1. CONCEITO
Litisconsórcio é a reunião de duas ou mais pessoas (e não duas ou mais partes) ou entes
sem personalidade jurídica, mas com capacidade processual, que assumem simultaneamente a
posição de autor ou réu. Caso possuam advogados distintos de diferentes escritórios, seus prazos,
para todas as manifestações, serão contados em dobro (art. 229, CPC).
§ 1º Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é oferecida
defesa por apenas um deles.
Obs.: O candidato pode enriquecer sua resposta rememorando que o Superior Tribunal de
0
Justiça, em algumas oportunidades, afastou a incidência do prazo em dobro para litisconsortes com
advogados distintos quando eles integrassem um mesmo escritório, sustentando que a previsão do
Codex visava alcançar patronos sem vínculo entre si:
Ficando definido que cada um dos advogados defende um dos litisconsortes, o fato de apresentar
suas alegações em uma única petição não afastava o prazo em dobro.
Esta regra não se aplica ao prazo recursal caso apenas um dos litisconsortes tenha
sucumbido, conforme a seguinte súmula:
Súmula 641, STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos
litisconsortes haja sucumbido”.
E se, por exemplo, acontece o seguinte: A e B são citados para contestar. De acordo com
o art. 229, o prazo é contado em dobro para litisconsortes com diferentes procuradores. Então, eles 1
são citados para contestar com prazo em dobro. B constitui advogado e este, dentro do prazo de
trinta dias, apresenta, no vigésimo sétimo, a contestação. O A é citado, mas permanece revel.
Pergunto: a contestação apresentada no vigésimo sétimo dia é intempestiva porque ele deveria tê-
la apresentado até o décimo quinto, ou ela é tempestiva porque o prazo era em dobro, mesmo o réu
A sendo revel?
No STJ, você encontra acórdão num e noutro sentido, mas prepondera, é majoritário, o
entendimento de que o réu B não tinha como saber se o A iria contestar. Ele contratou advogado
presumindo que o A fosse apresentar sua contestação, então, se ele apresenta no vigésimo sétimo
dia e, em tese, o seu prazo seria em dobro, trinta dias, seria tempestiva. Só que, a partir daqui, não
se aplica mais o 229 porque não há mais um litisconsórcio com diferentes procuradores, o que há
agora é um réu revel e um réu apenas com patrono para praticar atos no processo. Então, o STJ
entende que, como o B não tinha como saber se o A iria contestar ou não, conta-se em dobro
o prazo para a contestação, mas, uma vez encerrado o prazo para a contestação, todos os
atos processuais são prazos simples; não há mais litisconsórcio com diferentes procuradores.
Além disso, lembrar que a Fazenda Pública tem prazo em dobro para todas as suas
manifestações (art. 183). Se houver litisconsórcio entre Fazendas Públicas diversas ou entre elas e
o particular, haverá prazo em dobro (60 dias)? Negativo.
Processo Civil – Litisconsórcio
Nesse caso não se aplica a regra do art. 229, somente a do art. 183.
2. CLASSIFICAÇÃO
c) Por conexão, caso se imponha a reunião das causas para processamento simultâneo;
Quando é feita essa pergunta, o que se quer saber é até que momento alguém pode ingressar
em processo alheio como litisconsorte; estão perguntando do litisconsorte facultativo. A matéria era
tratada no art. 264 do CPC/73, que previa expressamente a chamada estabilização subjetiva da lide.
Não há no novo diploma legal regra correspondente nesse sentido. O art. 329 do Novo CPC, que
corresponde ao art. 264 do diploma legal revogado, limita-se a tratar da estabilização objetiva da
demanda.
CPC/73. Art. 264. Feita a citação, é defeso ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir,
sem o consentimento do réu, mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições
permitidas por lei. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
O que nós estamos estudando agora é a segunda parte do dispositivo do art. 264 do CPC/73,
“mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições permitidas em lei”, ou seja, a
ESTABILIZAÇÃO SUBJETIVA DO PROCESSO.
