias e características dos produtos industriais.
Os custos de transporte, no enfoque weberiano, representam uma função do
peso a ser transportado (p), da distância a ser percorrida (d) e do frete a ser pago (f). Podem
ser expressos pela identidade seguinte:

ct = p x d x f

(12) Edição da APEC de 1966, há muito tempo esgotada e não reeditada.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

De acordo com os pressupostos de Weber (apud Mota, 1968, p.22) podemos


considerar apenas o peso e a distância, desde que sejam levados em conta os conceitos
de peso real e de peso ideal.13
Ao considerar o peso e a distância na determinação dos custos do transporte. é
necessário, também, qualificar outros fatores que os influenciam através do sistema
de tarifas, tais como:

a) os tipos de transporte – ferroviário, rodoviário, fluvial, marítimo ou aéreo;


b) a extensão e a direção no uso do transporte, que podem alterar as bases das
tarifas de acordo com o volume das mercadorias a ser transportado e/ou as
distâncias, bem como dar origem, algumas vezes, aos chamados fretes de
retorno;
c) a topografia, o clima e a estrutura dos sistemas regionais de transporte, que afetam
as bases das tarifas ou ocasionam custos adicionais de carga e de descarga;
d) a qualidade das próprias mercadorias a serem transportadas, as quais podem ter
maior ou menor transportabilidade;
e) o grau de periculosidade das rotas a serem percorridas que afeta bastante os
custos dos seguros.

Os custos de transporte não se limitam, apenas, aos custos de frete: neles, tam-
bém estão incluídos fatores complementares como os prêmios de seguros, taxas da
previdência social, tarifas alfandegárias, impostos, etc. É por isso que, utilizando a termi-
nologia de Ohlin, Hoover substitui a designação custos de transporte por custos de
transferência (transfer costs).
Na prática, todos estes fatores complementares que influenciam os custos de
transportes devem ser considerados, atentamente, pelos empresários, sobretudo
porque deles depende, algumas vezes, a capacidade competitiva das empresas em
função da sua localização.

(13) O peso ideal (ideal weight) objetiva, ajustar as diferenças de tarifa, de modo a permitir
estimar os custos de transporte em função do peso e da distância. Na realidade, há
tarifas discriminatórias para certos produtos; e, se essas diferenças de tarifas não
forem ajustadas em relação aos pesos dos produtos, tornar-se-á impossível a análise
locacional de acordo com o modelo weberiano. Admitamos, que, para uma tonelada de
produto acabado (C), necessite uma indústria de uma tonelada de M1,e de uma tonelada
de M2, (matérias-primas localizadas e móveis).Teríamos, então, os “pesos reais” de C,
M1, e M2, equivalentes a uma tonelada. Supondo-se, porém, que as tarifas de transporte
sejam de R$ 0,15 por cem quilômetros, para M1 de R$ 0,10 por cem quilômetros, para
M2, e de R$ 0,30 por cem quilômetros, para C, teríamos de computar os “pesos ideais”
de M1, M2, e C. Fazendo-se de M1 um “ponto de referência”, obteríamos os seguintes
resultados: peso ideal de M1, uma tonelada; peso ideal de M2, 0,67 t. (ou seja, 100/
150); peso ideal de C, duas toneladas (ou seja, 300/150) (MOTA, 1968, p.211).

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Visto que os custos de transporte influenciam diretamente o deslocamento das


matérias-primas e dos produtos e os custos da mão de obra e da energia são essenci-
ais no processo de transformação, a localização industrial, segundo um enfoque
econômico, pode ser determinada a partir da seguinte expressão algébrica,

CTP = f (Ct, Cme, Cn)

em que:
CTP = custo total da produção industrial
Ct = custo total dos dispêndios com transporte (frete)
Cme = custo total dos dispêndios com mão de obra e energia
Cn = demais custos de produção

A partir da expressão anterior pode-se concluir que sendo o custo de transporte


maior que o custo total dos dispêndios com mão de obra e energia (Ct > Cme), a
localização da indústria será orientada pelas alternativas geográficas ditadas pelos
custos de transporte.
Numa situação oposta, em que o custo total dos dispêndios com mão de obra
e com energia é maior que o custo de transporte (Cme > Ct), a localização da
indústria será orientada pelas alternativas geográficas ditadas pelos custos da mão
de obra e energia.
Entretanto, nos casos em que o custo total dos dispêndios com mão de obra e
energia vier a igualar-se ao custo de transporte (Cme = Ct), a localização da indús-
tria será orientada pelas alternativas geográficas ditadas pelos outros custos.
Quando se considera que os custos de transporte (Ct) referem-se aos fretes de
matérias-primas e produtos acabados, tem-se que:

Ct = Ct1 + Ct2

ou seja, os custos de transporte de materiais (Ct) decompõem-se em Ct 1 que


corresponde aos custos dos transportes dos insumos e a Ct2 que representa os custos
de transporte dos produtos acabados e seus subprodutos.
Nos casos em que Ct > Cme a indústria será orientada para as fontes de maté-
rias-primas (Ct1) ou para o centro de comercialização (Ct2), de acordo com o predo-
mínio de Ct1, ou Ct2.
Quando se decompõem os custos totais dos dispêndios com mão de obra e
energia (Cme), tem-se que
Cme = Cm + Ce

sendo Cm os custos de mão de obra e Ce os custos de energia.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Nos casos em que Cme > Ct, a indústria será orientada para a mão de obra ou
para a energia, em função do predomínio de uma das duas variáveis, com referência
a Cm.
No que se refere aos tipos de matérias-primas utilizadas pelas indústrias,
na sua análise da localização industrial, Weber distingue, inicialmente, dois ti-
pos de materiais empregados pelas indústrias: materiais ubíquos e materiais loca-
lizados.
Os materiais ubíquos, ou ubiquidades, segundo a terminologia weberiana, são
aqueles que podem ser encontrados em qualquer lugar. Este conceito é ainda desdo-
brado por Weber em dois outros. O de ubiquidade absoluta, quando a material abunda
em uma determinada região, como a madeira na Amazônia, e o de ubiquidade relativa
como o quartzo na região nordestina14.
Os materiais localizados são aqueles que somente são encontrados em áreas geo-
gráficas bem definidas. Geralmente, os minerais ou produtos agrícolas, correspondem
a esta classificação. Exemplo: petróleo, minério de ferro, ouro, diamantes, cacau,
café, cana de açúcar.
Weber também classifica os materiais como brutos e puros. Os materiais brutos
são os que perdem peso (weight-loosing materials) no processo produtivo, seja total ou
parcialmente, enquanto os materiais puros incorporam todo o seu peso ao produto.
Como exemplo dos materiais brutos podem ser citados: o calcário na fabricação do
cimento, a madeira na fabricação de móveis, a borracha na fabricação de pneus.
Quanto aos materiais puros, a pedra utilizada para britamento ou a prata e o ouro
usados na fabricação de joias15.
Neste aspecto da distância x peso, deve-se destacar o problema da substituição
que pode ser considerado como uma possibilidade de escolhas alternativas entre o
uso de diferentes matérias-primas ou suas combinações, destas no processo produ-
tivo. Este é o caso do Japão e da Itália, por exemplo, que substituindo minério de
ferro pela sucata puderam instalar suas indústrias siderúrgicas sem disporem de
jazidas deste minério. Assim sendo, além da ocorrência geográfica e da perda de
peso, em termos de matérias-primas deve-se considerar a sua dispensabilidade e a sua
mobilidade.
Em relação às características dos produtos industriais e sua influência sobre os
custos de transporte, a principal característica é o grau de transportabilidade dos bens.
Este conceito, introduzido por Hoover (1948), pode ser definido como o resultado

(14) O conceito de ubiquidade, segundo Weber, só deve ser utilizado quando se tratam de
recursos regionais e sua distribuição espacial.
(15) Esta classificação de Weber é feita para atender aos propósitos de sua análise, em que
as variáveis peso e distância, supondo-se os demais fatores constantes, são vistas,
como determinantes da localização de uma indústria. Esta classificação, contudo,
não é satisfatória para determinar a melhor localização de uma indústria.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

(GT) da razão entre os custos de transporte ou de transferência por unidade do


produto (Ctpu) e o valor unitário do produto (Vup).

(Ctpu) ÷ (Vup) = GT ↑↓

Desde que o produto possua um GT ↑ de alto valor, devemos considerá-lo


como mais transportável. Por outro lado, produtos deterioráveis, perigosos ou frágeis
são, naturalmente, menos transportáveis desde que se admita, eles, um baixo valor
unitário GT ↓.
A determinação das diferenças de frete mediante o cálculo do grau de transporta-
bilidade (GT ↑↓) é importante para a aferição da capacidade competitiva de indústrias
localizadas em diferentes regiões.
Segundo Mota (1966, p.46, (n.10)

Como diferenças de frete, temos em vista as variações que os custos de


transporte ocasionam no preço de entrega das mercadorias. Estas variações
se acham na ordem inversa da transportabilidade dos produtos. E é por isso
que os produtos mais transportáveis estão em condições de ser despacha-
dos por tipos de transporte mais velozes como o aéreo, apesar dos fretes
mais elevados. Na prática, portanto, a satisfação das exigências competiti-
vas de pronta entrega das mercadorias depende, consideravelmente, da
transportabilidade das mesmas. (Grifos do autor)

5.5.4 A mão de obra e a energia

Na análise desses elementos que também compõem os fatores locacionais


regionais cabe formularem-se duas questões:

a) quais as indústrias que, estrategicamente, devem ser orientadas para as


regiões ou áreas em que seja mais vantajosa a utilização da mão de obra ou
da energia?
b) até que ponto estas vantagens regionais (ou locais) se podem constituir em
diferenciais mercadológicos para as indústrias?

No passado, a preocupação com a determinação locacional privilegiava os


custos, até mesmo porque Weber, um dos maiores expoentes neste campo do saber,
tomava como base o interesse das empresas pela sua minimização. Lösch, por seu
turno, considerava que o objetivo das empresas era o de maximizar os seus lucros.
Isto posto, na atualidade e no contexto de uma economia que migra de um
paradigma industrial para outro baseado no conhecimento, desenvolvimento e uti-

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lização de novas tecnologias, deve ser inserido, no fator mão de obra, o papel do
capital humano como importante atrativo locacional.
Os diferentes níveis salariais praticados no país, a despeito do salário mínimo,
estabelecem consideráveis diferenças regionais. Isto é mais acentuado quando se
trabalha com o conceito de capital humano. Entre as regiões, por exemplo, na Nor-
deste e na Sudeste do Brasil ocorrem vantagens e desvantagens nos custos do proces-
so industrial como função da qualidade da mão de obra.
Os ganhos e vantagens em custos podem ser eliminados por diversos fatores
culturais e comportamentais que afetam sensivelmente o desempenho dos trabalha-
dores. Isto ocorre na produtividade da mão de obra e na sua capacidade (e disposi-
ção) para o aprendizado. As empresas de construção civil, por exemplo, preferem
recrutar sua mão de obra não qualificada (peões) no interior (sertão) em detrimento
da mão de obra litorânea. Pesquisas empíricas comprovaram que, enquanto a pri-
meira, forjada no agreste, é mais batalhadora e disposta a aprender, a segunda,
criada na beira do mar, é mais “descansada” e resistente a mudanças.
Os salários aviltados também contribuem para a redução do valor social do
trabalho e levam a mão de obra à displicência e ao desprezo pelo emprego com uma
consequente redução da sua produtividade.
Por isso, deve-se considerar se tais diferenças regionais são reais, se podem ser
modificadas e se as diferenças podem ser eliminadas. Muitas vezes, a mão de obra
mais barata é, também, menos eficiente, ou requererá a realização de despesas adicio-
nais de treinamento e que lhe sejam assegurados meios de subsistência, de habita-
ção, etc.
As indústrias podem ser classificadas como intensivas de capital ou intensivas
de mão de obra em função dos seguintes índices:

1 – K/Mo
2 – CMo/CP

Em que:
K= investimento total da empresa
Mo = mão de obra total
CMo = custo total da mão de obra
CP = custo total da produção

Quanto mais alta for a relação capital/mão de obra (K/Mo), mais a empresa
será intensiva de capital, ou seja, mais cara foi a geração de um emprego. Quanto
mais baixa esta relação maior será a intensidade em mão de obra, quer dizer, os
empregos gerados são mais baratos. A expressão CMo/CP mede o peso dos dispên-
dios com mão de obra em relação aos dispêndios totais da firma. Logo as empresas

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TEORIA DO PROJETAMENTO

intensivas de mão de obra apresentarão um índice elevado de participação de CMo


em relação à CP.
A quantidade de empregos gerados pelas indústrias se tem reduzido substan-
cialmente, ao longo do tempo, em virtude do progresso tecnológico, que tem con-
duzido à automação gradativa dos processos industriais. Mesmo assim, alguns gê-
neros industriais, pelas peculiaridades dos seus processos produtivos, continuam
intensivos de mão de obra. Este é o caso das indústrias de confecções, de calçados e
de tantas outras em que a automação não conseguiu substituir as etapas manufa-
tureiras.
A energia, do ponto de vista da física e segundo o Aurélio (2010), é a propri-
edade de um sistema que lhe permite realizar trabalho. A energia pode ter várias
formas (calorífica, cinética, elétrica, eletromagnética, mecânica, potencial, quími-
ca, radiante), transformáveis umas nas outras, e cada uma capaz de provocar fenô-
menos bem determinados e característicos nos sistemas físicos. A disponibilidade
de energia é essencial para todas as atividades industriais. Desta forma, as empre-
sas de modo geral só se localizam onde este insumo é disponível em quantidade e
qualidade.
As principais fontes de energia utilizadas pelas indústrias, além da elétrica,
são derivadas dos combustíveis oriundos de fontes não renováveis, como o petró-
leo, o gás e o carvão, e de fontes renováveis como o etanol. Existem, também, fontes
alternativas de geração de eletricidade como a solar e a eólica
Algumas empresas são eletrointensivas, como a do alumínio, e exigem uma
oferta em volume elevado. Atualmente, não há indústrias que não gastem energia
na fabricação de seus produtos. Mas quando o consumo é pequeno, o custo da ener-
gia é menos importante que a constância do fornecimento e a possibilidade de
expressão da empresa sem limitação do consumo de força.
Em virtude da dificuldade para transporte, o combustível sólido teve impor-
tância primordial como fator de localização desde o início da revolução industrial
até o começo da preponderância dos combustíveis líquidos e gasosos, na década de
1960. Estes últimos são facilmente transportados por oleodutos e gasodutos. Assim
sendo, novas zonas industriais surgiram nos pontos servidos por linhas de forneci-
mento desses insumos, de maneira que a concorrência do combustível sólido só é
possível nos portos.
A política ambiental brasileira recomenda a localização das indústrias nas
proximidades das fontes de suprimento de combustíveis líquidos, de carvão ou de
petróleo, objetivando reduzir os riscos inerentes a sua transportabilidade por lon-
gas distâncias. Consequentemente, a localização em zonas mais próximas aos portos
constitui uma alternativa bastante utilizada para o recebimento desses combustíveis
com menores custos de transporte e em condições de maior segurança.

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5.5.5 Fatores técnico-locacionais

Os fatores técnico-locacionais16 possuem uma grande capacidade de influir so-


bre a distribuição espacial das indústrias. Destaque-se que, enquanto os fatores regi-
onais antes analisados determinam a distribuição, com referência a várias regiões
ou a várias áreas, os fatores técnico-locacionais apenas se relacionam com uma de-
terminada região ou uma determinada área. Por este motivo, dizem respeito à con-
centração ou à dispersão da atividade industrial, numa região ou numa área, segun-
do a sua influência como forças aglomerativas ou desaglomerativas.
Segundo Mota (1966), os fatores regionais seriam causas primárias que influen-
ciariam a distribuição espacial das indústrias, enquanto os fatores “técnico-locacionais”
seriam causas secundárias que influenciariam a redistribuição espacial das indústrias.
A teoria da aglomeração, segundo o modelo weberiano, refere-se a concentra-
ções espaciais da indústria, decorrentes do fato de que, para uma determinada quan-
tidade de produção, será possível obterem-se, pela agregação de diferentes unidades
produtoras em um lugar comum de produção, custos mais baixos por unidade de
produto (MOTA, 1986, p.81).
A aglomeração industrial ocorre a partir de economias de escala, das economi-
as de localização e das economias de urbanização.
O aumento da escala de produção de uma indústria numa determinada locali-
zação, e seus efeitos motrizes sobre indústrias complementares a jusante e a mon-
tante da sua planta, constitui-se o estágio preliminar da aglomeração industrial.
Também contribuem para a aglomeração a reunião de empresas da mesma indústria
em um determinado local por conveniências de natureza logística ou técnica ou
como consequência da dimensão econômica da localização (população, renda, pro-
dução ou riqueza).
A economia de escala responde pela obtenção de custos de produção mais
baixos e o local da aglomeração possibilita que eventuais acréscimos de custos de
transporte, para as diversas unidades, sejam absorvidos pela redução dos custos
decorrentes dos ganhos de produtividade e complementaridade.
As economias de localização se referem às vantagens que resultariam para vári-
as firmas de uma única indústria, em localizarem-se numa só região ou numa só área.
Essas economias são bem exemplificadas pelos distritos industriais “marshalianos”
que operam numa estrutura de especialização flexível.
Ocorrem economias de localização, quando várias firmas de uma única indús-
tria se associam em uma só região ou em uma só área e “fundem” as suas unidades
individuais de produção, de diferentes escalas, numa só unidade de produção de
escala maior. Na verdade estas várias firmas, pela associação, complementaridade e

(16) Denominados por Mota (19???) teoria da orientação.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

integração dentro de uma cadeia produtiva, formam arranjos produtivos que lhes
assegura capacidade de barganha (bargaining ability).
Também se podem avaliar as economias de localização tendo-se em vista as
chamadas “indústrias ancilares”, as quais, independentemente das suas escalas de produ-
ção, podem obter melhores vantagens econômicas de uma posição locacional mais
próxima às indústrias motrizes. Sob este aspecto, a análise da aglomeração, encara-
da de um modo empírico, se enquadra, também, na programação do desenvolvi-
mento regional.
Nas economias de urbanização, a cidade ou a metrópole é considerada como
uma localização de dimensão econômica mais ampla, com as vantagens econômicas
das suas externalidades. As cidades, na medida de seu desenvolvimento técnico e
científico, podem produzir grandes vantagens locacionais para a indústrias do ramo
de tecnologia da informação. Um aspecto das economias de urbanização que inte-
ressa, de perto, aos programas de desenvolvimento regional se refere, principal-
mente, às possibilidades de entrosar-se a teoria da localização industrial com o
planejamento urbano. Com efeito, as “economias de urbanização” dependem, con-
sideravelmente, da própria estrutura das cidades, sobretudo no tocante ao “uso da
terra” e às facilidades dos serviços públicos, tais como transportes, comunicações,
energia, águas e esgotos, etc. Desde que estes fatores deixem de ser considerados,
atentamente, nos planos de urbanização ou reurbanização, eles se transformarão em
fatores desaglomerativos, como decorrência de uma alta nos valores da terra e dos
aluguéis, nos custos de tempo, de transporte, etc. Daí a importância prática do
“zoneamento” e da criação dos perímetros industriais, com adequadas implemen-
tações de ordem urbanística, como condições necessárias à expansão industrial das
cidades. Problemas de igual natureza emergem, também, quando se consideram as
áreas metropolitanas, tendo-se em vista a melhor distribuição espacial dos centros
suburbanos ou das cidades-satélite.

5.5.6 Mercado

Afinal, o objetivo das empresas consiste no binômio produzir e vender, cujos


termos são mutuamente excludentes, de modo que o mercado é um fator determinante
da localização de qualquer empresa.
Em qualquer regime do mercado, seja ele de oligopólio ou de concorrência
monopolística e num contexto de globalização, cada vez mais acentuada em função,
entre outros fatores, da revolução nos transportes e do progresso tecnológico trazi-
do pela tecnologia da informação, a microeletrônica, robótica etc., vão se tornando
superados muitos conceitos da teoria da localização construídos no início e ao longo
do século XX.

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Não obstante a delimitação das áreas de mercado para uma ou mais empresas
industriais, a localização continua dependendo da inter-relação entre os custos de
produção, custos de transporte e o sistema de preços, sendo estes últimos condicio-
nados pela existência, ou não, de mecanismos e práticas restritivas à concorrência.
Essas práticas podem ser horizontais, as que reduzem a intensidade da concorrência
afetando as interações entre as empresas ofertantes de um mesmo mercado, abran-
gendo, por exemplo, a combinação de preços, a cooperação entre concorrentes e a
construção de barreiras à entrada. Ou podem ser práticas restritivas verticais, as que
limitam o escopo das ações de dois agentes que se relacionam como compradores e
vendedores ao longo da cadeia produtiva ou nos mercados finais, incluindo condu-
tas como a discriminação de preços e a imposição de listas de preços por parte dos
fabricantes sobre distribuidores.

