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Rio de Janeiro, 30 de março de 2011.

Exma. Sra. MARIA DO ROSÁRIO NUNES


Exmo. Sr. PRESIDENTE DA COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS DA CÂMARA
Exmo. Sr. JEAN WYLLYS

Exmos. Senhores:

Venho, pela presente, que segue assinada digitalmente, na condição de cidadão bra-
sileiro indignado com o recente episódio envolvendo o Deputado Federal Jair Messias Bol-
sonaro, mais conhecido como Jair Bolsonaro, eleito pelo PP do Rio de Janeiro, apresentar
minhas razões de incondicional apoio às medidas que, conforme recente noticiário, foram
tomadas por inúmeros Deputados Federais – e que serão tomadas, quero crer, por outros
membros ligados ao Senado Federal e ao Governo Federal – buscando rigorosa punição
contra o supra citado, reincidente que é por conta de diversas posturas, ao longo do tempo,
absolutamente incompatíveis com o exercício do mandato legislativo. O que agravou-se, de
forma intolerável, após as manifestações do indigitado durante entrevista concedida ao
programa CQC, veiculado na televisão e amplamente noticiado pela imprensa brasileira.

Por mera coincidência de datas, redigo esta carta 47 anos após o golpe de 64 – e
não por acaso, o que guarda coerência com a postura do alvo das representações, Jair Bol-
sonaro a ele se refere como “revolução”, e não como “golpe” – que deu início a um longo
e obscuro período que atentou contra a liberdade, contra o Brasil, contra o povo brasileiro.

Há 47 anos, portanto, nossas instituições sofreram um duro golpe que derrubou um


governo legitimamente escolhido pelo voto popular. Sofremos abrupta e arbitrária inter-
rupção e intervenção em nosso, àquela época recente, processo constitucional. O AI-5,
Exmos. Senhores, sabemos todos, foi responsável pela instauração e sustentação de um
regime autoritário que viabilizou incontáveis práticas que vieram, com o correr da História,
a ser agudamente rejeitadas pela consciência ética, política e jurídica do povo brasileiro.
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Hoje, já em 2011, alguns elementos – como Jair Bolsonaro – insistem em subverter


a ordem e a lógica do que é de pleno conhecimento do povo brasileiro: insistem no discur-
so de que houve uma “revolução”, não um golpe de Estado; insistem na necessidade da
prática da tortura como meio hábil de controlar o que chamam de “ordem pública”. E,
com referência às recentes declarações do referido parlamentar, incitam o ódio, a intolerân-
cia, e foi absolutamente repugnante ver e ouvir Jair Bolsonaro lançar desprezo sobre os
chamados “cotistas” (ele é reincidente quanto à prática do racismo), dizer que daria uma
“porrada” em seus filhos caso os mesmos se declarassem homossexuais (e aí temos a figura
da incitação à prática da tortura e da homofobia), dizer que sente saudade dos comandantes
do Brasil durante a ditadura militar, responsáveis diretos pelas mais repugnantes práticas
em detrimento da liberdade e da vida. Saudades, Exmos. Srs., de personagens soturnos e
instituições torpes, sob cujo comando praticaram-se no Brasil, covardemente, delitos exe-
cráveis contra os que se opunham ao regime político vigente, e ali vivemos casos de homi-
cídios, seqüestros, desaparecimentos forçados de pessoas, violência de ordem sexual e prá-
tica odiosa de tortura.

Disse Jair Bolsonaro, à certa altura da entrevista, que se fosse preciso “torturaria”
seus filhos para que os mesmos desistissem – como se isso fosse possível! – da vivência da
sexualidade, se homossexuais fossem. O que pode parecer brincadeira – e parece-me evi-
dente que é por esse caminho que seguirá o parlamentar – não pode mais, sob pena de
compactuarmos com a incitação a um dos mais odiosos crimes de que temos notícia, ser
tolerado.

A tortura, Exmos. Srs., guarda, no gesto irracional de quem a pratica (e de quem a


incita), uma intolerável afronta aos direitos da pessoa humana e um acintoso desprezo pela
ordem jurídica estabelecida no Brasil e no mundo. Trata-se de conduta reprovável, nojenta,
eu diria, e quando decorrente do exercício de função estatal – e Jair Bolsonaro é represen-
tante do povo do Rio de Janeiro na Câmara Federal – ainda mais grave e reprovável.

Citando Informativo do Supremo Tribunal Federal, temos que “(...) a tortura exterio-
riza um universo conceitual impregnado de noções com que o senso comum e o sentimento de decência das
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pessoas identificam as condutas aviltantes que traduzem, na concreção de sua prática, as múltiplas formas
de execução desse gesto caracterizador de profunda insensibilidade moral daquele que se presta, com ele, a
ofender a dignidade da pessoa humana.”.

Ora, Exmos. Srs., Jair Bolsonaro agrediu uma mulher, Preta Gil, filha do ex-
Ministro da Cultura, Gilberto Gil, ao dizer que não permitiria que seus filhos namorassem
uma negra – egressa de um “ambiente promíscuo” como o de sua casa. Pratica o crime de ho-
mofobia, ainda que não seja assim normatizado pelas leis brasileiras, quando agride, ofende,
intimida e ridiculariza a imensa parcela homossexual brasileira. Ainda segundo o Informati-
vo já mencionado, o “(...) respeito e a observância das liberdades públicas impõem-se ao Estado como
obrigação indeclinável, que se justifica pela necessária submissão do Poder Público aos direitos fundamentais
da pessoa humana. O conteúdo dessas liberdades – verdadeiras prerrogativas do indivíduo em face da co-
munidade estatal – acentua-se pelo caráter ético-jurídico que assumem e pelo valor social que ostentam, na
proporção exata em que essas franquias individuais criam, em torno da pessoa, uma área indevassável à
ação do Poder.”.

Não me cabe aqui, embora eu exerça a profissão de advogado, trazer à tona os i-


números dispositivos legais e mesmo os regimentais feridos, estuprados, pisados e violados
por Jair Bolsonaro. É certo que aqueles que representaram contra o indigitado já o fizeram.

O objetivo precípuo desta carta, Exmos. Srs., antes mesmo de servir como desaba-
fo de um indignado cidadão, frontalmente agredido pelas posturas odiosas de Jair Bolsona-
ro, é prestar a melhor, a maior e a mais ampla solidariedade a todos aqueles que se dispuse-
ram a enfrentar, dentro dos trâmites legais, tão nefasta figura como é a de Jair Bolsonaro.

A clava forte da Justiça não há de faltar e não há de faltar coragem a todos os filhos
desta Pátria, incapazes de se dobrarem às seguidas afrontadas perpetradas pelo indigitado.
E que não falte disposição, que não haja condescendência. Só assim teremos Justiça.

Somos um povo fraterno, somos um povo pacífico – e que não sejamos, jamais,
passivos diante da iniqüidade e das injustiças –, somos um povo trabalhador e tolerante. A
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História do Brasil comprova que somos berço de povos de todas as nações, somos um
caldeirão de culturas diversas, de religiões diversas, e não toleraremos – é no que creio fir-
memente – que uma figura tão abjeta como Jair Bolsonaro continue a ofender, de forma
tão aviltante, nossa honra e nossa História.

Atenciosamente,

Eduardo Goldenberg – OAB/RJ no. 80.839

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