Até que momento é possível a modificação da parte autora e da parte ré no processo? Até o
momento da citação, de acordo com o art. 264 do CPC/73. Mesmo diante da omissão legal do
NCPC entende-se que, antes da citação, a demanda não está estabilizada em termos
subjetivos, de forma que a alteração das partes decorre da mera vontade do autor.
Processo Civil – Litisconsórcio
Isso significa que, para o CPC, alguém pode ingressar em processo alheio como litisconsorte
até a citação – mais precisamente, alguém que queira participar como litisconsorte facultativo, até a
citação, pode ingressar.
Digamos que eu sou funcionário da Justiça Federal e determinada lei admite que servidores
da Justiça Federal que trabalhem há mais de cinco anos recebam uma determinada gratificação. Eu
trabalho há mais de cinco anos, mas não recebi gratificação. Vou ajuizar uma demanda cobrando o
pagamento dessa gratificação e, comentando com os meus colegas de Vara, eles também querem
ajuizar a demanda. Eu vou me litisconsorciar com os meus colegas para agilizar essa demanda, cada
um de nós vai defender o seu próprio direito à gratificação.
Imaginemos que eu não quis esperar, ajuizei minha demanda contra a União, caiu na quarta
Vara Federal. Os meus colegas resolvem pedir o ingresso como litisconsorte nessa ação. Pergunto
para você, é possível admitir o ingresso deles como litisconsortes? De acordo com o CPC, é
perfeitamente possível, porque, enquanto não feita a citação, podem ingressar como litisconsorte.
Mas essa é apenas a primeira corrente de pensamento.
Estaria ocorrendo uma burla ao princípio do juiz natural, porque, na verdade, esse
litisconsorte facultativo estaria escolhendo o juízo por onde ele quer ver a sua demanda tramitar.
Então, para essa segunda corrente, não existe litisconsórcio facultativo ulterior.
Na lei, não há essa previsão. Pela lei, é possível, até a citação, ter um litisconsórcio ativo
facultativo ulterior. Depois da citação, a pessoa não poderá ingressar como litisconsorte ativo, mas,
caso possua algum interesse jurídico (direto ou indireto), pode ingressar como assistente. Se ela é
cotitular da relação jurídica de direito material, será um assistente litisconsorcial ou, também
chamado, qualificado. Se o interesse jurídico dela não é o mesmo (é um interesse jurídico conexo,
subordinado), ela será assistente simples.
Processo Civil – Litisconsórcio
Ocorre quando o provimento judicial tiver que ser igual para todos. A pluralidade de pessoas
é considerada como se fosse uma. Em todo litisconsórcio unitário, a relação jurídica discutida 5
deverá ser indivisível. Porém, não necessariamente há de se falar em solidariedade, já que
nem sempre a obrigação solidária é indivisível. A indivisibilidade é qualidade do objeto
prestacional, seja por sua natureza, por determinação jurídica ou por acordo das partes.
No litisconsórcio unitário, como o próprio nome dá a entender, existe apenas uma única
relação jurídica de direito material. Só que nessa única relação jurídica de direito material,
você tem vários indivíduos que estão a ela vinculados.
A relação jurídica de direito material é una, indivisível e incindível, porém vários indivíduos
estão a ela vinculados no momento do julgamento dessa relação jurídica de direito material. Quando
ela for decidida, seja um julgamento de procedência, de improcedência ou de procedência parcial,
independentemente do teor da decisão, essa decisão, seja de que conteúdo for, atinge a todos os
sujeitos vinculados à relação jurídica da mesma maneira.
Ocorre quando a decisão judicial PUDER ser diferente para os litisconsortes; cada um deles
atuará como se parte autônoma fosse. Nesse tipo de litisconsórcio, cada autor ou réu poderia ser
parte isoladamente em processos autônomos.
