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Mar de Histórias

- "Ai de mim, Ai de ti, ó velho mar profundo, Eu venho sempre à tona de todos os naufrágios!" -

CULTURA E SOCIEDADE, LITERATURA, RESENHAS

Resenha: A cultura-mundo (Gilles Lipovetsky e


Jean Serroy)

28/01/201728/01/2017 Andreia Santana


“Cultura-mundo significa o fim da heterogeneidade tradicional da esfera cultural e a universalização da cultura
mercantil, apoderando-se das esferas da vida social, dos modos de existência, da quase totalidade das atividades
humanas. Com a cultura-mundo, dissemina-se em todo o globo a cultura da tecnociência, do mercado, do
indivíduo, das mídias, do consumo; e, com ela, uma infinidade de novos problemas que põem em jogo questões
não só globais (ecologia, imigração, crise econômica, miséria do terceiro mundo, terrorismo…) mas também
existenciais (identidade, crenças, crise dos sentidos, distúrbios da personalidade…). A cultura globalitária não é
apenas um fato; é, ao mesmo tempo, um questionamento tão intenso quanto inquieto de si mesma…”

O intertítulo de A cultura-mundo – resposta a uma sociedade desorientada – já entrega que essa é uma
leitura para refletir sobre a condição humana na sociedade pós-moderna e hiperconectada. Os autores
Gilles Lipovestsky (O império do efêmero) e Jean Serroy traçam um panorama social, político e cultural
dos tempos atuais, em que “a cultura tornou-se um mundo cuja circunferência está em toda parte e o
centro em parte alguma.”

Na visão de Lipovetsky e Serroy, vivemos tempos em que as rupturas e reconstruções caminham


lado a lado e em que o entendimento tradicional do que seja cultura cede espaço à construção de uma
“cultura-mundo” que se expande para além do território da “cultura cultivada humanista”. Trata-se
de uma cultura ‘globalitária’ que reestrutura a relação da humanidade consigo mesma e com o
planeta e que, ao mesmo tempo em que “reflete sobre o mundo, o constitui, engendra (gera), modela
e faz evoluir”.

Nessa cultura-mundo proposta pelos autores, as estruturas sociais que garantiam um certo sossego
emocional às pessoas, mesmo que a custa de menos liberdades individuais, já não existem ou passam
por transformações profundas e dinâmicas, o que leva a inquietações e frustrações já que as regras
mudam muito mais depressa do que muitas vezes somos capazes de acompanhar e nos adaptarmos.

Nesse mundo globalizado, pós-moderno, hiperconectado e com as pessoas tendo acesso ilimitado a
inúmeras informações e modos de vida; embora o outro esteja próximo, à distância de apenas um
clique, torna-se ainda mais estranho e por isso, causa medo. Um medo que muitas vezes é estimulado
para atender determinados interesses de mercado. Uma vez que a globalização facilita a
homogeneização cultural, as nações buscam enfatizar suas identidades próprias, no que isso tem de
bom (preservar tradições, modos de fazer e heranças culturais) e de ruim (xenofobia, caça ao terror).

Essa ênfase numa identidade nacional peculiar, muitas vezes, não passa de artifício no jogo político, a
velha estratégia do “dividir para conquistar”. Quanto mais exótico é o outro, menos me sinto
inclinado a entendê-lo e a buscar um ponto de intersecção que abra o diálogo. E aqui a situação vale
tanto para nações quanto para grupos sociais que lutam por direitos, onde muitas vezes acontecem
dissidências e discussões que sugam a força do movimento, porque seus membros se apegam às
diferenças como barreira de isolamento.
A obra de Lipovetsky e Serroy conversa com a de diversos outros autores que também refletem sobre
a condição humana e o ‘mal do século’, sobre globalização, advento de novas tecnologias, o poder de
criar ou destruir consciências atribuído à mídia e sobre as imposições do capitalismo e do
neoliberalismo que transformam a humanidade em uma grande massa de consumidores ávidos tanto
por bens materiais quanto por um novo sentido para a vida.

Ao ler a obra, e a depender das outras leituras prévias que se tenha ou das experiências culturais
vividas, é possível traçar inúmeros paralelos com situações bem reais do cotidiano. Embora situe os
exemplos na França, e não deixe de trazer algumas premissas civilizatórias europeias em relação ao
resto do mundo, as análises dos dois autores cabem na atual conjuntura sociopolítica do Brasil, na
eleição de Donald Trump para presidente dos Estados Unidos e nas ondas de radicalismo e
renascimento de ideologias totalitárias que varrem o globo.

Na introdução da obra, eles afirmam: “O mundo hipermoderno está desorientado, inseguro,


desestabilizado no cotidiano de maneira estrutural e crônica.” Mais adiante, no primeiro capítulo – A
cultura como mundo e como mercado – os dois estabelecem quatro eixos nos quais o mundo
hipermodeno estaria estruturado: hipercapitalismo, hipertecnicização, hiperindividualismo e
hiperconsumo.

Com o hipercapitalismo puxando a fila, os autores refletem sobre o advento de uma “cultura global
de mercado” e fazem uma crítica bastante pertinente às relações de trabalho atuais e alguns efeitos
como a solidão e a frustração. Nos demais capítulos, eles avançam na demonstração dos efeitos de
uma vida sob a tutela da mercantilização, em que tudo é descartável e consumível, de alimentos a
objetos, de arte a sentimentos, de marcas a celebridades instantâneas.

No entanto, embora bastante realista na análise, a obra não se pretende pessimista e no capítulo final
traz sugestões do que seriam formas mais sensatas de viver os dias de hoje. Um retorno à sociedade
pré-globalização, segundo os autores, seria praticamente impossível, mas manter esse ritmo marcado
pela superficialidade, o imediatismo e o consumo autofágico também é insustentável a longo prazo.

Para Lipovestsky e Serroy há caminhos que podem ser tomados que permitam uma melhor
adaptação à “cultura-mundo”, por meio de caminhos que “estimulem as múltiplas potencialidades
do indivíduo” na construção de uma sociedade mais equilibrada, justa, empática e solidária.

Ficha Técnica:

(h ps://mardehistorias.wordpress.com/2017/01/28/resenha-a-cultura-mundo-
gilles-lipovetsky-e-jean-serroy/a-cultura-mundo-capa/)A cultura-mundo: resposta
a uma sociedade desorientada

Autores: Gilles Lipovestky e Jean Serroy

Tradução: Maria Lúcia Machado

Editora: Companhia das Letras

208 páginas

R$ 29,62 (pesquisa em 25/01/17 no site da Livraria Cultura)


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3 opiniões sobre “Resenha: A cultura-mundo (Gilles


Lipovetsky e Jean Serroy)”
1.
MARIEL diz:
30/01/2017 às 00:58
Que modela, não tenho dúvida. Já a partir do evoluir… De qualquer forma, adorei o título “O
império do efêmero”. Boa semana!

1. Responder →
ANDREIA SANTANA diz:
30/01/2017 às 02:02
O império do efêmero é um dos livros mais conhecidos do Lipovetsky, onde ele estuda a moda
como fenômeno cultural. Uma ótima semana pra você também :D

1. Responder →
MARIEL diz:
30/01/2017 às 17:03
Oba!
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