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FATORES QUE INTERFEREM NO DESEMPENHO DAS ESCOLAS

FATORES QUE INTERFEREM NO DESEMPENHO DAS ESCOLAS

ANALISANDO SISTEMAS ESCOLARES ATRAVÉS


DO PRISMA DO PISA 2000

RESULTADOS DO PISA 2000


ORGANIZAÇÃO PARA COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICOS

A OCDE é um fórum único, onde os governos de 30 democracias trabalham juntos para enfrentar os desafios econômicos, sociais e ambientais da
globalização. A OCDE está também na linha de frente dos esforços no sentido de compreender os novos desenvolvimentos e as novas preocupações
– tais como a governança corporativa, a economia da informação, e os desafios de uma população que vive cada vez mais –, e de ajudar os governos a
encontrar soluções para eles. A Organização oferece as condições para que os governos possam comparar experiências de políticas, buscar respostas a
problemas comuns, identificar boas práticas, e trabalhar no sentido de coordenar políticas domésticas e internacionais.

Os países-membros da OCDE são: Alemanha, Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Coréia do Sul, Dinamarca, Eslováquia, Espanha, Estados Unidos,
Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Luxemburgo, México, Noruega, Nova Zelândia, Polônia, Portugal, Reino
Unido, República Checa, Suécia, Suíça e Turquia. A Comissão de Comunidades Européias participa no trabalho da OCDE.

A OCDE Publishing promove ampla divulgação de coletas de dados estatísticos e de pesquisas referentes a questões econômicas, sociais e
ambientais da Organização, assim como de convenções, diretrizes e padrões estabelecidos por acordo entre os países-membros.

Originalmente publicado pela OCDE, em inglês, sob o título:


What Makes School Systems Perform? Seeing School Systems through the Prism of PISA
© 2004, Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD), Paris.
Para a edição em língua portuguesa:
© 2006, Editora Moderna Ltda., Brasil
Publicado mediante acordo entre a OECD Paris e a
Editora Moderna Ltda., que é responsável pela qualidade da tradução para o Português
e por sua coerência com o texto original.

COORDENAÇÃO EDITORIAL EM LÍNGUA PORTUGUESA: Sérgio Couto


TRADUÇÃO, REVISÃO E PRODUÇÃO GRÁFICA: B & C Revisão de Textos S/C Ltda.
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO INDUSTRIAL: Wilson Aparecido Troque
IMPRESSÃO E ACABAMENTO:

Reprodução proibida. Art.184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

EDITORA MODERNA LTDA.


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São Paulo - SP - Brasil - CEP 03303-904
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2006
Impresso no Brasil
PRÓLOGO

O s estudantes estão preparados para en-


frentar os desafios do futuro? São capazes
de analisar, elaborar e comunicar suas idéias de
de seus estudantes mostrou-se sensivelmente
inferior ao de outros países, por vezes a des-
peito de altos investimentos em escolarização.
maneira eficaz? Têm competência para conti- No entanto, de maneira geral, os resultados
nuar a aprender ao longo de toda a vida? Os do PISA 2000 também abriram perspectivas
pais, os estudantes, o público e todos aqueles estimulantes. Os resultados alcançados por
que administram sistemas educacionais preci- estudantes em países como Coréia do Sul e
sam ter respostas para estas perguntas. Finlândia revelaram que é possível conseguir
Muitos sistemas educacionais fazem o monito- excelência na escolarização, e a um custo ra-
ramento da aprendizagem dos estudantes para zoável. Da mesma forma, os resultados obtidos
fornecer respostas a estas perguntas. Análises por Canadá, Coréia do Sul, Finlândia, Japão e
internacionais comparativas podem ampliar Suécia indicam que é possível combinar altos
e enriquecer o cenário nacional por meio da padrões de desempenho com uma distribuição
apresentação de um contexto mais amplo dentro de resultados de aprendizagem socialmente
do qual resultados nacionais possam ser interpre- equilibrada. Por fim, os resultados sugerem
tados. Podem oferecer aos países informações que altos padrões de desempenho podem
que lhes permitam avaliar seus pontos fortes e ser alcançados de maneira consistente pelas
suas fragilidades e monitorar seus progressos. escolas, sendo que as diferenças entre escolas
Podem ainda estimular os países a elevar suas na Finlândia e na Suécia representam apenas
aspirações, e podem fornecer parâmetros para cerca de 10% da variação do desempenho geral
políticas nacionais voltadas ao currículo e aos de seus estudantes com relação aos estudantes
esforços de instrução das escolas, assim como da OCDE.
à aprendizagem dos estudantes. Estas conclusões alimentaram o debate so-
Em resposta à necessidade de parâmetros bre outros resultados do PISA, na busca de
de desempenho dos estudantes que sejam melhor compreensão sobre os motivos pelos
comparáveis internacionalmente, a OCDE quais alguns países conseguem resultados de
lançou o Programa Internacional de Avaliação aprendizagem melhores e mais equilibrados
de Estudantes (PISA). O PISA representa um do que outros. Com este objetivo, a OCDE
compromisso assumido pelos governos dos vem publicando uma série de relatórios temá-
países da OCDE de monitorar regularmente ticos internacionais, que analisam em maior
os resultados dos sistemas educacionais em profundidade o impacto de alguns fatores
termos do desempenho do estudante, den- sobre o desempenho do estudante – envolven-
tro de uma estrutura de referência comum, do atuações individual, escolar e do sistema.
adotada internacionalmente. Da mesma maneira, a maioria dos países de-
senvolve pesquisas e análises nacionais para
Os primeiros resultados do PISA foram publi- situar mais adequadamente as conclusões do
cados em 2001, revelando amplas diferenças PISA em seu contexto nacional, nos níveis
entre os países com relação ao desempenho educacional, social e econômico.
de estudantes de 15 anos de idade em disci-
plinas fundamentais. Para alguns países, esses No entanto, as diferenças em padrões de de-
resultados foram profundamente decepcio- sempenho podem ser explicadas por uma aná-
nantes, revelando que o desempenho médio lise dos resultados do PISA apenas até certo li-

5
mite, uma vez que inúmeros fatores continuam que Interferem no Desempenho das Escolas – Anali-
difíceis de quantificar e não foram medidos sando Sistemas Escolares através do Prisma do PISA
pelo PISA – entre eles, o formato sistemático 2000, que apresenta resultados fundamentais
do provimento da educação, abordagens mais produzidos pelo estudo multilateral.
amplas voltadas à reforma educacional e a
estratégias inovadoras, e o contexto geral no Embora o estudo multilateral – e, portanto,
qual operam os sistemas educacionais. este relatório – deva ser visto apenas como um
primeiro passo em direção à integração de con-
Nesse cenário, o Ministério Federal Alemão clusões de pesquisas educacionais quantitativas
de Educação e Pesquisa lançou e financiou um e qualitativas através dos países, ele estabelece
estudo-piloto multilateral inovador, visando um marco importante. Além disso, permite
relacionar os resultados do PISA a parâmetros ampliar a base para o diálogo e a colaboração
qualitativos com relação a aspectos importan- entre os países no que se refere a políticas,
tes de políticas públicas, incluindo: estratégias visando à definição e à operacionalização de ob-
de reforma e inovação na área educacional; jetivos educacionais inovadores, que utilizem
questões de governança e alocação de recur- de maneira eficaz a rica fonte de parâmetros
sos; abordagens nacionais da determinação fornecidos por comparações entre os países.
de padrões, avaliação e monitoramento de Juntamente com os relatórios temáticos in-
sistemas; organização de sistemas de apoio; ternacionais do PISA, este relatório pode dar
desenvolvimento profissional de professores suporte à mudança atualmente em curso nas
e planos de carreira; abordagens nacionais políticas, que deslocam seu foco de insumos edu-
ao encaminhamento de diferenças socioeco- cacionais para resultados de aprendizagem; e pode
nômicas no background dos estudantes, com apoiar os países na implementação de melhorias
atenção especial à integração de estudantes na escolarização e na melhor preparação dos
não-nativos e daqueles cujos pais são origi- jovens no momento em que chegam a uma
nários de outros países. Contribuíram para vida adulta que sofre rápidas transformações
este estudo pesquisadores e especialistas da e aumento da interdependência global.
Alemanha, do Canadá, da Finlândia, da França,
da Holanda, da Inglaterra e da Suécia, dentro O PISA é um esforço colaborativo que reúne
de uma estrutura de referência comum em especialistas dos países participantes, com o
termos de análise comparativa, sob a direção apoio de seus países, com base em interesses
do Instituto Alemão para a Pesquisa Educa- compartilhados e orientados por políticas. Os
cional Internacional. Os resultados foram países participantes assumem a responsabili-
publicados no relatório VertiefenderVergleich der dade pelo projeto no nível de políticas por
Schulsysteme ausgewählter PISA – Teilnehmer-sta- meio do Conselho dos Países Participantes.
aten (Ministério Federal Alemão de Educação Especialistas dos países participantes atuam em
e Pesquisa, 2003). grupos de trabalho encarregados de fazer a li-
gação entre os objetivos do PISA com relação a
A abordagem e as conclusões da pesquisa políticas e a melhor expertise relevante e técnica
também foram apresentadas ao Conselho dos na área de avaliação comparativa internacional
Países Participantes do PISA e ao Comitê de de resultados educacionais. Por meio de sua
Educação da OCDE/Conselho de Gestão participação nesses grupos de especialistas, os
do CEPEI, em outubro de 2003. Além disso, países garantem que os instrumentos de ava-
os países incluídos neste estudo analisaram liação do PISA tenham validade em termos in-
e comentaram a descrição de seus sistemas ternacionais, e que levem em consideração os
escolares, o que resultou no relatório Fatores contextos culturais e curriculares dos países-

6
membros da OCDE, que forneçam uma base (Toronto, Canadá); Pamela Sammons, Karen
realista para mensuração, e que enfatizem a Elliot, Brenda Taggart e Wesley Welcomme
autenticidade e a validade educacional. As (Londres, RU); Pirjo Linnakylä (Jyväskylä,
estruturas de referência e os instrumentos Finlândia); Jean-Claude Emin, Jaqueline Le-
de avaliação do PISA 2000 são o produto de vasseur et al. (Paris, França); Jaap Scheerens
um processo de desenvolvimento plurianual, e Bob Witziers (Enschede, Holanda); Holder
e foram adotados pelos países-membros da Daun, Florian Waldow e Kah Slenning (Esto-
OCDE em dezembro de 1999. colmo, Suécia); e Hans Döbert, Isabell van
Ackeren,Wilfried Bos, Klaus Klemm, Eckhard
O relatório foi elaborado pela Secretaria Geral Klieme, Rainer H. Lehmann, Botho von Kopp,
da OCDE, sob a direção deAndreas Schleicher Knut Schwippert,Wendelin Sroka e Manfred
e Claire Shewbridge. O estudo multilateral Weiß (Alemanha), juntamente com inúmeros
coordenado pelo Instituto Alemão para Pes- outros autores que apoiaram a elaboração do
quisa Educacional Internacional, no qual está relatório.
baseado o relatório, foi um esforço colabora-
tivo entre cientistas da área da educação de O relatório é publicado sob a responsabilidade
sete países: David N.Wilson eTony C. M. Lam do Secretário-Geral da OCDE.

7
ÍNDICE
PRÓLOGO .................................................................................................................................................... 5

Capítulo 1: Introdução .............................................................................................................................. 11

Capítulo 2: Estratégias para inovação e reforma no sistema escolar ................................................. 15

Esforços de reforma nos seis países adotados como referência ............................ 15


Semelhanças e diferenças em esforços de reforma .......................................... 20

Capítulo 3: Transferência de responsabilidades para as escolas ........................................................ 23

Estratégias de transferência ..................................................................... 23


Exemplos de esforços de transferência ........................................................ 24
Semelhanças e diferenças em estratégias de transferência .................................. 27

Capítulo 4: Monitoramento do sistema ................................................................................................... 29

Monitoramento de sistema nos países adotados como referência ......................... 30


Semelhanças e diferenças em monitoramento de sistemas ................................. 33

Capítulo 5: Organização de sistemas de apoio ...................................................................................... 35

Sistemas de apoio nos países adotados como referência .................................... 35


Semelhanças e diferenças em sistemas de apoio.............................................. 40

Capítulo 6: Compreensão e aplicação de padrões ................................................................................ 43

Utilização de padrões nos países adotados como referência ............................... 43


Semelhanças e diferenças na formulação dos padrões ....................................... 46

Capítulo 7: Organização de processos educacionais dentro das escolas .......................................... 49

Organização de processos educacionais nos países adotados como referência .......... 49


Semelhanças e diferenças na organização de processos educacionais ..................... 53

Capítulo 8: Integração de estudantes não-nativos e de estudantes cujos pais

são estrangeiros ........................................................................................................................................ 57

Esforços para educar estudantes não-nativos e estudantes cujos pais são estrangeiros 59
Semelhanças e diferenças em estratégias e estruturas de apoio para estudantes
não-nativos e estudantes cujos pais são estrangeiros ........................................ 62

Capítulo 9: Como os países enfrentam as diferenças entre o desempenho

e as realizações dos estudantes que compõem a população-alvo ..................................................... 65

Estratégias para enfrentar baixos níveis de realização educacional ........................ 65

9
Semelhanças e diferenças na compensação de desigualdades sociais
na educação básica ................................................................................ 69
Capítulo 10: Desenvolvimento profissional de professores .................................................................. 71
Estratégias para o desenvolvimento profissional do professor ............................. 71
Semelhanças e diferenças na organização da capacitação de professores ................. 75
Capítulo 11: Conclusões ........................................................................................................................... 77
A cultura educacional e como enfrentar a heterogeneidade ............................... 77
Estrutura do sistema escolar e serviços de apoio ............................................ 79
A governança do sistema escolar ............................................................... 80
Anexo A: Estrutura analítica utilizada para relatórios nacionais no estudo multilateral coordenado
pelo Instituto Alemão para Pesquisa Educacional Internacional ......................................................... 83

10
Capítulo
1

INTRODUÇÃO

N os últimos anos, o PISA – Programa


Internacional da OCDE para Avaliação
de Estudantes – tem influenciado acentuada-
não consegue explicar prontamente essas
diferenças. O estudo recorreu a um grupo
de trabalho – formado por especialistas que
mente o discurso educacional em inúmeros atuam em cada um dos seis países selecio-
países, colocando a seguinte questão: que nados, que nos resultados do PISA 2000
fatores do sistema educacional e que fato- apresentaram desempenho relativamente
res socioeconômicos são responsáveis pela forte – para identificar características impor-
variação na “produtividade” de sistemas edu- tantes em seus sistemas, especialmente aque-
cacionais? Para responder a esta pergunta e las ações que vêm promovendo mudanças.
às questões relacionadas a ela, o Ministério O relatório completo do estudo foi publicado
Federal Alemão para Educação e Pesquisa em alemão, e apresenta detalhes minuciosos
constituiu um grupo de trabalho composto sobre a metodologia adotada.1 O Anexo A
por pesquisadores liderados pelo Instituto deste relatório apresenta a estrutura analítica
Alemão para a Pesquisa Educacional Inter-
do estudo original.
nacional (DIPF) para a realização de um
estudo. Este estudo não teve como objetivo Nesta síntese, a OCDE resume pontos
primordial analisar diretamente os resultados essenciais dos seis sistemas educacionais ana-
do PISA, uma vez que, embora esse programa lisados no relatório. Trata-se fundamental-
possa fornecer pistas que revelam as diferenças mente de ações implementadas por sistemas
com relação à “produtividade” educacional, educacionais em evolução, cujos resultados
CAPÍTULO 1 Fatores que interferem no desempenho das escolas

têm sido bastante positivos, permitindo que território são responsáveis por seus próprios
nesses países seja desenvolvido um traba- sistemas educacionais, e também devido à
lho consistente no sentido de aprimorar sua experiência específica de implementação
os procedimentos e o produto da educação de práticas educacionais inovadoras.
que fornecem. Todos os países envolvidos
no estudo estão comprometidos com a im-
• Inglaterra, escolhida principalmente em
função de seus sistemas de avaliação e de
plementação de mudanças, e identificaram
sua experiência na abordagem de estra-
um conjunto de questões comuns a todos,
tégias de inovação em resposta a estudos
visando garantir que todos os estudantes
utilizem plenamente seu potencial dentro comparativos.2
do sistema escolar. • Finlândia, devido a seu grande sucesso no
Um exercício como este não consegue PISA e à sua experiência de longo prazo
identificar relações precisas de causa e efeito com estratégias de reforma.
entre determinados fatores e resultados edu- • França, devido à sua experiência na utiliza-
cacionais, principalmente com relação à sala ção de avaliações de sistemas e estratégias
de aula e aos processos de ensino e aprendi- de inovação.
zagem desenvolvidos. No entanto, pode, sim,
identificar fatores que, aparentemente, e com • Holanda, devido à sua experiência com re-
base em análise empírica, podem ser enten- lação a avaliações e estratégias de inovação
didos como características “universais” que no setor escolar.
dão suporte à aprendizagem de boa qualidade • Suécia, devido a seu excelente desempenho
na escola, e que são específicas de algumas no PISA e à sua experiência com estratégias
culturas ou de alguns sistemas. Além disso,
de reforma de longo prazo.
a análise das ocorrências registradas nesses
países pode fornecer alguns indicadores sobre A análise apresentada nos capítulos 2 a 10
tipos específicos de estratégias de reforma mostra de que maneira cada um desses países
que resultam em sistemas educacionais bem- encaminha uma série de temas inter-relacio-
sucedidos. nados, analisando aspectos comuns e distintos
entre suas respectivas abordagens. Os temas
Participaram do estudo países industriais
mais específicos analisados na seqüência envol-
ocidentais selecionados, que apresentaram
vem estratégias para melhorar o desempenho
bons resultados no PISA 2000, e que aplicaram
do sistema educacional, o que pode ser alcan-
estratégias variadas de reforma educacional,
çado por diversos meios: monitoramento dos
inovação e avaliação. São eles:
pontos fracos, indentificando as necessidades
• Canadá, escolhido como um país com estru- para melhoria; fornecimento de apoio a esco-
tura federativa, no qual cada província e cada las, professores e estudantes nos locais onde se

12
Introdução CAPÍTULO 1

faça mais necessário; formulação de padrões tenham acesso a suficientes oportunidades de


e expectativas; ou capacitação de atores no aprendizagem. Não bastam oportunidades
nível local, transferindo a responsabilidade individuais e processos adequados: os objeti-
pelo cumprimento de objetivos específicos. vos desses países estão relacionados com os
Com relação a estes aspectos, todos os siste- resultados efetivamente alcançados, e, em
mas têm em comum um nível de atenção e especial, com a meta de elevar todos os es-
compromisso com relação a melhorias, em tudantes pelo menos a um nível determinado
termos não só de aumento do desempenho de de desempenho e qualificação. O capítulo 11
maneira geral, mas também da garantia que conclui reunindo algumas mensagens funda-
oferecem para que grupos menos favorecidos mentais que emergem desta análise.

Notas
1. O relatório original (VertiefenderVergleich der Schulsysteme ausgewählter PISA–Teilnehmer-staraten) foi coordenado pelo Instituto Alemão
para a Pesquisa Educacional Internacional (DIPF), e pode ser acessado no site do Ministério Federal de Educação e Pesquisa (BMBF):
http://www.bmbf.de/pub/pisa-vergleichsstudie.pdf.
2. Uma vez que os dados do PISA e da OCDE normalmente cobrem o Reino Unido, a análise comparativa está centrada, por razões
pragmáticas, basicamente na Inglaterra. Este estudo refere-se tanto ao Reino Unido quanto à Inglaterra.