5.5.7 Localização dos serviços17

Cada tipo de serviço estabelece as condições para a sua localização. Não


obstante, destaca-se que o aspecto de localização tem importância especial em todas
as atividades de prestação de serviços, pois, pelo fato de não se poderem armazenar
ou transportar serviços, é necessário que estes, na maioria das vezes, localizem-se
próximo do cliente.
Segundo Christaller (1936) determinados serviços possuem suas localizações
condicionadas por fatores tais como:

a) limiar da procura;
b) alcance do bem.

Entende-se por limiar da procura o mínimo de procura que compense a exis-


tência da oferta de um serviço em dado local, isto é, que garanta sua viabilidade. Já
o alcance do bem corresponde à distância e ao custo máximo que o comprador está
disposto a percorrer/suportar, para adquirir ou utilizar o serviço. É o limite crítico
do lado da procura. O alcance pode ser considerado de natureza eminentemente
social, sobretudo quando as preocupações se situam ao nível das funções destinadas
a satisfazer as necessidades básicas.
Ainda quanto ao alcance de um bem, deve-se observar o grau de intensidade
da necessidade do consumidor. Caso as necessidades sejam frequentes, o alcance é
reduzido, pois, quanto mais distante o serviço, maior será o custo de transporte que
o consumidor terá que suportar. Exemplos: padaria e açougue. Quando as necessida-

(17) Sobre a discriminação dos serviços, ver Titulo II deste estudo.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

des são raras o alcance é grande. O custo de oportunidade compensa o deslocamento.


Exemplos: médico especialista, teatro.

Figura 39 – Condicionantes dos serviços

Fonte: Elaborado pelo autor.

Estes conceitos de limiar da procura e alcance do bem variam consoante o tipo


de bem ou a sua função.
Em geral, a decisão de localização obedece a um processo hierárquico que
passa por fases. É o caso da educação, da saúde, da segurança pública entre diversos
outros. Isto quer dizer que a localização destes serviços em determinado lugar de-
pende da relação entre o limiar da sua procura e a ordem deste serviço na sua escala
hierárquica.
A educação, por exemplo, constitui um serviço que é prestado em três níveis no
Brasil, a saber:

a) ensino básico em escolas básicas;


b) ensino secundário em escolas secundárias;
c) ensino superior em universidades.

Cada um deles reflete um limiar de procura e, consequentemente, uma opção


locacional. Na política governamental de educação pública, no Brasil, as pequenas
vilas do meio rural e cidades de menor porte recebem instalações e pessoal para
oferecer o ensino fundamental. Cidades médias são contempladas com unidades do
ensino médio e as grandes cidades com campi” das universidades.

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A prestação de serviços de saúde é composta por serviços básicos, que são de


utilização frequente e envolvem menores custos, e de serviços complexos. Estes
últimos, por envolverem maior tecnologia e menor densidade espacial de demanda,
estão sujeitos a economias de escala, e a distribuição da oferta apresenta-se espacial-
mente diferenciada. Assim sendo, estes serviços são prestados segundo uma hierar-
quia que pode ser assim concebida:

a) posto de saúde;
b) centro de saúde;
c) hospital;
d) hospital com uti.

A instalação desses serviços em determinado lugar depende do limiar de sua


procura.
Não são somente os aspectos econômicos que influenciam a localização dos
serviços. Além da proximidade dos mercados visados, outros fatores também são
importantes para a decisão de localização de determinado serviço, como a proximi-
dade de insumos e a disponibilidade de mão de obra. Uma lista com os principais
aspectos relacionados às operações a serem levados em conta é apresentada abaixo,
para cada uma das etapas da hierarquia de decisões de localização:

a) região:

– estabilidade política,
– aceitação cultural do serviço,
– adequação do clima e temperatura ao serviço,
– infra-estrutura regional;

b) país:

– legislação e subsídios,
– custos da mão de obra,
– barreiras a entrada (importação),
– infraestrutura interna,
– estabilidade política e indicadores econômicos,
– Mercado consumidor,
– Disponibilidade de tecnologia e infraestrutura de comunicações e trans-
portes,
– Disponibilidade de insumos;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

c) área ou cidade

– proximidade do mercado consumidor,


– indicadores psicográficos e demográficos e suas tendências,
– disponibilidade de mão de obra qualificada,
– infraestrutura de energia, comunicação e transportes,
– disponibilidade de fornecedores e serviços de suporte,
– atitude da comunidade em relação ao serviço,
– preferência da mão de obra gerencial e operacional,
– localização da concorrência;

d) local específico

– critérios competitivos mais importantes,


– facilidades de fluxos de pessoas e bens,
– densidade de fluxo das pessoas passantes,
– dados psicográficos e demográficos das pessoas passantes e suas tendên-
cias,
– disponibilidade de estacionamento,
– localização dos concorrentes,
– custo das instalações,
– infraestrutura local,
– disponibilidade de serviços de suporte,
– potencial de expansão.

Diferentes tipos de serviços darão pesos diferentes aos diversos critérios listados.
Lojas de serviço, por exemplo, como agências bancárias, restaurantes, lojas,
salões de cabeleireiro, teatros, cinemas, que combinam operações de alto contato
com alto volume de clientes servidos, devem localizar-se prioritariamente perto de
seus clientes. Alguns desses serviços de consumo podem ter interesse de se localizar
próximo de seus concorrentes, para que possivelmente recursos sejam compartilha-
dos (como, por exemplo, nas praças de alimentação dos shopping centers, onde os
diferentes restaurantes compartilham as mesas) ou porque desta forma mais clien-
tes possam ser atraídos.
Outros tipos de serviços podem necessitar de rápida comunicação, como em-
presas de serviços financeiros, que necessitam estar em contato com mercados e
investidores do mundo inteiro. Isto pode fazer com que a localização deste tipo de
empresa confira peso maior à infraestrutura de comunicações na escolha de local.
Já outras empresas podem depender de estar próximas de uma eficiente rede de
transportes, como as empresas transportadoras e mesmo os entrepostos atacadistas.

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Vale salientar que há várias formas e técnicas de modelagem matemática que


podem auxiliar no processo decisório da localização, já que existem outros aspectos
importantes a observar na localização de serviços:

a) acesso:
– acesso conveniente até rodovias e rampas de acesso,
– servido por transporte público;

b) visibilidade:
– visto a partir da rua,
– local sinalizado, boa identificação;

c) tráfego:
– volume de tráfego na rua que possa indicar um potencial,
– impulso às compras: estar na rota de trânsito das pessoas,
– ausência de congestionamento no tráfego que possa ser um obstáculo:
por exemplo: estação do corpo de bombeiros;

d) estacionamento:
– estacionamento adequado;

e) expansão:
– lugar para expansão;

f) ambiente:
– as imediações devem complementar o serviço,
– externalidades;

g) segurança:
– o local deve assegurar tranquilidade à clientela;

h) competição:
– economia de aglomeração;

i) governo:
– ausência de restrições de zoneamento,
– zona de menores impostos e taxas.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Denominam-se knowledge intensive business services (KIBS) ou ‘serviços em-


presariais intensivos em conhecimento’ aqueles serviços técnicos que normal-
mente agregam valor para as empresas que o recebem. Eles integram o que
alguns autores classificam como setor terciário superior ou terciário motor por-
que, independentemente do serviço prestado, contribuem para incrementar as
atividades empresariais pelo aporte de inovações e tecnologias que elevam a
produtividade e, consequentemente, a competitividade dos negócios. Os KIBS
compreendem os serviços técnicos prestados às empresas (a tecnologia da infor-
mação (TI) é um exemplo). Além desses, existem também os serviços à produção,
serviços de intermediação, ou seja, destinados a outras empresas, consultoria de
administração, agências de publicidade, bancos de investimento, companhias de
seguros, sociedades de gestão de ativos financeiros, escritórios de contabilidade,
empresas de advocacia e consultórios médicos cujos inputs e outputs são intangí-
veis, tratando-se de atividades com forte incorporação de informação e capital
intelectual.
Esses serviços são consumidores de informação. Compram, transformam e
vendem informação, têm uma natureza que é baseada na utilização intensiva de
informação e conhecimento. Essas trocas implicam custos de comunicação e de tran-
sação, pelo que tais empresas tendem a localizar-se em áreas que minimizem seus
custos, proporcionando-lhes não só economia externa como as de aglomeração.
O fácil acesso à mão de obra qualificada e às fontes de informação explicam por
que estes tipos de atividades preferem se localizar nos grandes centros urbanos. O
triângulo de localização seguinte (Figura 40) demonstra as opções que se apresen-
tam às empresas que sofrem a atração de três polos.
Segundo Polesi (2009, p.234), no triângulo da Figura 40, os vértices I L e M
correspondem respectivamente aos pontos em que os custos de informação (I), a
mão de obra especializada (L) e o acesso ao mercado (M) alcançam o nível mais
baixo. São pontos de atração locacional para as empresas de serviços e, conforme a
natureza dos serviços em causa, podem-se observar diversas situações tais como as
que se descrevem a seguir.
É possível ocorrer que as atividades cujo serviço final é pouco sensível à
distância e sendo os seus custos de produção muito sensíveis à diversidade dos
subcontratados estabelecidos na proximidade, considerem o polo (I) o mais atrati-
vo. Trata-se de atividades exportáveis, como concepção e produção de softwares,
produção de filmes e programas de televisão, sociedades de investimento e de
gestão de carteiras de títulos serviços cuja prestação não exigem necessariamente
que uma pessoa se desloque e a centralidade influencie menos as escolhas de
localização.
Já as empresas que possuem mercados mais extensos, cujos produtos sejam
intensivos em informação e exportados em grande escala, tenderão a se dirigir mais

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para polo (M), ou seja, para cima, na hierarquia urbana (cidades grandes), à medida
que o seu mercado se estende e que a sua função de produção assenta numa rede cada
vez mais diversificada de serviços especializados.
Nos casos em que a produção dependa de fontes especializadas de mão de obra
cujas possibilidades de substituição são pequenas, L será o polo determinante da
localização. Este é o caso das atividades com importante conteúdo técnico – pesquisa
& desenvolvimento, laboratórios e atividades que se baseiam em recursos huma-
nos, móveis atraídos por uma qualidade de vida especifica – quadros de especialistas
seniores, pesquisadores, artistas, etc.

Figura 40 – Orientação locacional de serviços

Fonte: Polesi (2009, p.234, figura 7.10)

Por outro lado, para um escritório cujos custos de comunicação do serviço


final ao cliente sejam elevados (ex. gabinete de contabilidade) ou qualquer servi-
ço que exija numerosos contatos e reuniões com o cliente, o custo de acesso ao
mercado é determinante, pelo que este tipo de atividade localiza-se em função da
procura: portanto, uma distribuição espacial que se ajusta ao modelo dos lugares
centrais, seguindo este critério uma parte importante das empresas do terciário
superior.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Polèse refere-se ao exemplo de Paris como uma cidade que ocupa o primeiro
lugar nos três cantos do triângulo. Assim, para a sede social de um grande banco
francês, é o ponto central do mercado, o ponto que oferece o máximo de serviços
especializados e o lugar em que grande número de quadros prefere viver.
Os fundamentos do economista alemão Johann Heinrich von Thünen (1783/
1850), famoso pelas suas contribuições à teoria da localização no campo da
geografia rural-urbana, foram aplicados pelo urbanista argentino-americano
William Alonso (1933/1999) na construção, em 1964, de uma teoria conhecida
como bid rent theory 18 segundo a qual o preço e a procura por imóveis aumentam
em função da distância que os separam do Central Business District (CBD)19. Por
isso, os diferentes usuários do espaço irão competir uns com os outros pela
localização mais próxima do centro da cidade, pois, tanto nos serviços quanto
no varejo comercial, os empresários desejam maximizar sua lucratividade, es-
tando mais dispostos a pagar mais por um imóvel próximo ao CBD e menos para
os imóveis mais distantes desta área. O montante que estão dispostos a pagar é
chamado bid rent cuja existência pode ser demonstrada em uma “curva de alu-
guel oferta”, com base no raciocínio de que o espaço mais acessível, geralmente
no centro, é o mais caro.
O núcleo interno do CDB é muito valioso para as empresas comerciais (em
especial grandes lojas de departamentos e magazines), pois é tradicionalmente o
local mais acessível para uma grande parte da população. Volume de público (isto é,
maior concentração de clientes) é essencial para lojas de departamento, que reque-
rem um volume de negócios considerável.
Os shopping centers, que reúnem as vantagens das economias de aglomeração
e escala, podem fugir do CBD justamente por oferecerem, em um mesmo espaço,
as alternativas de comércio e serviços associados ao lazer. A indústria, por moti-
vos ambientais e operacionais, normalmente se localizam no núcleo externo da
cidade. São os denominados “perímetros industriais” onde existe mais área dispo-
nível para fábricas, que contam, muitas vezes com externalidades criadas pelo
governo. 20
As residências populares tendem a ser localizadas nas áreas periféricas das
cidades onde o preço da terra é menor. Esta tendência depende de circunstâncias
topográficas. Em alguns locais, dependendo das condições paisagísticas do territó-
rio (litoral, por exemplo) o espaço é disputado por residências das classes de renda
mais elevada.

(18) Teoria da renda proposta.


(19) Zona empresarial central.
(20) ALONSO, William Location and land use: toward a general theory of land rent.
Boston: Harvard University Press, 1964.

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Figura 41 – As funções “bid rent” e o uso do solo na cidade


monocêntrica

Fonte: Alonso, 1964.

A localização dos estabelecimentos de varejo comportam ainda amplas gene-


ralizações empíricas sobre sua estrutura espacial, especialmente no contexto de uma
região metropolitana. O nível per capita de vendas é maior no centro da cidade do
que nas zonas periféricas. Esse padrão confirma a força gravitacional (centrípeta) da
grande cidade que tende a atrair compradores das zonas vizinhas. Um exemplo
interessante ocorre na região onde hoje se localiza o Shopping Center Iguatemi em
Salvador. A estação rodoviária da cidade, que recebe todo o fluxo de viajantes
oriundo dos municípios e de outros estados, integrou-se via um sistema de passare-
las com o shopping, contribuindo notavelmente para a dinâmica comercial da área.
Muitas pessoas, oriundas das cidades próximas a Salvador (notadamente na sua
região metropolitana), tomam o ônibus em suas cidades de origem, vêm fazer com-
pras em Salvador e embarcam de volta para as suas localidades. Contudo, na medida
em que a distância torna-se mais longa, o custo de atrito21 opera no sentido de
desencorajar maiores viagens ao centro e age como barreira para proteger outros

(21) No caso o “custo de atrito” se compõe de custos de transporte e as despesas de


permanência na circunstância em que a distância imponha pernoites.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

centros da concorrência do centro da cidade. Os fatores de distância, portanto, asse-


guram vendas maiores para as zonas suburbanas periféricas e para cidades menores
na mesma área e para aquelas que criam centros de varejo para o seu próprio interi-
or. A observação mostra também variações regulares de acordo com a distância para
as diferentes categorias de comércio. O centro principal se especializa em mercado-
rias de consumo generalizado, dominando completamente os subúrbios vizinhos
no que se refere a bens duráveis, roupas, joias, etc. Para as vendas de alimentos,
jornais, cigarros e artigos semelhantes, o padrão é muito mais regularmente distri-
buído.
Corrêa (2002, p.296,298) apresenta uma contribuição muito útil para o processo
de seleção das alternativas de localização das empresas prestadoras de serviços,
como pode se verificar nas figuras 42 e 43 seguintes.

Figura 42 – Seleção de alternativas locacionais

Fonte: Corrêa (2002, ,p.296, figura 7.20)

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Especificamente, na existência de alternativas, pode-se selecionar o local da


instalação da unidade de serviço mediante um processo mais sofisticado como é o
caso do método de ponderação dos fatores locacionais recomendado por Corrêa:

a) criar lista dos fatores locacionais relevantes;


b) designar um peso para cada fator que reflita sua importância relativa para
o alcance dos objetivos da empresa;
c) criar uma escala para cada fator (por exemplo, de 1 a 5 ou de 1 a 100);
d) avaliar cada fator, atribuindo uma nota, conforme a escala criada ;
e) para cada fator, multiplicar a nota obtida em (d) pelo peso designado em
(b) e somar as notas obtidas pelos fatores de cada localização avaliada;
f) escolher a localização que apresentar o melhor resultado, considerando
também eventuais critérios qualitativos (CORREA, 2002, p.297).

O autor citado apresenta, na Figura 43 seguinte os seus critérios para os pesos


a serem atribuídos aos fatores e para as notas a serem dadas a cada um dos fatores (no
caso 5 = excelente; 4 = bom; 3 = médio; 2 = ruim; 1 = inaceitável). Todos estes critérios
podem ser ajustados de acordo com o entendimento do projetista. O mesmo se
refere aos fatores locacionais onde podem ser acrescentados requisitos como: segu-
rança; disponibilidade de estacionamento e outros, conforme já apontados em pági-
nas anteriores desta seção.

Figura 43 – Planilha de avaliação

Fonte: Corrêa (2002, p. 298 fig. 7.2.1)

237

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TEORIA DO PROJETAMENTO

5.6 Programa de investimento

A programação dos investimentos do projeto econômico-financeiro funda-


menta-se nas conclusões dos estudos elaborados pelos projetos de engenharia bási-
ca, arquitetônico, de construção civil, de instalações, de segurança industrial e de
proteção ao meio ambiente. Esta condição implica na seguinte sequência de procedi-
mentos:

Compõem o programa de investimentos do projeto, entre outras, as seguintes


rubricas:

a) Imobilizações técnicas
– terreno e melhorias,
– construções civis, edificações,
– instalações,
– máquinas e equipamentos,
– tecnologia,
– veículos,
– móveis e utensílios;

b) gastos de implantação e pré-operacionais


– organização e eventualidades,
– despesas fiscais e de transportes,
– despesas de montagem,
– estudos, projetos e consultorias,
– administração do projeto,
– despesas financeiras,
– pré-operação.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Contabilmente, as imobilizações técnicas (a) correspondem ao ativo imobili-


zado, enquanto os gastos de implantação e pré-operacionais (b) equivalem ao ativo
diferido. A soma dos dois, (a+b), no projeto, fornece o investimento fixo, que repre-
senta o ativo permanente.
Cada uma das rubricas consideradas no esquema anterior deve, ao constar do
projeto, ser analisada e justificada. De modo geral, deverão todas apresentar o se-
guinte “rol” de informações:

a) descrição das principais características;


b) especificações técnicas;
c) justificativa da escolha;
d) prazos de aquisição, execução ou entrega;
e) custos;
f) condições e períodos de pagamento.

