Módulo 16 1ª Série
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imaginar esses surpreendentes ovos, já que a língua nos oferece
recursos eficientes para que possamos distinguir objetos, pessoas,
sentimentos e ações. São os adjetivos e as locuções adjetivas, palavras
como “gigante” ou expressões como “de Páscoa”, “de chocolate”, “de
dois metros” ou “de sessenta quilos” que, nesse caso, particularizam
os ovos.
Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, retomaremos o estudo dessas formas adjetivas C6 – Identificar as características dos adjetivos;
e sua significativa contribuição nos diversos gêneros textuais a que
C8 – reconhecer as possibilidades expressivas da adjetivação;
temos acesso no dia a dia. – analisar os diversos aspectos de colocação vinculados ao adjetivo.
1. O adjetivo Ex.:
“... eu não sou propriamente um autor defunto, mas um
O adjetivo é uma palavra variável, modificadora do substantivo, defunto autor.” (subst./adj.)
(subst./adj.) Machado de Assis
que denota qualidade, estado, característica do ser, permitindo ao
leitor ou ouvinte uma melhor visualização ou entendimento do que se Aquele cego velho fica sempre na esquina.
pretende nomear e descrever. Pelo emprego dos adjetivos, podem-se (subst./adj.)
distinguir aspectos que tornam diferentes e mais ou menos expres-
sivas as abordagens de um mesmo ser. “Águas” podem ser “límpidas”, O velho cego dizia frases interessantes.
(subst./adj.)
“turvas” ou “poluídas”, “doces” ou “salgadas”, “mansas” ou “violentas”;
“atitudes” podem ser “heroicas” ou “covardes”, “egocêntricas” ou
Alguns adjetivos podem mudar de sentido, conforme se
“altruístas”, “transparentes” ou “dissimuladas”.
coloquem antes ou depois de substantivo. Quando o adjetivo vem
A adjetivação, muitas vezes, é o elemento revelador da forma depois do substantivo, geralmente assume valor denotativo (valor
como cada pessoa vê o mundo, considerando a diversidade de expres- comum, encontrado no dicionário); vindo antes do substantivo,
sões e opiniões que caracterizam o ser humano. Usar expressivamente costuma assumir valor conotativo. Vejam-se os pares seguintes:
um adjetivo é conferir singularidade ao que em princípio é comum,
é atribuir peculiaridade ao que muitos veem como trivial. → homem simples (= que tem simplicidade) × simples homem
(= comum)
→ homem grande (= de físico avantajado) × grande homem
2. O adjetivo e a colocação (= notável)
→ brinquedo caro (= custoso) × caro amigo (= querido)
Normalmente, coloca-se o adjetivo depois do substantivo. → mulher triste (= melancólica) × triste governante (= lastimável)
É importante lembrar isso quando se juntam, por exemplo, dois
vocábulos que podem ser substantivos ou adjetivos. Para saber a que Alguns adjetivos podem mudar de classe (além de mudarem o
classe pertencem em determinados contextos, a colocação é definitiva. sentido) quando se altera a sua colocação em relação ao substantivo.
Adjetivo: identificação e locuções adjetivas LÍNGUA PORTUGUESA 453
Módulo 16 1ª Série
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diversas áreas da linguagem,
os mais diversos níveis em
que ela se manifesta.
No âmbito da Litera- Odvan.
tura, por exemplo, Mário de Andrade se utiliza da expressão
“burguês-burguês”, no poema “Ode ao burguês”, de 1922,
empregando esse recurso linguístico como uma forma de
realçar as características negativas que o escritor modernista
identifica na burguesia paulistana da época.
Já no campo estritamente informal, no âmbito do futebol,
o treinador Vanderlei Luxemburgo, ao convocar, de forma
surpreendente, o zagueiro Odvan, do Vasco, para a seleção Tapete persa.
brasileira, justificou sua escolha dizendo que ele era um
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RORAIMA
Boa Vista AMAPÁ 01 Examine as frases a seguir e marque apenas aquelas em que a
Macapá
inversão da posição do adjetivo em relação ao substantivo alteraria
Belém
o sentido da expressão e levaria à mudança da classe gramatical de
São Luís
Fortaleza
AMAZONAS Manaus
Goiânia
GOIÁS MINAS GERAIS
MATO GROSSO Belo Horizonte
ESPÍRITO SANTO
DO SUL
Campo Grande
Vitória 02 (FUVEST)
SÃO PAULO
SANTA CATARINA
Mundo de várias formas:
RIO GRANDE Florianópolis
DO SUL
Porto Alegre
1. Mantêm baixos os preços internacionais, desvalorizando as
exportações dos países pobres;
Temos aqui um interessante levantamento dos adjetivos 2. excluem os pobres de vender para os mercados ricos;
3. expõem os produtores pobres à concorrência de produtos mais
gentílicos referentes às pessoas nascidas nas capitais de todos
baratos em seus próprios países.
os estados brasileiros. Você provavelmente vai se surpreender
com alguns deles. Veja: Folha de S. Paulo, 2 nov. 1997, E-12.
Unidade da Federação Capital Gentílico Nesse texto, as palavras destacadas rico e pobre pertencem a
diferentes classes de palavras, conforme o grupo sintático em que
Acre Rio Branco rio-branquense estão inseridas.
Alagoas Maceió maceioense
Amapá Macapá macapaense a. Obedecendo à ordem em que aparecem no texto, identifique a
manauense; classe a que pertencem, em cada ocorrência grifada, as palavras
Amazonas Manaus
manauara “rico” e “pobre”.
soteropolitano; b. Escreva duas frases com a palavra “brasileiro”, empregando-a
Bahia Salvador
salvadorense cada vez em uma dessas classes.
Ceará Fortaleza fortalezense
Distrito Federal Brasília brasiliense 03 Esclareça, se houver, que tipo de distinção ocorre, do ponto de
Espírito Santo Vitória capixaba; vitoriense vista semântico e/ou morfológico, entre as duas frases a seguir:
Goiás Goiânia goianiense
a. Toda cidade tem segredos.
ludovicense ou
Maranhão São Luís b. A cidade toda tem segredos.
são-luisense
Mato Grosso Cuiabá cuiabano
04 A identificação dos adjetivos que, em nossa língua, corres-
Mato Grosso do Sul Campo Grande campo-grandense pondem a certas locuções constitui excelente prática com vistas à
Minas Gerais Belo Horizonte belo-horizontino aquisição de vocabulário mais amplo. A propósito, indique quais
Pará Belém belenense são os adjetivos correspondentes às seguintes locuções adjetivas:
Paraíba João Pessoa pessoense
Paraná Curitiba curitibano a. de marfim l. de ovelha
Pernambuco Recife recifense b. de ouro m. de cabra
Piauí Teresina teresinense c. de prata n. de cão
Rio de Janeiro Rio de Janeiro carioca d. de cobre o. de víbora
Rio Grande do Norte Natal natalense e. de lago p. de diamante
f. de rio q. de águia
Rio Grande do Sul Porto Alegre porto-alegrense
g. da chuva r. de porco
Rondônia Porto Velho porto-velhense h. de chumbo s. de leite
Roraima Boa Vista boa-vistense i. de lebre t. de gelo
Santa Catarina Florianópolis florianopolitano j. de leão u. de cabelo
São Paulo São Paulo paulistano k. de gato v. de orelha
aracajuano;
Sergipe Aracaju
aracajuense
Tocantins Palmas palmense
Adjetivo: identificação e locuções adjetivas LÍNGUA PORTUGUESA 455
Módulo 16 1ª Série
05 (VUNESP) 03 (FGV)
João Cabral de Melo Neto a. Quem são, no texto, as “pobres velhinhas”? E o “pobre velhinho”?
