Anda di halaman 1dari 12

Enquanto assistimos à “lenta agonia da Nova República”, é possível

observar a “cristalização de um consenso entre PT, PMDB e PSDB em


relação à conveniência de manter Temer no Planalto até 2018, não
importando o custo em termos de ataques aos direitos dos trabalhadores,
aprofundamento da crise social, desorganização do aparelho
de Estado e agravamento da crise institucional”, afirma o
economista Plínio de Arruda Sampaio Jr. à IHU On-Line. E adverte:
“O silêncio das ruas, evidente após a decisão da CUT e do PT de esvaziar
a greve geral do dia 30 de junho, unificou o partido do ‘salvem-se todos’
em torno do objetivo comum de ‘estancar a sangria’”. Ao comentar os
últimos acontecimentos políticos no país, incluindo o depoimento
de Palocci à Lava Jato e sua carta ao PT, Sampaio Jr. é enfático: “Na
guerra entre Palocci, Lula e PT, não há inocentes”.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o economista também avalia
a situação econômica do país e crítica as declarações do governo federal
sobre a melhora da economia. “O governo mente sem cerimônia. (...)
Neste ano, apesar da relativa melhoria do preço das commodities, da
boa safra agrícola, do expressivo déficit primário e dos efeitos anticíclicos
da liberação dos recursos do FGTS, a economia está estagnada. O PIB de
2017 deve ficar em torno de 0,5%. Não há nada objetivo que permita
imaginar uma recuperação em 2018”.
Na avaliação dele, uma alternativa econômica viável para país deveria
“romper a lógica do ajuste neoliberal, o que supõe uma política de ruptura
com o Plano Real e a ordem global”. Além disso, sugere, seria preciso
apostar nas seguintes possibilidades: “inversão do critério de prioridade
implícito na Lei de Responsabilidade Fiscal que estabelece que,
primeiro, pagam-se os credores do Estado e, só depois, com o que sobra,
se faz políticas públicas; fim da liberdade de movimento de capitais e
centralização cambial, único meio de proteger a economia nacional dos
efeitos desestabilizadores da fuga de capital; democratização do Banco
Central para permitir que a moeda nacional seja utilizada em função das
prioridades da economia popular; auditoria política da dívida pública a
fim de libertar a economia brasileira do fardo do rentismo; e todas as
medidas complementares indispensáveis para que a política econômica
possa ser colocada a serviço dos interesses dos trabalhadores”.
Sobre temas que estão na ordem do dia, como a reforma tributária e o
enfrentamento das desigualdades, o economista ressalta que “para que
o Estado tenha condições de oferecer políticas públicas de qualidade,
o gasto público deveria ser de 30 a 35% do PIB. Isso significa que a
carga tributária líquida - recursos públicos efetivamente disponíveis para
fazer política social e investimentos públicos - deveria ter uma expressiva
elevação. A reforma tributária deveria aumentar imposto e eliminar o
caráter escandalosamente regressivo da estrutura tributária”. A seguir, ele
também comenta brevemente as possíveis candidaturas para
a presidência da República em 2018 e os respectivos programas
econômicos dos concorrentes.
Plínio de Arruda Sampaio Jr.
Foto: Antonio Scarpinetti | Unicamp
Plínio de Arruda Sampaio Jr é professor do Instituto de Economia da
Universidade Estadual de Campinas - IE/Unicamp. Possui mestrado em
Economia e doutorado em Economia Aplicada pela mesma instituição. É
autor de Capitalismo em crise: a natureza e dinâmica da crise
econômica mundial (São Paulo: Editora Sundermann, 2009) e Entre
a nação e a barbárie: os dilemas do capitalismo
dependente(Petrópolis: Vozes, 1990).
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Há novidades na atual conjuntura política? Dos
últimos acontecimentos políticos, qual merece ser analisado
com mais atenção?