Estas informações fundamentarão o estudo financeiro do projeto e a consequente


elaboração do seu fluxo de caixa (cronograma de desembolsos, usos e fontes dos
recursos). Especificamente, comportam alguns comentários.
A rubrica imobilizações técnicas contém sete características que serão
explicitadas a seguir.
A primeira delas, terreno e melhorias, refere-se à área física destinada à im-
plantação da indústria (no caso a fábrica e suas instalações complementares) ou
determinados tipos de serviços, como são os casos de hospitais, hotéis, garagens, etc.
Observa-se que muitas atividades de serviços aproveitam imóveis preexistentes
procedendo apenas a adaptações, quando necessárias.
A seleção do terreno – dependendo do gênero da indústria – exige a execução
de um cuidadoso trabalho de microlocalização, em que devem ser observados os
condicionantes internos e externos ao empreendimento que se pretende implantar.
São condicionantes internos aqueles que dizem respeito às exigências
operacionais do empreendimento, tais como restrições técnicas dos equipamentos e
do processo (uma indústria que fabrica computadores, por exemplo, deve manter
uma distância considerável das linhas de transmissão de energia em alta voltagem)
e as restrições da construção quanto ao tipo do solo (problemas de fundações). Tam-
bém as exigências logísticas, tais como a necessidade da disposição de um grande
pátio de estocagem, de acesso direto ao mar, de terminais marítimo e/ou ferroviá-
rio, etc. condicionam, desde o projeto, a escolha do terreno.
São condicionantes externos aqueles que estão vinculados às normas, à siste-
mática e à realidade operacional do conjunto de provedores e de fiscalizadores
externos ao empreendimento, tais como: a oferta de infraestrutura física (sistema
viário, energia, água, telecomunicações, etc.), as exigências dos organismos respon-

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TEORIA DO PROJETAMENTO

sáveis pelo planejamento urbano, as normas de postura municipal e de localização


industrial, as exigências de cuidados com a saúde pública, a proteção ao meio ambi-
ente e a posição relativa dos núcleos urbanos e os seus potenciais vetores de expan-
são, destacando-se a perspectiva de convivência harmônica com a população perifé-
rica. Muitas vezes, a indústria atrai um núcleo habitacional para o seu entorno e,
com o passar do tempo, este núcleo se desenvolve, diversificando seus interesses em
relação à fábrica, passando a exigir a sua transferência para outra área. Por outro
ângulo, uma localização de fábrica distante da habitação dos empregados implica
em custos elevados de transporte da mão de obra.
Cabe, por fim, na seleção do terreno, prever as disponibilidades espaciais que
assegurem a expansão física da indústria. Na definição do investimento comporta
que se inclua no custo de capital para a aquisição do terreno com a área de ampliação
incluída, devendo- se, contudo, explicitar e justificar os critérios adotados para o seu
dimensionamento.
As melhorias referem-se, normalmente, aos custos de preparação do terreno
(terraplenagem) de forma a deixá-lo apto para as obras de construção civil.
Aparece em segundo lugar a rubrica construções civis e edificações que com-
preende a previsão de todas as obras abrangidas pela área de engenharia civil
requeridas pelo empreendimento de acordo com as especificações do projeto de
engenharia básica. Refere-se às obras de infraestrutura física, quando a empresa não
foi beneficiada por externalidades criadas pelo setor público (em distritos industri-
ais, por exemplo), as edificações da fábrica, escritórios, instalações complementares
e à infraestrutura física interna, de exclusiva competência do empreendimento.
À previsão, corresponde uma série de projetos arquitetônicos e de engenharia,
que devem constituir anexos de um projeto econômico-financeiro no qual esta ru-
brica deve merecer um comentário com as características de memorial descritivo.
Um bom projeto prioriza, na construção civil, as condições de solidez, segu-
rança e funcionalidade, eliminando, rigorosamente, os dispêndios com obras
suntuárias, que somente contribuem para elevar os custos fixos da empresa e redu-
zir a sua flexibilidade econômica no mercado.
No detalhamento dos custos de capital desta rubrica, além das informações
precedentemente solicitadas, devem-se explicitar os valores que serão investidos:

a. nas áreas de fabricação;


b. na área de administração.

Esta informação é importante para subsidiar, no estudo econômico, o cálculo


da depreciação, dos seguros e dos custos de fabricação.
A terceira rubrica instalações abrange as inversões em obras relativas a insta-
lações hidráulicas e elétricas (quando especiais e não incluídas na rubrica construção

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

civil), de proteção ambiental (que, a depender do gênero de atividade, pode reque-


rer um projeto específico), de segurança contra sinistros e combate a incêndios, de
refrigeração e de telecomunicações.22
Sob a quarta rubrica, máquinas e equipamentos, devem ser especificados as
máquinas e equipamentos (nacionais e estrangeiros), fornecendo-se-lhes os princi-
pais dados técnicos. Em projetos de grande porte e complexidade, remete-se esta
questão para os projetos de engenharia básica e de detalhamento (se for o caso).
Em sua quinta rubrica tecnologia, o projeto abordará, se for o caso, os aspectos
tecnológicos do empreendimento, justificando as escolhas feitas e apontando as
vantagens sobre outras escolhas possíveis.
De igual modo, na rubrica veículos (a sexta), sua aquisição deve ser justificada
em função de sua compatibilização com as necessidades operacionais da empresa.
Os organismos de fomento – que financiam projetos industriais – colocam, normal-
mente, restrições à inclusão de veículos de passeio nesta rubrica.
A última das características das imobilizações técnicas, os móveis e utensíli-
os, engloba todo o conjunto de mobiliário da indústria necessário ao seu funciona-
mento normal. Esta é uma rubrica importante que, normalmente, deixa de ser con-
siderada com rigor na maioria dos projetos. Tal fato decorre da predominância das
preocupações com a engenharia de produção e da ausência de um planejamento
administrativo atuante nos estágios de elaboração dos estudos.
A segunda rubrica, gastos de implantação e pré-operacionais, compreende
um conjunto de despesas essenciais à execução do projeto. São determinadas por
orçamentação ou verba, de acordo com as possibilidades de sua mensuração. De
modo geral, incluem-se em sete categorias a seguir explicitadas.
A primeira dessas categorias de despesas relaciona-se com organização e
eventualidades, isto é, com a criação de uma verba estimada para a cobertura de
dispêndios de natureza jurídico-administrativa, gerados pelo projeto, tais como re-
gistros, publicações, administração de contratos, divulgação, organização empresa-
rial, etc. Esta rubrica é aceita numa faixa percentual que pode variar nos limites de 5
a 10% do valor das imobilizações técnicas, quando inexistir orçamento. Nos casos de
projetos de implantação, justifica-se o seu cálculo no limite máximo – dada a novida-
de, a imprevisibilidade do empreendimento –, mas que deve ser o mínimo, quando
se tratar de projetos de ampliação. Esta rubrica constitui-se, também, numa reserva
para a cobertura de gastos imprevistos.
A segunda categoria refere-se às despesas fiscais e de transportes e cobre as
despesas com impostos e despesas alfandegárias, fretes e seguros, incidentes sobre
as máquinas e equipamentos, instalações, veículos, móveis e utensílios. A propósito

(22) Dependendo do projeto, tanto a segurança industrial como a proteção ao meio-ambiente


poderão requerer rubricas específicas.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

do registro destacado destes gastos no projeto, transcrevem-se, a seguir, as observa-


ções de Iudícibus, Martins e Gelbcke (1995, p. ???) a respeito de “bens comprados de
terceiros”:

Além do valor do elemento em si, devem ser incluídos os fretes, seguros,


impostos, comissões, desembaraço alfandegário, custos com escritura e ou-
tros serviços legais, bem como os custos de instalação e montagem. Os encar-
gos financeiros decorrentes de empréstimos e financiamentos para a aquisição
de bens do ativo imobilizado não devem ser incluídos no custo dos bens
adquiridos, mas lançados como despesas financeiras (ou ativo diferido, se em
fase de construção). Um ponto a ser salientado é que, pela legislação do
Imposto de Renda, parágrafo 4º do art. 283 do Regulamento do Imposto de
Renda (Decreto no 1.041, de 11.01.94), os impostos pagos na aquisição de
bens do ativo permanente, salvo os pagos na importação de bens que serão
sempre acrescidos ao custo de aquisição, poderão, a critério da empresa, ser
registrados tanto como custo de aquisição quanto como despesas operacionais
do período. Para efeito de Contabilidade, isto não é válido, já que tais tributos
são parte do valor aplicado na aquisição do ativo. As próprias autoridades
fiscais, todavia, emitiram o Parecer Normativo CST n. 02, de 23.01.79, pelo
qual interpretam que somente se enquadra nesta categoria – em que é permi-
tida a opção – o imposto de transmissão na aquisição de imóveis, o que
minimiza, portanto, o problema contábil. Assim, os demais impostos pagos
na compra devem integrar o custo, exceto quando ensejarem crédito fiscal.

Ocorre que a metodologia que preside o projeto é de natureza econômica, não


coincidindo, necessariamente, com a metodologia do registro contábil. Assim, des-
tacam-se estas despesas, objetivando avaliar o seu impacto nos custos de capital do
projeto e fornecer os elementos necessários para os cálculos de isenções fiscais (se e
quando houver). Quando da montagem da estrutura dos custos operacionais (no
estudo econômico), deve-se seguir o preceito contábil para não produzir distorções
no cálculo dos custos de fabricação e das despesas.
A terceira rubrica, despesas de montagem, refere-se aos gastos com a monta-
gem industrial da fábrica, devendo-se adotar, no que se refere a esta rubrica, a
mesma sistemática aplicada à anterior.
A rubrica da quarta categoria de despesas, estudos, projetos e consultorias,
refere-se a todos os gastos com os estudos, pesquisas e projetos efetuados para a
realização do empreendimento. Os mais significativos são:

a) projeto econômico-financeiro 23;


b) projeto de engenharia básica;

(23) Existe, no Brasil, uma praxe de calcular-se o custo deste projeto em termos percentuais
(até 2% do Investimento Total). Trata-se de um procedimento inadequado que leva,
frequentemente, a distorções.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

c) projeto de engenharia de detalhamento;


d) projeto arquitetônico;
e) projeto de construção civil;
f) projetos de instalações;
g) projeto organizacional;
h) projetos especiais24.

Todos estes projetos devem ter seus custos determinados por orçamentação.
A administração do projeto é a quinta rubrica: nela se incluem os dispêndios
com a administração da execução do projeto em todos os seus estágios (do momento
de aprovação do projeto à inauguração da fábrica). Os seus custos são orçamentados.
A sexta rubrica, despesas financeiras na execução do projeto, cobre os seguin-
tes dispêndios:

a) juros de financiamentos;
b) dividendos.

No curso da execução de projetos, notadamente aqueles de grande porte cuja


implantação ocorre em prazos de até cinco anos, deverão ocorrer pagamentos de
juros pelo financiamento de longo prazo concedido. Admite-se o refinanciamento
desses juros (incluindo-os no investimento) visto que o projeto ainda não produziu
resultados para a sua amortização. O mesmo procedimento ocorre quando, para
financiar um projeto, faz-se a captação de recursos mediante a emissão de ações. No
caso, devem ser computados apenas os dividendos mínimos obrigatórios relativos
às ações preferenciais. Não se contemplam as ações ordinárias do grupo controlador
(exceto em simulação, para efeito de cálculo da rentabilidade de recursos próprios).
Um exemplo ilustrará o procedimento. Imagine-se um projeto que seja execu-
tado em um período de um ano, conforme está registrado na Tabela 25 seguinte. O
investimento total (exclusive as despesas financeiras na execução do projeto) no
período é de R$ 212.791,00, dos quais 50% serão financiados por agência de fomento
a uma taxa de juros real, repassada, de 10% a.a. Neste caso, de acordo com o
cronograma de desembolsos da Tabela 25, ter-se-á o seguinte esquema de saques e
de pagamentos de juros no período de execução do projeto:

(24) Refere-se aos projetos de segurança industrial e de proteção ao meio-ambiente, quando


couberem.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 25 – Cronograma de amortização de juros durante a execução


do projeto (R$)

Observação: para a visão da interface deste item com a estrutura de custos do projeto, veja
a Tabela 29 no Estudo Financeiro.

A última categoria da rubrica gastos de implantação e pré-operacionais é aque-


la relativa à pré-operação, na qual serão lançados os dados depois de computados
apenas os custos de fabricação no período de testes da fábrica, abatendo-se, deste
montante, os valores arrecada-dos, provenientes das vendas eventuais da produção
experimental.

5.7 Cronograma de execução

A execução física dos investimentos deve ser planejada ao nível no projeto


econômico-financeiro.
O planejamento da execução é essencial para que sejam atingidos, entre outros,
os seguintes resultados:

a) obtenção de uma sequência lógica e racional dos passos das diversas ativi-
dades, atentando-se para os pré-requisitos de cada uma delas 6 já que exis-
tem etapas que dependem das precedentes e outras que podem ser realiza-
das simultaneamente 6 , procedimento que redunda em economia do tem-
po, mediante o desenvolvimento de um caminho crítico de execução do
projeto;
b) redução de custos financeiros decorrentes de juros, despesas de armazena-
gem, etc., provenientes de compras efetuadas fora do prazo ideal;
c) administração eficaz da execução do projeto (entendido como o conjunto
de projetos: básico, de detalhamento, arquitetônico, de construção civil, de
instalações e organizacional).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

A elaboração do cronograma de execução consiste na atribuição da área de


pesquisa operacional e dos seus instrumentos de trabalho, destacando-se, no caso, a
utilização do diagrama de Gantt para uma apresentação mais ilustrativa e dos méto-
dos do Program evaluation and review technique (Pert) 25 e do Critical path method (CPM)26
para uma abordagem mais específica. O Diagrama de Gantt, também conhecido
como diagrama de barras ou cronograma, constitui um bom instrumento de acompanha-
mento e controle da execução de obras, desde que incorpore as informações contidas
em um diagrama Pert. No diagrama de Gantt, as barras representam, em grande
escala, as atividades ou tarefas. Essas barras são distribuídas numa escala de tempo
e marcam o início e o fim de cada tarefa, sem estabelecer, contudo, qualquer correla-
ção entre estas.
A elaboração dos diagramas de Gantt pode ser realizada rapidamente utilizan-
do-se a informática. Existem vários programas disponíveis para uso, inclusive gra-
tuitos. Uma das ferramentas mais utilizadas é a planilha do Excel.

Figura 44 – Cronograma físico de execução

Fonte: Spinola, 2000, p.256.

Os métodos Pert e CPM constituem instrumentos eficazes na solução dos


problemas de sequenciamento e coordenação de atividades e operações. São bastan-
te semelhantes, de tal sorte que costumam ser designados pela expressão Pert/CPM.

(25) Técnica de avaliação e revisão de programas.


(26) Método do caminho crítico.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

O Pert, especificamente, trabalha com a construção de redes, objetivando coor-


denar o sequenciamento de eventos, buscando racionalizar, ao máximo, a utilização
do tempo, ou seja, determinar o caminho crítico de um projeto (o sequenciamento
das atividades que demandem o menor tempo possível para a execução do projeto.
É o caminho na rede, tal que as atividades tenham folga zero).
O CPM objetiva determinar, exatamente, que relação tempo-custo deveria ser
usada para cada atividade no sentido de conseguir o tempo de conclusão do projeto
programado a um custo mínimo.
Na prática, a montagem de redes Pert e CPM ou Pert/CPM somente ocorre na
fase de execução do projeto como recurso técnico de grande utilidade para a sua
administração. Na elaboração do projeto, a utilização desses processos é bastante
rara e, quando ocorre, constitui-se em instrumento auxiliar para a maximização da
utilização dos recursos financeiros do investimento e correspondente financiamen-
to, em seus desembolsos, vis-à-vis os custos de juros e taxas pela sua alocação.

Figura 45 – Pert/Cpm

Fonte: http://pet.ecv.ufsc.br/site/downloads/apoio_didatico

5.8 Tópico especial

Este título é complementado por um tópico especial que aborda um roteiro de


elaboração do projeto.
É importante tornar a lembrar da seguinte observação, já feita nas seções ante-
riores. Na montagem do roteiro-demonstração, adotou-se uma numeração específica

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

que será sequenciada ordenadamente ao longo dos títulos. Esta numeração independe da
adotada no livro. Assim, o estudo administrativo é numerado 1.0, o mercado, 2.0, o técnico
3.0, o financeiro 4.0 e o econômico 5.0. as tabelas destes estudos acompanham a sua numeração.
Exemplo: Tabela 1.1; Tabela 2.1; Tabela 3.1, etc. O mesmo critério se aplica aos quadros e às
figuras.

ROTEIRO-DEMONSTRAÇÃO PARA O ESTUDO TÉCNICO

Examinaram-se, nas seções precedentes, os elementos básicos de um estudo


técnico. É evidente que, ao se elaborar um projeto para qualquer uma das institui-
ções de fomento, devam-se seguir, com o rigor possível, as normas do seu roteiro
específico.
Ocorre, porém, que, em algumas circunstâncias, pode ser o projeto, como ins-
trumento de planejamento em um processo de tomada de decisão, direcionado a
órgãos internos de um grupo empresarial (Conselho de Administração, Acionistas,
Controladores etc.) ou a instituições que solicitem o estudo do mercado sem estabe-
lecer o roteiro específico Nestes casos, sugere-se que seja adotado o seguinte roteiro:

3.0 Estudo técnico27

3.1 Programa de produção

Informar o programa anual de produção calculado para a empresa, operando a


capacidade plena.
Indicar os diversos níveis de produção previstos (se houver) até que se atinja a
capacidade plena. Justificar o planejamento da produção adotado.
Fornecer os dados solicitados pela Tabela 3.1, atentando para os seguintes
aspectos:

a) esta tabela presta-se tanto para os projetos de implantação como os de


ampliação. No primeiro caso devem-se abolir as colunas relativas aos da-
dos atuais;

(27) Esta itemização obedece a uma sequência consolidada dos roteiros que compõem o
roteiro padrão. Ou seja: 1.0 – ESTUDO ADMINISTRATIVO, 2.0 – ESTUDO DO
MERCADO, 3.0 – ENGENHARIA DO PROJETO. As tabelas, contudo, mantêm a
numeração do título do estudo para evitar confusão nos casos de remissões.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

b) os dados de valor podem ser registrados no padrão monetário nacional (atu-


almente R$); em R$ e um indexador em vigor; em R$ e uma moeda estrangei-
ra (normalmente o dólar), quando se trabalha com o mercado externo e,
finalmente, apenas em uma moeda estrangeira (de acordo com o interesse do
cliente e se o projeto não se destinar à apreciação de órgãos oficiais brasilei-
ros que exigem, formalmente, a apresentação de dados em R$). devendo-se
em qualquer caso, deve-se obedecer ao critério de consistência das informa-
ções, uniformizando a apresentação dos dados em todo o projeto.

Tabela 3.1 – Programa de produção atual e projetado

Preço FOB, líquido (exclusive impostos s/vendas). (2) Tomar por base os dados do último
balanço anual. (3) Taxa cambial US$1,00 = R$.................. (moeda brasileira da época),
mês/ano.

Tabela 3.1 (A) – Programa de produção de serviços*

(*) Os serviços são muito heterogêneos o que requer o ajustamento desta tabela às suas
peculiaridades.

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3.2 Processo produtivo

Indicar as razões de ordem técnica e econômica que conduziram a empresa a


adotar o processo produtivo. Indicar o grau de flexibilidade dos equipamentos (e da
tecnologia adotada) para a utilização de matérias-primas diferentes das indicadas
no projeto ou de produtos alternativos.
Descrição do processo
Fluxograma
Layout
Balanceamento de linhas e regime de produção

Tabela 3.2 – Regime de produção28

3.3 Tecnologia

Indicar se o processo adotado é patenteado, quais os detentores das patentes,


se foi obtida licença para a sua utilização pela empresa e em que condições. Descre-
ver os aspectos básicos que justificaram a sua adoção (fazendo um comparativo com
as concorrentes no mercado). Analisar as perspectivas de desenvolvimento ao nível
da empresa (P & D).

3.4 Meio ambiente e segurança industrial

Analisar o impacto do empreendimento sobre o meio ambiente e descrever as


medidas de proteção ambiental projetadas;
Descrever as medidas de segurança industrial projetadas.

(28) Indicar o número de turnos de trabalho. Descrever e analisar as alterações que poderão
ocorrer no regime de produção nos casos de ampliação. Sendo necessário, elaborar
quadro adicional consolidando a situação atual com a futura.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

3.5 Coeficientes técnicos

Fornecer os requisitos unitários de insumos (matérias-primas, secundárias e


complementares, de embalagem e utilidades) necessários à obtenção de uma unida-
de do produto.

Tabela 3.3 – Requisitos unitários de insumos ou coeficientes técnicos (*)

(*) Para projetos de serviços fazer adaptação.

3.6 Demanda de insumos

Matérias-primas
Materiais secundários
Materiais complementares
Materiais de embalagem
Peças de reposição
Utilidades

Aspectos do suprimento dos insumos:

Origem
Fornecedores

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Condições do fornecimento
Fluxo da oferta
Sistema de preços

Devem ser fornecidos os dados solicitados na Tabela 3.4 seguinte.

Tabela 3.4 – Demanda de insumos

(1) Discriminar um a um, desdobrando a tabela se necessário.


(2) Quantidades da Tabela 3.1 x coeficientes da Tabela 3.3.
(3) Preço FOB, líquido (sem impostos s/vendas).
(4) Tomar por base os dados do último balanço anual.

3.7 Logística industrial

Indicar as facilidades com que conta a empresa para recrutamento, seleção e


treinamento da mão de obra, assim como para a obtenção de matérias-primas,
materiais secundários e utilidades.

3.8 Ciclo de produção

Indicar o ciclo de produção em número de dias, por fase, desde a entrada da


matéria-prima até a saída do produto da empresa.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

3.9 Estimativa de estoques


Determinar os estoques mínimos necessários ao normal funcionamento da
empresa, relativos aos seguintes insumos e produtos:

a) matérias-primas;
b) materiais secundários;
c) materiais complementares;
d) materiais de embalagem;
e) peças e materiais de reposição;
f) produtos em elaboração;
g) produtos acabados.