13
Capítulo
2

ESTRATÉGIAS PARA INOVAÇÃO E REFORMA


NO SISTEMA ESCOLAR

E sforços de reforma nos seis países


adotados como referência
do governo no poder. Este fato reflete-se
em esforços consideráveis empreendidos na
O desempenho dos estudantes no PISA reforma do sistema educacional ao longo das
é o resultado de uma ampla variedade de duas últimas décadas.
influências geradas tanto no interior do sistema
Tais reformas não eliminaram todos os
educacional quanto fora dele. É impossível
pontos fracos dos sistemas educacionais, mas,
atribuir uma responsabilidade abrangente a
aparentemente, contribuíram para contê-los.
todos esses fatores para explicar com precisão
Por exemplo, os países buscaram solução para
o desempenho de determinado país no PISA.
os problemas de diferenças sociais nos resulta-
No entanto, um fator comum entre países
que registram desempenho relativamente alto dos educacionais, e, em medidas diversas, ten-
são os vigorosos esforços empreendidos pelas taram limitar a extensão dessas diferenças. No
autoridades no sentido do aprimoramento Canadá, na Finlândia e na Suécia, os resultados
do sistema educacional, sem deixar de lado apresentados pelos diferentes grupos sociais
a qualidade e a relevância contemporânea são relativamente equilibrados. No Reino
desses sistemas. Em cada um dos seis países Unido, por outro lado, as diferenças sociais
incluídos no estudo, a educação desfruta de ficam significativamente acima da média, e
alta prioridade política – em grande medida, na França, apenas moderadamente acima da
independentemente da orientação política média para todos os países da OCDE.
CAPÍTULO 2 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Embora sejam inúmeras as diferenças so- mente sistemática, com rigoroso monitora-
ciais e culturais que individualizam as estra- mento do desempenho dos estudantes, da
tégias de reforma para cada país, é possível qualidade da escola e das competências dos
identificar alguns pontos comuns às diversas professores em relação a padrões profissionais.
abordagens. Esses pontos comuns são resu- Em nível nacional, enfatizou-se o recurso dos
midos a seguir, após a apresentação de al- testes aplicados aos estudantes para verificar se
gumas características básicas de esforços de haviam sido atingidos os resultados de apren-
reforma recentes em cada um dos seis países dizagem desejados, conforme determinado no
do estudo.
currículo local – ainda que haja dúvidas quanto
No Canadá, o sistema educacional e a re- a se melhores resultados de testes efetivamente
forma educacional são questões a serem tratadas refletem melhorias na aprendizagem.Tentou-
individualmente por cada província e em cada se também melhorar a educação na primeira
território. No entanto, a insatisfação geral em infância como uma base essencial, tanto por
muitas províncias levou a uma ampla reforma meio da ampliação do acesso para crianças
na década de 90. Essas reformas envolveram, entre 3 e 5 anos de idade, quanto por meio da
de maneira especial: atenção ao desenvolvimento precoce de habi-
• Alterações na governança: os quadros admi- lidades cognitivas e nas áreas de matemática
nistrativos escolares fundiram-se para me- e de língua materna.
lhorar a eficiência; foram criados conselhos Na Inglaterra, as reformas implemen-
escolares para melhorar o envolvimento
tadas na década de 80 e nos primeiros anos
dos pais.
da década de 90 pelo governo Conservador
• Abolição de cursos com duração de nove giraram em torno da introdução de um cur-
ou dez anos. rículo nacional, de testes de desempenho
padronizados, de maior autonomia para as
• Melhor controle dos gastos com educação.
escolas no gerenciamento e na alocação de
• Estrutura nacional optativa na área de ciên- recursos, de incentivos aos estudantes para
cias, coordenada pelo conselho, represen- instigar a concorrência com outras escolas,
tando o ministro de Educação das províncias, e de apoio financeiro para que estudantes
cobrindo a maior parte do país. de mais baixa renda freqüentassem escolas
• Desenvolvimento de “indicadores” para particulares. Dentre essas políticas, algumas
avaliar sistemas escolares nas províncias, foram reforçadas e outras foram alteradas
apoiados em testes aplicados aos estudantes pelo governo Trabalhista (eleito em 1997),
em nível nacional. que sucedeu aquela administração:

Ontário é um exemplo de uma província • Foram ampliados os recursos para a educação


que planejou mudanças de forma particular- pública – em parte, fazendo da educação

16
Estratégias para inovação e reforma no sistema escolar CAPÍTULO 2

uma prioridade fundamental na alocação Um aspecto importante nesta abordagem é


de recursos; e, em parte, redirecionando o foco determinado no desempenho, tanto da
para a rede pública os subsídios destinados escola quanto dos professores individualmen-
a escolas particulares, especialmente para te.A aplicação de testes aos estudantes fornece
melhorar os recursos alocados nos anos informações comparativas que alimentam essa
iniciais de educação. estratégia. As escolas recebem planos de ação
específicos para melhorar seu desempenho
• Por meio de uma Unidade Central de Pa-
em relação a escolas semelhantes. O reco-
drões e Eficácia, além de outros mecanis-
nhecimento de boa atuação de professores e
mos, foram enfatizados os padrões, tanto
a melhoria da capacitação dos professores em
para resultados de aprendizagem como para
serviço têm por objetivo elevar o padrão da
a qualidade do ensino.
profissão docente. Trabalhando em direção
• São disseminadas boas práticas que foram a objetivos estabelecidos e estimulando os
implementadas com sucesso por escolas e professores e as escolas a assumir a respon-
professores, envolvendo também conceitos sabilidade pelo desempenho, essas reformas
educacionais. vão ao encontro de constatações de pesquisas
nacionais e internacionais, que enfatizam o
• Escolas com fraco desempenho recebem apoio,
valor da revisão do desempenho.
mas também estão sujeitas a sanções, que
chegam até o encerramento das ativida- Na Finlândia, a reforma implementada
des em casos de persistência de baixo ao longo de três décadas girou em torno do
desempenho. desejo de promover oportunidades educa-
cionais iguais e do princípio de aprendiza-
• A “diversidade” vem sendo promovida junta-
gem ao longo de toda a vida. Os esforços
mente com as melhorias. Permitindo que
incluíram: introdução de escolas abrangentes
as escolas assumam características especiais
na década de 70, substituindo um sistema
(no nível secundário), e estimulando as li-
escolar baseado em programa; reforma da
gações com entidades externas – nas quais
capacitação profissional, na década de 80; e
se incluem igrejas, empresas e organizações
estabelecimento de politécnicas, na década de
comunitárias –, o governo visa fortalecer as
90. A educação abrangente foi acompanhada
escolas como organizações, permitindo que
por maior centralização de planejamento
operem como locais de aprendizagem.
e controle, especialmente com relação ao
• A educação nos anos iniciais recebeu nova currículo. No entanto, durante a década de
ênfase, e, em especial, foi ampliado o acesso 90, as escolas tiveram maior liberdade sobre
à experiência pré-escolar de qualidade para disciplinas opcionais e maior diversidade,
crianças pouco favorecidas, entre 3 e 4 anos por meio de conceitos como, por exemplo,
de idade. escolas especializadas. A cada quatro anos,

17
CAPÍTULO 2 Fatores que interferem no desempenho das escolas

em um plano de desenvolvimento, o governo de diferenças em leitura na Finlândia ficou


apresenta em detalhes suas prioridades para entre os mais baixos da OCDE na compara-
a educação. No período de 1999 a 2003, o ção entre grupos socioeconômicos, porém
plano incluiu as seguintes prioridades: foi um dos mais altos na comparação entre
meninos e meninas.
• Centrar o foco em TCI, matemática e
ciências. Na França, assim como na Finlândia, a
reforma empreendida desde a década de 80
• Promover altos níveis de competência em
foi direcionada para a redução da influência
idioma estrangeiro.
das desigualdades sociais sobre o acesso a
• Solicitar às instituições educacionais e às au- oportunidades de educação.Também como
toridades locais responsáveis pela educação na Finlândia, uma das metas da reforma foi
que realizem avaliações buscando melhorar um estilo mais integrado de escolarização
a qualidade. secundária, o que foi atingido por meio da
introdução de séries iniciais abrangentes
• Melhorar a cooperação entre as escolas e o na escola secundária – o collège –, na dé-
mundo do trabalho. cada de 70. A partir da década de 80, outro
destaque da reforma foi a descentralização,
• Estabelecer padrões em capacitação de pro-
que, por exemplo, atribuiu às autoridades
fessores pré-serviço e em serviço.
locais maior responsabilidade pela alocação
Na Finlândia, discute-se atualmente até dos recursos; aos administradores regio-
que ponto diretrizes centrais devem ser nais, permitiu maior poder de decisão; e
novamente estabelecidas – por exemplo, às escolas secundárias, deu maior liberdade
enfatizando disciplinas básicas. Em 2003, foi para adaptar objetivos educacionais às suas
constituído um Conselho de Avaliação, em situações locais. Os esforços de reforma
nível nacional, para coordenar procedimen- empreendidos atualmente buscam adequar
tos de verificação e avaliação. Os resultados elementos tradicionais de controle central
do PISA 2000 abriram o debate sobre di- a pressões pela descentralização. A tensão
versas áreas para novas melhorias, inclusive entre exigências centrais e a implementação
a redução das diferenças entre meninos e individual ficou visível, por exemplo, na
meninas. Em parte, a abolição da organiza- adoção de zonas “preferenciais” de prio-
ção de turmas com base em desempenho, ridade educacional (ZEP), que recebem
na década de 80, deveu-se à constatação de recursos extras. Na década de 90, um es-
que aquelas com nível de desempenho mais forço sistemático no sentido de levar pelo
baixo incluíam principalmente meninos e menos 80% de cada turma até o padrão do
estudantes de backgrounds socioeconômi- baccalauréat ao final da escola secundária foi
cos mais carentes. No PISA 2000, o nível reforçado por:

18
Estratégias para inovação e reforma no sistema escolar CAPÍTULO 2

• Monitoramento mais rigoroso do sistema reformas apenas postergaram as desigualdades


em nível nacional, aplicando aos estudantes entre os estudantes, em lugar de eliminá-las.
testes diagnósticos. As críticas atuais atingem especialmente o
collège. A tarefa decisiva para a política de edu-
• Consolidação da capacitação inicial dos
cação atual é superar diferenças na qualidade
professores, com orientação prática mais
das instituições educacionais, que continuam
vigorosa, assim como monitoramento de
a ser associadas a diferenças regionais.
padrões acadêmicos.
Na Holanda, a política educacional foi
• Expansão do provimento de educação pré-
baseada tradicionalmente em decisões to-
escolar (início da década de 90), com au-
mento proporcional nas taxas de freqüência madas pelo governo em colaboração com
de crianças de três anos de idade. organizações nacionais, como sindicatos de
professores e entidades mantenedoras de es-
• Introdução de “ciclos” – que cobrem várias colas. Nos últimos anos, as reformas fortale-
séries com objetivos finais comuns –, espe- ceram a autonomia local e transferiram para
cialmente no nível primário. os níveis mais baixos a responsabilidade pela
• Reforma da estrutura do collège, para pro- qualidade da educação. Em particular:
duzir melhores condições de ingresso na • O governo agora limita-se a decisões que
educação secundária, maior diferenciação de afetam a estrutura básica da educação.
acordo com as necessidades dos estudantes,
e orientação para alternativas de programas • As escolas administram recursos financeiros
nas séries finais da educação secundária. e políticas de recursos humanos.

• Melhoria do apoio individual a estudantes • O financiamento da educação passou a ser


na primeira série do lycée (séries finais da mais vinculado ao desempenho.
educação secundária).
• A auto-avaliação feita pelas instituições foi
• Constituição do Conselho Nacional para associada à avaliação externa de qualida-
Avaliação Escolar (em 2002). de, especialmente por meio da inspeção
escolar.
Críticas recentes a estes planos de reforma
baseiam-se, em parte, no fracasso com relação A década de 90 testemunhou um conjunto
à meta básica: a proporção de alunos que al- de reformas que visavam melhorar o ensino
cançaram o nível de baccalauréat em 2000 foi e a aprendizagem, como a redução do ta-
de 70%, e não 80%. Coloca-se em questão manho das turmas na educação primária e a
também a capacidade dos estudantes com rela- adaptação da educação secundária às necessi-
ção ao domínio de habilidades básicas no nível dades do mercado de trabalho. Melhorias nas
primário. Existe um entendimento de que as condições de eqüidade também constituíram

19
CAPÍTULO 2 Fatores que interferem no desempenho das escolas

um objetivo importante, que foi alcançado, • Aumento da capacidade das autoridades


por exemplo, por meio do deslocamento de locais para alocar recursos da forma que
recursos extras para escolas com estudantes considerem mais adequada.
em condições sociais pouco favorecidas. No
Em 2003, a Agência Nacional para Edu-
entanto, as avaliações indicaram que, na Ho-
cação foi dividida em duas agências: a “nova”
landa, as desigualdades sociais persistem no
Agência Nacional para Educação, responsá-
sistema altamente segmentado de educação
vel pelo controle da qualidade, envolvendo
secundária. Reformas criando maior integra-
acompanhamento, avaliação e inspeção; e a
ção nas séries iniciais da educação secundária
Agência Nacional para a Melhoria Escolar.
não eliminaram a separação de estudantes,
embora sejam encontrados freqüentemente Novos esforços vêm sendo empreendidos
diferentes tipos de escolarização na mesma para apoiar e garantir a educação pré-es-
edificação ou na mesma escola. colar, que foi transferida do Departamento
de Assuntos Sociais para o de Educação, em
Na Suécia, atribui-se alta prioridade à 1998.
igualdade de oportunidades educacionais. As
reformas empreendidas desde a década de Semelhanças e diferenças em esforços de

80 também enfatizaram a descentralização, reforma

um princípio que sobreviveu a mudanças no Semelhanças nessas abordagens podem


governo. As reformas iniciais envolveram a ser identificadas tanto em objetivos comuns
transferência de responsabilidades pelos re- das reformas através dos países quanto em
cursos e o abrandamento de regulamentações
estratégias paralelas utilizadas para atingir tais
relativas ao conteúdo educacional, assim como
objetivos. Em particular:
o financiamento de escolas independentes
para promover opções escolares. Outras me- • Os países vêm empreendendo esforços no
didas implementadas durante a década de 90 sentido de reduzir os efeitos de dispari-
incluíram: dades de origem socioeconômica, promo-
vendo simultaneamente a qualidade.
• Deslocamento de alguns aspectos de ava-
liação para o nível local, demandando das Em especial, o desafio é reduzir diferenças
escolas e das autoridades locais a produção nas expectativas dos estudantes associadas à
de relatórios anuais. composição social da escola que freqüentam.
Alguns países, como Canadá, Finlândia e Sué-
• Reforma do sistema de atribuição de notas,
cia, já conseguiram algum sucesso na combi-
passando de um sistema baseado em normas
nação de alta qualidade de desempenho com
para um sistema baseado em objetivos.
níveis relativamente altos de oportunidades
• Maior liberdade para que as escolas interpre- educacionais. Entre os esforços para promover
tem e contextualizem o currículo nacional. tais resultados nos países analisados estão:

20
Estratégias para inovação e reforma no sistema escolar CAPÍTULO 2

- Maior apoio a estudantes com fraco de- as escolas ainda operam sob certas restrições,
sempenho. ou continuam não exercendo plena auto-res-
ponsabilidade. Na Inglaterra, por exemplo, o
- Alterações nas estruturas e na prática de
governo central assumiu um papel rigoroso no
gerenciamento.
controle de programas de ação e sanções para
- Recursos diferenciados (por exemplo, na escolas com baixo desempenho. Na Finlândia
França), de acordo com o status socioeconô- e na Holanda, verificou-se periodicamente um
mico da clientela que vive na área atendida retorno à tradicional formulação centralizada
pela escola. de planos, com definições mais precisas de
objetivos educacionais. Em princípio, existe
- Concorrência e sanções para escolas para
tipicamente uma divisão entre um Estado
promover melhor desempenho (na Ingla-
terra). central, que define objetivos e monitora resul-
tados, e governança e controle locais atuando
- Diferenciação de cursos disponíveis para sobre processos escolares. Embora esta seja
estudantes com necessidades especiais (na claramente a orientação geral de reformas
Finlândia e na França). em sistemas educacionais bem-sucedidos, a
Embora nenhuma medida possa, isola- dicotomia nem sempre se mostra com nitidez,
damente, ser vista como uma chave para o e existem muitas áreas mal definidas.
sucesso, esses países demonstraram que alguns • Um foco na melhoria da qualidade, es-
instrumentos poderosos estão disponíveis pecialmente em termos de melhor desem-
para promover eqüidade em combinação com penho do estudante, está intimamente
qualidade educacional. alinhado com a autonomia da escola.
• Registrou-se um movimento geral em Em todos os países adotados como refe-
direção à descentralização, mas isso não rência, os esforços no sentido de melhorar
significou a desvinculação do governo a aprendizagem – e, conseqüentemente, o
central com relação ao interesse em re- desempenho dos estudantes – vêm sendo
sultados educacionais.
orientados a partir do centro, porém são
Como será descrito mais detalhadamente implementados pelas escolas. Um aspecto
no capítulo 3, os sistemas escolares vêm sendo da auto-responsabilidade das escolas pelo
administrados e governados em níveis mais desempenho é reforçado pela auto-ava-
independentes do que ocorria no passado, liação, assim como pela responsabilização
tendo sido transferidos do estado central para pelos resultados de avaliações externas que
as escolas e as autoridades locais o gerencia- vêm a público. Com exceção da França,
mento e a administração financeira, em par- nos demais países foram criados padrões
ticular. Mesmo assim, na maioria dos países, de desempenho, ou padrões já existentes

21
CAPÍTULO 2 Fatores que interferem no desempenho das escolas

foram ampliados para preencher o escopo Nos seis países, deu-se atenção especial a
dos esforços de reforma. De maneira geral, medidas visando alcançar melhorias integradas
esses padrões integram um currículo obri- no ensino e na aprendizagem desde o nível
gatório ou básico. Padrões nacionais podem primário, e incluindo a aquisição de compe-
ser definidos não só para estudantes, mas tência na língua materna (leitura e escrita),
também para professores (por exemplo, matemática e ciências naturais/tecnologia
na Inglaterra). Mecanismos de avaliação de informação (com exceção da Suécia). Um
externa incluem programas de aplicação de segundo conjunto de medidas visa a melhorias
testes, inspeções/supervisões que resultam da educação pré-escolar, seja por meio da ex-
em relatórios sobre as instituições, e exames pansão da oferta de educação pré-escolar em
finais. As informações coletadas são utili- nível nacional para todas as crianças entre 3 e
zadas não só para a responsabilização, mas 5 anos de idade (por exemplo, na França), seja
também para apoiar medidas específicas para por meio da criação de locais pré-escolares
o desenvolvimento das escolas. Um aspecto para todas as crianças com quatro anos de
essencial dessas respostas é a ampliação da idade que vivem em áreas socialmente carentes
flexibilidade do sistema escolar, que leva (na Inglaterra). Esses esforços garantem que
os diretores a buscar respostas adequadas todas as crianças iniciem sua escolarização em
para cada escola. condições de igualdade.

22
Capítulo
3

TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADES
PARA AS ESCOLAS

E stratégias de transferência
e pela avaliação dos estudantes. Com exceção
de Alemanha, Itália e Suíça, nos demais paí-
ses a maioria dos jovens de 15 anos de idade
Desde o início da década de 80, os países vêm
também está matriculada em escolas que têm
aumentando a autonomia das escolas em relação
autonomia para decidir sobre os cursos a serem
a uma ampla faixa de operações institucionais, oferecidos.
visando elevar os níveis de desempenho por
meio de transferência de responsabilidades à Em outras áreas, o quadro é mais heterogê-
linha de frente, e estimulando o atendimento neo. Por exemplo, em alguns países (incluindo
às necessidades locais. Na maioria dos países Holanda e Reino Unido, analisados neste estu-
que apresentaram bons resultados no PISA do), as escolas têm graus relativamente altos
2000, autoridades locais e escolas têm atual- de liberdade na formulação de orçamentos;
mente considerável liberdade para adaptar e por outro lado, Alemanha e Áustria relatam
implementar conteúdos educacionais e/ou que há pouco envolvimento de escolas nesta
para alocar e gerenciar recursos. A pesqui- tarefa. Na maioria dos países, as escolas têm
pouco poder de decisão quanto à determinação
sa mostra também que, em todos os países
de salários de professores ou sua contratação
da OCDE, a maioria das escolas tem alguma
ou demissão.
responsabilidade pela admissão de estudantes
e pela maneira como os recursos financeiros A distribuição de responsabilidades sobre
são utilizados, e são responsáveis pela disciplina tomadas de decisão afeta o desempenho do
CAPÍTULO 3 Fatores que interferem no desempenho das escolas

estudante? Em determinados países, os estu- central é responsável pela determinação de


dantes que freqüentam escolas com maior grau cerca de 80% do conteúdo curricular. Entre-
de autonomia tendem a apresentar melhor tanto, as autoridades locais são responsáveis
desempenho. No entanto, essa relação é menos pela administração escolar, pela contratação
visível em países como a Inglaterra, onde uma de professores e, em alguns casos, pelo le-
única administração central determina, em vantamento de recursos para a educação. Na
grande medida, o grau de autonomia de todas década de 90, algumas províncias retomaram
as escolas, havendo, portanto, menor variação. a centralização de determinadas competências
Nos países que participaram do PISA, há uma fundamentais – por exemplo, o desenvolvi-
relação clara e positiva entre desempenho e mento do currículo, que havia sido transferido
determinados aspectos de autonomia – mais para as autoridades locais na década de 60.
visível no que diz respeito à opção pelos cursos
Em algumas províncias, no entanto, são
oferecidos, e, em menor medida, quanto à
empreendidos esforços consideráveis para
alocação orçamentária.
transferir a responsabilidade para autoridades
Nos países que participaram do PISA, a locais e escolas. Por exemplo, escolas e mu-
transferência foi implementada de muitas nicipalidades podem ser solicitadas a realizar
formas diferentes, com ênfase em diferen- auto-avaliações e subseqüentemente delinear
tes aspectos de autonomia, conforme o país planos de ação para melhorar a qualidade da
– em alguns casos, liberdade para desenvolver escolarização. Em Ontário, as escolas são
conteúdo educacional, e em outros, geren- solicitadas a desenvolver planos de melhorias
ciamento e administração de escolas. Como com base em indicadores que podem ser, por
resultado, alguns países apresentados neste exemplo, os resultados de avaliações amplas
estudo mantiveram rígido controle central do desempenho dos estudantes, no nível da
sobre algumas áreas de educação, transferindo província.
o controle sobre outras.
Nos últimos anos, a Inglaterra passou
Exemplos de esforços de transferência
por uma “revolução” na distribuição de res-
O Canadá tem um sistema federativo, ponsabilidades, abandonando o modelo cen-
havendo apenas um papel indireto assumido trado em autoridades educacionais locais,
pelo governo federal e um modelo geral cen- responsáveis pelo provimento da escolariza-
tralizado de governança educacional dentro ção e pela formulação do currículo em cada
de cada província ou território. Ministros área. O novo sistema, criado na década de
das províncias determinam a estrutura para 90, transferiu competências tanto “de cima
o provimento de serviços educacionais, esta- para baixo” – para as escolas, tornando-as
belecem padrões educacionais e interferem “fornecedoras” autônomas – como “de baixo
na avaliação e no planejamento. A autoridade para cima” – para as autoridades centrais,

24
Transferência de responsabilidades para as escolas CAPÍTULO 3

responsáveis pela determinação de padrões. sobre atividades operacionais. No entanto,


Atualmente, o currículo nacional constitui por serem baseadas em objetivos nacionais,
o elemento fundamental do sistema, de- a posição e a importância dos procedimentos
terminando padrões altamente detalhados, de verificações e avaliação foram fortalecidas.
assim como metas de desempenho medidas O Ministério da Educação e o Conselho Nacio-
por meio da aplicação regular de testes aos nal de Educação criaram um currículo central
estudantes, em nível nacional. Com o geren- – abrangendo as disciplinas comuns que devem
ciamento e a governança de escolas, em nível ser estudadas e metas nacionais para aprendiza-
local, e a maior parte dos recursos financeiros gem – e especificaram o número de aulas e os
alocados para escolas de forma proporcional critérios de avaliação para as principais disci-
às matrículas, cada escola atua com alto nível plinas na educação primária e nas séries iniciais
de autonomia operacional. da educação secundária (“educação básica”).
O Estado também financia as escolas, tratando
Autoridades educacionais locais são res-
em igualdade de condições tanto instituições
ponsáveis principalmente pela administração
públicas como instituições privadas.
do sistema como um todo, estabelecendo pla-
nos locais e contribuindo para o financiamen- Entretanto, as municipalidades determi-
to da escola por meio de impostos locais. As nam metas educacionais locais e programas
agências centrais têm alguns instrumentos para para a educação básica, cabendo às próprias
manter os padrões, que incluem: especificação escolas um papel mais importante em relação
de disciplinas e detalhes do conteúdo que vai às séries finais da educação secundária.As auto-
ser ensinado no currículo nacional; elabora- ridades locais são responsáveis principalmente
ção de testes padronizados para avaliação de pelo recrutamento de professores e analisam
realizações educacionais; e inspeção direta a qualidade das escolas individualmente, por
de cada escola. Um instrumento especial utili- meio de avaliações externas e internas.
zado para atingir a melhoria de qualidade pre-
Na França, o Ministério da Educação é
tendida no sistema escolar envolve a atribuição
o órgão central responsável pela garantia de
do status de “guia”, concedido publicamente a
oportunidades iguais para os estudantes, ofe-
determinadas escolas: para merecer essa dis-
recendo padrões educacionais uniformes em
tinção, as escolas devem destacar-se por meio
todo o país. Nos últimos anos, foi atribuída
de altos níveis de desempenho.
maior responsabilidade às autoridades regio-
Nas décadas de 80 e 90, a Finlândia nais e locais, o que significa, por exemplo,
transferiu para municipalidades locais as atri- que Academies que administram escolas nos
buições de administração escolar que ante- níveis regional e sub-regional podem atual-
riormente cabiam ao estado. Atualmente, as mente designar professores para cada escola.
escolas podem tomar suas próprias decisões As autoridades locais também assumiram um

25
CAPÍTULO 3 Fatores que interferem no desempenho das escolas

papel importante no levantamento de fundos estabelecido pela autoridade central, que defi-
para a educação, contribuindo com 20% dos ne as habilidades e os conhecimentos exigidos.
recursos. O currículo nacional – instrumen- Os municípios são responsáveis por projetos
to governamental central do Estado fran- de construção de escolas e por serviços de
cês – não foi afetado pela descentralização. orientação, assim como pela redistribuição
O processo de avaliação envolve também or- de recursos financeiros para equilibrar de-
ganismos nacionais ou regionais subordinados, sigualdades, tanto para escolas não-públicas
responsáveis pela supervisão disciplinar e es- como para escolas municipais em sua área.
pecializada. Os inspetores, que se reportam ao Os orçamentos escolares são estabelecidos de
Ministério da Educação, são responsáveis pela acordo com o número de estudantes, e não
supervisão permanente do sistema educacio- estão condicionados ao desempenho.
nal, e a atribuição de contratar e remunerar
A Suécia tem três níveis de tomada de
professores continua cabendo ao Ministério
decisão, entre os quais ocorreram amplas
da Educação.
transferências em 1991. No nível nacional,
Na Holanda, as escolas são mantidas Parlamento, Ministério da Educação e Agên-
pelos municípios ou por organizações parti- cia Nacional para Educação estabelecem
culares, sejam elas religiosas ou educacionais diretrizes gerais. Os municípios decidem
– todas igualmente subsidiadas pelo Esta- como os objetivos contidos nessas diretri-
do. Ao longo dos últimos anos, o governo zes serão implementados, e são totalmen-
transferiu responsabilidades para organismos te responsáveis pela administração e pelos
mantenedores de escolas e para as próprias recursos financeiros. São responsáveis pela
escolas. Uma vez que o papel do governo está implementação de um planejamento de longo
focalizado no provimento de uma estrutura prazo para garantir a manutenção de padrões
para educação de boa qualidade, as escolas adequados de provimento educacional. As
ganharam maior autonomia quanto a gastos escolas são responsáveis pela interpretação e
e operações, porém devem obedecer a nor- pela implementação do currículo para atin-
mas nacionais com relação ao desempenho. gir objetivos nacionais. Neste sistema, são
O Ministério da Educação estabelece diretri- elementos fundamentais os planejamentos
zes para um currículo geral e para objetivos individualizados de trabalho (locais), ela-
de aprendizagem, assim como programas de borados pelas escolas, e os planejamentos
exames. Na educação primária e nas séries escolares, elaborados pelas municipalidades.
iniciais da educação secundária, as escolas Na prática, porém, os municípios governam
têm maior autonomia para gerenciar seus a administração escolar em graus variados:
currículos. Para o currículo das séries finais em alguns casos, as determinações vêm “de
da educação secundária, as escolas devem cima para baixo”; em outros casos, há muito
seguir rigorosamente o programa de exames menos interferência.