No litisconsórcio simples, está-se diante de uma situação litisconsorcial em que cada um dos
litisconsortes defende a sua própria relação jurídica de direito material. Em outras palavras, existe
um litisconsórcio, mas cada um dos litisconsortes possui a sua própria relação jurídica de direito
material sendo apresentada ao juiz. Não existe uma indivisibilidade de relação jurídica de direito
material, divididas entre os vários litisconsortes.
Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando, pela natureza
da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que
devam ser litisconsortes.
Ocorre pela própria natureza da relação jurídica discutida ou por imperativo legal10, quando
hão de ser citadas várias pessoas, como ocorre na usucapião. Uma sentença que repercutirá na
esfera alheia impõe, necessariamente, a formação do litisconsórcio, devendo o juiz determinar o
saneamento desse defeito (não citação) para evitar nulidade processual.
Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será:
I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado o
processo;
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.
E uma segunda corrente, mais moderna, preconiza que não há necessidade de pré-
questionamento. Pode, inclusive, ser objeto de exame de ofício no STJ e no STF, desde que o
recurso especial ou o extraordinário tenha sido admitido por outro motivo.
Digamos que ninguém alegou nada e formou-se coisa julgada (formal e material): é possível
alegar esse vício depois do trânsito em julgado da sentença? É possível alegá-la em ação rescisória?
Perfeitamente possível. Você pode alegar esse vício em ação rescisória, alegando violação
manifesta da norma jurídica, nos termos do art. 966, V do CPC. Violação manifesta de qual norma
jurídica? O art. 114 do CPC.
Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando:
[...]
Digamos que você perdeu o prazo da rescisória ou que você é adepto daquela doutrina
paulista segundo a qual não se pode rescindir o que não existe. É possível alegar esse vício, depois
do prazo da rescisória, de alguma maneira? Sim, através da querela nullitatis, também chamada de
ação declaratória de inexistência de relação jurídica ou ação declaratória de nulidade. Isso porque
faltou a citação do litisconsorte necessário.
Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente, quando:
Litisconsórcio II - entre as causas houver conexão pelo pedido ou pela causa de pedir;
Facultativo por
Conexão IV - ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. 9
§ 1º O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de litigantes
na fase de conhecimento, na liquidação de sentença ou na execução, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa ou o cumprimento da
sentença. 12
11Quando se fala em comunhão de direitos e obrigações, é necessário visualizar, no caso concreto, se essa
obrigação é divisível ou indivisível. Se o direito ou a obrigação for divisível, então tudo bem, o litisconsórcio é
facultativo. Mas se a obrigação for indivisível, cuidado, pois pode ser caso de litisconsórcio necessário.
12Algumas Corregedorias-Gerais dos TRFs tem estabelecido a limitação por dez autores , v.g., o Provimento
Não existe litisconsórcio necessário ativo1314. Isso porque, de acordo com a doutrina, não
se pode impedir o direito de qualquer pessoa postular em juízo em função da inércia de outra. Essa
é a posição do STJ.
De acordo com Fredie Didier, sempre que o litisconsórcio for unitário, será também
necessário. Daniel Assumpção discorda disso, afirmando ser plenamente possível o litisconsórcio
unitário facultativo. Ele cita exemplo das hipóteses em que a lei permite a legitimidade extraordinária
concorrente, como ocorre nas ações civis públicas. Tem razão.
Porém, importante ter em mente que se o litisconsórcio for ativo, unitário e facultativo, a
decisão afetará o direito material também daquelas pessoas que deixaram de atuar no processo.
Não consigo pensar, entretanto, em qualquer hipótese de legitimação ordinária que permita o
litisconsórcio unitário e facultativo (mentira: o MP pode pedir alimentos para o menor e perder. O
menor ficará sujeito à coisa julgada, ainda que seja ele o legitimado ordinário).
Porém, nem sempre que ele for necessário será unitário, já que a lei pode determinar o
litisconsórcio somente para harmonizar os julgados, sem igualdade de conteúdo para os
litisconsortes.
