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LÍNGUA PORTUGUESA 452

Módulo 16 1ª Série

Adjetivo: identificação e locuções adjetivas

Quantas pessoas podem comer, reunidas, um


ovo de Páscoa gigante, de dois metros de altura
e sessenta quilos?
Por favor, não comece a fazer cálculos. Esqueça, neste momento,
a Matemática, mas não duvide da existência de ovos de chocolate
com essa característica, porque eles já existem. Um doceiro britânico
confeccionou um ovo de Páscoa de sessenta quilos, decorado com
cascas de laranja, e exibiu-o na vitrine de sua loja, em Bruxelas,
na Bélgica. No Brasil, desde 2012, a cidade de Gramado promove
a “Chocofest”, com a exposição de ovos com mais de dois metros
de altura, decorados por artistas plásticos locais, como se pode ver
na imagem ao lado.
De qualquer forma, mesmo sem uma ilustração, seria possível

Domínio Público/Wikimedia
imaginar esses surpreendentes ovos, já que a língua nos oferece
recursos eficientes para que possamos distinguir objetos, pessoas,
sentimentos e ações. São os adjetivos e as locuções adjetivas, palavras
como “gigante” ou expressões como “de Páscoa”, “de chocolate”, “de
dois metros” ou “de sessenta quilos” que, nesse caso, particularizam
os ovos.
Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, retomaremos o estudo dessas formas adjetivas C6 – Identificar as características dos adjetivos;
e sua significativa contribuição nos diversos gêneros textuais a que
C8 – reconhecer as possibilidades expressivas da adjetivação;
temos acesso no dia a dia. – analisar os diversos aspectos de colocação vinculados ao adjetivo.

1. O adjetivo Ex.:
“... eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
O adjetivo é uma palavra variável, modificadora do substantivo, defunto autor.” (subst./adj.)
(subst./adj.) Machado de Assis
que denota qualidade, estado, característica do ser, permitindo ao
leitor ou ouvinte uma melhor visualização ou entendimento do que se Aquele cego velho fica sempre na esquina.
pretende nomear e descrever. Pelo emprego dos adjetivos, podem-se (subst./adj.)
distinguir aspectos que tornam diferentes e mais ou menos expres-
sivas as abordagens de um mesmo ser. “Águas” podem ser “límpidas”, O velho cego dizia frases interessantes.
(subst./adj.)
“turvas” ou “poluídas”, “doces” ou “salgadas”, “mansas” ou “violentas”;
“atitudes” podem ser “heroicas” ou “covardes”, “egocêntricas” ou
Alguns adjetivos podem mudar de sentido, conforme se
“altruístas”, “transparentes” ou “dissimuladas”.
coloquem antes ou depois de substantivo. Quando o adjetivo vem
A adjetivação, muitas vezes, é o elemento revelador da forma depois do substantivo, geralmente assume valor denotativo (valor
como cada pessoa vê o mundo, considerando a diversidade de expres- comum, encontrado no dicionário); vindo antes do substantivo,
sões e opiniões que caracterizam o ser humano. Usar expressivamente costuma assumir valor conotativo. Vejam-se os pares seguintes:
um adjetivo é conferir singularidade ao que em princípio é comum,
é atribuir peculiaridade ao que muitos veem como trivial. → homem simples (= que tem simplicidade) × simples homem
(= comum)
→ homem grande (= de físico avantajado) × grande homem
2. O adjetivo e a colocação (= notável)
→ brinquedo caro (= custoso) × caro amigo (= querido)
Normalmente, coloca-se o adjetivo depois do substantivo. → mulher triste (= melancólica) × triste governante (= lastimável)
É importante lembrar isso quando se juntam, por exemplo, dois
vocábulos que podem ser substantivos ou adjetivos. Para saber a que Alguns adjetivos podem mudar de classe (além de mudarem o
classe pertencem em determinados contextos, a colocação é definitiva. sentido) quando se altera a sua colocação em relação ao substantivo.
Adjetivo: identificação e locuções adjetivas LÍNGUA PORTUGUESA 453
Módulo 16 1ª Série

Ex.: 2.2 As locuções adjetivas


→ resposta certa (= exata, correta / adj.) × certa resposta
(= alguma / pron. indef.) São expressões formadas por preposição + substantivo, com
→ homens determinados (= com determinação / adj.) × determi- sentido equivalente ao de um adjetivo.
nados homens (= alguns / pron. indef.)
→ mulher qualquer (= vulgar / adj.) × qualquer mulher Ex.:
(= indeterminada / pron. indef.) escada de metal (metálica)
→ o país todo (= inteiro / adj.) × todo país (= qualquer / pron. indef.)
espírito de renovação (renovador)

2.1 Conversão de substantivos em adjetivos pagamento por mês (mensal)


casa de campo (campestre)
Não são raras as construções em que se acrescenta a um substan-
tivo um outro substantivo, que acaba funcionando como adjetivo. É o
caso de “menina veneno”, “mulher maravilha”, “comício-monstro”, etc.
2.3 Adjetivos pátrios
Também existe a “adjetivação” de substantivos quando se São pátrios ou gentílicos os adjetivos que se referem a deter-
acrescenta a um nome substantivo esse mesmo nome. Tal duplicação minados lugares (países, estados, cidades etc.).
“transforma” em adjetivo o segundo elemento e concorre para
Ex.:
enfatizar as características do substantivo. É o caso de “mulher-
da Bélgica (belga)
-mulher”, “burguês-burguês”, “zagueiro-zagueiro” etc.
da Pérsia (persa)
da Córsega (corso)
O adjetivo em casos de duplicação da Guatemala (guatemalteco)
É interessante verificar de Milão (milanês)
©Matthew Ashton - EMPICS/Getty images

que o processo de “dupli- de Salvador (soteropolitano)


cação”, que muitas vezes
de Três Corações (tricordiano)
transforma um substantivo
em adjetivo, atinge as mais

©largeformat4x5/iStock
diversas áreas da linguagem,
os mais diversos níveis em
que ela se manifesta.
No âmbito da Litera- Odvan.
tura, por exemplo, Mário de Andrade se utiliza da expressão
“burguês-burguês”, no poema “Ode ao burguês”, de 1922,
empregando esse recurso linguístico como uma forma de
realçar as características negativas que o escritor modernista
identifica na burguesia paulistana da época.
Já no campo estritamente informal, no âmbito do futebol,
o treinador Vanderlei Luxemburgo, ao convocar, de forma
surpreendente, o zagueiro Odvan, do Vasco, para a seleção Tapete persa.
brasileira, justificou sua escolha dizendo que ele era um
©francesco perre/iStock

“zagueiro-zagueiro”, expressão que muitos passaram a utilizar


para atletas com as mesmas características e que o próprio
Vanderlei voltou a empregar ao referir-se, mais recentemente, a
outros de seus comandados, como Fabão, do Santos, e Welinton,
do Flamengo. Com esse emprego, pretendia o técnico referir-se
a zagueiros menos técnicos e mais viris, “rebatedores”, do tipo
que os torcedores identificam como os que “não brincam na
área” e que “chutam para onde o nariz aponta”.
A anônima linguagem popular, no cotidiano, também
identifica o valor expressivo desse processo reduplicativo em
expressões do tipo “mulher-mulher” (em que se exaltam as
virtudes femininas de uma mulher) ou “bandido-bandido”
(em que são ampliadas as características negativas de um
bandido), entre outras. Bife milanês.
454 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 16

RORAIMA
Boa Vista AMAPÁ 01 Examine as frases a seguir e marque apenas aquelas em que a
Macapá
inversão da posição do adjetivo em relação ao substantivo alteraria
Belém
o sentido da expressão e levaria à mudança da classe gramatical de
São Luís
Fortaleza
AMAZONAS Manaus

um dos dois vocábulos:


CEARÁ RIO GRANDE
PARÁ Teresina DO NORTE
MARANHÃO Natal
PARAÍBA
João Pessoa
PERNAMBUCO
ACRE
Porto Velho
Palmas
PIAUÍ Recife
ALAGOAS a. ( ) Ela sempre tem palavras doces para os amigos.
Maceió
) Um jovem determinado fez aquela prova.
Rio Branco
RONDÔNIA MATO GROSSO
TOCANTINS
BAHIA
SERGIPE
Aracaju b. (
c. ( ) Palavras certas foram ditas na escuridão.
DISTRITO Salvador
Cuiabá FEDERAL

d. ( ) Aquela era uma mulher pobre.


Brasília

Goiânia
GOIÁS MINAS GERAIS
MATO GROSSO Belo Horizonte
ESPÍRITO SANTO
DO SUL
Campo Grande
Vitória 02 (FUVEST)
SÃO PAULO

Segundo a ONU, os subsídios dos ricos prejudicam o Terceiro


RIO DE JANEIRO
PARANÁ São Paulo Rio de Janeiro
Curitiba

SANTA CATARINA
Mundo de várias formas:
RIO GRANDE Florianópolis
DO SUL
Porto Alegre
1. Mantêm baixos os preços internacionais, desvalorizando as
exportações dos países pobres;
Temos aqui um interessante levantamento dos adjetivos 2. excluem os pobres de vender para os mercados ricos;
3. expõem os produtores pobres à concorrência de produtos mais
gentílicos referentes às pessoas nascidas nas capitais de todos
baratos em seus próprios países.
os estados brasileiros. Você provavelmente vai se surpreender
com alguns deles. Veja: Folha de S. Paulo, 2 nov. 1997, E-12.

Unidade da Federação Capital Gentílico Nesse texto, as palavras destacadas rico e pobre pertencem a
diferentes classes de palavras, conforme o grupo sintático em que
Acre Rio Branco rio-branquense estão inseridas.
Alagoas Maceió maceioense
Amapá Macapá macapaense a. Obedecendo à ordem em que aparecem no texto, identifique a
manauense; classe a que pertencem, em cada ocorrência grifada, as palavras
Amazonas Manaus
manauara “rico” e “pobre”.
soteropolitano; b. Escreva duas frases com a palavra “brasileiro”, empregando-a
Bahia Salvador
salvadorense cada vez em uma dessas classes.
Ceará Fortaleza fortalezense
Distrito Federal Brasília brasiliense 03 Esclareça, se houver, que tipo de distinção ocorre, do ponto de
Espírito Santo Vitória capixaba; vitoriense vista semântico e/ou morfológico, entre as duas frases a seguir:
Goiás Goiânia goianiense
a. Toda cidade tem segredos.
ludovicense ou
Maranhão São Luís b. A cidade toda tem segredos.
são-luisense
Mato Grosso Cuiabá cuiabano
04 A identificação dos adjetivos que, em nossa língua, corres-
Mato Grosso do Sul Campo Grande campo-grandense pondem a certas locuções constitui excelente prática com vistas à
Minas Gerais Belo Horizonte belo-horizontino aquisição de vocabulário mais amplo. A propósito, indique quais
Pará Belém belenense são os adjetivos correspondentes às seguintes locuções adjetivas:
Paraíba João Pessoa pessoense
Paraná Curitiba curitibano a. de marfim l. de ovelha
Pernambuco Recife recifense b. de ouro m. de cabra
Piauí Teresina teresinense c. de prata n. de cão
Rio de Janeiro Rio de Janeiro carioca d. de cobre o. de víbora
Rio Grande do Norte Natal natalense e. de lago p. de diamante
f. de rio q. de águia
Rio Grande do Sul Porto Alegre porto-alegrense
g. da chuva r. de porco
Rondônia Porto Velho porto-velhense h. de chumbo s. de leite
Roraima Boa Vista boa-vistense i. de lebre t. de gelo
Santa Catarina Florianópolis florianopolitano j. de leão u. de cabelo
São Paulo São Paulo paulistano k. de gato v. de orelha
aracajuano;
Sergipe Aracaju
aracajuense
Tocantins Palmas palmense
Adjetivo: identificação e locuções adjetivas LÍNGUA PORTUGUESA 455
Módulo 16 1ª Série

05 (VUNESP) 03 (FGV)

Há palavras que ninguém emprega. Apenas se


Na morte dos rios
encontram nos dicionários como velhas
Desde que no Alto Sertão um rio seca,
caducas num asilo. Às vezes uma que outra se
a vegetação em volta, embora de unhas,
escapa e vem luzir-se desdentadamente, em
embora sabres, intratável e agressiva,
público, nalguma oração de paraninfo. Pobres
faz alto à beira daquele leito tumba.
velhinhas... Pobre velhinho!
Faz alto à agressão nata: jamais ocupa
o rio de ossos areia, de areia múmia. QUINTANA, Mário. “Triste História”, In: Porta Giratória. São Paulo: Globo, 1988. p. 20.

João Cabral de Melo Neto a. Quem são, no texto, as “pobres velhinhas”? E o “pobre velhinho”?
(l. 5 e 6).
João Cabral de Melo Neto pretendeu criar uma linguagem para seus b. Qual a diferença entre “pobre velhinho” e “velhinho pobre”?
poemas que se afastasse um pouco da linguagem usual, por meio
de pequenos desvios. Para isso, empregou, às vezes, palavras fora 04
das classes morfológicas a que pertencem.
...É CLARO QUE
VIVEMOS EM É CHATO MESMO –
E MUITO CHATO NOS
a. Transcreva os fragmentos em que isso acontece. UM PLANETA ACHATADOS
NOS POLOS.
DIAS EM QUE NÃO DÁ
CHATO... PRAIA, NOS DIAS DE
b. Identifique a classe original das palavras e a classe em que João PROVA, NA HORA DE
LAVAR A LOUÇA...
Cabral as utilizou em seu poema.