26
Transferência de responsabilidades para as escolas CAPÍTULO 3

Semelhanças e diferenças em estratégias de uma transferência da responsabilidade pelo


de transferência
estabelecimento de objetivos curriculares
Embora a tendência geral tenha sido no detalhados e conteúdos anteriormente elabo-
sentido da descentralização, não há um mo- rados pela autoridade central. Na Finlândia e
delo comum em relação a quais poderes são na Suécia, as escolas não têm permissão para
exercidos nos diferentes níveis do sistema modificar o currículo nacional, porém têm
de governança. Mesmo naqueles países que total autonomia com relação aos cursos que
claramente transferiram a tomada de decisão, oferecem. Na Holanda, por outro lado, cada
as formas de transferência foram diferentes. escola é livre para determinar seu próprio
Na Suécia, as responsabilidades foram trans- currículo, devendo obedecer apenas ao nú-
feridas às municipalidades como organismos mero determinado de horas de ensino para
mantenedores de escolas. Na Finlândia, as cada disciplina específica.
responsabilidades foram transferidas da mes-
Com relação à administração prática de
ma maneira a esse tipo de organismo, porém
escolas e à governança de currículos, é evi-
em maior grau do que na Suécia, e também às
escolas individualmente. Na Holanda, a admi- dente que a Inglaterra deve ser caracteri-
nistração foi transferida tanto para organismos zada como um caso especial. Nesse país,
mantenedores públicos como privados, de a administração de cada escola foi quase
acordo com a tradição holandesa de dar aos totalmente transferida do nível descentra-
pais liberdade considerável para optar pela lizado dos organismos mantenedores para
escola de seus filhos. Na Inglaterra, um regi- as próprias instituições educacionais. Entre-
me de governança orientado para o mercado tanto, a governança do currículo foi retirada
delegou mais decisões às escolas, reduzindo de cada escola e transferida para o governo
o alto grau de fiscalização educacional e de central, juntamente com a responsabilidade
tomada de decisões anteriormente praticado pela avaliação externa regular. Esse sistema
pelas autoridades locais. baseia-se em uma filosofia de mercado, em
que o comportamento dos fornecedores
Aparentemente, certo grau de direção é condicionado por regras centralizadas e,
centralizada do currículo constitui uma ca-
principalmente, por um currículo imposto
racterística comum; na prática, essa centra-
pela autoridade central.
lização ocorreu de forma bastante diferente
entre os países. Enquanto o Estado francês Nesses países, são distintas também as es-
detém rigoroso controle sobre o currículo, truturas utilizadas para supervisionar a ade-
na Finlândia, na Holanda e na Suécia a res- quação aos objetivos de desempenho esta-
ponsabilidade é centralizada apenas quanto à belecidos pelos currículos. Na Finlândia, as
determinação de critérios gerais que devem inspeções são realizadas principalmente em
ser seguidos no nível descentralizado.Trata-se escolas e em mantenedoras escolares que

27
CAPÍTULO 3 Fatores que interferem no desempenho das escolas

desenvolvem auto-avaliações. Na Holanda e na de sistemas de governança orientados para o


Inglaterra, sistemas vigorosos de inspeção pelo mercado existentes nesses países, onde recur-
Estado são responsáveis pela supervisão – uma sos financeiros são baseados nos orçamentos
situação que novamente modifica o princípio por estudante para cada escola.

28
Capítulo
4

MONITORAMENTO DO SISTEMA

P adrões de desempenho somente funcio-


nam se implementados e avaliados de ma-
neira consistente. Avaliações de desempenho
instrumentos utilizados variam amplamente,
tanto entre países quanto dentro de cada um
deles. Os métodos empregados nos países da
dos estudantes atualmente são comuns em OCDE incluem diferentes formas de avaliação
muitos países da OCDE, e, com freqüência, externa, análises ou inspeções externas, assim
os resultados são amplamente divulgados e como compromisso das próprias escolas com
utilizados tanto em debates públicos quanto a qualidade e esforços de auto-avaliação.
por pessoas interessadas no aprimoramento da
escola. Além disso, o desempenho vem sendo As opiniões diferem com relação à maneira
monitorado progressivamente pelos países, como os resultados de análises e avaliações
de acordo com normas internacionais, por podem e devem ser utilizados. Há quem os
meio de diversas avaliações transnacionais. veja fundamentalmente como instrumentos
Essas avaliações incluem o PISA e os estudos para revelar as melhores práticas e identifi-
TIMSS – Tendências no Estudo Internacional car problemas comuns, com o objetivo de
de Matemática e Ciências – e PELL – Pro- encorajar professores e escolas a melhorar
gressos no Estudo Internacional sobre Letra- e a desenvolver ambientes de aprendizagem
mento em Leitura –, ambos desenvolvidos produtivos, oferecendo melhores condições
pela Associação Internacional para Avaliação de apoio. Outras ampliam seus objetivos para
de Desempenho Educacional (ADE). No en- apoiar a concorrência entre serviços públicos
tanto, as bases das pesquisas nacionais e os ou os mecanismos de mercado na alocação de
CAPÍTULO 4 Fatores que interferem no desempenho das escolas

recursos – por exemplo, por meio da divulga- diversas províncias vêm aplicando testes em
ção de resultados comparativos de escolas, para crianças de diferentes idades, mas a orientação
facilitar a escolha dos pais, ou da adequação desses testes é variada. Em Alberta, por exem-
dos recursos às necessidades dos estudantes. plo, os testes estão atrelados ao currículo em
vigor, enquanto em Ontário o teste principal
Desta maneira, o tipo de referência utili-
trata de habilidades básicas. Os resultados de
zado e apresentado tem implicações impor-
avaliações provinciais podem ser relatados nos
tantes para as diversas pessoas interessadas,
níveis da província, do distrito, da escola e do
inclusive pais, professores, escolas e estu-
dantes. São apresentados a seguir alguns dos estudante. Diferentes províncias relatam seus
principais métodos de monitoramento obser- resultados de formas variadas. Por exemplo,
vados em cada um dos seis países envolvidos o Conselho Escolar do Distrito de Toronto
neste estudo. publica anualmente resultados de testes jun-
tamente com dados demográficos para 459
Monitoramento de sistema nos países
adotados como referência
escolas primárias. Um Programa de Indica-
dores de Realizações Escolares desenvolvido
No Canadá, estudos comparativos de em nível nacional analisa o desempenho de
escolas, realizados nos últimos anos, acom- uma amostra de estudantes em matemática,
panharam um aumento do interesse público ciências ou leitura/escrita, testando cada uma
pela qualidade do sistema de ensino. O Canadá dessas áreas a cada quatro anos, em ciclos.
tem uma tradição consideravelmente longa Devido à natureza aleatória da amostragem,
de participação em estudos comparativos as escolas, individualmente, não recebem
internacionais. Algumas vezes, esses estudos retorno com relação a esses testes.
são ampliados para gerar melhores compara-
ções entre as províncias – como ocorre com Na Inglaterra, a década de 90 presenciou
o TIMSS – ou para acompanhar estudantes ao o desenvolvimento de inspeções no nível da
longo do tempo – como no caso da Pesquisa escola, a aplicação de testes aos estudantes,
sobre a Juventude em Transição no Canadá, com base no currículo nacional, e a publicação
que faz o acompanhamento do PISA. sistemática de resultados de testes e exames
realizados em cada escola. O monitoramento
De maneira geral, dentro do Canadá, es-
do sistema por meio da participação em diver-
tudos comparativos em larga escala sobre
sos estudos internacionais tem uma tradição
escolas foram bem recebidos pelo público,
mais longa, ocorrendo desde os primeiros
mas foram combatidos por muitos sindicatos
estudos internacionais sobre matemática e
de professores, que temem que tais estudos
ciências realizados pela ADE.
venham a ser utilizados para julgar o desem-
penho individual de seus profissionais e para Em grande parte, o monitoramento na-
restringir o currículo. Desde a década de 90, cional cabe à Autoridade de Qualificações e

30
Monitoramento do sistema CAPÍTULO 4

Currículo – responsável por definir e moni- implementada. Resultados de testes indicam


torar padrões recomendados nacionalmen- se estudantes estão alcançando as expectativas
te – e à Agência para Padrões na Educação de desempenho em um padrão uniforme.
(OFSTED) – que supervisiona inspeções regu- Um tema de estudo específico abrange as
lares em cada escola.AAgência de Capacitação diferenças de desempenho entre escolas, com
de Professores também é responsável pelo o objetivo de direcionar apoio às escolas com
desenvolvimento de padrões entre os pro- desempenho insatisfatório. Professores e dire-
fessores. A cada ano, informações a respeito tores também são envolvidos nas avaliações,
de todo o sistema acompanham um relatório cuja ênfase muda continuamente, focando
anual da OFSTED, baseado em inspeções es- a cada momento tópicos diferentes. Desta
colares. A publicação anual de resultados de forma, o sistema de avaliação é visto como
testes e exames realizados em cada escola gera uma ferramenta voltada a auxiliar no apri-
impacto substancial, tanto nas escolas quanto moramento das escolas, e não simplesmente
na percepção que o público tem delas. tornar públicos desempenhos fracos.

As constatações geradas pelos resultados de A Finlândia também participou de uma sé-


inspeções a escolas também são utilizadas para rie de testes empíricos internacionais. Avalia-
promover técnicas particularmente eficazes ções nacionais confirmaram parcialmente esse
para o ensino de compreensão de texto e de ha- resultado, mas tendem a encontrar fragilidades
bilidades matemáticas. Este fato influenciou de mais significativas – por exemplo, em escrita,
maneira significativa o trabalho de professores conhecimento lingüístico e matemática – do
na sala de aula. Avaliações nacionais também que sugere o bom desempenho internacional
estão relacionadas a pesquisas internacionais recente do país. Embora o PISA tenha mostra-
sobre eficácia escolar e a estudos interna- do que o baixo desempenho atinge um número
cionais, tais como o PISA. Segundo estudos relativamente pequeno de estudantes finlan-
internacionais, um aspecto particular que afeta deses, o país procura responder à sua própria
o desenvolvimento do sistema inglês é o desejo visão pessimista da atitude de seus estudantes
de reduzir a disparidade relativamente grande com relação a avaliações de aprendizagem e
entre os resultados de estudantes provenientes com relação a si mesmos.
de diferentes backgrounds sociais.
Na França, decisões administrativas e rela-
Na Finlândia, estudos e avaliações visam cionadas ao ensino baseiam-se em constatações
garantir o cumprimento de diretrizes e deci- de estudos empíricos. Uma distinção funda-
sões estabelecidas pela administração política mental é estabelecida entre estudos de diag-
e/ou pelo currículo nacional. As pessoas nóstico e de monitoramento de sistema. Desde
responsáveis por essa tarefa devem deter- 1989, testes de diagnóstico permitiram aos
minar se a política efetivamente está sendo professores avaliar estudantes individualmente

31
CAPÍTULO 4 Fatores que interferem no desempenho das escolas

e forneceram elementos sobre suas práticas educação, entregue ao parlamento.A inspeto-


profissionais de ensino. Neste caso, é possível ria também monitora escolas individualmente.
analisar a maneira como estudantes respondem Durante essas inspeções, são consultadas pes-
a perguntas – correta ou incorretamente – en- soas com diferentes níveis de interesse – de pais
quanto se realiza uma avaliação. Por outro lado, e professores a especialistas e representantes
estudos de monitoramento de sistema conduzi- de organizações educacionais. O monitora-
dos pelo Ministério da Educação visam avaliar o mento regular do desempenho e da qualidade
sistema educacional como um todo. Esses testes de ensino de cada escola é baseado em uma
são utilizados para desenvolver o sistema ao ampla variedade de critérios e indicadores
longo do tempo e avaliar o sucesso de inovações. estabelecidos, tais como desempenho do es-
Os resultados de diversos estudos interna- tudante e taxas de evasão, aspectos de sistemas
cionais dos quais a França participa também de ensino e de apoio aos alunos. Ao publicar
fornecem elementos para este processo. esses relatórios sobre escolas, a inspetoria
fornece também informações contextuais
Tanto um banco de dados de material de
referentes ao background socioeconômico dos
testes de diagnóstico quanto resultados agrega-
estudantes. Cada escola é incitada a informar
dos de estudos nacionais de diagnóstico foram
aos pais tanto sobre a escola quanto sobre o
colocados à disposição dos professores fran-
nível de desempenho alcançado.
ceses na Internet. Recentemente, o interesse
público por esses resultados e por informações O interesse crescente em qualidade da
relativas à eficácia do sistema escolar levou a educação levou ao aumento de agrupamen-
mídia a publicar classificações dos resultados tos de inspeções e de sua freqüência. Por
individuais de escolas secundárias (lycées). exemplo, o projeto de pesquisa PRIMA – um
Essas informações foram criticadas por não co- estudo longitudinal multigrupal sobre esco-
municar nem quantos estudantes abandonam las primárias – investiga o desempenho no
a escola antes de concluí-la, nem informações contexto do ambiente social e das atitudes
contextuais sobre o background dos estudantes. de estudantes.
É por essa razão que informações referentes a
Estudos internacionais, como o Tercei-
background social de nível escolar são relatadas
ro Estudo Internacional sobre Matemática
pelo Ministério.
e Ciências (TIMSS) e o PISA, também são
Na Holanda, uma instituição governa- levados em consideração quando a Holanda
mental – a inspetoria escolar – tem respon- monitora seu sistema. O bom desempenho dos
sabilidade explícita sobre o monitoramento estudantes holandeses no TIMSS é atribuído,
do sistema de educação. Inspetores informam entre outras razões, ao fato de terem sido bem
sobre diferentes aspectos do sistema educacio- preparados para o teste por meio de instru-
nal em um relatório anual sobre a situação da ção com enfoque pedagógico construtivista,

32
Monitoramento do sistema CAPÍTULO 4

tornando-se capazes, dessa forma, de resol- envolvidos nesse estudo confere grande im-
ver especialmente bem tarefas direcionadas à portância à manutenção de seus padrões de
resolução de problemas. monitoramento, de acordo com referências
nacionais e internacionais. Os países apresen-
Na Suécia, todas as pesquisas educacionais
tam diferenças e semelhanças com relação às
levam em consideração o objetivo fundamental
suas abordagens ao monitoramento de siste-
que orienta as políticas: oferecer as mesmas
mas, em termos de objetivos, ferramentas
oportunidades educacionais a todas as crian-
de monitoramento utilizadas e maneira de
ças, independentemente de seu gênero, local
publicar ou divulgar suas constatações.
de residência ou circunstâncias econômicas.A
Suécia tem uma longa tradição na participação Países têm diversos motivos para monito-
em estudos internacionais de monitoramento rar seu desempenho. Todos procuram utilizar
de sistemas e no desenvolvimento de estudos as constatações de avaliações para manter ou
comparativos entre países. Atualmente, esses aumentar a qualidade de seus sistemas educa-
estudos são complementados por um siste- cionais, e para obter estruturas de referência
ma de inspeção introduzido recentemente, com respaldo empírico para comparar com os
um sistema nacional de testes e um sistema desempenhos de indivíduos, escolas e de todo
nacional de avaliação, que inclui acompanha- o sistema educacional. No entanto, além disso,
mento. A Agência Nacional para a Educação muitas possíveis funções do monitoramento
é responsável por esses instrumentos. de desempenho são enfatizadas em diferen-
tes níveis em diferentes países. Em um país
Tanto resultados de avaliações nacionais federativo com sistemas escolares autônomos,
quanto notas, resultados de testes e outras como o Canadá, estudos desenvolvidos em
informações provenientes de monitoramentos nível nacional oferecem comparações através
nacionais são publicados anualmente. Esta- de províncias. Na Finlândia e na Suécia, for-
tísticas específicas são preparadas para cada muladores de políticas têm como foco prin-
escola e publicadas em um site. cipal a utilização de avaliações para garantir
A resposta a resultados insatisfatórios é que os estudantes recebam oportunidades
centrada no apoio a estudantes mais fracos para iguais de educação, independentemente de
seu background. Na França, testes empíricos são
que alcancem padrões nacionais. A política
desenvolvidos para garantir que o desempenho
sueca de igualdade de oportunidades garante
dos estudantes alcance o nível esperado e que
atenção especial a esses estudantes.
professores ofereçam apoio com a qualidade
Semelhanças e diferenças em necessária. Na Inglaterra e na Holanda, inspeto-
monitoramento de sistemas
rias vinculadas ao governo oferecem às escolas
Como parte de sua estratégia para garan- informações que podem ajudá-las a melhorar,
tir bons desempenhos, cada um dos países mas também enfatizam consideravelmente

33
CAPÍTULO 4 Fatores que interferem no desempenho das escolas

o acesso às suas constatações para as pessoas abordagem diferenciada: separa a aplicação


interessadas, aumentando, dessa forma, a res- de testes de diagnóstico do monitoramento de
ponsabilidade das escolas. sistema. De um lado, professores encontram
ferramentas para reconhecer pontos fortes
Os países aqui apresentados dispõem de
e fracos específicos de estudantes, e para
diversas ferramentas de monitoramento.
reconhecer o potencial para desenvolver
Todos os países adotados como referência
sua própria atividade de ensino; de outro
têm experiência considerável com estudos
lado, estudos distintos, cujas constatações
comparando desempenho de estudantes atra-
são acessíveis ao público, registram os níveis
vés de sistemas, e a maioria deles participa
de desempenho das instituições.
atualmente de, no mínimo, três grandes
estudos: o PISA e o TIMSS, sobre matemá- Todos os países publicam os resultados
tica e ciência; e o PELL, sobre letramento de avaliações de sistemas escolares, mas há
em leitura. Juntamente com esses estudos diferenças na maneira como fazem essa publi-
comparativos, todos os países dispõem de cação, o que se deve, em parte, a diferenças
sistemas para conduzir avaliações em larga- na elaboração de instrumentos de avaliação.
escala dentro de seus territórios. No Canadá, No Canadá, por exemplo, províncias relatam
essas avaliações podem ser realizadas tanto seus resultados em diversos níveis – desde o
dentro das províncias quanto através de todo nível das províncias até o nível de cada es-
o país. Países diferentes combinam funções de tudante (em pesquisas de amostra aleatória,
diagnóstico e de monitoramento de sistema o nível do estudante e, por vezes, o nível da
de maneiras diferentes. Na Finlândia e na escola não são adequados).Tanto a Inglaterra
Suécia – países onde a responsabilidade foi quanto a França publicam as constatações de
descentralizada, mas onde agências nacionais testes no formato mais acessível possível,
têm a função de manter oportunidades iguais como um meio de pressionar o sistema escolar
através de todo o sistema –, essas agências dão a melhorar. Na França, porém, grande parte
ênfase não apenas ao processo de avaliação, da ênfase está no nível do sistema educacional
mas também a medidas para lidar de maneira como um todo (embora esta situação esteja
construtiva com quaisquer problemas que mudando), enquanto na Inglaterra resultados
venham a identificar. Sistemas de inspeção escolares individuais são particularmente
na Inglaterra e na Holanda não são utilizados enfatizados. Independentemente das propor-
apenas para manter a responsabilidade das ções em que as constatações são colocadas à
escolas por seus padrões, mas também para disposição do público, verifica-se um padrão
oferecer informações que possibilitem seu geral nos países examinados: o desenvolvi-
próprio aprimoramento. Essas inspeções mento de mecanismos para feedback para cada
buscam estabelecer relações com pesquisas escola, de modo a ajudá-las a pensar sobre
sobre eficácia escolar. A França adota uma seu aprimoramento.