10
2.3.2. LITISCONSÓRCIO FACULTATIVO ATIVO SIMPLES E UNITÁRIO
difundido, há litisconsórcio necessário ativo. Há situações que uma pessoa só pode ir a juízo se outra for, mas
se um não quiser o outro pode ir sozinho, propondo ação contra aquele que ele proporia e contra o potencial
litisconsorte que não quis demandar. No final da explicação ele menciona que não tem muita relevância saber
se é no polo ativo ou passivo, o que importa é que tem que estar os dois em juízo. Juiz do Trabalho no RJ
cobrou posição de Nelson Nery.
Processo Civil – Litisconsórcio
“A” e “B” mantém uma relação jurídica de direito material com “C”. Há um contrato que vincula
“A” e “B” de um lado e “C” de outro. Um dia, “A” decide rescindir o contrato. “C” não concorda com a
rescisão. Assim, “A” vai ser o autor da demanda, enquanto “C” será o réu. E “B”? Não se sabe ainda.
Só se sabe que ele não quer propor a demanda judicial. Ressalte-se que “B” tem que estar no
processo porque o litisconsórcio é necessário.
b) Cássio Scarpinella Bueno (PUC/SP) entende que “B” entra no processo como um sujeito
atípico. Isso porque, por ora, quando a demanda começa, ele não é autor e nem réu. Como sujeito
atípico, ele será citado por meio de uma citação atípica (porque só o réu é citado). Essa citação terá
por função integrar o sujeito à relação jurídica de direito processual. No entanto, quando da citação
de “B”, ele pode optar por 3 caminhos distintos: a) assumir o polo ativo, sendo litisconsorte do autor;
b) assumir o polo passivo; c) ficar inerte, de modo a não suportar os ônus das verbas sucumbenciais.
c) Nelson Nery Jr. entende que “A” será autor, “C” será réu e “B” também será réu, que será
citado, podendo continuar no polo passivo, assumindo a condição de réu, ou pode passar para o
polo ativo, assumindo a condição de autor. Isso já ocorre na Ação de Improbidade Administrativa e
na Ação Popular.
d) Bedaque entende que “A” será autor e “B” e “C” serão réus, uma vez que o processo é
baseado na lide, pois “A” quer um bem da vida e encontrou resistência por parte de “C” e “B”. Assim,
Processo Civil – Litisconsórcio
verifica-se que os dois estão resistindo à pretensão do autor. Ressalte-se que o autor tem que
certificar que a parte está resistindo, para poder figurar no polo passivo (para mim, essa é a posição
mais correta. Entretanto, também tem coerência a posição do Nelson Nery Jr., já que ao citar
B e deixar ele escolher o que fazer, estar-se-á dando caráter democrático ao processo e
ajudando a por termo na lide de uma forma mais pacificadora do ponto de vista social, sem
imposição unilateral do Estado).
Ainda que raro, o litisconsórcio facultativo poderá ser unitário, caso em que é reconhecida a
legitimação ordinária individual para a propositura da ação.
Por exemplo, o art. 1.314 do CC prevê a hipótese que existe um condomínio entre vários
sujeitos. O condomínio é formado pelos sujeitos A, B e C, só que o art. 1.314 autoriza que um dos
condôminos, sozinho, individualmente, possa reivindicar a coisa comum de terceiro.
Então, pelo art. 1.314 do CC, um dos condôminos titular da relação jurídica de direito material
pode, sozinho, ajuizar uma ação reivindicatória em face de um terceiro.
Caiu essa questão na prova do MP do RJ: o A não está com boas relações com B e C. B e C
viajaram, eles não estão se falando. A não está nem aí para B e C. A resolve, sozinho, ajuizar a ação
reivindicatória, pleiteando para quem o imóvel? Para ele ou para todos do condomínio? Quando ele
ajuíza a ação reivindicatória, ele ajuíza para ele ou para todos? Para todos, pois ele quer que o imóvel
volte ao condomínio, e não para ele. A lei autoriza que ele ajuíze essa demanda sozinho e
individualmente e, então, assim ele o faz.