01 (ITA) Durante a Copa do Mundo, foi veiculada, em programa Renan Motta Lima
esportivo de uma emissora de TV, a notícia de que um apostador
inglês acertou o resultado de uma partida porque seguiu os prognós- O humor dessa tira é obtido com a utilização do adjetivo “chato”.
ticos de seu burro de estimação. Um dos comentaristas fez, então, Explique por quê.
a seguinte observação: “Já vi muito comentarista burro, mas burro
comentarista é a primeira vez.” Percebe-se que a classe gramatical
das palavras se altera em função da ordem que elas assumem na
expressão. Assinale a alternativa em que isso não ocorre:

(A) Obra grandiosa. 01 (UFSCar)


(B) Jovem estudante. Tanta tinta
(C) Brasileiro trabalhador.
Ah! menina tonta,
(D) Velho chinês.
(E) Fanático religioso. toda suja de tinta
mal o sol desponta!
02 (UFMG) Sobre o adjetivo “severina”, da expressão “Morte e vida
severina”, que intitula a peça de João Cabral de Melo Neto, todas as (Sentou-se na ponte, muito desatenta ...
afirmativas estão certas, exceto: E agora se espanta:
Quem é que a ponte pinta
(A) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados, lutam
contra o sistema latifundiário que oprime o camponês. com tanta tinta?...)
(B) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente de bens A ponte aponta
materiais e de afetividade.
e se desaponta.
(C) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca escorraça do
Sertão e o latifúndio escorraça da terra. A tontinha tenta
(D) Qualifica a existência negada, a vida daqueles seres marginali- limpar a tinta,
zados determinada pela morte.
(E) Dá nome à vida de homens anônimos, que se repetem física e ponto por ponto
espiritualmente, sem condições concretas de mudança. e pinta por pinta ...
Ah! a menina tonta
Não viu a tinta da ponte!
Ou isto ou aquilo, Cecília Meireles.
456 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 16

Esse poema faz parte de uma coleção dedicada por Cecília Meireles Quando esticar a canela. Morre, João...
às crianças. Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
a. Cite um dos principais recursos estilísticos nele utilizados. Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Exemplifique. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
b. A que classe de palavra pertence a palavra “tontinha”, no texto?
Sonoro. Lento. Eu sonho
Cite uma de suas funções na construção desse texto.
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
02 (UNIFESP) Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
De gramática e de linguagem
Eu sonho com um poema
E havia uma gramática que dizia assim:
Cujas palavras sumarentas escorram
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Um poema que te mate de amor
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!...
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se
Basta provares o seu gosto”
em excesso.
Mário Quintana
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre, Para o poeta, a linguagem deve:
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
(A) ser inquietante e misteriosa como um ovo que, quando choco,
As cousas vivem metidas com as suas cousas. guarda sentidos desconhecidos.
E não exigem nada. (B) ser composta pelos substantivos concretos e pelos adjetivos
para assemelhar-se à linguagem das plantas e dos animais.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
(C) conseguir matar as pessoas que, como diz o poeta, atrapalham.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Por isso ele afirma: “Morre, João...”.
Para quê? não importa: João vem! (D) excluir o amor, uma vez que esse sentimento a destitui do
verdadeiro e misterioso sentido abrigado nas palavras.
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão. (E) bastar-se a si mesma, pois há de conter a essência do sentido
Amigo ou adverso... João só será definitivo na sua constituição.

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LÍNGUA PORTUGUESA 456
Módulo 17 1ª Série

Adjetivo: flexões de gênero, número e grau

©egal/iStock
Você sabia que, na frase “A Lua é menor que o
Sol”, o adjetivo “menor” indica superioridade?
Embora pareça estranho, na frase “A Lua é menor que o
Sol”, a forma “menor” é comparativo de superioridade, porque
significa que, em relação ao adjetivo “pequeno” (que exprime uma
qualidade), a Lua apresenta maior “pequenez” que o Sol. Nesse
caso, não se pode dizer que ela é “mais pequena” nem que o Sol é
“mais grande”, o que também acontece com outros adjetivos que
não admitem essas formas analíticas, como “bom” e “mau”, a não
ser em situações especiais.
Na realidade, essa ideia de superioridade nas palavras “menor”,
“maior”, “melhor” ou “pior” é trazida para esses vocábulos pelo
sufixo “-or”, o mesmo que aparece em “sênior” (mais velho),
“júnior” (mais novo), “superior” (mais alto), “inferior” (mais
baixo), etc. Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, retomaremos o estudo do adjetivo, relem- – Identificar as diversas situações textuais que envolvem as flexões
brando seus aspectos de número, gênero e grau e os usos que
C6 do adjetivo;

nós, falantes da língua portuguesa, fazemos em decorrência C8 – reconhecer, no conhecimento e domínio das regras de flexão
dos adjetivos, um importante instrumento no exercício culto da
dessas flexões. língua.

1. As flexões do adjetivo 2. Adjetivos uniformes


A palavra “flexão”, no dicionário, apresenta-se como a ação ou quanto ao gênero
o estado do que é flexível, do que se pode dobrar, curvar. Algumas
Muitos adjetivos são invariáveis em gênero (uniformes). Entre
pessoas podem pensar que essas definições nada têm a ver com o
outros, é possível mencionar os seguintes: hindu, cortês, descortês,
que será estudado a partir de agora, mas a polissemia da palavra
pedrês, montês, melhor, pior, maior, menor, multicor, exterior,
permite, sim, uma aproximação. Quando uma palavra se flexiona,
incolor etc.
ela exerce, de certa forma, um tipo de “flexibilidade” que lhe
permite, por exemplo, adaptar-se a necessidades de concordância Igualmente invariáveis são os adjetivos terminados em az, oz,
com outros vocábulos. iz e, em geral, os terminados em a, e, l, m, r, s:

Os adjetivos participam ativamente do processo da flexão Ex.: feliz, atroz, capaz, lusíada, leve, possível, ruim, secular, etc.
vocabular, variando em gênero, número e grau. Com relação ao
gênero e ao número, seguem as normas aplicáveis aos substantivos. Obs.: Não se enquadram nesse caso andaluz/andaluza, bom/boa,
Julgam-se oportunas, a propósito, as observações que se seguem. chim/china, espanhol/espanhola).

1.1 A flexão de gênero usual do adjetivo 3. A metafonia na flexão de gênero


Usualmente, o que marca a flexão de gênero nos adjetivos é Alguns adjetivos fazem o seu feminino não apenas com a
o elemento mórfico denominado desinência de gênero, isto é, “o” desinência de gênero, mas também com o auxílio da metafonia,
para o masculino, “a” para o feminino. quando o timbre é igualmente fator distintivo.

Ex.: educado/educada; amigo/amiga; magnífico/magnífica. Ex.: novo (ô)/nova (ó); gostoso (ô)/gostosa (ó); dengoso (ô)/
dengosa (ó); composto (ô)/composta (ó).
Adjetivo: flexões de gênero, número e grau LÍNGUA PORTUGUESA 457
Módulo 17 1ª Série

4. A flexão de número
usual dos adjetivos A lógica das exceções
O adjetivo composto surdo-mudo faz o plural flexionando
Os adjetivos, como os substantivos, fazem o seu plural com a ambos os elementos. Dizemos, então, “Naquele colégio
desinência de número(s) e suas variações. Os casos de metafonia estudam pessoas surdas-mudas” ou “Crianças surdas-mudas
na mudança de gênero também ocorrem com o número. demandam processos especiais para uma boa aprendizagem”.

Ex.: delicado/delicados; útil/úteis; feliz/felizes; espanhol/espanhóis; Uma hipótese razoável que justificaria essa exceção – já
novo/novos; amistoso/amistosos. que, normalmente, apenas deveria variar o segundo elemento
– é a existência do substantivo composto “surdo-mudo”,
que, observando a regra dos substantivos compostos, tem,
5. A flexão de número no processo no plural, ambos os elementos flexionados (surdos-mudos).
de conversão de substantivos Seria complicado para o falante aplicar um plural ao adjetivo
e outro ao substantivo.
em adjetivos
Essa observação leva a uma reflexão: a de que a maioria
Em situações desse tipo, o adjetivo assim formado mantém-se das exceções que se verificam nos estudos gramaticais não
no singular, mesmo que o substantivo precedente esteja no plural. surgem de forma aleatória, têm sempre uma razão lógica.
Afinal, elas não são criadas pelos gramáticos, mas pelos
Ex.: comícios-monstro; camisas rosa; homens-aranha. falantes da língua.

6. A flexão de número (e de gênero)

©Yuri Arcurs/iStock
nos adjetivos compostos
Como norma geral, os adjetivos compostos fazem o plural (e
o feminino) mantendo o primeiro elemento invariável e fazendo o
segundo concordar com o substantivo.

Ex.: gabinetes médico-cirúrgicos, atendimentos médico-hospita-


lares, camisas verde-amarelas.
©franckreporter/iStock

Linguagem dos surdos-mudos.

• Usam-se formas reduzidas dos adjetivos gentílicos, como


primeiros elementos dos compostos.

Ex.:
jogos ítalo-brasileiros
Guerra Franco-Prussiana
luta greco-romana

Seguem, abaixo, algumas dessas formas reduzidas de adjetivos


gentílicos, ou pátrios:
Valem, a propósito, as seguintes observações:
• Inglaterra: anglo • Alemanha: germano
• Se, em um adjetivo composto, o último elemento for substan- • Índia: indo • Bélgica: belgo
tivo, o composto fica invariável. • França: franco • Europa: euro
Ex.: camisas verde-abacate, gravatas azul-piscina. • Portugal: luso • África: afro
• China: sino • Grécia: greco
• Também invariáveis são os compostos azul-marinho e azul- • Japão: nipo • Espanha: hispano
-celeste.

Ex.: cenários azul-celeste, blusas azul-marinho.


458 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 17

7. Os graus dos adjetivos


Os superlativos “eruditos”
Quanto ao grau, os adjetivos, geralmente, podem apresentar-se
da seguinte maneira: Segue, abaixo, uma relação dos principais superlativos
absolutos sintéticos chamados “eruditos”, por guardarem
• Grau positivo (normal): atrevido relação com a origem latina do adjetivo a que se referem.

• Grau comparativo: admirável – admirabilíssimo humilde – humílimo


− De igualdade: tão atrevido quanto;
− de superioridade: mais atrevido que (do que); amável – amabilíssimo livre – libérrimo
− de inferioridade: menos atrevido que (do que). amargo – amaríssimo magro – macérrimo

• Grau superlativo: amigo – amicíssimo negro – nigérrimo


− Relativo: o mais (o menos) atrevido de (dentre); antigo – antiquíssimo miúdo – minutíssimo
− absoluto analítico: muito atrevido, bastante atrevido;
− absoluto sintético: atrevidíssimo. áspero – aspérrimo pobre – paupérrimo
bélico – belicíssimo provável – probabilíssimo

©Lise Gagne/iStock
fácil – facílimo sábio – sapientíssimo
feroz – ferocíssimo salubre – salubérrimo
fiel – fidelíssimo soberbo – superbíssimo
frágil – fragílimo tétrica – tetérrimo
geral – generalíssimo velha – vetérrimo

O homem é atrevidíssimo e pratica vários esportes radicais (superlativo absoluto sintético).

8. Adjetivos com formas especiais de grau


Alguns adjetivos têm formas diferentes para a expressão da Obs.: (*) É possível dizer mais bom, mais mau, mais grande etc.,
flexão de grau. quando se comparam dois adjetivos em relação a um único ser.
Segue o quadro explicativo: Ex.: Ela era uma pessoa mais boa que talentosa.

Comparativo de A língua portuguesa dispõe de outros recursos para traduzir o


Superlativo absoluto superlativo. Seguem outras formas de intensificar-se uma qualidade:
Adjetivo superioridade
Analítico Sintético Analítico Sintético Extrafino, supervolúvel, hipermilionário.
muito Estava tudo vazio, vazio.
bom mais bom* melhor ótimo
bom Isto é claro como água.
muito É forte como quê.
mau mais mau* pior péssimo Ela é feia como a necessidade.
mau
Uma casa grande pra burro!
mais muito
grande maior máximo Estava com a boca sequinha.
grande* grande
mais muito Como já exposto no início do módulo, é possível observar, no
pequeno menor mínimo
pequeno* pequeno quadro, que o sufixo “-or” contribui para a formação de palavras
que traduzem a ideia de superioridade.
alto mais alto* superior muito alto supremo

mais muito
baixo inferior ínfimo
baixo* baixo

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Adjetivo: flexões de gênero, número e grau LÍNGUA PORTUGUESA 459
Módulo 17 1ª Série

Deixa-me ser a tua amiga, amor;


A intensidade na poesia de Florbela Espanca A tua amiga só, já que não queres
Você conhece Florbela Que pelo teu amor seja a melhor

Domínio Público/Wikimedia
Espanca? Ela é um dos
A mais triste de todas as mulheres.
maiores nomes da poesia
em língua portuguesa que “Amiga”

se fez além-mar. Preco-


c e m e nt e f a l e c i d a a o s Mas digo para mim: “Não me merecem...”
36 anos, em 1930, essa E já não fico tão abandonada!
poetisa portuguesa teve Sinto que valho mais, mais pobrezinha:
uma vida repleta de
Que também é orgulho ser sozinha
inquietações e angústias,
E também é nobreza não ter nada!
que passou para o papel
em textos de invejável “O meu orgulho”

construção poética.
Veja, por exemplo, nos Ando perdida nestes sonhos verdes
fragmentos a seguir, como De ter nascido e não saber quem sou,
Florbela se vale do emprego dos graus dos adjetivos para Ando ceguinha a tatear paredes
traduzir a intensidade de seus sentimentos, no livro A mensa-
E nem ao menos sei quem me cegou!
geira das violetas, uma coletânea de alguns dos seus sonetos:
“Cegueira Bendita”

Ai, vê lá bem, ó doido coração,


Quanta mulher no teu passado, quanta!
Não te deslumbre o brilho do luar!
Tanta sombra em redor! Mas que me importa?
Não estendas tuas asas para o longe...
Se delas veio o sonho que conforta,
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
A sua vinda foi três vezes santa!
Na paz da tua cela, a soluçar!...
“Supremo enleio”
“Anseios”

Mas que me importa a mim que me não queiras,


A minha dor é um convento. Há lírios
Se esta pena, esta dor, estas canseiras,
Dum roxo macerado de martírios,
Este mísero pungir, árduo e profundo,
Tão belos como nunca os viu alguém!
Do teu frio desamor, dos teus desdéns,
“A minha dor”
É, na vida, o mais alto dos meus bens?

A flor do sonho, alvíssima, divina É tudo quanto eu tenho neste mundo?

Miraculosamente abriu em mim, “O maior bem”

Como se uma magnólia de cetim Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.

Fosse florir num muro todo em ruína


“A flor do sonho”

E eu ouço soluçar a noite escura!


01 Examine as frases a seguir e marque 1 para o(s) caso(s) em
Por que é assim tão ‘scura, assim tão triste?!
que o adjetivo está no superlativo relativo de superioridade; 2,
É que, talvez, ó noite, em ti existe para aquele(s) em que há superlativo absoluto; e 3, para o(s) de
Uma saudade igual à que eu contenho! comparativo de superioridade:

“Noite da saudade” (A) ( ) A palmeira é a mais alta árvore daquele lugar.


