Existem dois tipos de interpretação, a primeira é aquela realizada pelo órgão que aplica
o Direito, a segunda não é feita pelo órgão que aplica o Direito (pode ser feito por uma
pessoa privada ou pela ciência jurídica). Primeiro vamos analisar a que é feita pelo
órgão aplicador do Direito.
Tese Central: o órgão jurídico interpreta a norma (escalão superior) porque irá aplicá-la
(norma individualizada, escalão inferior).
A Norma Geral fornece uma moldura, a interpretação – por via cognoscitiva – só pode
nos fornecer quais as formas possíveis de preencher o quadro, dentro dos limites da
moldura, e não uma única forma correta.
Existe uma escola – que o Kelsen está criticando, que ele chama de jurisprudência
tradicional – que acha que a interpretação determina a moldura e também a única
resposta correta.
Não existe um critério certo para interpretar. Não dá pra dizer que o certo é seguir a letra
da lei ou a vontade do legislador.
A interpretação que cria direito, ou seja, aquela exercida pelo órgão jurídico quando
aplica um direito é qualificada como “autêntica”.
A interpretação que não cria direito, praticada pela ciência jurídica, ou pelo cidadão
comum (que quer fugir da sanção), é qualificada como não-autêntica.
{existe uma diferenciação entre autêntica em sentido estrito – que cria Direito para
todos os casos iguais – e autêntica em sentido lato – que cria Direito apenas para o caso
concreto. Além disso, Kelsen parece aceitar até mesmo que a decisão seja tomada fora
da moldura que a norma representa. Penso que tal hipótese decorre do poder de decidir
do órgão jurídico – por exemplo, decisões tomadas por tribunais de última instância.}
E, por favor, que não se venha com a velha história de que “cumprir a letra 'fria'
(sic) da lei” é assumir uma postura positivista...! Aliás, o que seria essa “letra fria da
lei”? Haveria um sentido emsi-mesmo da lei? Na verdade, confundem-se conceitos. As
diversas formas de positivismo não podem ser colocadas no mesmo patamar e tampouco
podemos confundir uma delas (ou as duas mais conhecidas) com a sua superação pelo e
no interior do paradigma da linguagem. Tentarei explicar isso melhor: positivismo
exegético (que era a forma do positivismo primitivo) separava direito e moral, além de
confundir texto e norma, lei e direito, ou seja, tratava-se da velha crença – ainda muito
presente no imaginário dos juristas – em torno da proibição de interpretar, corolário da
vetusta separação entre fato e direito, algo que nos remete ao período pós-revolução
francesa e todas as conseqüências políticas que dali se seguiram. Depois veio o
positivismo normativista, seguido das mais variadas formas e fórmulas que –
identificando (arbitrariamente) a impossibilidade de um “fechamento semântico” do
direito – relegou o problema da interpretação jurídica a uma “questão menor”
(lembremos, aqui, de Kelsen). Atente-se: nessa nova formulação do positivismo, o
problema do direito não está(va) no modo como os juízes decidem, mas, simplesmente,
nas condições lógicodeônticas de validade das “normas jurídicas”. Entretanto, uma
coisa todos esses positivismos têm até hoje em comum: a discricionariedade (que acaba
não se fixando sequer nos limites da “moldura” semântica). E tenho a convicção de que
isso se deve a um motivo muito simples: a tradição continental, pelo menos até o
segundo pós-guerra, não havia conhecido uma Constituição normativa, invasora da
legalidade e fundadora do espaço público democrático. Isso tem conseqüências drásticas
para a concepção do direito como um todo! Quero dizer: saltamos de um legalismo
rasteiro, que reduzia o elemento central do direito ora a um conceito estrito de lei (como
no caso dos códigos oitocentistas, base para o positivismo primitivo), ora a um conceito
abstrato-universalizante de norma (que se encontra plasmado na idéia de direito
presente no positivismo normativista), para uma concepção da legalidade que só se
constitui sob o manto da constitucionalidade. Afinal – e me recordo aqui de Elias Dias
–, não seríamos capazes, nesta quadra da história, de admitir uma legalidade
inconstitucional. Isso deveria ser evidente. Portanto, não devemos confundir “alhos”
com “bugalhos”. Obedecer “à risca o texto da lei” democraticamente construído (já
superada a questão da distinção entre direito e moral) não tem nada a ver com a
“exegese” à moda antiga (positivismo primitivo). No primeiro caso, a moral ficava de
fora; agora, no Estado Democrático de Direito, ela é co-originária. Portanto – e aqui me
permito invocar a “literalidade” do art. 212 do CPP –, estamos falando, hoje, de uma
outra legalidade, uma legalidade constituída a partir dos princípios que são o marco da
história institucional do direito; uma legalidade, enfim, que se forma no horizonte
daquilo que foi, prospectivamente, estabelecido pelo texto constitucional (não
esqueçamos que o direito deve ser visto a partir da revolução copernicana que o
atravessou depois do segundo pós-guerra). Repito: “cumprir a letra [sic] da lei” significa
sim, nos marcos de um regime democrático como o nosso, um avanço considerável. A
isso, deve-se agregar a seguinte conseqüência: é positivista tanto aquele que diz que
texto e norma (ou vigência e validade) são a mesma coisa, como aquele que diz que
“texto e norma estão descolados” (no caso, as posturas axiologistas, realistas,
pragmaticistas, etc.). Para ser mais simples: Kelsen, Hart e Ross foram todos
positivistas. E disso todos sabemos as conseqüências. Ou seja: apegar-se à letra da lei
pode ser uma atitude positivista ou pode não ser.
