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INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

Profª Marijany Miranda


Assistente Social CRESS: 2942/22ª Região

FLORIANO-PI
2019.2
Moraes, Paula Caetano de
Introdução ao Serviço Social / Paula Carolina Caetano de Moraes. __ São Luís, 2013.

61 f.
1. Introdução ao Serviço Social. 2. História do Serviço Social. I. Faculdade do
Maranhão. II. Título.

CDU 36
INTRODUÇÃO AO SERVIÇO SOCIAL

OBJETIVOS
Conhecer o significado social da profissão, de suas instâncias organizativas e de seu
desenvolvimento sócio histórico, nos cenários internacional e nacional, desvelando as
possibilidades de ação contidas na realidade. Apresentar o trabalho do Assistente Social
a partir dos diferentes espaços sócio ocupacionais. Discutir a importância do projeto
ético político do Serviço Social.

EMENTA
A constituição e o desenvolvimento da profissão na divisão sócio técnica do trabalho.
Aspectos sócio-históricos do processo de profissionalização do Serviço Social no Brasil
e suas interpretações. Serviço Social na América Latina e no Brasil. Serviço Social e a
produção e reprodução das relações sociais. A natureza do Serviço Social, áreas e
campos de atuação profissional. As perspectivas e demandas contemporâneas para o
trabalho do Assistente Social. Elementos constitutivos do processo de trabalho do
Assistente Social na atualidade.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

CAPÍTULO 1
O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: Quem somos e o que fazemos?
UNIDADE 1.1 – Serviço Social: Conceitos Introdutórios/ Quem é o Assistente social?
UNIDADE 1.2 – Nova Lógica Curricular

CAPÍTULO 2
A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL
UNIDADE 2.1 – As origens do Serviço Social.
UNIDADE 2.2 – Aspectos Sociais e Históricos do Processo de Profissionalização do
Serviço Social e o Serviço Social no Brasil.

CAPÍTULO 3
ASPECTOS SOCIAIS E HISTÓRICOS DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA
PROFISSÃO NO BRASIL
UNIDADE 3.1 – O processo de institucionalização e legitimação da profissão.
UNIDADE 3.2 – A formação profissional do Assistente Social e o Serviço Social na
contemporaneidade.
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CAPITULO 1
O SERVIÇO SOCIAL E O ASSISTENTE SOCIAL: quem somos e o que fazemos?

UNIDADE 1.1 – Serviço Social: conceitos introdutórios

Você acabou de ingressar no Curso de Serviço Social e talvez deva estar se


perguntando: O que realmente vou estudar ao longo destes 04 anos de estudo? Com o
que e onde irei trabalhar? Quais atividades irei desenvolver?
O Serviço Social é um curso de nível superior, cuja abordagem investigativa está
pautada as múltiplas expressões da questão social. É uma profissão de caráter social,
político, crítico e interventivo, que se utiliza de instrumental científico multidisciplinar
das Ciências Humanas e Sociais para analisar e intervir nas mais diversas expressões da
questão social, ou seja, no conjunto de desigualdade originárias do antagonismo entre a
socialização da produção e a apropriação privada dos frutos do trabalho.
O Serviço Social tem como objetivo a contribuição para a construção de uma
ordem social, política e econômica pelo menos diferente da atual. Reconhece nos
determinantes estruturais e nas dificuldades da realidade social os limites e as
possibilidades do trabalho profissional, rebelando-se contra os problemas, as injustiças
que afetam os desamparados socialmente.
A pessoa que se forma no curso de Serviço Social é denominada de Assistente
Social.
Nesta Unidade, vamos aprender um pouco sobre o Curso de Serviço Social, seu
surgimento, sua origem e seu objeto de estudo. Também conheceremos o Assistente
Social, profissional do Serviço Social, o que ele faz, com o que e onde ele trabalha.

Quem é o Assistente Social?


O Assistente Social é um profissional habilitado em Serviço Social (Bacharel),
que exerce seu trabalho de forma remunerada nas organizações públicas e privadas, nas
organizações não governamentais, movimentos sociais etc. Sua atuação se dá nas mais
diversas expressões da questão social que afetam a qualidade de vida da população, em
diferentes áreas (criança e adolescente, idoso, deficientes, habitação, saúde etc.) por
meio das políticas sociais públicas e privadas. É um profissional dotado de formação
intelectual e cultural generalista crítica, competente em sua área de desempenho, com
capacidade de inserção criativa e propositiva, no conjunto das relações sociais e no
mercado de trabalho.
Tem uma intervenção privilegiada e investigativa que, através da pesquisa e
análise da realidade social, atua na formulação, execução e avaliação de serviços,
programas e políticas sociais que visam a preservação, defesa e ampliação dos direitos
humanos e da justiça social. Tem como objetivo viabilizar os direitos dos usuários,
assegurados por lei. É um profissional comprometido com os valores e princípios
norteadores do Código de Ética do Assistente Social.
De acordo com a Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente Social (Lei
de nº 8662/93), somente podem exercer essa profissão as pessoas que tem diploma em
curso de graduação em Serviço Social, reconhecido e registrado pelo órgão competente
que é o Ministério da Educação.
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O exercício profissional requer registro prévio nos Conselhos Regionais de


Serviço Social (CRESS) que tenham jurisdição sobre a área de atuação do interessado
nos termos da lei. A designação profissional de Assistente Social é privativa dos
habilitados em curso de graduação em Serviço Social, não devendo, em hipótese
alguma, ser usado para identificar práticas assistenciais.
Destacamos aqui algumas competências do Assistente Social:

a) Elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais.


b) Elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos.
c) Encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à
população.
d) Orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar
recursos e de fazer uso dos mesmos na defesa de seus direitos.
e) Planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais.
f) Prestar assessoria e consultoria, com relação às matérias relacionadas ao Serviço
Social.
g) Prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria relacionada às
políticas sociais.
h) Realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços
sociais.