(B) ( ) Guardei recordações muito boas daquele lugar.
(C) ( ) Essa solução é pior do que a outra.
(D) ( ) Ele é o maior aluno de sua turma.
(E) ( ) O mais alegre dentre os colegas era o Ricardo.
460 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 17

02 Examine as expressões a seguir e aponte a distinção entre elas, do do que não furtara. Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a,
ponto de vista da flexão de gênero. espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com
os juízes famintos, a título de custas...
a. Jovem leitor.
b. Semelhante criatura. Fábulas e Histórias Diversa, Monteiro Lobato.

c. Inglesa pálida.
a. Dê o superlativo absoluto sintético de “pobre”, em suas duas
formas possíveis.
03 Identifique o aspecto semântico que aproxima as expressões
b. Em uma dessas formas, o superlativo absoluto sintético de
grifadas nas frases a seguir:
“pobre” assume característica latina. Ofereça dois outros
exemplos em que, de acordo com a norma culta, isso ocorra.
a. Ela parecia triste, triste, triste...
b. Você sempre se mostrou “megacomprometido” com a causa.
02
c. É uma moça assustadoramente alta.

Domínio Público/Wikimedia
04 Indique o grau do adjetivo nas frases a seguir:

a. A vida seguia muito mansa.


b. Fostes a mais perfeita mulher que já conheci.
c. Não quero continuar nesta misérrima situação.
d. A vida é mais breve do que a morte.
e. O futebol é tão badalado quanto o carnaval.
f. A Terra é menor do que Júpiter.

05 Preencha as lacunas com os vocábulos entre parênteses,


observando as normas de concordância.

a. Hoje vão acontecer diversas reuniões ______________. (lítero-


-musical) Iracema, 1884, óleo sobre tela – 167,5 × 250,2 cm, quadro de José Maria de Medeiros,
b. Aquelas jovens fizeram boas provas. no Museu Nacional de Belas Artes.
(surdo-mudo)
c. Vocês estavam lindas com aqueles uniformes ____________. Além, muito além daquela serra que ainda azula no horizonte,
(verde-escuro) nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha
d. Resolveu pintar a parede com tons . os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu
(amarelo-limão)
talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como o seu sorriso;
e. Nos dias de hoje, já não se usam com frequência ternos
__________. (azul-marinho) nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
f. Ela adorava esses debates sobre matérias . Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão
(socioeconômico) e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande
g. Quem diria que, um dia, eles virariam políticos ___________. nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde
(neoliberal) pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas.
Iracema, José de Alencar.

No fragmento acima, em que a figura da personagem-título é apresen-


tada de forma idealizada, bem ao gosto de nossos escritores român-
01 (FGV) ticos, a flexão de grau de adjetivos contribui para essa idealização.
Explique por quê, exemplificando sua resposta com elementos
Um cachorro de maus bofes acusou uma pobre ovelhinha de lhe
do texto.
haver furtado um osso. — Para que furtaria eu esse osso – ela — se
sou herbívora e um osso para mim vale tanto quanto um pedaço de 03
pau? — Não quero saber de nada. Você furtou o osso e vou levá-la Garcia inclinou-se ainda para beijar outra vez o cadáver, mas
aos tribunais. E assim fez. Queixou-se ao gavião-de-penacho e então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços, e os olhos não
pediu-lhe justiça. O gavião reuniu o tribunal para julgar a causa, puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas
sorteando para isso doze urubus de papo vazio. Comparece a ovelha. de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde
Fala. Defende-se de forma cabal, com razões muito irmãs das do ficara, saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa,
cordeirinho que o lobo em tempos comeu. Mas o júri, composto muito longa, deliciosamente longa.
de carnívoros gulosos, não quis saber de nada e deu a sentença:
ASSIS, Machado de. “A causa secreta”. In: Obra Completa, Vol. II.
— Ou entrega o osso já e já, ou condenamos você à morte! A Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979. p. 519.
ré tremeu: não havia escapatória!... Osso não tinha e não podia,
portanto, restituir; mas tinha vida e ia entregá-la em pagamento
Adjetivo: flexões de gênero, número e grau LÍNGUA PORTUGUESA 461
Módulo 17 1ª Série

O fragmento anterior é o final de um conto de Machado de Assis. E, na língua que dominam, o ticuna, também encontram limitações
Nele, diante do cadáver de Luíza, esposa de Fortunato, o personagem na leitura e na escrita, por tratar-se de uma língua de tradição
Garcia, amigo deste último e que amava a morta em segredo, não oral. Assim caminha a juventude ticuna: soterrada numa salada
se conteve: suas lágrimas vieram “em borbotões”, revelando para o
de identidades.
amigo o sentimento escondido. Enquanto isso, Fortunato, o marido,
é acometido por inesperado prazer. MONTEIRO, Karla. “A pior escola do Brasil?”. Revista Samuel, n. 1, 2012. p. 36-39 (adaptado).
Explique o efeito obtido, no trecho, pela repetição do adjetivo “longa”.
O título – “A pior escola do Brasil?” – justifica-se em relação ao
04 (UFU) O autor de D. Casmurro afirma que “José Dias conteúdo do texto pelo seguinte:
amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental
às ideias”. (A) As demais escolas no território nacional apresentaram resul-
Dentre os vários superlativos empregados por José Dias, assinale tados piores do que a escola ticuna; logo, o título representa a
a única alternativa em que ocorre um emprego não previsto pela crítica da autora sobre a escola ticuna ser a pior escola do Brasil
gramática normativa: nos exames do Enem.
(B) As questões do Enem são elaboradas em nível de dificuldade
(A) “Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela muito superior ao desejável para os alunos do ensino médio no
estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, amaríssimo...” Brasil; assim, o título apresenta um questionamento da autora
(B) “Que ideia é essa? O estado dela é gravíssimo, mas não é mal de sobre a adequação da exigência dos exames do Enem.
morte, e Deus pode tudo.” (C) Os professores da escola ticuna são estrangeiros incumbidos
(C) “Sua mãe é uma santa, seu tio é um cavalheiro perfeitíssimo.” de ensinar diversas matérias; dessa forma, o título evidencia a
(D) “... porque ela é um anjo, anjíssimo ...” contestação da autora quanto a professores não saberem falar
(E) “Oh! As leis são belíssimas.” a língua nacional.
(D) A televisão faz grande diferença na formação dos estudantes;
05 (FATEC) por conseguinte, o título apresenta a indignação da autora com
Em 2009, a Escola Estadual D. Pedro I, na aldeia Betânia, onde relação à falta de aparelhos de televisão na aldeia dos ticunas.
(E) Os brasileiros falantes do ticuna têm de aprender as disciplinas
vivem cinco mil ticunas (estima-se que haja 32 mil ticunas vivendo
convencionais por meio da língua portuguesa; logo, o título
no Alto Solimões, entre a Amazônia brasileira, a colombiana e a sugere uma crítica da autora à comparação equivocada de
peruana), ficou na rabeira do Enem, o Exame Nacional do Ensino desempenho nos exames do Enem.
Médio. O colégio, frequentado por 600 jovens representantes da
etnia, ostentou o último lugar.
“Há dois ou três anos, todos os professores eram de fora da
aldeia, A Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngues foi
formando professores indígenas, e o quadro mudou. Nossa escola 01
é muito boa. Tem um ponto de internet. Há dois anos, temos Aceitarás o amor como eu o encaro?...
eletricidade. Nosso problema é a língua. Das regiões de Tefé a
Aceitarás o amor como eu o encaro?...
Tabatinga, predomina a etnia ticuna. Eu acho que justifica lutar por
uma universidade ticuna”, diz Saturnino, um dos poucos fluentes ... Azul bem leve, um nimbo, suavemente
em português na aldeia Betânia. Guarda-te a imagem, como um anteparo
São índios. Mas não adoram o Sol, a Lua, as estrelas, os Contra estes móveis de banal presente.
animais, as árvores. Praticam, sim, com afinco, a religião batista,
imposta por um missionário americano, o pastor Eduardo – Tudo o que há de melhor e de mais raro
provavelmente, Edward – que passou por ali, pelo Alto Solimões, Vive em teu corpo nu de adolescente,
a região mais isolada da Amazônia, no amanhecer dos anos 1960.
A perna assim jogada e o braço, o claro
São brasileiros, amazonenses, porém não assistem à novela das
oito nem ouvem sertanejo universitário. Eles se ligam na TV Olhar preso no meu, perdidamente.
colombiana e escutam música importada do país vizinho, que ecoa
estrondosa dos casebres de madeira. O único sinal de que devem Não exijas mais nada. Não desejo
passear de vez em quando pela Globo é o penteado do Neymar Também mais nada, só te olhar, enquanto
enfeitando as cabeleiras escorridas e negras. Não falam português A realidade é simples, e isto apenas.
fluentemente. As crianças nem sequer entendem. A língua dos
bate-papos animados é o ticuna. No entanto, são obrigados a Que grandeza... a evasão total do pejo
aprender Matemática, Química, Física, História, Geografia, etc. na
Que nasce das imperfeições. O encanto
língua-pátria. Uma situação insólita: na língua que não dominam,
o português, os jovens precisam ler e escrever – e prestar exames. Que nasce das adorações serenas.
Mário de Andrade
462 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 17

No segundo verso da segunda estrofe, o eu lírico se utiliza da Tens uma terra tão bela, tão rica, e queres visitar a dos outros! Eu, se
expressão “bem leve” para construir um superlativo do adjetivo algum dia puder, hei de percorrer a minha de princípio ao fim!” O
ali presente. Trata-se de um superlativo absoluto, em uma forma outro objetou-lhe que por aqui só havia febres e mosquitos; o major
analítica. contestou-lhe com estatísticas e até provou exuberantemente que o
A língua dispõe, porém, de outras possibilidades de construção desse
Amazonas tinha um dos melhores climas da Terra. Era um clima
tipo analítico de superlativo. Tomando por base a utilizada por Mário
de Andrade, indique quatro delas, incluindo, se for o caso, expressões caluniado pelos viciosos que de lá vinham doentes... Era assim o
do registro coloquial. Major Policarpo Quaresma que acabava de chegar à sua residência,
às quatro e quinze da tarde, sem erro de um minuto, como todas
02 as tardes, exceto aos domingos, exatamente, ao jeito da aparição de
Nesse dia, o major pouco conversou. Era costume seu, assim um astro ou de um eclipse. No mais, era um homem como todos os
pela hora do café, quando os empregados deixavam as bancas, outros, a não ser aqueles que têm ambições políticas ou de fortuna,
transmitir aos companheiros o fruto de seus estudos, as descobertas porque Quaresma não as tinha no mínimo grau.
que fazia, no seu gabinete de trabalho, de riquezas nacionais. Um dia O triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto.
era o petróleo que lera em qualquer parte, como sendo encontrado
na Bahia; outra vez, era um novo exemplar de árvore de borracha Considerados os aspectos vinculados às flexões dos adjetivos em
que crescia no Rio Pardo, em Mato Grosso; outra, era um sábio, nossa língua, pode-se afirmar, a respeito de elementos extraídos
uma notabilidade, cuja bisavó era brasileira; e quando não tinha do texto anterior, que:
descoberta a trazer, entrava pela corografia, contava o curso dos
(A) em “era um novo exemplar de árvore de borracha que crescia
rios, a sua extensão navegável, os melhoramentos insignificantes
no Rio Pardo”, o adjetivo existente faz o seu plural observando
de que careciam para se prestarem a um franco percurso da foz às o mesmo fenômeno que gerou a forma adjetiva que está em
nascentes. Ele amava sobremodo os rios; as montanhas lhe eram “Os colegas ouviam-no respeitosos”.
indiferentes. Pequenas talvez... Os colegas ouviam-no respeitosos e (B) em “ para se prestarem a um franco percurso da foz às nascentes”
ninguém, a não ser esse tal Azevedo, se animava na sua frente a lhe e “Ele amava sobremodo os rios; as montanhas lhe eram indi-
fazer a menor objeção, a avançar uma pilhéria, um dito. Ao voltar ferentes”, encontram-se dois adjetivos considerados invariáveis
as costas, porém, vingavam-se da cacetada, cobrindo-o de troças: quanto ao gênero.
(C) em “ninguém, a não ser esse tal Azevedo, se animava na sua frente
“Este Quaresma! Que cacete! Pensa que somos meninos de tico-tico...
a lhe fazer a menor objeção”, a forma adjetiva “menor” é, do ponto
Arre! Não tem outra conversa.” E desse modo ele ia levando a vida,
de vista semântico, representativa da ideia de inferioridade.
metade na repartição, sem ser compreendido, e a outra metade em (D) em “provou exuberantemente que o Amazonas tinha um dos
casa, também sem ser compreendido. No dia em que o chamaram de melhores climas da Terra”, a expressão “melhores climas da terra”
Ubirajara, Quaresma ficou reservado, taciturno, mudo, e só veio falar apresenta um adjetivo no grau superlativo absoluto.
porque, quando lavavam as mãos num aposento próximo à secretária (E) em “porque Quaresma não as tinha no mínimo grau”, a
e se preparavam para sair, alguém suspirando, disse: “Ah! Meu Deus! palavra “mínimo”, porque antecedida por um artigo, assume
Quando poderei ir à Europa!” O major não se conteve: levantou o um valor tipicamente superlativo, equivalendo, nesse caso, ao
vocábulo “menor”.
olhar, concertou o pince-nez e falou fraternal e persuasivo: “Ingrato!

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LÍNGUA PORTUGUESA 463
Módulo 18 1ª Série

Pronome pessoal: classificação e emprego

Você já se perguntou por que os políticos se


utilizam com frequência do pronome “nós” em
seus pronunciamentos?
Um discurso político precisa ser sempre persuasivo. Um
candidato, por exemplo, tem de contar com a confiança dos eleitores
para receber seus votos. Da mesma forma, quem já foi eleito precisa
conquistar a população para que ela acredite em suas promessas e
se mantenha satisfeita com seu desempenho.

©miflippo/iStock
Para alcançar esses objetivos, ao expor suas ideias, os políticos
se valem de diferentes estratégias. Você conhece alguma delas?
Um recurso comum é utilizar, frequentemente, ao longo da fala,
a 1a pessoa do plural, ou seja, o “nós”. Dessa forma, é possível
aproximar-se de seu público-alvo, mostrando-se pertencente ao seu
grupo. Note que a simples escolha de um pronome pessoal pode Expectativas de aprendizagem:
fazer toda a diferença no jogo de persuasão. C6 – Definir pronome e identificar, especialmente, as características
dos pronomes pessoais e das formas de tratamento;
Neste módulo, você terá oportunidade de rever esse e outros C8 – empregar adequadamente os diversos tipos de pronomes pessoais
empregos dos pronomes pessoais. e formas de tratamento em variadas situações contextuais.

