Resumo
A forma indiscriminada de extração dos recursos naturais e geração de materiais residuais
provoca poluição permanente e preocupação com o meio ambiente. Visando as premissas acima
citadas, este trabalho desenvolve um estudo de composições da mistura de solo + água +
estabilizante + resíduo agroindustrial para fabricar tijolos, tendo como objetivo principal procurar
os teores máximos de resíduos a serem incorporados sem o comprometimento das qualidades
mecânicas do tijolo. Utilizou-se solo, estabilizante cal e os materiais residuais casca de arroz, pó
de serra e bagaço de cana-de-açúcar.
Os resíduos passaram por um tratamento de lavagem em água quente, definiu-se como teor ótimo
de cal 10% estudou-se as composições da mistura de solo-cal, solo-cal-bagaço de cana-de-açúcar,
solo-cal-pó de serra e solo-cal-casca de arroz através de ensaios de compactação, resistência à
compressão simples e absorção de água e a partir deste estudo, fabricou-se os tijolos das
diferentes misturas de solo-cal-resíduos, os quais depois de curados foram submetidos a ensaios
de resistência à compressão simples, absorção de água, variação dimensional e durabilidade.
De um modo geral, os resultados mostram que a introdução de resíduos agroindustriais nos
tijolos de solo-cal afeta negativamente suas propriedades mecânicas. Apenas o teor de 5% de
casca de arroz na composição solo-cal apresenta-se como promissor resíduo a ser incorporado
nos tijolos.
Palavras chave: Tijolos, Resíduos agroindustriais, Material alternativo.
INTRODUÇÃO
Os recursos naturais são extraídos de forma indiscriminada e constantemente há a geração
de materiais residuais que não são aproveitados, isso faz com que o processo tecnológico
apresente soluções que minimizem esta degradação ambiental. No Brasil, a falta de programas
que incentivem a reciclagem e o reaproveitamento de material residual, proporciona situações
ambientais alarmantes. Visto isso, a utilização racional de recursos naturais, técnicas construtivas
com pouco investimento financeiro e de fácil aprendizagem, conteúdo energético provenientes de
fontes próximas ao local, juntamente com o aproveitamento de materiais residuais sólidos
resultantes das agroindústrias e madeireiras, pode ser uma das alternativas que apresentam
viabilidade econômica e técnica para produção de materiais de construção a serem utilizados na
habitação social; e conseqüentemente ocorreria a redução de queima deste material residual ou
seu lançamento em locais e em condições inadequadas.
Com o desenvolvimento do processo tecnológico, a estabilização do solo pode ser feita
com aditivos químicos como a cal.
A mistura solo com cal melhora a expansibilidade, retenção excessiva da umidade,
plasticidade elevada dos solos e causa rebaixamento das curvas de compactação, com o aumento
de teor ótimo de umidade e diminuição da massa específica aparente seca máxima. Por outro lado
às reações pozolânicas (formação de silicatos e aluminatos de cálcio cimentantes) que ocorrem a
médio e longo prazo na mistura solo-cal melhoram as propriedades mecânicas do material.
A progressão da resistência à compressão da mistura solo-cal depende fundamentalmente das
condições de cura (umidade e temperatura) e compactação, ou seja, deve-se trabalhar com
umidades de moldagem em torno do teor ótimo, pois quanto mais denso o solo-cal, maior a sua
resistência. Espera-se também que quanto maior o efeito de estabilização do solo pela cal, menor
deve ser a perda de massa, indicando que o material possui durabilidade e resistência.
Segundo AKASAKI (1999), avaliando o comportamento de misturas de solo-cal,
verificou-se que o solo areno-argiloso (A-4) se estabiliza com a introdução de 10% de cal.
Estudos de ALCÂNTARA (1996) sobre tijolos de solo-cal apresentaram dentro das diversas
situações de desempenho, que a cal é um promissor estabilizador de solos para a produção de
tijolos, resultando em valores de resistência à compressão simples de 0,65 MPa para tijolos e
1,28 MPa para corpos-de-prova aos 30 dias de idade.