O silêncio das ruas, evidente após a decisão da CUT e do PT
de esvaziar a greve geral do dia 30 de junho, unificou o
partido do "salvem-se todos" em torno do objetivo comum
de "estancar a sangria"
Plínio de Arruda Sampaio Jr. -Assistimos a lenta agonia da Nova
República. A democracia de cooptação instituída na transição
da ditadura militar encontra-se em estado terminal, mas ainda tem
força para resistir à morte. A marca do momento é a cristalização de um
consenso entre PT, PMDB e PSDB em relação à conveniência de
manter Temer no Planalto até 2018, não importando o custo em termos
de ataques aos direitos dos trabalhadores, aprofundamento da crise
social, desorganização do aparelho de Estado e agravamento da crise
institucional. O silêncio das ruas, evidente após a decisão da CUT e
do PT de esvaziar a greve geral do dia 30 de junho, unificou o partido do
"salvem-se todos" em torno do objetivo comum de "estancar a sangria".
A surpreendente estabilidade do governo Temer, não obstante sua
gangrena moral, reforçou o clima claustrofóbico que envenena a
sociedade. Estamos no pântano. Na ausência de uma solução
democrática, forjada de baixo para cima, para a crise política-
institucional, cresce o risco de soluções "autoritárias". A cumplicidade
do alto comando militar com as declarações abertamente conspiratórias
do General Antônio Hamilton Mourão revela o avançado grau de
deterioração da situação política brasileira.
IHU On-Line - Recentemente o STF enviou à Câmara um
segundo pedido de investigação do presidente Temer. Como
avalia a decisão?
As evidências de que o Brasil foi assaltado por um bando de
delinquentes a serviço do grande capital são robustas e,
mesmo assim, nada é feito para detê-los
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - As denúncias do Ministério
Público Federalsão gravíssimas. Vivemos uma situação absurda. As
evidências de que o Brasil foi assaltado por um bando de delinquentes a
serviço do grande capital são robustas e, mesmo assim, nada é feito para
detê-los. A segunda denúncia é ainda mais grave do que a primeira, pois
atinge não apenas Temer, mas todo o alto comando de seu governo. Ao
rechaçar a possibilidade de investigação da quadrilha que se apossou do
Planalto, o legislativo evidencia sua cumplicidade com os crimes contra o
patrimônio público. A banalização da crise política pelos
grandes meios de comunicação naturaliza o completo divórcio entre o
Estado e a população. A hipocrisia da classe dominante foi levada ao
paroxismo. O abismo entre os códigos morais e os costumes políticos, as
regras formais e as práticas reais é abismal. O Brasil vive uma situação
surreal. A cruzada moralista contra a corrupção convive com a mais
descarada conivência com a cleptocracia. Ao explicitar a inexistência de
uma solução institucional para a crise do padrão de dominação, o impasse
político e moral gerado pela falência da Nova República desloca o eixo
da luta de classes para o campo extra-institucional.
A metástase da crise coloca no horizonte uma situação de grande
turbulência política e social. Preocupados em defender a qualquer custo
seus privilégios, os de cima aproveitam o imobilismo dos de baixo para
retirar direitos trabalhistas e sucatear as políticas sociais. A burguesia
partiu para a ignorância, abandonou qualquer preocupação com as
aparências e assumiu sem escrúpulos seu caráter despótico. Submetida
aos interesses de uma plutocracia inescrupulosa, a razão
de Estado entrou em conflito frontal com as necessidades de quem
depende do próprio trabalho para sobreviver. Os de baixo, pouco a pouco,
tomam consciência de que o Estado brasileiro funciona como quartel
general do grande capital. Percebem que as necessidades da população
e os interesses estratégicos da Nação não fazem parte das preocupações
das classes dominantes.
IHU On-Line - Com a saída de Janot da Procuradoria-Geral da
República e a entrada de Raquel Dodge, vislumbra alguma
mudança na atuação da PGR daqui para frente?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Raquel Dodge é uma incógnita. A
forma como foi escolhida por Temer e seu livre transito com Gilmar
Mendes despertam muita suspeita e desconfiança. As forças que se
articulam para "estancar a sangria" são poderosas e possuem ramificações
na procuradoria e no judiciário. No entanto, mesmo que a nova
Procuradora Geral queira, não conseguirá deter a ofensiva avassaladora
contra o establishment político. A cruzada contra a Nova
República é condicionada por forças histórica profundas que
ultrapassam os poderes de um Procurador Geral da República.