Processo Civil – Litisconsórcio
Se B tomar conhecimento de que A ajuizou essa demanda, até que momento ele e C podem
adentrar ao processo? Na condição de parte, será até a citação, com o litisconsórcio facultativo
unitário, porque a relação jurídica de direito material que A está defendendo é a mesma relação
jurídica de direito material que B e C possuem; em outras palavras, eles são cotitulares da mesma
relação jurídica de direito material. A relação jurídica de direito material, discutida nesse processo, é
não somente de A, mas de A, B e C.
Então, até a citação, eles podem ingressar como litisconsortes. Digamos que eles não
ingressaram... eles podem ingressar posteriormente à citação? Podem ingressar como
assistente litisconsorcial, porque eles são titulares da mesma relação jurídica de direito
material que o autor da demanda. Eles poderiam ter sido litisconsortes até a demanda; depois da
demanda, eles podem ser assistentes litisconsorciais em qualquer momento e em qualquer grau de
jurisdição; podem ingressar como assistentes até no STF, não tem problema algum.
Mas, se eles poderiam ter sido litisconsortes até a citação e depois da citação eles só podem
ser assistentes litisconsorciais, eu pergunto: qual é a diferença entre uma coisa e outra? A
DIFERENÇA É QUE O LITISCONSORTE PODE FAZER PEDIDO, E O ASSISTENTE NUNCA
PODE FAZER PEDIDO. Logo, o litisconsorte pode tornar objetivamente mais complexa a
13
relação processual, o assistente litisconsorcial não.
Então, quando o litisconsorte é aceito no processo, ele pode formular pedidos de indenização,
de perdas e danos etc. Ele pode fazer o pedido que ele quiser no processo. O assistente
litisconsorcial não faz pedido, ele ingressa no processo para auxiliar uma das partes, ele apenas vai
auxiliar o que já foi objeto de pedido anteriormente. Assistente nunca faz pedido.
Digamos que você não ingressou nem como litisconsorte e nem como assistente
litisconsorcial, e a sentença foi proferida e transitou em julgado. Aí vem a pergunta: com o
trânsito em julgado, a coisa julgada formal e material, formada nesse caso, atinge A, B e C ou
não? Posição amplamente majoritária é de que atinge A, B e C (é a posição do Barbosa
Moreira, José Rogério Cruz e Tutti, Fredie Didier, Daniel Assumpção).
É uma exceção ao art. 506 do CPC. Ele afirma que a coisa julgada não beneficia e nem
prejudica terceiros, mas, aqui, é uma exceção, porque o sistema tem que evitar que essa
Processo Civil – Litisconsórcio
relação jurídica volte a ser discutida em outro processo. Ela é una, indivisível, pode ser
decidida uma única vez. A decisão tem que atingir a todos a ela vinculados.
Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando
terceiros.
É óbvio que, na doutrina, há quem defenda que deveria ser aplicado o art. 506. É
entendimento clássico, por exemplo, da Ada Pellegrini Grinover. Ela entende que, se o B e o C não
participaram do processo, a coisa julgada não pode atingi-los. É pura e simples a aplicação do art.
506. Então, para ela, eles podem ajuizar a mesma demanda, com mesmo pedido e mesma causa de
pedir. Mas, para a maioria da doutrina, nesse caso, haveria, sim, coisa julgada.
Então o litisconsórcio é facultativo porque a lei autoriza que um dos litisconsortes possa
ajuizar a demanda sozinho, mas ele é unitário, porque, uma vez decidida a relação jurídica de direito
material, essa decisão atinge a todos aqueles que estiverem a ela vinculados. 14
15 Pluralidade de titulares do direito, sendo que a lei permite que somente um deles litigue em juízo.
Processo Civil – Litisconsórcio
Outros exemplos:
Ou eu sou filho do Eduardo e irmão de Pedro, Maria e José ou eu não sou filho de Eduardo
e não sou irmão de Pedro, Maria e José. A relação jurídica de direito material é una. 15
Segunda hipótese muito comum: exoneração de fiança.