Além dessas, existem outras que são atribuições privativas do Assistente Social:
a) Coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos,
programas e projetos na área de Serviço Social.
b) Planejar, organizar e administrar programas e projetos de Serviço Social.
c) Assessoria e consultoria em matéria de Serviço Social.
d) Treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social.
e) Fiscalizar o exercício profissional através dos Conselhos Federal e Regionais.

O objetivo precípuo da profissão é efetivar direitos, sua atuação alcança todas as


parcelas da população, mas é a classe mais vulnerável e empobrecida que demanda uma
maior atenção do Assistente Social.
Cada vez mais exige-se que o Assistente Social seja um profissional ético,
crítico, propositivo, competente, instrumentalizado e articulado, com vistas à busca de
melhoria de vida da população, no que concerne à educação, saúde, moradia, assistência
social, previdência etc.
A formação profissional deve viabilizar uma capacitação teórico-metodológica e
ético-política, como requisito fundamental para o exercício de atividades técnico-
operativas, com vistas à apreensão crítica dos processos sociais numa perspectiva de
totalidade.
Como campos de atuação profissional podem ser citados: equipamentos da rede de
serviços sociais e urbanos das organizações públicas, empresas privadas e organizações
não governamentais como: hospitais, escolas, creches, clínicas, centros de convivência;
administrações municipais, estaduais e federais; serviços de proteção judiciária;
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conselhos de direitos e de gestão; movimentos sociais; instâncias de defesa e de


representação política.

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1. O que é o Serviço Social e o que faz?

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2. Defina a profissão de Assistente Social.

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1.2 Nova Lógica Curricular

A lógica curricular do Curso de Serviço Social está sustentada no tripé dos


conhecimentos constituídos pelos núcleos de fundamentação da formação profissional,
quais sejam:

- Núcleo de fundamentos teórico-metodológicos da vida social, que compreende um


conjunto de fundamentos teórico-metodológico e ético-político para conhecer o ser
social enquanto totalidade histórica, fornecendo os componentes fundamentais para a
compreensão da sociedade burguesa, em seu movimento contraditório;

- Núcleo de fundamentos da formação sócio-histórica da sociedade brasileira que


remete à compreensão dessa sociedade, resguardando as características históricas
particulares que presidem a sua formação e desenvolvimento urbano e rural, em suas
diversidades regionais e locais. Compreende ainda a análise do significado do Serviço
Social em seu caráter contraditório, no bojo das relações entre as classes e destas com o
Estado, abrangendo as dinâmicas institucionais nas esferas estatais e privadas;

- Núcleo de fundamentos do trabalho profissional que compreende todos os elementos


constitutivos do Serviço Social como uma especialização do trabalho: sua trajetória
histórica, teórica, metodológica e técnica, os componentes éticos que envolvem o
exercício profissional, a pesquisa, o planejamento e a administração em Serviço Social e
o estágio supervisionado. Tais elementos estão articulados por meio de uma análise dos
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fundamentos do Serviço Social e dos processos de trabalho em que se insere,


desdobrando-se em conteúdos necessários para capacitar os profissionais ao exercício
de suas funções, resguardando as suas competências específicas normatizadas por lei.

CAPÍTULO 2 A GÊNESE DO SERVIÇO SOCIAL

UNIDADE 2.1 As origens do Serviço Social

A Gênese do Serviço Social pode ser compreendida por diversas interpretações


históricas, desde uma ordem religiosa, filosófica e sociológica até uma leitura crítica,
com bases fundamentadas na perspectiva marxiana. A profissão surge no final do século
XIX, em 1898, na cidade de Nova Iorque (Estados Unidos). Com a ascensão da
sociedade burguesa e com o aparecimento de classe sociais, a burguesia (classe social
dominante) necessitava de um profissional que cuidasse da área social e pudesse assistir
a classe proletária. Dessa forma, a classe dominante exerceria certo controle sobre os
proletários. No momento, não existia uma metodologia ou teoria acerca da profissão ou
o que era a mesma.
Sua origem está fincada na assistência prestada aos pobres, por mulheres
piedosas, alguns séculos atrás.
Estevão (2006) afirma que o Serviço Social é fruto da união da cidade com a
indústria. Seu nascimento teve como cenário as inquietudes sociais que surgiram do
capitalismo e, como qualquer bom filho, quis possuir a mãe (a cidade) e se identificar
com o pai (a indústria).
E continua:

Na adolescência, negou várias suas origens e hoje pode-se dizer


que adquiriu feições próprias, com contornos definidos na luta
pela sobrevivência e, identificado com seus pais, chegou para
ficar. É claro que em sua fase de maturação, mantém todas as
ambiguidades inerentes a uma profissão que, buscando
comprometer-se com a população à qual presta serviços, é
também canal de ligação entre instituições públicas e cidadãos,
empregados e patrões. (ESTEVÃO, 2006, p. 09)