(l. 5 e 6).
João Cabral de Melo Neto pretendeu criar uma linguagem para seus b. Qual a diferença entre “pobre velhinho” e “velhinho pobre”?
poemas que se afastasse um pouco da linguagem usual, por meio
de pequenos desvios. Para isso, empregou, às vezes, palavras fora 04
das classes morfológicas a que pertencem.
...É CLARO QUE
VIVEMOS EM É CHATO MESMO –
E MUITO CHATO NOS
a. Transcreva os fragmentos em que isso acontece. UM PLANETA ACHATADOS
NOS POLOS.
DIAS EM QUE NÃO DÁ
CHATO... PRAIA, NOS DIAS DE
b. Identifique a classe original das palavras e a classe em que João PROVA, NA HORA DE
LAVAR A LOUÇA...
Cabral as utilizou em seu poema.
01 (ITA) Durante a Copa do Mundo, foi veiculada, em programa Renan Motta Lima
esportivo de uma emissora de TV, a notícia de que um apostador
inglês acertou o resultado de uma partida porque seguiu os prognós- O humor dessa tira é obtido com a utilização do adjetivo “chato”.
ticos de seu burro de estimação. Um dos comentaristas fez, então, Explique por quê.
a seguinte observação: “Já vi muito comentarista burro, mas burro
comentarista é a primeira vez.” Percebe-se que a classe gramatical
das palavras se altera em função da ordem que elas assumem na
expressão. Assinale a alternativa em que isso não ocorre:
Esse poema faz parte de uma coleção dedicada por Cecília Meireles Quando esticar a canela. Morre, João...
às crianças. Mas o bom, mesmo, são os adjetivos,
a. Cite um dos principais recursos estilísticos nele utilizados. Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Exemplifique. Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. Luminoso.
b. A que classe de palavra pertence a palavra “tontinha”, no texto?
Sonoro. Lento. Eu sonho
Cite uma de suas funções na construção desse texto.
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
02 (UNIFESP) Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
De gramática e de linguagem
Eu sonho com um poema
E havia uma gramática que dizia assim:
Cujas palavras sumarentas escorram
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Um poema que te mate de amor
Eu gosto é das cousas. As cousas, sim!...
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se
Basta provares o seu gosto”
em excesso.
Mário Quintana
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre, Para o poeta, a linguagem deve:
Ovo pode estar choco: é inquietante...)
(A) ser inquietante e misteriosa como um ovo que, quando choco,
As cousas vivem metidas com as suas cousas. guarda sentidos desconhecidos.
E não exigem nada. (B) ser composta pelos substantivos concretos e pelos adjetivos
para assemelhar-se à linguagem das plantas e dos animais.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
(C) conseguir matar as pessoas que, como diz o poeta, atrapalham.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta. Por isso ele afirma: “Morre, João...”.
Para quê? não importa: João vem! (D) excluir o amor, uma vez que esse sentimento a destitui do
verdadeiro e misterioso sentido abrigado nas palavras.
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão. (E) bastar-se a si mesma, pois há de conter a essência do sentido
Amigo ou adverso... João só será definitivo na sua constituição.
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LÍNGUA PORTUGUESA 456
Módulo 17 1ª Série
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Você sabia que, na frase “A Lua é menor que o
Sol”, o adjetivo “menor” indica superioridade?
Embora pareça estranho, na frase “A Lua é menor que o
Sol”, a forma “menor” é comparativo de superioridade, porque
significa que, em relação ao adjetivo “pequeno” (que exprime uma
qualidade), a Lua apresenta maior “pequenez” que o Sol. Nesse
caso, não se pode dizer que ela é “mais pequena” nem que o Sol é
“mais grande”, o que também acontece com outros adjetivos que
não admitem essas formas analíticas, como “bom” e “mau”, a não
ser em situações especiais.
Na realidade, essa ideia de superioridade nas palavras “menor”,
“maior”, “melhor” ou “pior” é trazida para esses vocábulos pelo
sufixo “-or”, o mesmo que aparece em “sênior” (mais velho),
“júnior” (mais novo), “superior” (mais alto), “inferior” (mais
baixo), etc. Expectativas de aprendizagem:
Neste módulo, retomaremos o estudo do adjetivo, relem- – Identificar as diversas situações textuais que envolvem as flexões
brando seus aspectos de número, gênero e grau e os usos que
C6 do adjetivo;
nós, falantes da língua portuguesa, fazemos em decorrência C8 – reconhecer, no conhecimento e domínio das regras de flexão
dos adjetivos, um importante instrumento no exercício culto da
dessas flexões. língua.
Os adjetivos participam ativamente do processo da flexão Ex.: feliz, atroz, capaz, lusíada, leve, possível, ruim, secular, etc.
vocabular, variando em gênero, número e grau. Com relação ao
gênero e ao número, seguem as normas aplicáveis aos substantivos. Obs.: Não se enquadram nesse caso andaluz/andaluza, bom/boa,
Julgam-se oportunas, a propósito, as observações que se seguem. chim/china, espanhol/espanhola).
Ex.: educado/educada; amigo/amiga; magnífico/magnífica. Ex.: novo (ô)/nova (ó); gostoso (ô)/gostosa (ó); dengoso (ô)/
dengosa (ó); composto (ô)/composta (ó).
Adjetivo: flexões de gênero, número e grau LÍNGUA PORTUGUESA 457
Módulo 17 1ª Série
4. A flexão de número
usual dos adjetivos A lógica das exceções
O adjetivo composto surdo-mudo faz o plural flexionando
Os adjetivos, como os substantivos, fazem o seu plural com a ambos os elementos. Dizemos, então, “Naquele colégio
desinência de número(s) e suas variações. Os casos de metafonia estudam pessoas surdas-mudas” ou “Crianças surdas-mudas
na mudança de gênero também ocorrem com o número. demandam processos especiais para uma boa aprendizagem”.
Ex.: delicado/delicados; útil/úteis; feliz/felizes; espanhol/espanhóis; Uma hipótese razoável que justificaria essa exceção – já
novo/novos; amistoso/amistosos. que, normalmente, apenas deveria variar o segundo elemento
– é a existência do substantivo composto “surdo-mudo”,
que, observando a regra dos substantivos compostos, tem,
5. A flexão de número no processo no plural, ambos os elementos flexionados (surdos-mudos).
de conversão de substantivos Seria complicado para o falante aplicar um plural ao adjetivo
e outro ao substantivo.
em adjetivos
Essa observação leva a uma reflexão: a de que a maioria
Em situações desse tipo, o adjetivo assim formado mantém-se das exceções que se verificam nos estudos gramaticais não
no singular, mesmo que o substantivo precedente esteja no plural. surgem de forma aleatória, têm sempre uma razão lógica.
Afinal, elas não são criadas pelos gramáticos, mas pelos
Ex.: comícios-monstro; camisas rosa; homens-aranha. falantes da língua.
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nos adjetivos compostos
Como norma geral, os adjetivos compostos fazem o plural (e
o feminino) mantendo o primeiro elemento invariável e fazendo o
segundo concordar com o substantivo.
Ex.:
jogos ítalo-brasileiros
Guerra Franco-Prussiana
luta greco-romana
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fácil – facílimo sábio – sapientíssimo
feroz – ferocíssimo salubre – salubérrimo
fiel – fidelíssimo soberbo – superbíssimo
frágil – fragílimo tétrica – tetérrimo
geral – generalíssimo velha – vetérrimo
mais muito
baixo inferior ínfimo
baixo* baixo
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Espanca? Ela é um dos
A mais triste de todas as mulheres.
maiores nomes da poesia
em língua portuguesa que “Amiga”
construção poética.