34
Capítulo
5

ORGANIZAÇÃO DE SISTEMAS DE APOIO

P ara que se tornem “organizações de


aprendizagem”, as escolas necessitam
de fortes sistemas de apoio – serviços insti-
das em cada escola e para equipes escolares.
Mais especificamente:
- Orientação externa de escolas, inclusive os
tucionalizados voltados ao aprimoramento
papéis de inspetorias escolares e de redes
da qualidade escolar. Esses sistemas podem
escolares.
apoiar os esforços individuais de estudantes
e professores, de escolas inteiras e de seus - Capacitação de professores em serviço – in-
administradores, e de organizações de siste- clusive organização e finanças –, capacitação
mas escolares e de manutenção de escolas. É específica para administradores, e análise
possível diferenciar sistemas de apoio dirigi- dos maiores desafios enfrentados atualmen-
dos a estudantes individuais – inclusive estu- te pela capacitação em serviço.
dantes em condições particularmente pouco
favorecidas ou com necessidades especiais
- Relação entre sistemas de apoio e qualidade
escolar.
– de sistemas relacionados às necessidades
de escolas e professores, e do sistema escolar Sistemas de apoio nos países adotados
como referência
como um todo. O capítulo 7 deste relatório
trata da organização de processos educacio- No Canadá, autoridades locais e das
nais dentro das escolas, e o capítulo 8 aborda províncias normalmente financiam serviços
a integração de estudantes imigrantes. Este profissionais, enquanto orientadores escolares
capítulo focaliza estruturas de apoio realiza- municipais agregam as pessoas interessadas.
CAPÍTULO 5 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Dentro da estrutura das iniciativas que mediante contrato com o Ministério da Edu-
visam ao aprimoramento da escola no Ca- cação. Os incentivos para a participação em
nadá, resultados de testes ajudam a fornecer tais capacitações podem envolver aumentos
para as escolas não apenas informações para de salários.
que monitorem seu próprio desenvolvimen-
Muitas reformas educacionais no Canadá
to, mas também evidências de resultados
baseiam-se em “instrução direcionada para a
alcançados em outros locais. Programas de
mensuração”, sendo desenvolvida uma for-
desenvolvimento escolar freqüentemente
matação dos resultados de testes visando ao
são mantidos – tanto financeira quanto con-
desenvolvimento escolar. No entanto, não há,
ceitualmente – por governos das províncias,
aparentemente, nenhum estudo que relate
e envolvem a participação de administrado-
os efeitos gerais de tais iniciativas sobre o
res, professores, representantes da munici-
desempenho, ou os efeitos de organizações
palidade e pais. Em alguns casos, equipes de
de orientação sobre a qualidade escolar.
desenvolvimento escolar operam dentro de um
distrito escolar, reunindo diversas pessoas Na Inglaterra, os esforços do governo
interessadas, e visando a suas sugestões para nacional visando ao estabelecimento de metas
o gerenciamento escolar. elevadas e desafiadoras para a qualidade e o
estabelecimento de padrões para cada escola
Por todo o país, autoridades de províncias
dependem de sistemas de apoio consistentes.
e municípios priorizam consideravelmente o
Esses sistemas estão intimamente ligados a
desenvolvimento profissional de professores e
sistemas de governo e inspeção. As tarefas de
dedicam recursos para essa atividade, focali-
apoio ficaram a cargo dos vários setores: no
zando de maneira especial sua aprendizagem
nível nacional, o Departamento para Educação
autodirigida. Autoridades de universidades e
e Habilidades (Department for Education and
de escolas estão intimamente envolvidas com
Skills – DfES) e a Agência para Padrões na
a oferta dessa capacitação. “Dias de desenvol-
Educação (Office for Standards in Education
vimento profissional” programados para o ano
– OFSTED); e, no nível local, instituições
letivo não visam apenas capacitar equipes em
educacionais locais e conselhos escolares.
cada escola, mas também realizar diversas
Recentemente, a importância crescente do es-
atividades de desenvolvimento escolar. Ins-
tabelecimento de redes e da difusão de expertise
talações para a capacitação de funcionários
entre escolas passou por um aumento brutal,
recém-qualificados são desenvolvidas com
causado pela expansão de escolas secundárias
cuidado especial, e comitês de motivação
com perfis especializados.
determinam os programas, de acordo com
as necessidades avaliadas. Outra forma de Tanto o DfES quanto o OFSTED desen-
desenvolvimento de equipe são os cursos volvem mecanismos centrais externos, utili-
de verão das universidades, freqüentemente zando resultados de inspeções em cada escola

36
Organização de sistemas de apoio CAPÍTULO 5

e instrumentos elaborados para promover No novo modelo de governança escolar


determinadas áreas de competência dos es- finlandês – “governança por meio de in-
tudantes – inclusive a Estratégia Nacional formação” –, instituições responsáveis pela
em Letramento e a Estratégia Nacional em avaliação recebem funções de apoio essenciais.
Operações com Números.Autoridades locais Essas funções variam desde o desenvolvimen-
de educação oferecem apoio a escolas antes to de um modelo que permita que escolas
e depois da inspeção, e a agência de governo desenvolvam auto-avaliação, elaborado pelo
desenvolve um plano de ação pós-inspeção Conselho Nacional de Educação, até avaliações
para gerar melhorias nas áreas deficientes. e apoio em nível municipal.
O surgimento de escolas secundárias espe-
A capacitação em serviço envolve muni-
cializadas tem facilitado a criação de redes
cipalidades, instituições governamentais das
escolares, por meio das quais administradores
escolares e equipes de ensino trocam expe- províncias, o Conselho Nacional de Educa-
riências e expertise. Escolas que apresentam ção, universidades e organizações docentes.
fraco desempenho educacional estão sujeitas Em parte, os cursos são ministrados durante
a medidas especiais de apoio por parte do as férias de verão, mas algumas vezes os pro-
governo central, respaldadas por sanções, caso fessores perdem o estímulo, por terem de
a melhoria requisitada não ocorra. arcar com os custos pessoais referentes aos
cursos. De acordo com um levantamento
Em grande medida, a capacitação em servi- recente, professores gostariam de receber
ço é baseada em cada escola individualmente, mais capacitações do que recebem atualmente.
e faz parte de sistemas de compromisso de Em especial, professores jovens acreditam
qualidade elaborados pelas escolas. Ativida- receber apoio insuficiente com relação a seus
des variam desde dias de capacitação para problemas no início de suas carreiras; e de
toda a equipe, com foco no planejamento do maneira geral, os professores desejam prin-
desenvolvimento da escola, até orientação
cipalmente melhores estratégias para lidar
relacionada a cada disciplina e ensino em gru-
com estudantes de fraco desempenho. Um
po. Individualmente, professores podem ser
dos pontos básicos da capacitação em serviço
capacitados por professores mais habilitados,
é a competência para diagnosticar, visando a
certificados em excelência em ensino, que são
que os professores identifiquem o potencial
liberados de seus deveres de sala de aula por
de diferentes aprendizes.
até um dia por semana. Foram desenvolvidas
também qualificações profissionais para admi- Na França, estruturas de apoio são inte-
nistradores de níveis sênior e intermediário, gradas à administração educacional regional
como resposta a pesquisas que evidenciam a (académies) por meio de inspetores escolares,
importância de sua influência na qualidade responsáveis principalmente pela orienta-
da escola. ção de escolas e, em especial, de professores.

37
CAPÍTULO 5 Fatores que interferem no desempenho das escolas

As académies e as faculdades de capacitação de participaram de ao menos um curso de uma


professores também oferecem outros servi- semana de duração. Tradicionalmente, essa
ços de apoio. Individualmente, cada escola capacitação tem sido orientada a cada disci-
recebe apoio por meio do programa de Zones plina escolar, mas foram introduzidos novos
d’Education Prioritaires (ZEPs), em áreas caren- cursos, que tratam de inovação educacional,
tes, e por meio de redes regionais de apoio. heterogeneidade e TCIs. Recentemente, a
realização de programas satisfatórios de ca-
O sistema de inspeção serve predominan-
pacitação tem apresentado problemas, devido
temente para controlar o trabalho da equipe
a cortes de gastos e desacordos administra-
de ensino, incluindo inspetores regionais que
tivos referentes à organização dos cursos.
orientam professores. No nível primário, a
No entanto, o gerenciamento dessa capacita-
proporção é de um inspetor para cada 300 pro-
ção vem apresentando melhorias geradas pelas
fessores, e, no nível secundário, um para cada
reformas na administração educacional.
750 professores. Esses inspetores observam as
instruções dadas em sala de aula para avaliar o Na manutenção da qualidade escolar, a
desempenho do professor. A essa observação, França emprega um estilo “amigo do usuário”,
seguem-se decisões referentes ao desenvolvi- dando às escolas devolutivas sobre os resulta-
mento da equipe, embora muitos professores dos das avaliações. No entanto, há insatisfação
acreditem que, na prática, os inspetores não com relação ao sistema atual, em que inspeto-
são capazes de desempenhar adequadamente res emitem opiniões a respeito de professores
seu papel de orientação. Nas ZEPs, é oferecido como parte de sua função de apoio.
um nível adicional de apoio, mais orientado
Na Holanda, os sistemas de apoio à es-
ao desenvolvimento da escola como um todo.
cola, extremamente desenvolvidos, são cla-
Um Conseil de zone – composto por professo-
ramente distintos de inspeção escolar. Esses
res, pais e representantes dos governos local e
sistemas incluem: “serviços de assessoria
nacional – contribui para a definição do perfil
escolar” no nível regional, para atender às
de cada escola. No entanto, discussões sobre
necessidades primárias e especiais das escolas;
fragilidades nesta abordagem sugerem falta
centros nacionais de assessoria escolar para
de apoio a grupos de professores.
estruturas escolares protestantes, católicas e
As académies e as faculdades de capacitação não-eclesiásticas; oferta de serviços de capa-
de professores ministram cursos para o de- citação de professores em serviço, mantidos
senvolvimento continuado dos professores, por muitas instituições, inclusive instituições
que podem participar voluntariamente, e são do Estado central; e um Conselho de Edu-
liberados de suas atividades de sala de aula cação conduzido pelo Estado, para oferecer
durante o período do curso. Nos últimos cinco assessoria referente a questões básicas do
anos, aproximadamente 60% dos professores sistema educacional. Desde os últimos anos

38
Organização de sistemas de apoio CAPÍTULO 5

da década de 90, serviços de assessoria uti- crescente por desenvolvimento, uma vez que
lizam recursos municipais, para que sejam essa atividade assumiu diversos papéis novos
mais sensíveis às necessidades das escolas nas escolas holandesas – inclusive a elaboração
locais e ajudem as municipalidades a planejar do orçamento.
o desenvolvimento local.
Não há evidências de fortes relações entre
Os centros nacionais de assessoria ofere- as estruturas de apoio bem desenvolvidas da
cem às escolas secundárias assessoria referente Holanda e a qualidade escolar. Um estudo
ao sistema, voltada para a implementação de específico sobre a eficácia das escolas no país
inovações e o desenvolvimento organizacional. sugere que apenas uma parcela de cerca de 1%
Esses centros também oferecem orientação da variação de desempenho pode ser atribuída
individual para escolas e professores. Centros a esse apoio.
nacionais de assessoria são parcialmente finan-
Na Suécia, a descentralização do Estado
ciados pelo Estado e vendem seus serviços a
para o nível municipal resultou em municipa-
escolas: uma vez que a inspetoria escolar não
lidades com responsabilidade pela maior parte
é classificada oficialmente como estrutura de
do apoio escolar, cabendo papéis fundamentais
apoio, na prática, atualmente espera-se que
aos quadros administrativos escolares e às
esses centros forneçam assessoria à gerência de
organizações de professores e de capacitação
escolas, equipes e autoridades locais. Embora
de professores.
não haja nenhuma ligação institucional entre
inspetores e assessores, as escolas podem uti- As escolas são solicitadas a cooperar com
lizar serviços de assessoria na implementação instituições de manutenção escolar em ques-
de recomendações de inspetores. tões como finanças e monitoramento da qua-
lidade. Conselhos de orientação dão aos pais
Na década de 90, a Holanda passou de um
a possibilidade de apresentar suas opiniões
grupo de instituições de capacitação de pro-
com relação a assuntos escolares.
fessores financiado diretamente pelo Estado
para um sistema de provedores múltiplos, no A capacitação em serviço é baseada em um
qual as escolas selecionam cursos utilizando modelo de mercado com ampla gama de for-
recursos com fins específicos, destinados pelas necedores.As municipalidades são incumbidas
municipalidades para as instituições de ma- de oferecer oportunidades de capacitação ade-
nutenção escolar. No entanto, a verba atual é quadas, e recebem recursos para esse fim, mas
considerada insuficiente, comprometida, em a participação é negociada entre o professor
parte, pela carga de trabalho dos professores; e o diretor. Muitos professores participam de
e em parte, por uma percepção dos professo- cursos de capacitação em serviço, mas as taxas
res de que os cursos são de baixa qualidade. de participação variam consideravelmente
A gerência constitui uma fonte de demanda entre escolas e municipalidades. Sindicatos

39
CAPÍTULO 5 Fatores que interferem no desempenho das escolas

de professores têm grande interesse em ca- integrar tais serviços à administração e à


pacitação, e negociaram acordos estruturais inspeção escolares. Na Inglaterra, por exem-
para criar tempo disponível para capacitação. plo, o apoio é visto explicitamente como
Na Suécia, atribui-se importância vital à ca- um corolário das constatações de avaliação
pacitação continuada de líderes escolares, e inspeção.
devido ao aumento do caráter estratégico
A orientação externa pode ser produzida
da atividade de gerência. Como resultado
a partir de assessoria independente ou de
dessa importância, a Agência Nacional para
redes locais, e suas funções podem sobrepor-
Aprimoramento Escolar passou a organizar
se às funções de controle administrativo.
cursos, embora, teoricamente, tal capacitação
Em todos os países, determinadas organi-
seja responsabilidade das municipalidades.
zações procuram aprimorar os resultados
Semelhanças e diferenças em sistemas de educacionais, oferecendo assessoria pro-
apoio
fissional a escolas. Na Holanda, essa asses-
À medida que a educação é cada vez mais soria é oferecida, em grande medida, por
descentralizada, em resposta aos novos desafios serviços de assessoria escolar; na França e
gerados por grupos heterogêneos de estudan- na Suécia, por instituições administrativas;
tes, os países reconhecem a importância de e na Inglaterra, por inspetores. No Canadá
sistemas de apoio consistentes para escolas. e na Suécia, destaca-se a prerrogativa para
Com freqüência, o apoio tem sido intima- a orientação exercida diretamente pelas
mente associado a controle e avaliação, seja pessoas interessadas, e não apenas por orga-
por meio de testes aplicados aos estudantes, nizações externas – de pais e representantes
seja ainda por meio de inspeção ou de auto- de instituições de manutenção da escola.
avaliação. Cada país atribui um valor particular Em alguns países, essa prerrogativa intrínse-
a determinadas áreas de apoio, criando seme- ca ao sistema pode partir de outras escolas
lhanças e diferenças através dos países. – o que associa um sentido particular quando
diferentes escolas desenvolvem áreas de
Os seis países em questão diferem con-
expertise especializada, como é o caso do
sideravelmente, tanto em seu conceito
setor secundário na Inglaterra.
de como escolas e professores devem ser
apoiados individualmente, quanto nas dis- Um aspecto do apoio para escolas – relacio-
posições que resultam desse conceito. A nado à discussão acima, sobre monitoramento
Holanda tem uma tradição de estruturas – é a referência a resultados de avaliações e,
profissionalizadas de apoio para professores, especialmente, a resultados de testes aplicados
independentemente de inspeção ou controle a estudantes como base para o planejamento
administrativo. Por outro lado, países como de desenvolvimento. Até o presente momen-
Canadá, Inglaterra e Finlândia tendem a to, no entanto, os professores muitas vezes

40
Organização de sistemas de apoio CAPÍTULO 5

tenderam a resistir a essa relação entre avalia- da escola utiliza com freqüência instrução no
ção e desenvolvimento, a ponto de considerar próprio local, ao passo que em outros países as
os testes um instrumento de controle, em universidades tornaram-se mais importantes.
vez de apoio. Através dos países, há uma percepção de que
a capacitação em serviço continua inadequada
A capacitação de professores em serviço
com relação a recursos e conteúdo.
assume formas muito variadas. Desde a década
de 90, políticas de educação em todos os Aprimorar a capacidade dos professores
países intensificaram esforços para aumentar para diagnosticar as necessidades individuais
a eficiência do desenvolvimento profissional dos estudantes e lidar com elas é uma forte
de professores. Em diferentes graus, países prioridade em ambientes heterogêneos de
substituíram verbas diretas para capacitação sala de aula. Outra prioridade é oferecer
por um modelo baseado no mercado. No capacitação adequada a líderes escolares,
Canadá e na Inglaterra, o desenvolvimento é cujos papéis são vitais em um ambiente des-
orientado a atividades dentro da escola, por centralizado. Na Inglaterra, na Holanda e
vezes durante “dias de capacitação”; na Fin- na Suécia, por exemplo, a capacitação para
lândia, na França e na Suécia, professores têm a liderança tem sido levada a sério. Com
maior tolerância com relação à participação exceção da Inglaterra, o foco principal é a
em cursos, que, em geral, são oferecidos fora capacitação de líderes já atuantes, e não
da escola. O enfoque da Inglaterra no nível a qualificação pré-serviço.

41
Capítulo
6

COMPREENSÃO E APLICAÇÃO DE PADRÕES

E m muitos países, a expressão “padrões


educacionais” passou a ser utilizada como
referência a uma melhoria desejada nos re-
resultados desejados e mensuráveis. Porém
“padrões” podem ser interpretados de três
maneiras diferentes, no mínimo:
sultados, enquanto em outros países deba-
• Para descrever determinado resultado de
tes sobre conquistas de estudantes e sobre o
aprendizagem que os estudantes devem ter
currículo escolar são utilizados com objetivos
alcançado ao final de um ano letivo específico
semelhantes. Este estudo analisou o modo – por exemplo, serem capazes de “aplicar
como países definem, especificam e procuram matemática para resolver problemas comuns
determinar “padrões”. De forma geral, essa da vida real”;
investigação baseou-se na idéia de que padrões
definem, de maneira normativa e vinculante, • Para especificar uma meta ou um nível de
as conquistas que estudantes deveriam ter alcançado realizações aceitável – por exemplo, res-
ao final de determinado nível de educação. ponder corretamente a pelo menos 80%
das questões de um teste –, e, por vezes, a
Utilização de padrões nos países adotados porcentagem da população estudantil que
como referência deve ser capaz de alcançar tal resultado;
No Canadá, assim como nos Estados • Para descrever categorias de classificação
Unidos, admite-se atualmente que desen- de desempenho, em vez de apenas um li-
volvimento escolar e processos de aprendiza- miar, distinguindo, assim, diversos níveis
gem e de ensino são orientados para alcançar de competência e realizações. Essa terceira
CAPÍTULO 6 Fatores que interferem no desempenho das escolas

interpretação, baseada em competências, penho da escola ou do sistema de educação


representa uma situação ideal. Na práti- – por exemplo,“altos padrões são alcançados”.
ca, porém, costuma-se encontrar apenas Assim, a instituição responsável pela inspeção
padrões de desempenho mínimo baseados nesse país é denominada Agência para Padrões
em testes. na Educação, e a Unidade de Padrões Básicos
e Eficácia do Departamento para Educação e
Padrões são estabelecidos na maioria das
Habilidades é responsável por “aprimorar
províncias do Canadá. Ontário é a província
e sustentar padrões de conquistas de todos
que mais se aproxima da terceira interpretação
os alunos”.
– baseada em competências –, por estabele-
cer avaliações mais complexas, parcialmente Expectativas relacionadas a desempenho
práticas, que exigem habilidades de resolu- ou competência são definidas no escopo do
ção de problemas. Um programa nacional de currículo nacional, que faz referência a “níveis
teste – o Programa de Indicadores de Con- esperados de conquistas” com relação às dis-
quistas Escolares – apresenta cinco níveis de ciplinas principais. Cada uma das disciplinas
desempenho relacionados a leitura, escrita, principais do currículo tem oito níveis, que
matemática e ciências. Com o objetivo de descrevem amplos níveis de competência.
especificar o resultado esperado, de acordo Espera-se que os estudantes avancem em dire-
com a segunda das definições de “padrão” ção a níveis mais altos aproximadamente uma
acima, o Conselho de Ministros da Educação vez a cada dois anos. Aos 7, 11 e 14 anos de
convocou uma comissão composta por 85 idade, os estudantes são submetidos a testes
professores em atividade, especialistas em baseados no currículo. Para cada uma dessas
currículo, pais, representantes dos estudan- idades há um nível de desempenho “esperado”
tes, cientistas e membros de outros grupos (níveis 2, 4 e 5/6, respectivamente), e uma
interessados. Essa comissão estabeleceu, por faixa dentro da qual se espera que esteja o
exemplo, que 95% dos estudantes de 13 anos desempenho da maioria do grupo etário (1-2,
de idade devem alcançar, pelo menos, o Nível 2-5 e 3-7, respectivamente). Uma das metas
1 na escala de leitura, e 5% devem alcançar, dessa política é aumentar o perfil de realiza-
no mínimo, o Nível 5. ções a cada estágio. Por exemplo, em inglês,
o padrão esperado de nível 4 foi alcançado
Na Inglaterra, o termo “padrão” está
por 63% dos estudantes de 11 anos de idade
difundido nos discursos públicos sobre educa-
em 1997, e o governo visava aumentar essa
ção. Neste caso, porém, o termo nem sempre
porcentagem para 80% até 2002 (nesta data,
se refere a uma suposição normativa sobre
chegou a 75%).
uma expectativa específica de níveis de de-
sempenho alcançados: tipicamente, o termo Na busca dessas metas para elevar os pa-
é utilizado para descrever o nível de desem- drões atingidos, o governo procurou fortalecer

44
Compreensão e aplicação de padrões CAPÍTULO 6

o desenvolvimento da equipe, investir recursos critérios de avaliação para escolas, e são a base
extras e introduzir novas estratégias de ensino da avaliação nacional de desempenho.
de leitura e matemática. Nos últimos anos da
A França tem longa tradição de rígido con-
década de 90, esses esforços foram voltados
trole central do conteúdo da aprendizagem,
particularmente ao grupo etário entre 7 e 11
realizado por meio de currículos e exames
anos, e os níveis de realização aumentaram finais. Essa situação gerou uma expectativa
neste grupo. Porém, uma melhoria mais lenta central com relação aos estudantes e pro-
no nível das séries iniciais da educação secun- fessores, sem que padrões de desempenhos
dária levou à introdução de uma estratégia fossem especificamente definidos. Resultados
de “Estágio Básico 3” (entre 11 e 14 anos de de exames finais e avaliação comparativa de de-
idade), em 2001. sempenho entre escolas não são interpretados
Na Inglaterra, padrões são formulados para com referência aos modelos preestabelecidos
o desempenho tanto dos estudantes quanto de competência estudantil, mas de maneira
comparativa, por meio da descrição de escolas
dos professores, e os inspetores medirão esses
dentro de seus contextos sociais.
valores de referência com relação às “carac-
terísticas do ensino de sucesso”. Durante os últimos anos, a França começou
a avançar em direção à definição de habilidades
Na Finlândia, evita-se o termo “padrões”:
e competências a serem dominadas, junta-
padrões de testes formulados estritamente
mente com o conteúdo de aprendizagem.
não são aceitáveis na filosofia nórdica de de-
Por exemplo, nas séries iniciais da educação
senvolvimento escolar. Ainda assim, metas
secundária, o Ministério da Educação deter-
claras de desempenho têm sido identificadas
mina que os estudantes devem ter domínio
em termos de “competências mínimas a serem de expressão oral, localização de informação
alcançadas”. Desde 1999, critérios vinculantes e outras habilidades relacionadas à linguagem.
para as notas finais dos estudantes ao concluir Ainda não se trata de uma meta esperada, e
a escolaridade compulsória visaram reforçar sim de parte de uma definição de objetivos
um princípio de justiça, tanto com relação à de ensino – ou seja, uma diretriz, e não uma
seleção de futuros estágios de educação quanto competência exigida.
com relação à igualdade de oportunidades de
aprendizagem. Tradicionalmente, a Holanda enfatizou
a liberdade pedagógica para escolas e pro-
O Conselho Nacional de Educação publica fessores. Até este momento, o Estado não
recomendações referentes ao conhecimento e estabeleceu expectativas centrais de desempe-
às habilidades que estudantes devem alcançar nho no sentido de padrões mínimos. Em vez
para conseguir conceito “bom” nesses tes- disso, padrões são indiretamente promovidos
tes. Essas recomendações são tomadas como por meio de mensuração de desempenho e