3.10 Estudo da localização industrial


Analisar e justificar os aspectos determinantes da opção locacional da empresa,
considerada a partir dos seguintes enfoques:

a) macrolocalização;
b) microlocalização.

3.11 Imobilizações técnicas29


3.11.1 Terreno

Área total, taxa de ocupação. Obras de preparação (terraplenagem, infra-estru-


tura etc.). Prazos de execução, custos e condições de pagamento. Na determinação
dos custos de capital do projeto, não deve ser considerado apenas o custo do terreno.
Nesta rubrica incluem-se também os dispêndios com as obras necessárias para torná-
lo apto à instalação da indústria. São as seguintes: obras de terraplenagem, drena-
gem, vias de acesso, obras de arte etc. O projeto de engenharia destas obras deve
constituir anexo especial do projeto econômico-financeiro.
No caso de empresa que se propõe a atuar no setor mineral deve ser apresen-
tado o instrumento legal que assegure à empresa proponente do projeto o direito de

(29) Nos casos de projetos de ampliação, considerar em todos os itens as imobilizações


atuais (já realizadas), computando, para custo, o valor contábil (valor histórico mais
correção monetária menos depreciação).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

pesquisa ou de lavra. As áreas das jazidas devem ser descritas e as suas reservas
estimadas ou medidas.
Fornecer os custos de cada item da despesa, orçamentos e cronograma físico-
financeiro.

3.11.2. Construção civil

Área total construída, distribuição da área construída (fábrica, administração,


serviços etc.). Memorial descritivo. Prazo de execução, custos e condições de paga-
mento.

3.11.3. Máquinas e equipamentos30

Descrever, separadamente, as de origem nacional e as estrangeiras, informando:

a) características e especificações técnicas;


b) justificativa da opção e compatibilização com a meta de produção;
c) origem;
d) número no layout;
e) quantidade;
f) preço unitário;
g) custo total;
h) condições de pagamento;
i) prazo de entrega.

3.11.4. Tecnologia

Condições contratuais de aquisição. Programa de Investimento em P & D.

3.11.5. Proteção ambiental

Especificações, custos, condições de pagamento, prazos de execução.

3.11.6. Instalações

a) elétrica;
b) hidráulica e sanitária;
c) segurança industrial;

(30) Anexar catálogos, prospectos, estudos, faturas pró-forma, orçamentos etc.

253

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TEORIA DO PROJETAMENTO

d) telecomunicações;
e) outras especiais.
Especificações, custos, condições de pagamento, prazos de execução.

3.11.7. Veículos

Especificações, custos, condições de pagamento, prazos de aquisição.

3.11.8. Móveis e utensílios

Especificações, custos, condições de pagamento, prazos de aquisição.

3.12 Despesas de implantação31


3.12.1 Estudos, projetos, consultoria

Especificar os dispêndios e as condições de pagamento dos projetos econômi-


co-financeiro, de engenharia básica e do detalhamento, arquitetônico, de proteção
ao meio ambiente e de construção civil, administrativo-organizacional e com os
serviços de procura, inspeção e diligenciamento. Definir os prazos de execução.

3.12.2 Despesas de organização

Estimadas em até 10% das imobilizações técnicas (exclusive as despesas de


implantação) ou custo determinado por orçamentação.

3.12.3 Administração do projeto

Dispêndio com a equipe de gerência do projeto, inclusive consultoria. Valores,


condições de pagamento e prazos de execução.

3.12.4 Transporte e seguros

Dispêndios com frete e seguro das máquinas, equipamentos e outros itens do


investimento técnico. Discriminar por item, assinalando os valores, condições de
pagamento e prazos de realização.

(31) Corresponderão ao ativo diferido cuja amortização (constitui custo fixo) pode se
realizar no intervalo de 5 a 10 anos, no máximo.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

3.12.5 Impostos e taxas

Custo dos encargos incidentes sobre os itens do investimento técnico (IPI,


ICMS, Imposto de Importação, Despesas Alfandegárias etc.)

3.12.6 Custo, condições de pagamento e prazos de execução da montagem industrial.

3.12.7 Imobilizações financeiras

Cálculo dos juros devidos durante o período de execução do projeto mais os


encargos de contratação.

3.12.8 Despesas pré-operacionais

Custo de pré-operação e testes de funcionamento da fábrica.

3.13 Cronograma de execução

Definir a execução física do investimento no tempo, informando o prazo total


para a sua conclusão e o de cada uma das suas etapas. Contemplar todas as rubricas
das imobilizações técnicas (3.9). Utilizar um gráfico de Gantt ou um diagrama Pert/
tempo.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

TÍTULO VI
ESTUDO FINANCEIRO

6.1 Introdução

Pela ordem sequencial, o estudo financeiro constitui o quarto título do projeto,


vinculando-se, estruturalmente, com o seu antecessor, que trata da engenharia e
fornece os elementos básicos para a sua elaboração. Neste título, abordam-se, espe-
cificamente, as questões relativas ao financiamento das inversões programadas.
Entende-se aqui por financiamento a mobilização dos recursos totais, não
exigíveis (recursos próprios) e exigíveis (recursos de terceiros, financiamentos ban-
cários), necessários à implementação de qualquer empreendimento. Para atingir
este objetivo, examina o estudo financeiro os seguintes aspectos:

a) definição do capital de giro;


b) estruturação do investimento total;
c) estruturação do cronograma de desembolsos e do esquema de fontes.

6.2 Definição do capital de giro

O capital de giro1 é constituído pelo montante de recursos circulantes na em-


presa que asseguram o desempenho das suas atividades operacionais. É por seu
intermédio que a empresa se movimenta: adquire e estoca as matérias-primas e

(1) Contabilmente o capital de giro é expresso pelas contas que integram, no balanço, o
ativo circulante. É também denominado capital de trabalho e capital circulante.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

demais materiais necessários ao normal desempenho das suas atividades, atende a


suas necessidades de caixa para efetuar pagamentos de empregados e outras despe-
sas vinculadas a suas atividades-meio e atividades-fim.
No projeto, o capital de giro pode ser entendido de acordo com a seguinte
classificação:

a) capital de giro de longo prazo;


b) capital de giro de curto prazo;
c) capital de giro líquido.

O capital de giro de longo prazo é aquele que é permanente na empresa, ao


longo de sua vida útil. Renova-se, parcialmente, a cada volta do ciclo de produção,
no contexto das operações de aquisição dos insumos, de sua transformação em pro-
duto, e da venda e recebimento dos correspondentes pagamentos. O seu dimensio-
namento deve ser preliminarmente realizado, considerando-se a empresa operando
em sua capacidade plena, procedendo-se, posteriormente, aos ajustamentos exigi-
dos pela programação operacional e financeira do projeto. O capital de giro de
longo prazo, por ser permanente, integra o investimento total do projeto para efeito
de definição do financiamento de longo prazo, a ser realizado com os recursos
próprios ou de terceiros, mobilizados para a viabilização do empreendimento.
O capital de giro de curto prazo corresponde à parcela das vendas da empresa
que é efetuada a prazo. É, pois, o montante de recursos demandados pela empresa
nos intervalos de tempo compreendidos entre as vendas e os recebimentos dos
pagamentos. Normalmente, este capital de giro é suprido pelo crédito bancário
comercial (financiamentos de curto prazo, notadamente por intermédio do descon-
to de duplicatas).2
O capital de giro líquido constitui o montante dos recursos próprios da empre-
sa mobilizados para o custeio de suas operações.
Contabilmente, o capital de giro líquido (KGL) é o resultante da seguinte
expressão:

KGL = AC – PC

em que AC é o ativo circulante e PC o passivo circulante.

(2) A obtenção de capital de giro de curto prazo tem-se constituído em um ponto de


estrangulamento para a expansão das pequenas e médias empresas no Brasil.
Normalmente, para a concessão de crédito, os bancos exigem uma disponibilidade
cadastral da empresa ou de seus sócios controladores (bens livres para a garantia) e o
exercício de uma reciprocidade mediante a manutenção de um determinado nível de
saldo médio de depósitos, além de procederem a seleção dos títulos a descontar. Nem
sempre as pequenas e médias empresas preenchem todos esses requisitos.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

No projeto, o ativo circulante corresponde às seguintes rubricas:

a) disponibilidade mínima de caixa e de bancos;


b) estoques de materiais;
c) estoques de produtos em elaboração;
d) estoques de produtos acabados;
e) títulos em carteira.

O passivo circulante corresponde a:

a) crédito de fornecedores;
b) financiamentos de curto prazo para giro.

Nos projetos, busca-se financiamento de longo prazo para o capital de giro


líquido, objetivando assegurar ao empreendimento plenas condições de equilíbrio
operacional.
Quando se trata de implantação de empreendimento, é recomendável conside-
rar-se o capital de giro total (ativo circulante) como sendo igual ao KGL, uma vez
que não se dispõe de experiência para o dimensionamento e projeção do futuro
passivo circulante. Já nos casos de projetos de ampliação, devem-se considerar:

a) o capital de giro atual;


b) as necessidades de giro da ampliação;
c) eventuais déficits estruturais de funcionamento.

O cálculo do capital de giro de empreendimentos que se ampliam toma por


base os dados fornecidos pela contabilidade (balanços, balancetes e demonstrati-
vos), sendo frequente a necessidade de suplementação do giro atual (correção de
déficits), notadamente nos casos de empreendimentos de pequeno e médio portes.
A disponibilidade mínima de caixa e de bancos refere-se à provisão de recursos
indispensáveis para o atendimento de necessidades imediatas da empresa, tais como:

a) folha de pagamento dos empregados com os respectivos encargos sociais;


b) despesas administrativas, financeiras e operacionais.

Justifica-se esta rubrica por entender-se que a empresa (essencialmente nos


casos de implantação) atravessa um determinado período (entre a produção, a venda
e o recebimento) com carência de caixa para fazer face aos pagamentos que não
podem ser postergados.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 26 – Dimensionamento do capital de giro(*)

(*) Valores simulados para fins de exercício.

O período de provisionamento depende da categoria do projeto: quando se


trata de implantação, estimam-se prazos maiores, normalmente 30/60 dias. Nos
casos de ampliação, os prazos são menores, notadamente quando a empresa não
necessitar da correção de déficits de funcionamento.
Os estoques de materiais são apropriados de acordo com os cálculos formula-
dos no estudo técnico (ver a seção 5.3 neste livro). Sua formação é indispensável para
que se assegure à empresa um funcionamento normal, sem paralisações pela falta de
um dos componentes da equação de produção.
Os estoques de produtos em elaboração assim como o de produtos acabados, a
exemplo dos precedentes, também são calculados no estudo técnico (ver 5.3), sendo
os seus valores respectivos transferidos para o estudo financeiro.
Os títulos em carteira (financiamento das vendas) referem-se ao montante das
vendas a prazo, representados por duplicatas não descontadas em banco pela empre-
sa. Normalmente, do faturamento mensal de uma empresa, uma parcela corresponde
a vendas à vista e outra a vendas a prazo. Do montante vendido a prazo, uma parte
é descontada em bancos e outra constitui títulos que ficam em carteira ou em cobran-
ça simples. O financiamento das vendas cobre exatamente o montante dessas dupli-
catas que ficam em carteira3 e que não são transformadas imediatamente em recur-
sos pelo desconto bancário.

(3) Na maioria das vezes, essas duplicatas são colocadas nos bancos em cobrança simples.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Exemplo:
(Em R$ mil)

Faturamento mensal 150


(–) Vendas à vista (10%) 15
Subtotal 135
(–) Desconto bancário (60%) 81
Título em carteira 54

Normalmente, em um quadro de regularidade da conjuntura econômica, uma


indústria vende aos prazos de 30, 60, 90 e, no máximo, 120 dias, dependendo da taxa
de juros e da liquidez do sistema bancário. Logo os títulos que ficam em carteira (ou
em cobrança simples) deverão estar distribuídos por estes prazos.

Imagine-se, neste exemplo, que a distribuição ocorra nos prazos seguintes:

Vendas a prazo do mês


Prazo em dias % dos títulos

30 30
45 30
60 20
75 20

Repetindo-se mensalmente esta sistemática, será formada uma série cujo mon-
tante deve ser determinado. Para isso, aplica-se o seguinte procedimento:

a) calcula-se o valor dos títulos em carteira (TC), normalmente este valor


deve ser considerado a preços de custo, abatendo-se a margem de lucro,
pois não existe justificativa para o financiamento desta margem;
b) determina-se o montante da série, utilizando-se a expressão seguinte:

FV = TCcf {(P1 x PR1) + (P2 x PR2) + . . . (Pn x PRn)}

em que:

FV = Montante do financiamento das vendas


TCcf = Títulos em carteira a custo dos fatores
P= Percentual das vendas no período
PR = Prazo de vendas concedido (período)

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Assim sendo, estimando-se uma margem de lucro de 20% e efetivando-se o


abatimento referido no item 2, tem-se:

TCcf = R$ 54 mil ÷ 1,20


TCcf = R$ 45,0 mil

Aplicando-se a expressão determinante do montante da série:

FV = R$ 45,0 M {(0,30 x 1) + (0,30 x 1,5) + (0,20 x 2) + (0,20 x 2,5)}


FV = R$ 45,0 mil x 1,65

FV = R$ 74,25 mil

Pode-se também trabalhar com outro método, levando-se em consideração a


possibilidade de serem descontados os títulos em prazos diversos, como no exem-
plo seguinte:

Faturamento mensal = R$ 150 mil


Vendas à vista = R$ 15 mil
Vendas a prazo = R$ 135 mil

Tabela 27 – Cálculo alternativo do financiamento das vendas

Neste caso, aplicando-se a expressão seguinte:

FV = (TCF1 • PR1) + (TCF2 • PR2) + ...+ (TCFn + PRn )

em que:
FV = montante do financiamento das vendas
TCF = título em carteira a custo dos fatores no período n
PR = prazo de vencimento do título

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tem-se:
FV = (R$ 30,0 M x 1,5 ) + (R$ 21,0 M x 2,0) + (R$ 17,0 M x 2,5 )
FV = R$ 129,5 Mil

A dificuldade no planejamento financeiro dos projetos, notadamente nos casos


de implantações, está na determinação dos prazos e montantes de títulos passíveis
de desconto pela rede bancária. Não se trata de uma tarefa fácil, visto que a política
monetária no Brasil vem sofrendo bruscas modificações que inviabilizam as chances
de sucesso para as previsões de longo prazo. Nos casos de ampliações pode-se, ao
menos, trabalhar com a experiência já adquirida nas operações com o mercado de
crédito.
A rubrica inserida no cálculo do capital de giro de longo prazo, sob o título
“correção de déficit estrutural”, aplica-se, exclusivamente, aos projetos de ampliação.
Entende-se por déficit estrutural um desequilíbrio financeiro da empresa, produzido
por circunstâncias operacionais, que pode ser saneado, restituindo-se a esta as condi-
ções normais de funcionamento. O déficit estrutural pode abalar a estrutura de capi-
tal de giro da empresa, afetando o seu grau de liquidez. Sua inclusão no projeto,
contudo, exige a prévia realização de um diagnóstico administrativo que possibilite a
precisa identificação das causas dos problemas detectados e a elaboração da estratégia
operacional que deva ser implementada para atingir-se o saneamento desejado.
Os recursos para giro são compostos pelos créditos de fornecedores e pelos
financiamentos para giro que constituem as fontes alternativas de recursos, identificadas
no projeto como efetivamente disponíveis para utilização pela empresa (exemplo:
desconto de duplicatas) e representam o passivo circulante estimado. Procedida a sua
dedução do total das necessidades de recursos (capital de giro total), encontra-se o
capital de giro líquido (ou próprio) que deverá ser formado pela empresa.

Método alternativo de cálculo do capital de giro (metodologia do BNB)

1 Necessidades
1.1 Caixa mínima = (custo total – depreciação) x nº de dias necessários)÷360
1.2 Financiamento de vendas = [(custo total – depreciação) x % de vendas a
prazo x prazo médio concedido ÷ 360
Obs.: custo total = custo dos produtos vendidos + despesas operacionais +
despesas financeiras com empréstimos de curto prazo para giro.
1.3 Estoques
1.3.1 Matérias-primas = (custo anual c/matéria-prima x nº de dias de estoques
mínimos) ÷ 360
1.3.2 Materiais secundários = custo anual c/material secundário x nº de dias de
est. mínimo) ÷ 360

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TEORIA DO PROJETAMENTO

1.3.3 Produtos em processo = [(custo industrial – depreciação) x nº de dias de


estoque] ÷ 360
1.3.4 Produtos acabados = [(custo industrial – depreciação) x nº de dias de
estoque] ÷ 360
1.3.5 Peças e material de reposição = ± 5% sobre o total de máquinas, equipa-
mentos e veículos
1.3.6 Outros = deverão ser consideradas as necessidades não classificadas nos
itens anteriores e que, comprovadamente, façam parte do ciclo operacional da em-
presa.

2 Recursos

2.1 Crédito de fornecedores = (Σ anual das compras x % de compras a prazo x


prazo médio obtido) ÷ 360
2.2 Desconto de duplicatas = (faturamento x % de vendas a prazo x % desconto
x prazo médio concedido) ÷ 360
2.3 Financiamento para giro = saldo dos empréstimos de curto prazo disponí-
veis destinados a financiar parte do ativo circulante. Obs.: as despesas financeiras
deste item deverão constar na projeção de Resultados.
2.4 Impostos = recebimentos relativos a imposto e contribuições (IR, ICMS,
Iapas, etc.) que, retidos no ato da operação ou pagamento, passam a fazer parte do
giro da empresa até a data do seu devido recolhimento. Seu valor deverá ser calcula-
do, observando-se a mesma proporcionalidade do último exercício em relação ao
total das necessidades. Poder-se-á, também, tomar por base, para sua projeção, os
valores contidos nos itens que lhe deram origem, em outros demonstrativos, espe-
cialmente nos casos de implantação.
2.5 Outros = saldos de diversas contas a pagar anteriormente não classificadas.

3 Capital de giro próprio = [1-2]. É obtido pela diferença entre o total das
necessidades e a soma dos recursos.

6.3 – Capital de giro nos serviços

Ao tratar deste tópico cabe indagar: que serviço? Chamamos a atenção para
duas características importantes desta atividade:

a) serviço não é comércio: são atividades distintas;


b) as atividades de serviços são heterogêneas, como já se destacou neste livro.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

A metodologia adotada na seção 6.2 pode ser ajustada perfeitamente às ativi-


dades de serviços. Entre elas, só não formam estoques aquelas empresas que operam
com trabalho puro. Outras, como as companhias de aviação e de transportes, por
exemplo, administram estoques substanciais. Uma empresa como a TAM ou a Gol
tem várias centenas de milhões de dólares em estoques de peças sobressalentes.
Uma turbina para um jato 737, apenas, tem valor unitário de alguns milhões de
dólares e pode, apenas ela, ter em torno de 10.000 itens componentes 6 um deles que
necessite de troca e não esteja disponível mantém um investimento de dezenas de
milhões de dólares inativo (ou, como se diz nas companhias aéreas, grounded) a um
enorme custo. Nos hospitais os gastos com medicamentos ocupam a segunda posi-
ção na estrutura dos custos. Talvez ainda mais importante seja o impacto da melhor
ou pior gestão de estoques em termos de serviço percebido pelo cliente. Imagine um
fio de sutura essencial para uma cirurgia faltar nessa delicada hora. Imagine um
restaurante sem um ingrediente importante de um prato popular, para não mencio-
nar exemplos mais evidentes, como um varejista com constantes faltas de
mercado-rias desejadas por seus clientes, uma concessionária de veículos sem as
peças para consertar os veículos de seus clientes, deixando-os mais tempo imobiliza-
dos, e uma infinidade de outras situações similares. A singularidade deste item deve
ser discutida caso a caso no estudo técnico de cada projeto.

6.4 Determinação do investimento total

O investimento total do projeto é resultante da soma do investimento fixo


(ativo permanente) com o capital de giro líquido (ativo circulante – passivo circulante).
Este investimento deverá ser financiado por bancos (exigível de longo prazo) e/ou
recursos próprios (patrimônio líquido).