Veja, por exemplo, nos Ando perdida nestes sonhos verdes
fragmentos a seguir, como De ter nascido e não saber quem sou,
Florbela se vale do emprego dos graus dos adjetivos para Ando ceguinha a tatear paredes
traduzir a intensidade de seus sentimentos, no livro A mensa-
E nem ao menos sei quem me cegou!
geira das violetas, uma coletânea de alguns dos seus sonetos:
“Cegueira Bendita”
02 Examine as expressões a seguir e aponte a distinção entre elas, do do que não furtara. Assim aconteceu. O cachorro sangrou-a,
ponto de vista da flexão de gênero. espostejou-a, reservou para si um quarto e dividiu o restante com
os juízes famintos, a título de custas...
a. Jovem leitor.
b. Semelhante criatura. Fábulas e Histórias Diversa, Monteiro Lobato.
c. Inglesa pálida.
a. Dê o superlativo absoluto sintético de “pobre”, em suas duas
formas possíveis.
03 Identifique o aspecto semântico que aproxima as expressões
b. Em uma dessas formas, o superlativo absoluto sintético de
grifadas nas frases a seguir:
“pobre” assume característica latina. Ofereça dois outros
exemplos em que, de acordo com a norma culta, isso ocorra.
a. Ela parecia triste, triste, triste...
b. Você sempre se mostrou “megacomprometido” com a causa.
02
c. É uma moça assustadoramente alta.
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04 Indique o grau do adjetivo nas frases a seguir:
O fragmento anterior é o final de um conto de Machado de Assis. E, na língua que dominam, o ticuna, também encontram limitações
Nele, diante do cadáver de Luíza, esposa de Fortunato, o personagem na leitura e na escrita, por tratar-se de uma língua de tradição
Garcia, amigo deste último e que amava a morta em segredo, não oral. Assim caminha a juventude ticuna: soterrada numa salada
se conteve: suas lágrimas vieram “em borbotões”, revelando para o
de identidades.
amigo o sentimento escondido. Enquanto isso, Fortunato, o marido,
é acometido por inesperado prazer. MONTEIRO, Karla. “A pior escola do Brasil?”. Revista Samuel, n. 1, 2012. p. 36-39 (adaptado).
Explique o efeito obtido, no trecho, pela repetição do adjetivo “longa”.
O título – “A pior escola do Brasil?” – justifica-se em relação ao
04 (UFU) O autor de D. Casmurro afirma que “José Dias conteúdo do texto pelo seguinte:
amava os superlativos. Era um modo de dar feição monumental
às ideias”. (A) As demais escolas no território nacional apresentaram resul-
Dentre os vários superlativos empregados por José Dias, assinale tados piores do que a escola ticuna; logo, o título representa a
a única alternativa em que ocorre um emprego não previsto pela crítica da autora sobre a escola ticuna ser a pior escola do Brasil
gramática normativa: nos exames do Enem.
(B) As questões do Enem são elaboradas em nível de dificuldade
(A) “Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela muito superior ao desejável para os alunos do ensino médio no
estima, pelo afeto, para cumprir um dever amargo, amaríssimo...” Brasil; assim, o título apresenta um questionamento da autora
(B) “Que ideia é essa? O estado dela é gravíssimo, mas não é mal de sobre a adequação da exigência dos exames do Enem.
morte, e Deus pode tudo.” (C) Os professores da escola ticuna são estrangeiros incumbidos
(C) “Sua mãe é uma santa, seu tio é um cavalheiro perfeitíssimo.” de ensinar diversas matérias; dessa forma, o título evidencia a
(D) “... porque ela é um anjo, anjíssimo ...” contestação da autora quanto a professores não saberem falar
(E) “Oh! As leis são belíssimas.” a língua nacional.
(D) A televisão faz grande diferença na formação dos estudantes;
05 (FATEC) por conseguinte, o título apresenta a indignação da autora com
Em 2009, a Escola Estadual D. Pedro I, na aldeia Betânia, onde relação à falta de aparelhos de televisão na aldeia dos ticunas.
(E) Os brasileiros falantes do ticuna têm de aprender as disciplinas
vivem cinco mil ticunas (estima-se que haja 32 mil ticunas vivendo
convencionais por meio da língua portuguesa; logo, o título
no Alto Solimões, entre a Amazônia brasileira, a colombiana e a sugere uma crítica da autora à comparação equivocada de
peruana), ficou na rabeira do Enem, o Exame Nacional do Ensino desempenho nos exames do Enem.
Médio. O colégio, frequentado por 600 jovens representantes da
etnia, ostentou o último lugar.
“Há dois ou três anos, todos os professores eram de fora da
aldeia, A Organização Geral dos Professores Ticuna Bilíngues foi
formando professores indígenas, e o quadro mudou. Nossa escola 01
é muito boa. Tem um ponto de internet. Há dois anos, temos Aceitarás o amor como eu o encaro?...
eletricidade. Nosso problema é a língua. Das regiões de Tefé a
Aceitarás o amor como eu o encaro?...
Tabatinga, predomina a etnia ticuna. Eu acho que justifica lutar por
uma universidade ticuna”, diz Saturnino, um dos poucos fluentes ... Azul bem leve, um nimbo, suavemente
em português na aldeia Betânia. Guarda-te a imagem, como um anteparo
São índios. Mas não adoram o Sol, a Lua, as estrelas, os Contra estes móveis de banal presente.
animais, as árvores. Praticam, sim, com afinco, a religião batista,
imposta por um missionário americano, o pastor Eduardo – Tudo o que há de melhor e de mais raro
provavelmente, Edward – que passou por ali, pelo Alto Solimões, Vive em teu corpo nu de adolescente,
a região mais isolada da Amazônia, no amanhecer dos anos 1960.
A perna assim jogada e o braço, o claro
São brasileiros, amazonenses, porém não assistem à novela das
oito nem ouvem sertanejo universitário. Eles se ligam na TV Olhar preso no meu, perdidamente.
colombiana e escutam música importada do país vizinho, que ecoa
estrondosa dos casebres de madeira. O único sinal de que devem Não exijas mais nada. Não desejo
passear de vez em quando pela Globo é o penteado do Neymar Também mais nada, só te olhar, enquanto
enfeitando as cabeleiras escorridas e negras. Não falam português A realidade é simples, e isto apenas.
fluentemente. As crianças nem sequer entendem. A língua dos
bate-papos animados é o ticuna. No entanto, são obrigados a Que grandeza... a evasão total do pejo
aprender Matemática, Química, Física, História, Geografia, etc. na
Que nasce das imperfeições. O encanto
língua-pátria. Uma situação insólita: na língua que não dominam,
o português, os jovens precisam ler e escrever – e prestar exames. Que nasce das adorações serenas.