Fiador quer se exonerar de fiança prestada. Ele vai colocar no polo passivo, em
litisconsórcio unitário, o afiançado e o beneficiário da fiança.
Vejam, eu sou o fiador, não quero mais que essa fiança exista, quero me exonerar da fiança.
Eu tenho que colocar no polo passivo quem eu afiancei e aquela pessoa que está garantida pela
fiança, porque, se eu obtiver a exoneração da fiança, nenhum deles tem mais fiança nenhuma. A
relação jurídica de direito material é una. Ou eu estou exonerado da fiança, ou eu permaneço fiador.
Eu não posso continuar fiador para o afiançado e não continuar para o beneficiário. Ou eu sou fiador,
ou não.
Ocorre que, no momento em que A pede a dissolução da sociedade, isso significa que ou a
sociedade será dissolvida para todos os sócios, ou, se o pedido for julgado improcedente, ela
permanece intacta. Logo, todos os sócios devem constar do polo passivo.
Outra hipótese é a anulação de registro. Na anulação de registro, você tem que ajuizar a
demanda contra todos aqueles que constam no registro como sendo os proprietários.
Quando é que o litisconsórcio é obrigatório, no entanto, a decisão que vier a ser proferida
pode ser diferente em relação aos diversos litisconsortes? Em que hipótese o litisconsorte é
obrigatório, mas a decisão de mérito pode ser diferente em relação a cada um dos litisconsortes? É
aquela hipótese em que a relação jurídica de direito material não é indivisível, porque, se ela
fosse indivisível, o litisconsórcio teria que ser unitário.
Então, por exemplo, na oposição você tem o A ajuizando uma demanda em face de B exigindo
a entrega de um carro. Só que um terceiro, considerando-se o titular do carro, ingressa nessa relação
processual, através da oposição, exigindo para ele a entrega do carro. Então, na verdade, ele cria
uma segunda demanda, a demanda dele, em face do autor e do réu da demanda originária. É o que
dispõe o art. 682 do CPC.
Art. 682. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito sobre que controvertem
autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição contra ambos.
Então, a oposição é oferecida contra ambos, o autor e o réu da demanda originária. Só que
pode acontecer de as provas e argumentos do autor da oposição serem ótimos em relação ao A,
mas não conseguirem afastar o direito do B.
Tem que estar relacionada a alguma das hipóteses do art. 113 do CPC: comunhão de
direitos ou obrigações, objeto divisível, conexão ou afinidade de questões. Vejamos.
Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente, quando:
Além de ele ser facultativo, a decisão de mérito pode ser diferente para os inúmeros
litisconsortes. Nós estamos, aqui, diante do caso dos servidores que querem cobrar uma gratificação.
Cada um deles poderia ajuizar a sua própria demanda cobrando o pagamento da gratificação. Só
que a lei possibilita, com base na conexão, que eles se reúnam e, em conjunto, apresentem uma
única demanda cobrando o pagamento da gratificação. A decisão pode ser diferente em relação a
todos eles, afinal, cada um defende a sua própria relação jurídica de direito material. Cada um dos
litisconsortes defende a sua própria relação jurídica de direito material.
atendida. É o caso da ação de alimentos proposta contra parente de primeiro e segundo grau. Este
somente poderá ser condenado a pagar se aquele não puder suportar todo o valor devido.
a) Litisconsórcio facultativo impróprio: é o previsto no art. 113, III, que ocorre por afinidade
de questões por ponto comum de fato ou de direito. Ele jamais será unitário, sendo sempre
facultativo e ativo.
O STJ entende que o litisconsórcio multitudinário pode ser conhecido de ofício pelo juiz, não
obstante essa matéria ser passível de preclusão. Se há preclusão, percebe-se que não é matéria de
ordem pública. O JUIZ PODERÁ CONHECER DO LITISCONSÓRCIO MULTITUDINÁRIO ATÉ A
CITAÇÃO. Após a citação, o réu, no prazo de resposta poderá alegar essa espécie de litisconsórcio.