Compõem o investimento total, entre outras, as seguintes rubricas:

1. Investimento fixo
1.1. Imobilizações técnicas
1.1.1 – Terreno e melhorias
1.1.2 – Construção civil, edificações
1.1.3 – Instalações
1.1.4 – Máquinas e equipamentos
1.1.5 – Tecnologia
1.1.6 – Veículos
1.1.7 – Móveis e utensílios

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TEORIA DO PROJETAMENTO

1.2. Gastos de Implantação e pré-operacionais


1.2.1 – Organização e eventuais
1.2.2 – Despesas fiscais e de transportes
1.2.3 – Despesas de montagem
1.2.4 – Estudos, projetos e consultorias
1.2.5 – Administração do projeto
1.2.6 – Despesas financeiras na execução do projeto
1.2.7 – Pré-operação

2. Capital de giro líquido

3 = [1+2] – Investimento total

Os elementos para a valoração destas rubricas, como já foi visto, são forneci-
dos pelos estudos técnico (investimento fixo = imobilizações técnicas + gastos de
implantação e pré-operacionais) e financeiro (capital de giro líquido).
As tabelas seguintes trabalham com um exemplo numérico simulado. Estes
dados servem de base para a construção de outros exemplos que serão desenvolvi-
dos no Título VII – O estudo econômico.

Tabela 28 – Investimento total – (Em R$)

(*) Ver tabela 25, Título V - O estudo técnico.


(**) Ver tabela 26, item 2.3 Título VI - O estudo financeiro.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

6.5 – Cronograma de desembolsos e definição do esquema de


fontes

O cronograma financeiro do projeto é elaborado tomando-se por base as con-


dições técnicas e operacionais ditadas pela engenharia, as bases negociais e o ajusta-
mento às fontes dos recursos. A execução do projeto – expressa no cronograma físico
– estabelece as condições técnicas e operacionais que fixam os prazos de início,
duração e conclusão das diversas etapas das obras, da aquisição de máquinas e equi-
pamentos e das demais rubricas que compõem o investimento fixo. Trata-se de
procedimentos sequenciados que normalmente objetivam a eficácia dos esforços
mobilizados, redução de prazos e de custos.
Nestes termos, cada rubrica do projeto possui, a par do seu cronograma físico,
o cronograma financeiro que define um calendário de pagamentos.
O estabelecimento das bases negociais refere-se aos esforços mobilizados para
a obtenção da melhor combinação de prazos e condições de pagamento – para cada
rubrica do projeto – de sorte a otimizar-se a aplicação dos recursos, minimizando os
encargos financeiros e o custo de capital empatado.
O ajustamento às fontes consiste na adequação dos prazos e das condições de
pagamento à sistemática operacional dos financiadores, ou seja, consiste na
compatibilização do fluxo de caixa da execução do projeto com o fluxo de recursos
disponíveis.
Evidentemente, a montagem do cronograma de desembolsos consiste num
esforço de estimativa, corrigível e ajustável, posteriormente, no estágio de execução
do projeto. Sua estruturação, contudo, é essencial para definir-se o esquema das
fontes de financiamento.

Tabela 29 – Cronograma de desembolso – (Em R$)

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TEORIA DO PROJETAMENTO

A definição das fontes de financiamento envolve uma questão de alavancagem


financeira. Ou seja, a decisão quanto à proporção da participação dos recursos própri-
os e de terceiros no investimento depende dos resultados comparativos de diferentes
taxas internas de retorno obtidas pelo projeto vis-à-vis o esquema de fontes adotado.
Tome-se como exemplo um investimento de R$ 212.791,00, bancado inteira-
mente com recursos próprios, – que apresenta uma taxa interna de retorno de 17%
a.a. O mesmo investimento, financiado em 50%, com taxa de juros real de 10% a.a.,
apresenta para os recursos próprios investidos (agora somente 50% do investimento
total) uma taxa interna de retorno de 20%.
Neste caso, o financiamento tornou-se vantajoso, posto que, a despeito de as
despesas financeiras reduzirem o lucro do empreendimento (ou seja, o lucro será
menor do que aquele obtido com todo o investimento realizado com recursos pró-
prios), a taxa interna se eleva de 17 para 20% a.a., aumentando o nível da remunera-
ção do capital próprio.
Na prática, a aplicação do conceito de alavancagem4 é bastante dificultada no
Brasil pelo processo inflacionário e determinadas peculiaridades da legislação.
Outrossim, a opção dos empreendedores, quanto a uma maior ou menor par-
ticipação dos recursos de terceiros em seu esquema de fontes, é condicionada pelas
suas limitações financeiras (que podem reduzir suas margens de alternativas) e
pelas exigências das fontes externas de financiamento.
Contudo não se deve perder de vista que o objetivo do investimento é a obten-
ção de lucro que assegure uma justa remuneração do capital aplicado comparativa-
mente à mesma aplicação deste capital em outras formas de investimento. Daí ser
necessário buscar-se uma composição do esquema de fontes que melhores resulta-
dos possam propiciar ao grupo empreendedor.

Exemplo de esquema de usos e fontes:

Tabela 30 – Usos e fontes dos recursos – (em R$)

(4) Ver, a propósito, MARTINS, (1988).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

6.6 Análise das fontes dos recursos

Os recursos mobilizados para o financiamento do projeto devem ser explicitados


atentando-se para os seguintes aspectos:

a) quanto à origem;
b) quanto às condições de financiamento.

No que se refere às origens dos recursos, o projeto pode combinar diferentes


fontes de acordo com as conveniências financeiras dos seus proponentes, com as
vantagens oferecidas pelas instituições de fomento. Pode trabalhar exclusivamente
com recursos próprios, captando inclusive recursos no mercado de ações, o que é
muito raro. Normalmente as empresas fazem um mix entre recursos próprios (inexi-
gíveis) e recursos de terceiros (exigíveis de longo prazo).
Atualmente a maior agência financeira de fomento econômico no Brasil é o
Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) uma empresa
pública federal. O BNDES atua diretamente e por intermédio de uma ampla rede de
agentes espalhados por todo o país que repassam os recursos das suas inúmeras
linhas de crédito. Para quem trabalha com projetos é obrigatório acessar o site do
banco no endereço http://www.bndes.gov.br.
Quanto às condições de financiamento, o BNDES trabalha com linhas de crédi-
to que atendem às empresas do mais diferente porte, começando pelas microempresas
nas quais a participação máxima do financiamento do BNDES é de até 90% em
qualquer linha ou programa, exceto no financiamento à exportação, BNDES-exim,
que é de até 100%. A taxa de nível especial de 1% ao ano é utilizada no spread básico,
em qualquer linha de financiamento para este porte de empresa, exceto para o trans-
porte rodoviário de cargas e de passageiros, na linha de financiamento Finame. A
parcela de capital de giro associado ao investimento fixo de um projeto será de até
100% do investimento fixo financiável nas linhas BNDES Automático e Finem para
este porte de empresa.
As pequenas empresas recebem o mesmo tratamento das microempresas. No
caso do capital de giro associado ao investimento fixo de um projeto, será de até 50%
do investimento fixo financiável nas linhas BNDES Automático e Finem para este
porte de empresa.
Para as médias e grandes empresas a participação máxima do financiamento
do BNDES varia, sendo de:

a) até 80% na linha Finame e para empreendimentos localizados nas áreas de


abrangência dos programas regionais e programa de turismo nas linhas de
financiamento BNDES Automático e Finem;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

b) até 60%, nas linhas BNDES Automático e Finem, para os empreendimentos


localizados nas regiões Sul e Sudeste do país, exceto áreas abrangidas pelos
programas regionais.

No financiamento à exportação através da linha BNDES-exim a participação é


de até 100%.
No spread básico, deverá ser utilizada para as médias e grandes empresas a taxa
especial de 2,5% ao ano, em qualquer linha de financiamento, inclusive da linha de
financiamento Finame. Será admitido o spread básico – nível especial – de 1% ao ano,
para médias e grandes empresas, quando o empreendimento a ser financiado esti-
ver localizado nas áreas abrangidas pelos Programas Regionais e Programa de Tu-
rismo, ou se um programa específico assim determinar. A parcela de capital de giro
associado ao investimento fixo de um projeto será de até 30% do investimento fixo
financiável nas linhas BNDES Automático e Finem.
O prazo total dos financiamentos do BNDES será determinado em função da
capacidade de pagamento do empreendimento, da empresa ou do grupo econômico,
tanto na linha de financiamento BNDES Automático como no Finem. O prazo total
inclui o prazo de carência e de amortização. No entanto, as operações através da
linha Finame, destinadas somente à aquisição de máquinas e equipamentos (isto é,
aquisição isolada na qual o bem não está fazendo parte de um projeto, com outros
itens a serem financiados) e cujos valores não ultrapassem R$ 7 milhões, têm o prazo
total limitado a cinco anos.
O prazo de carência é o período compreendido entre a assinatura do contrato
de financiamento e o pagamento da primeira parcela de amortização do principal.
Usualmente, este período é de seis meses após a entrada em operação comercial do
empreendimento financiado.
No prazo de carência, são cobradas trimestralmente as taxas referentes ao
spread básico e ao spread de risco ou do agente, além do custo financeiro incidente
sobre o saldo devedor. Quando é utilizado o custo financeiro em TJLP, no período de
carência somente serão cobrados 6% ao ano. A parte da TJLP, que é fixada pelo Banco
Central (Bacen), que exceder esses 6% será capitalizada, isto é, será adicionada ao
saldo devedor.
O prazo de amortização é o período que se inicia imediatamente após o térmi-
no da carência, quando tem início o pagamento do principal dos recursos contrata-
dos no financiamento. No período de amortização, paga-se, periodicamente, uma
parcela do principal já acrescido das capitalizações realizadas, mais o spread total e o
custo financeiro incidentes sobre o saldo devedor da operação. A parcela da TJLP
que exceder 6% continuará a ser capitalizada, corrigindo o saldo devedor. Esta peri-
odicidade normalmente é mensal.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

As garantias nos financiamentos com recursos de BNDES são reais ou pesso-


ais. Esta exigência, tanto o tipo de garantia quanto o percentual, será determinada
em função do risco da operação. As exigências ficarão a critério das instituições
financeiras credenciadas pelo BNDES, no caso das operações de sua responsabili-
dade.
No caso do financiamento à exportação, poderá ser utilizado o seguro de
crédito à exportação, que possibilita a cobertura dos riscos comercial e político
sobre bens e serviços exportados. No Brasil este instrumento é operado pela Segu-
radora Brasileira de Crédito à exportação (SBCE). Microempresas e pequenas empre-
sas poderão utilizar o Fundo de Garantia para a Promoção da Competitividade
(FGPC), assim como as médias empresas exportadoras ou que fabricam insumos
ou componentes utilizados nas fabricação, montagem ou embalagem de mercado-
rias para exportação.
São exemplos de garantias que podem ser fornecidas: hipoteca de terreno ou
imóvel (inclusive particulares e de terceiros), alienação fiduciária de máquinas e
equipamentos etc.
No que se refere ao pagamento, no prazo de carência são cobradas trimestral-
mente as taxas correspondentes ao spread de risco e spread básico mais o custo finan-
ceiro, incidentes sobre o saldo devedor.
Quanto à participação de recursos próprios do investidor no empreendimento,
como forma de otimizar a aplicação dos recursos, sempre escassos em relação à
demanda, e como forma de diluir o risco, o BNDES estimula a busca de alternativas
de compartilhamento de risco das operações com outras instituições financeiras ou,
ainda, o project-finance, normalmente adotado nas operações do setor de
infraestrutura. Assim, praticamente em todos os financiamentos com recursos do
BNDES é exigido um aporte de recursos por parte dos empreendedores, exceto na-
quelas linhas de financiamento em que é admitida a participação de até 100%.
Em um projeto, os investimentos já realizados (cujos itens sejam indicados
como financiáveis) poderão ser considerados somente como contrapartida de re-
cursos próprios do empreendedor (quadro de usos e fontes). No entanto serão
considerados somente aqueles investimentos que foram realizados até o sexto
mês anterior à apresentação do pedido de apoio ao BNDES ou à instituição finan-
ceira credenciada e para fins de cálculo da participação dos recursos próprios no
investimentos total (excetuam-se as microempresas para as quais se admite até o
décimo segundo mês).
Com o objetivo garantir o risco de operações realizadas pelo BNDES e Finame,
é que existe o FGPC, popularmente conhecido como fundo de aval.
Operações de financiamento do capital de giro, de forma isolada, não são
realizadas pelo BNDES. No entanto, quando é apresentada a necessidade de capital
de giro em conjunto com os demais itens de investimentos do projeto, será admitido

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TEORIA DO PROJETAMENTO

o financiamento somente de uma parcela do capital de giro (associada aos outros


investimentos).
Os setores de prestação de serviços (exceto microempresas) e empreendimentos
agropecuários não são contemplados com financiamento para giro.
A parcela do capital de giro do projeto será calculada em função da necessidade
do empreendimento até o limite de 30% do valor do investimento fixo financiável,
através das linhas BNDES Automático e Finem, inclusive nas áreas de abrangência
dos programas regionais.
As exceções são para microempresas (em qualquer região do país), para as quais
este limite é de 100% do investimento fixo financiável e para pequena empresa (em
qualquer região), que é de 50%.
Na linha de financiamento BNDES Automático, o valor dos gastos com máqui-
nas e equipamentos, que será considerado para o cálculo da parcela de capital de
giro associado a esse investimento, será no máximo equivalente ao valor dos de-
mais gastos de investimentos fixos que serão financiados no projeto.

6.7 Tópico especial

A exemplo dos demais, este título é complementado por um tópico especial


que aborda um roteiro de elaboração do projeto.
É importante tornar a lembrar da seguinte observação, já feita na introdução e
nos títulos precedentes. Na montagem do roteiro-demonstração, adotou-se uma nume-
ração específica que será sequenciada ordenadamente ao logo dos capítulos. Esta numeração
independe da adotada no livro. Assim, o estudo administrativo é numerado 1.0; o merca-
do, 2.0; o técnico 3.0; o financeiro 4.0; e o econômico 5.0. as tabelas destes estudos acompanham
a sua numeração. Exemplo: Tabela 1.1; Tabela 2.1; Tabela 3.1 etc. O mesmo critério se aplica aos
quadros e às figuras.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

ROTEIRO-DEMONSTRAÇÃO PARA O ESTUDO FINANCEIRO

Foram examinados, nos tópicos precedentes, os roteiros para a elaboração do


estudo administrativo, do mercado e técnico. É evidente que, ao se elaborar um
projeto para qualquer uma das instituições de fomento, deva-se seguir, com o rigor
possível, as normas do seu roteiro específico.
Ocorre, porém, que, em algumas circunstâncias, pode ser o projeto, como instru-
mento de planejamento em um processo de tomada de decisão, direcionado para órgãos
internos de um grupo empresarial (Conselho de Administração, Acionistas,
Controladores etc.) ou para instituições que solicitem o estudo do mercado sem estabe-
lecer o roteiro específico. Nestes casos, sugere-se que seja adotado o seguinte roteiro:

4.0 Estudo financeiro5

4.1 Determinação do capital de giro próprio

Tabela 4.1 – Dimensionamento do capital de giro

(5) Itemização específica para todos os estudos do roteiro padrão.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

4.2 Imobilizações totais

A tabela 4.2 contempla a situação de projetos em implantação e ampliação.


Nos casos de implantação elimina-se a coluna “Existentes”. Aplica-se de forma idên-
tica para os projetos de serviços.

Tabela 4.2 – Imobilizações totais – sumário

A) Indicar a data que deve ser a mais recente possível.


B) Indicar, em anexo especial, o critério para determinar o montante de cada item.

4.3 Cronograma de desembolsos

Tabela 4.3 – Cronograma de desembolsos (Valores em R$)

(*) Este quadro difere da Tabela 4.2 basicamente no tocante a equipamentos com financiamentos
dos fornecedores; aqui somente se incluem as necessidades de caixa para o projeto.
(**) Apenas recursos que representam entradas de caixa (recursos próprios e financiamentos
em dinheiro).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

4.4 Usos e fontes dos recursos

Tabela 4.4 — Aplicações e fontes dos recursos – (Valores em R$)

4.5 Análise das aplicações (usos) e fontes dos recursos

A elaboração e análise dos itens de “usos” do projeto deve abranger a


adequabilidade dos seus custos e de seus cronogramas de distribuição no tempo,
bem como uma análise comparativa com índices setoriais, sempre que possível.
Deve ser abordado, ainda, o prazo de implantação do projeto e sua situação atual.
No que tange aos itens de “fontes” do projeto, devem-se destacar:

a) a participação da instituição de fomento patrocinadora e a compatibilidade


do projeto com as suas políticas operacionais vigentes;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

b) a existência ou possibilidade de obtenção de incentivos governamentais ao


projeto e as necessárias providências para enquadramento;
c) a vinculação de recursos externos ou de linhas específicas para itens dos
“usos”;
d) o risco relativo à programação de recursos tanto no que diz respeito aos
valores de cada fonte quanto à época assumida dos aportes;
e) as possibilidades de recorrência ao mercado de capitais;
f) a capacidade de mobilização de recursos póprios pelo grupo promotor.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

TITULO VII
ESTUDO ECONÔMICO

7.1 Introdução

O estudo econômico representa, no projeto, o coroamento de todo o trabalho


realizado. Afinal, é nele que reunindo o conjunto de informações produzidas ao
longo dos estudos precedentes se realiza a análise do investimento, se avaliam os
méritos macro- e microeconômico do empreendimento e se instruem as decisões do
orçamento de capital da empresa que se decide implantar ou ampliar, apresentando
seus principais indicadores de desempenho, segundo a escala de produção adotada,
projetando-os no tempo até o limite do horizonte temporal de planejamento estabe-
lecido.
O estudo econômico é estruturado mediante a abordagem dos seguintes as-
pectos:

a) montagem da estrutura de custos;


b) informações sobre a estrutura da receita;
c) demonstração dos resultados e da capacidade de pagamento;
d) projeção do fluxo de caixa;
e) análise da rentabilidade, indicadores micro e macroeconômicos.

Neste título utilizam-se, nos exemplos, números extraídos do Titulo V - Estudo


Técnico e do Título VI – Estudo Financeiro. Desta forma imagina-se possibilitar uma
melhor compreensão do tema apresentado ao leitor.
Nas seções seguintes busca-se estabelecer uma compatibilidade entre os crité-
rios econômicos e os contábeis e financeiros, imaginando-se ser o projeto um instru-

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TEORIA DO PROJETAMENTO

mento de planejamento válido para a gestão da empresa que se pretende implantar


e não somente um formulário para instruir um pedido de financiamento. Desta
forma, a leitura e entendimento devem ser acessíveis segundo as diferentes lingua-
gens de economistas, administradores e contadores1.

7.2 Montagem da estrutura dos custos

Na elaboração de um projeto trabalha-se com os custos, utilizando-se o


enfoque econômico e critérios de classificação determinados pelas exigências da
análise econômica e financeira do investimento.

7.2.1 Custos segundo o enfoque econômico

Nesta abordagem são considerados custos, todos os dispêndios materiais e


imateriais realizados no processo de produção de bens e serviços. No plano econômi-
co não há distinção entre custo e despesa, posto que esta é irrelevante para os objetivos
da análise. A preocupação dominante concentra-se na relação temporal dos custos
com o volume de produção e o grau de utilização da capacidade produtiva.
São considerados os seguintes tipos de custos:

a) fixos;
b) variáveis ;
c) médios (unitários);
d) totais.

Os custos fixos são aqueles que permanecem constantes, sem variação, em uma
determinada escala de produção e espaço de tempo. Em tese, não se alteram, esteja a
empresa operando próximo ao nível zero ou a plena carga. Exemplo: aluguel do
imóvel da fábrica, depreciação.
Existem muitas críticas ao conceito de custo fixo2. Alguns autores o pretendem
superado, preferindo outras classificações como as de custos estruturais, stand by,
programados, semifixos, etc. Estas críticas são abordadas amplamente nos princi-
pais tratados de administração financeira.

(1) Ver a propósito a Tabela 36, seguinte.


(2) Os custos fixos são válidos no curto-prazo. Como todos os demais custos, no longo
prazo variam. No projeto assume-se a sua validade para o período definido como o de
vida útil do investimento total.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Contudo, a despeito das restrições, o conceito de custo fixo continua sendo


mantido como importante instrumento na análise de investimentos (no cálculo
do ponto de equilíbrio, por exemplo) valendo destacar que, como se verá a se-
guir, quanto mais elevados eles forem em relação aos custos totais, maiores
serão os coeficientes do ponto de equilíbrio e menor a flexibilidade operacional
da empresa.
Constitui-se, assim, uma meta para a obtenção da eficácia empresarial a redu-
ção desses custos ao mínimo suportável possível no plano gerencial de qualquer
empreendimento.
Principais rubricas dos custos fixos em um projeto3:

a) honorários e encargos sociais;


b) salários e encargos sociais;
c) depreciação;
d) seguros;
e) aluguéis;
f) juros de empréstimos de longo prazo;
g) manutenção;
h) amortização do diferido;
i) energia (fixa);
j) outros custos.