Mário de Andrade
462 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 17
No segundo verso da segunda estrofe, o eu lírico se utiliza da Tens uma terra tão bela, tão rica, e queres visitar a dos outros! Eu, se
expressão “bem leve” para construir um superlativo do adjetivo algum dia puder, hei de percorrer a minha de princípio ao fim!” O
ali presente. Trata-se de um superlativo absoluto, em uma forma outro objetou-lhe que por aqui só havia febres e mosquitos; o major
analítica. contestou-lhe com estatísticas e até provou exuberantemente que o
A língua dispõe, porém, de outras possibilidades de construção desse
Amazonas tinha um dos melhores climas da Terra. Era um clima
tipo analítico de superlativo. Tomando por base a utilizada por Mário
de Andrade, indique quatro delas, incluindo, se for o caso, expressões caluniado pelos viciosos que de lá vinham doentes... Era assim o
do registro coloquial. Major Policarpo Quaresma que acabava de chegar à sua residência,
às quatro e quinze da tarde, sem erro de um minuto, como todas
02 as tardes, exceto aos domingos, exatamente, ao jeito da aparição de
Nesse dia, o major pouco conversou. Era costume seu, assim um astro ou de um eclipse. No mais, era um homem como todos os
pela hora do café, quando os empregados deixavam as bancas, outros, a não ser aqueles que têm ambições políticas ou de fortuna,
transmitir aos companheiros o fruto de seus estudos, as descobertas porque Quaresma não as tinha no mínimo grau.
que fazia, no seu gabinete de trabalho, de riquezas nacionais. Um dia O triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto.
era o petróleo que lera em qualquer parte, como sendo encontrado
na Bahia; outra vez, era um novo exemplar de árvore de borracha Considerados os aspectos vinculados às flexões dos adjetivos em
que crescia no Rio Pardo, em Mato Grosso; outra, era um sábio, nossa língua, pode-se afirmar, a respeito de elementos extraídos
uma notabilidade, cuja bisavó era brasileira; e quando não tinha do texto anterior, que:
descoberta a trazer, entrava pela corografia, contava o curso dos
(A) em “era um novo exemplar de árvore de borracha que crescia
rios, a sua extensão navegável, os melhoramentos insignificantes
no Rio Pardo”, o adjetivo existente faz o seu plural observando
de que careciam para se prestarem a um franco percurso da foz às o mesmo fenômeno que gerou a forma adjetiva que está em
nascentes. Ele amava sobremodo os rios; as montanhas lhe eram “Os colegas ouviam-no respeitosos”.
indiferentes. Pequenas talvez... Os colegas ouviam-no respeitosos e (B) em “ para se prestarem a um franco percurso da foz às nascentes”
ninguém, a não ser esse tal Azevedo, se animava na sua frente a lhe e “Ele amava sobremodo os rios; as montanhas lhe eram indi-
fazer a menor objeção, a avançar uma pilhéria, um dito. Ao voltar ferentes”, encontram-se dois adjetivos considerados invariáveis
as costas, porém, vingavam-se da cacetada, cobrindo-o de troças: quanto ao gênero.
(C) em “ninguém, a não ser esse tal Azevedo, se animava na sua frente
“Este Quaresma! Que cacete! Pensa que somos meninos de tico-tico...
a lhe fazer a menor objeção”, a forma adjetiva “menor” é, do ponto
Arre! Não tem outra conversa.” E desse modo ele ia levando a vida,
de vista semântico, representativa da ideia de inferioridade.
metade na repartição, sem ser compreendido, e a outra metade em (D) em “provou exuberantemente que o Amazonas tinha um dos
casa, também sem ser compreendido. No dia em que o chamaram de melhores climas da Terra”, a expressão “melhores climas da terra”
Ubirajara, Quaresma ficou reservado, taciturno, mudo, e só veio falar apresenta um adjetivo no grau superlativo absoluto.
porque, quando lavavam as mãos num aposento próximo à secretária (E) em “porque Quaresma não as tinha no mínimo grau”, a
e se preparavam para sair, alguém suspirando, disse: “Ah! Meu Deus! palavra “mínimo”, porque antecedida por um artigo, assume
Quando poderei ir à Europa!” O major não se conteve: levantou o um valor tipicamente superlativo, equivalendo, nesse caso, ao
vocábulo “menor”.
olhar, concertou o pince-nez e falou fraternal e persuasivo: “Ingrato!
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LÍNGUA PORTUGUESA 463
Módulo 18 1ª Série
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Para alcançar esses objetivos, ao expor suas ideias, os políticos
se valem de diferentes estratégias. Você conhece alguma delas?
Um recurso comum é utilizar, frequentemente, ao longo da fala,
a 1a pessoa do plural, ou seja, o “nós”. Dessa forma, é possível
aproximar-se de seu público-alvo, mostrando-se pertencente ao seu
grupo. Note que a simples escolha de um pronome pessoal pode Expectativas de aprendizagem:
fazer toda a diferença no jogo de persuasão. C6 – Definir pronome e identificar, especialmente, as características
dos pronomes pessoais e das formas de tratamento;
Neste módulo, você terá oportunidade de rever esse e outros C8 – empregar adequadamente os diversos tipos de pronomes pessoais
empregos dos pronomes pessoais. e formas de tratamento em variadas situações contextuais.
Ex.:
Pronomes Pronomes pessoais oblíquos
Pelo estado da casa, ela percebeu que alguém tinha estado lá. Pessoas do
(pronome substantivo) pessoais Átonos (sem Tônicos (com
discurso
retos preposição) preposição)
Alguma coisa, certamente, tinha acontecido em sua ausência.
(pronome adjetivo) 1a pessoa do
eu me mim
singular
Considerados de forma geral, os pronomes são elementos de 2a pessoa do
fundamental importância como marcas das pessoas do discurso tu te ti
singular
ou como expressão das formas sociais de tratamento. Eles desem-
3a pessoa do
penham, também, função anafórica, ou seja, podem retomar ele, ela lhe, o, a, se ele, ela, si
singular
palavras ou orações já expressas. Podem, além disso, mostrar
colocações no tempo e no espaço, indicar posse, indefinir os seres 1a pessoa do
nós nos nós
e ajudar na formulação de perguntas. O estudo dos pronomes plural
é, em decorrência disso, de grande relevância para assegurar a 2a pessoa do
vós vos vós
clareza e a coesão do texto. plural
Os pronomes apresentam uma subdivisão em função de 3a pessoa do
certas características que revelam. Assim, podem ser pessoais, eles, elas lhes, os, as, se eles, elas, si
plural
possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e
relativos. Neste módulo, serão estudados especialmente os
pronomes pessoais.
464 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 18
Espero que, aqui, todos se lembrem de mim. Vossa Alteza (V. A.) – príncipes, duques.
(p. p. o. t.)
Vossa Reverendíssima (V. Rev.ma) – sacerdotes, bispos.
Vossa Eminência (V. Em.a) – cardeais.
São esses usos que permitem considerarem-se corretas, de Vossa Santidade (V. S.) – papa.
acordo com a norma culta, frases como as seguintes: Vossa Majestade (V. M.) – reis, imperadores.
Vossa Magnificência (V. Mag.a) – reitores.
• Entre mim e ti, eu sei que não haverá problemas. Vossa Senhoria (V. S.a) – oficiais (até coronel), funcionários.
(Empregam-se os pronomes tônicos “mim” e “ti”, pois estão
preposicionados).
Ex.:
Ela vive falando de si (ou seja, dela mesma).
Os homens levam consigo uma esperança (ou seja, com eles
mesmos).
Ex.: Trouxe este presente para si. Obs.: Também são pronomes de tratamento você, vocês, o senhor,
a senhora. Os dois últimos são empregados no tratamento ceri-
III. As formas conosco e convosco são substituídas por nós e vós, monioso; os dois primeiros são frequentemente empregados no
quando usadas como reforço às palavras outros, mesmos, Brasil, praticamente substituindo os pronomes tu e vós. A forma
próprios, todos, ambos ou algum numeral. a gente é comumente utilizada, na linguagem coloquial, como
pronome equivalente a nós.
Ex.:
Ela queria falar com nós todos.
Ex.: A gente às vezes briga, mas depois se
Ele concordou em ir com nós três visitar o doente.
arrepende.
A versatilidade das formas de tratamento “ ‘Ilmo. Sr. Muito me alegro de dizer a V. S.a que a minha
As formas de tratamento podem ir do mais absoluto forma- ao fazer desta é boa, e que a mesma desejo para V. S.a pelos
lismo ao mais popular registro. E acompanham, de certo modo, circunlóquios com que lhe venero’. (DEIXANDO DE LER:)
a história do nosso país. Circunlóquios... Que nome em breve! O que quererá ele dizer?