1. O pronome 2. Os pronomes pessoais


O pronome é uma palavra que representa, substitui ou Os pronomes pessoais substituem os nomes e representam
lembra o nome. Um pronome é substantivo quando, efetiva- as pessoas do discurso, que são três, expressando aquele que
mente no lugar do substantivo, aparece sozinho, e é adjetivo fala, aquele com quem se fala e aquele ou aquilo de quem ou
quando está junto ao substantivo, modificando-o. de que se fala. Eis o seu quadro geral:

Ex.:
Pronomes Pronomes pessoais oblíquos
Pelo estado da casa, ela percebeu que alguém tinha estado lá. Pessoas do
(pronome substantivo) pessoais Átonos (sem Tônicos (com
discurso
retos preposição) preposição)
Alguma coisa, certamente, tinha acontecido em sua ausência.
(pronome adjetivo) 1a pessoa do
eu me mim
singular
Considerados de forma geral, os pronomes são elementos de 2a pessoa do
fundamental importância como marcas das pessoas do discurso tu te ti
singular
ou como expressão das formas sociais de tratamento. Eles desem-
3a pessoa do
penham, também, função anafórica, ou seja, podem retomar ele, ela lhe, o, a, se ele, ela, si
singular
palavras ou orações já expressas. Podem, além disso, mostrar
colocações no tempo e no espaço, indicar posse, indefinir os seres 1a pessoa do
nós nos nós
e ajudar na formulação de perguntas. O estudo dos pronomes plural
é, em decorrência disso, de grande relevância para assegurar a 2a pessoa do
vós vos vós
clareza e a coesão do texto. plural
Os pronomes apresentam uma subdivisão em função de 3a pessoa do
certas características que revelam. Assim, podem ser pessoais, eles, elas lhes, os, as, se eles, elas, si
plural
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e
relativos. Neste módulo, serão estudados especialmente os
pronomes pessoais.
464 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 18

Cabem, a propósito, as seguintes observações: 3. Os pronomes de tratamento


I. Os pronomes retos são usados como sujeitos, que são os
termos sobre os quais se declara alguma coisa. Os pronomes Para substituir os pronomes pessoais, há os chamados
oblíquos funcionam como complementos. Os oblíquos tônicos, pronomes de tratamento, sempre construídos com o verbo na
ao contrário dos oblíquos átonos, são sempre precedidos de 3a pessoa do singular ou do plural. Podem referir-se a pessoas a
preposição quando empregados. quem se fala (Vossa Excelência, Vossa Senhoria) ou de quem se
fala (Sua Excelência, Sua Senhoria).
Ex.:
Eu prefiro passar as minhas férias no Nordeste. Os principais pronomes, ou formas de tratamento, são os
(p. p. reto) seguintes:

Espero que, aqui, todos se lembrem de mim. Vossa Alteza (V. A.) – príncipes, duques.
(p. p. o. t.)
Vossa Reverendíssima (V. Rev.ma) – sacerdotes, bispos.
Vossa Eminência (V. Em.a) – cardeais.
São esses usos que permitem considerarem-se corretas, de Vossa Santidade (V. S.) – papa.
acordo com a norma culta, frases como as seguintes: Vossa Majestade (V. M.) – reis, imperadores.
Vossa Magnificência (V. Mag.a) – reitores.
• Entre mim e ti, eu sei que não haverá problemas. Vossa Senhoria (V. S.a) – oficiais (até coronel), funcionários.
(Empregam-se os pronomes tônicos “mim” e “ti”, pois estão
preposicionados).

©Vatican Pool/Contributor/Getty images


• Entre eu agir como penso e tu aceitares a minha ação vai
uma grande diferença.
(Empregam-se os pronomes retos “eu” e “tu”, porque
são sujeitos).
• Ela disse para mim o que não queria ouvir.
(Usa-se o pronome tônico, pois é um complemento
preposicionado).
• Ela disse para eu fazer o que a minha consciência deter-
minasse.
(Nesse caso, emprega-se um pronome reto, sujeito).
• Eu vou falar para ti o que outros não ousam dizer.
(O pronome é tônico, por ser um complemento preposi-
cionado).

II. O pronome si (e também a forma consigo) só é usado de forma


reflexiva e sempre em relação à 3a pessoa.

Ex.:
Ela vive falando de si (ou seja, dela mesma).
Os homens levam consigo uma esperança (ou seja, com eles
mesmos).

Obs.: Em Portugal, o pronome si pode ser usado para referir-se à


pessoa com quem se fala. Sua Santidade, o Papa Francisco.

Ex.: Trouxe este presente para si. Obs.: Também são pronomes de tratamento você, vocês, o senhor,
a senhora. Os dois últimos são empregados no tratamento ceri-
III. As formas conosco e convosco são substituídas por nós e vós, monioso; os dois primeiros são frequentemente empregados no
quando usadas como reforço às palavras outros, mesmos, Brasil, praticamente substituindo os pronomes tu e vós. A forma
próprios, todos, ambos ou algum numeral. a gente é comumente utilizada, na linguagem coloquial, como
pronome equivalente a nós.
Ex.:
Ela queria falar com nós todos.
Ex.: A gente às vezes briga, mas depois se
Ele concordou em ir com nós três visitar o doente.
arrepende.

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Pronome pessoal: classificação e emprego LÍNGUA PORTUGUESA 465
Módulo 18 1ª Série

A versatilidade das formas de tratamento “ ‘Ilmo. Sr. Muito me alegro de dizer a V. S.a que a minha
As formas de tratamento podem ir do mais absoluto forma- ao fazer desta é boa, e que a mesma desejo para V. S.a pelos
lismo ao mais popular registro. E acompanham, de certo modo, circunlóquios com que lhe venero’. (DEIXANDO DE LER:)
a história do nosso país. Circunlóquios... Que nome em breve! O que quererá ele dizer?
Continuemos. (LENDO:) ‘Tomo a liberdade de mandar a V. S.a
Naquela que muitos consideram a certidão de nascimento do
um caicho de bananas maças para V. S.a comer com a sua boca e
Brasil – a carta de Pero Vaz de Caminha –, veja como o escrivão
dar também a comer à Sra. Juiza e aos Srs. Juizinhos.’ ”
da frota se dirigiu ao rei de Portugal e que formas de tratamento
foram empregadas na parte final daquela missiva:
Voltando ao tratamento Vossa Mercê, manteve-se como trata-
mento cerimonioso até o final do século XVI, embora, desde bem
“E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo
antes, não mais se aplicasse à figura real, seja pela degradação desse
como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa
nível hierárquico, seja pela ascendência da nobreza. Essa forma, ao
Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por
cair em desuso, gerou diferentes construções, fruto de alterações
me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge
fonéticas, algumas delas invadindo o âmbito do linguajar caipira
de Osório, meu genro, o que Dela receberei em muita mercê.
brasileiro, como “vosmecê”, “vossuncê”, “mecê”, etc.
Beijo as mãos de Vossa Alteza.”
Uma dessas alterações produziu a forma “você”, que data
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, da segunda metade do século XVII e que, atualmente, é o mais
sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. utilizado dos pronomes referentes à pessoa com quem se fala,
no âmbito da fala ou da escrita, ganhando, paulatinamente,
Para dirigir-se à figura do rei, buscaram-se, ao longo do um status de maior formalidade, sem prejuízo das variantes do
tempo, formas honoríficas de tratamento. Vossa Mercê foi uma registro informal que se empregam na oralidade do discurso,
das primeiras formas empregadas, mas com ela ocorreu um como “ocê” e “cê”.
processo de vulgarização, que extrapolou a figura dos reis e Quanto às outras formas honoríficas, com a queda dos títulos
chegou a ser empregada no seio da nobreza e, depois, da própria da nobreza, elas vieram, obviamente, a perder o prestígio e, hoje,
burguesia. Assim foram surgindo outras formas, como Vossa entre nós, servem tão somente para que identifiquemos alguns
Senhoria, Vossa Majestade, Vossa Excelência e Vossa Alteza, tratamentos bem específicos. Formas como Vossa Senhoria e
a exemplo da carta de Caminha. Vossa Excelência continuam sendo utilizadas, mas nas correspon-
Em uma peça de Martins Pena de 1893, O juiz de paz na roça dências oficiais e nos debates dos nossos políticos (neste último
(na verdade, uma comédia), lemos a seguinte passagem: caso, contando com a antipatia da população, que não identifica
razões para tal tratamento diferenciado).

4. Mistura de tratamento
É comum a mistura entre formas que se constroem com a ©Peshkova/iStock

segunda e a terceira pessoas, em manifestações típicas do registro


coloquial da linguagem.

Ex.: Eu te falei, você não me ouviu.

5. Empregos estilísticos

5.1 O plural de modéstia e o majestático


Os pronomes pessoais, como as demais categorias morfológicas,
muitas vezes são usados no campo da estilística, com valores expres-
sivos. Um caso interessante é o do pronome nós, que, embora seja uma
forma do plural, pode indicar seres singulares. Um desses empregos é o
do chamado “plural de modéstia”, no qual uma pessoa fala de si mesma, A origem desse emprego tem a ver com a tentativa dos antigos
mas ameniza essa menção pessoal com o recurso do plural. Acontece, reis portugueses de diminuir a distância entre eles e o povo,
por exemplo, nas aulas, nas conferências e nos discursos de políticos. buscando uma forma modesta de automenção.
466 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 18

Ex.: 5.2 Uso generalizante


“Estamos aqui para, no tempo que nos foi destinado, dizer
de formas pronominais
algumas palavras sobre a obra de Machado de Assis.”
Pronomes como nós, você e a gente podem ser empregados de
Conferencista iniciando sua palestra
forma especial, indicando genericamente os indivíduos a quem se
referem. Equivalem a termos como “as pessoas”, e os dois últimos
Com o tempo, esse emprego passou a significar, para alguns, pertencem ao registro informal da língua.
uma atitude oposta à da modéstia, em que o falante se atribui
poder, elevando sua condição pelo uso do plural, com conotações
Ex.:
até autoritárias, passando a ser denominado “plural majestático”. A verdade é que nós sempre queremos mais do que temos e
isso nos leva a ter problemas na vida.
Ex.:
“Usando de nossas atribuições, resolvemos editar o Ato Institu- Todos chegam quase de madrugada: eles sabem que você não
cional que suprime temporariamente a existência do habeas corpus consegue a consulta se chegar tarde.
no ordenamento jurídico nacional.”
Em certos momentos, precisamos ser mais diretos. Nessas horas,
Ditador anunciando medidas de restrição à liberdade a gente não deve fugir da verdade, doa a quem doer.

De onde vem a forma “a gente”?


Os brasileiros – e mesmo os portugueses – utilizam-se com Uma outra constatação é que, talvez em função de suas
irrefutável frequência da expressão “a gente”, como forma de trata- origens, a locução pronominal “a gente” assume um sentido mais
mento. Ela originou-se do substantivo “gente”, exemplificando, coletivo, porque é indefinido, em relação a “nós”, mais seletivo
pois, um processo que os especialistas registram com o nome de e definido. Compare, por exemplo, a frase “A gente gosta de
gramaticalização, que ocorre quando um representante de uma carnaval” (mais geral) com “Nós gostamos de carnaval” (mais
categoria gramatical gera um elemento que vai compor outra específica).
classe. Assim, a partir de frases como “A gente construiu suas É sempre bom registrar a inteira adequação da forma
casas”, significando “As pessoas construíram suas casas”, surgiram pronominal “a gente” (com o verbo na 3a pessoa do singular)
frases do tipo “A gente construiu nossas casas”, equivalendo a nas conversas do cotidiano, nas letras das composições musicais
“Nós construímos nossas casas”. populares, como expressão de uma variante linguística típica
Interessante notar que o substantivo “gente” manteve, no da informalidade e da oralidade do discurso. Evidentemente,
pronome de tratamento “a gente”, algumas de suas propriedades. mesmo nesse âmbito, não é assim tão aceitável uma construção
Uma delas é a construção com verbo da 3a pessoa do singular como “a gente queríamos”, um desvio considerado excessivo,
(“a gente vai”, “a gente ouviu”), embora levando à percepção da mas que não deve ser encarado sob o prisma do preconceito,
1a pessoa do plural. quando decorrente da ausência de um processo de escolarização
Esse processo de gramaticalização, que envolveu alteração do falante. Nos contextos que requerem a linguagem formal e,
da pessoa-agente, é que explica por que, nas camadas menos particularmente, nos textos escritos institucionais, oficiais, o uso
escolarizadas da população, são usadas construções como “a de “a gente” deve ser evitado.
gente fomos à praia”.

01 Corrija, se for o caso, as frases abaixo e explique as eventuais “Quintília adivinhara, pelo transtorno do meu rosto, o que lhe
correções. ia pedir, e deixou-me falar para preparar a resposta. A resposta foi
interrogativa e negativa. Casar para quê? Era melhor que ficássemos
I. Para mim poder terminar o trabalho, preciso de tempo.
amigos como dantes. Respondi-lhe que a amizade era, em mim,
II. Eu te falei, você não quis ouvir.
desde muito, a simples sentinela do amor; não podendo mais
III. Nada existirá entre eu e você.
contê-lo, deixou que ele saísse. Quintília sorriu da metáfora, o que
02 Identifique, no texto a seguir – um fragmento de um conto de me doeu, e sem razão; ela, vendo o efeito, fez-se outra vez séria e
Machado de Assis –, os pronomes pessoais, distinguindo os retos, tratou de persuadir-me de que era melhor não casar”.
átonos e tônicos.
Machado de Assis. A desejada das gentes.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000261.pdf>.
Pronome pessoal: classificação e emprego LÍNGUA PORTUGUESA 467
Módulo 18 1ª Série

03 Identifique, dentre as alternativas a seguir, a única que registra 02 Leia as estrofes a seguir:
emprego do pronome grifado aceito como válido pela norma culta:
I. É ela! é ela! – murmurei tremendo,
(A) Entre eu e você, existe um acordo. E o eco ao longe murmurou — é ela!
(B) Para mim entrar, preciso da chave. Eu a vi, minha fada aérea e pura –
(C) Para mim, entrar é fácil. A minha lavadeira na janela!
(D) Ela estava interessada em você, pois olhava o tempo todo para si.
(E) Ele disse ao professor: “Mestre, preciso falar consigo.” “É ela!, É ela!, É ela!”, Álvares de Azevedo.