Do mesmo modo, não apegar-se à letra da lei pode caracterizar uma atitude
positivista ou antipositivista. Por vezes, “trabalhar” com princípios (e aqui vai a
denúncia do panprincipiologismo que tomou conta do “campo” jurídico de terrae
brasilis) pode representar uma atitude (deveras) positivista. Utilizar os princípios para
contornar a Constituição ou ignorar dispositivos legais – sem lançar mão da jurisdição
constitucional (difusa ou concentrada) – é uma forma de prestigiar tanto a
irracionalidade constante no oitavo capítulo da TPD de Kelsen, quanto homenagear,
tardiamente, o positivismo discricionarista de Herbert Hart. Não é desse modo, pois, que
escapamos do positivismo. Dito de outro modo, o que sempre caracterizou o
positivismo é o fato de que a postura metodológica por intermédio da qual se analisa o
fenômeno jurídico é marcada pela restrição à análise das fontes sociais, a
cisão/separação – epistemológica – entre direito e moral (o que faz com que alguns
autores – p.ex., Robert Alexy – lancem mão da razão prática, eivada de solipsismo, para
“corrigir” o direito) e a ausência de uma teoria da interpretação, que acarreta uma aposta
na discricionariedade (ou seja, não se conseguiu superar a herança – ou maldição –
kelseniana da cisão entre ciência do direito e direito ou entre observador e participante,
no caso hartiano). Em linha diversa, é preciso dizer que, para a hermenêutica, isso não é
bem assim. O elemento interpretativo que caracteriza mais propriamente a experiência
jurídica pode, e deve, ser explorado fenomenologicamente. É possível oferecer limites
ou anteparos à atividade interpretativa, na medida em que o direito não é concebido a
partir de um reducionismo fático. Isso é uma questão de controle democrático das
decisões.
A definição de direito
1. A pergunta “ o que é o direito?”
A palavra “direito” é ambígua e, como se não bastasse, possui a piro espécie de
ambiguidade, que não é a mera sinônima acidental (como a de “banco”),mas aquela
constituída pela fato de ter vários significados profundamente relacionados entre si.
O direito pode significar um ordenamento ou sistema de normas(por exemplo,
um conjunto de lei, decretos, costumes,sentenças etc);
O direito é usado como “direito subjetivo”, como faculdade,
atribuição,permissão, possibilidade etc.
A palavra direito refere-se à investigação, ao estudo da realidade jurídica que
tem como objeto o direito nos anteriores. ( ciência jurídica)
A velha polêmica entre o jusnaturalismo e o positivismo jurídico gira em torno
da relação entre direito e moral. Uma descrição simplista do conteúdo dessa polêmica
diria que, enquanto o jusnaturalismo afirma que há uma conexão intrínseca entre direito
e moral, o positivismo jurídico nega tal conexão. Porém, acabamos de ver que há muitas
maneiras diferentes de defender a existência de um vínculo importante entre direito e
moral.
TRIBUNAL
SEMPRONIO JUSNATURALISTA CONDENA
Nulo crime sem tipicidade
jurídica. Ele diz que a ética
transcende
CAIO POSITIVISMO ABSORVE
IDEOLOGICO
TÍCIO POSITIVISTA CONDENA
CONCEITUAL
Há uma moral interna no
direito.
A legalidade pode ser
relativizada pela moral.
“A obediência a uma
norma também é uma
forma de moral.”
2 – Positivismo Ideológico: tese que defende que o direito positivo tem validade ou
força obrigatória e suas disposições devem ser necessariamente obedecidas pela
população e aplicadas pelos juízes, prescindindo de escrúpulos morais, qualquer que
seja o conteúdo de suas normas. De forma prática associa-se a essa ideia a máxima: “a
lei é a lei”, e que como parte de um ordenamento jurídico, é direito e deve ser
obedecida, independente dos valores morais de tais leis. Essa tese não é de natureza
conceitual, mas de natureza ideológica ou moral. Ela visa uma definição do direito a
partir da ideia de que toda norma jurídica tem força moral obrigatória, referindo-se
muita mais à aplicação do direito do que à descrição.
Em outras palavras, trata-se de uma postura que assume que norma jurídica é somente
aquilo que foi determinado pelos legisladores.