Continuemos. (LENDO:) ‘Tomo a liberdade de mandar a V. S.a
Naquela que muitos consideram a certidão de nascimento do
um caicho de bananas maças para V. S.a comer com a sua boca e
Brasil – a carta de Pero Vaz de Caminha –, veja como o escrivão
dar também a comer à Sra. Juiza e aos Srs. Juizinhos.’ ”
da frota se dirigiu ao rei de Portugal e que formas de tratamento
foram empregadas na parte final daquela missiva:
Voltando ao tratamento Vossa Mercê, manteve-se como trata-
mento cerimonioso até o final do século XVI, embora, desde bem
“E pois que, Senhor, é certo que tanto neste cargo que levo
antes, não mais se aplicasse à figura real, seja pela degradação desse
como em outra qualquer coisa que de Vosso serviço for, Vossa
nível hierárquico, seja pela ascendência da nobreza. Essa forma, ao
Alteza há de ser de mim muito bem servida, a Ela peço que, por
cair em desuso, gerou diferentes construções, fruto de alterações
me fazer singular mercê, mande vir da ilha de São Tomé a Jorge
fonéticas, algumas delas invadindo o âmbito do linguajar caipira
de Osório, meu genro, o que Dela receberei em muita mercê.
brasileiro, como “vosmecê”, “vossuncê”, “mecê”, etc.
Beijo as mãos de Vossa Alteza.”
Uma dessas alterações produziu a forma “você”, que data
Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, da segunda metade do século XVII e que, atualmente, é o mais
sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500. utilizado dos pronomes referentes à pessoa com quem se fala,
no âmbito da fala ou da escrita, ganhando, paulatinamente,
Para dirigir-se à figura do rei, buscaram-se, ao longo do um status de maior formalidade, sem prejuízo das variantes do
tempo, formas honoríficas de tratamento. Vossa Mercê foi uma registro informal que se empregam na oralidade do discurso,
das primeiras formas empregadas, mas com ela ocorreu um como “ocê” e “cê”.
processo de vulgarização, que extrapolou a figura dos reis e Quanto às outras formas honoríficas, com a queda dos títulos
chegou a ser empregada no seio da nobreza e, depois, da própria da nobreza, elas vieram, obviamente, a perder o prestígio e, hoje,
burguesia. Assim foram surgindo outras formas, como Vossa entre nós, servem tão somente para que identifiquemos alguns
Senhoria, Vossa Majestade, Vossa Excelência e Vossa Alteza, tratamentos bem específicos. Formas como Vossa Senhoria e
a exemplo da carta de Caminha. Vossa Excelência continuam sendo utilizadas, mas nas correspon-
Em uma peça de Martins Pena de 1893, O juiz de paz na roça dências oficiais e nos debates dos nossos políticos (neste último
(na verdade, uma comédia), lemos a seguinte passagem: caso, contando com a antipatia da população, que não identifica
razões para tal tratamento diferenciado).
4. Mistura de tratamento
É comum a mistura entre formas que se constroem com a ©Peshkova/iStock
5. Empregos estilísticos
01 Corrija, se for o caso, as frases abaixo e explique as eventuais “Quintília adivinhara, pelo transtorno do meu rosto, o que lhe
correções. ia pedir, e deixou-me falar para preparar a resposta. A resposta foi
interrogativa e negativa. Casar para quê? Era melhor que ficássemos
I. Para mim poder terminar o trabalho, preciso de tempo.
amigos como dantes. Respondi-lhe que a amizade era, em mim,
II. Eu te falei, você não quis ouvir.
desde muito, a simples sentinela do amor; não podendo mais
III. Nada existirá entre eu e você.
contê-lo, deixou que ele saísse. Quintília sorriu da metáfora, o que
02 Identifique, no texto a seguir – um fragmento de um conto de me doeu, e sem razão; ela, vendo o efeito, fez-se outra vez séria e
Machado de Assis –, os pronomes pessoais, distinguindo os retos, tratou de persuadir-me de que era melhor não casar”.
átonos e tônicos.
Machado de Assis. A desejada das gentes.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000261.pdf>.
Pronome pessoal: classificação e emprego LÍNGUA PORTUGUESA 467
Módulo 18 1ª Série
03 Identifique, dentre as alternativas a seguir, a única que registra 02 Leia as estrofes a seguir:
emprego do pronome grifado aceito como válido pela norma culta:
I. É ela! é ela! – murmurei tremendo,
(A) Entre eu e você, existe um acordo. E o eco ao longe murmurou — é ela!
(B) Para mim entrar, preciso da chave. Eu a vi, minha fada aérea e pura –
(C) Para mim, entrar é fácil. A minha lavadeira na janela!
(D) Ela estava interessada em você, pois olhava o tempo todo para si.
(E) Ele disse ao professor: “Mestre, preciso falar consigo.” “É ela!, É ela!, É ela!”, Álvares de Azevedo.
a. Explique o uso do pronome mim, em vez do pronome eu. (D) nas passagens “olhou aterrada para eles” e “vendo que ela se não
b. Se, no lugar de elas, que é pronome pessoal de terceira pessoa despachava”, as formas pronominais “eles” e “ela” pertencem à
do plural, utilizássemos outro, de segunda pessoa do singular, 3a pessoa e são caracterizadas como pronomes pessoais retos.
qual seria ele? (E) em “trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito”
c. Explique por que a forma verbal Seria (em Ser-me-ia) está na e “Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas”, os
terceira pessoa do singular. pronomes existentes cumprem a mesma função sintática.
04 05
Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava Capítulo LXVIII / O vergalho
de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem, Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo
quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro. fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro
um calefrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: — “Não,
compreendeu a situação: adivinhou tudo com a lucidez de quem se perdão, meu senhor; meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não
vê perdido para sempre. Adivinhou que tinha sido enganada; que fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.
a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não — Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!
tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.
— Meu senhor! gemia o outro.
Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os
— Cala a boca, besta! replicava o vergalho.
olhos em torno de si, procurando escapulir, o senhor adiantou-se
Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho?
dela e segurou-lhe o ombro.
Nada menos que o meu moleque Prudêncio, – o que meu pai
— É esta! Disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e
desgraçada a segui-los. — Prendam-na! É escrava minha! pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.
A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com — É, sim, nhonhô.
uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca
— Fez-te alguma cousa?
de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.
— É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei
Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam
ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo na cidade, e ele deixou
os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia,
a quitanda para ir na venda beber.
recuou de um salto, e antes que alguém conseguisse alcançá-la, já
— Está bom, perdoa-lhe, disse eu.
de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.
— Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para
E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando
casa, bêbado!
moribunda numa lameira de sangue.
Memórias póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis.
João Romão fugira até o canto mais escuro do armazém,
tapando o rosto com as mãos. Compare as passagens a seguir, retiradas do texto de Machado:
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era
uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe I. “Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que verga-
respeitosamente o diploma de sócio benemérito. lhava outro na praça.”
II. “Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá embaixo
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. na cidade.”
O Cortiço, Aluísio Azevedo.
Com relação às formas pronominais nelas grifadas, podemos
Considerando os pronomes pessoais e o seu emprego como contri- afirmar que:
buintes da coesão textual, pode-se, de acordo com o que dispõe a
norma culta, reconhecer que: (A) ambas cumprem a missão de indicar um objeto direto (não
preposicionado) do verbo antecedente.
(A) o pronome “lhe”, em “um calefrio percorreu-lhe o corpo”, é um (B) a primeira delas é uma variação do pronome oblíquo átono “as”,
pronome oblíquo tônico que traz para a passagem um valor como também ocorre com “na” e “la”.
adicional de posse. (C) as duas exemplificam empregos de diferentes registros da língua,
(B) os pronomes que acompanham as formas verbais “matá-la”, característicos de distintos segmentos sociais.