45
CAPÍTULO 6 Fatores que interferem no desempenho das escolas

exames finais baseados em metas nacionais de O currículo determina tanto objetivos


aprendizagem. O Conselho Nacional de Edu- educacionais gerais qualitativos para o ensino
cação também sugeriu que, futuramente, serão e a aprendizagem (“objetivos pelos quais se
formuladas metas mínimas para as escolas deve lutar”) quanto o nível mínimo de de-
primária e secundária, e que suas realizações sempenho que os estudantes devem alcançar
serão verificadas. Essa será uma mudança ra- em diferentes disciplinas ao sair da escola
dical na estratégia de educação. (“objetivos a alcançar”). O próprio currículo
é determinado de maneira concisa, com di-
Objetivos de ensino, descrevendo o co-
retrizes generalizadas, mas o conteúdo dos
nhecimento e as habilidades que se espera
testes transforma essas diretrizes em padrões
que estudantes alcancem, já foram definidos
claros de desempenho.
com relação à conclusão da escolaridade pri-
mária e secundária, tanto nas séries iniciais Semelhanças e diferenças na formulação
quanto nas finais. Esses objetivos referem-se dos padrões
especificamente a disciplinas escolares, e são
importantes para a instrução em sala de aula, Nem todos os países envolvidos neste es-
pois formam a base das avaliações e dos exames tudo empregam o termo “padrões” em dis-
de desempenho. Os resultados serão inseridos cursos públicos. No entanto, todos eles têm
em “cartões de qualidade” das escolas, publi- alguma forma de expectativa com relação ao
cados pela inspetoria. desempenho; e a maioria deles vem tentando
estabelecer uma formulação mais clara sobre
Além disso, padrões desempenham um suas próprias expectativas, que podem ser
papel importante com relação ao ensino e às estabelecidas em algum ponto de um conti-
formas como o ensino é avaliado em inspe- nuum entre as metas educacionais gerais e as
ções. A inspetoria estabeleceu 13 padrões, especificações de uma faixa de desempenho
11 subpadrões e 99 indicadores para avaliar
que todos os estudantes devem apresentar
as escolas primárias. Neles estão incluídos a
em um teste concreto. Para que os padrões
abrangência do conteúdo de ensino, o objetivo
sejam compreendidos pelo público em geral,
das aulas, o engajamento ativo dos estudantes
devem ser formulados de maneira precisa e
e os resultados de aprendizagem.
concisa. Esta constatação parece indicar a
Na Suécia, o termo “padrões” não é utiliza- necessidade de evitar o estabelecimento de
do para descrever exigências de desempenho, padrões em termos de metas particulares
porém padrões em uso são definidos pelo detalhadas, relacionadas ao conteúdo das
programa nacional curricular e por critérios disciplinas ensinadas. Em vez disso, devem
de notas, assim como pelo critério de ava- ser focalizados os aspectos básicos de como
liação para testes nacionais, realizados nas uma disciplina é ensinada, e deve ser alcançada
séries 5 e 9. competência em determinadas áreas básicas.

46
Compreensão e aplicação de padrões CAPÍTULO 6

É o que ocorre na Finlândia, na Suécia e em al- dos ou da maioria dos estudantes quanto a
gumas províncias do Canadá. Na Inglaterra, na de um critério de bom nível de realizações.
França e na Holanda, as diretrizes existentes A associação direta de currículos e testes pode
foram criticadas por serem demasiadamente funcionar se os próprios currículos estive-
detalhistas, e está sendo discutida a idéia de rem relacionados a níveis de competências
concentrar-se em metas preestabelecidas que devem ser alcançados. Finlândia e Suécia
relacionadas a áreas centrais essenciais e com- estabeleceram padrões mínimos. A Holanda
petências básicas. está considerando a possibilidade de fazer o
No entanto, na prática, todos os países mesmo. Esses limiares mínimos podem ser
empregam, em alguma medida, um mode- vistos como um ingrediente essencial para a
lo de “padrões”, que combina expectativas manutenção da qualidade educacional, espe-
de desempenho no currículo nacional com cialmente para populações pouco favorecidas,
procedimentos de teste aplicados em âm- que até este momento não mostraram ten-
bito nacional. O padrão pode assumir tanto dências no sentido de alcançar nenhum nível
a forma de uma expectativa mínima de to- mínimo de desempenho.

47
Capítulo
7

ORGANIZAÇÃO DE PROCESSOS
EDUCACIONAIS DENTRO DAS ESCOLAS

O desempenho dos estudantes, da maneira


como é medido no PISA, sofre influên-
cia tanto de fatores internos às escolas quanto
Alberta, têm especificações muito detalhadas.
Em algumas províncias, foram incorporadas
competências transcurriculares. O currículo
de fatores externos a elas, e os processos da da escola primária focaliza disciplinas básicas,
educação desempenham importante papel ao passo que a escola secundária começa com
nesse sentido. Este capítulo observa três as- as principais disciplinas compulsórias e ofe-
pectos particulares dos processos escolares: rece opções cada vez mais variadas nas séries
como as escolas lidam com currículos, como mais avançadas. Individualmente, as escolas
realizam avaliações, e como tratam da hete- estão autorizadas a dispor de seus recursos de
rogeneidade dentro do corpo discente. maneira independente e a oferecer qualquer
oportunidade de ensino e aprendizagem aceita
Organização de processos educacionais pela comunidade, com o objetivo de ensinar
nos países adotados como referência o conhecimento e as habilidades necessários
No Canadá,com exceção de Saskatchewan, para alcançar padrões definidos.
todas as províncias têm currículos básicos. De maneira implícita, o currículo exige que
Em média, a definição de 80% do conteúdo o desempenho do estudante seja avaliado e, em
cabe à província, e 20%, ao nível local. No en- princípio, o professor da turma é responsável
tanto, há ampla variação através das províncias por esse trabalho. Reformas no currículo
com relação ao nível de detalhamento na defi- ampliaram consideravelmente as demandas
nição do currículo.Algumas províncias, como de trabalho de estudantes e professores.
CAPÍTULO 7 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Estudantes com deficiência de aprendi- Ao final do último estágio da educação compul-


zagem e estudantes especialmente dotados sória, os estudantes passam por exames finais
têm acesso a programas especiais, embora, na centralizados envolvendo diversas disciplinas e,
medida do possível, também sejam integrados dois anos mais tarde, normalmente é exigido
aos cursos regulares. um certificado de nível avançado – também
baseado principalmente em exames – para o
Na Inglaterra, um currículo nacional
acesso à educação superior.
estabelece o conteúdo básico da educação
compulsória (de 5 a 16 anos de idade), e Na Inglaterra, as escolas, em sua maioria,
a orientação curricular também especifica são “abrangentes”, aceitando grande variedade
objetivos iniciais de aprendizagem para os de capacidades, e visam também ensinar todas
programas de pré-escola desenvolvidos em as crianças em conjunto. Algumas pessoas
instalações financiadas pelo governo. O cur- da área da educação que atuam no governo
rículo nacional inclui 10 disciplinas, sendo acreditam que essa prática limita o alcance
inglês, matemática e ciências disciplinas fun- dos padrões estabelecidos. Espera-se que as
damentais, para as quais são especificados escolas adotem estratégias de agrupamento
objetivos de ensino e metas educacionais.Tó- que funcionem melhor para estudantes, e,
picos que ultrapassam os limites das disciplinas quando necessário, ensinem conjuntamente
curriculares visam promover, por exemplo, estudantes com capacidades similares. Recur-
aspectos de educação relacionados a transfe- sos adicionais são sistematicamente ofereci-
rência de valores, compreensão de processos dos a estudantes com necessidades especiais
econômicos, saúde e civismo. Os requisitos de aprendizagem, que, em princípio, são in-
mínimos das disciplinas assumem a forma de tegrados às turmas normais. No entanto, é
descrições daquilo que os estudantes devem possível que estudantes que não alcançam o
alcançar ao final de cada estágio – aos 7, 11, nível esperado ao final da educação primária
14 e 16 anos de idade. No entanto, as escolas precisem freqüentar um curso durante as
decidem como as disciplinas são ensinadas, férias de verão, para conseguir aprovação que
quanto tempo dedicar a cada uma delas, se as lhes permita avançar para as séries iniciais da
disciplinas serão agrupadas e como fazê-lo, e educação secundária.
como organizar a aprendizagem ao longo de
Na Finlândia, o currículo fundamental
cada estágio do currículo plurianual.
começa no ano não-compulsório de pré-es-
Testes nacionais padronizados referentes às cola, atualmente freqüentado por 90% da
disciplinas básicas são aplicados ao final de cada população, quando se dá ênfase à individua-
um dos três primeiros estágios curriculares. lidade das crianças e à sua capacidade de fazer
Professores também são responsáveis por ava- parte de um grupo. Na educação compulsória,
liar regularmente o trabalho de seus estudantes. o currículo fundamental estabelece metas

50
Organização de processos educacionais dentro das escolas CAPÍTULO 7

educacionais, o conteúdo básico das disciplinas organizar novos grupos, sempre que neces-
e o número de horas de instrução dedicadas sário. Aparentemente, as pesquisas indicam
a cada disciplina. Municipalidades e escolas que, na Finlândia, turmas com capacidades
desenvolvem seus próprios currículos, com múltiplas foram extremamente vantajosas
base nos currículos fundamentais estabeleci- para estudantes com desempenho fraco, ao
dos. Embora o currículo fundamental inclua passo que estudantes de desempenho alto
ampla variedade de disciplinas, reserva-se 20% não foram muito afetados pelas mudanças
do tempo de ensino para disciplinas optativas, na composição do grupo de aprendizagem.
que desempenham um papel importante e são Os professores são capacitados desde cedo
muito populares. para lidar com a heterogeneidade, utilizando
O sistema finlandês de avaliação baseia- uma ampla gama de métodos. Um sistema
se substancialmente em auto-avaliações e ampliado de orientação apóia os estudantes na
em outros mecanismos que dão destaque seleção de cursos para novos estágios em sua
relativamente pequeno para testes. Nas es- educação e no planejamento de sua carreira.
colas finlandesas, a lição de casa tem grande Estudantes com dificuldade de aprendizagem
importância, e funciona como um meio de freqüentam tutorias individuais ou em grupos
monitorar o comprometimento do estudante. pequenos, uma ou duas vezes por semana,
O progresso da aprendizagem é monitorado além de receber apoio de professores qua-
em fichas de relatório individual dos estu- lificados, que oferecem cuidados especiais,
dantes, e discutido com cada um deles. Os tanto dentro como fora da sala de aula.
estudantes são estimulados a realizar ativida- Na França, um currículo nacional para
des de auto-observação e auto-avaliação; as instituições de pré-escola para estudantes de
notas são baseadas na avaliação do professor. 2 a 5 anos de idade visa desenvolver habilida-
Não há exame final na conclusão da escola- des de fala e escuta, de memória e compreen-
ridade compulsória. são de números e letras. Currículos nacionais
As escolas finlandesas tendem a agru- definem metas detalhadas para o trabalho em
par estudantes mais de acordo com seus todos os níveis da escola, desde a pré-escola
interesses por determinadas disciplinas do até a educação secundária. Basicamente, de-
que com seu potencial intelectual. Apenas lineiam objetivos educacionais, disciplinas e
2,5% das crianças freqüentam escolas es- seus conteúdos, atividades e métodos, assim
peciais, e as salas de aula finlandesas são como o conhecimento e as habilidades a serem
heterogêneas em termos de capacidades e adquiridos. Professores têm alguma flexibi-
de background dos estudantes. Essa situação lidade com relação à escolha de materiais de
requer aprendizagem eficiente em grupos ensino e à distribuição do tempo de ensino,
pequenos, com professores prontos para dentro de limites estabelecidos.

51
CAPÍTULO 7 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Nas escolas francesas, quando se lida com No entanto, alguma flexibilidade adicional
a diversidade, uma premissa central deter- com relação às metas de qualificação e ao en-
mina que métodos e atividades de ensino sino das disciplinas foi introduzida em 2002,
formulados especificamente para atender permitindo às escolas dispensar determina-
diferentes necessidades de cada estudante, dos grupos de estudantes de determinadas
assim como de grupos de estudantes na disciplinas. O novo currículo básico das séries
sala de aula, deverão produzir resultados iniciais da educação secundária, introduzido
de aprendizagem uniformes, na medida do em 2004, cobre dois terços do tempo de
possível. Essa realidade envolve progra- instrução exigido, deixando significativas
mas de apoio individual a estudantes na possibilidades para opções.
educação primária, assim como formas de
apoio individual no ingresso a cada estágio Pouco antes de concluir a educação primá-
da educação secundária. No entanto, em ria, os estudantes são submetidos a um teste
meio aos próprios integrantes da equipe de avaliação de suas habilidades no idioma
de ensino, muitos consideram que propos- holandês, em operações com números, no
tas de apoio individual a alunos não fazem trabalho com dados e em estudos ambientais.
parte de suas tarefas. Assim, por exemplo, Em vista das dificuldades para sua imple-
módulos de aprendizagem de três horas de mentação no currículo básico, uma prova
duração durante o primeiro ano das séries final, que deveria ser realizada no momento
finais da educação secundária, voltados ao da conclusão das séries iniciais da educação
desenvolvimento continuado de habilidades secundária, foi abolida.
em disciplinas fundamentais para aprendizes Durante sua capacitação prática, profes-
individuais, são, na realidade, freqüentemen- sores são preparados para atender às necessi-
te utilizados como aulas mais gerais, para dades de grupos heterogêneos de estudantes
exercitar os estudantes nessas disciplinas. por meio de métodos de ensino diferenciados.
Na Holanda, as escolas primárias são Inspetores relatam que a maioria desses pro-
obrigadas a adotar metas de qualificação fessores é capaz de criar uma atmosfera de
estabelecidas em nível nacional. Durante aprendizagem de apoio na sala de aula, mas
os primeiros dois ou três anos, as escolas apenas entre 25% e 30% deles são capazes
secundárias seguem o currículo da educação de individualizar sua abordagem de ensino
básica, que consiste em alcançar metas e em na medida necessária para que os estudan-
desenvolver 15 disciplinas com carga horária tes utilizem todo seu potencial. Portanto,
determinada. O currículo para a educação as escolas estão tentando aprimorar essa com-
básica é considerado sobrecarregado e frag- petência dos professores por meio de cursos
mentado, deixando pouco espaço para que as de desenvolvimento da equipe. Na medida
escolas diversifiquem aquilo que é ensinado. do possível, estudantes com necessidades

52
Organização de processos educacionais dentro das escolas CAPÍTULO 7

especiais são integrados aos programas regu- des individuais – e de integração – por meio
lares, e recebem apoio de professores qua- de experiências comuns compartilhadas.
lificados para o atendimento a necessidades Na prática, a maneira como os professores
especiais, e de outros especialistas. lidam com grupos de múltiplas capacidades
varia de maneira significativa entre escolas
Na Suécia, o currículo nacional esta-
e entre professores. Comparativamente, al-
belece objetivos a serem alcançados em 18
gumas escolas utilizam mais intensivamente
disciplinas compulsórias, determinando um
professores e assistentes qualificados para
número mínimo de horas de aprendizagem
apoiar o ensino. Em alguns casos, estudan-
durante os nove anos de escolaridade com-
tes com dificuldades freqüentam aulas com
pulsória. No entanto, municipalidades e es-
professores especializados, fora das aulas
colas decidem como distribuir esse tempo de
regulares.
aprendizagem. Os estudantes têm liberdade
para escolher quais disciplinas estudar duran- Semelhanças e diferenças na organização
te 6% do tempo. Na prática, as escolas cen- de processos educacionais
tram-se em sueco, inglês e matemática, que
são as disciplinas fundamentais. Baseando-se Os seis países adotados como referência
no currículo nacional, as escolas criam seus não apresentam nenhum padrão comum na
próprios planos, definindo como alcançar os determinação do currículo. Embora currí-
objetivos, o que inclui métodos de aprendi- culos básicos, programas de ensino ou pa-
zagem e responsabilidades de estudantes – os drões educacionais sejam aplicados nos seis
quais participam, estabelecendo planos. países, eles não apresentam nenhum padrão
uniforme no processo de estabelecimento
Somente são atribuídas notas aos estu- das precondições curriculares ou de ava-
dantes a partir da 8a série, e um certificado liação dos resultados de aprendizagem.
de conclusão da escola é emitido na 9a série.
Há diferenças entre os países no que diz
A equipe de ensino é inteiramente responsá-
respeito ao nível de predeterminação do
vel pela atribuição das notas; não há controle
conteúdo e a quanto fica por conta da es-
externo.
cola – essa variação ocorre mesmo den-
Na maioria das escolas suecas, o corpo dis- tro de um país federativo, como o Canadá.
cente é heterogêneo, com base no princípio Em alguns países, como Finlândia e Holanda,
de que todos os estudantes têm direito a uma tanto objetivos educacionais e disciplinas
educação igualitária, independentemente de fundamentais quanto número e volume de
seu background. Dentro de cada escola, há aulas são definidos de maneira centralizada,
um objetivo duplo de individualização – por mas uma proporção relativamente grande do
meio da adaptação de métodos de ensino para tempo é reservada para disciplinas eletivas
atender às diferentes capacidades e necessida- compulsórias. Na Holanda, desde 2002, a

53
CAPÍTULO 7 Fatores que interferem no desempenho das escolas

liberdade aumentou fora da área fundamen- 9a série, também com base nos testes nacionais
tal, que cobre dois terços do tempo de ensino em sueco, inglês e matemática. O progresso
na educação secundária. Em contraste, as individual de aprendizagem é discutido com
determinações do currículo francês reservam os estudantes e comparado com o background
aos docentes menor possibilidade de escolha, de planos individuais de desenvolvimento de
embora os professores da educação primária aprendizagem.Apesar das variações, em todos
possam dispor de seu tempo de maneira fle- os países envolvidos, a avaliação de desempe-
xível, e devam obedecer apenas a um mínimo nho e a atribuição de notas que acompanham
de horas para atividades de leitura e escrita. a instrução são responsabilidade da equipe
Comparativamente, Finlândia e Suécia dão de ensino.
às escolas maior liberdade para estabelecer
As equipes de ensino dos países analisados
o conteúdo de aprendizagem; na Suécia,
deparam-se com grande diversidade de es-
a alocação do número de aulas para cada
tudantes, diferenciados por sua capacidade,
disciplina fica a cargo das municipalidades e
língua materna e origens étnicas e sociais.
das escolas, individualmente.
Com exceção da França, essa heterogenei-
Os seis países têm métodos internos e dade geralmente é considerada positiva em
externos para avaliar estudantes e escolas. todos os países. De maneira geral, sistemas
Com exceção da Finlândia, todos os outros educacionais empregam alto grau de indi-
países têm formas de avaliação de desem- vidualização em processos de ensino e de
penho padronizadas em nível nacional, que aprendizagem, mas é baixo o grau de seleção
podem ser desenvolvidas como avaliações de estudantes de acordo com seu desempenho
contínuas ao longo da vida escolar normal, – embora isso ocorra em menor nível na
ou como exames finais. Holanda, França e França e na Holanda. Essa situação implica o
Inglaterra aplicam exames finais ao térmi- desenvolvimento de planos de aprendizagem
no da educação compulsória; Inglaterra e individuais para os estudantes, e a integração
França aplicam exames nacionais também dos estudantes com necessidades especiais a
ao final da educação secundária. Por outro escolas e turmas regulares, sempre que pos-
lado, na Finlândia, a progressão para níveis sível. No entanto, o ensino com capacidades
mais altos do sistema educacional depende múltiplas não é seguido na Inglaterra nos
do cumprimento de metas registradas em casos em que a escola acredita que padrões
relatórios e discutidas com os estudantes, definidos podem ser alcançados de manei-
que são orientados a realizar auto-avaliações ra mais eficaz em salas de aula separadas
de seu progresso de aprendizagem e de seus por capacidade. Por outro lado, Finlândia e
resultados. Na Suécia, os estudantes recebem Suécia associam o agrupamento por habili-
notas na 8a e na 9a séries, com base em todas as dade à oportunidade igualitária de educação.
avaliações realizadas por seus professores; e na Na prática, porém, isso nem sempre é fácil.

54
Organização de processos educacionais dentro das escolas CAPÍTULO 7

Professores holandeses afirmam ser muito di- prática dos professores finlandeses enfatiza
fícil adequar aulas a necessidades individuais essa questão. Aulas extras com professores
de diferentes tipos de estudantes dentro de especialmente qualificados – por vezes, fora
uma mesma turma. Uma abordagem possível da sala de aula – também desempenham um
seria garantir que professores sejam capaci- papel importante para estudantes com neces-
tados para lidar com a heterogeneidade dos sidades especiais, por exemplo, na Finlândia
estudantes – e desde o princípio a capacitação e na Suécia.