GUIMARÃES (1998) relatou que painéis de tijolos de solo-cal, construído em local sem
qualquer proteção, expostos a intempéries por 4 anos; não apresentam defeitos em qualquer das
variações – tijolo à vista ou tijolo revestido; e suporta bem a aplicação de pesos normais,
atingindo resistência à compressão simples de 0,86 MPa aos 30 dias de idade e ganhos nos
valores conforme o tempo: 120 dias – 0,94 MPa, 180 dias – 2,07 MPa; reforçando o conceito da
continuidade dos processos das reações de formação de compostos cimentantes na mistura solo-
cal.
Quanto à utilização de resíduosm de bagaços de cana-de-açúcar, casca de arroz e pó de
serra, GRANDE (1991) dissertou sobre o uso do pó de serra como material de construção em
misturas secas e argamassa, VALENCIANO (1999) sobre tijolos de solo melhorado com cimento
e bagaço de cana-de-açúcar, obtendo resultados significativos e BERALDO (2000) estudou a
viabilidade da fabricação de placas prensadas de compósitos à base de cimento Portland e casca
de arroz verificando que o material apresenta boa estabilidade em relação a aglomerados e
compensados, podendo ser empregados em locais úmidos.
Ao citarmos estas experiências, o presente trabalho torna-se de suma importância para a obtenção
de novos produtos que acompanhe o processo tecnológico e minimize a degradação ambiental.
MATERIAIS E MÉTODOS
Para a execução do trabalho foram utilizados os seguintes materiais: bagaço de cana-
deaçúcar mecanicamente desmedulado, conforme recomendações de SARMIENTO (1996), pois
apresentou menor quantidade de medula; casca de arroz e pó de serra - espécie Eucalyptus, por
ser uma madeira característica de reflorestamento (todos estes resíduos foram coletados na região
interiorana de São Paulo); cal hidratada da marca Itaú; solo da jazida localizada no km 48 da
Rodovia dos Barrageiros, próximo à cidade de Ilha Solteira, SP. A metodologia aplicada à
pesquisa seguiu os requisitos da Associação Brasileira de Normas Técnicas, sendo executados os
seguintes procedimentos:
• Procedimentos aplicados aos resíduos bagaço de cana-de-açúcar, casca de arroz e pó de
serra: análise granulométrica; imersão dos resíduos em água fervente durante 30 minutos para
minimizar o efeito de decomposição das fibras em meio à cal; secagem dos resíduos fervidos de
modo a entrar em equilíbrio higroscópico com o meio; determinação da massa específica
aparente através do ensaio do frasco de Chapman e determinação do teor da substância lignina.
• Procedimentos aplicados ao solo: análise granulométrica, determinação do limite de
liquidez e plasticidade; determinação da massa específica aparente dos sólidos; ensaio de
compactação.
• Procedimentos aplicados às misturas solo-cal-resíduos: determinação dos teores
máximos de cada resíduo a ser incorporado na mistura solo + 10% de cal através dos ensaios de
compactação, resistência à compressão aos 28 e 60 dias e absorção de água aos 28 dias.
• Procedimentos aplicados aos tijolos de solo-cal-resíduos: fabricação dos tijolos de solo-
cal-resíduos em prensa manual, medição, pesagem e cura dos tijolos em estufa artesanal durante
10 dias; ensaios de compressão simples aos 28, 60 e 90 dias; absorção de água aos 28 dias;
controle da variação dimensional e ensaio de durabilidade por molhagem, secagem e escovação
aos 60 dias.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a análise granulométrica dos resíduos (figura 1), percebe-se que a granulometria do
bagaço de cana-de-açúcar e pó de serra são praticamente iguais, apresentando-se em suas
composições partículas finas. Já a casca de arroz apresenta-se como uma capa relativamente
comprida e oca deixando grandes vazios entre si.
Com relação ao controle da variação dimensional dos tijolos (logo após fabricação),
seguindo a norma NBR 7170 da ABNT, as dimensões dos tijolos foram aceitáveis, sendo a
tolerância máxima de 3 mm para mais ou para menos nas três dimensões do tijolo comum tipo II
(5,0 x 11,0 x 23,0 cm). No período de cura em estufa artesanal, todos as composições de tijolos
sofreram retração.