De acordo com Ottoni (1980), o “Serviço Social” como instituição emergiu e se


desenvolveu como fato das civilizações onde viveu, com este ou outro nome, existiu
desde que os homens apareceram sobre a terra. Admitindo ser o Serviço Social – ajuda
ou auxílio aos outros – um fato social, isto é, um modo de fazer constante e geral na
amplitude de uma determinada sociedade, embora tenha uma existência própria,
independente das manifestações, define-se por sua generalidade própria, por sua
exterioridade, em relação às consciências individuais. Na Era da Cristandade, em 313
(d.C.), o imperador Constantino pelo decreto de Milão, estabelece o Cristianismo como
religião oficial. A partir desse marco, a sociedade é unificada religiosamente numa
mesma crença. Vale situar que neste período histórico os males sociais atingiam
enormes proporções e a pobreza e a miséria, tão generalizada era considerada natural.
Não se falava em ciência nesse momento, os problemas sociais eram tratados pela
superstição.
O conceito de caridade foi se transformando e todos os homens eram
considerados como irmãos, independente de raça ou nacionalidade, e ser pobre ou
doente não constituía castigo de Deus, mas a consequência da imprevidência individual
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ou das circunstâncias: a pobreza e a doença eram consideradas provação, da qual se


poderiam haurir grandes merecimentos. Logo, a caridade era consequência do amor de
Deus.
Sempre existiram pessoas que se preocupassem com os pobres, porém a partir
do surgimento da sociedade capitalista, a preocupação com as classes “menos
favorecidas” e os problemas sociais e políticos que esta população poderia criar, tornou-
se uma necessidade de defesa da burguesia recém chegada ao poder.
Estado e Igreja dividem as tarefas: o Estado fica com a imposição da paz
política e as Igrejas (Católica e Protestante) ficam com o aspecto social: a caridade.
Durante toda a Idade Média, a Igreja manteve-se na administração das obras de
caridade (mosteiros, hospitais, leprosários, orfanatos e escolas). Na Inglaterra, as
paróquias ocupavam lugar de destaque na ajuda aos pobres. Nos séculos XIII e XIV,
sugiram congregações religiosas dedicadas especialmente a assistência, auxílios
materiais, visitas domiciliares e assistência hospitalar.
Como afirma Estevão, toda a assistência social nessa época era feita de forma
não sistemática, sem qualquer teorização a respeito além de vagas justificativas
religiosas e ideológicas.
A assistência “concretizava-se na esmola esporádica, na visita domiciliar, na
concessão de gêneros alimentícios, roupas, calçados, enfim, em bens materiais
indispensáveis para minorar o sofrimento das pessoas necessitadas” (MARTINELLI,
2006, p. 96).
O final do século XV marca o fim da Idade Média, onde o sistema feudal se
enfraquece e os homens, livres das obrigações que os ligavam aos senhores, deslocam-
se com mais facilidade para as cidades, favorecendo assim o desenvolvimento urbano.
Nesse período rompe-se o poder religioso da Igreja Católica, com a Reforma
Protestante, pois se instaura a era da secularização, estabelecida como:

A libertação do homem em primeiro lugar, do controle religioso


e depois do controle metafísico sobre a sua razão e sua
linguagem, é o banir das concepções fechadas do mundo e a
ruptura dos mitos sobrenaturais (OTTONI, 1980).
Com esse rompimento surge uma nova concepção da caridade, deixando-a de ser
um meio de santificação para aqueles que a praticava, para ser considerada um dever de
solidariedade natural. É mister ressaltar que alguns filósofos e humanistas atuaram
dentro desse espírito social na época, tais como: Juan Luis Vives (1492-1540) pelos
escritos e São Vicente de Paulo (1531-1560) pela atuação.
No que concerne ao filósofo Vives, o mesmo é conhecido pelo trabalho “da
assistência aos pobres” e que segundo Ottoni (1980) pode ser considerado o primeiro
tratado do Serviço Social, tendo em vista, que em seus escritos expõem sua doutrina
sobre as causas da miséria e a necessidade de união dos homens e da divisão do
trabalho, bem como indica os meios de combate à pobreza e o papel do Estado nessa
investida.
É importante ressaltar que Vives acreditava ser insuficiente o trabalho da Igreja,
e acionava o Estado na obra de assistência, tendo este sofrido muita represália na época
por tentar enfraquecer o prestígio da Igreja.
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Já o humanista São Vicente de Paulo teve a preocupação em sistematizar a