55
Capítulo
8

INTEGRAÇÃO DE ESTUDANTES NÃO-NATIVOS


E DE ESTUDANTES CUJOS PAIS
SÃO ESTRANGEIROS

O s resultados do estudo PISA mostram


que, de maneira geral, estudantes
estrangeiros têm maior probabilidade de
Diversas estratégias têm por objetivo com-
bater as desvantagens dos estudantes imigran-
tes e lidar com um corpo discente heterogêneo.
apresentar fraco desempenho escolar em Até certo ponto, essas estratégias sobrepõem-
comparação a seus pares. Embora em me- se a outras estratégias de ajuda a estudantes
nor grau, o mesmo ocorre com os estudan- pouco favorecidos, como aqueles provenientes
tes cujos pais são estrangeiros, e o efeito de backgrounds sociais pouco favorecidos e com
é mais pronunciado quando ambos os pais deficiências de aprendizagem.
são estrangeiros. O sucesso educacional é
significativamente influenciado pelo idio- A Tabela 1 mostra, para os seis países ana-
ma de instrução. Alguns países têm mais lisados, a tendência de baixo desempenho que
sucesso do que outros quanto à maneira estudantes estrangeiros e de primeira geração
de abordar a relação entre origem étnica apresentaram no PISA em relação aos estudan-
e habilidades adquiridas – um fato reco- tes nativos. No Canadá, a diferença é muito
nhecido internacionalmente. Assim sendo, menor do que na média dos países da OCDE.
pergunta-se de que maneira as medidas No Reino Unido, essa diferença é maior para
adequadas tomadas por esses países podem estudantes estrangeiros, porém fica em torno
ajudar a explicar a diferença do desempe- da média para estudantes nativos. Em outros
nho entre estudantes não-nativos e nativos países, a diferença geralmente situa-se acima
em outros países. da média, embora fique em torno da média no
CAPÍTULO 8 Fatores que interferem no desempenho das escolas

caso de estudantes suecos de primeira geração. demais países, fica entre 10% e 12%. Os da-
Na França e na Holanda, a diferença parece dos do PISA não permitem comparar grupos
ser particularmente grande para estudantes semelhantes de imigrantes. Entretanto, todos
estrangeiros. esses países enfrentam problemas semelhantes
associados à situação educacional de grupos
É importante observar, porém, que as ca- imigrantes: baixo desempenho escolar, baixas
racterísticas das populações imigrantes variam taxas de conclusão e alta incidência de estudan-
muito nos diferentes países. Portanto, essas tes que repetem cursos ou séries. Em alguns
diferenças não podem ser atribuídas apenas a países, como Holanda, Inglaterra e Suécia, os
políticas educacionais. No Canadá, cerca de problemas de segregação étnica tornaram-se
20% dos estudantes ou nasceram no exterior mais evidentes com a abolição dos distritos
ou são filhos de estrangeiros. Na Finlândia, escolares e com o fortalecimento da opção
essa proporção é de apenas 1,3%. Para os pela escola a ser freqüentada.

Tabela 1
Desempenho de estudantes nativos e estrangeiros no PISA
Escore médio para
estudantes nativos quando Diferença em pontos Diferença em pontos
pelo menos um dos pais é para estudantes nativos para estudantes estrangeiros
País Letramento nativo cujos pais são estrangeiros cujos pais são estrangeiros
Canadá Leitura 538 +1 -27
Matemática 536 -6 -14
Ciências 535 -14 -32
Finlândia Leitura 548 * -80
Matemática 537 * *
Ciências 539 * -80
França Leitura 512 -41 -78
Matemática 523 -36 -82
Ciências 510 -59 -102
Holanda1 Leitura 542 -72 -89
Matemática 575 -81 -105
Ciências 541 -100 -104
Suécia Leitura 523 -38 -73
Matemática 517 -51 -71
Ciências 518 -32 -79
Reino Unido Leitura 528 -18 -72
Matemática 534 -29 -51
Ciências 537 -18 -80
Média Leitura 506 -39 -60
OCDE Matemática 504 -30 -48
Ciências 504 -42 -60

* Devido à pequena dimensão da amostra de estudantes finlandeses não-nativos, não é possível apresentar dados significativos.
1. Taxa de resposta muito baixa para assegurar comparabilidade.
Fonte: banco de dados PISA, OECD, 2001.

58
Integração de estudantes não-nativos e de estudantes cujos pais são estrangeiros CAPÍTULO 8

Esses seis sistemas educacionais introdu- Para ajudar a integrar estudantes imigran-
ziram medidas compensatórias visando inte- tes, a maioria das autoridades locais oferece
grar estudantes imigrantes de forma rápida cursos em inglês e/ou francês como segundo
e abrangente, garantindo igualdade de opor- idioma. Foram criados emToronto 41 “centros
tunidades educacionais, porém preservando de assistência” para apoiar a aprendizagem em
sua identidade cultural. casa, e 13 “centros de educação fora da escola”,
que oferecem programas residenciais, com o
Esforços para educar estudantes
objetivo de melhorar a integração social em
não-nativos e estudantes cujos pais um ambiente extracurricular. Apesar dessas
são estrangeiros medidas, alguns analistas consideram que os
O Canadá tem uma história de diver- professores ainda não desenvolveram habilida-
sidade multicultural longa e específica. des práticas suficientes para lidar com grupos
Uma imigração recente e acelerada signi- culturalmente heterogêneos.
fica que um em cada cinco estudantes ou Na Inglaterra, com relação às compe-
é estrangeiro ou é imigrante de primeira tências em leitura, o PISA não apresentou
geração. Cerca de 9% da amostra do PISA diferenças estatisticamente significativas entre
não falam o idioma de instrução em casa. estudantes nativos cujos pais são imigrantes
O Canadá é também o único país onde os e estudantes cujos pais são nativos; e com
filhos de imigrantes apresentam desempe- relação a matemática e ciências, apresentou
nho semelhante, em média, aos estudantes apenas uma diferença pequena. Entretanto,
cujos pais são nativos. Embora os estudan- os estudantes estrangeiros ficaram, em média,
tes estrangeiros não se saiam tão bem, seu cerca de um nível de proficiência atrás dos
desempenho ainda fica acima da média de demais com relação a leitura, com um déficit
todos os estudantes dos países pertencentes semelhante em ciências, porém menor com
à OCDE. relação a matemática.
Na década de 70, a política de imigração Na Inglaterra, os esforços empreendidos
do Canadá abandonou o objetivo de “assi- na década de 90 para apoiar os estudantes
milação” e agora o que se busca é o apoio ao imigrantes estiveram associados aos esfor-
caráter multicultural da sociedade. O sistema ços de ajuda a grupos socialmente pouco
de educação apóia a diversidade cultural. Nos favorecidos, uma vez que a correlação entre
lugares onde há número suficiente de estu- background social e resultados educacionais
dantes imigrantes, as escolas oferecem aulas é particularmente forte. Por exemplo, em
especiais em seus idiomas nativos. Entretanto, áreas carentes, as “Zonas de Ação Educacional”
restrições orçamentárias ameaçam a viabili- receberam recursos extras, e devem prepa-
dade desses programas. rar planos de ação para suas necessidades

59
CAPÍTULO 8 Fatores que interferem no desempenho das escolas

específicas. Por outro lado, em algumas cida- mais, procurando em outros países idéias para
des, a introdução de forças de mercado no sis- responder a esse desafio.
tema educacional aparentemente aumentou a
Os estudantes que chegam à Finlândia
segregação social e étnica. O provimento de
durante o período de educação compulsória
escolas religiosas reforçou esse efeito.
recebem seis meses de “instrução preparató-
Recentemente, o apoio a minorias étnicas ria” para poder ingressar na escola regular.
foi fortalecido pelas seguintes medidas: maior Pequenos grupos com backgrounds comuns
integração entre ambiente familiar e ambien- são preparados tanto para desenvolver sua
tes escolar e pré-escolar (como no programa língua materna e sua identidade cultural como
“Sure Start”); estabelecimento de metas tanto para familiarizar-se com a cultura finlandesa.
para escolas como para os estudantes indivi- Atualmente, esse “bilingüismo funcional” é
dualmente; utilização de resultados de testes um conceito fundamental. Durante essa fase
para fornecer melhor feedback individual e preparatória, os estudantes participam de
para elaborar currículos e instrução adicional atividades com objetivos práticos e artísti-
– por exemplo, nos intervalos de almoço ou cos juntamente com seus futuros colegas de
por meio de aulas de reforço, fora do horário turma, e há cooperação entre professores
escolar. O “Subsídio para Realizações Educa- de aulas preparatórias e professores de aulas
cionais de Minorias Étnicas” é operado com regulares.
recursos do Standards Fund, e o governo tem Uma vez transferidos para cursos regulares,
por objetivo garantir que as necessidades de os estudantes também podem ter a oportu-
alunos pertencentes a minorias étnicas e bi- nidade de desenvolver sua língua materna
língües sejam consideradas questão prioritária em aulas extracurriculares, assim como de
em todo o sistema educacional. freqüentar cursos de “finlandês como segundo
Na Finlândia, a proporção de imigrantes é idioma”, que incluem conhecimentos sobre a
muito baixa – pouco mais de 1% da população. cultura finlandesa.
O sistema de educação básica no país é elabo- Na França, embora, de maneira geral, os
rado para preparar os estudantes – inclusive estudantes apresentem desempenho no PISA
aqueles provenientes de backgrounds sociais e em torno da média da OCDE, o desempe-
étnicos diferentes – para que alcancem um nho daqueles que não nasceram no país é o
nível comum de desempenho. A capacitação mais baixo na comparação com os países que
de professores visa garantir que adquiram as participaram deste estudo, em todas as áreas.
habilidades práticas e de compreensão exigidas Por exemplo, seu desempenho em leitura
para esse fim. No entanto, essa capacitação está próximo ao limite inferior do Nível 2,
vem se tornando mais difícil devido à cres- enquanto o desempenho dos estudantes na-
cente diversidade, e o sistema vem, cada vez tivos situa-se no Nível 3.

60
Integração de estudantes não-nativos e de estudantes cujos pais são estrangeiros CAPÍTULO 8

A abordagem utilizada na França para pro- analisados neste estudo, as baixas taxas de
ver igualdade de oportunidades tende a criar realização dos imigrantes são menos reduzi-
medidas que pretendem fornecer recursos das quando se considera a primeira geração
adicionais e processos específicos em escolas (filhos de imigrantes), conforme mostra a
ou áreas pouco favorecidas. Em especial, du- Tabela 1. Entretanto, esses resultados devem
rante os últimos 20 anos, as Zones d’Education ser considerados como indicativos, e não de-
Prioritaire (ZEPs) utilizaram a “discriminação finitivos, devido à baixa taxa de resposta da
positiva” para atender necessidades especiais Holanda no PISA.
de estudantes de áreas pouco favorecidas,
As escolas recebem recursos extras para
que incluem alta porcentagem de estudan-
cada estudante pouco favorecido. Outras
tes imigrantes. Recursos adicionais ajudam
medidas compensatórias para apoiar esses
a manter turmas menores, aulas extras e
estudantes não são institucionalizadas, de-
incentivos financeiros para professores. De
pendendo da ação das autoridades munici-
maneira geral, por todo o país, há também
pais. Essas medidas colocam em evidência
medidas especiais que visam integrar rapi-
as necessidades de estudantes imigrantes.
damente novos estudantes imigrantes à vida
As autoridades formulam planos de ação que
escolar; as escolas fornecem o idioma francês,
podem prover recursos extras para escolas
mas não dão apoio ao desenvolvimento da
pouco favorecidas, com base no número de es-
língua materna.
tudantes com background de imigrante. Desde
É difícil determinar o efeito total das o final da década de 80, projetos “headstart”
ZEPs, porém escolas ZEP que obtiveram vêm se concentrando em crianças em idade
sucesso em melhorar o potencial de rea- pré-escolar provenientes de comunidades
lização de seus estudantes são caracteri- de minorias étnicas. Este e outros projetos
zadas pela cooperação mútua da equipe, concentram-se na família, visando motivar
pela coerência de suas atividades, por uma os pais a apoiar o desenvolvimento de seus
administração escolar vigorosa e dinâmica, filhos no período inicial. A avaliação de dois
pela ênfase dada ao desempenho escolar, e desses programas – Kaleidoskop e Piramide
por um grupo relativamente constante de – mostra que resultam em escores de testes
estudantes, o que favorece a continuidade mais altos para os participantes, inclusive para
pedagógica. estudantes não-nativos. Entretanto, muitos
municípios não podem arcar com seus custos,
Na Holanda, amplas diferenças de de-
bastante elevados.
sempenho entre estudantes nativos e não-
nativos superaram as expectativas baseadas Aulas ministradas na língua materna fa-
unicamente no background social mais baixo zem parte do provimento de apoio opcional
dos imigrantes. Além disso, entre os países disponível dentro do sistema de educação

61
CAPÍTULO 8 Fatores que interferem no desempenho das escolas

holandês, oferecido fora do horário escolar a Em alguns países, os estudantes são integrados
todos os grupos lingüísticos. Essas aulas visam aos programas regulares o mais rápido possí-
fortalecer a autopercepção dos estudantes, vel, enquanto outros dão maior ênfase ao apoio
de modo que possam participar na sociedade em aulas extras.A Finlândia e a França utilizam
holandesa e adaptar-se a ela. programas de transição de curto prazo para
habilitar os estudantes a freqüentar escolas
Na Suécia, há uma imensa diferença entre
regulares. Entretanto, Canadá, Holanda e
alguns municípios rurais com poucos imi-
Suécia oferecem apoio especial, principal-
grantes e alguns distritos de Estocolmo, onde
mente a estudantes que estão freqüentando
80% a 90% dos estudantes têm background de
escolas regulares. Na Inglaterra e na França,
imigrante.
é importante o apoio adicional a escolas si-
Neste país, o objetivo permanente de pro- tuadas em áreas carentes, muitas delas com
ver oportunidades iguais a todos os grupos altas taxas de população imigrante. Esses dois
reflete-se nas políticas de integração de novos países recorrem a apoio dirigido para ajudar
imigrantes, sem que as crianças sejam força- grupos carentes a superar desvantagens.
das a abandonar suas próprias culturas. Essas
Atualmente, esses seis países reconhecem
políticas não só reagem aos problemas exis-
a pluralidade cultural, e a consideram o ponto
tentes, mas também servem como medidas
inicial para a integração de populações imi-
preventivas.Tradicionalmente, as crianças de
grantes. Portanto, com exceção da França,
famílias imigrantes recebem aulas extras de
todos os demais países reconhecem que o
língua materna ou de “sueco como segundo
apoio à língua materna constitui um elemento
idioma”. Entretanto, os estudantes muitas
importante para a integração e a educação.
vezes não aproveitam a instrução da língua
A maioria dos países provê uma combinação
materna, e atualmente a Suécia enfrenta a
de apoio na língua materna e no idioma de
necessidade de uma estratégia mais direcio-
instrução. Por outro lado, a França reforça
nada para a integração educacional desses
a aquisição do idioma francês como pré-re-
estudantes.
quisito básico para o sucesso educacional. No
Semelhanças e diferenças em estratégias Canadá, a “educação intercultural” faz parte
e estruturas de apoio para estudantes do currículo escolar.
não-nativos e estudantes cujos pais são
Os seis países reconhecem a importância
estrangeiros
do apoio familiar na aprendizagem, principal-
Os países abordam de maneiras diferentes mente na fase da pré-escola. Esses países estão
a questão de transição e integração, e ofere- lutando pela integração dos pais ao sistema
cem diversos níveis de integração de estru- educacional, devido à importância do apoio
turas de apoio para estudantes não-nativos. doméstico aos estudantes, principalmente

62
Integração de estudantes não-nativos e de estudantes cujos pais são estrangeiros CAPÍTULO 8

nos primeiros anos de aprendizagem. Essas à fase da pré-escola pode ter funções educa-
ações são exemplificadas nos “centros de as- cionais e preventivas. Essas medidas visam
sistência”, que trabalham com comunidades uma qualidade pedagógica capaz de apoiar o
imigrantes em Toronto, no Canadá. O apoio desenvolvimento das crianças.

63
Capítulo
9

COMO OS PAÍSES ENFRENTAM


AS DIFERENÇAS ENTRE O DESEMPENHO E
AS REALIZAÇÕES DOS ESTUDANTES QUE
COMPÕEM A POPULAÇÃO-ALVO

E mbora os países analisados neste estudo


atuem no sentido de estabelecer padrões
e medir resultados, nem sempre alcançam os
pessoas que não alcançam essa qualificação,
as províncias têm realizado intensos esforços
no sentido de melhorar as taxas de conclusão.
efeitos desejados. Sua preocupação aumenta Oportunidades de uma “segunda chance”,
principalmente diante do risco de determina- incluindo educação de adultos e capacita-
dos grupos de estudantes alcançarem resulta- ção adicional, reduzem a 15% a proporção
dos insatisfatórios – por exemplo, estudantes de não-qualificados em determinado grupo
em situação socioeconômica pouco favorecida. etário. Tipicamente, os estudantes que, após
Portanto, todos esses países adotaram estra- sair da escola e antes de atingir os 20 anos de
tégias para tentar elevar o desempenho a um idade, conseguem o equivalente a um diploma
nível aceitável.
de ensino médio ingressam em programas de
Estratégias para enfrentar baixos níveis de capacitação profissional; cerca de 50% desses
realização educacional estudantes freqüentam faculdades em suas
comunidades.A tendência a concluir o ensino
No Canadá, entre 93% e 99% dos estu-
médio na primeira tentativa e a aproveitar
dantes em diferentes províncias permanecem
uma segunda oportunidade educacional é
na escola até o final da educação compulsória.
maior entre as mulheres.
No entanto, em média, cerca de 10% saem da
escola sem uma qualificação de nível secundá- O sistema que rege as séries finais da educa-
rio. Reconhecendo os riscos enfrentados pelas ção secundária permite alguma flexibilidade
CAPÍTULO 9 Fatores que interferem no desempenho das escolas

em termos de transferência entre cursos di- 4 anos de idade, as instituições de educação


ferenciados. Algumas províncias oferecem pré-escolar dão grande ênfase ao desenvolvi-
opções profissionais a partir da 9a série, e mento cognitivo e social precoce. Este desen-
os estudantes podem, por exemplo, mudar volvimento ajuda a preparar as crianças para o
de um programa geral para um programa primeiro estágio básico do currículo nacional
profissional. (entre 5 e 7 anos de idade), focalizado no de-
Na medida do possível, o atendimento senvolvimento do idioma e da alfabetização,
a estudantes com necessidades especiais é na matemática e no mundo do conhecimento.
integrado às aulas normais. No ambiente pré- O governo atual planeja centralizar recursos
escolar, as medidas de apoio podem atender adicionais para o provimento de educação
crianças a partir dos 30 meses de idade. pré-escolar para crianças pouco favorecidas,
paralelamente à ajuda às suas famílias.
Na Inglaterra, uma abordagem funda-
mental para enfrentar os resultados heterogê- Apesar da persistência das disparidades
neos da aprendizagem é a busca por soluções sociais, a Inglaterra reduziu sensivelmente a
para as diferenças entre escolas. Desde 1988, diversificação social entre escolas na educação
resultados vêm sendo alcançados por meio primária. Entretanto, principalmente no nível
da atribuição de maior autonomia para que secundário, a livre escolha da escola contribui
cada escola elabore suas ofertas educacionais, potencialmente para a polarização social de
garantindo ao mesmo tempo que estejam de escolas, uma vez que pais mais abastados têm
acordo com os padrões nacionais, o que se maior probabilidade de colocar seus filhos em
confirma pela aplicação de testes ao final de
escolas situadas fora de sua área de residência.
cada estágio curricular. Os resultados do PISA
A criação de escolas secundárias com perfis
demonstram que, por meio desta abordagem,
especializados específicos tem como objetivo
o Reino Unido tem conseguido melhorar o
opor-se a essa diversificação social indesejável.
desempenho geral e reduzir as taxas de resul-
tados insatisfatórios, embora as diferenças que Nas séries finais da educação secundária,
persistem ainda se traduzam em um gradiente houve um aumento na criação de níveis acadê-
social mais acentuado em comparação com a micos tipo A e seus equivalentes profissionais,
maioria dos países pertencentes à OCDE. e uma redução no número de estudantes que
Com o objetivo de superar essas diferenças saem da escola sem qualificação. Um aumento
de resultados baseadas em diferenças sociais, da participação neste nível começou a solu-
uma estratégia decisiva é dar às crianças um cionar o grave problema de baixa realização
começo de vida igualitário, fornecendo-lhes educacional na Inglaterra em meio a uma mi-
amplo acesso à educação pré-escolar. Atual- noria significativa. No entanto, segundo os pa-
mente freqüentadas por 98% de crianças com drões da OCDE, permanece alto o número de

66
Como os países enfrentam as diferenças entre o desempenho e as realizações dos estudantes... CAPÍTULO 9

estudantes que não alcançam qualificação plena uniformes, por meio do aprimoramento de
nas séries finais da educação secundária. diversas áreas do sistema escolar. Um aspecto
importante é a preparação pré-escolar, e a
Na Finlândia, escolas abrangentes têm
França atingiu participação quase universal
sido amplamente aceitas desde sua criação, na
década de 70. Essas escolas devem enfrentar na école maternelle.
qualquer déficit na realização dos padrões No sistema da educação secundária, a
esperados. São bem-sucedidas quanto à com- diferenciação dos estudantes tem sido poster-
binação de desempenho médio muito alto com gada, uma vez que todos freqüentam grupos
um gradiente social pouco acentuado.Aparen- comuns de aprendizagem até, no mínimo, os
temente, portanto, a Finlândia desenvolveu
14 anos de idade, quando começam a ter op-
estratégias particularmente bem-sucedidas
ções entre duas ramificações: educação geral
para garantir que estudantes com capacidades
e educação profissional. Nas séries finais da
diversas consigam seguir as carreiras educa-
educação secundária, diversas ramificações,
cionais desejadas.
com status teoricamente equivalentes, desfru-
A maioria dos estudantes finlandeses (93%) tam de conceitos indiscutivelmente distintos,
freqüenta um programa pré-escolar gratui- havendo preferência pelo bacharelado em ge-
to, cujo currículo enfatiza individualidade, ral, em comparação com opções profissionais
cooperação e aquisição de habilidades sociais e técnicas. Outra fonte de disparidade reside
e cognitivas, oferecido em ambiente lúdico. na diferença escolar que resulta de algum
O progresso dessas crianças é acompanhado de nível de opção, e, principalmente, de um
perto por educadores, sem que seja feita qual-
setor privado comparativamente amplo.
quer avaliação formal. Esse acompanhamento
cuidadoso também é realizado por professores Em resposta a uma queixa comum de profes-
de sala de aula, que são responsáveis pelas sores franceses com relação à heterogeneidade
crianças até os 13 anos de idade, quando se dos estudantes, que constitui um obstáculo para
inicia a educação especializada. o sucesso do ensino, foram implementadas
Na França, as diferenças entre capital várias estratégias para tentar reduzir as dife-
sociocultural e realização educacional de gru- renças de capacidade dentro das salas de aula.
pos diferentes de estudantes são consideradas A prática da repetência está profundamente
basicamente produto de diferenças locais e enraizada na França; além disso, atualmente,
regionais. Portanto, o apoio a áreas pouco as regulamentações aplicadas a escolas que ofe-
favorecidas desempenha um papel fundamen- recem as séries iniciais da educação secundária
tal nas soluções. De maneira mais geral, vêm recomendam explicitamente o agrupamento
sendo empreendidos, através do país, esfor- de estudantes de acordo com as áreas de in-
ços no sentido de produzir resultados mais teresse e de estudo escolhidas.