O conceito de direito
HART expressa a reutilização da base da teoria que considera o Direito tal como
ordem coerciva em que, onde ele está presente, a conduta humana passa a ser
considerada como não facultativa ou obrigatória para expor uma nova explicação do
Direito. Para tanto, o autor passa a uma diferenciação quanto à obrigação: a explicação
consiste na distinção entre uma ação tomada em consequência de determinadas crenças
e motivações (como no caso de quem foi obrigado) e outra, executada pela cogitação de
uma não penitência imputada em decorrência da desobediência e da pressuposição de
um sistema sancionador ineficaz; além de ser indiferente ao fato da pessoa realmente ter
feito realmente ou não tal ação.
Embora a teoria de predição – que afirma haver a realização da obrigação
apenas por causa da possibilidade de que a pessoa se submeta a uma punição caso venha
a descumpri-la – seja considerada como única alternativa possível por muitos teóricos, o
autor a refuta, com objeções baseadas no fato de que desvios não são considerados
apenas simples fundamentos para a predição de reações hostis ou sanções de tribunais,
como também se configuram a justificação para que essas mesmas sanções sejam
imputadas; além de a interpretação da previsibilidade afirmar contradição em uma
asserção que afirme que “não havia a menor hipótese de ser apanhado ou sujeito a
castigo”, quando, de fato, não há, embora nos sistemas jurídicos as sanções sejam
aplicadas em grande quantidade às violações.
O autor demonstra que as obrigações estão intimamente ligadas às regras, e que
estas, por sua vez, nascem de uma demanda geral para obrigação de realização de
determinada coisa e por elevada pressão social sobre quem comete desvios de certas
condutas. Aponta ainda a existência de pontos de vista interno – o entendimento do
agente sobre as razões das regras compreendidas no sistema, e por que obedecê-las – e
externo – caracterizado pelas conclusão da observação de certas regularidades entre
desvios e reações hostis, estimando certa probabilidade de castigo sobre as condutas, o
que pode conduzir alguém a “escapar a dimensão total da vida social” –, com relevante
destaque de que ambos se constituem imprescindíveis para a teoria jurídica.
Quanto a um sistema de estrutura integrada de regras primárias de obrigação,
HART afirma que é possível que alguma sociedade funcione a partir dela, mas indica
três razões fundamentais de seus problemas, sendo: a incerteza proveniente da falta de
um sistema unificado de regras ( as normas que orientam a vida do grupo não formam
um sistema, mas consistem simplesmente num conjunto de padrões isolados, sem
nenhuma característica identificadora comum, a estática formal das regras( as únicas
formas de modificação nas normas desse tipo de sociedade serão o lento processo de
crescimento, por meio do qual condutas antes tidas como opcionais se tornam primeiro
habituais ou costumeiras e a seguir obrigatórias) e a ineficácia( ineficiência da pressão
social difusa pela qual as normas mantidas. Sempre haverá disputas para saber se uma
norma aceita foi ou não violada, disputas ua continuarão interminavelmente, exceto
nas menos sociedades, se não houver uma instância especialmente encarregada de
estabelecer, em termos conclusivos e peremptórios, o fato da violação humana, ao que
ele expressa regra de reconhecimento – especificando as regras do grupo, a serem
apoiadas por pressão social –, dealteração – estabelecendo o poder para criação,
alteração e extinção de regras primárias – e de julgamento – identificando os
responsáveis e os processos do julgamento – como solução.
INCERTEZA A incerteza própria do regime de
normas primárias é a introdução de algo
que chamaremos “ norma de
reconhecimento”. Essa norma especifica
as características que, se estiverem
presentes numa determinada norma, serão
consideradas como indicação conclusiva
de que se trata de uma norma do grupo, a
ser apoiada pela pressão social que este
exerce.
ESTÁTICO Consite na introdução do que
denominaremos “normas de modificação”.
A forma mais elementar de uma norma
desse tipo é a que autoriza algum
individuo ou grupo de pessoas a introduzir
novas normas primárias para orientar a
vida do grupo, ou de uma classe dentro
dele, e a eliminar normas antigas.
INEFICIÊNCIA Consiste em normas secundárias
que capacitem alguns indivíduos a
solucionar de forma autorizada o
problema de saber se, numa ocasião
especifica, foi violada uma norma
primária.
SEGURANÇA JURÍDICA
DWORKIN
Baseado nisto é que Dworkin cria o “Juiz Hércules”. Aquele que interpreta o
Direito com um todo, e não meramente parte dele, de forma metodológica, automática.
Buscando analisar cada caso concreto e procurando interpretar da melhor maneira
possível. Isto é, o juiz não apenas reproduz o que a lei diz, mas interpreta ao caso
concreto. De modo que sempre o magistrado possa “dizer o direito”. E não abrir mão do
seu juízo. Haja vista que as palavras da lei são plurívocas. Podendo ter vários
significados dependendo da pessoa que a interprete. Por isso o juiz tem de analisar o
caso concreto, criando o sentido que mais convém a seus interesses teóricos e políticos,
respeitando sempre os ditames da Constituição.