“restituía-a” e “Prendam-na” referem-se a diferentes personagens, (D) a primeira é resultante da combinação errônea de dois
embora sejam variantes de uma mesma forma pronominal átona. pronomes, enquanto a segunda exemplifica um emprego
(C) o pronome “si”, presente na oração “Mal, porém, circunvagou abonado pela norma culta.
os olhos em torno de si” é um pronome oblíquo tônico que, no (E) no trecho “Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção;
Brasil, só deve ser empregado com valor reflexivo. perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele”, há seis pronomes
pessoais, dos quais dois são retos.
Pronome pessoal: classificação e emprego LÍNGUA PORTUGUESA 469
Módulo 18 1ª Série
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LÍNGUA PORTUGUESA 470
Módulo 19 1ª Série
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Você nota alguma diferença de sentido entre as
expressões “minha filha” e “filha minha” ditas
por um pai?
A linguagem de uma pessoa é, segundo os linguistas, um ato de
identidade. Ao escolher determinada construção em vez de outra, em
uma situação concreta de comunicação, o falante revela, ainda que
de forma inconsciente, sua visão do mundo, fazendo transparecer, Expectativas de aprendizagem:
muitas vezes, o papel social que ele exerce ou julga exercer.
C6 – Identificar, especialmente, as características dos pronomes
demonstrativos, possessivos, indefinidos e interrogativos;
No caso da pergunta acima, o pai que se utiliza da expressão
C8 – empregar adequadamente esses diversos tipos de pronomes, em
“filha minha”, por exemplo, na frase “Filha minha não chega tarde variadas situações contextuais.
em casa” para manifestar, com a colocação do pronome possessivo,
um posicionamento paterno impositivo, dando à frase um tom
categórico, faz a sentença soar quase como uma ordem. Já um pai que Neste módulo, você poderá rever seus conhecimentos sobre os
emprega o sintagma “minha filha” (“Minha filha não chega tarde em pronomes possessivos e também relembrar a utilização de outros
casa”) usa o pronome de uma forma que abranda a noção de posse tipos, igualmente importantes, inclusive pelos valores expressivos
por incorporar a ela o valor afetivo que a forma pronominal assume que podem manifestar nos diversos gêneros textuais com os quais
nas relações familiares. lidamos no dia a dia.
©linephoto/iStock
Suponha que, no meio de um diálogo, uma amiga diga para
a outra, que é fotógrafa profissional:
©471/iStock
zoológico com um pássaro. Seria, assim, uma foto que alguém tirou
da fotógrafa. Contudo, a segunda também seria uma foto logica-
mente aceitável para a continuação do diálogo, pois poderia ter
sido tirada pela fotógrafa, tendo como objeto retratado uma girafa.
A fotógrafa seria, assim, a autora da foto, que poderia, inclusive,
estar ilustrando, no zoológico, o espaço destinado às girafas.
Essa conversa hipotética serve apenas para mostrar como, em
determinadas situações de comunicação, o pronome possessivo
da terceira pessoa (seu, sua, seus, suas) pode levar a interpreta-
ções ambíguas, devendo, portanto, redobrar-se o cuidado com
o seu emprego, principalmente em situações em que o rigor da
mensagem seja fundamental.
• São também demonstrativos, quando antecedem o substantivo, 4.1 Algumas observações sobre os
os vocábulos tal e semelhante.
pronomes indefinidos
Ex.: Eu, realmente, não ouvi tal comentário nem sei de onde • Certos pronomes indefinidos podem apresentar a ideia de
veio semelhante ideia. quantificação ou de intensificação e, por isso, são confundidos
• Igualmente demonstrativos são os vocábulos mesmo(s), com os advérbios de intensidade. Diferentemente dos advérbios,
mesma(s), próprio(s), própria(s) quando têm o sentido de porém, eles apresentam flexões, sejam como pronomes substan-
idêntico(s) ou em pessoa. tivos, sejam como adjetivos. Quando são pronomes adjetivos
vinculam-se, obviamente, a substantivos. Essa é uma forma de
Ex.: Ela mesma esteve aqui. diferenciá-los dos advérbios, que modificam verbos, adjetivos
ou outros advérbios.
3.2 Os demonstrativos como palavras Ex.:
anafóricas ou catafóricas Muitos são os chamados, poucos os escolhidos.
(pron. subst.) (pron. subst.)
• Os pronomes este, esta, isto, estes, estas são usados em referência a
elementos que a eles se seguem. Nesse caso, são palavras catafóricas. Muitos assistiram à chegada do homem à Lua.
(pron. subst.)
Ex.: De todos os sentimentos, o que está acima de todos é este:
o amor. Tinha bastantes amigos e cada vez menos tempo para revê-los.
(pron. adj.) (pron. adj.)
• Os pronomes esse, essa, isso, esses e essas são usados em
referência a elementos que os antecedem e que eles retomam. “Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe a tua vã filosofia.”
(pron. adj.)
Nesse caso, são palavras anafóricas.
Shakespeare
Ex.: Você não me disse a verdade, e isso me entristeceu.
©Lonpicman/Wikimedia
Ex.:
Tua beleza não suplanta tua inteligência, nem esta é maior
que aquela.
Na África do Sul, os brancos são minoria em relação aos
negros. Mas aqueles detinham o poder, enquanto estes Estátua de Shakespeare, de 1874, na Leicester Square, em Londres.
viviam sob permanente estado de submissão. Mandela foi
a grande liderança contra o Apartheid. • Há alguns pronomes indefinidos adjetivos que aparecem nas
exclamações, junto a substantivos.
©Lya_Cattel/iStock
Ex.:
Que coisa, hein?!
Quanto riso! Quanta alegria!
Os discursos e as interrogações diretas e indiretas — O que é que esse Cassi faz, padrinho?
Nas aulas de Redação ou de Literatura, você já deve ter A mãe acudiu ríspida, dizendo:
estudado esse assunto que envolve, principalmente, a tipologia — Não é de tua conta, bisbilhoteira!”
textual narrativa.
Os diálogos entre os personagens podem ser transmitidos Aqui, o escritor carioca reproduz as falas de quatro persona-
pelo narrador ao leitor de duas formas diferentes. Em uma delas, gens, utilizando-se, em todas elas, do discurso direto. Haveria,
no chamado “discurso direto”, as falas são expressas exatamente porém, uma outra forma de apresentá-las, evitando os travessões
como ocorrem e, para tanto, pode o narrador valer-se de diferentes e os parágrafos e empregando sentenças corridas, no denominado
recursos. O mais tradicional deles passa pela utilização dos traves- “discurso indireto”. Veja como isso poderia ter sido feito com as
sões e dos parágrafos para a sua transcrição, como o exemplifica duas últimas falas:
a passagem seguinte, retirada do romance Clara dos Anjos, de
Clara ouvia esse diálogo com muita atenção e forte curiosidade.
Lima Barreto, na qual os personagens estão falando de uma quinta
Num dado momento, não se conteve e perguntou ao padrinho o
pessoa, um tal “Cassi”, não visto com bons olhos pela vizinhança:
que é que aquele Cassi fazia, ao que a mãe acudiu ríspida, dizendo
“— Vamos experimentar, meu caro Marramaque. ‘Ele’ sabe que não era da conta da moça e chamando-a de bisbilhoteira.
com quem se mete...
