Kant ainda ocupa-se de fazer uma distinção entre um juízo do gosto puro e um
juízo que assenta-se firmemente em sensações, ressaltando ainda mais a distinção
presente entre estes 3 conceitos fundamentais da estética.
Metodologia: pretendo desenvolver um artigo argumentativo, esboçando ideias
básicas e introdutórias a filosofia estética kantiana.
utilizarei passagens da Crítica da faculdade do juízo e algumas passagens do esteta
Benedito Nunes, acerca da filosofia platônica para embasar meus argumentos;
Palavras-chave: gosto; estética; Platão; desinteresse.
A ruptura com a filosofia estética tradicional a partir do conceito de
contemplação desinteressada.
O gosto é um juízo livre pois é algo em si mesmo, isto é, não subordina-se a
nenhuma outra finalidade ou causa. Mas não podemos chamá-lo também de “juízo do
gosto puro”, pois é justamente indiferente quanto a existência da coisa. Pode-se dizer que
é um juízo desinteressado, ou seja, não se preocupa com a representação da existência
de um objeto. Não é nenhuma atribuição do gosto determinar, ou compreender, nada
relativo à existência do objeto em si. Do mesmo modo, esta não é sua pretensão no que
se refere aos fenômenos (Erscheinung), visto que este é justamente um juízo apreciativo
e não se dispõe nem a estender nem a assegurar nenhum conhecimento. É pontualmente
em decorrência deste fato, é que o gosto pode agir como juiz na perspectiva estética.
Ponto claramente evidente na clássica passagem do palácio elaborada por Kant.
“Chama-se interesse ao comprazimento (a) que ligamos à representação da existência
de um objecto. Por isso um tal interesse sempre envolve ao mesmo tempo referência à
faculdade da apetição, quer como seu fundamento de determinação, quer como vinculando-se
necessariamente ao seu fundamento de determinação. Agora, se a questão é saber se algo é
belo, então não se quer saber se a nós ou a qualquer um importa ou sequer possa importar algo
da existência da coisa, mas sim como a ajuíza nos na _õ6 simples contemplação (intuição ou
reflexão). Se alguém e pergunta se acho belo o palácio que vejo ante mim, então posso na
verdade dizer: não gosto desta espécie de coisas que são feitas simplesmente para embasbacar,
ou, como aquele chefe iroquês, a quem em Paris nada lhe agrada mais do que as tabernas;
posso além disso em bom estilo rousseauniano recriminar a vaidade dos grandes, que se
servem do suor do povo para coisas tão supérfluas; finalmente, posso convencer-m e facilmente
de que, se me encontrasse numa ilha inabitada, sem esperança de algum dia retornar aos
homens, e se pelo meu simples desejo pudesse produzir por encanto um tal edifício sumptuoso,
nem por isso me daria uma vez sequer esse trabalho, se já tivesse uma cabana que me fosse
suficientemente cómoda. Pode-se conceder-me e aprovar tudo isto; só que agora não se trata
disso. Quer-se saber somente se esta simples representação do objecto em mim é acompanhada
de comprazimento, por indiferente que sempre eu possa ser com respeito à existência do
objecto desta representação.”
(Kant, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo 1997 pg. 46)
Dentro de uma perspectiva platônica, o belo está atrelado a seu nível ontológico,
isto é, a sua realidade. O que confere às artes, especialmente as de cunho pictórico
(pinturas, desenhos, esculturas) um valor de grande inferioridade, pois não passariam de
mera imitação da realidade. Ainda seguindo uma linha estética platônica, o julgamento
preocupava-se somente com a questão ontológica, mas importava-se também com as
finalidades de uma arte, atribuindo-lhes diferentes níveis de importância. Na filosofia de
Platão, as epopeias e cantos Homéricos, ocupavam o mais alto grau de importância, pois
desempenhavam o papel educador e inspirador na população grega antiga:
“Platão observa que a poesia e a música exercem influência muito grande
sobre os nossos estados de animo, e que afetam, positivamente ou negativamente, o
comportamento moral dos Homens. Vemos assim que Platão suscitou três ordens de problema
acerca das artes em geral: a primeira abrange a questão da essência das obras pictóricas e
escultóricas, comparadas com a própria realidade; a segunda, a relação entre elas e a beleza;
e a terceira, finalmente, diz respeito aos efeitos morais e psicológicos da música e da poesia.”
(NUNES, Benedito. Introdução a filosofia da arte 1989 pg 8)
Dentro da filosofia kantiana este julgamento perde totalmente o sentido, visto que
para Kant o homem vive no mundo dos fenômenos, e é incapaz de fazer frente a realidade
numênica. O gosto, portanto, atua no sujeito transcendental a partir das impressões que
lhe são impostas pelo fenômeno, e a partir de como este sujeito sente-se em relação a
influência que este fenômeno exerce em seu espírito:
“Para distinguir se algo é belo ou não, referimos a representação, não pelo
entendimento ao objecto com vista ao conhecimento, mas pela faculdade da imaginação (talvez
ligada ao entendimento) ao sujeito e ao seu sentimento de prazer ou desprazer. O juízo de gosto
não é, pois, nenhum juízo de conhecimento, por conseguinte não é lógico e sim estético, pelo
qual se entende aquilo cujo fundamento de determinação não pode ser senão subjectivo. Toda a
referência das representações, mesmo a das sensações, pode porém ser objectiva (e ela
significa então o real de uma representação empírica); somente não pode sê-lo a referência ao
sentimento de prazer e desprazer, pelo qual não é designado absolutamente nada no objecto,
mas no qual o sujeito se sente a si próprio do modo como ele é afectado pela sensação. “
( Kant, Immanuel. Crítica da faculdade do juízo 1997 pg. 45)