67
CAPÍTULO 9 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Na Holanda, na escola secundária, os A Suécia tem obtido sucesso considerá-


estudantes são separados em grupos, de acor- vel na redução das disparidades sociais e no
do com sua capacidade, e divididos em uma nivelamento do desempenho, embora, como
ampla variedade de programas. A pré-escola em outros sistemas, ocorra diferenciação nas
está disponível para crianças com necessidades séries finais da educação secundária.
especiais a partir dos 3 anos de idade, e um
número relativamente grande de alunos (5%) Na Suécia, a educação pré-escolar – um
freqüenta escolas especiais, que permitem sistema sólido e bem sustentado – e sua aceita-
transferência direta para o sistema regular, ção pela população desempenharam um papel
e vice-versa. importante na inclusão social, principalmente
por meio da integração de crianças portadoras
As políticas educacionais da Holanda uti-
de deficiências às escolas regulares. Por outro
lizam a diferenciação para tentar reduzir as
desvantagens associadas ao background do estu- lado, o fortalecimento do direito dos pais de
dante, principalmente por meio de aplicação optar pela escola de seus filhos contribuiu
de testes aos estudantes ao final da educação para a segregação.
primária, para que se possa estabelecer que
Na transição das séries iniciais para as
tipo de educação secundária melhor aten-
séries finais da educação secundária, de 10%
derá suas necessidades. A idéia é evitar que
a 11% dos estudantes suecos não alcançam
estudantes ingressem em formas inadequa-
as notas exigidas em disciplinas básicas. No
das de aprendizagem, que venham a reduzir
sua motivação. Entretanto, desde 1993, um entanto, podem participar de programas de
currículo comum para as três primeiras sé- reintegração, que os qualifica para um dos
ries da educação secundária tem dificultado 17 programas das séries finais da educação
a diferenciação. secundária. Na Suécia, todos os programas
das séries finais da educação secundária têm
Na educação secundária, principalmente
duração de três anos, e conferem qualifica-
ao final das séries iniciais, 9% dos estudantes
ção geral para tentar o ingresso na educação
deixam a escola sem qualificação. Uma crítica
superior. Essas escolas oferecem um amplo
ao sistema de educação secundária diferen-
conjunto de opções para satisfazer necessi-
ciada da Holanda consiste na característica de
programas relativamente refratários, o que dades diversas. Entretanto, neste nível, o
significa que em muitos casos é difícil fazer critério de admissão à educação superior
transições para estudos mais avançados. Uma contribui para uma orientação baseada em
alta proporção de estudantes (50%) abandona realizações, que, de acordo com alguns, entra
os estudos – principalmente estudos de longo em conflito com a natureza sueca de livre
prazo na universidade. acesso ao estudo.

68
Como os países enfrentam as diferenças entre o desempenho e as realizações dos estudantes... CAPÍTULO 9

Semelhanças e diferenças na setor é obrigado por lei a seguir o currículo


compensação de desigualdades sociais na nacional.
educação básica
Os países adotam uma abordagem comum
A maneira como os países abordam baixos para enfrentar a heterogeneidade: como res-
níveis de realização dos estudantes está inti- posta inicial, os estudantes são separados em
mamente associada à questão da desigualdade programas diferentes no nível secundário.
social, que apresenta contextos diferentes em A Holanda estabelece esta separação mais
países diferentes, pois cada um deles parte cedo, porém atualmente desenvolve um cur-
de níveis diferentes de desigualdade social. A rículo comum para as séries iniciais da educa-
Figura 1 mostra que a inclinação do “gradiente ção secundária. Nas séries finais da educação
social” – diferença entre o desempenho espe- secundária, a introdução de exigências espe-
rado de dois indivíduos que ocupam posições cíficas com relação a realizações, associadas
socioeconômicas distintas – é mais acentuada ao direito de admissão ao estudo superior,
nos países com maior desigualdade geral. coloca muitos estudantes diante do risco de
fracassos individuais. Uma classificação hie-
Entre os países estudados, observa-se que a
rárquica de estudantes neste nível também
Inglaterra é o único cujo forte desempenho
está associada ao acesso a programas mais
geral no PISA é prejudicado por um gradien-
ou menos prestigiosos. Até este momento, a
te social acima da média, e que é também o
mensuração de resultados conseguidos aos 15
país com um nível particularmente alto de
anos de idade, realizada pelo PISA, conta uma
desigualdade de renda.
história incompleta sobre em que medida o
Todos os países utilizam estratégias com- desempenho dos estudantes atinge um nível
pensatórias semelhantes para nivelar as de- satisfatório, pois é nos anos seguintes que eles
sigualdades sociais na educação básica. Um serão testados de forma mais decisiva.
dos elementos mais importantes consiste na Medidas da educação de adultos oferecem
preparação realizada na primeira infância para um meio para limitar as diferenças entre as
garantir que, independentemente de back- realizações escolares pretendidas e aquelas efe-
ground, os estudantes estejam prontos para tivamente alcançadas pelos jovens, permitindo
freqüentar a escola. Para a educação primária aos indivíduos atingir metas que inicialmente
e para as séries iniciais da educação secundária, não alcançaram. O Canadá, em particular,
os países desenvolvem um currículo comum, relata programas de segunda chance mui-
mais ou menos uniforme, e, basicamente, os to bem-sucedidos, que também existem na
estudantes recebem educação em conjunto. Holanda e na Suécia. Entretanto, é motivo
As exceções mais importantes talvez sejam de preocupação o longo tempo que pode ser
Inglaterra e França, onde a educação privada é necessário para a conclusão de programas de
substancialmente setorizada – na França, este reintegração.

69
CAPÍTULO 9 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Figura 1

Gradiente social e desigualdade de renda


40
Reino Unido
38

36

34
Gradiente social (PISA)

32
França
30 Holanda

28
Suécia
26 Canadá

24

22
Finlândia
20
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38
Desigualdade de renda (coeficiente Gini)

O coeficiente Gini mostra valores entre 0, para distribuição igualitária, e 100, para desigualdade máxima.
Fonte: World Bank (2001), World Development Report: Attacking Poverty. Oxford, Oxford University Press, Tabela 5, p. 282-283.
O gradiente social mostra mudanças em pontos na escala PISA para letramento em leitura por 16,3 unidades ISEI.
Fonte: OECD (2002), Education at a Glance: OECD Indicators 2002. Paris, Tabela A9.1, p. 112.

70
Capítulo
10

DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
DE PROFESSORES

O s professores representam um veículo


essencial para transportar mudanças
para cada escola. Portanto, sua capacitação
nos últimos anos. Entretanto, em Ontário,
duas universidades inauguraram novas ins-
talações em 2002, na tentativa de corrigir
inicial e seu desenvolvimento profissional são essa limitação. Cursos de graduação de qua-
fatores decisivos para atingir os objetivos do tro ou cinco anos são orientados academica-
sistema. O capítulo 5 analisa a organização e mente (B.A.) ou profissionalmente (B.Ed).
o financiamento da capacitação em serviço,
As universidades também oferecem progra-
como parte do processo educacional. Este
mas de extensão da graduação, cobrindo tópi-
capítulo considera mais especificamente o
cos específicos, como gerenciamento escolar
papel dos padrões profissionais e de capaci-
e administração educacional. Os professores
tação na carreira dos professores – desde a
participação inicial na capacitação, passando recém-admitidos nas escolas são avaliados por
pela qualificação e pelos modelos de compro- professores experientes, que os ajudam a pla-
misso de qualidade, até o conceito e o status nejar outros programas para desenvolver seu
da profissão docente. profissionalismo. À medida que progridem, as
promoções ficam condicionadas à capacitação
Estratégias para o desenvolvimento
continuada. Diversidade cultural e habilidades
profissional do professor
de diagnóstico são dois aspectos fundamentais
No Canadá, o número de instituições do conteúdo da capacitação de professores.
de capacitação de professores foi restringido Em especial, os professores estão aprendendo
CAPÍTULO 10 Fatores que interferem no desempenho das escolas

a utilizar instrumentos sofisticados de avaliação papel em relação aos resultados de avaliações.


para verificar os progressos dos estudantes. Há quem considere que a orientação mais
pragmática da capacitação de professores na
O compromisso com a qualidade envolve
Inglaterra foi longe demais, baseando o ensino
a determinação de padrões de ensino, que
em processos mecanicistas, e não em uma com-
diferem de uma província para outra. Outras
preensão teórica mais ampla, enfraquecendo,
condições são a participação continuada no
desse modo, a autonomia acadêmica.
desenvolvimento profissional e a capacidade
dos professores para trabalhar em equipe e Durante a capacitação inicial, uma caracte-
avaliar os estudantes com eficácia. rística básica da obtenção de créditos consiste
Nos últimos anos, diversos fatores vêm na avaliação do desempenho em aulas práticas.
contribuindo para elevar o status dos profes- Para tornar-se um professor qualificado, o
sores canadenses por meio do fortalecimento estudante deve satisfazer todos os padrões
do profissionalismo. Esses fatores incluem exigidos. O compromisso com a qualidade
admissão seletiva à capacitação docente, de- é mantido ao longo de toda a carreira de um
senvolvimento de padrões profissionais de professor, principalmente em relação às inspe-
ensino, supervisão mais rigorosa (em alguns ções escolares, que são realizadas no mínimo
casos, pelas autoridades escolares) e tempo uma vez a cada seis meses, e que analisam o
adicional para capacitação em serviço. desempenho em cada sala de aula.Além disso,
aumentos de remuneração estão atrelados ao
Na Inglaterra, os estudantes precisam desempenho do professor, o que exige que
mostrar habilidades lingüísticas mínimas para educadores demonstrem um exercício docente
participar da capacitação de professores, e consistentemente eficaz.
podem freqüentar um curso universitário
completo para graduar-se, ou, caso já te- Nos últimos anos, uma inspeção mais ativa
nham concluído o curso universitário, cursar do trabalho dos professores deu maior trans-
um ano de qualificação. Na última década, a parência aos padrões profissionais. Embora a
capacitação de professores tornou-se muito inspeção escolar possa aumentar a confiança
mais prática e baseada na escola. Atualmente, em padrões específicos, mensagens negati-
focaliza as habilidades necessárias para que os vas podem causar intranqüilidade pública.
professores ensinem disciplinas específicas e A pressão pode prejudicar a atratividade da
as técnicas exigidas para transmitir conheci- profissão docente, tornando-se um proble-
mentos. Aqueles que preenchem os padrões ma, e, embora os professores ingleses sejam
exigidos na capacitação inicial candidatam-se relativamente bem pagos em comparação aos
ao Status de Professor Qualificado. Em 2001, professores de outros países deste estudo,
82 escolas receberam o status de escolas de há sérias dificuldades relacionadas ao recru-
capacitação, e foram recompensadas por esse tamento e à retenção desses profissionais.

72
Desenvolvimento profissional de professores CAPÍTULO 10

Programas especiais têm sido planejados para dos professores não é utilizada; ao contrário,
atrair para a docência um número maior de estudos de avaliação enfocam as condições
pessoas, principalmente entre grupos mino- de trabalho e o desejo de participar de novo
ritários sub-representados. A criação de um processo de capacitação.
Conselho Geral de Docência, em 2000, teve
Aparentemente, os professores finlandeses
por objetivo o aprimoramento dos padrões de
perderam status nos últimos 30 anos, porém
ensino e aprendizagem e de conduta profis-
a profissão docente permanece como uma
sional, assim como assessorar o governo em
das carreiras mais populares para graduados
relação a questões profissionais.
em universidades. Segundo os professores,
Na Finlândia, apenas 10% dos candidatos esta popularidade é devida, em parte, à sua
são aprovados na seleção para programas de permanente auto-avaliação positiva. O salário
capacitação de professores, um procedimento dos professores é relativamente baixo, porém
rigoroso que inclui um teste de aptidão e a carga de trabalho é moderada – de 15 a 23
outras formas de avaliação. As universida- horas de ensino por semana –, e a razão estu-
des trabalham com um sistema unificado de dantes/equipe de ensino é elevada.
capacitação, que exige dos estudantes um
Na França, pessoas que desejam parti-
grau de B.A. inicial, seguido pelo mestrado.
cipar da capacitação de professores devem
Os componentes educacionais são voltados
possuir uma primeira graduação universitária.
predominantemente para professores de es-
Os candidatos também devem submeter-se
cola primária, e constituem apenas uma pe-
a um teste de admissão. A capacitação tem
quena parte para os dos cursos secundários.
duração de dois anos, com a realização de
O provimento de capacitação continuada
um concorrido exame ao final do primei-
inclui dias de capacitação em serviço e a ex-
ro ano. A situação acadêmica de capacitação
pectativa de que as escolas gastem cerca de 1%
inicial para professores primários melhorou
de sua folha de pagamento com capacitação.
na década de 90, quando todas as institui-
Pesquisas mostram claramente que os profes-
ções foram associadas a universidades. Há
sores finlandeses entendem o desenvolvimen-
também maiores vínculos entre aqueles que
to continuado como um fator importante para
estudam para o ensino primário e os que es-
o desenvolvimento do sistema educacional
tudam para o ensino secundário. O segundo
como um todo.
ano de capacitação é, em sua maior parte,
Ao final da capacitação pré-serviço, os vivenciado em capacitação prática, e os estu-
professores devem realizar testes, por meio dantes são avaliados em aulas práticas. Após o
dos quais ou são “aprovados”, ou são obrigados ingresso na profissão, a capacitação é voluntária
a realizar estudos adicionais. Entretanto, uma na maior parte das vezes, e deve ser realizada
vez em serviço, a avaliação formal individual fora do horário de trabalho.

73
CAPÍTULO 10 Fatores que interferem no desempenho das escolas

Na França o modelo para o ensino é se- Devido à escassez de professores, algumas vagas
melhante ao de outras profissões no setor são abertas a candidatos que não concluíram
público, no que diz respeito à utilização de sua capacitação docente, porém solicita-se
exames (concours) para adequar ingressantes que realizem um rápido teste de aptidão e
às vagas disponíveis. Embora os testes esta- que obtenham a qualificação de professor no
beleçam um limite de qualidade, o nível do prazo de dois anos. O ensino pode ocorrer em
conjunto padrão varia de acordo com a oferta faculdades de educação ou em universidades.
e a procura. Além disso, as inspeções não são Os dois tipos de instituição concedem qualifi-
necessariamente um meio confiável para man- cações para lecionar uma disciplina específica,
ter padrões, uma vez que não há transparência porém nas faculdades, os cursos têm duração
nos critérios utilizados para avaliar aulas, e não de quatro anos, enquanto as universidades
há conseqüências evidentes dessas inspeções capacitam estudantes graduados a receber a
para os professores. qualificação docente no prazo de um ano após
a conclusão de quatro anos em outra disciplina.
Na França, o status dos professores pa- Recentemente, os cursos tornaram-se mais
rece estar decaindo, pois estes nem sempre práticos, sendo que a capacitação prática ocupa
preenchem as altas expectativas do público, 50% do curso universitário de um ano. A ca-
e há uma diminuição geral no respeito pelo pacitação em serviço é adquirida principalmen-
desempenho acadêmico. Aparentemente, o te a partir de centros de orientação educacio-
público também acredita que os professores nal. O número de professores que participam
trabalham poucas horas, uma vez que as escolas desses cursos de capacitação não aumentou
ficam abertas apenas durante horários espe- nos últimos anos, pois os professores não dis-
cíficos. Porém, um novo levantamento indica põem de tempo e não encontram cursos que
que a carga de trabalho média de professores satisfaçam suas necessidades. Essa capacitação
corresponde a uma semana de 40 horas – aci- não é prioridade para seus diretores.
ma do padrão de 35 horas estipulado por lei,
em qualquer região, para a força de trabalho Atualmente, perfis específicos de tarefas
formam a base para modelos de competência
francesa. Os professores franceses conservam
na capacitação de professores holandeses. Es-
um aspecto tradicional de seu profissionalis-
ses perfis podem ser instrumentos úteis para
mo: um conceito limitado de seus deveres,
reformar cursos visando à adaptação à mudan-
estritamente associados ao ensino em sala
ça, permitir que o desempenho do professor
de aula. Mesmo funções como supervisão de
seja avaliado, e contribuir para legitimar o
estudantes fora da sala de aula são delegadas
profissionalismo dos professores. Entretanto,
a pessoas especializadas.
levantamentos mostram que o conceito dos
Na Holanda, não há seleção para a admis- professores holandeses diminuiu em meio ao
são em cursos de capacitação de professores. público, que não coloca mais a docência entre

74
Desenvolvimento profissional de professores CAPÍTULO 10

as dez profissões mais procuradas. O gover- Os professores podem negociar seus salários,
no espera resolver esta questão por meio de seja individualmente ou como parte de uma
campanhas publicitárias, trazendo os salários equipe. Hoje os professores trabalham em equi-
a níveis mais compatíveis com o desempenho pes locais para negociar as relações com os
e com perfis de tarefas, e reduzindo cargas empregadores e comunidades locais, e não
de trabalho. atuando como parte de uma profissão nacional,
sob um comitê educacional central.
Na Suécia, há uma escassez de professo-
res em certas disciplinas (um problema mais Espera-se que os professores suecos assu-
visível em matemática e ciências), o que se mam a responsabilidade não só pela organiza-
agrava em função do momento demográfico ção abrangente da aprendizagem dos estudan-
atual, quando muitos professores suecos tes, mas também pela garantia de condições de
atingem a idade para aposentadoria. Nos aprendizagem favoráveis, tarefa que os envolve
últimos 15 anos, a capacitação de professores em diversas funções sociais de apoio.
centrou-se basicamente em universidades
Semelhanças e diferenças na
ou faculdades, e não em academias especiais
organização da capacitação de
para o ensino de 1a a 6a séries. A capacitação
professores
é dividida em estudos educacionais, ensino
de disciplinas específicas e capacitação prá- Embora a capacitação inicial do professor
tica. Um amplo programa de pesquisa foi seja importante em todos os países, os modelos
criado para garantir que a aprendizagem organizacionais diferem entre si. Em princípio,
a partir de estudos educacionais reflita-se alguns países – como Inglaterra, Canadá e
na prática de sala de aula e de escolas; a Finlândia – são seletivos quanto à permissão
capacitação adicional de professores ocorre para participar de programas de capacitação
independentemente de qualquer atividade do de professores, porém apenas na Finlândia
governo; e o governo não verifica a qualidade a oferta é suficiente para que todas as vagas
na capacitação em serviço. sejam preenchidas. Na Holanda e na Suécia
esses cursos são muito pouco procurados para
Atualmente, os professores suecos não
justificar qualquer critério de seleção. Assim
estão mais sujeitos à autoridade centralizada,
sendo, os países buscam formas de atrair mais
mas são contratados por comitês locais subor-
candidatos, porém, aparentemente, não há
dinados. Cerca de 25% dos professores suecos
métodos bem avaliados para fazê-lo.
não possuem uma qualificação docente formal.
Sua atuação é medida por horas de trabalho, Em diferentes países, os professores-estu-
e não por horas de ensino. A avaliação de seu dantes estão sujeitos a diferentes formas de
desempenho por parte de seus empregado- avaliação. Por exemplo, na França predomina
res deve ser completamente transparente. o conhecimento de disciplinas; na Inglaterra,

75
CAPÍTULO 10 Fatores que interferem no desempenho das escolas

a competência geral; e na Finlândia, a aptidão a testes e a avaliações regulares de professo-


para a profissão. Todos os países combinam res, assim como ao conteúdo e ao processo
estudos teóricos e práticos, porém na In- de desenvolvimento profissional. A prática
glaterra a prática predomina. Entre outros holandesa de reunir perfis de tarefas é um
países, a Finlândia apresenta o nível mais alto exemplo particularmente notável de como os
de integração organizacional dos diferentes padrões de ensino são formulados.As experiên-
elementos de educação de professores e de cias do Canadá e da Inglaterra constituem
educação para o ensino em diferentes níveis. exemplos interessantes de avaliação baseada
No Canadá, na Holanda e na Inglaterra, há em padrões. Essa determinação de padrões é
diversos modos de capacitação, e o modelo particularmente importante onde a escassez
pode ser de fase única ou de duas fases, com de professores facilita o acesso a cursos.
a experiência prática seguindo a capacitação
O status da profissão docente continua frágil.
teórica. Na Finlândia e na Suécia, o conteúdo
Embora seja impossível comparar objetivamen-
da capacitação de professores baseada na uni-
te o status da profissão docente através dos países,
versidade associa conhecimento de disciplinas
especialistas de todos os países (com exceção do
e métodos de ensino, enquanto na Inglaterra a
Canadá) indicam um declínio nesse status ao lon-
transmissão de conhecimento tende a ser feita
go do tempo. Em princípio, a implementação de
na prática, ou por meio de desenvolvimento
padrões de qualidade rigorosos e transparentes
profissional continuado.
pode contrapor-se a esta tendência, embora
No Canadá, na Finlândia, na Holanda e na em alguns casos possa prejudicar a profissão
Inglaterra, a capacitação em serviço é mais com a redução de sua autodeterminação. Na
sistemática do que na França ou na Suécia. Inglaterra, onde o efeito é visível, a criação de
Nos primeiros, a participação em cursos de um Conselho Geral de Docência restituiu, em
capacitação não fica a cargo apenas dos pro- certo nível, o controle à profissão.
fessores individualmente, mas faz parte do
Um aspecto do desenvolvimento da profis-
desenvolvimento no nível da escola, incluindo,
são docente consiste no grau de envolvimento
em muitos casos, dias escolares de desenvol-
dos professores em sala de aula ou em atividades
vimento em serviço.
muito mais amplas.A esse respeito pode-se no-
Em alguns países, o compromisso do pro- tar um contraste enorme entre os professores
fessor com qualidade foi introduzido durante franceses – cuja responsabilidade permanece
a capacitação. Na década de 90, em três dos inabalavelmente restrita à sala de aula – e os
países estudados, o desenvolvimento de pa- professores suecos – que devem assumir a
drões constituía o ponto dos esforços para responsabilidade por atividades que variam de
reformar o desenvolvimento da profissão do- orientação de desenvolvimento à preparação
cente. Os padrões podem estar relacionados de um ambiente escolar propício.