distribuição dos socorros e organizar a reabilitação dos pedintes com o auxílio caridoso
de senhoras da sociedade, instituindo-se as chamadas “Damas de Caridade”, sendo estas
uma espécie de associação em que cada “Dama” se encarregava de um determinado
número de famílias, entretanto, por muito preconceito da época, por serem mulheres da
sociedade criaram muitas dificuldades nas obras.
Em 1633 São Vicente de Paulo e Luisa de Marillac, recrutaram massas
camponesas para se dedicarem ao “Serviço dos Pobres”, sendo este o primeiro passo
para a profissionalização do exercício da caridade, sem retirar o aspecto espiritual tanto
de que recebia quanto de quem a dava.
No século XVI, surgem novas concepções políticas dos chamados “Monarcas
Esclarecidos”. A intervenção do Estado no campo da caridade constituía a ideia e
atitudes novas, pois até aquele momento era considerada esfera privada e religiosa.
O Estado começa a se interessar pelo bem estar do povo é impar ressaltar que a
conjuntura vivida não era nada promissora, uma vez que, a mendicância tornara-se
abrangente: mendigos vagando de cidade para cidade, pedindo dormida, comida e
roupas, mas nunca trabalho. Era uma verdadeira profissão.
Diante dos fatos, várias municipalidades tomaram iniciativas como: Pão dos
Pobres em Nuremberg (1522); Aumone Génerale, na cidade de Lyon na França (1534),
para a qual se exigia a contribuição de particulares, conventos, mosteiros e paróquias.
Proibiu-se a mendicância.
Em meados do século XIX, o processo de industrialização começa a modificar
completamente a forma de produção familiar e artesanal, passando a mão de obra, no
cenário produtivo, não apenas masculina, mas também feminina e até mesmo infantil.
Contudo, o laissez faire procura cada vez mais lucros, fixando salários abaixo do nível
de subsistência, obrigando as famílias a ocuparem em massa as fábricas, fazendo surgir
uma nova classe de pobres – os assalariados.
Da Idade Média até o século XIX “[...] a assistência era encarada como forma de
controlar a pobreza e de ratificar a sujeição daqueles que não detinham posses ou bens
materiais” (MARTINELLI, 2006, p. 97).
Na Europa, consolidam-se os princípios de São Vicente de Paulo e de Vives,
com a criação de numerosas fundações religiosas e legais. Neste sentido o século XIX
foi considerado como o século de “organização da assistência social”, principalmente
pelas entidades particulares. É nesse momento que algumas pessoas como Chalmers, na
Inglaterra, Ozanam, na França e Von der Heydt, na Alemanha, praticam uma caridade
de caráter assistencial que se constitui em um esboço de técnica e de forma organizada.
Segundo Estevão:
Mas o que faziam essas pessoas que era diferente da prática
caritativa anterior? Elas dividiram as paróquias em grupos de
vizinhança, designaram um responsável em cada setor para
distribuir ajuda material e fazer trabalho educativo
(principalmente dando conselhos). As conferências São Vicente
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de Paulo, em 1833, por exemplo, organizam seu trabalho em