Assim como o fim da escravidão selou a sorte do Império, o colapso do
café determinou o fim da República Velha, e a impossibilidade de
impulsionar a industrialização nacional decretou o fim do pacto de poder
que sustentou o Nacional Desenvolvimentismo em 1964, a crise
terminal da industrialização impulsionada pelo capital internacional selou
a sorte Nova República. A especialização regressiva das forças
produtivas requer um rearranjo profundo no padrão de
dominação. Dodge pode retardar a morte do velho, mas não tem força
para evitar o desaparecimento de estruturas historicamente condenadas.
É importante observar que, por mais paradoxal que possa parecer, o
verdadeiro objetivo da operação Lava Jato e da ofensiva contra os
partidos e políticos corruptos não é combater a corrupção. Nada está
sendo feito para erradicar as causas dos esquemas de corrupção - o
controle absoluto do capital sobre as estruturas do Estado.
As delaçõessão esclarecedoras. Por trás de todo partido corrupto existem
sempre interesses empresariais. O que está acontecendo é uma mudança
na forma de controle do Estado pelo capital. O capital precisa
modernizar os esquemas de corrupção para ajustá-los às novas exigências
do padrão de acumulação liberal-periférico. A transformação
da economia brasileira numa megafeitoria moderna requer um padrão
de dominação abertamente despótico. Em nome do combate à
corrupção, está em curso um ataque sistemático às instituições
democráticas. A consigna "ordem e progresso" diz tudo. É preciso
suprimir a expressão política dos cidadãos para que os negócios avancem.
IHU On-Line - Recentemente a Câmara aprovou o fim das
coligações para as eleições de deputados e vereadores, mas a
medida só entrará em vigor a partir de 2020. Quais devem ser
os efeitos dessa medida na política?
A solução democrática exige uma refundação do Estado
brasileiro
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Tudo que contribui para o
aprimoramento do sistema representativo é, em tese, positivo para os
trabalhadores. O fim das coligações é uma medida que fortalece os
partidos e qualifica o debate público. Trata-se, contudo, de uma medida
isolada, insuficiente para resolver a crise do sistema político, cuja
essência consiste no controle absoluto do poder econômico sobre o
parlamento. A medida não terá nenhum efeito prático, pois o ano de 2020
está a séculos de distância de 2017. Na prática, a chamada "reforma
política" ficou reduzida à elevação da cláusula de barreira para barrar os
pequenos partidos. O objetivo real é reduzir o espaço dos partidos
ideológicos que possam representar uma voz crítica
- PSOL, PSTU, PCB. Tudo foi feito para dar uma sobrevida ao status
quo. O resultado é previsível. O próximo Congresso será tão ou mais
corrupto do que o atual. O próximo presidente será parte da quadrilha.
O sistema político brasileiro está gangrenando.
A solução reacionária para a crise política requer um controle ainda
mais direto do capital sobre o Estado. Para tanto, torna-se necessário
eliminar o fiapo de democracia criada na transição da ditadura
militar para a Nova República e instituir novos mecanismos de
contenção da revolta dos de baixo. A solução democrática exige uma
refundação do Estado brasileiro. O desfecho deste braço de ferro não será
decidido no voto. Será resolvido na rua. Se os trabalhadores não tiverem
força real - vontade política - para impor uma solução democrática,
amargarão os efeitos reacionários e antirrepublicanos da solução
autoritária.
IHU On-Line - Como avalia a delação de Palocci, a reação do PT
em relação ao depoimento dele e, posteriormente, a carta dele
ao partido, oferecendo sua desfiliação? Qual deve ser a
consequência política disso?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - A delação de Palocci foi
devastadora para Lula. Se provar o que disse, Lula está juridicamente
liquidado. A reação do PT foi previsível. O PT recusa-se terminantemente
a admitir o óbvio. Prefere desqualificar as acusações e vitimizar-se.
A carta de Palocci revela sua falta de caráter e sua miséria humana. Todo
traidor é um crápula. O desvio do PT não começou quando Lula chegou
ao Planalto, mas bem antes. Em Ribeirão Preto a bandalheira data da
primeira prefeitura de Palocci em 1992. O "Italiano" foi convocado como
homem forte de Lula e, depois, de Dilma exatamente porque conhecia o
riscado. Sabia como colocar o poder público a serviço do grande
capital e, num partido de novatos, era mestre no sistema de angariar
propina. Na guerra entre Palocci, Lula e PT, não há inocentes.

IHU On-Line - O governo tem dito que a economia já dá sinais


de melhora. Concorda com essa sinalização?