Tomando-se como referência os valores medidos aos 10 dias, apenas os tijolos das
composições C2 e C3 ao final do período de 90 dias apresentaram uma retração de 1mm em suas
dimensões, o que mostra, de uma maneira geral, baixa variação dimensional dos tijolos frente às
condições de cura em estufa artesanal e protegido das intempéries ao longo deste período.
Os valores das dimensões de todos os tijolos, no decorrer de 90 dias continuaram dentro das
especificações da norma. Os resultados do ensaio de absorção de água dos tijolos aos 28 dias
estão representados na figura 4.
CONCLUSÕES
A energia conseguida pela prensa manual foi menor que a energia do Proctor normal,
fazendo com que os teores de umidade para a moldagem dos tijolos fossem superiores as
umidades ótimas encontradas no Proctor normal. Conforme a incorporação de resíduos no tijolo
solo-cal e o aumento gradativo deste teor de resíduos, obtiveram a diminuição da respectiva
massa específica aparente seca.
Notou-se que, os tijolos apresentaram-se com estabilidade dimensional ao longo de 90
dias, podendo-se prever um bom comportamento em alvenaria.
A introdução do resíduo bagaço de cana-de-açúcar, pó de serra e casca de arroz na
mistura solo-cal resultou em uma diminuição da resistência à compressão simples dos tijolos,
sendo que quanto maior o teor destes resíduos adicionados ao tijolo solo-calresíduos, menores
foram às resistências dos mesmos.
Ao longo de 90 dias, somente o tijolo solo-cal apresentou-se com a continuidade dos
processos das reações de formação de compostos cimentantes, elevando sua resistência à
compressão, atingindo o valor de 1,25 MPa. Os tijolos de solo-cal-bagaço de cana-deaçúcar e
solo-cal-pó de serra continuaram a queda de resistência durante o período analisado, com sinais
de estabilização aos 90 dias. Já o tijolo de solo-cal-5% casca de
arroz sofreu pequena diminuição de resistência aos 28 dias, atingindo 0,80 MPa e permanecendo
com este mesmo valor aos 90 dias de idade.
O aumento do teor de fibras nos tijolos de solo-cal-resíduos levou sempre a aumentos de
absorção de água, tanto maiores quanto maiores foram às quantidades de resíduos incorporados.
Somente o tijolo solo-cal obedece aos limites estabelecidos pela norma.
No tocante da perda de massa por ciclos de molhagem, secagem e escovação, os tijolos
de solo-cal-resíduos demonstraram grandes perdas de massa, sendo que com o aumento do teor
de resíduos acarretou em maiores perdas.
Analisando os parâmetros de estabilidade dimensional, resistência à compressão simples,
absorção de água e durabilidade dos tijolos moldados em prensa manual, conclui-se que, as
misturas solo-cal-bagaço de cana-de-açúcar, solo-cal-casca de arroz e solo-cal-pó de serra
apresentam baixos valores de resistência e altos valores de absorção de água e perda de massa
quando comparados a mistura solo-cal. Seguindo as características dos materiais e procedimentos
adotados neste trabalho, não é adequada a utilização destes resíduos na mistura solo-cal, pois
afeta negativamente as propriedades físicas e mecânicas da mesma.
A incorporação do teor de 5% de casca de arroz no tijolo solo-cal apesar de não
apresentar nenhum benefício, destacou-se por revelar o tijolo solo-cal-resíduos com menor perda
de resistência e provável estabilização ao longo de 90 dias. As propriedades mecânicas mais
prejudicadas do tijolo solo-cal com a incorporação de casca de arroz foram a interação entre
fibras in natura e solo-cal, resistência à compressão e absorção de água. Uma das possibilidades
para melhorar estas propriedades é a aplicação de tratamento químico e trituração das fibras in
natura para melhorar a homogeneização da mistura.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP pelo suporte financeiro e aos técnicos dos Laboratórios de Engenharia Civil da UNESP e Laboratório Central de Engenharia ivil
da CESP de Ilha Solteira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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