torno de visitas e ajudas a domicílio, creches, escolas de
reeducação de delinquentes, cuidados e socorros a refugiados e
imigrantes. O que era feito apenas nas paróquias passa a ser
feito por toda a cidade. A princípio organizada em pequenos
bairros, a assistência começou a expandirse e procurou
conquistar um espaço na cidade inteira. (ESTEVÃO, 2006, p.
13).
Até esse momento a Assistência Social é exercida, em caráter não profissional,
como contribuição voluntária daqueles que possuíam bens para aqueles que eram
pobres. Dessa forma, as atividades dos Assistentes Sociais eram restritas a conhecer as
verdadeiras necessidades de cada um, usar economicamente as esmolas disponíveis,
visitar as casas dos pobres e necessitados, estudar conscienciosamente os pedidos de
ajuda e conseguir trabalho para os desempregados, para prevenir os problemas
derivados da pobreza.
Um marco importante para a sistematização da Assistência Social é a fundação
da Sociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869, baseada nos seguintes
princípios de trabalho:
1. Cada caso será objeto de uma pesquisa escrita.
2. Este relatório será entregue a uma comissão que decidirá o que se deve fazer.
3. Não se dará ajuda temporária, mas metódica e prolongada até que o indivíduo ou a
família voltem às suas condições normais.
4. O assistido será agente de sua própria readaptação, como também seus parentes,
amigos e vizinhos.
5. Será solicitada ajuda às instituições adequadas em favor do assistido.
6. Os assistidos dessas obras receberão instruções gerais e escritas e se formarão por
meio de leituras e estadias práticas.
7. As instituições de caridade enviarão a lista de seus assistidos para formar um fichário
central, com o objetivo de evitar abusos e repetições de pesquisas.
8. Formar-se-á um repertório de obras de beneficência que permita organizá-las
convenientemente. (ESTEVÃO, 2006, p. 14).
Esta sociedade era resultado da junção entre a Burguesia, a Igreja e o Estado.
Tinha por pretensão alargar a assistência aos mais desfavorecidos, sendo inicialmente
praticada por mulheres da alta burguesia, que posteriormente vieram a se
profissionalizar.
Em 1851 na Alemanha, a enfermeira da alta sociedade inglesa, Florence
Nigtingale, juntamente com as diaconisas e irmãs da caridade, inicia as visitas
domiciliares com o objetivo de minimizar os sentimentos físicos e sociais, de pobres
doentes, desenvolvendo mais tarde atividades no âmbito da educação familiar e social
com moradores de bairros operários em Londres no ano de 1865.
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Logo em seguida, foi criado o Centro de Ação Social, pelo pastor Samuel
Barnett e sua esposa colaboradora, Octávia Hill. Este promovia atividades relacionadas
com a saúde e higiene, das famílias dos operários e dos pobres em geral, de modo a
impulsionar a organização da assistência social em bases científicas e a sua
racionalização. Em 1882, Josephine Shaw Lowel, criou a primeira sede americana da
Sociedade, localizada em Nova Iorque. Após 11 anos realizou o primeiro curso de
Formação de Visitadoras Sociais Voluntárias.
Em 1899, na cidade de Amsterdã, funda-se a primeira escola de Serviço Social
no mundo e inicia-se também o processo de secularização da profissão, isto é, para o
Serviço Social, as explicações religiosas do mundo são substituídas por explicações
científicas. A Sociologia dará suporte ao Serviço Social.
Mary Richmond, uma assistente social norte-americana teve a sensibilidade de
começar a pensar e a escrever a respeito do que é o Serviço Social e de como ele deveria
ser exercido. Ela propôs que se criasse uma escola para o ensino da filantropia aplicada,
adotando o inquérito como método de diagnóstico e tratamento social. Mais tarde em
Nova Iorque, esta escola acabou por ser criada, sendo os cursos ministrados por Mary
Richmond, com a responsabilidade da Sociedade de Organização da Caridade para
pessoas voluntárias. Estes cursos se estenderam aos Estados Unidos e à Europa, com o
objetivo de formar novos assistentes sociais, sendo criada a primeira escola na
Inglaterra no ano de 1908 e em Paris, duas escolas, uma sob orientação católica e outra
sob a orientação protestante, respectivamente nos anos de 1911 e 1913.
Mary Richmond foi a primeira assistente social a escrever sobre a diferença
entre fazer “assistência social”, ou caridade, ou filantropia, e o Serviço Social
propriamente dito. É em seu livro Caso Social Individual que surgem as primeiras luzes
sobre uma prática profissional não ainda institucionalizada. Para Mary Richmond, “dar
ajuda material às pessoas pobres não era Serviço Social, era apenas um osso do ofício,
mas não o próprio ofício” (ESTEVÃO, 2006, p. 19). Para ela, fazer Serviço Social
implicava “trabalhar a personalidade da pessoa e o seu meio social. É claro que o meio
social era a família, a escola, os amigos, o emprego etc.” (IDEM).
Veja o que Estevão nos diz sobre a prática do Assistente Social naquela época:
O que faria um Assistente Social no início deste século se ele
fosse sério, rigoroso e competente? Em primeiro lugar iria
preocupar-se em determinar qual a história individual da
formação da personalidade de seu cliente. Se ele não havia
conseguido desenvolver suas potencialidades, enquanto pessoa e
cidadão, era porque a situação vivida por ele, em seu meio
social, não havia permitido um correto e completo
desenvolvimento de sua personalidade. Esta primeira assistente
social acreditava que a personalidade das pessoas pode, por
motivos alheios à sua vontade, dependendo do meio social em
que viva, se atrofiar, não realizando assim tudo de que as
pessoas podem ser capazes quando lhes são dadas as condições
necessárias. Iria também estudar e investigar seriamente o meio
social daquela pessoa, por meio de entrevistas, conversas
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informais, visitas domiciliares a amigos, professores, patrões


etc. Observando e anotando, fazendo relatórios minuciosos,
obteria um diagnóstico e tentaria descobrir quais as
possibilidades de aquela pessoa vir a desenvolver a sua
personalidade e como conseguir a ajuda do meio social para sua
causa. Era preciso descobrir quais possíveis motivações de seu
cliente poderiam incentivá-lo a querer mudar, a desenvolver-se
como gente, descobrir quais aspectos de sua personalidade
deveriam ser reforçados e quais deveriam ser negados. Isso
feito,era necessário então escolher qual caminho dever-se-ia
seguir para que essa personalidade se desenvolvesse e para que
o meio social contribuísse para isso. Caso o meio social não
pudesse mudar, o cliente mudaria de meio. Mary Richmond
chamou esse procedimento de “as ações”: as ações diretas sobre
a personalidade do cliente e indiretas sobre o meio. (ESTEVÃO,
2006, p. 19-20).
Essa proposta era chamada de Serviço Social de Casos e exigia tempo e
paciência, extensos relatórios e coleta minuciosa de dados. Mary Richmond mostrou
que era possível fazer muito mais do que caridade, ser rigoroso em termos de
procedimento, descobrir técnicas que possibilitassem o exercício profissional. Mary
Richmond deu um estatuto de seriedade à profissão, a secularizou e, ao mesmo tempo,
teve a lucidez de perceber que era necessário dar bases técnicas à prática sistemática que
se exercia, oferecendo formas de trabalhar nas quais todos os assistentes sociais se
reconhecessem.
No final do século XIX (1914) com a primeira guerra a sociedade sofre
transformações não só do ponto tecnológico, como social e político. A família passa a
sofrer modificações, passando de patriarcal para conjugal, mesmo conservando as
funções de procriação, educação moral e afetiva e de manutenção. Esta instituição passa
a ser considerada a célula básica da sociedade, mas as demais funções (instrução,
assistência, recreação, etc.) foram delegadas à Igreja, à comunidade e/ou Estado.
A intervenção do Estado se dá em dois sentidos: na legislação surgiram em
quase todos os países. Os sistemas de seguros sociais como, por exemplo: a previdência
social; na atuação criam-se serviços assistenciais (França, Alemanha, Inglaterra) ligados
a administrações municipais, em atendimentos a crianças abandonadas, asilos para
idosos desamparados, juizado de menores, etc.
No bojo do século XX cria-se outro tipo de instituições – as Entidades
Internacionais, que tinham como objetivo levar o consenso sobre a noção de ajuda,
agora denominada de “Serviço Social”.
Em 1922 foi criada a União Católica Internacional de Serviço Social (UCISS)
por Mademoiselle Marie Baers, com sede em Bruxelas, Bélgica, era uma entidade
confessional que reunia escolas católicas de Serviço Social, associações católicas de
assistentes sociais e membros individuais. A finalidade consistia em levar aos trabalhos
do Serviço Social a contribuição católica e do humanismo cristão.
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O Papa Pio XII proclama a UCISS, o duplo caráter do Serviço Social,


