Deleuze diz mais ou menos isso, e antes de ler Deleuze, meu entendimento
desses dois conceitos se baseava mais na interpretação de Heidegger. De
estudos sérios e rigorosos que aproximem ou afastem essas duas
interpretações a academia deve estar cheia. Minha intenção aqui é outra.
Não digo que eu seja filósofo, mas a PUC me deu um título de especialista em
Filosofia Contemporânea, que eu decidi usar no jornalismo, numa coluna
chamada Van Filosofia, publicada por quatro anos no Diário do Centro do
Mundo. Deixei o jornalismo ano passado pra me dedicar à Filosofia com todo o
rigor exigido pela academia, que se afasta de não iniciados ou de textos como
esse, destinado a qualquer pessoa, a todos e a ninguém.
A vida é Vontade de Potência, diz Nietzsche, mas isso por si não diz nada.
Spinoza nos ajuda a entender isso melhor. Ele diz que num segundo gênero de
conhecimento, compreendemos as causas do que aumenta ou diminui nossa
potência, ao contrário do primeiro gênero de conhecimento, em que
conhecemos apenas os efeitos. Um exemplo do primeiro gênero é quando
percebemos que o sol afeta o nosso corpo, mas não fazemos ideia do porquê
isso acontece. No segundo gênero, podemos entender a constituição das
camadas da pele, assim como a influência dos raios ultravioletas a enriquecer
nossa melanina ou destruir tecidos, causar desidratação, e assim conseguimos
calcular um tempo seguro e programar melhor nossos encontros com o sol.
“Se em tudo o que você quer fazer começar a se perguntar: ‘será que quero
mesmo fazê-lo um número infinito de vezes?’, isso será para você o centro de
gravidade mais sólido. Minha doutrina ensina: viva de tal maneira que deva
desejar reviver. É o dever. Aquele cujo esforço é a alegria suprema, que se
esforce. Aquele que ama antes de tudo o repouso, que repouse. Aquele que
ama submeter-se, obedecer e seguir, que obedeça. Mas que saiba bem aonde
vai sua preferência. E não recue ante nenhum meio. É a eternidade que está
em jogo. Essa doutrina é amável para com aqueles que não acreditam nela.
Ela não possui nem inferno, nem ameaças. Aquele que não acredita sentirá em
si apenas uma vida fugaz”
Uma doutrina que afirma uma forma de frear todo o devir reativo niilista, que
nega o mundo, que entristece em função dos maus encontros, de potências
reativas limitadoras, que bloqueiam a livre expansão do devir criador da
vontade livre.