04 II. Se se pudesse, o espírito que chora,


Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
...VOCÊ NÃO
EU TENHO VONTADE TEM VONTADE QUE TAL Nos causa, então piedade nos causasse!
DE LHE DIZER QUE VOCÊ DE ME DIZER “OS OPOSTOS SE
É LINDA, INTELIGENTE, NADA? ATRAEM”?
QUE SÓ PENSO “Mal secreto”, Raimundo Correia.
EM VOCÊ

III. ‘Stamos em pleno mar.. Doudo no espaço


Brinca o luar – dourada borboleta –
E as vagas após ele correm... cansam
Como turbas de infantes inquietas.

“Tragédia no mar”, Castro Alves.


Renan Motta Lima

Sobre os pronomes que compõem esses versos de renomados poetas


a. Aponte e classifique os pronomes pessoais presentes nas falas
brasileiros, pode-se afirmar que:
da tira acima.
b. Esclareça como se pode classificar a palavra “você”, repetida na
(A) há, em todas as estrofes, pronomes pessoais oblíquos átonos.
tira.
(B) é a mesma a classificação do pronome “a” (em I) e do pronome
c. Explique o valor significativo que traz o pronome “se” utilizado
“ele” (em III).
na última fala.
(C) existem pronomes retos da terceira pessoa do singular nas
estrofes I e III.
05 Preencha as lacunas convenientemente e marque a opção
(D) os pronomes pessoais existentes em II possuem idêntica
correta:
classificação.
(E) o pronome “ela”, nas três ocorrências em I, é classificado como
Para ______ poder terminar a arrumação da sala, guardem _______
oblíquo tônico.
material em outro lugar até que eu volte a falar _______ dizendo
que já podem entrar.
03 (FGV) Leia atentamente o fragmento de texto abaixo, de
As Três Marias, de Rachel de Queiroz. Depois, responda à questão
(A) eu − seu − com vocês
nele baseada.
(B) eu − vosso − convosco
(C) eu − vosso − consigo
(D) mim − seu − com vocês As irmãs [trata-se de freiras, como se perceberá adiante –
(E) mim − vosso – consigo nota da Banca Examinadora] me intimidavam sempre, como no
primeiro dia. Não saberia nunca ficar à vontade com elas, como
Glória, discutir, pedir coisas. E, muito menos, igual a Maria José,
escolher entre as irmãs uma amiga, tomá-la como conselheira e
01 confidente. E dava-me mágoa essa inibição; as irmãs eram porém
Deus tão distantes, tão diferentes! Ser-me-ia impossível descobrir entre
mim e elas pontos de identificação, como o faziam Maria José e
Às vezes sou o Deus que trago em mim
Glória. Considerava-as fora da humanidade, não me abandonara
E então eu sou o Deus e o crente e a prece
nunca a impressão de distância sobrenatural que me haviam dado
E a imagem de marfim
na noite da chegada. Não conseguiria imaginar uma irmã, comendo,
Em que esse Deus se esquece.
vestindo-se, dormindo; não podia crer que houvesse um coração
Às vezes não sou mais que um ateu
de mulher, um corpo de mulher debaixo da lã pesada do hábito.
Desse deus meu que eu sou quando me exalto
Olho em mim todo um céu As Três Marias, Rachel de Queiroz.

E é um mero oco céu alto.


Fernando Pessoa A propósito do segmento de frase “Ser-me-ia impossível descobrir
entre mim e elas pontos de identificação...”, atenda ao que se
Estabeleça a diferença entre os pronomes pessoais da primeira pede a seguir:
pessoa do singular presentes nos versos acima.
468 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 18

a. Explique o uso do pronome mim, em vez do pronome eu. (D) nas passagens “olhou aterrada para eles” e “vendo que ela se não
b. Se, no lugar de elas, que é pronome pessoal de terceira pessoa despachava”, as formas pronominais “eles” e “ela” pertencem à
do plural, utilizássemos outro, de segunda pessoa do singular, 3a pessoa e são caracterizadas como pronomes pessoais retos.
qual seria ele? (E) em “trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito”
c. Explique por que a forma verbal Seria (em Ser-me-ia) está na e “Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas”, os
terceira pessoa do singular. pronomes existentes cumprem a mesma função sintática.

04 05
Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava Capítulo LXVIII / O vergalho
de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem, Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo
quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro. fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro
um calefrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — “Não,
compreendeu a situação: adivinhou tudo com a lucidez de quem se perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não
vê perdido para sempre. Adivinhou que tinha sido enganada; que fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não — Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
— Meu senhor! gemia o outro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
olhos em torno de si, procurando escapulir, o senhor adiantou-se
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho?
dela e segurou-lhe o ombro.
Nada menos que o meu moleque Prudêncio, – o que meu pai
— É esta! Disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e
desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É escrava minha! pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com — É, sim, nhonhô.
uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca
— Fez-te alguma cousa?
de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam
ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou
os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia,
a quitanda para ir na venda beber.
recuou de um salto, e antes que alguém conseguisse alcançá-la, já
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para
E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando
casa, bêbado!
moribunda numa lameira de sangue.
Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.
João Romão fugira até o canto mais escuro do armazém,
tapando o rosto com as mãos. Compare as passagens a seguir, retiradas do texto de Machado:
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era
uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe I. “Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que verga-
respeitosamente o diploma de sócio benemérito. lhava outro na praça.”
II. “Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. na cidade.”
O Cortiço, Aluísio Azevedo.
Com relação às formas pronominais nelas grifadas, podemos
Considerando os pronomes pessoais e o seu emprego como contri- afirmar que:
buintes da coesão textual, pode-se, de acordo com o que dispõe a
norma culta, reconhecer que: (A) ambas cumprem a missão de indicar um objeto direto (não
preposicionado) do verbo antecedente.
(A) o pronome “lhe”, em “um calefrio percorreu-lhe o corpo”, é um (B) a primeira delas é uma variação do pronome oblíquo átono “as”,
pronome oblíquo tônico que traz para a passagem um valor como também ocorre com “na” e “la”.
adicional de posse. (C) as duas exemplificam empregos de diferentes registros da língua,
(B) os pronomes que acompanham as formas verbais “matá-la”, característicos de distintos segmentos sociais.
“restituía-a” e “Prendam-na” referem-se a diferentes personagens, (D) a primeira é resultante da combinação errônea de dois
embora sejam variantes de uma mesma forma pronominal átona. pronomes, enquanto a segunda exemplifica um emprego
(C) o pronome “si”, presente na oração “Mal, porém, circunvagou abonado pela norma culta.
os olhos em torno de si” é um pronome oblíquo tônico que, no (E) no trecho “Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção;
Brasil, só deve ser empregado com valor reflexivo. perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele”, há seis pronomes
pessoais, dos quais dois são retos.
Pronome pessoal: classificação e emprego LÍNGUA PORTUGUESA 469
Módulo 18 1ª Série

01 (ENEM) Na língua portuguesa, a escolha por “você” ou “senhor” denota o


Vera, Sílvia e Emília saíram para passear pela chácara com Irene. grau de liberdade ou de respeito que deve haver entre os interlocu-
tores. No diálogo apresentado anteriormente, observa-se o emprego
— A senhora tem um jardim deslumbrante, dona Irene! – dessas formas. A personagem Sílvia emprega a forma “senhora” ao
comenta Sílvia, maravilhada diante dos canteiros de rosas e hortênsias. se referir a Irene. Na situação apresentada no texto, o emprego de
— Para começar, deixe o “senhora” de lado e esqueça o “dona” “senhora”, ao se referir à interlocutora, ocorre porque Sílvia:
também – diz Irene, sorrindo. — Já é um custo aguentar a Vera me (A) pensa que Irene é a jardineira da casa.
chamando de “tia” o tempo todo. Meu nome é Irene. (B) acredita que Irene gosta de todos que a visitam.
Todas sorriem. Irene prossegue: (C) observa que Irene e Eulália são pessoas que vivem em área rural.
(D) deseja expressar, por meio de sua fala, o fato de sua família
— Agradeço os elogios para o jardim, só que você vai ter de conhecer Irene.
fazê-los para a Eulália, que é quem cuida das flores. Eu sou um (E) considera que Irene é uma pessoa mais velha, com a qual não
fracasso na jardinagem. tem intimidade.
BAGNO, M. A língua de Eulália: novela sociolinguística. São Paulo: Contexto, 2003 (adaptado).

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LÍNGUA PORTUGUESA 470
Módulo 19 1ª Série

Pronomes demonstrativo, possessivo,


indefinido e interrogativo

©Kerkez/iStock
Você nota alguma diferença de sentido entre as
expressões “minha filha” e “filha minha” ditas
por um pai?
A linguagem de uma pessoa é, segundo os linguistas, um ato de
identidade. Ao escolher determinada construção em vez de outra, em
uma situação concreta de comunicação, o falante revela, ainda que
de forma inconsciente, sua visão do mundo, fazendo transparecer, Expectativas de aprendizagem:
muitas vezes, o papel social que ele exerce ou julga exercer.
C6 – Identificar, especialmente, as características dos pronomes
demonstrativos, possessivos, indefinidos e interrogativos;
No caso da pergunta acima, o pai que se utiliza da expressão
C8 – empregar adequadamente esses diversos tipos de pronomes, em
“filha minha”, por exemplo, na frase “Filha minha não chega tarde variadas situações contextuais.
em casa” para manifestar, com a colocação do pronome possessivo,
um posicionamento paterno impositivo, dando à frase um tom
categórico, faz a sentença soar quase como uma ordem. Já um pai que Neste módulo, você poderá rever seus conhecimentos sobre os
emprega o sintagma “minha filha” (“Minha filha não chega tarde em pronomes possessivos e também relembrar a utilização de outros
casa”) usa o pronome de uma forma que abranda a noção de posse tipos, igualmente importantes, inclusive pelos valores expressivos
por incorporar a ela o valor afetivo que a forma pronominal assume que podem manifestar nos diversos gêneros textuais com os quais
nas relações familiares. lidamos no dia a dia.

1. Introdução “Tu choras porque um ramo de baunilha


Não pudeste colher,
Neste módulo, continua-se o estudo dos pronomes. Serão vistas
Ou pela flor gentil da granadilha?
palavras dessa mesma natureza, mas com intenções bem específicas.
O uso correto desses pronomes – possessivos, demonstrativos, Dou-te, um ninho, uma flor, dou-te uma palma,
indefinidos e interrogativos – garante à comunicação pretendida Para em teus lábios ver
maior precisão. O riso – a estrela no horizonte da alma”.
“A criança”, Castro Alves.
2. Pronomes possessivos
“Uivavam nos tombadilhos,
Indicam, como o nome o revela, a posse, referida às três pessoas
Gritos insontes de réus.
do discurso, a saber:
Vi a equipagem medrosa
1a pessoa do singular meu, minha, meus, minhas Da morte à vaga horrorosa
2 pessoa do singular
a
teu, tua, teus, tuas Seu próprio irmão sacudir”
3 pessoa do singular
a
seu, sua, seus, suas “Adeus, meu canto”, Castro Alves.
1a pessoa do plural nosso, nossa, nossos, nossas
2a pessoa do plural vosso, vossa, vossos, vossas Obs. 1: Os pronomes possessivos da 3a pessoa são comuns ao
singular e ao plural. Seu uso vincula-se à coisa possuída.
3a pessoa do plural seu, sua, seus, suas
Ex.: Eles têm seu modo de agir.
“Minha terra é lá bem longe,
Obs. 2: É preciso tomar cuidado com certas ambiguidades que o
Das bandas de onde o sol vem;
uso dos possessivos da 3a pessoa pode provocar.
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!” Ex.: O
 pai disse ao filho que sua irmã havia ligado.
(Irmã do pai? Irmã do filho?)
“A canção do africano”, Castro Alves.
Pronomes demonstrativo, possessivo, LÍNGUA PORTUGUESA 471
indefinido e interrogativo Módulo 19 1ª Série

Quantos sentidos pode ter a frase Ou assim?


“Vi uma foto sua no zoológico”?

©linephoto/iStock
Suponha que, no meio de um diálogo, uma amiga diga para
a outra, que é fotógrafa profissional:

— Sabe, eu vi uma foto sua no zoológico...


— É mesmo? E como era a foto?
— Gostei tanto que até guardei...
— Guardou...como? Está com ela aí?
— Por acaso, estou. Olhe aqui.

Que tipo de foto espera-se que tenha sido mostrada nesse


momento? Uma assim? É claro que a expectativa normal é de que a foto apresentada
seja do tipo da primeira, em que apareceria a figura feminina no

©471/iStock
zoológico com um pássaro. Seria, assim, uma foto que alguém tirou
da fotógrafa. Contudo, a segunda também seria uma foto logica-
mente aceitável para a continuação do diálogo, pois poderia ter
sido tirada pela fotógrafa, tendo como objeto retratado uma girafa.
A fotógrafa seria, assim, a autora da foto, que poderia, inclusive,
estar ilustrando, no zoológico, o espaço destinado às girafas.
Essa conversa hipotética serve apenas para mostrar como, em
determinadas situações de comunicação, o pronome possessivo
da terceira pessoa (seu, sua, seus, suas) pode levar a interpreta-
ções ambíguas, devendo, portanto, redobrar-se o cuidado com
o seu emprego, principalmente em situações em que o rigor da
mensagem seja fundamental.