Os honorários e encargos sociais referem-se aos dispêndios com a remunera-


ção dos membros da diretoria (na qualidade de empregadores), conselhos de admi-
nistração e fiscal e auditores independentes (nos casos de sociedade por ações). Nas
sociedades por quotas de responsabilidade limitada, podem ser computadas as reti-
radas pró-labore dos sócios quotistas na proporção estabelecida pela lei. Em todos os
casos, deve ser calculado o custo dos encargos sociais incidentes. No projeto, esta
rubrica é detalhadamente examinada no estudo administrativo.
Os salários e respectivos encargos sociais referem-se à mão de obra fixa perma-
nente (assalariados de todos os níveis hierárquicos empregados). A conceituação
desse contingente nem sempre é fácil em algumas empresas. Normalmente, nos
projetos, considera-se mão de obra fixa toda aquela (direta ou indireta) que seja
qualificada e cuja reposição (tendo ocorrido demissão) seja problemática (oferta
inelástica) e de custo elevado (treinamento). Assim, por exemplo, numa planta

(3) Todos os custos, em um projeto devem ser calculados em estrita obediência às normas
legais do País. Aplica-se ao caso, especialmente, aquelas emanadas da legislação fiscal
(I. de Renda, IPI, ICMS etc.) e previdenciária (INSS).

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TEORIA DO PROJETAMENTO

petroquímica uma parcela considerável da mão de obra total é considerada fixa,


enquanto que numa empresa de construção civil ocorre exatamente o inverso4. Este
item é examinado no estudo administrativo, mas, alguns autores preferem detalhá-
lo no estudo técnico.
A depreciação dos bens componentes do investimento fixo, no Brasil, é calcu-
lada pelo método linear. Assim:

d1 = VB – VR
N

em que: d1 = valor anual da rubrica depreciação;


VB = valor do bem;
VR = valor residual do bem no final de sua vida útil;
N = tempo de vida útil do bem, em anos.

Como normalmente é difícil estimar-se o valor residual do bem, depois de


extinto o período de sua vida útil trabalha-se com VR = zero.
Os critérios básicos da depreciação são disciplinados pela Secretaria da Receita
Federal (SRF), no Regulamento do Imposto de Renda (RIR). A SRF estabelece em
publicações periódicas as taxas anuais de depreciação admitidas para os diversos
bens. De modo geral, trabalha-se nos projetos com as seguintes taxas:5

Tabela 31 – Depreciação linear

(4) Salvo em casos de recessão ou depressão econômica, as empresas não demitem de


imediato sua mão-de-obra qualificada como decorrência de variações conjunturais de
produção dados os elevados custos da demissão e da reposição futura.
(5) Observe-se que, infelizmente, no Brasil ocorre um processo de “legiferar” notadamente
na área fiscal o que tornam passíveis de alterações quaisquer parâmetros citados com
base na lei ou regulamentos.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

A SRF admite que a empresa adote taxas diferentes de depreciação, quando


estiverem amparadas por laudo pericial do Instituto Nacional de Tecnologia.
Conforme estabelece o artigo 183, parágrafo 2, inciso b, da lei 6.404/76, a
depreciação relativa à tecnologia (direitos de propriedade industrial) pode ser amor-
tizada, quando corresponder à perda do valor do capital aplicado na sua aquisição.
Este procedimento é, contudo, facultativo, notadamente no caso de marcas, quando
se pretende manter intocado o seu valor.
As empresas cujos processos produtivos impõem regimes de produção de 16 e
24 horas diárias podem – na medida da conveniência do seu planejamento financei-
ro – adotar a depreciação acelerada dos seus bens de produção. De acordo com o art.
202 do RIR, poderão adotar os seguintes coeficientes de aceleração:

Regime de produção Coeficiente

Um turno de 8 horas 1,0


Dois turnos de 8 horas 1,5
Três turnos de 8 horas 2,0

A aplicação destes coeficientes à tabela precedente resultará nas seguintes ta-


xas de depreciação acelerada:

Tabela 32 – Depreciação acelerada

A depreciação constitui, também, um custo não-caixa,6 porque não representa


um desembolso efetivo de recursos, um pagamento. A depreciação, em sua essência,
constitui uma fonte de fundos para o custeio do investimento de reposição.

(6) Também conhecida como “custo imputado”.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Cabe, ainda, acrescentar que, entre os itens do investimento, os terrenos não


são depreciáveis visto que não possuem período de vida útil limitado. Nos casos de
recursos minerais (jazidas) e florestais ou de bens aplicados nessa exploração, deve
ser considerada como custo a exaustão que deve ser calculada pelo método das
unidades produzidas (extraídas).
Existem diversos outros métodos de cálculo da depreciação amplamente dis-
cutidos em livros de administração financeira e de contabilidade. Aqui, não foram
considerados, dado ao fato de que, por imposição da legislação fiscal, não se aplicam
às empresas brasileiras deixando, por consequência, de ser utilizados nos projetos.
Tomando-se por base os dados contidos na Tabela 28 do Estudo Financeiro,
exemplifica-se, a seguir, o cálculo da depreciação no projeto, o que ocorre, normal-
mente, no Estudo Econômico.

Tabela 33 – Cálculo da depreciação (valores anuais em R$1,00)

Os seguros são calculados de acordo com os critérios adotados pelas empresas


seguradoras que estabelecem os prêmios que deverão ser pagos em função do grau
de risco representado pelo empreendimento.
Nos projetos, de modo geral, costuma-se trabalhar com o seguro contra incên-
dios, utilizando-se uma taxa de prêmio estimada em 0,5% para os itens do imobili-
zado técnico e dos estoques. Excetuam-se, no caso, os veículos, sobre os quais se
aplica uma taxa de 10%, e os terrenos e a tecnologia, por não se enquadrarem no
conceito. Nada impede, contudo, que sejam consideradas outras modalidades de
seguros e outros percentuais para os prêmios, desde que enquadradas nas normas
fiscais. Vejam-se exemplos construídos com os dados originais das tabelas do estudo
financeiro:

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 34 – Cálculo dos seguros (valores anuais em R$ 1,00)

Os aluguéis referem-se a todos os tipos de locação efetuados pela empresa.


Normalmente, constituem custos fixos, o que não impede que se convertam em
custos variáveis, quando se tratar de um arrendamento vinculado proporcional-
mente ao volume da produção.
Os juros de empréstimos de longo prazo são custos tipicamente semifixos. Nos
projetos (conforme já foi comentado anteriormente, nos estudos técnico e financei-
ro), parte deles constitui parcela dos gastos de implantação (despesas financeiras
durante a execução do projeto constituem rubrica do ativo diferido) e outra parte são
despesas financeiras pagas ao longo do período operacional, em parcelas decrescen-
tes, na medida em que se vai amortizando o principal da dívida sobre o qual incide,
integrando, assim, os custos fixos. Veja-se o seguinte exemplo baseado nas Tabelas
29 e 30 do estudo financeiro:

R$ 1,00

Investimento total 212.791


• recursos próprios 106.481
• recursos de terceiros 106.310

As condições propostas para o financiamento bancário foram as seguintes:

Esquema de saques: trimestrais de acordo com o cronograma


• carência: 1 ano
• amortização: 8 anos, exclusive carência
• juros: 10% a.a.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tomando-se por base o cronograma de desembolsos do projeto, chegou-se à


seguinte estrutura de cálculo:

Tabela 35 – Cronograma de desembolsos e de amortização do principal e juros


(valores em R$ 1,00)

Neste caso, R$ 7.077,00 de juros pagos ao longo do período em que se executa-


rá a implantação do empreendimento constituem as despesas financeiras ocorri-
das durante a realização do projeto (ver o item 1.2.6 da Tabela 28 do estudo finan-
ceiro). Estas despesas, pelas razões já expostas, são refinanciadas, integrando o
investimento, compondo as despesas de implantação e, como tais, para serem
amortizadas, farão parte como custo fixo da rubrica amortização do diferido, ana-
lisada a seguir.
Os juros pagos nos anos de 02 a 09 constituem as despesas financeiras do em-
preendimento em seu período operacional, levadas diretamente ao custo fixo. Como
se pode ver, são declinantes, ano a ano, à medida que se vai amortizando o principal
do financiamento (daí porque são, na prática, semifixos).
Nos projetos, de modo geral, costuma-se levar a custo fixo (para uma análi-
se estática, amostral de todos os períodos) a média aritmética desses juros (no caso
R$ 47.031, 00 ÷ 8 = R$ 5.878,87) reduzindo-se maiores distorções nesta análise.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Quando se trata, porém, de uma análise dinâmica, com projeção de resultados ano a
ano (fluxo de caixa), trabalha-se com os valores específicos de cada ano, desprezan-
do-se a média. As despesas de manutenção, quando preventivas e programadas,
constituem custo fixo e seus valores são estabelecidos pela engenharia de produção.
Na prática, em muitos projetos, trabalha-se com verbas baseadas em cálculos
percentuais incidentes sobre o valor da rubrica máquinas e equipamentos, veículos, etc.
(normalmente até 5%). Este procedimento, a despeito do seu uso, não é tecnicamente
o mais correto, pois deixa de considerar outros componentes da fábrica que também
demandam manutenção.
A amortização do diferido constitui, como a depreciação, um custo não-caixa.
Representa a reposição gradativa dos gastos realizados para a implantação e pré-
operação do empreendimento que são, entre outros, os seguintes: organização e
eventualidades, despesas fiscais e de transportes, despesas de montagem, estudos e
projetos, administração do projeto, despesas financeiras na execução do projeto e
gastos da pré-operação (ver estudo técnico). O cálculo da amortização do diferido
obedece às normas da lei 6.404/76 (§ 3º do art. 183) que estabelece um prazo máximo
de 10 anos para a sua efetivação, contudo, da data de início efetivo de operação do
empreendimento. Nos projetos, trabalha-se com a amortização do diferido em pra-
zos de 5 anos (20% a.a.), quando se deseja fazer maiores provisões de fundos no
período de maturação do empreendimento (reduzindo-se o lucro distribuível a sóci-
os e acionistas) ou 10 anos (10% a.a.) quando não se faz tão premente a formação de
fundos. Trata-se de uma questão eminentemente de planejamento financeiro.
A energia contratada pela indústria possui uma cota que é fixa e que constitui
uma obrigação da empresa enquanto durar o contrato. É denominada demanda
contratada (DC). O consumo efetivo da empresa corresponde à demanda medida
(DM). Se DC ≤ DM a empresa paga o valor contratado DC . Se DM > DC ocorrerá
(DM – DC = DU) e a empresa pagará DC mais a demanda de ultrapassagem (DU) que
constituirá custo variável. Ver a Figura 46, extraída do site da Associação Brasileira
de Companhias de Energia Elétrica (ABCE) que ilustra a situação.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 46 – Demanda de energia – (resolução Aneel 456 de 29/11/2000)

Fonte: ABCE, adaptação do autor.

Outros custos fixos podem ainda ser computados no projeto a depender de


peculiaridades da empresa. É o caso, por exemplo, do pagamento da demanda de
energia (notadamente em empresas eletrointensivas). Costuma-se, também, usual-
mente, abrir uma rubrica Outros para cobrir eventuais lacunas de registro. Em geral,
esta rubrica não excede a 5% do valor dos custos fixos totais.
Os custos variáveis são todos aqueles que são proporcionais ao volume da
produção. Esta proporcionalidade, teoricamente, pode ser constante – os dispêndi-
os aumentam ou diminuem na mesma proporção do acréscimo ou decréscimo da
produção. Pode ser crescente, quando a taxa de crescimento dos dispêndios é supe-
rior à taxa de crescimento da produção e, por fim, pode ser decrescente na situação
inversa.

Principais rubricas dos custos variáveis em um projeto:

a) salários e encargos sociais;


b) matérias-primas;
c) materiais secundários;
d) materiais complementares;
e) despesas de embalagem;
f) utilidades;
g) despesas de transporte;
h) despesas com vendas;

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

i) juros de empréstimos de curto prazo;


j) energia de ultrapassagem;
k) outros custos variáveis.

Os salários e encargos sociais referem-se à mão de obra variável da empresa


(assalariados de todos os níveis hierárquicos, empregados) que oscila, segundo a
necessidade da produção. A conceituação desse contingente está associada à sistemá-
tica adotada para a determinação da mão de obra fixa. Em síntese, a parcela da mão
de obra total que não foi enquadrada como fixa será considerada variável.
As rubricas referentes a matérias-primas, materiais secundários, materiais com-
plementares, despesas de embalagem e utilidades foram examinadas na seção 5.4
Mobilização dos fatores de produção do estudo técnico, do qual se transferem os
valores encontrados para o estudo econômico. No caso das utilidades não está con-
siderada a rubrica energia que foi tratada separadamente dadas suas peculiaridades,
já comentadas.
As despesas de transporte abrangem os gastos com fretes, seguros, despachan-
tes, etc., dispendidos na aquisição dos insumos e que constituem ônus da empresa.
As despesas com vendas cobrem os gastos com o marketing dos produtos (estu-
dos, pesquisas de mercado, publicidade, propaganda, etc.), comissões de vendedo-
res e outros similares. Há quem admita uma parte das despesas com vendas –
notadamente no que se refere ao marketing – um custo fixo, por considerá-las, quan-
do institucionalizadas na empresa, uma atividade que objetiva ampliar o volume da
produção sendo determinante e não condicionada por este. Este raciocínio é aceito
no caso de empreendimentos de grande porte, que trabalham com orçamento, não
sendo adequado às pequenas e médias empresas que atuam (no caso brasileiro), em
sua grande maioria, de forma improvisada.
Os juros de empréstimos de curto prazo referem-se aos dispêndios financeiros
decorrentes do processo de financiamento do capital de giro de curto prazo (descon-
tos de duplicatas, por exemplo).
A energia de ultrapassagem corresponde ao consumo de energia que excede ao
montante fixo contratado.
Outros custos variáveis podem ser incorporados ao projeto, de acordo com as
peculiaridades do empreendimento. Este é o caso do dispêndio com o pagamento de
tecnologia, quando esta é adquirida pelo sistema de percentual sobre as vendas
(running royalties)7. A exemplo do que foi comentado, anteriormente, em relação
aos custos fixos, pode-se abrir, também, uma rubrica Outros para cobrir eventuais

(7) Ver tecnologia no item 5.3.5 – Estudo Técnico

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TEORIA DO PROJETAMENTO

lacunas ou omissões, respeitando-se um limite convencionado em 5% sobre o valor


dos custos variáveis totais.
Os custos médios ou unitários são resultantes da divisão dos custos totais pelas
quantidades produzidas. Para a sua determinação, é imprescindível proceder-se ao
rateio dos custos indiretos pelas diversas linhas de produtos, se este for o caso.
Vejam-se as seguintes expressões:

em que:
CF = custo fixo
CV = custo variável
CT = custo total
CFMe = cuso fixo médio
CVMe = custo variável médio
CMe = custo total médio
Qx = quantidade produzida

A determinação dos custos médios unitários é importante no projeto, apenas,


quando se deseja calcular o ponto de nivelamento físico.

7.2.2 Custos quanto à apropriação

No que tange à apropriação dos custos (para a formação dos preços dos produ-
tos) eles podem ser classificados como diretos e indiretos.
São custos diretos aqueles que podem ser imediatamente apropriados a um só
produto ou serviço. São custos indiretos aqueles que dependem da execução de cál-
culos, rateios ou estimativas para serem distribuídos e apropriados em diferentes
produtos e serviços.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Apesar de que tanto os custos diretos quanto os indiretos poderem ser fixos ou
variáveis eles não são sinônimos8. Portanto não há que confundir, no projeto os
custos diretos e indiretos com os custos fixos e variáveis9. São absolutamente dife-
rentes, dado que representam critérios diferentes de abordagem dos dispêndios
operacionais de um dado empreendimento.
Assim serão encontrados numa empresa:

a) custos diretos fixos (CDF);


b) custos indiretos fixos (CIF);
c) custos diretos variáveis (CDV);
d) custos indiretos variáveis (CIV).

sendo que:

CDF + CIF + CDV + CIV = CF + CV = CT

Segundo o Prof. Américo Florentino, (..../2008)

[...] para uma empresa que fabrica um só produto (sem variações de quali-
dade ou tamanho) ou executa um só serviço, somente existem custos dire-
tos. Começa a existir custo indireto, quando a empresa fabrica mais de um
produto (ou mais de uma qualidade ou tamanho de um só produto) ou,
quando a empresa executa mais de um serviço e, assim mesmo, quando esse
custo é atribuível a mais de um produto ou a mais de um serviço (Florentino,
1968, p.17).

O conceito de custos diretos e indiretos assume importância nos projetos quan-


do a empresa fabrica diversos produtos sendo necessário proceder-se ao rateio dos
custos.

7.2.3 Custos segundo o enfoque financeiro

Segundo o critério financeiro no desempenho das suas atividades, possui a


empresa custos e despesas.

(8) A propósito ver Florentino (1968, p.18).


(9) Tem-se registrado, neste particular, gritantes confusões e erros metodológicos, inclusive
em roteiros de projetos, em que se considera (erradamente) que o custo indireto é
sinônimo do fixo e o direto a mesma coisa que o variável.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Os custos representam aquela porção do preço de aquisição de produtos, bens


ou serviços que foi diferida, ou seja, que ainda não foi utilizada para a realização da
renda... As despesas são custos que foram aplicados contra a renda de um determina-
do período10. Assim, os gastos relativos ao processo de produção são custos e os
relativos à administração, às vendas e aos financiamentos são despesas11. É impor-
tante notar que esta distinção não possui maior significado no projeto.
No plano financeiro, considera-se, no projeto, a seguinte estrutura de custos e
despesas:

a) custos de produção (CP)


b) despesas operacionais (DO)
– com vendas (DV)
– administrativas (DA)
c) despesas financeiras (DF)

É importante frisar que:

CP + DO + DF = CF + CV = CT

Os custos de produção abrangem todos os gastos vinculados direta ou indire-


tamente ao processo de fabricação (anteriormente já classificados nos custos fixos e
variáveis), a saber:

a) honorários e encargos sociais;


b) salário da mão de obra e encargos sociais (fixos e variáveis);
c) matérias-primas;
d) materiais secundários;
e) materiais complementares;
f) materiais de embalagens;
g) utilidades;
h) energia (fixa e variável);
i) gastos com transportes;
j) depreciação da fábrica;
k) seguros da fábrica;
l) aluguéis de máquinas;

(10) Backer, Morton e Jacobsen, Lyle – Contabilidade de Custos – São Paulo – MacGraw
Hill – 1987.
(11) Martins, Eliseu – Contabilidade de Custos, São Paulo – Atlas 1988.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

m) manutenção;
n) amortização do diferido relativo à fábrica.

Contabilmente, trabalha-se com dois conceitos, a saber: o de custo de produ-


ção (que se acabou de descrever) e o de custo dos produtos vendidos que constitui o
custo de produção dos produtos fabricados e transformados em venda.
Como o projeto é um instrumento de planejamento, comporta, em sua elabo-
ração, um determinado grau de abstração. Assim é que se admite (quando se faz a
análise de resultados e suas projeções) que a produção projetada seja a produção
vendida. Por este motivo, o custo de produção é considerado igual ao custo dos
produtos vendidos.
As despesas operacionais com vendas abrangem os dispêndios desse setor, não
vinculados especificamente à fábrica, relativos a:

a) honorários e encargos sociais;


b) salários e encargos sociais;
c) despesas com vendas, marketing, propaganda, publicidade;
d) materiais de embalagem (eventualmente);
e) depreciação;
f) seguros;
g) aluguéis;
h) manutenção.

As despesas operacionais administrativas compreendem os gastos gerais da


administração, não vinculados especificamente à fábrica ou à área de vendas. Pode-
rão estar enquadrados nas seguintes rubricas:

a) honorários e encargos sociais;


b) salário da mão de obra e encargos sociais;
c) depreciação;
d) seguros;
e) aluguéis;
f) manutenção;
g) amortização do diferido.

As despesas financeiras compreendem os dispêndios com juros, taxas e comis-


sões bancárias sobre empréstimos de longo prazo e de curto prazo.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 47 – Estrutura dos custos

Fonte: IFTO-ADM-BR.