Art. 115. A sentença de mérito, quando proferida sem a integração do contraditório, será:
I - nula, se a decisão deveria ser uniforme em relação a todos que deveriam ter integrado
o processo;
II - ineficaz, nos outros casos, apenas para os que não foram citados.
Processo Civil – Litisconsórcio
De acordo com o art. 115, II, do CPC, será ineficaz a sentença proferida no processo no qual
se verificar a ausência de litisconsórcio necessário. Porém, na verdade, o vício variará de acordo
com o motivo pelo qual o litisconsórcio é necessário.
Tratando-se, por outro lado, de litisconsórcio necessário legal, cuja relação jurídica seja
incindível (artigo 73, parágrafo 1º, inciso I, do Código de Processo Civil), ou, em especial, de
litisconsórcio necessário unitário, o julgamento é, em princípio, ineficaz, ou seja, na clássica acepção
de Chiovenda, inutiliter datus para todos, inclusive para aqueles que figuraram no processo. Por
exemplo: não é possível conceber que a sentença anulatória do casamento desconstitua o vínculo
em relação ao cônjuge que participou do processo e mantenha o matrimônio em relação ao outro
que deixou de ser validamente citado.
20
Art. 117. Os litisconsortes serão considerados, em suas relações com a parte adversa,
como litigantes distintos, exceto no litisconsórcio unitário, caso em que os atos e as
omissões de um não prejudicarão os outros, mas os poderão beneficiar.
a) Conduta determinante: é a conduta da parte que a leva a uma situação desfavorável, como
v.g., a revelia, a desistência, a renúncia etc.
b) Conduta alternativa: é aquela pela qual a parte visa a uma melhora de sua situação
processual, ainda que não a obtenha efetivamente. É aquela praticada com o objetivo de alcançar
um resultado favorável aos litisconsortes. Então, se a parte requer a juntada de um documento, a
Processo Civil – Litisconsórcio
oitiva do perito ou quer recorrer, todas essas condutas voltadas para o resultado favorável, resultado
positivo, são chamadas de condutas alternativas. Diante dessas condutas, o ato praticado por um
dos litisconsortes produz efeitos para todos, independentemente de qualquer manifestação de
vontade.
4.1. REGRAS
A conduta determinante de um litisconsorte não pode prejudicar o outro. O ato praticado por
um dos litisconsortes somente produz efeitos se todos concordarem. Isso significa que, se
um dos litisconsortes não concordar com a manifestação de vontade, o ato não produz
nenhum efeito.
Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita, salvo se
distintos ou opostos os seus interesses.
Daniel Assumpção esclarece que essa interpretação do art. 391 do CPC é errada. Isso porque
a confissão é um meio de prova. Se um dos litisconsortes confessa um fato que diga respeito a todos,
convencendo-se o juiz da veracidade do que foi dito, todos os sujeitos sofrerão os efeitos disso, não
sendo lógico que o juiz, num mesmo processo, considere um fato existente para uma das partes e o
mesmo fato inexistente para as outras. 22
Esse entendimento se aplicará pouco importando qual a espécie de litisconsórcio; sendo
unitário ou simples, o fato será sempre um só, de forma que, sendo a confissão eficaz, vinculará a
todos, sendo ineficaz, não vinculará a ninguém.
Nada mais é do que o ingresso de terceiros no processo pendente por ordem do juiz. O CPC
prevê que somente pode ocorrer em relação ao litisconsorte necessário não citado no polo passivo.
Então, se o autor não incluir, o processo será extinto sem resolução do mérito. Mas com base
em quê?
Duas posições:
2. Para Alexandre Câmara, o processo é extinto sem resolução do mérito por falta de
legitimidade passiva ad causam, com fulcro no art. 485, VI do CPC.
Fredie Didier defende interpretação extensiva para que também se adote tal postura para o
litisconsorte unitário facultativo não citado, já que este também será atingido pela coisa julgada.
23