2.1 Outras expressões de posse em 3. Pronomes demonstrativos


português Situam a pessoa ou a coisa designada (“mostrada”) no tempo
• Há, na língua portuguesa, construções nas quais pronomes ou no espaço, tendo como referência as três pessoas gramaticais.
pessoais oblíquos átonos assumem valor de possessivos.
Observe-se o quadro:
Ex.: 
Ouviu-lhe o grito. (= ouviu o seu grito) Pronome Pessoa Espaço Tempo
Beijou-me o rosto. (= beijou o meu rosto) este, esta, isto,
1a próximo presente
estes, estas
• O artigo também pode apresentar sentido possessivo em
diversas sentenças. passado
esse, essa, isso,
2a intermediário ou futuro
esses, essas
Ex.:  próximos
Trazia os olhos cheios d’água. aquele, aquela, passado
A mãe abraçava o filho com amor. aquilo, aqueles, 3a longínquo ou futuro
aquelas remotos
• A preposição “de” pode compor, com substantivos, locuções
com o sentido de posse. Ex.:
Esse seu olhar penetra fundo neste meu coração.
Ex.: O barco de Pedro é bastante moderno. Estas palavras que eu lhe digo têm como fundamento aquelas
ideias dos gregos.
• O pronome relativo vincula, com a ideia de posse, dois
Este ano de 2018 está sendo rico em experiências políticas que
substantivos.
lembram épocas passadas.
Ex.: Ali estava a casa cuja proprietária está de férias. Nesse tempo, a sociedade mobilizou-se, o que voltou a fazer agora.
472 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 19

3.1 Outros demonstrativos em português 4. Pronomes indefinidos


• o, a, os, as são pronomes demonstrativos quando equivalem
Referem-se à 3a pessoa e apresentam sentido vago. Os principais
a aquele (ou aquilo), aquela, aqueles ou aquelas, respectiva-
mente. Nesse caso, vêm seguidos do pronome relativo que. são os seguintes: todo(s), toda(s), tudo, algum(uns), alguma(s), algo,
alguém, vários, várias, outro(s), outra(s), outrem, cada, qualquer,
Ex.:  quaisquer, muito(s), muita(s), bastante(s), mais, menos, certo(s),
Ele não viu o que aconteceu. certa(s), tanto(s), tanta(s), etc.
Aquelas mulheres são as que imitam a Xuxa.
Existem ainda as chamadas locuções pronominais indefinidas,
Não falo desses jogadores, mas dos que não entraram
por exemplo, cada um, cada qual, quem quer que seja, etc.
em campo.

• São também demonstrativos, quando antecedem o substantivo, 4.1 Algumas observações sobre os
os vocábulos tal e semelhante.
pronomes indefinidos
Ex.: Eu, realmente, não ouvi tal comentário nem sei de onde • Certos pronomes indefinidos podem apresentar a ideia de
veio semelhante ideia. quantificação ou de intensificação e, por isso, são confundidos
• Igualmente demonstrativos são os vocábulos mesmo(s), com os advérbios de intensidade. Diferentemente dos advérbios,
mesma(s), próprio(s), própria(s) quando têm o sentido de porém, eles apresentam flexões, sejam como pronomes substan-
idêntico(s) ou em pessoa. tivos, sejam como adjetivos. Quando são pronomes adjetivos
vinculam-se, obviamente, a substantivos. Essa é uma forma de
Ex.: Ela mesma esteve aqui. diferenciá-los dos advérbios, que modificam verbos, adjetivos
ou outros advérbios.
3.2 Os demonstrativos como palavras Ex.: 
anafóricas ou catafóricas Muitos são os chamados, poucos os escolhidos.
(pron. subst.) (pron. subst.)
• Os pronomes este, esta, isto, estes, estas são usados em referência a
elementos que a eles se seguem. Nesse caso, são palavras catafóricas. Muitos assistiram à chegada do homem à Lua.
(pron. subst.)
Ex.: De todos os sentimentos, o que está acima de todos é este:
o amor. Tinha bastantes amigos e cada vez menos tempo para revê-los.
(pron. adj.) (pron. adj.)
• Os pronomes esse, essa, isso, esses e essas são usados em
referência a elementos que os antecedem e que eles retomam. “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a tua vã filosofia.”
(pron. adj.)
Nesse caso, são palavras anafóricas.
Shakespeare
Ex.: Você não me disse a verdade, e isso me entristeceu.
©Lonpicman/Wikimedia

• Há um outro emprego particular dos demonstrativos em alusão


a termos precedentes. Quando se quer fazer referência a termos
já mencionados, usa-se o demonstrativo aquele (e variações)
para o que foi mencionado em primeiro lugar e o demonstrativo
este (e variações) para o que foi nomeado por último.

Ex.: 
Tua beleza não suplanta tua inteligência, nem esta é maior
que aquela.
Na África do Sul, os brancos são minoria em relação aos
negros. Mas aqueles detinham o poder, enquanto estes Estátua de Shakespeare, de 1874, na Leicester Square, em Londres.
viviam sob permanente estado de submissão. Mandela foi
a grande liderança contra o Apartheid. • Há alguns pronomes indefinidos adjetivos que aparecem nas
exclamações, junto a substantivos.
©Lya_Cattel/iStock

Ex.: 
Que coisa, hein?!
Quanto riso! Quanta alegria!

• Quando se opõem a outro(s) e outra(s),


as palavras um, uns, uma(s) são pronomes
indefinidos.
Utilize o leitor óptico do seu
celular para assistir à videoaula.
Ex.: Uns choram enquanto os outros riem...
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Pronomes demonstrativo, possessivo, LÍNGUA PORTUGUESA 473
indefinido e interrogativo Módulo 19 1ª Série

5. Pronomes interrogativos Ex.:


Quem é você, afinal? (interrogativa direta)
Também referentes à 3 a pessoa, podem ser empregados Qual o verdadeiro sentido disso tudo? (int. direta)
em dois tipos de interrogação: as diretas (feitas com entoação Quantos chegaram ao final da prova? (int. direta)
Ignoro quem chegou aqui primeiro. (int. indireta)
característica, marcada na escrita pelo ponto de interrogação) e
Não sei que coisa ela quer que eu faça. (int. indireta)
as indiretas (geralmente construídas com verbos que indiquem Quero saber quantos chegaram ao final da prova. (int. indireta)
curiosidade ou desconhecimento na oração anterior).
Obs.: Ainda na classe dos pronomes, encontram-se os relativos. No
entanto, pela sua natureza de conectivos, serão estudados mais adiante.

Os discursos e as interrogações diretas e indiretas — O que é que esse Cassi faz, padrinho?
Nas aulas de Redação ou de Literatura, você já deve ter A mãe acudiu ríspida, dizendo:
estudado esse assunto que envolve, principalmente, a tipologia — Não é de tua conta, bisbilhoteira!”
textual narrativa.
Os diálogos entre os personagens podem ser transmitidos Aqui, o escritor carioca reproduz as falas de quatro persona-
pelo narrador ao leitor de duas formas diferentes. Em uma delas, gens, utilizando-se, em todas elas, do discurso direto. Haveria,
no chamado “discurso direto”, as falas são expressas exatamente porém, uma outra forma de apresentá-las, evitando os travessões
como ocorrem e, para tanto, pode o narrador valer-se de diferentes e os parágrafos e empregando sentenças corridas, no denominado
recursos. O mais tradicional deles passa pela utilização dos traves- “discurso indireto”. Veja como isso poderia ter sido feito com as
sões e dos parágrafos para a sua transcrição, como o exemplifica duas últimas falas:
a passagem seguinte, retirada do romance Clara dos Anjos, de
Clara ouvia esse diálogo com muita atenção e forte curiosidade.
Lima Barreto, na qual os personagens estão falando de uma quinta
Num dado momento, não se conteve e perguntou ao padrinho o
pessoa, um tal “Cassi”, não visto com bons olhos pela vizinhança:
que é que aquele Cassi fazia, ao que a mãe acudiu ríspida, dizendo
“— Vamos experimentar, meu caro Marramaque. ‘Ele’ sabe que não era da conta da moça e chamando-a de bisbilhoteira.
com quem se mete...
Essas considerações servem para reforçar, aqui, a ideia do
— Eu cá, por mim, nada tenho a dizer dele. Sempre me tratou emprego dos pronomes interrogativos nos dois tipos de discurso,
muito bem e sou-lhe grato. gerando interrogações diretas e indiretas. É o caso do pronome
— É que você, Lafões, não lê os jornais. “que” (“O que”) na pergunta de Clara no texto original, que se
— Qual jornais! Qual nada! Tudo que lá vem neles é mentira. manteria como interrogativo mesmo que, sem a presença do
Clara ouvia esse diálogo com muita atenção e forte curiosidade. ponto de interrogação, o escritor tivesse optado pela forma
Num dado momento, não se conteve e perguntou: indireta de dizer.

02
Aquele sorriso que ela trazia quando ele a conheceu era bem
01 diferente deste que agora se apresentava aos olhos do rapaz. E essa
mudança o preocupava.

No trecho acima, esclareça, com base na norma gramatical, por


que foram empregados os pronomes demonstrativos em destaque.
VOCÊ ACHA
QUE O POVÃO ACRE- 03 (FUVEST)
DITA NAS NOSSAS
PESQUISAS? Orientação para uso deste medicamento: antes de você usar
NÃO SEI... SÓ este medicamento, verifique se no rótulo constam as seguintes
FAZENDO UMA
PESQUISA PRA ISSO... informações: seu nome, nome de seu médico, data de manipulação
e validade e fórmula do medicamento solicitado.
Renan Motta Lima
A que se refere, no contexto, o pronome “seu” da expressão “seu
Justifique o emprego do pronome isso na tirinha acima. nome”? Justifique sua resposta.
474 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 19

04 O uso dos pronomes demonstrativos como vocábulos que (A) O MARACA É


retomam termos anteriores é um elegante recurso na busca da chamada NOSSO
coesão textual.
Examine as lacunas nas duas passagens a seguir:

I. O professor e seus alunos não gostaram da anulação da prova:


tinham se saído bem e temiam não repetir o
desempenho, enquanto teve que alterar a sua (A mensagem se fortalece simplesmente aproximando o
programação didática. verbal do não verbal, não sendo importante o maior tamanho
II. Há grande diferença entre os textos históricos “oficiais” e a conferido às letras do pronome possessivo.)
chamada “verdade histórica”, pois mantêm
escondidos fatos que já tem como comprovados. (B) “Mulher minha não vai ao cinema sozinha!”
(A colocação do pronome possessivo na frase exclamativa
O correto entendimento das duas mensagens permite a conclusão de não traz para ela nenhuma alteração de posicionamento do
que, pela ordem, as lacunas devem ser preenchidas pelos pronomes: falante em relação à frase declarativa “Minha mulher não vai ao
cinema sozinha”.)
(A) estes – aquele – esses – aquela (C) “O quê?! Viram-me, a mim, naquele lugar proibido?”
(B) aquele – estes – aqueles – esta (A construção pleonástica pronominal deve ser evitada, inclusive
(C) estes – aquele – aqueles – esta porque enfraquece a tentativa do falante de convencer o interlo-
(D) aqueles – este – aquela – estes cutor de que a informação dada sobre ele não é verdadeira.)
(E) estes – aqueles – aqueles – esta (D) “Minha amiga, você tem certeza de que quer mesmo namorar
aquilo?”
05 Comente o valor expressivo dos pronomes destacados. (O uso da forma demonstrativa em um contexto desse tipo
pode revelar uma visão depreciativa de quem fala, em relação
a. Ela deve ter seus quarenta anos. ao personagem que seria objeto do namoro.)
b. Você realmente pretende que eu vá me encontrar com aquilo!? (E) “Num momento desses você vem me falar de coisas praze-
rosas? Que absurdo!”
(O uso do pronome demonstrativo, no contexto, nos autoriza a
pensar que o momento mencionado é visto pelo falante como
igualmente prazeroso.)
01 03
Que me enganei, ora o vejo;
Nadam-te os olhos em pranto; QUERO QUE
ISSO TEM ALGO A
COMA ISTO AQUI
Arfa-te o peito, e no entanto E DIGA SE ESTÁ VER COM NAFTA-
LINA OU CABO DE
GOSTOSO...
Nem me podes encarar; GUARDA-CHUVA?

Erro foi, mas não foi crime


Não te esqueci, eu to juro:
Sacrifiquei meu futuro,
Vida e glória por te amar!
Renan Motta Lima
Gonçalves Dias
Os pronomes demonstrativos são elementos que, considerada sua
a. Indique os dois versos do texto em que um pronome pessoal função catafórica ou anafórica, contribuem para a progressão de
substitui um possessivo. um texto. Na tirinha anterior, é válido afirmar que:
b. Em dois versos do texto, um pronome substitui toda uma
oração. Aponte os versos em que isso ocorre. (A) a norma culta admitiria a troca de posições entre os pronomes
“isto”, no primeiro quadrinho, e “isso”, no terceiro.
02 A identificação do produtor da mensagem e do público-alvo a (B) o emprego do pronome “isto” se justifica porque ele se refere a
quem a mensagem é destinada possibilita-nos inferir quais são os algo que tem como referente próximo a pessoa que fala.
verdadeiros objetivos do produtor de um texto. Os pronomes e a sua (C) o autor da tirinha não levou em consideração o disposto na
utilização podem ser elementos bem valiosos como instrumentos norma culta da língua sobre o emprego dos demonstrativos.
estratégicos para a percepção de objetivos de comunicação. (D) o pronome “isso” está designando algo ligado à primeira pessoa,
A propósito, assinale o único comentário adequado à situação de a que fala, no caso o menino, que acabou de provar o alimento
comunicação apresentada: em questão.
(E) O erro na construção dos textos que compõem a tirinha está
no fato de que só a forma “isto” deveria ter sido empregada nos
dois casos.
Pronomes demonstrativo, possessivo, LÍNGUA PORTUGUESA 475
indefinido e interrogativo Módulo 19 1ª Série

04 (C) o pronome “isso”, na expressão “por isso”, no terceiro


CARA, TÔ MUITO
parágrafo, antecipa a afirmação que será feita imediatamente
PREOCUPADO. MINHA
MEMÓRIA, SEI LÁ
QUE depois.
DIFICULDADE,
POR QUE, VIVE
FALHANDO...
CHATO...
E QUANDO CARA?! (D) a ordem das palavras em “qualquer ocorrência”, no terceiro
VOCÊ ACHA QUE
COMEÇOU ESSA parágrafo, determina, para o primeiro vocábulo, a condição
DIFICULDADE?
de pronome indefinido.
(E) o demonstrativo existente em “daqueles tempos” identifica um
momento bem próximo daquele em que o narrador produz
sua narrativa.
Renan Motta Lima