A revolução está nas gigantescas contradições contidas nas
placas tectônicas da sociedade. Em Junho de 2013, ela
mostrou sua cara
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - O governo mente sem cerimônia. Há
mais de um ano, Temer e Meirelles vêm dizendo que a economia dá
sinais de recuperação. No ano passado, o PIB caiu quase 4%. Neste ano,
apesar da relativa melhoria do preço das commodities, da boa safra
agrícola, do expressivo déficit primário e dos efeitos anticíclicos da
liberação dos recursos do FGTS, a economia está estagnada. O PIB de
2017 deve ficar em torno de 0,5%. Não há nada objetivo que permita
imaginar uma recuperação em 2018. O mais provável é que a economia
continue estagnada. Em todas as frentes, os condicionantes internos da
demanda agregada são negativos. O regime de austeridade coloca em
perspectiva um ajuste fiscal sem fim e, paradoxalmente, o próprio
ajuste agrava a crise fiscal. Nesse contexto, não há nenhuma
possibilidade de expansão do gasto público. A contração da massa salarial
diminui o poder de compra dos trabalhadores, sobretudo quando se leva
em consideração o elevado grau de endividamento das famílias.
As incertezas econômicas e políticas desestimulam o investimento
privado, o que é agravado pela fragilidade financeira das empresas, pela
contração do crédito e pelo alto custo dos financiamentos. Nesse contexto,
o desempenho da economia brasileira fica dependente do comércio
internacional. Ainda que a economia mundial tenha apresentado uma
relativa melhoria, dificilmente será suficiente para "recuperar" a
economia brasileira. Também não está descartada a possibilidade de
um recrudescimento da recessão. A situação da economia mundial é
de grande instabilidade. O principal problema decorre das incertezas
geradas pela decisão das autoridades monetárias norte-americanas de
aumentar a taxa de juros. Entre os analistas internacionais, crescem as
advertências sobre o risco de uma nova crise financeirainternacional.
IHU On-Line - Uma das críticas feitas à política econômica do
governo e ao ajuste fiscal diz respeito às implicações que as
medidas adotadas tiveram na área social, especialmente depois
do anúncio da redução do orçamento social para 2018.
Considerando essas críticas e a realidade brasileira, o que seria
uma política econômica adequada para o país neste momento?
Que linha teórica deveria orientar a política econômica
brasileira?
O primeiro passo é preciso romper a lógica do ajuste
neoliberal, o que supõe uma política de ruptura com o Plano
Real e a ordem global
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Os efeitos do ajuste ortodoxo sobre
a economia e a sociedade são desastrosos. O projeto da burguesia é
colocar o Brasil no século XIX, olhando para o XVIII. Se a resposta
do capital à crise terminal da industrializaçãofor bem-sucedida, após
longo e penoso sacrifício, a economia brasileira será transformada
numa megafeitoria moderna. A burguesia procura inculcar na
população a noção de que o ajuste neoliberal é inescapável. Mas não
estamos predestinados a viver a barbárie da reversão neocolonial. Os
trabalhadores brasileiros não têm vocação para burro de carga e não
aceitarão docilmente a ofensiva sobre seus direitos. Buscarão novos
rumos.
Alternativa econômica
Uma política econômica alternativa deveria colocar como prioridade
absoluta o enfrentamento dos problemas reais do povo brasileiro - a
pobreza, a desigualdade social, a ausência de políticas públicas, o
desemprego e o subemprego, a questão urbana, a violência contra os
pobres, a questão agrária, a falta de autonomia nacional, a gravíssima
crise ambiental etc. Uma política dessa natureza tem de colocar em
primeiro plano a superação do subdesenvolvimento e da
dependência. No mundo atual, isso não seria possível sem o
enfrentamento do imperialismo e do capital. Enfim, uma política
econômica alternativa supõe mudanças estruturais - transformações
profundas em todas as dimensões da sociedade.
O primeiro passo é preciso romper a lógica do ajuste neoliberal, o que
supõe uma política de ruptura com o Plano Real e a ordem global.