competência e fidelidade cristã. Em seguida organiza-se a primeira Conferência
Internacional de Serviço Social, em Paris (1928) por iniciativa de René Sand, cuja
principal preocupação foi criar um fórum internacional para os debates dos problemas
de bem-estar social. As primeiras conferências focalizavam os campos de intervenção
do Serviço Social nas áreas da habitação, família, industrialização e comunidade.
Percebe-se que o Serviço Social começa a procurar uma metodologia para atuar nos
campos de sua intervenção social numa abordagem individual, levando muitos
assistentes sociais, a acreditar numa especificidade para o trabalho em cada campo, ou
seja, situação-problema e o sistema-cliente.
É no período entre 1917 e 1922, que Mary Richmond, mostrava que esta
abordagem comportava três fases: Estudo, Diagnóstico e Tratamento. Com esta
abordagem foi possível chegar à conclusão de que variava as situações e os problemas
dos clientes e não a maneira de agir do assistente social. Os instrumentos eram:
entrevistas, visitação, encaminhamentos.
Em 1922, Mary Richmond definiu o Serviço Social de Casos como “um
processo de desenvolvimento de personalidade do cliente, através de ajustamentos
conscientemente efetuados do indivíduo e do homem para o seu meio social”. Observa-
se aqui que o Serviço Social desenvolve como técnica serviços práticos e de
aconselhamento, para que o cliente pudesse ter a capacidade psicológica de resolver
seus problemas. Algumas décadas depois, aparece um segundo tipo de método de
atuação em Serviço Social: O Serviço Social de Grupo.
A Abordagem Comunitária surgiu na França, quase que no mesmo tempo que a
abordagem individual, como ação social, e nos Estados Unidos, como “organização da
comunidade”, para remediar as disfunções da sociedade. Ambas eram vistas numa
perspectiva sociológica de natureza funcional, pois o entendimento da “organização de
comunidade”, no campo do Serviço Social, é compreendida como um processo de
promoção e equilíbrio no que se refere aos recursos e atendimento das necessidades dos
indivíduos.
A Abordagem Grupal aparece bem depois nos Estados Unidos, pois logo no
início os grupos não foram considerados importantes para solucionar problemas. Até
1930, por conseguinte, o trabalho com grupos se expressava através de programas gerais
de várias naturezas, tais como recreação, cultura física e esportes, que favoreciam a
organização de grupos.
O Serviço Social de Grupo era na verdade um processo de Serviço Social que, se
desenvolvia pelas experiências propositadas, visando à capacitação dos indivíduos para
melhorarem o seu relacionamento social e enfrentarem de modo mais afetivo seus
problemas pessoais de grupo e de comunidade. Em 1934, os assistentes sociais
começam um trabalho com grupos, dando início dentro do Serviço Social um
movimento que tem por finalidade definir a técnica e os objetivos desse método de
trabalho. Aos poucos esta prática profissional vai sendo aceita como um dos métodos
que o Serviço Social atua.
14

O desenvolvimento do Serviço Social de Grupo levou a um terceiro método de


atuação profissional: o Serviço Social de Comunidade, onde a concepção de trabalhos
com grupos desenvolveu-se para a ação intergrupos. Como afirma Estevão,
De início, trata-se de um trabalho de organização da
comunidade entendido como “a arte e o processo de desenvolver
os recursos potenciais e os talentos de grupos de indivíduos e
dos indivíduos que compõem esses grupos. Depois, o Serviço
Social de Comunidade vai ser concebido como um processo de
adaptação e ajuste de tipo interativo e associativo e mais uma
técnica para conseguir o equilíbrio entre recursos e
necessidades. (...) Já não era possível pensar apenas em
organizar a “comunidade”, mas era necessário, principalmente,
promover o seu desenvolvimento com seus próprios recursos
humanos e materiais (evidentemente com uma pequena ajuda do
interior). O trabalho social com comunidade é outro espaço que
vai ser conquistado pela profissão e desenvolvimento de
comunidade passa a ser um método de trabalho privativo do
Serviço Social, que produziu efeitos tão bons para os interesses
norteamericanos e para o sistema que até a ONU (Organização
das Nações Unidas) formula propostas de desenvolvimento de
comunidade para os países ditos subdesenvolvidos: é a fórmula
mágica que irá salvar esses países do comunismo, isto é, da
barbárie. (ESTEVÃO, 2006, p. 25 - 26).
Partindo desses pressupostos históricos do surgimento da profissão, percebe-se
nessa leitura que o Serviço Social nasce como profissão imbricada nas concepções
religiosas e sociológicas de natureza funcional. A leitura de Ottoni (1980) sobre a
história do Serviço Social se caracteriza bem a influência tanto da Igreja Católica na
formação dos assistentes sociais, quanto à influência sociológica.
É visível a influência da abordagem sociológica positiva na concepção da autora
quando, por exemplo, caracteriza: caridade, filantropia, ou serviço social como uma
ação de grupo. Nota-se que a concepção de Ottoni é fundamentada numa perspectiva
sociológica em Durkhein, por definir a profissão e a ação do Serviço Social em prática
social considerando que, o fato social é inseparável o ato social.
Vale ressaltar para título de conhecimento desta concepção que a autora organiza
seu pensamento ao estudo do fato “ajuda aos outros” e vê-lo na sua estrutura, isto é,
como um todo cuja, as partes se relacionam entre si, pois descreve as partes, explica as
partes (o porquê), compara as partes, mas não percebe as contradições que existe entre
os fatos com os quais as relacionam, ou melhor, escamoteia as reais contradições na
sociedade de classes.
A natureza do Serviço Social
A análise que será retratada neste item tem como base os estudos de Montaño
(2009), que traça um perfil da gênese do Serviço Social e como se constituiu a natureza
da profissão. O autor parte de duas perspectivas contraditórias descritas a seguir:
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a) Perspectiva Endogenista: esta sustenta a origem do Serviço Social na