A Tabela 36 seguinte ilustra, numericamente, a estruturação de custos anuais


para uma empresa industrial, segundo as classificações apresentadas. Os itens 1.3,
1.4, 1.6, 1.7 e 1.8 foram transferidos dos títulos anteriores. Os demais foram atribuí-
dos pelo autor com base em projetos de sua elaboração. O rateio foi efetuado de
acordo com a distribuição dos bens pelos setores da empresa. É importante destacar
que os custos devem ser preliminarmente estimados, considerando-se a operação da
empresa a plena carga12, de modo a evitar-se distorções no cálculo do ponto de
equilíbrio.
Ressalta-se que, no exemplo a seguir apresentado, retrata-se o fechamento de
custos em um projeto de implantação de uma empresa fabricante de um só produto
homogêneo. Este cálculo se torna mais complexo quando a empresa possui várias
linhas de produtos. Neste caso, dever-se-á preliminarmente fechar os custos produ-
to por produto, fazendo-se o rateio dos custos indiretos e extraindo-se, ao final, um
quadro síntese da estrutura global dos custos.

(12) Com 100% da capacidade de produção.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 36 – Estrutura de custos e despesas – produção de 180.000 kg do produto


alfa (em R$ 1,00)

7.2.4 Tratamento dos impostos no projeto

Ao considerar-se esta questão altamente controversa e polêmica na adminis-


tração contábil e financeira das empresas brasileiras, é necessário ter-se presente
que o projeto é um instrumento de planejamento. Disto resulta que, em sua elabora-
ção, não se podem examinar todos os detalhes que são considerados quando se
trabalha na prática diária com os registros contábeis.
Contudo, uma abordagem destacada da geração dos impostos, taxas e outras
contribuições do gênero, produzidas pelo empreendimento, é de extrema importân-
cia porque, do ponto de vista microeconômico, confere maior exatidão às previsões
e à análise da rentabilidade do investimento e, no plano macroeconômico, realça o
significado social do projeto.
A apropriação dos componentes desta rubrica pode ser efetuada na tabela da
estrutura de custos e na demonstração dos resultados, aqui denominada de cálculo
da capacidade de pagamento. Deve-se atentar para os três aspectos destacados a
seguir.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Em primeiro lugar, existem dois grupos de impostos. No primeiro, estão aqueles


que são levados a custos (IPTU, IOF, etc.) e, no segundo grupo, aqueles que incidem
sobre a receita (ICMS, PIS, Cofins, ISS e IPI) e sobre o lucro (IR e CSSL).
Em segundo lugar, relativamente aos do primeiro grupo, observe-se que são
incluídos na estrutura de custos: há, portanto, uma recuperação pelo preço de venda.
Em terceiro lugar, quanto aos do segundo grupo, observe-se que, no ICMS, há
uma compensação de imposto, considerando que a empresa recolhe a diferença
entre o pago na compra e aquele recolhido na venda, já que a metodologia do
cálculo embute o imposto no preço de venda, para que não se reflita na margem de
lucro. Já no IPI, o cálculo do imposto é destacado “feito por fora” e as empresas
recolhem pela diferença entre o valor pago na compra e o valor arrecadado na
venda.
Nesses dois impostos, ICMS e IPI, os valores já são levados a custo pelo valor
de compra das mercadorias, pois eles compõem o valor total da nota fiscal. O valor
arrecadado na venda pela compensação é repassado aos cofres públicos, pelo que as
empresas, nesse momento, passam à condição de coletoras de impostos.
No ISS, o valor é cobrado na nota fiscal faturada contra o cliente e repassado
até o dia 5 de cada mês à prefeitura. Novamente, neste caso, as empresas são meras
coletoras dos impostos, poiso imposto deve ser recolhido aos cofres da prefeitura,
até o dia 5 e não até o quinto dia útil.
No PIS e Cofins, os valores são calculados e acrescentados ao valor final da
NF de venda e repassados pela empresas aos cofres públicos.
O IR e a CSSL são impostos que não são levados a custos, mas que se refletem
no resultado da empresa, uma vez que incidem sobre o lucro. Com base na legisla-
ção vigente, as empresas recolhem esses impostos aos cofres públicos tendo como
base alíquotas dentro das faixas em que estão enquadradas.
O Simples Nacional é um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e
fiscalização de tributos previsto na lei complementar nº 123, de 14 de dezembro de
2006 e aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte, abrangendo a
participação de todos os entes federados (União, estados, Distrito Federal e municí-
pios).
Para o ingresso no Simples Nacional, é necessário o cumprimento das seguin-
tes condições:

a) enquadrar-se na definição de microempresa ou de empresa de pequeno


porte;
b) cumprir os requisitos previstos na legislação;
c) formalizar a opção pelo Simples Nacional.
O Simples abrange os seguintes tributos: IRPJ, CSLL, PIS/Pasep, Cofins, IPI,
ICMS, ISS e a Contribuição para a Seguridade Social destinada à Previdência Social

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

a cargo da pessoa jurídica (CPP). O recolhimento dos tributos abrangidos é efetuado


mediante documento único de arrecadação – DAS 6 que foi disponibilizado às ME/
EPP de sistema eletrônico para a realização do cálculo do valor mensal devido,
geração do DAS e, a partir de janeiro de 2012, para constituição do crédito tributário.
O Simples possibilita:

a) apresentação de declaração única e simplificada de informações socioeco-


nômicas e fiscais;
b) prazo para recolhimento do DAS até o dia 20 do mês subsequente àquele
em que houver sido auferida a receita bruta.

Vale, por fim, ressaltar que a sistemática de tributação no Brasil muda com
uma frequência assustadora,. não somente no que tange aos percentuais das alíquotas
como, também, na base de cálculo e na criação de novos impostos, taxas e contribui-
ções destinadas a suprir com mais recursos a insaciável máquina do governo. Assim
sendo, é bastante possível que todos os procedimentos aqui descritos estejam supe-
rados no espaço de tempo de um ano.

7.3 Análise dos resultados

O estudo econômico do projeto é elaborado de forma a permitir a realização


de uma análise precisa do investimento projetado. Logo, deve-se trabalhar, exclusi-
vamente, com a receita operacional decorrente do programa de produção adotado
(ver capítulo 3.2 – Estudo Técnico), considerando-se a empresa operando a plena
carga.
Nos projetos de ampliação é plausível que se aborde a receita existente para
fins de confronto com a receita adicional e avaliação do impacto da ampliação pre-
tendida vis-à-vis a antiga estrutura. Contudo, não se deve proceder a análise do
investimento, incorporando as receitas totais (atual + projetada) sob pena de incor-
rer-se em grave erro metodológico, com evidente distorção dos resultados.
Trabalha-se com a Receita Operacional Bruta (Receita de Vendas) que é obtida
a partir da seguinte expressão:

ROB = Qx1 • Px1 + Qx2 • Px2 + ..... Qxn • Pxn

em que:

Qx – é a quantidade física anual obtida de um dado bem, de acordo com o


programa de produção estabelecido;

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Px – o seu preço unitário de venda (que incorpora os impostos sobre vendas,


no co o ICMS, PIS e Cofins) ou o ISS no caso da prestação de serviços.

O preço unitário de venda pode ser determinado segundo várias modalidades


de procedimentos (ver, a propósito, o capítulo 4.7 – Análise de Preços, no título 4. –
Estudo do Mercado). O ideal é que o seja em função dos custos de produção a partir
dos quais se fixe a margem de lucro do empreendimento.
O cálculo dos impostos, de acordo com a opção do projetista, pode ser efetuado
segundo três regimes diferentes, a saber:

a) regime do lucro presumido;


b) regime do lucro real;
c) regime do simples.

Feita uma simulação dos resultados que seriam obtidos, trabalhando-se com
os três regimes, encontraram-se os resultados constantes da tabela seguinte, na qual,
fica clara vantagem do Simples para as micro e pequenas empresas.

Tabela 37 – Resultados da empresa em regimes tributários alternativos

Notas: (1) Resultado da divisão do Retorno Anual líquido (Capacidade de Pagamento


Líquida – CPL) pela parte do Investimento Total realizada com Recursos Próprios. (2)
Resultado da divisão do Retorno Anual bruto (Capacidade de Pagamento Bruta – CPB)
pelo Investimento Total.

Assumiu-se que a empresa, operando a plena carga, produzirá 180.000 kg anuais


de um determinado produto ALFA. O preço unitário de venda (Px) deste produto
está sendo dado como de R$1,20/kg. Na determinação deste preço foram considera-
dos os custos totais, os impostos sobre vendas e a margem de lucro13.

(13) Mark-up.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 38 – Determinação das capacidades de pagamento do projeto

Nota: o cálculo é idêntico para os projetos de serviços, variando apenas as alíquotas do


Simples.

7.4 Projeção dos resultados

A tabela 39 projeta os resultados do projeto e o seu fluxo de caixa para um


período de 10 anos.
Trabalhou-se com os mesmos dados que formaram a Tabela 38, em que se
calculam os resultados de acordo com o regime do Simples. A partir desta tabela, é
possível determinar-se a taxa interna de retorno do empreendimento realizado com
e sem financiamento bancário.
No exemplo, assumiu-se a hipótese de que a empresa opera a 100% da capaci-
dade de produção do ano 1 ao ano 10.15

(14) Parece lógico que na hipótese da empresa realizar todo o Investimento com Recursos
Próprios, não se tenha que considerar os itens 14 e 15 da Tabela 38 que, portanto
devem ser estornados. Observa-se que os Juros de Longo Prazo estavam incluídos nas
despesas financeiras, ver Tabela 36.
(15) Aplicou-se às projeções o princípio ceteris paribus.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 39 – Resultados do projeto e o seu fluxo de caixa

Obs.: Ver tabelas anteriores. Item 11 – Valor residual do investimento = 60% da Construção
Civil e 100% do Terreno.

7.5 Análise dos resultados

Fechados os custos do empreendimento, determinado o seu faturamento, de-


monstrados e projetados os resultados operacionais, resta ao projetista demonstrar
a rentabilidade do projeto nos planos macro- e microeconômico. Esta análise funda-
mentará o processo de tomada de decisão a nível empresarial e subsidiará o exame
e a aprovação do pleito (no caso de pedido de financiamento) pelos organismos de
fomento.

7.5.1 – Análise macroeconômica

Os projetistas, de modo geral, desprezam a apresentação dos indicadores da


contribuição social do empreendimento, deixando esta atribuição para as equipes
de análise das instituições financiadoras, quando é o caso.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

A omissão de indicadores macroeconômicos nos projetos privados constitui


um erro tático. Notadamente em projetos de grande porte (que produzem impacto
sobre o meio ambiente e a comunidade como um todo) é necessário que se destaque
a contribuição do empreendimento para a coletividade, de sorte a angariar a simpa-
tia e o apoio político da sociedade e dos seus representantes.
Neste plano, os principais indicadores que devem ser apresentados são os
seguintes:

a) produtividade social do capital;


b) contribuição para a renda;
c) contribuição para a receita do governo;
d) produtividade da mão-de-obra e densidade do capital;
e) contribuição para o balanço de divisas.

7.5.1.1 Produtividade social do capital

Informa a contribuição do projeto para a geração de renda. Para a sua obtenção,


trabalha-se com a relação produto-capital (RPK), em que:

RPK = VAB
K

sendo VAB o valor agregado bruto, ou seja, o montante global de renda gerado pelo
empreendimento. No projeto, VAB é obtido mediante o seguinte cálculo:

VAB ROB – CI

em que: ROB = receita operacional bruta


CI = consumo intermediário

O consumo intermediário refere-se aos dispêndios da empresa com a aquisi-


ção de matérias-primas, secundárias, complementares, de embalagem, peças e ma-
teriais de reposição e utilidades (ver itens 2.2 a 2.6 da Tabela 36).
O VAB corresponde, portanto, ao somatório da remuneração dos fatores de
produção envolvidos (salários, juros, lucros, aluguéis) mais as depreciações e amor-
tizações do diferido e os impostos e contribuições.

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TEORIA DO PROJETAMENTO

É importante observar que, como o investimento (K) é realizado para promo-


ver resultados ao longo da vida útil do projeto, o VAB a ser considerado também
deve ser aquele produzido ao longo deste período.16
Quanto maior for o coeficiente RPK maior a produtividade social do capital.
Tomem-se, por exemplo, os dados seguintes, calculados para os 10 anos de
vida útil do investimento:

R$ 1,00

K = 212.791
ROB = 2.160.000
CI = 785.140
VAB =1.374.860

RPK = R$ 6,46

Ou seja, cada real investido no empreendimento será responsável pela geração


de R$ 6,46 de renda ao longo de dez anos (presumíveis) da vida útil do projeto. Em
termos anuais médios cada real investido contribuirá para a geração de R$ 0,75 da
renda.

7.5.1.2 Contribuição para a renda

Corresponde ao valor agregado bruto no período de vida útil do projeto. No


caso de empreendimentos de micro- e de pequeno portes, este valor é irrisório indivi-
dualmente. Porém, se for agregado aos resultados produzidos por milhares de MPE, é
possível mensurar a contribuição para a geração da renda nacional ou regional. Como
foi visto no indicador precedente VAB =1.374.860 na vida útil do empreendimento.

7.5.1.3 Contribuição para a receita do governo

O volume da geração de receita do projeto para os cofres públicos pode ser


determinado através dos impostos diretos, indiretos, as contribuições sobre o
faturamento e o lucro. No caso deste pequeno projeto, esta contribuição corresponde
a R$ 162.510 na vida útil do projeto.

(16) Ou seja: todos os valores são multiplicados por 10.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

7.5.1.4 Produtividade da mão de obra (PMO) e densidade do capital (DK)

VAB
RPK =
QMO

K
RPK =
QMO

em que QMO = número total de empregados.

A produtividade da mão de obra (PMO) indica a geração de renda por empre-


go criado, enquanto a densidade do capital (DK) expressa o custo social de cada
emprego criado.
Quanto mais elevada for a PMO, maior será a produtividade do empreendi-
mento. Quanto mais elevada for a DK, mais intensivo de capital será o empreendi-
mento. Por exemplo, no projeto considerado neste livro, o empreendimento é res-
ponsável pela geração de 20 empregos. Sabendo-se o valor de K e do VAB, tem-se:

1.374.680
PMO =
20

PMO = R$ 68.743,00 por emprego criado.

212.791
DK =
20

DK = R$ 10.640,00 por emprego criado.

Ou seja, cada emprego criado custou um investimento da ordem de R$ 10.640,00


o que, pelos parâmetros brasileiros, enquadraria a empresa como sendo de baixíssima
intensidade de capital. Vale ainda destacar que cada emprego responde pela geração
de renda da ordem de R$ 79.543,00, o que expressa uma elevada produtividade da
mão de obra.
Neste exemplo os resultados não são expressivos por se tratar de um projeto de
pequena dimensão financeira. Contudo a questão de ser ou não ser a empresa in-

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TEORIA DO PROJETAMENTO

tensiva de capital é relativa e deve sempre ser contraposta aos aspectos referentes à
produtividade, além dos ditames da tecnologia e do processo. Uma empresa inten-
siva de capital não perde o mérito econômico por sê-lo, sobretudo se constitui um
empreendimento que possui efeitos geratrizes a montante ou a jusante das suas
plantas.

7.5.1.5 Contribuição para o Balanço de Divisas

Uma empresa pode destacar-se por responder, significativamente, pela eleva-


ção do volume das exportações ou pela redução das importações nacionais contribu-
indo, assim, significativamente, para a geração de superávit no balanço comercial do
País. No projeto podem-se registrar as seguintes situações em que a empresa atua
criando economia de divisas para o país:

a) X > M, ou seja, o valor das exportações (X) é superior ao das importações


(M): o saldo positivo constitui a parcela de economia de divisas gerada pelo
empreendimento;

b) a empresa exporta e não efetua qualquer importação: todo o valor exporta-


do constitui a parcela da economia de divisas do projeto;

c) a empresa passa a produzir determinado bem que antes era efetivamente


importado pelo país em função da inexistência, até então, de produtores
nacionais: este é um caso típico de substituição de importações, e a contri-
buição da empresa é expressa por todo o valor das importações suprimidas
com a sua produção.

A tabela 40 abaixo é um exemplo de quadro de balanço de divisas em uma


empresa cuja produção passa a substituir importações do país:

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Tabela 40 – Balanço de divisas (1) – em US$ mil

Nota: (1) Este exemplo não tem relação com os dados anteriores.

7.5.1.6 Outros indicadores

Diversos outros indicadores de natureza macroeconômica podem ainda ser


relacionados, muitos deles vinculados a diretrizes da política econômica nacional de
cunho permanente ou conjuntural. Destacam-se entre estes:

a) indicadores vinculados ao processo de desenvolvimento regional (por exem-


plo, elevada absorção, pelo empreendimento, de matérias primas proces-
sadas na região, localização em áreas menos desenvolvidas (fora das regi-
ões metropolitanas), elevada geração de emprego e absorção de mão de
obra local, geração de economias externas e efeitos polarizantes);
b) indicadores vinculados ao processo de desenvolvimento científico, por exem-
plo, produção de inovações, criação, absorção e/ou desenvolvimento de
tecnologia;
c) indicadores vinculados a programas e metas conjunturais de política eco-
nômica, como racionalização do consumo de combustíveis, utilização de
fontes alternativas de energia, proteção ao meio ambiente.

A apresentação dos indicadores macroeconômicos reveste-se de maior impor-


tância e significado na medida em que se disponha de parâmetros que possibilitem
o estabelecimento de comparações, ou seja, é preciso haver referências para os indi-
cadores Neste caso, ressalta-se a necessidade de dispor-se das informações relativas
às contas nacionais e regionais (fornecidas por um competente sistema de registro

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TEORIA DO PROJETAMENTO

da contabilidade social) assim como de dados referentes a outros empreendimentos


do mesmo ramo e setor do investimento projetado.

7.5.2 Análise microeconômica

O exame do empreendimento sob o ponto de vista da iniciativa privada tem


sido realizado com maior ênfase nos projetos convencionais. Neste sentido, traba-
lha-se com dois conjuntos distintos de indicadores que entre si se completam. O
primeiro conjunto refere-se a indicadores estáticos, assim denominados por repre-
sentarem “cortes” da situação da empresa examinada para um determinado nível
em um momento dado. O segundo conjunto refere-se a indicadores dinâmicos, por-
que tomam como referencial o valor do dinheiro no tempo, medido pelo seu preço
(a taxa de juros).
Os principais indicadores estáticos utilizados no projeto são os seguintes:

a) ponto de equilíbrio;
b) prazo de retorno;
c) taxa média de retorno;
d) capacidade de solvência.

O ponto de equilíbrio é o indicador mais utilizado em projetos. Conhecido


por inúmeras outras denominações (ponto de nivelamento, de igualação, de ruptura, de
lucro zero, etc.) e demonstrado por métodos gráficos e numéricos, representa aquela
situação em que, a um determinado nível de utilização da capacidade instalada, a
receita operacional líquida (ROL) é igual aos custos totais. Nesse ponto, por
consequência, o lucro é igual à zero.
O ponto de equilíbrio funciona como um referencial do nível de utilização da
escala de produção do projeto que é necessário praticar para que a empresa possa
obter lucro.
Este indicador é apresentado segundo dois pressupostos. O econômico, segun-
do o qual todos os custos são considerados, e o financeiro, no qual só se trabalha
com os conceitos de custos-caixa (desembolsáveis), excluindo-se os chamados custos
não-caixa como é o caso da depreciação e da amortização do diferido.
Enquanto o ponto de equilíbrio sob o enfoque econômico é mais abrangente, o
financeiro constitui um indicador específico que estabelece os limites mínimos
determinantes do funcionamento da empresa visto que retrata uma posição de caixa.
O ponto de equilíbrio pode ser apresentado em termos percentuais e em unida-
des físicas relativas ao volume de produção.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

O ponto de equilíbrio físico, quando é calculado para uma empresa que produ-
za diversos artigos diferentes envolve um grau de maior complexidade posto que
neste caso ter-se-á que ratear o custo fixo pelas diversas linhas de produto, encon-
trando-se tantos pontos de equilíbrio quantos forem os produtos fabricados pela
empresa o que, evidentemente, não o justifica.
Para a determinação do ponto de equilíbrio utilizam-se os conceitos de custos
fixos e variáveis aplicados através das seguintes expressões:

1 Ponto de equilíbrio (PE) econômico %:

CF
PE = x 100
ROL – CV

em que:
CF = Custos fixos
ROL = Receita operacional líquida
CV = Custos variáveis

Exemplo do cálculo do Ponto de Equilíbrio (PE) econômico. Tomando-se os


dados das tabelas anteriores e aplicando-se, tem-se:

54.408
PE = x 100
200.016 – 80.801

PE = 45,63 % (1)

2 Ponto de equilíbrio (PE) econômico físico

CF
PEf =
RME – CVMe

em que:CF = custos fixos


ROL = receita operacional líquida
CV = custos variáveis
RMe = receita média (ROL/Qx)
CVMe = custo variável médio (CV/Qx)

305

miolo.pmd 305 16/9/2013, 12:31


TEORIA DO PROJETAMENTO

54.408
PEf =
1,11 – 0,45

PEf = 82.436 kg (2)

3 Ponto de equilíbrio caixa (PECx) %

CF – CNCx
PECx =
ROB – CV x 100

Observação: CNCx = Depreciação + Amortização do Diferido.