Dentro das regras do jogo, a ofensiva contra o trabalho será
permanente. A libertação do jugo do ajuste permanente começa com a
revogação de todas as medidas regressivas adotadas pelo
governo Temer e deve ser complementada com uma série de mudanças
profundas como: inversão do critério de prioridade implícito na Lei de
Responsabilidade Fiscal que estabelece que, primeiro, pagam-se os
credores do Estado e, só depois, com o que sobra, se faz políticas públicas;
fim da liberdade de movimento de capitais e centralização cambial, único
meio de proteger a economia nacional dos efeitos desestabilizadores da
fuga de capital; democratização do Banco Central para permitir que a
moeda nacional seja utilizada em função das prioridades da economia
popular; auditoria política da dívida pública a fim de libertar a economia
brasileira do fardo do rentismo; e todas as medidas complementares
indispensáveis para que a política econômica possa ser colocada a serviço
dos interesses dos trabalhadores.
IHU On-Line - Qual sua avaliação sobre as reformas
Trabalhista e Previdenciária? Que aspectos dessas reformas
deveriam ser diferentes?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Não houve debate público sobre as
ditas reformas trabalhista e previdenciária. Só os economistas e
jornalistas que funcionam como ventríloquos do capital tiveram
acesso aos meios de comunicação. Vivemos tempos sombrios. O
pensamento que destoa da cartilha neoliberal é censurado. O próprio
termo "reforma" é enganoso. Na verdade, não se trata de reformar nada,
pois objetivo real não é melhorar a legislação que regula o conflito entre
o capital e o trabalho, nem muito menos melhorar o sistema
previdenciário brasileiro. Não se propõe um aprimoramento de nada. As
mudanças na CLT, cuja essência é o predomínio do negociado sobre o
legislado, têm como objetivo acelerar a precarização e terceirização
do trabalho. É um desmonte da legislação trabalhista. As mudanças
propostas na Previdência não respondem nem sequer ao diagnóstico de
que existiria uma insustentabilidade estrutural no padrão de
financiamento do sistema previdenciário. Nada está sendo proposto para
reforçar as fontes de receita da Previdência. As medidas anunciadas
resumem-se a cortes de benefícios. Trata-se, portanto, de desmantelar a
previdência e não de reformá-la. As mudanças necessárias deveriam ir no
sentido oposto. Aumentar os direitos dos trabalhadores, aumentar os
benefícios dos aposentados e reforçar as bases financeiras do sistema da
seguridade social. Tais medidas exigiriam, evidentemente, uma ruptura
com o círculo de ferro das políticas neoliberais.
IHU On-Line - Para além das reformas Trabalhista e
Previdenciária, alguns economistas e sociólogos sugerem que
seja feita uma reforma Tributária. Que elementos devem
compor uma reforma desse tipo considerando a realidade do
país? Alguns inclusive têm sugerido de novo a discussão sobre
uma renda mínima. Esse tipo de proposta lhe parece
apropriado?
Não sou contra uma política de renda mínima, desde que
isso não seja subterfúgio para deixar em segundo plano
reformas sociais. Políticas para administrar a miséria são
cúmplices da miséria
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - A reforma tributária que o país
precisa é exatamente a oposta da que vem sendo proposta há muitos anos
pelos neoliberais. A carga tributáriadeve ser aumentada e os recursos
fiscais devem ser vinculados à realização de políticas públicas. É o único
meio de fazer o Estado funcionar para a população brasileira. Para que
o Estado tenha condições de oferecer políticas públicas de qualidade,
o gasto público deveria ser de 30 a 35% do PIB. Isso significa que a carga
tributária líquida - recursos públicos efetivamente disponíveis para fazer
política social e investimentos públicos - deveria ter uma expressiva
elevação. Areforma tributária deveria aumentar imposto e eliminar o
caráter escandalosamente regressivo da estrutura tributária. Sem a
eliminação da plutocracia não há solução para os problemas do Brasil.
Não sou contra uma política de renda mínima, desde que isso não seja
subterfúgio para deixar em segundo plano reformas sociais. Políticas
para administrar a miséria são cúmplices da miséria. Sem a superação dos
condicionantes estruturais do subemprego, da concentração fundiária, no
campo e na cidade, dos baixos salários etc., é impossível eliminar
a pobreza e a desigualdade social. A melhor renda é aquela que não é
mínima e está vinculada a um trabalho bem remunerado.