A respeito dos elementos verbais que contribuem para a elaboração


da tira anterior, pode-se afirmar que:
01 (UERJ)
(A) o diálogo é travado com o emprego exclusivo de palavras
vinculadas ao registro formal da língua. O que é ecoturismo?
(B) o vocábulo “muito” assume, no texto, sua condição de pronome Para o Instituto de Ecoturismo do Brasil, ecoturismo é a prática
indefinido, vinculado ao adjetivo “preocupado”.
de turismo de lazer, esportivo ou educacional, em áreas naturais, que
(C) a maioria dos pronomes empregados no diálogo travado é de
natureza substantiva. se utiliza de forma sustentável dos patrimônios natural e cultural,
(D) na pergunta do segundo quadro, o pronome interrogativo ajuda incentiva a sua conservação, promove a formação de consciência
a confirmar a fala do mesmo personagem no quadro anterior. ambientalista e garante o bem-estar das populações envolvidas.
(E) são conceituadas como indiretas as duas interrogações cons- Das diferenças existentes entre o turismo comum (clássico)
tantes da tira.
e o ecoturismo (turismo ecológico) ressalta-se que, enquanto no
turismo clássico as pessoas apenas contemplam estatisticamente o
05
que elas conseguem ver sem muita participação ativa, no ecoturismo
Estes, apesar das precauções que tomavam contra os ataques
existe movimento, ação, e as pessoas, na busca de experiências
dos índios, fazendo paliçadas e reunindo-se uns aos outros para
únicas e exclusivas, caminham, carregam mochilas, suam, tomam
defesa comum, em ocasião de perigo vinham sempre abrigar-se
chuva e sol, tendo um contato muito mais próximo com a natureza.
na casa de D. Antônio de Mariz, a qual fazia as vezes de um castelo
O ecoturismo ainda se diferencia por passar informações e curiosi-
feudal na Idade Média.
dades relacionadas à natureza, aos costumes e à história local, o que
O fidalgo os recebia como um rico-homem que devia proteção acaba possibilitando uma integração mais educativa e envolvente
e asilo aos seus vassalos; socorria-os em todas as suas necessidades, com a região.
e era estimado e respeitado por todos que vinham, confiados na sua
Considerando que o ecoturismo é uma tendência em termos de
vizinhança, estabelecer-se por esses lugares.
turismo mundial que aponta para o uso sustentável de atrativos no
Deste modo, em caso de ataque dos índios, os moradores da meio ambiente e nas manifestações culturais, devemos ter em conta que
casa do Paquequer não podiam contar senão com os seus próprios somente teremos condições de sustentabilidade caso haja harmonia e
recursos; e por isso D. Antônio, como homem prático e avisado que equilíbrio no “diálogo” entre os seguintes fatores: resultado econômico,
era, havia-se premunido para qualquer ocorrência. mínimos impactos ambientais e culturais, satisfação do ecoturista
Ele mantinha, como todos os capitães de descobertas daqueles (visitante, cliente, usuário) e da comunidade (visitada).
tempos coloniais, uma banda de aventureiros que lhe serviam nas Para que uma atividade se classifique como ecoturismo, são
suas explorações e correrias pelo interior; eram homens ousados, necessárias quatro condições básicas: respeito às comunidades locais;
destemidos, reunindo ao mesmo tempo aos recursos do homem civi- envolvimento econômico efetivo das comunidades locais; respeito
lizado a astúcia e agilidade do índio de quem haviam aprendido; eram às condições naturais e conservação do meio ambiente e interação
uma espécie de guerrilheiros, soldados e selvagens ao mesmo tempo. educacional; garantia de que o turista incorpore para a sua vida o
O Guarani, José de Alencar. que aprende em sua visita, gerando consciência para a preservação
da natureza e dos patrimônios histórico, cultural e étnico.
Nesse fragmento de um dos mais conhecidos romances indianistas
Disponível em: <www.embratur.gov.br> (adaptado).
brasileiros, os pronomes contribuem consideravelmente para a
coesão textual e, nesse sentido, pode-se reconhecer que:
“... é a prática de turismo de lazer, esportivo ou educacional, em
(A) a palavra “uns”, na expressão “uns aos outros”, no primeiro áreas naturais, que se utiliza de forma sustentável dos patrimônios
parágrafo é da mesma classe gramatical da palavra “um”, em natural e cultural, incentiva a sua conservação...” (l. 1-4)
“um castelo feudal”.
(B) os pronomes “seus” e “suas”, no segundo parágrafo, têm como
referente o substantivo “rico-homem” que os antecede.
476 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 19

O emprego do pronome pode acarretar ambiguidade. No trecho Levando isso em consideração, esclareça o valor expressivo que
acima, o pronome destacado poderia se referir a mais de um os pronomes destacados a seguir trazem para as frases em que se
vocábulo, mas essa ambiguidade é desfeita pelo contexto. encontram.

Identifique a que palavra ou expressão se refere o pronome “sua” e I. Pode deixar que eu mesmo resolverei o assunto.
explique por que, neste caso, o emprego do pronome não provoca II. Eles são pessoas ruins, egoístas, e dessa raça eu quero distância.
ambiguidade. III. Você me enganou, seu mentiroso. (forte sentido recriminativo)
IV. Agora, vamos estudar o nosso Machado de Assis.
02 Enquanto a semântica identifica os sentidos presentes em uma V. Não tenho motivo algum para aceitar sua proposta.
mensagem, a estilística constitui o aspecto dos estudos linguísticos
que se volta para o emprego expressivo das palavras, ou seja, para
usos em que os vocábulos “vão além” de seu significado normal.

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LÍNGUA PORTUGUESA 477
Módulo 20 1ª Série

Advérbio e seus valores semânticos

Você sabe exatamente qual o sentido que


palavras como “somente” ou “apenas” trazem
para uma mensagem?
Muitos de seus professores já devem ter feito observações sobre
o perigo de não se perceber a importância de certas palavras – como

©Christopher Futcher/iStock
“nunca”, “somente”, “apenas” etc. – no enunciado ou no comando
de questões de múltipla escolha.
Esses vocábulos exigem um redobrado cuidado na leitura,
uma vez que, quando não percebido o seu caráter generalizante
(“nunca”) ou excludente (“apenas”, “somente”), podem conduzir
a falsas respostas. No caso de “nunca”, a classificação gramatical
enquadra essa palavra como advérbio, mas “somente”, “apenas” e
outras do tipo, embora pareçam pertencer a essa mesma classe, são Expectativas de aprendizagem:
chamadas “palavras denotativas” (no caso, de exclusão). – Reconhecer as características dos advérbios, destacando seus
Neste módulo, serão estudados tanto os advérbios quanto as C6 valores semânticos;
– identificar outros valores significativos, expressos pelas locuções
palavras denotativas, com seus valores significativos. Você perceberá C8 adverbiais;
sua importância para uma leitura mais segura ou para a produção – reconhecer as chamadas palavras denotativas e seus valores
de bons textos escritos. significativos.

1. O advérbio Semanticamente, os advérbios apresentam variados sentidos.


Para a gramática normativa, são sete: tempo, lugar, modo, intensi-
O advérbio é a palavra que exprime circunstância, ou seja, uma dade, afirmação, negação e dúvida.
particularidade capaz de ampliar determinada informação. Como o
próprio nome indica, relaciona-se aos verbos da língua, no sentido → Tempo: hoje, ontem, cedo, tarde, antes, depois, antigamente,
sempre, nunca, já, depois etc.
de caracterizar os processos expressos por eles. Contudo, ele não é
→ Lugar: aqui, antes, dentro, perto, abaixo, debaixo, atrás,
apenas termo modificador dos verbos, pois também se vincula ao internamente etc.
adjetivo e a outros advérbios. → Modo: bem, mal, depressa, devagar, honestamente, assim,
concretamente etc.
Ex.: → Intensidade: muito, pouco, mais, menos, tanto, tão,
Ela agiu honestamente ao revelar a verdade aos amigos. bastante etc.
(v.)
→ Afirmação: sim, certamente, realmente, efetivamente,
Ela era a mais bonita da festa. decerto etc.
(adj.) → Negação: não, nem, absolutamente etc.
→ Dúvida: talvez, quiçá, provavelmente, possivelmente etc.
Ele falou muito bem de você.
(adv.)
Obs.: Alguns advérbios – predominantemente os de intensidade –
podem modificar adjetivos ou outros advérbios.
2. Propriedades do advérbio Ex.:
São palavras de natureza invariável quanto ao gênero e ao Quanto mais alto o coqueiro, maior é a queda do coco.
(adj.)
número.
Ele sempre dizia: “Falem de mim, mesmo que seja muito mal.”
Ex.: Ela andava meio cansada. (adv.)
Todos foram muito aplaudidos.
Como já visto anteriormente, não se deve confundir um
Obs.: A gramática registra a existência do advérbio “todo” (= total-
advérbio de intensidade (invariável, modificador de verbo, adjetivo
mente), que, excepcionalmente, se flexiona em gênero e número.
ou outro advérbio) com um pronome indefinido (variável, que pode
Ex.: Ela estava toda confusa com o ocorrido. ser pronome adjetivo ou substantivo).
478 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 20

Ex.:
Você sempre parece muito tímida.
(adv.) (adj.) Os diversos valores significativos
do sufixo “-mente”
Há muita verdade no que você diz.
(pron. ind.) (subst.)

©Yuri Arcurs YAPR/iStock


Morfologicamente, o exame dos advérbios não revela nenhuma
regularidade, ou seja, não é possível localizar marcas morfológicas
comuns a essa classe de palavras. A exceção ocorre por conta de
uma série de advérbios formados com o auxílio do sufixo -mente.
Na realidade, é possível, a partir de qualquer base adjetiva, “criar”
um advérbio com esse sufixo, como monitorizadamente, ciberne-
ticamente, criativamente etc.

Obs. 1: Muitos imaginam que as palavras terminadas pelo sufixo


-mente são sempre advérbios de modo. Os exemplos listados no
tópico anterior mostram que essa é uma visão errônea. Além das Leia o seguinte diálogo, que envolve a questão da legali-
diversas circunstâncias distintas (lugar: internamente; tempo: zação do aborto:
frequentemente; intensidade: intensamente etc.), existem outros
valores para vocábulos terminados em -mente. — José, você quer participar de uma reunião de pessoas
favoráveis à legalização do aborto?
Ex.: Palavras como felizmente, infelizmente, francamente e — Absolutamente, Carlos. Agradeço o convite, mas
outras podem, em certos contextos, ser consideradas advérbios discordo dessa tese.
modalizadores, que contribuem, no discurso, para denotar
— Mas você já leu a respeito?
um posicionamento pessoal do emissor da mensagem sobre o
enunciado total ou parte dele. — Sim, tenho lido constantemente.
Os vocábulos somente e exclusivamente são, usualmente, — E mesmo assim é contra a legalização?
considerados palavras denotativas de exclusão. — Sim, intensamente contrário.
— Mas você não acha, pelo menos, que há situações em
Ex.: Felizmente, meus amigos estão perto neste momento.
Somente a paz recolocará a humanidade no caminho certo. que o aborto é defensável?
— Certamente há muitos que pensam assim, não eu.
Domínio Público/Wikimedia

— Não tem medo de que alguns o considerem radical?


— Provavelmente isso possa mesmo acontecer, mas não
ligo muito.
— Por quê?
— Porque aprendi que, em qualquer situação, temos
que agir honestamente. E essa é uma convicção que trago
internamente, no coração.
Viu quantos valores o sufixo -mente pode propiciar?

2.1 Os graus do advérbio


Os advérbios podem apresentar variações nos graus compara-
tivo e superlativo, acompanhando, nesses casos, a estrutura sintática
Memorial em homenagem a John Lennon e sua mensagem de paz. já vista para os adjetivos.
Strawberry Fields, Central Park, Nova York.
2.1.1 Grau comparativo
Obs. 2: Para fins estilísticos, quando se unem dois advérbios em • De igualdade
-mente vinculados a uma única ação, pode-se suprimir o sufixo no
Ex.: Os mais velhos andavam tão depressa quanto os jovens.
segundo elemento, reforçando, com isso, as ideias de simultaneidade
entre as circunstâncias. • De superioridade

Ex.: Ela se exprimiu honesta e objetivamente sobre aquilo que a Ex.: Todos se atrasaram na festa, mas as meninas chegaram
perturbava. mais tarde que os rapazes.
Advérbio e seus valores semânticos LÍNGUA PORTUGUESA 479
Módulo 20 1ª Série

• De inferioridade 3. Locuções adverbiais


Ex.: Todos se atrasaram na festa, mas os rapazes chegaram
Para expressar as circunstâncias expostas pelos advérbios, e
menos tarde que as meninas.
mesmo outras, a língua portuguesa dispõe de locuções adverbiais,
2.1.2 Grau superlativo formadas por preposições + substantivos (geralmente). Eis algumas:
• Analítico
• De lugar: à esquerda, de fora, por trás, de longe, para dentro,
Ex.: Quando surge o tsunami, tudo acontece muito rapi-
por aqui etc.
damente.
• De modo: às pressas, de cor, em vão, em geral, com honesti-

©Ig0rZh/iStock
dade, sem dó, frente a frente, às claras etc.
• De tempo: em breve, à noite, de repente, às vezes etc.
• De afirmação: de fato, sem dúvida etc.
• De negação: de modo algum.
• De dúvida: quem sabe.
• De intensidade: à beça.

Outras locuções adverbiais podem expressar outros sentidos


não indicados pelos advérbios. Vejam-se alguns exemplos:
• Sintético

Ex.: Acordei cedíssimo hoje. Ela falou de gramática. (assunto ou referência)


Obs. 1: Os advérbios bem e mal admitem as formas sintéticas Ela saiu com a amiga. (companhia)
melhor e pior como comparativo de superioridade. Sem amor, nada vale a pena. (condição)
Ex.: Aquela atleta conseguiu desempenhar-se melhor nos primeiros Apesar de você, tudo vai bem. (concessão)
treinamentos. Andava a pé ou de ônibus. (meio ou instrumento)
Obs. 2: Excepcionalmente, advérbios podem flexionar-se no grau Morria de medo, temendo as consequências. (causa)
diminutivo, que, em registro típico da oralidade do discurso, assume
Trabalha para o sucesso da turma. (finalidade)
valor superlativo ou afetivo.

Ex.: Ele acordou cedinho e saiu daqui agorinha...


4. Advérbios e adjetivos
2.2 Advérbios interrogativos Muitas palavras na língua portuguesa assumem, em função
do contexto em que se situam, ora o valor de adjetivos, ora o de
Há advérbios interrogativos, componentes da chamada inter-
advérbios, conforme o termo da sentença ao qual estejam vincu-
rogação direta ou da indireta, já estudada.
ladas. Isso acontece com vocábulos como “certo”, “rápido”, “claro”,
Ex.: “bonito” etc.
Quando chegaste? (int. direta)
Não sei quando chegaste. (int. indireta) Ex.:
Onde está ela? (int. direta) E não é que ele falou bonito? (adv.)
Não se sabe onde está ela. (int. indireta) Ela tem dois filhos muito bonitos. (adj.)
Fez um movimento rápido. (adj.)
Esses carros andam mesmo rápido! (adv.)

Onde, aonde ou donde?