evolução, organização e profissionalização das formas “anteriores” da ajuda da caridade
e da filantropia, vinculada à intervenção da questão social. Esta concepção tem plena
repercussão na atualidade, aparece como única e oficial interpretação sobre a gênese do
Serviço Social, este passa a ser a profissionalização, organização e sistematização da
caridade e da filantropia.
Obs: Postura Endogenista: a profissão é vista a partir de si mesma.
Esta tese não considera o real como o fundamento e a causalidade da gênese
desenvolvimento profissional. Também tem uma clara visão particularista ou focalista,
quando vê o Serviço Social diretamente vinculado às opções particulares.
(...) o surgimento da profissão é visto como uma opção pessoal
dos filantropos em organizarem-se e profissionalizar, com o seja
a Igreja, ou o Estado, pois a explicação de sua gênese é
intrínseca ao Serviço Social e remete sempre a si mesmo. Os
“atores”, os “protagonistas” do surgimento e da evolução do
Serviço Social ( o mesmo ocorre com a análise que fazem da
Reconceituação) são, nesta perspectiva, sempre pessoas
singulares, nomes, em definitivo, individualidades.
(MONTAÑO, 2009:27).
Essa perspectiva não considera a análise do contesto social, econômico e político
como determinante do processo de criação da profissão, ao contrário, naturaliza a
história do serviço social sem recuperar a sua processualidade, se transformando em
etapas de meros cortes formais, ou seja, separa-se o Serviço Social da sociedade e
autonomiza-se o primeiro.
b) Perspectiva Histórico-crítica: surge em oposição à tese anterior, esta
compreende o surgimento da profissão como um produto da síntese dos projetos
“político-econômicos que operam no desenvolvimento histórico, onde se reproduz
material e ideologicamente a fração de classe hegemônica, quando, no contexto do
capitalismo na sua idade monopolista, o Estado toma para si as respostas à ‘questão
social’”. (Montaño, 2009:30).
Esta tese define o Serviço Social como uma profissão que desempenha um papel
claramente político, tendo sua função determinada pela posição que o profissional ocupa
na divisão sóciotécnica do trabalho. Assim colocado, o assistente social tem um papel a
desempenhar na ordem social e econômica na prestação de serviços – ele é demandado
a participar na reprodução tanto da força de trabalho, das relações sociais, quanto da
ideologia dominante. Essa tese parte de uma visão totalizante.
Assim, a emergência da profissão deve sua existência à síntese
das lutas sociais que confluem num projeto político-econômico
da classe hegemônica de manutenção do sistema perante a
necessidade de legitimá-lo em função das demandas populares e
do aumento da acumulação capitalista (...) (MONTAÑO, 2009,
p. 33-34).
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Nesta tese o serviço social tem sua natureza e funcionalidade político-