IHU On-Line - Recentemente voltou-se a discutir no país a
possibilidade de privatizar instituições que até então
funcionavam como economia mista, a exemplo da Eletrobrás. O
Brasil deveria optar pela privatização ou não das instituições
públicas? Por que?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Na verdade, o país não discutiu nada.
A sociedade não foi consultada. Não houve debate público. Se fosse, seria
contra. A privatização foi um grande fracasso. Os serviços são péssimos e
caros.
As privatizações anunciadas por Temer caíram do céu. Tudo foi feito à
toque de caixa. Seu governo é uma bagunça. É tudo improvisado. O
programa de privatização de Meirelles não foi fundamentado em estudo
minimamente sério e nem se articula com uma visão estratégica da
economia nacional. Um governo com 3% de aprovação não tem
legitimidade para dispor do patrimônio público. Como o ajuste fiscal foi
um rotundo fracasso, Temer e Meirelles resolveram vender o
patrimônio público para tapar o rombo nas contas públicas. Privatizações
criam oportunidades para grandes mutretas. Privatização e a corrupção
andam de mãos dadas. O dano não é só financeiro.
A privatização corrompe a política econômica, colocando-a à serviço de
interesses privados espúrios. Quando os tempos mudarem - e, mais dia,
menos dia, os tempos mudarão -, seus responsáveis devem ser
processados por crime de lesa pátria. Tudo que é fundamental à vida não
pode ser objeto de lucro. Saúde, educação, transporte, comunicação,
energia, segurança pública, habitação, saneamento básico, água,
previdência social, segurança alimentar são áreas estratégicas para a vida
social e não podem ser submetidas a lógica estreita do cálculo capitalista.
IHU On-Line - Na outra entrevista que nos concedeu, o senhor
afirmou que a solução dos problemas brasileiros depende de
mudanças estruturais, e que chegou a hora de colocar a
revolução brasileira na ordem do dia. Sobre isso, quais
questões estruturais são essas e como pensa a aplicabilidade da
“revolução brasileira”?
O avanço galopante da barbárie capitalista transforma a
revolução socialista numa necessidade histórica
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - É uma pergunta complexa para ser
respondida em poucas palavras. O neoliberalismo vendeu a ideia do fim
da história como se o capitalismo fosse o destino inescapável da
humanidade. No entanto, o único meio de acabar com a história seria pela
superação das contradições que movimentam a história. Não é isso que
está acontecendo. O avanço galopante da barbárie
capitalista transforma a revolução socialista numa necessidade
histórica. Na trincheira brasileira, a barbárie assume a forma de um
processo de reversão neocolonial, cuja essência consiste no
progressivo rebaixamento do patamar mínimo de civilidade da sociedade
brasileira. A regressão do processo civilizatório atinge todas as dimensões
da vida social.
Quando os efeitos desastrosos das mudanças na CLT, do congelamento
das políticas sociais, do agravamento da crise social atingir os
trabalhadores, o Brasil vai ferver e os brasileiros verão que chegou a hora
de enfrentar as verdadeiras causas de suas mazelas - o regime de
segregação social, as relações de exploração do capital, as políticas de
dominação do imperialismo, a lógica oportunista e predatória do
capitalismo contemporâneo. A transformação do Brasil numa
megafeitoria moderna é social e politicamente inviável. É a hora e a vez de
os brasileiros enfrentarem os problemas acumulados em quinhentos anos
de uma história mal resolvida e de fazer frente às taras de
um capitalismo selvagem que ameaça a própria sobrevivência do
planeta. Os brasileiros precisam de "direitos já" - revolução democrática.
Os brasileiros precisam mandar no seu nariz. Passou a hora de conquistar
a "autonomia nacional" - revolução anti-imperialista. Os problemas
fundamentais dos trabalhadores não serão resolvidos sem a abolição das
hierarquias de uma sociedade baseada na exploração do homem pelo
homem. Contra a barbárie capitalista, os trabalhadores devem
contrapor a utopia da "igualdade substantiva". É preciso colocar
o socialismo na ordem do dia.