©Henrik5000/iStock

O advérbio onde substitui-se por aonde ou donde para


observar normas sintáticas da língua-padrão. Caso se vincule a
um verbo que exige a preposição “de”, indicando origem, a forma
a ser empregada deve ser donde ou de onde. Se a vinculação é a
um verbo de movimento cuja regência “pede” a preposição “a”,
a forma adequada é aonde.
Ex.:
Onde você mora, posso saber?
Escuta aqui: aonde você quer chegar?
Você quer saber donde eu vim?
480 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 20

5. Palavras denotativas
Outros significados para o “-mente”
Algumas palavras da língua portuguesa podem ser confundidas
com advérbios, embora não possuam, de acordo com a Nomen- Ainda no caso dos advérbios terminados em -mente,
clatura Gramatical Brasileira, uma classificação específica. Sua encontramos estudos que propõem caracterizações para alguns
importância inequívoca é no campo semântico, o que justifica o deles que, embora não constituam nomenclatura oficial, são
nome que lhes é dado e uma classificação “oficiosa”, em função da interessantes por confirmar a grande diversidade de matizes
ideia que transmitem. Eis a lista exemplificada: semânticos que palavras desse tipo podem assumir. Assim, veja
algumas frases em que se usa o sufixo “-mente” com os valores
• De designação: eis que ele pode apresentar:
Ex.: Eis nosso carro novo.
• Infelizmente, os políticos jamais chegam a um consenso
• De exclusão: apenas, somente, só, salvo, unicamente, exclusive, sobre o que é bom para o país. (avaliação)
exceto, senão, sequer etc. • Vocês, certamente, saberão identificar quem está dizendo
a verdade. (afirmação)
Ex.: Todos chegaram cedo, salvo você.
• Primeiramente, resolveram elaborar um rol de providên-
• De explicação: isto é, por exemplo, a saber etc. cias para a produção da peça. (ordenamento)
• Ela agiu com consciência. As irmãs, igualmente. (analogia)
Ex.: Li livros de vários estilos, por exemplo, os clássicos.
• Contrariamente ao que você imagina, sou um cara
• De inclusão: até, ainda, também, inclusive etc. sentimental. (oposição)
• Essa é uma definição sintaticamente adequada. (âmbito)
Ex.: Eu também vou viajar.

• De realce: é que, cá, lá, não, mas, é porque etc.

Ex.:
E você lá sabe essa questão?
O que não diria essa senhora se soubesse que já fui famoso? 01 Os advérbios só podem expressar sete circunstâncias.
Indique-as e explique como é possível que haja outras, sem que se
• De retificação: aliás, isto é, ou melhor, ou antes etc. relacionem a advérbios.
Ex.: Somos dois, ou melhor, três...
02 Indique, com empregos em frases completas, pelo menos cinco
valores semânticos expressos exclusivamente por locuções adverbiais.
©nyul/iStock

03 Explique, exemplificando com a palavra “bastante”, como se


podem distinguir os advérbios de intensidade de certos pronomes
indefinidos adjetivos.

04

• De situação: então, mas, se, agora, afinal etc.

Ex.: Mas quem foi que fez isso?

Renan Motta Lima


Utilize o leitor óptico do seu
celular para assistir à videoaula. Identifique os termos que, na fala do personagem da “tirinha”,
https://portaleleva.com.br expressam circunstâncias. Justifique sua resposta.
Advérbio e seus valores semânticos LÍNGUA PORTUGUESA 481
Módulo 20 1ª Série

05 Examine as palavras denotativas destacadas a seguir: 02 (FGV)

Salvo um imprevisto, as coisas estavam sob controle. Na Era no tempo que ainda os portugueses não
realidade, somente ela possuía a solução para o problema surgido. haviam sido por uma tempestade empurrados para
a terra de Santa Cruz. Esta pequena ilha abundava
Explique o sentido que tais palavras trazem para o texto.
de belas aves e em derredor pescava-se excelente
5 peixe. Uma jovem tamoia, cujo rosto moreno parecia
tostado pelo fogo em que ardia-lhe o coração,
uma jovem tamoia linda e sensível, tinha por habitação
01 (ENEM)
esta rude gruta, onde ainda então não se via
Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço,
falou qualquer coisa que eu não entendi. Fui logo dizendo que não a fonte que hoje vemos. Ora, ela, que até os quinze
tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria 10 anos era inocente como a flor, e por isso alegre
saber a hora. e folgazona como uma cabritinha nova, começou a
Talvez não fosse um “menino de família”, mas também não era fazer-se tímida e depois triste, como o gemido da
um “menino de rua”.
rola; a causa disto estava no agradável parecer de
É assim que a gente divide. “Menino de família” é aquele bem
vestido, com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio um mancebo da sua tribo, que diariamente vinha
e a mãe dá outro se o dele for roubado por outro menino de rua. 15 caçar ou pescar à ilha, e vinte vezes já o havia feito
“Menino de rua” é aquele que, quando a gente passa perto, segura a sem que de uma só desse fé dos olhares ardentes
bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
que lhe dardejava a moça. O nome dele era Aoitin;
Uns nascendo “De família”, outros nascendo “De rua”, tudo
o nome dela era Ahy.
muito natural. Como se a rua e não uma família os tivesse gerado.
Filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, A pobre Ahy, que sempre o seguia, ora lhe apanhava
portanto, das outras crianças. Na verdade, não existem “Meninos 20 as aves que ele matava, ora lhe buscava as flechas
De rua”. Existem meninos Na rua. E toda vez que um menino disparadas, e nunca um só sinal de reconhecimento
está na rua é porque alguém colocou-o lá. Os meninos não vão
obtinha; quando no fim de seus trabalhos,
sozinhos aos lugares, são postos no mundo, são postos onde quer
que estejam. Resta ver quem os põe na rua e por quê. Quem leva Aoitin ia adormecer na gruta, ela entrava de manso
nossas crianças ao abandono? e com um ramo de palmeira procurava, movendo o
Dizemos “crianças abandonadas” subentendendo que foram 25 ar, refrescar a fronte do guerreiro adormecido. Mas
abandonadas pela família, pelos pais. Uma, duas ou dez crianças
tantos extremos eram tão mal pagos que Ahy,
podem ser abandonadas pela família, mas 7 milhões (como no
de cansada, procurou fugir do insensível moço e fazer
Brasil) só podem ser abandonadas pela coletividade. Atribuímos
o abandono de nossas crianças ao governo, mas em novos tempos, por esquecê-lo; porém, como era de esperar, nem
como cidadãos “conscientes”, “críticos” e “participativos”, não fugiu-lhe e nem o esqueceu.
podemos apenas passar adiante essa responsabilidade. 30 Desde então tomou outro partido: chorou. Ou
Marina Colasanti
porque a sua dor era tão grande que lhe podia
exprimir o amor em lágrimas desde o coração até
No quarto parágrafo do texto, na passagem “não existem ‘Meninos
De rua’. Existem meninos Na rua”, a troca de “De” por “Na” os olhos, ou porque, selvagem mesmo, ela já tinha
determina que a relação de sentido entre “menino” e “rua” seja: compreendido que a grande arma da mulher está
35 no pranto, Ahy chorou.
(A) de localização, e não de qualidade.
(B) de origem, e não de posse. MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. São Paulo: Ática, 1997. p. 62-63.
(C) de origem, e não de localização.
(D) de qualidade, e não de origem. Que circunstância indica, no texto, a expressão de “cansada” (l. 27)?
(E) de posse, e não de localização. Como o texto justifica essa circunstância?
482 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 20

03 (UNIFESP) 05 (UERJ)
Filme
Idosos já são 10% no país
Berenice não gostava de ir ao cinema, de modo que o pai
a levava à força. Cinema era coisa que ele adorava, sempre
sonhara em se tornar cineasta; não o conseguira, claro,
mas queria que a filha partilhasse sua paixão, com o que
5 se sentiria, de certa forma, indenizado pelo destino. Uma
responsabilidade que só fazia aumentar o verdadeiro terror
que Berenice sentia quando se aproximava o sábado, dia que
habitualmente o pai, homem muito ocupado, escolhia para a
sessão cinematográfica semanal. À medida que se aproximava
10 o dia fatídico, ela ia ficando cada vez mais agitada e nervosa; e
quando o pai, chegado o sábado, finalmente lhe dizia, está na
A charge é uma ilustração que tem como objetivo fazer uma sátira de alguém ou de alguma
situação atual por meio de desenhos caricatos hora, vamos, ela frequentemente se punha a chorar e mais de
uma vez caíra de joelhos diante dele, suplicando, não, papai,
I. O advérbio “já”, indicativo de tempo, atribui à frase o sentido por favor, não faça isso comigo. Mas o pai, que era um homem
de mudança. 15 enérgico e além disso julgava ter o direito de exigir da filha
II. Entende-se pela frase da charge que a população de idosos atingiu que o acompanhasse (viúvo desde há muito, criara Berenice
um patamar inédito no país. sozinho e com muito sacrifício), mostrava-se intransigente:
III. Observando a imagem, tem-se que a fila de velhinhos esperando não tem nada disso, você vai me acompanhar. E ela o fazia,
um lugar no banco sugere o aumento de idosos no país.
em meio a intenso sofrimento.
Está correto o que se afirma em: 20 Por fim, aprendeu a se proteger. Ia ao cinema, sim. Mas
antes que o filme começasse, corria ao banheiro, colocava
(A) I, apenas. cera nos ouvidos. Voltava ao lugar, e mal as luzes se apagavam
(B) II, apenas. cerrava firmemente os olhos, mantendo-os assim durante toda
(C) I e II, apenas. a sessão. O pai, encantado com o filme, de nada se apercebia;
(D) II e III, apenas.
25 tudo o que fazia era perguntar a opinião de Berenice, que
(E) I, II e III.
respondia, numa voz neutra mas firme:
04 (FGV) Leia o texto abaixo, fragmento de um conto chamado — Gostei. Gostei muito.
“A nova Califórnia”, de Lima Barreto. Depois, responda à pergunta
Era de outro filme que estava falando, naturalmente. Um
correspondente.
filme que o pai nunca veria.
Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agente do correio
SCLIAR, Moacyr. Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
pudera apenas informar que acudia ao nome de Raimundo Flamel
(...). Quase diariamente, o carteiro lá ia a um dos extremos da “Era de outro filme que estava falando, naturalmente”. (l. 28)
cidade, onde morava o desconhecido, sopesando um maço alentado
de cartas vindas do mundo inteiro, grossas revistas em línguas Nesse trecho, o termo em destaque cumpre a função de:
arrevesadas, livros, pacotes...
Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa do (A) afirmar ponto de vista.
novo habitante, todos na venda perguntaram-lhe que trabalho lhe (B) projetar ideia de modo.
(C) revelar sentimento oculto.
tinha sido determinado.
(D) expressar sentido reiterativo.
— Vou fazer um forno – disse o preto, na sala de jantar.
Imaginem o espanto da pequena cidade de Tubiacanga, ao saber
de tão extravagante construção: um forno na sala de jantar! E, pelos
dias seguintes, Fabrício pôde contar que vira balões de vidros, facas
sem corte, copos como os da farmácia – um rol de coisas esquisitas
01 (VUNESP)
a se mostrarem pelas mesas e prateleiras como utensílios de uma
bateria de cozinha em que o próprio diabo cozinhasse. A velha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo
Explique o uso que têm os advérbios donde (“Ninguém sabia donde dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto
viera aquele homem”), onde e aonde, segundo a norma culta da saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro
língua portuguesa.
velho – começou a desconfiar da velhinha.
Advérbio e seus valores semânticos LÍNGUA PORTUGUESA 483
Módulo 20 1ª Série

Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal 02


da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal (...)
perguntou assim pra ela: Quando me sento a escrever versos
— Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais
Sinto um cajado nas mãos
os outros, que ela adquirira no odontólogo, e respondeu:
E vejo um recorte de mim
— É areia!
No cimo dum outeiro,
Aí quem riu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma
e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e lá só tinha areia. Muito Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
E quer fingir que compreende.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse
um dia com areia e no outro com muamba, dentro daquele maldito Saúdo todos os que me lerem,
saco. No dia seguinte, quando ela passou na lambreta com o saco
Tirando-lhes o chapéu largo
atrás, o fiscal mandou parar outra vez. Perguntou o que é que ela
levava no saco e ela respondeu que era areia, uai! Quando me veem à minha porta

O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no Saúdo-os e desejo-lhes sol,
saco era areia. E chuva, quando a chuva é precisa,
Diz que foi aí que o fiscal se chateou: E que as suas casas tenham
— Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de Ao pé duma janela aberta
serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me
Uma cadeira predileta
tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
Onde se sentem, lendo os meus versos.
— Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar
E ao lerem os meus versos pensem
a lambreta, quando o fiscal propôs:
Que sou qualquer cousa natural
— Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou
parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai – Por exemplo, a árvore antiga
me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por À sombra da qual quando crianças
aqui todos os dias? Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
— O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha. E limpavam o suor da testa quente
— Juro – respondeu o fiscal. Com a manga do bibe riscado.
— É lambreta.
“I – Eu Nunca Guardei Rebanhos”, Alberto Caeiro; Fernando Pessoa.
Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.
Primo Altamirando e Elas, Stanislaw Ponte Preta.

Nesses versos de um heterônimo do poeta português Fernando


Muito próxima do texto oral, a crônica é um gênero que aproveita Pessoa, as locuções adverbiais ajudam a construir o processo de
alguns recursos típicos da fala, como a repetição, para estabelecer coesão textual.
a coesão textual. No primeiro parágrafo, por exemplo, a palavra
“velhinha” repete-se duas vezes; “lambreta”, três vezes. Pensando a. As locuções adverbiais que indicam lugar, por exemplo, têm
ainda nos modos de relacionar as palavras na frase, especifique uma participação efetiva no fragmento acima, em diversas
outra forma de manter a coesão, empregada também no primeiro construções introduzidas pela preposição “em”, como “no
parágrafo do texto. Em seguida, explique a diferença de função meu pensamento”, “nas mãos”, “No cimo de um outeiro”, etc.
entre o termo “aí”, que ocorre no terceiro parágrafo, e o mesmo Tal circunstância, porém, aparece nesses versos, regida por
vocábulo, no sexto parágrafo. outras preposições.
Comprove, com exemplos, essa última afirmação.
b. Indique, além da circunstância locativa, outras, presentes no
texto, também expressas por meio de locuções adverbiais.
Aponte as circunstâncias envolvidas.
484 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 20

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