76
Capítulo
11

CONCLUSÕES

A s conclusões deste relatório podem ser


resumidas e agrupadas sob três títu-
los. O primeiro está relacionado à cultura
importância da “cultura de realizações” de cada
país. Esta cultura manifesta-se basicamente
nas expectativas que a sociedade e os pais têm
educacional criada em cada país e, particu- em relação aos resultados da aprendizagem.
larmente, à forma como este país enfrenta a Embora variando em detalhes, quase todos
população estudantil heterogênea em relação os países analisados enfatizam o alto valor da
a background e capacidade, e com diferenças educação em suas sociedades.
regionais e locais. A segunda área está rela-
cionada às estruturas do sistema escolar e do Os sistemas escolares dos países incluídos
sistema de apoio educacional – capacitação de neste estudo são marcados por disparidades
professores, inspeção e orientação escolar. A regionais e sociais que devem ser enfrentadas
terceira área está relacionada às estratégias e pelos tomadores de decisão. Entretanto, os
aos instrumentos utilizados para administrar o países apresentam respostas diferentes a esses
sistema escolar e cada escola individualmente, desafios.Alguns favorecem a descentralização
com foco no compromisso com a qualidade e e esquemas de apoio local – por exemplo,
no desenvolvimento da qualidade. recursos adicionais e turmas menores em
escolas com grande número de estudantes
A cultura educacional e como enfrentar a
provenientes de backgrounds socioeconômi-
heterogeneidade
cos pouco favorecidos. Outros favorecem o
Esta análise comparativa da estrutura fortalecimento de um currículo obrigatório.
cultural de sistemas educacionais mostra a De maneira geral, entretanto, o princípio de
CAPÍTULO 11 Fatores que interferem no desempenho das escolas

instrução abrangente para grupos heterogê- ao término das séries iniciais ou finais da
neos de estudantes é complementado, cada vez educação secundária. Para alguns estudantes,
mais, por meio da elaboração de processos de os resultados desses métodos de seleção po-
instrução e aprendizagem condizentes com as dem significar que são incapazes de iniciar a
necessidades desses grupos diversos. carreira educacional planejada ou desejada.
Entretanto, a maioria dos países adotados
As estratégias para enfrentar a hetero-
como referência decidiu não permitir uma
geneidade dos estudantes apresentam de-
expansão ilimitada do setor universitário,
safios para os provedores de capacitação de
mas sim criar instituições não universitárias
professores, tanto inicial quanto em serviço,
dentro do sistema de educação superior – um
garantindo que sejam bem preparados para
lidar com diferenças dentro de suas salas de processo que vem ocorrendo rapidamente.
aula. Em cada escola e em cada sala de aula, Ao mesmo tempo, esses sistemas educacio-
os seguintes elementos podem ser necessá- nais, que, de acordo com os padrões inter-
rios: currículos centrais (fundamentais) que nacionais foram bem-sucedidos nas séries
dêem flexibilidade às escolas para determinar iniciais da educação secundária, introduziram
aulas e disciplinas, assim como o conteúdo da mecanismos altamente eficazes – e provavel-
aprendizagem; uma razão estudantes/equipe mente também seletivos, em termos sociais
de ensino que, como norma, esteja de acordo – para o ingresso na universidade.
com a média da OCDE, embora permitindo Todos os países dão atenção especial à situa-
uma razão acima da média para estudantes mais ção dos estudantes não-nativos e de estudantes
jovens; e avaliações de desempenho orientadas cujos pais são estrangeiros.Através dos países,
por processos e suplementadas por relatórios esse grupo apresenta as taxas mais baixas
sobre o status da aprendizagem – na maior de graduação escolar e os níveis mais bai-
parte das vezes, em associação com exames xos de desempenho na comparação com os
finais centralizados. estudantes que, assim como seus pais, nasce-
As respostas dos países às disparidades ram no país em que freqüentam a escola.Ape-
sociais estão relacionadas não só às séries nas alguns países fornecem cursos especiais
iniciais da educação secundária, que foram de preparação para esses grupos. Portanto,
objeto principal da pesquisa do PISA, mas qualquer apoio que esses estudantes recebam
também às séries finais da educação secundária vem, geralmente, por meio das aulas regula-
e ao ingresso na educação superior. Neste res. Esse apoio é orientado pelos princípios
caso, os países analisados apresentam siste- de respeito pelo pluralismo cultural, pela
mas de seleção bem definidos, com base em promoção da língua materna e do idioma de
critérios de desempenho. Em muitos casos, ensino (com exceção da França), e por forte
exames centralizados foram introduzidos cooperação com os pais.

78
Conclusões CAPÍTULO 11

Em geral, a análise desses sistemas educa- com linhas de integração social sejam supe-
cionais permite-nos concluir que os países riores, em termos de resultados, aos sistemas
que apresentaram bom desempenho no baseados em estudantes acompanhados des-
PISA colocam as disparidades sociais e de cedo em sua escolarização. No entanto,
culturais no centro das estratégias de ino- oferecem, sim, suporte circunstancial para
vação educacional. A esse respeito, avaliar esta hipótese.
e apoiar o desempenho de cada estudante e
O trabalho em cada escola necessita de
ampliar o provimento de escolas de período
apoio externo, principalmente quando a
integral são estratégias instrumentais. Entre-
população de estudantes é heterogênea. Os
tanto, a comparação não fornece detalhes países analisados têm como regra sistemas
quanto à estratégia educacional que melhor de inspeção escolar baseados em resultados
se adapta a cada grupo alvo. As constatações de avaliação intensa – sistemática e regular –,
parecem demonstrar a importância de so- e também enviam equipes de orientação às
luções flexíveis, elaboradas no nível local e escolas, a intervalos regulares (com exceção
orientadas para objetivos obrigatórios. Em da Suécia) ou sempre que solicitadas.
um nível cultural mais geral, é igualmente
importante notar o alto valor que os países A capacitação de professores recebe aten-
dão à educação, considerando-a fundamen- ção especial nesses países. É evidente que
tal para o perfeito funcionamento de suas procedimentos de seleção mais rigorosos,
sociedades. se implementados no início da capacitação,
poderiam melhorar a qualificação dos profes-
Estrutura do sistema escolar e serviços de sores, assim como o status da profissão docente.
apoio De maneira geral, a capacitação de professo-
Em todos os países analisados, os sistemas res é fornecida por uma organização única e
escolares são elaborados de modo a permitir poderosa, que utiliza padrões de competência
que os estudantes aprendam em conjunto de ensino para criar programas de capacitação.
por um período substancial de sua carreira As diferenças de status social dentro da docên-
cia são comparativamente baixas. Além disso,
escolar – normalmente, pelo menos oito anos
pessoas que trabalham no nível da pré-escola
letivos –, sendo submetidos a avaliação com
(“jardim da infância”) do sistema educacional
base em suas realizações educacionais apenas
conseguem uma capacitação educacional que
no período final de sua escolarização. Além
lhes concede um status social mais alto do
disso, aparentemente, esse acompanhamento
que em alguns outros países.
é feito com cuidado. Essas conclusões não
fornecem uma prova – e certamente, não Todos os países analisados consideram a
baseada em pesquisa empírica – de que os capacitação em serviço uma tarefa natural e
sistemas escolares organizados juntamente contínua de cada professor. Essa capacitação

79
CAPÍTULO 11 Fatores que interferem no desempenho das escolas

pode ser obrigatória e/ou uma condição para o A governança do sistema escolar
progresso na profissão.A capacitação em servi-
Antes do final da década de 90 – em alguns
ço está predominantemente organizada dentro
casos, muito antes –, os governos dos países
de cada escola. Além dos institutos estaduais, analisados começaram a elaborar e imple-
provedores independentes desempenham um mentar várias reformas educacionais, acom-
papel cada vez mais importante. Para novos panhadas por monitoramento sistemático e
professores, os programas contínuos – como empírico. Como regra, essas reformas foram
o programa de orientação na Inglaterra – são acompanhadas por intenso debate público
aparentemente muito importantes. A capaci- – uma situação que atualmente parece ter se
tação e a capacitação em serviço de pessoal iniciado também em outros países, inclusive
administrativo nas escolas também recebem a Alemanha, na seqüência da publicação dos
considerável atenção. Alguns países relatam resultados do PISA 2000.
diferenças nas várias funções administrativas
Um princípio básico subjacente às estra-
dentro de cada escola.
tégias de reforma nos seis países consiste na
Em resumo, essas constatações levam à mudança do modelo de governança por insu-
conclusão de que sistemas consistentes de mos para um modelo no qual a avaliação da
educação básica tendem a produzir bons qualidade dos resultados do trabalho escolar
resultados por meio do provimento de apoio é feita por instituições externas às escolas
de boa qualidade aos estudantes, aos pro- – principalmente resultados de aprendizagem.
fessores e às escolas, no contexto de uma Ao contrário do que por vezes se afirma,
estrutura escolar que não é diferenciada, a descentralização (sob o lema “autonomia
mas, sim, integrada. O sistema escolar dife- escolar”) e a avaliação externa não são ações
renciado desenvolvido na Holanda constitui diametralmente opostas, mas, sim, uma parte
uma exceção. Dentro das escolas e pré-escolas inter-relacionada da governança do sistema
com aulas integradas, esta estrutura requer escolar.
que os professores identifiquem e apóiem Nos países analisados neste estudo, quando
necessidades individuais. Para realizar essas entendida como um deslocamento do centro
tarefas com sucesso, os professores devem de tomadas de decisão para níveis mais bai-
receber capacitação pré-serviço de alto nível xos na hierarquia, a descentralização assume
e de alta qualidade; capacitação continuada formatos diversos. Pode significar o fortale-
e obrigatória em serviço; capacitação espe- cimento dos papéis e da influência dos atores
cial para tarefas de administração escolar; e dentro de cada escola – por exemplo, admi-
orientação e apoio prestados por equipes de nistradores escolares, professores, estudantes
especialistas, baseados em avaliações realizadas e pais. Pode significar também o fortaleci-
por agências externas. mento da administração pública regional ou

80
Conclusões CAPÍTULO 11

local – como na Finlândia e na Suécia –, ou Atualmente, todos os países analisados


pode ainda aumentar a influência daqueles que realizam monitoramento regular do sistema,
necessitam da educação – especialmente a in- na forma de avaliações periódicas das reali-
fluência dos pais no caso da educação primária zações dos estudantes. Essas avaliações são
e secundária, como ocorre na Inglaterra e na planejadas e analisadas pela autoridade central,
Holanda. Em geral, embora a descentralização podem envolver amostras aleatórias, são orga-
seja um objetivo comum a todos esses países, nizadas no nível nacional, ou fazem parte de
estudos de avaliação internacionais. Os países
o que variou até o momento foi seu grau de
consideram que a participação em uma avalia-
implementação. Enquanto a descentralização
ção e o feedback subseqüente constituem opor-
ainda está sendo implementada na França,
tunidades para fortalecer o desenvolvimento
países como a Finlândia e algumas províncias
das escolas. Em alguns países – notadamente
do Canadá enfrentam hoje a necessidade de Inglaterra, Holanda, algumas províncias e ter-
novas medidas centralizadas para evitar a de- ritórios do Canadá e, cada vez mais, a Suécia –,
sintegração dos padrões de qualidade, temida existe a expectativa de que sejam publicados
como resultado de um sistema excessivamente resultados de avaliação para cada escola, uma
descentralizado. prática que supostamente vem aumentando a
concorrência entre escolas, com um impacto
Outra característica comum entre os
positivo sobre a qualidade do desenvolvimento.
países analisados é a mensuração das re-
Esta prática está associada não só a mecanismos
alizações dos estudantes em cada país de
baseados no mercado, mas principalmente à
acordo com padrões consistentes e obriga- possibilidade de imediata identificação de esco-
tórios. Para isso, é necessário desenvolver las com baixo desempenho. Permite também
sistemas nacionais de avaliação baseados que essas escolas recebam intervenções de
nesses padrões. Mesmo o sistema federativo orientação dirigida, elaboradas para identificar
do Canadá utiliza essa forma de avaliação e corrigir áreas problemáticas.
em determinadas áreas da educação básica.
Em todos os países, uma precondição para
A França, que utilizou testes durante muitos
essas mudanças nas políticas educacionais foi
anos, principalmente para coletar dados em-
a criação, por alguns anos, de agências pro-
píricos sobre o sistema, recentemente passou fissionais visando desenvolver instrumentos
a estabelecer padrões. Essencialmente, den- de avaliação para realizar testes relacionados
tro de cada país, as escolas vêm assumindo ao currículo central e aos padrões educacio-
responsabilidades cada vez maiores em re- nais. A experiência mostra que nem escolas
lação à autoridade central, o que parece ser nem administradores escolares podem rea-
uma condição para garantir o sucesso dessa lizar essas tarefas de forma adequada. Além
maior autonomia em cada escola. disso, os programas de avaliação não testam

81
CAPÍTULO 11 Fatores que interferem no desempenho das escolas

exclusivamente o desempenho cognitivo, maior autonomia das escolas; expansão de um


mas registram também fatores contextuais sistema diferenciado de provimento educacio-
– por exemplo, status socioeconômico e ta- nal dentro de cada escola; criação de agências
manho da escola – e aspectos da qualidade de avaliação nacional, altamente profissionais;
do processo. Trata-se de uma característica testes e avaliações escolares empíricos, orga-
comum a todos os países. Esses estudos são nizados de maneira centralizada; e desenvolvi-
utilizados também como instrumentos para mento de alocação de recursos diferenciados
medir resultados, acompanhando projetos com base em resultados de avaliações, e em
de desenvolvimento em cada escola e em linha com o apoio aos atores do processo
sistemas escolares. educacional. Dos países analisados, apenas
a França está em um estágio inicial desses
A partir desses resultados, pode-se concluir
processos, mas vem realizando avaliações já
que os países que apresentam os melhores
há muitos anos.
resultados no PISA enfrentaram reformas
educacionais e implementaram novos mo- Em essência, a comparação revela um mo-
delos de governança de sistemas escolares delo de sistema escolar flexível, que oferece
em um estágio inicial, e conduziram esse às escolas alto nível de responsabilidade in-
processo de forma sistemática e contínua. dividual, garantindo ao mesmo tempo sua
A partir dos relatórios dos países, fica evidente responsabilização e a manutenção de padrões,
que os elementos integrantes desse processo por meio de um sistema de avaliações externas
envolvem: especificação de padrões educa- orientadas por produção, e de intervenções
cionais – relacionados, em parte, com um intensivas e dirigidas aos locais onde os pro-
currículo básico aprovado em nível nacional; blemas são maiores.

82
Anexo
A

ESTRUTURA ANALÍTICA UTILIZADA


PARA RELATÓRIOS NACIONAIS
NO ESTUDO MULTILATERAL COORDENADO
PELO INSTITUTO ALEMÃO PARA PESQUISA
EDUCACIONAL INTERNACIONAL

A estrutura analítica utilizada para os


relatórios nacionais no estudo mul-
tilateral coordenado pelo Instituto Alemão
• De que maneira o background familiar afeta
as realizações dos estudantes?
• Qual é o tipo de prestígio social associado à pro-
para Pesquisa Educacional Internacional foi fissão docente (salário, apelo profissional)?
elaborada de acordo com categorias destaca-
2. O nível do sistema: estrutura, processos
das em pesquisas sobre eficácia escolar. Cada
e resultados do sistema escolar como um
especialista submeteu um relatório sobre seu
todo
país, respondendo ao questionário apresen-
tado a seguir. Funcionamento do sistema

Estruturas horizontal e vertical do sistema


1. O contexto cultural da educação escolar
escolar
Background cultural e familiar
Palavras-chave: educação primária e
Palavras-chave: gradiente social, capital secundária, carreiras escolares, seleção no
cultural e social, status socioeconômico. sistema educacional.
• Qual é a importância de questões educacio- • Quais são os cursos disponíveis (por exem-
nais dentro das famílias e da sociedade? plo, programas acadêmicos vs. programas
• Com que seriedade são consideradas em com- profissionais)?
paração a outras questões (investimento dos • Qual é a flexibilidade entre esses cursos/pro-
pais, orçamento educacional, realizações)? gramas (por exemplo, os estudantes podem
ANEXO

mudar de um programa para outro; podem cia a cursos regulares é a estratégia geral
transferir-se “para cima” e “para baixo”)? para apoiar estudantes com necessidades
• Quais são as metas de aprendizagem e em especiais?
que medida o cumprimento dessas metas é • São oferecidas oportunidades para cursos
obrigatório em escolas primárias? individuais? Carreiras escolares individuais
Recursos são sempre caracterizadas por fracassos (“não-
Palavras-chave: banco de dados nacional,
promoção”, transferência para uma escola que
resultados empíricos além da publicação
ofereça um certificado de conclusão de valor
da OCDE “Panorama da Educação”, inferior), ou há também carreiras caracteriza-
debate público, escola como local de das por sucessos (apoio sistemático)?
trabalho, “complementação escolar”. Sistemas de apoio

• De que maneira são distribuídos os recursos Palavras-chave: inspeção escolar,


humanos e financeiros entre os diferentes orientação, capacitação de professores em
níveis do sistema educacional? serviço, debate em escala nacional.

• Quanto tempo os estudantes (até os 15 anos • De que maneira esses sistemas de apoio
de idade) passam em atividades de aprendi- ajudam a melhorar a qualidade da escola?
zagem em geral e de disciplinas específicas, De que maneira cooperam entre si? O que
tais como matemática, ciências, língua nativa se sabe sobre o impacto que causam? Como
e idiomas estrangeiros? são financiados?
• De que maneira é definido e organizado o • Os sistemas de apoio são utilizados sem inter-
período total de trabalho dos professores?
ferência externa? Qual é o papel do controle
• De que maneira são financiadas as escolas? A externo?
alocação de recursos depende de realizações
• Que estruturas de apoio são fornecidas
educacionais?
para a integração educacional de crianças
Enfrentando a heterogeneidade de não-nativas e de crianças cujos pais são es-
estudantes no nível do sistema trangeiros?
Palavras-chave: seleção em educação,
Capacitação de professores
enfrentamento da diversidade.
Palavras-chave: compreensão da profissão
• Qual é o grau de abertura ou de seletividade docente, capacitação de competências,
do sistema educacional? transição do curso de capacitação de
• De que maneira são tratadas as necessidades professores pré-serviço para a escola,
especiais no sistema escolar? A freqüên- papel da aplicação de testes a professores.

84
ANEXO A

• De que maneira é entendido o profissiona- Estratégias para reforma e inovação


lismo dentro da profissão docente? educacionais

• De que maneira a capacitação de professores é Palavras-chave: sistema de relatórios,


documentação sobre reformas, educação
organizada em termos de estrutura e conteúdo
primária e séries iniciais da educação
(fases, número de disciplinas, capacitação de
secundária.
professores de pré-escola, papel da didática
na capacitação para o setor primário, relação • Quais são as principais reformas implemen-
entre diferentes programas de capacitação de tadas no setor da educação desde meados da
professores pré-serviço)? década de 80? Foram baseadas em pesquisas
educacionais? Qual é o objetivo geral dessas
• De que maneira são promovidas as compe- reformas?
tências de diagnóstico dos professores?
Avaliação
Objetivos
Modelos de avaliação e de controle
Objetivos educacionais
Palavras-chave: modelos nacionais,
Palavras-chave: PISA e currículo nacional, responsabilidade de escolas.
distribuição do tempo de aprendizagem.
• Que decisões são tomadas nos níveis nacio-
• Qual é a relação entre os objetivos educa- nal, regional e local, e o que é controlado
cionais nacionais – tradicionais e modernos via “insumos” ou “produtos”? Qual é o papel
– e as metas de aprendizagem avaliadas pela de comunidades locais na administração da
pesquisa do PISA? escola?

• Existe uma atenção consistente em áreas • Que dados estão disponíveis para demons-
trar a relação entre autonomia escolar am-
fundamentais?
pliada, auto-eficácia das escolas e resultados
Padrões escolares?
Palavras-chave: compreensão nacional de • Em que medida as escolas são responsáveis
“padrões”, adequação aos padrões. por (auto-) avaliações?
• De que maneira os padrões educacionais • Qual é o papel dos exames (principalmente
(principalmente os padrões mínimos) são exames centralizados) e dos certificados de
definidos e utilizados no currículo, na pes- conclusão na avaliação escolar, e como são
quisa educacional e na avaliação? abordados?
• De que maneira os indicadores de padrões Monitoramento de sistemas
educacionais são operacionalizados em ní- Palavras-chave: tipos de avaliação em
veis diferentes e para metas educacionais larga escala, sistemas de feedback,
diferentes (nível de detalhe)? mudanças em estratégias políticas.

85
ANEXO

• Qual é a experiência do país com relação a 3. Os níveis da escola e da sala de aula:


avaliações em larga escala? De que maneira conceitos pedagógicos
o público, os profissionais da educação e Estrutura escolar
os formuladores de políticas reagiram aos
Palavras-chave: informação qualitativa,
resultados de avaliações anteriores?
“escola/família”, dados empíricos sobre
• Que tipos de testes (regulares) de desem- os efeitos da escolarização em período
penho são aplicados em níveis diferentes integral.
(políticas e administração educacionais,
• Qual é o papel das escolas em período in-
pesquisa educacional, escolas individual-
tegral? O que se sabe sobre o impacto que
mente), e de que maneira os resultados são
a escolarização em período integral exerce
utilizados? Que tipo de feedback os partici- sobre a qualidade escolar e sobre os resul-
pantes recebem, e como são tratados esses tados apresentados pelos estudantes?
resultados?
• De que maneira a organização em período
• Os resultados são publicados? Os resultados integral é utilizada (estrutura do dia escolar,
de “valor agregado” são relatados? aulas vs. “tempo livre” pedagógico, apoio
• Qual é a relação entre padrões centralizados cognitivo)?
de avaliação e aqueles fundamentados em Capacidade para adaptar-se à
modelos de mercado? heterogeneidade ou para enfrentá-la no

• De que maneira os resultados são interpreta- nível da sala de aula

dos dentro do próprio país? Que explicações Palavras-chave: resposta à


são oferecidas? heterogeneidade de estudantes, diferenças
culturais, ambiente em sala de aula.
Quais são as percepções empíricas
sobre qualidade do sistema? • De que maneira a heterogeneidade é tratada
Palavras-chave: efeitos diferenciais, PISA e em grupos de aprendizagem?
outros estudos. • De que maneira os estudantes são estimu-
• É possível detectar as fragilidades e os pon- lados, principalmente durante instrução
tos fortes relativos de sistemas nacionais de em sala de aula?
educação a partir das constatações de estudos • De que maneira professores e estudantes
nacionais e internacionais? são orientados para individualizar o plano
de suas aulas?
• Existem dados sobre diferenças regionais
dentro do país? Como são interpretados e • Quais as evidências de esforços para equi-
tratados esses dados? librar diferenças socioculturais?

86
ANEXO A

Integração de crianças não-nativas, • Há alguma associação entre atividades de sala


crianças cujos pais são estrangeiros de aula e atividades extracurriculares com
Palavras-chave: integração social e relação aos progressos em leitura?
educacional, competências lingüísticas. Diagnóstico precoce e apoio precoce

• De que maneira o domínio do idioma de Palavras-chave: qualificação de


instrução e a promoção de multilingüismos professores de pré-escola, proteção para
entre imigrantes são alcançados? estudantes de alto risco.

• Que medidas são tomadas a esse respeito • Quais são os objetivos educacionais de ins-
durante as aulas e fora da sala de aula (de tituições pré-escolares?
modo que os estudantes consigam um bom
• Que medidas são adotadas para apoiar crian-
domínio do idioma nacional, da língua nativa
ças pequenas, principalmente com relação
e dos idiomas estrangeiros exigidos)?
à leitura?
• De que maneira são tratadas as minorias Avaliação e qualidade das escolas
(étnicas) no sistema escolar? individualmente
Progressos em leitura Palavras-chave: avaliação externa/interna,
Palavras-chave: relação entre atividades de papel do mercado, padrões escolares.
sala de aula e atividades extracurriculares,
• Qual é a relação entre avaliação externa e
diferenças de gênero.
avaliação interna?
• De que maneira é desenvolvida e apoiada • Existe uma avaliação de professores, e essa
a competência para lidar com os interesses
avaliação produz conseqüências?
dos estudantes na área de leitura e para
avaliá-los?
• Há medidas de apoio especiais, principal-
mente para meninos?

87

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