econômicas, voltadas para a função de legitimação da ordem e aumento da acumulação
capitalista. Profissionais cuja função na sociedade remete fundamentalmente à execução
terminal das políticas sócias segmentadas. Seu campo privilegiado de trabalho é o
Estado e sua base de atuação são as políticas sociais.
É em autores como Iamamoto, Carvalho, Netto e Manrique que podemos
observar uma clara distinção entre a análise dos fundamentos e o sentido social da
gênese profissional – vinculada à estratégia burguesa de transformar o Estado (e suas
políticas sociais) num instrumento de controle e manutenção do sistema, tanto quanto da
luta das classes trabalhadoras em permear o Estado com suas demandas e reivindicações
– e as características dos primeiros profissionais características esta que, mesmo que
tenham sido transferidas para a profissão e constituídas em particularidades do Serviço
Social, nada dizem a respeito de funcionalidade, sentido e papel social e legitimidade da
profissão. Assim, para eles, não há evolução (de formas anteriores de ajuda para o
Serviço Social “profissionalizado”), e sim criação de um novo ator, de uma nova
profissão, que, no entanto, não se constitui com uma identidade meramente atribuída, na
medida em que os primeiros profissionais “levam” consigo suas próprias características
(sua subalternidade de gênero, suas formas de prática voluntarista ligadas à assistência e
à filantropia, sua formação confessional, sua origem de classe etc.), tendo tido um
relativo protagonismo na constituição do Serviço Social. (MONTAÑO, 2009, p. 54).
A Legitimidade dos Assistentes Sociais
Seguindo o roteiro da discussão no item anterior com relação a gênese do
Serviço Social, trabalharemos com duas teses sobre a legitimidade da profissão, ainda
orientados pelos estudos de Montaño (2009):
a) A primeira tese está vinculada a perspectiva endogenista: ela coloca a
legitimidade atrelada a “especificidade” da prática profissional, ou seja, seria como
montar uma barreira interprofissional para cada profissão não invadisse o espaço da
outra. Nesta analise entendese com específico do Serviço Social a prestação de serviços
direcionados aos setores empobrecidos e carentes da sociedade. Ocorre uma suposta
exclusividade dos tradicionais campos de intervenção profissional, pensa-se, portanto
que as refrações da questão social existentes em um dado período permanecerão as
mesmas no futuro. Esta tese desta forma, resulta-se falsa e ilusória.
b) A segunda tese está vinculada a visão de totalidade (histórico-crítica): esta
parte de um Serviço Social legitimado pelo papel que cumpre na e para a ordem
burguesa. Sua legitimidade se forma na função prestada pelo profissional à ordem
burguesa (através principalmente do Estado), através sua participação como executor
das políticas sociais.
Nesta perspectiva, o que legitima uma profissão é:
 Dar respostas a determinadas necessidades sociais;
 Existência de instituições e organizações com interesse e capacidade de
contratar esses profissionais.
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Neste sentido, entre a necessidade social e a demanda


profissional do mercado (ou institucional) deve mediar um
processo de conversão, que transforme necessidades sociais em
demandas e reivindicações da população, e estas em respostas
institucionalizadas por parte da sociedade. Este processo de
conversão é histórico, dinâmico. Portanto, só quando esta
conversão de necessidades a respostas assume a forma de
políticas e serviços sociais e assistenciais desenvolvidos
fundamentalmente pelo Estado, socializando a responsabilidade
e universalizando o direito à satisfação da necessidade, é que
aparece legitimamente instituída uma profissão como a de
Serviço Social. (MONTAÑO, 2009, p.59).

Assim a legitimidade da profissão apresenta duas dimensões: a dimensão


hegemônica e a dimensão subalterna, que expressam um processo tenso e contraditório,
da dinâmica social, de luta/concessão, que remetem a uma relação diferenciada de
classes com o profissional. A dimensão hegemônica leva à relação assistente
social/classe dominante-empregador, remete a funcionalidade que a profissão tem com
o capital e seus representantes (o Estado); e a dimensão subalterna, referese à relação
assistente social/usuário, relação quase sempre mediatizada pelo Estado ou outros
organismos oficiais e empresariais. (Montaño, 2009:60-61).
A “questão social” se torna, assim, não apenas o fator “disfuncional” e
ameaçador do “equilíbrio”, levando a classe dominante, mediatizada pelo Estado e outra
organizações, a desenvolver uma estratégia de controle social por meio das políticas
sociais e contratando o assistente social como executor delas (dimensão hegemônica da
legitimidade profissional), mas a “questão social” se constitui também no motivo pelo
qual a população demanda ao Estado e aceita a intervenção desse profissional para a
solução das suas carências (dimensão subalterna). (MONTAÑO, 2009, p. 62).
A questão social é fonte determinante da demanda do assistente social. O
compromisso ético-profissional deve ser voltado para atender os problemas que afetam
as classes dos trabalhadores, por isso as orientações ideopolíticas devem se voltar para a
defesa dos interesses e direitos das classes trabalhadoras. O último fundamento para a
legitimação do serviço social está na demanda e luta que a classe trabalhadora faz por
serviços sociais e assistenciais, além da conquista de direitos sociais, o que gera
demanda de agentes para elaborar a executar tais serviços.
(...) Assim como o Estado transforma direitos e conquistas
populares em aparentes “concessões” de serviços, também
transfigura a verdadeira fonte e fundamento da demanda por
assistentes sociais:toma a demanda por serviços que parte
daqueles direitos e conquistas da população e a mostra
(transfigurando-a) como uma demanda de emprego (requisição
de assistentes sociais) que parte do Estado e organismos da
classe hegemônica. Ao mediar a relação entre as classes, o
Estado esconde as lutas e demandas por serviços e as transforma
em atividades estatais autônomas e neutras. Ao fazer isto, o
assistente social percebe-se, ele próprio, como um mediador
entre a população e o Estado, e percebe a origem da sua
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demanda profissional não na demanda social (das classes


trabalhistas em luta por direitos), mas na demanda de emprego
provinda do Estado. (MONTAÑO, 2009:65).

EXERCÍCIO DE FIXAÇÃO

1.Quais são os princípios de trabalho defendidos pela Sociedade de Organização da


Caridade, em Londres?
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2.Quem foi a primeira Assistente Social a escrever sobre a diferença entre fazer
“Assistência Social” ou Caridade e Filantropia e o Serviço Social propriamente dito?
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