Para quem acredita no "fim da história", a aplicabilidade de uma
revolução é zero. Paradoxalmente, a burguesia se arma até os dentes para
evitar a crítica, criminalizar a luta, cooptar as organizações dos
trabalhadores, estigmatizar o comunismo. Se a história acabou por que
tanta preocupação em organizar a contrarrevolução preventiva? Se a
revolução é impossível, por que o Estado brasileiro se apressou para
passar uma "lei antiterrorista", promulgada por Dilma, logo após a
rebelião urbana das Jornadas de Junho? Se a revolução é impossível, por
que a burguesia se preocupa tanto em combater a esquerda e
estigmatizar o socialismo? A revolução não está na esquina. A revolução
está nas gigantescas contradições contidas nas placas tectônicas da
sociedade. Em Junho de 2013, ela mostrou sua cara. A transformação
de uma possibilidade histórica em realidade concreta depende da
construção dos instrumentos políticos que permitam transformar a
energia difusa da revolução brasileira em vontade política capaz de
modificar as relações sociais. Na ausência de tais instrumentos, vivemos
um paradoxo. A expressão política das contradições e antagonismos que
impulsionam a revolução brasileira materializa-se no medo pânico que
as classes dominantes têm em relação à possibilidade de emergência
das classes subalternas como sujeitos políticos. É a política de
contrainsurgência preventiva da burguesia que revela a presença da
revolução proletária como possibilidade histórica.
IHU On-Line - Hoje especula-se a possibilidade de o ministro
Henrique Meirelles ser candidato a presidente pelo PSD. Como
vê essa possibilidade? Qual seria a possível agenda econômica
de um governo Meirelles?
O presidente do Banco Central é um neoliberal
fundamentalista. Trata-se de um funcionário do grande
capital, sem sensibilidade social e sem noção sobre o
funcionamento da economia real
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Quem mais especula sobre a
candidatura de Meirelles é o próprio Meirelles. Especula com os direitos
dos trabalhadores e com opatrimônio público. Não conheço um
trabalhador brasileiro que alimente a intenção de votar nele. Um sujeito
que é homem de confiança da banca internacional e até antes de ontem
presidente do conselho de administração JBS, uma empresa criminosa,
não tem credencial mínima para ser presidente do Brasil. É impossível
que Meirelles tenha exercido as funções que desempenhou no Bank
Boston, JBS e Banco Central sem ter um alto grau de cumplicidade
com os esquemas de corrupção que controlam o Estado. Se vivêssemos
numa sociedade republicana, Meirelles seria um sério candidato à
investigação da Procuradoria Geral da República.
Seu programa de governo é conhecido desde a época em que foi
presidente do Banco Central de Lula. Ele é um neoliberal
fundamentalista. Trata-se de um funcionário do grande capital, sem
sensibilidade social e sem noção sobre o funcionamento da economia real.
Trabalha para o mercado, defende os interesses do capital internacional,
da plutocracia rentista, do agronegócio e do extrativismo mineral. Se for
candidato, será rechaçado pela opinião pública. Meirelles tem vocação
de capataz, mas não tem carisma algum.
IHU On-Line - Também há uma especulação em relação às
candidaturas de Ciro Gomes, Bolsonaro e Lula. Na sua opinião,
que aspectos definiriam os programas econômicos desses
candidatos? Eles seriam distintos em que aspectos?
Se Lula disputar a eleição de 2018, seu programa será uma
espécie de Carta ao Brasileiros 2.0. Fará o que o mercado
pedir
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Pelos seus problemas com a
justiça, Lula dificilmente concorrerá. Se disputar, seu programa será uma
espécie de Carta ao Brasileiros 2.0. Fará o que o mercado pedir. Ele já
manifestou que não revogará as reformas de Temer, rasgou elogios
a Meirelles, a quem considera grande homem público, revelou que
governara "sem frescura", ou seja, mantendo a promiscuidade entre o
público e o privado, e já começou a recompor a aliança com
o PMDB gangsteril de Renan Calheiros e que tais. Na economia, ele
representaria uma versão "light" do ajuste em curso. Na política, uma
continuidade do acordão que unifica o partido do "salvem-se todos".