Essas considerações servem para reforçar, aqui, a ideia do
— Eu cá, por mim, nada tenho a dizer dele. Sempre me tratou emprego dos pronomes interrogativos nos dois tipos de discurso,
muito bem e sou-lhe grato. gerando interrogações diretas e indiretas. É o caso do pronome
— É que você, Lafões, não lê os jornais. “que” (“O que”) na pergunta de Clara no texto original, que se
— Qual jornais! Qual nada! Tudo que lá vem neles é mentira. manteria como interrogativo mesmo que, sem a presença do
Clara ouvia esse diálogo com muita atenção e forte curiosidade. ponto de interrogação, o escritor tivesse optado pela forma
Num dado momento, não se conteve e perguntou: indireta de dizer.
02
Aquele sorriso que ela trazia quando ele a conheceu era bem
01 diferente deste que agora se apresentava aos olhos do rapaz. E essa
mudança o preocupava.
O emprego do pronome pode acarretar ambiguidade. No trecho Levando isso em consideração, esclareça o valor expressivo que
acima, o pronome destacado poderia se referir a mais de um os pronomes destacados a seguir trazem para as frases em que se
vocábulo, mas essa ambiguidade é desfeita pelo contexto. encontram.
Identifique a que palavra ou expressão se refere o pronome “sua” e I. Pode deixar que eu mesmo resolverei o assunto.
explique por que, neste caso, o emprego do pronome não provoca II. Eles são pessoas ruins, egoístas, e dessa raça eu quero distância.
ambiguidade. III. Você me enganou, seu mentiroso. (forte sentido recriminativo)
IV. Agora, vamos estudar o nosso Machado de Assis.
02 Enquanto a semântica identifica os sentidos presentes em uma V. Não tenho motivo algum para aceitar sua proposta.
mensagem, a estilística constitui o aspecto dos estudos linguísticos
que se volta para o emprego expressivo das palavras, ou seja, para
usos em que os vocábulos “vão além” de seu significado normal.
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LÍNGUA PORTUGUESA 477
Módulo 20 1ª Série
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“nunca”, “somente”, “apenas” etc. – no enunciado ou no comando
de questões de múltipla escolha.
Esses vocábulos exigem um redobrado cuidado na leitura,
uma vez que, quando não percebido o seu caráter generalizante
(“nunca”) ou excludente (“apenas”, “somente”), podem conduzir
a falsas respostas. No caso de “nunca”, a classificação gramatical
enquadra essa palavra como advérbio, mas “somente”, “apenas” e
outras do tipo, embora pareçam pertencer a essa mesma classe, são Expectativas de aprendizagem:
chamadas “palavras denotativas” (no caso, de exclusão). – Reconhecer as características dos advérbios, destacando seus
Neste módulo, serão estudados tanto os advérbios quanto as C6 valores semânticos;
– identificar outros valores significativos, expressos pelas locuções
palavras denotativas, com seus valores significativos. Você perceberá C8 adverbiais;
sua importância para uma leitura mais segura ou para a produção – reconhecer as chamadas palavras denotativas e seus valores
de bons textos escritos. significativos.
Ex.:
Você sempre parece muito tímida.
(adv.) (adj.) Os diversos valores significativos
do sufixo “-mente”
Há muita verdade no que você diz.
(pron. ind.) (subst.)
Ex.: Ela se exprimiu honesta e objetivamente sobre aquilo que a Ex.: Todos se atrasaram na festa, mas as meninas chegaram
perturbava. mais tarde que os rapazes.
Advérbio e seus valores semânticos LÍNGUA PORTUGUESA 479
Módulo 20 1ª Série
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dade, sem dó, frente a frente, às claras etc.
• De tempo: em breve, à noite, de repente, às vezes etc.
• De afirmação: de fato, sem dúvida etc.
• De negação: de modo algum.
• De dúvida: quem sabe.
• De intensidade: à beça.
5. Palavras denotativas
Outros significados para o “-mente”
Algumas palavras da língua portuguesa podem ser confundidas
com advérbios, embora não possuam, de acordo com a Nomen- Ainda no caso dos advérbios terminados em -mente,
clatura Gramatical Brasileira, uma classificação específica. Sua encontramos estudos que propõem caracterizações para alguns
importância inequívoca é no campo semântico, o que justifica o deles que, embora não constituam nomenclatura oficial, são
nome que lhes é dado e uma classificação “oficiosa”, em função da interessantes por confirmar a grande diversidade de matizes
ideia que transmitem. Eis a lista exemplificada: semânticos que palavras desse tipo podem assumir. Assim, veja
algumas frases em que se usa o sufixo “-mente” com os valores
• De designação: eis que ele pode apresentar:
Ex.: Eis nosso carro novo.
• Infelizmente, os políticos jamais chegam a um consenso
• De exclusão: apenas, somente, só, salvo, unicamente, exclusive, sobre o que é bom para o país. (avaliação)
exceto, senão, sequer etc. • Vocês, certamente, saberão identificar quem está dizendo
a verdade. (afirmação)
Ex.: Todos chegaram cedo, salvo você.
• Primeiramente, resolveram elaborar um rol de providên-
• De explicação: isto é, por exemplo, a saber etc. cias para a produção da peça. (ordenamento)
• Ela agiu com consciência. As irmãs, igualmente. (analogia)
Ex.: Li livros de vários estilos, por exemplo, os clássicos.
• Contrariamente ao que você imagina, sou um cara
• De inclusão: até, ainda, também, inclusive etc. sentimental. (oposição)
• Essa é uma definição sintaticamente adequada. (âmbito)
Ex.: Eu também vou viajar.
Ex.:
E você lá sabe essa questão?
O que não diria essa senhora se soubesse que já fui famoso? 01 Os advérbios só podem expressar sete circunstâncias.
Indique-as e explique como é possível que haja outras, sem que se
• De retificação: aliás, isto é, ou melhor, ou antes etc. relacionem a advérbios.
Ex.: Somos dois, ou melhor, três...
02 Indique, com empregos em frases completas, pelo menos cinco
valores semânticos expressos exclusivamente por locuções adverbiais.
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04
Salvo um imprevisto, as coisas estavam sob controle. Na Era no tempo que ainda os portugueses não
realidade, somente ela possuía a solução para o problema surgido. haviam sido por uma tempestade empurrados para
a terra de Santa Cruz. Esta pequena ilha abundava
Explique o sentido que tais palavras trazem para o texto.
de belas aves e em derredor pescava-se excelente
5 peixe. Uma jovem tamoia, cujo rosto moreno parecia
tostado pelo fogo em que ardia-lhe o coração,
uma jovem tamoia linda e sensível, tinha por habitação
01 (ENEM)
esta rude gruta, onde ainda então não se via
Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço,
falou qualquer coisa que eu não entendi. Fui logo dizendo que não a fonte que hoje vemos. Ora, ela, que até os quinze
tinha, certa de que ele estava pedindo dinheiro. Não estava. Queria 10 anos era inocente como a flor, e por isso alegre
saber a hora. e folgazona como uma cabritinha nova, começou a
Talvez não fosse um “menino de família”, mas também não era fazer-se tímida e depois triste, como o gemido da
um “menino de rua”.
rola; a causa disto estava no agradável parecer de
É assim que a gente divide. “Menino de família” é aquele bem
vestido, com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio um mancebo da sua tribo, que diariamente vinha
e a mãe dá outro se o dele for roubado por outro menino de rua. 15 caçar ou pescar à ilha, e vinte vezes já o havia feito
“Menino de rua” é aquele que, quando a gente passa perto, segura a sem que de uma só desse fé dos olhares ardentes
bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.
que lhe dardejava a moça. O nome dele era Aoitin;
Uns nascendo “De família”, outros nascendo “De rua”, tudo
o nome dela era Ahy.
muito natural. Como se a rua e não uma família os tivesse gerado.
Filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes, A pobre Ahy, que sempre o seguia, ora lhe apanhava
portanto, das outras crianças. Na verdade, não existem “Meninos 20 as aves que ele matava, ora lhe buscava as flechas
De rua”. Existem meninos Na rua. E toda vez que um menino disparadas, e nunca um só sinal de reconhecimento
está na rua é porque alguém colocou-o lá. Os meninos não vão
obtinha; quando no fim de seus trabalhos,
sozinhos aos lugares, são postos no mundo, são postos onde quer
que estejam. Resta ver quem os põe na rua e por quê. Quem leva Aoitin ia adormecer na gruta, ela entrava de manso
nossas crianças ao abandono? e com um ramo de palmeira procurava, movendo o
Dizemos “crianças abandonadas” subentendendo que foram 25 ar, refrescar a fronte do guerreiro adormecido. Mas
abandonadas pela família, pelos pais. Uma, duas ou dez crianças
tantos extremos eram tão mal pagos que Ahy,
podem ser abandonadas pela família, mas 7 milhões (como no
de cansada, procurou fugir do insensível moço e fazer
Brasil) só podem ser abandonadas pela coletividade. Atribuímos
o abandono de nossas crianças ao governo, mas em novos tempos, por esquecê-lo; porém, como era de esperar, nem
como cidadãos “conscientes”, “críticos” e “participativos”, não fugiu-lhe e nem o esqueceu.
podemos apenas passar adiante essa responsabilidade. 30 Desde então tomou outro partido: chorou. Ou
Marina Colasanti
porque a sua dor era tão grande que lhe podia
exprimir o amor em lágrimas desde o coração até
No quarto parágrafo do texto, na passagem “não existem ‘Meninos
De rua’. Existem meninos Na rua”, a troca de “De” por “Na” os olhos, ou porque, selvagem mesmo, ela já tinha
determina que a relação de sentido entre “menino” e “rua” seja: compreendido que a grande arma da mulher está
35 no pranto, Ahy chorou.
(A) de localização, e não de qualidade.
(B) de origem, e não de posse. MACEDO, Joaquim Manuel de. A Moreninha. São Paulo: Ática, 1997. p. 62-63.
(C) de origem, e não de localização.
(D) de qualidade, e não de origem. Que circunstância indica, no texto, a expressão de “cansada” (l. 27)?
(E) de posse, e não de localização. Como o texto justifica essa circunstância?
482 LÍNGUA PORTUGUESA
1ª Série Módulo 20
03 (UNIFESP) 05 (UERJ)
Filme
Idosos já são 10% no país
Berenice não gostava de ir ao cinema, de modo que o pai
a levava à força. Cinema era coisa que ele adorava, sempre
sonhara em se tornar cineasta; não o conseguira, claro,
mas queria que a filha partilhasse sua paixão, com o que
5 se sentiria, de certa forma, indenizado pelo destino. Uma
responsabilidade que só fazia aumentar o verdadeiro terror
que Berenice sentia quando se aproximava o sábado, dia que
habitualmente o pai, homem muito ocupado, escolhia para a
sessão cinematográfica semanal. À medida que se aproximava
10 o dia fatídico, ela ia ficando cada vez mais agitada e nervosa; e
quando o pai, chegado o sábado, finalmente lhe dizia, está na
A charge é uma ilustração que tem como objetivo fazer uma sátira de alguém ou de alguma
situação atual por meio de desenhos caricatos hora, vamos, ela frequentemente se punha a chorar e mais de
uma vez caíra de joelhos diante dele, suplicando, não, papai,
I. O advérbio “já”, indicativo de tempo, atribui à frase o sentido por favor, não faça isso comigo. Mas o pai, que era um homem
de mudança. 15 enérgico e além disso julgava ter o direito de exigir da filha
II. Entende-se pela frase da charge que a população de idosos atingiu que o acompanhasse (viúvo desde há muito, criara Berenice
um patamar inédito no país. sozinho e com muito sacrifício), mostrava-se intransigente:
III. Observando a imagem, tem-se que a fila de velhinhos esperando não tem nada disso, você vai me acompanhar. E ela o fazia,
um lugar no banco sugere o aumento de idosos no país.
em meio a intenso sofrimento.
Está correto o que se afirma em: 20 Por fim, aprendeu a se proteger. Ia ao cinema, sim. Mas
antes que o filme começasse, corria ao banheiro, colocava
(A) I, apenas. cera nos ouvidos. Voltava ao lugar, e mal as luzes se apagavam
(B) II, apenas. cerrava firmemente os olhos, mantendo-os assim durante toda
(C) I e II, apenas. a sessão. O pai, encantado com o filme, de nada se apercebia;
(D) II e III, apenas.
25 tudo o que fazia era perguntar a opinião de Berenice, que
(E) I, II e III.
respondia, numa voz neutra mas firme:
04 (FGV) Leia o texto abaixo, fragmento de um conto chamado — Gostei. Gostei muito.
“A nova Califórnia”, de Lima Barreto. Depois, responda à pergunta
Era de outro filme que estava falando, naturalmente. Um
correspondente.
filme que o pai nunca veria.
Ninguém sabia donde viera aquele homem. O agente do correio
SCLIAR, Moacyr. Contos reunidos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
pudera apenas informar que acudia ao nome de Raimundo Flamel
(...). Quase diariamente, o carteiro lá ia a um dos extremos da “Era de outro filme que estava falando, naturalmente”. (l. 28)
cidade, onde morava o desconhecido, sopesando um maço alentado
de cartas vindas do mundo inteiro, grossas revistas em línguas Nesse trecho, o termo em destaque cumpre a função de:
arrevesadas, livros, pacotes...
Quando Fabrício, o pedreiro, voltou de um serviço em casa do (A) afirmar ponto de vista.
novo habitante, todos na venda perguntaram-lhe que trabalho lhe (B) projetar ideia de modo.
(C) revelar sentimento oculto.
tinha sido determinado.
(D) expressar sentido reiterativo.
— Vou fazer um forno – disse o preto, na sala de jantar.
Imaginem o espanto da pequena cidade de Tubiacanga, ao saber
de tão extravagante construção: um forno na sala de jantar! E, pelos
dias seguintes, Fabrício pôde contar que vira balões de vidros, facas
sem corte, copos como os da farmácia – um rol de coisas esquisitas
01 (VUNESP)
a se mostrarem pelas mesas e prateleiras como utensílios de uma
bateria de cozinha em que o próprio diabo cozinhasse. A velha contrabandista
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo
Explique o uso que têm os advérbios donde (“Ninguém sabia donde dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto
viera aquele homem”), onde e aonde, segundo a norma culta da saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – tudo malandro
língua portuguesa.
velho – começou a desconfiar da velhinha.
Advérbio e seus valores semânticos LÍNGUA PORTUGUESA 483
Módulo 20 1ª Série
O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no Saúdo-os e desejo-lhes sol,
saco era areia. E chuva, quando a chuva é precisa,
Diz que foi aí que o fiscal se chateou: E que as suas casas tenham
— Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de Ao pé duma janela aberta
serviço. Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me
Uma cadeira predileta
tira da cabeça que a senhora é contrabandista.
Onde se sentem, lendo os meus versos.
— Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar
E ao lerem os meus versos pensem
a lambreta, quando o fiscal propôs:
Que sou qualquer cousa natural
— Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou
parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai – Por exemplo, a árvore antiga
me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por À sombra da qual quando crianças
aqui todos os dias? Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
— O senhor promete que não “espáia”? – quis saber a velhinha. E limpavam o suor da testa quente
— Juro – respondeu o fiscal. Com a manga do bibe riscado.
— É lambreta.
“I – Eu Nunca Guardei Rebanhos”, Alberto Caeiro; Fernando Pessoa.
Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.
Primo Altamirando e Elas, Stanislaw Ponte Preta.
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