Exemplo:
54. 408 – 18.649
PECx = x 100
200.016 – 80.801

PECx = 30% (3)

4 Ponto de equilíbrio caixa físico (PECxf)

54. 408 – 18.649


PECxf = x 100
1,11 – 0,45

PECxf = 54.180 kg (4)

Cabem, aqui, ainda, algumas observações gerais. Em primeiro lugar, traba-


lha-se, no cálculo do PE, com os dados da empresa para a sua produção a plena carga
e considerando-se a receita operacional líquida, visto que os tributos não são da
empresa. Desta forma, como se observa do resultado fornecido pela expressão (1) a
empresa obterá lucro sempre que operar em níveis superiores a 45,63% da utilização
de sua capacidade produtiva. Sempre que trabalhar abaixo deste nível, estará apre-
sentando prejuízo. É o que diz, agora em termos físicos, a expressão (2). Para obter
lucro, a empresa terá que produzir quantidades superiores a 82.436 kg. Fabricando
quantidades inferiores, dará prejuízo.

306

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Já o ponto de equilíbrio caixa, possui a seguinte leitura: para operar em condi-


ções tais que possibilitem as entradas de caixa se igualarem às saídas de caixa, deverá
a empresa utilizar 30% da sua capacidade de produção – expressão (3) ou produzir,
no mínimo, 54.180 kg – expressão (4). Acima desses limites haverá saldo positivo de
caixa. Abaixo desses limites, faltará dinheiro para pagar os compromissos.
O exame do ponto de equilíbrio nos conceitos econômico e caixa permite cons-
tatar que, quanto menores forem os custos fixos, maior será a flexibilidade operacional
da empresa.
O ponto de equilíbrio no projeto é frequentemente demonstrado de forma
gráfica como nas figuras seguintes:

Figura 48 – Ponto de equilíbrio – conceito econômico

307

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Figura 49 – Ponto de equilíbrio – conceito caixa

O indicador prazo de retorno do investimento, muito conhecido também


pela expressão inglesa pay-back ou, ainda, tempo de recuperação do investimento, fornece
uma ideia aproximada do tempo despendido para que os recursos aplicados no
empreendimento retornem à empresa e aos seus investidores. O prazo de retorno
pode ser observado sob dois prismas, a saber:

a) o prazo de retorno do investimento total (Prt) que é dado pela expressão:

IT
Prt = (1)
CPB

b) o prazo de retorno dos recursos próprios (Prp) fornecido pela expressão:

RP
Prp = (2)
CPL

308

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Em que:
IT = Investimento Total
CPB = Capacidade de Pagamento Bruta
RP = Recursos Próprios
CPL = Capacidade de Pagamento Líquida

Exemplo:

Utilizando os dados de investimento anteriormente apresentados e os da CPB


e CPL determinados a partir da Tabela 38, tem-se que:

212.791
Prt = = 2 anos, 4 meses e 17 dias.
89.335

106.481
Prt = = 1 ano, 6 meses e 6 dias.
70.167

A taxa média de retorno (TMr) constitui um indicador simples da rentabilida-


de dos recursos aplicados no empreendimento. É o inverso do prazo de retorno.

Assim:
CPB
TMr = x 100
IT

CPL
TMrp = x 100
RP

No caso:

89.335
TMrt = x 100
212.791

TMrt = 42%

70.167
TMrp = x 100
106.481

TMrp = 66%

309

miolo.pmd 309 16/9/2013, 12:31


TEORIA DO PROJETAMENTO

O indicador capacidade de solvência (Cs) expressa o grau da capacidade do


empreendimento para honrar os compromissos assumidos. Também conhecido como
ônus de caixa, é obtido pela divisão da capacidade de pagamento bruta (CPB) (aqui
excluída a parcela do pagamento dos juros sobre empréstimos de longo prazo (JLP))
pela parcela anual de amortização do principal do financiamento (PAP) 6 ver a
respeito, no Quadro V.4, em que se considera, exatamente, a média aritmética das
parcelas de amortização do principal. O coeficiente obtido traduz, em unidades
monetárias, qual a quantidade de recursos disponíveis por unidade de valor devido.

CPB – JPL
Cs =
PAP

No caso:

89.335 – 5.879
Cs =
14.583

Cs = R$ 5,72

Ou seja, para cada R$ 1,00 devido dispor-se-á de R$ 5,72 para pagamento.

Os indicadores ou coeficientes dinâmicos são aqueles determinados a partir


dos cálculos que consideram o valor do dinheiro no tempo, ou seja, têm seu preço
expresso pela taxa de juros. São eles os que realmente contam na moderna análise de
investimentos.
No projeto, trabalha-se, normalmente, com os seguintes:

a) valor presente líquido (VPL)


b) taxa interna de retorno (TIR)

O método do valor presente líquido (VPL) trabalha com o conceito da equiva-


lência financeira, hoje, de um fluxo de caixa projetado no tempo. O procedimento
consiste na apuração do valor presente líquido dos diversos recebimentos anuais
(geração de caixa líquida), mediante o seu desconto a uma determinada taxa de juros.

O cálculo do VPL é realizado mediante a aplicação da seguinte expressão:

VPL = – IT + CPB x FVA (i,n)

310

miolo.pmd 310 16/9/2013, 12:31


Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Sendo:

VPL > 0 = projeto viável


VPL < 0 = projeto inviável

Em que, como já visto:

IT = investimento total do projeto


CPB = capacidade de pagamento bruta
FVA = fator de desconto para uma determinada taxa (i) em um determinado
período (n).17

Quando se trabalha com os recursos próprios (RP), a expressão utilizada é a


seguinte:

VPL = – RP + CPL x FVA (i, n)

Em que: CPL = capacidade de pagamento líquida

Por convenção, os valores que representam saídas são registrados com sinal
negativo (–) e as entradas com sinal positivo (+).
Até tempos recentes, os cálculos do valor atual eram realizados, manualmente,
com o auxílio de quadros que acompanhavam os livros de matemática financeira.
Na atualidade, qualquer máquina de calcular financeira realiza com rapidez e sim-
plicidade este cálculo.
Exemplo: determinar o VPL para um investimento total de R$ 212.791,00 con-
siderando o fluxo de caixa seguinte, descontado à taxa de 12% a.a.

ANOS CPB (R$ 1,00)

01 69.137
02 69.137
03 69.137
04 69.137
05 69.137
06 69.237
07 69.237

(17) Ver, a propósito, HESS, PUCCINI (1977).

311

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TEORIA DO PROJETAMENTO

08 69.237
09 69.237
10 77.463

VPL = R$ 177.512,79

Assim, considerando a taxa de 12% a.a., no período, o fluxo de caixa


descontado amortiza o investimento total realizado, deixando um resultado positi-
vo de R$ 177.512,79.
Calculando-se o VPL, à mesma taxa de 12% a.a., no período, para recursos
próprios investidos no montante de R$ 106.481,00, considerando o seguinte fluxo de
caixa:

ANOS CPL (R$ 1,00)

01 43.196
02 47.037
03 48.337
04 49.637
05 50.937
06 52.337
07 53.637
08 54.937
09 69.237
10 77.463

tem-se:

VPL = R$ 187.312,93

Ou seja, um excelente negócio para os investidores.

Taxa interna de retorno (TIR) é aquela que, descontando um fluxo de caixa no


tempo, amortiza o investimento realizado, de sorte que o VPL resultante seja igual
a zero.

VPL = – IT + CPB x FVA (i, n) = 0

VPL = – RP + CPL x FVA (i, n) = 0

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Todo projeto possui a sua taxa interna de retorno que se constitui em um


indicador intrínseco do empreendimento e representativo da relação existente entre
os fluxos financeiros de entrada e saída dos recursos em caixa.
A taxa interna de retorno não é, de per se, um indicador de rentabilidade do
capital investido. Indica, apenas, a que taxa de desconto o fluxo de caixa paga (zerando)
o investimento efetuado. Por esta razão, sua aplicação deve ser associada a outros
indicadores tais como a taxa de atratividade do mercado (TAM) e a taxa de juros do
financiamento.
A taxa de atratividade do mercado (TAM) constitui o custo de oportunidade do
capital. É aquela, entre as diversas taxas que estão sendo praticadas pelos investido-
res no mercado, que oferece a melhor remuneração ao capital aplicado. Assim sen-
do, se o mercado financeiro estiver captando recursos oferecendo uma taxa média de
18% a.a. (juros reais) qualquer investimento que não apresente rentabilidade supe-
rior a esta taxa deixa de ser atrativo para o investidor. Pode-se, então dizer que, ao
comparar-se a taxa interna de retorno (TIR) do projeto com a taxa de atratividade do
mercado serão encontradas as seguintes situações:

a) TIR > TAM = investimento atrativo;


b) TIR = TAM = investimento indiferente;
c) TIR < TAM = investimento não atrativo.

É importante notar que o conceito de taxa de atratividade não pode ser consi-
derado com base em taxas episódicas, representativas de situações conjunturais de
curto prazo. Na sua determinação deve-se levar em consideração o comportamento
da economia no longo prazo.
Outra comparação a fazer é a da TIR com a taxa de juros do financiamento (TJF).
Em sendo a TIR > TJF, constitui um bom negócio realizar o investimento com finan-
ciamento por terceiros, notadamente, quando, também, TIR > TAM.
Esta situação registra-se com frequência nas operações de financiamento de
longo prazo, contratadas com as instituições de fomento.
No passado, o cálculo da TIR era complexo e trabalhoso. Sendo a taxa (i) uma
incógnita, a sua determinação era procedida pelo método da tentativa e erro, apro-
ximações sucessivas e interpolação, utilizando-se processos algébricos ou gráficos.
Pode-se calcular o VPL e a TIR de várias formas, inclusive manualmente. Com
o advento dos computadores e das máquinas de calcular existem inúmeros proces-
sos à disposição dos usuários. Entre estes, o cálculo do VPL e da TIR com a calcula-
dora HP12c18 é um dos mais populares. Por isso, é este processo de cálculo que se

(18) O exemplo deste tópico foi retirado do site http://administrando.net.br/


mensagem_completa. php?id=52 de Marcelo Teixeira em 4.05.13.

313

miolo.pmd 313 16/9/2013, 12:31


TEORIA DO PROJETAMENTO

transcreve a seguir: Admita-se um Investimento inicial de R$ 100.000,00 que


corresponde a uma saída de caixa. Correspondendo a este, registra-se um fluxo de
caixa com os seguintes retornos (entradas):

a) primeiro ano R$ 30.000,00


b) segundo ano R$ 20.000,00
c) terceiro ano R$ 40.000,00
d) quarto ano R$ 50.000,00
e) quinto ano R$ 60.000,00

Digitando na HP 12C

f REG para zerar todos os valores


100000 CHS (valor negativo) g CFo
30000 g CFj
20000 g CFj
40000 g CFj
50000 g CFj
60000 g CFj
15 i (taxa de desconto considerada, pode ser a inflação ou outro índice desejado)

Para exibir o VPL


f NPV
Resultado: R$ 25.928,74 ∴ VPL Positivo ∴ Bom negócio à taxa considerada.

Para exibir a TIR


f IRR
Resultado: 23,91 % ∴ TIR > TAM ∴ Bom negócio a Taxa Interna de Retorno é
maior que a Taxa de Atratividade do Mercado (TAM).

No caso em que todos os valores de entrada sejam iguais o processo seria o


seguinte:
f REG para zerar todos os valores
100000 CHS (valor negativo) g CFo
25000 g CFj
5 g Nj (5 lançamentos de 25000)
15 i (taxa de desconto)

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Para exibir o VPL


f NPV
Resultado: R$ -16.196,12 VPL Negativo projeto inviável.

Para exibir a TIR


f IRR
Resultado: 7,93%%. Menor que TAM , mau negócio.

Cabe, neste ponto, tecer algumas considerações sobre o VPL e a TIR como
indicadores, uma vez que se discute bastante, (em administração financeira) qual
dos dois indicadores (o valor presente líquido ou a taxa interna de retorno) constitui
o melhor instrumento para a análise de investimentos. A rigor, ambos são impor-
tantes e podem ser utilizados em conjunto. Ao trabalhar-se com o conceito de VPL
tem-se que eleger uma taxa de juros e verificar o resultado.
Evidentemente, obtendo-se um resultado positivo (VPL > 0) e satisfatório, à
taxa estipulada, o empreendimento será considerado válido. Em caso de avaliação
de duas ou mais alternativas, melhor será aquela que apresentar o maior VPL. Uma
das vantagens deste método reside na sua simplicidade de cálculo e no fato de se ter,
de pronto, respondido qual o grau de rentabilidade de um determinado investimen-
to a uma dada taxa de remuneração desejada. O VPL, contudo, não é muito utilizado
nos projetos econômico-financeiros.
Eder et alii (2004, p. 9) referem-se a críticas ao método do VPL. São elas:

a ) assumir que os administradores sejam capazes de prever com precisão


os valores e taxas anuais do fluxo de caixa futuro. Na realidade, quanto
mais distante se estiver do fim do fluxo, mais difícil será a estimativa de
futuro do mesmo. Superestimar ou subestimar um fluxo de caixa pode
levar a aceitação de um projeto que deveria ser rejeitado ou a rejeição de
um projeto que deveria ser aceito;
b) admitir que as taxas não variem com o tempo, o que não é verdade na
maioria dos casos. A taxa mínima de rentabilidade exigida de um proje-
to-TMA, assim como as taxas de juros, estão mudando periodicamente,
uma vez que oportunidades de investimento, taxas de juros futuras e o
custo de aquisição de capital podem afetar a TMA. Pode-se então dizer
que para resolver esse problema, basta estipular valores de TMA para
cada ano do fluxo de caixa.

Entretanto, deve-se concordar que existe um crescente grau de incerteza à me-


dida que a vida útil considerada do projeto aumenta (GROPPELLI, 1986 apud EDER
et al., 2004, p. 9).
A taxa interna de retorno constitui um instrumento de análise muito popular
entre projetistas e analistas de investimento. Contudo, é preciso notar que ela não

315

miolo.pmd 315 16/9/2013, 12:31


TEORIA DO PROJETAMENTO

constitui, isoladamente, um indicador de rentabilidade, conforme já foi assinalado.


A rigor, a TIR é um referencial das relações financeiras existentes (em um determi-
nado projeto), entre o investimento e seu retorno no tempo. O conhecimento deste
referencial é importante para o estabelecimento de comparações com as diferentes
taxas de juros existentes no mercado (TAM), de financiamentos (TJF) ou aquelas
consideradas satisfatórias pelos investidores.
Ainda segundo Eder et alii (2004, p. 11) quatro modelos alternativos da TIR
podem ser considerados a saber: TIR integrada, TIR integrada completa, TIR modifi-
cada e TIR do VPL. Ao aplicar cada um desses modelos a um mesmo investimento, a
autora encontrou taxas internas de retorno que variaram de um máximo de 29,40%
a um mínimo de 10,53%.

7.5.3 – Análise de sensibilidade

O grau de solidez do investimento pode ser testado mediante sua exposição a


uma análise de sensibilidade. Este processo demonstra quais serão as variações
produzidas nos indicadores antes apresentados ao submeter-se o projeto a um con-
junto de hipóteses pessimistas e/ou otimistas relativamente ao seu desempenho no
tempo de vida útil.
Assim, poder-se-iam definir diversos fluxos de caixa alternativos para as se-
guintes hipóteses:

a) redução de 10% nos preços de venda;


b) redução de 15% nos volumes de venda;
c) atraso de 1 ano no início da operação;
d) aumento de 10% nos custos variáveis.

Estas e outras hipóteses ao serem testadas produzirão respostas que contribui-


rão para instruir o processo de decisão que, em qualquer esforço de planejamento a
longo prazo, é sempre condicionado por um elevado grau de risco e de incerteza.

7.6 Tópico especial

A exemplo dos demais, este título é complementado por um tópico especial


que aborda um roteiro de elaboração do projeto.
É importante tornar a lembrar da seguinte observação, já feita na introdução
e nos títulos precedentes. Na montagem do roteiro-demonstração, adotou-se uma nume-
ração específica que será sequenciada ordenadamente ao longo dos capítulos. Esta numera-

316

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

ção independe da adotada no livro. Assim, o estudo administrativo é numerado 1.0; o


mercado, 2.0; o técnico 3.0; o financeiro 4.0; e o econômico 5.0. As tabelas destes estudos
acompanham a sua numeração. Exemplo: Tabela 1.1; Tabela 2.1; Tabela 3.1 etc. O mesmo
critério se aplica aos quadros e às figuras.

ROTEIRO-DEMONSTRAÇÃO PARA O ESTUDO ECONÔMICO

Foram examinados, nos tópicos precedentes, os roteiros para a elaboração do


estudo administrativo, do mercado, técnico e financeiro. É evidente que, ao se elabo-
rar um projeto para qualquer uma das instituições de fomento, deva-se seguir, com
o rigor possível, as normas do seu roteiro específico.
Ocorre, porém, que, em algumas circunstâncias, pode ser o projeto, como
instrumento de planejamento em um processo de tomada de decisão, direcionado
a órgãos internos de um grupo empresarial (Conselho de Administração, Acionis-
tas, Controladores etc.) ou a instituições que solicitem o estudo do mercado sem
estabelecer o roteiro específico Nestes casos, sugere-se que seja adotado o seguinte
roteiro:

5.0 Estudo econômico

5.1 Estrutura dos custos

O projeto, para maior clareza e objetivando possibilitar a análise sob os diver-


sos aspectos (macro e microeconômicos), deve apresentar a estrutura dos custos,
segundo os enfoques econômico e financeiro, como indica a Tabela seguinte.

317

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TEORIA DO PROJETAMENTO

Tabela 5.1 - Estrutura dos Custos. Nível Pleno de Atividade – Em R$ 1,00

Nota: os custos orçados neste quadro deverão atender ao programa de produção projetado
(ver Roteiro par ao Estudo Técnico).

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

Os custos não explicados anteriormente nos estudos: administrativo, técnico e


financeiro, devem ser explicitados neste estudo. É o caso dos seguintes:

1.3 Depreciação
(Tabular os dados, calcular pelo método linear).

1.4 Amortização do diferido


(Tabular os dados, explicitar o prazo de amortização adotado).

1.5 Seguros
(Tabular, informando as alíquotas dos prêmios).

1.6 Aluguéis
(Justificar).

1.8 Manutenção
(Justificar).

2.7 Despesas de transporte


(Justificar).

2.8 Despesas com vendas


(Justificar).

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TEORIA DO PROJETAMENTO

5.2 Determinação da capacidade de pagamento do projeto

Tabela 5.2 - Capacidade de pagamento a plena carga – (em R$ 1,00)

Nota: Modelo para as empresas no sistema Simples.

(19) Parece lógico que na hipótese de a empresa realizar todo o investimento com recursos
próprios, não se tenha que considerar os itens 14 e 15 da Tabela 38 que, portanto
devem ser estornados. Observa-se que os Juros de Longo Prazo estavam incluídos nas
despesas financeiras, ver Tabela 36.

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Noelio Dantaslé Spinola • Carolina Andrade Spinola • Denise Andrade Spinola

5.3 Projeção dos resultados

Tabela 5.3 - Projeção de Resultados e Fluxo de Caixa do Projeto – Em R$ 1,00

5.4 Análise econômico-financeira

a) indicadores microeconômicos
a.1) ponto de equilíbrio
– econômico
– caixa
a.2) capacidade de solvência
a.3) prazo de retorno
a.4) taxa média de retorno
a.5) valor atual líquido
a.6) taxa interna de retorno

b) indicadores macroeconômicos
b.1) produtividade social do capital
b.2) contribuição para a renda

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TEORIA DO PROJETAMENTO

b.3) contribuição para a receita do governo


b.4) produtividade da mão de obra e densidade do capital
b.5) contribuição para o balanço de divisas.

5.5 Conclusão

7.7 Conclusão do projeto

Assim como, logo em seu início, deve o projeto ser precedido de uma apresen-
tação, em que se destaquem seu objetivo e sua finalidade, no final, torna-se necessá-
rio redigir uma conclusão que arremate todo o trabalho desenvolvido ao longo dos
cincotítulos. Esta conclusão deve resumir os principais resultados que se espera
alcançar, os destaques de cada título e o mérito socioeconômico da iniciativa.

322

miolo.pmd 322 16/9/2013, 12:31


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