Ciro Gomes é um lobo solitário com pretensões messiânicas. Seu
programa é vago e genérico, mas sinaliza no sentido de um nostálgico
resgate da industrialização por substituição de importações e uma
maior intervenção do Estado na economia. A sua concretização
supõe uma ruptura com a ordem global. Ciro Gomes não tem base social
e política para fazer o que diz, mesmo na suposição heroica de que seu
programa fosse economicamente exequível. Ele é um político retórico que
navega ao sabor das correntes. Sua trajetória partidária foi guiada pelo
oportunismo. Na ditadura militar,foi do PDS. Quando a ditadura foi
para o buraco, mudou-se para o PMDB. Com o fracasso do Plano
Cruzado, foi para o PSDB. Após apoiar Lula na eleição de 1989, flertou
com Collor e surfou à vontade na onda neoliberal. Como Ministro da
Fazenda de Itamar Franco, foi responsável pela agressiva liberalização
da economia que marcou o início do Plano Real. Sem espaço no PSDB,
em 1996, mudou-se para o PPS, onde tentou pela primeira vez a sorte
numa candidatura à presidência. Com a chegada de Lula ao poder, foi
para o PSB e converteu-se ao Lulismo, tendo servido como ministro
de Lula e Dilma. Bom de faro, quando Dilma começou a naufragar,
pulou rapidamente fora do barco. Percebendo o apelo de uma figura
antissistêmica, procura se reinventar, apresentando-se como uma opção
que nega o presente e acena para um passado idealizado. Não deixa de ser
irônico que o candidato que se vangloria de ter participado da criação
do Plano Real, que liquidou a indústria brasileira, pretenda se
transformar no paladino da industrialização. Enfim, Ciro Gomes é um
político ambicioso ziguezagueando desesperadamente em busca de um
caminho para o poder. É difícil saber se ele acredita no que diz e tem
noção dos conflitos que a realização de sua proposta implicaria. Mais do
que um ingênuo, ele é um demagogo. Enfim, Ciro Gomesé um blefe. Na
sua longa vida pública, nunca rompeu com o status quo. Sua utopia de
uma súbita volta ao passado é histórica e politicamente impossível. A
industrialização nacional está fora das possibilidades de uma economia
periférica em franco processo dereversão neocolonial. Sem revolução,
não há industrialização.
Bolsonaro é uma figura primitiva e caricata. Ele cativa o
desesperado que busca uma alternativa para um mundo
hostil e sem horizonte
Bolsonaro é uma figura primitiva e caricata. Ele cativa o desesperado que
busca uma alternativa para um mundo hostil e sem horizonte. Posa de
brucutu para obter votos e popularidade. Cresce no vácuo deixado pela
ausência de uma alternativa antissistêmica consistente. Percebeu que
a extrema violência liberada pela crise econômica e social abre
espaço para o discurso do ódio. Seu diagnóstico sobre os problemas
nacionais é tosco e maniqueísta. Todas as mazelas da sociedade são
atribuídas à presença de liberdades democráticas. A solução viria da
autoridade ilimitada do Estado. Acena com a ditadura militar como
panaceia. É um discurso oco. Bolsonaronão tem programa econômico.
Seu programa social é a baioneta. Não tem a mínima consciência sobre a
natureza dos problemas brasileiros e suas possíveis soluções. Não tem
articulação internacional. Não tem apoio nem mesmo das casernas. É
uma pessoa muito ignorante. É o candidato que melhor expressa a
naturalização da barbárie na esfera política. Ele nega tudo que é
civilizado. Postula-se como representante dos analfabetos políticos
enfurecidos. Terá o voto daqueles que já não acreditam em nada e
apostam numa solução mágica. Trata-se de uma figura patética, não tem a
estatura de um político capaz de grandes voos. É um politiqueiro regional
que negocia seu preço no mercado político. Sua negação da política e seu
pseudo-nacionalismo são uma farsa. No parlamento, Bolsonaro é um
deputado fisiológico, da base de sustentação do neoliberalismo. Nesse
sentido, ele é cúmplice de todas as políticas responsáveis pela grave crise
econômica e política que estamos vivendo. Nenhum segmento
daburguesia brasileira considera seriamente que ele possa ser uma
alternativa real de poder. Mesmo assim, Bolsonaro é incensado
pela mídia corporativa porque o discurso do ódio é funcional para a
desmoralização da política, a intimidação da esquerda e o fortalecimento
das soluções truculentas para a crise política.
IHU On-Line - Deseja acrescentar algo?
Plínio de Arruda Sampaio Jr. - Agradeço o espaço para a exposição
de ideias que foram banidas do debate público pelas corporações que
controlam os grandes meios de comunicação.

Anda mungkin juga menyukai