REVITALIZANDO A IGREJA
Introdução:
Aonde chegaremos como igreja se continuarmos insistindo em ser apenas o que temos sido e
em praticar somente aquilo que temos praticado nestes últimos anos?
Se analisarmos muitas de nossas igrejas sem ufanismo e sem o amor platônico que nos foi
inculcado, temos que a admitir que a situação é caótica. Precisamos estudar mais as nossas
doutrinas, deveríamos corre o risco de rever os nossos posicionamentos doutrinários,
carecemos de uma reformulação da proposta de educação teológica e prosseguir repensando
a denominação, mas creio que devemos urgentemente buscar a revitalização de nossas
igrejas, para a retomada dos ideais de Cristo para a igreja e a manifestação da glória de Deus
em nossos arraiais.
Antes que a igreja se prostre em nostalgia e desemboque nos questionamentos que provocam
a rotura que tem como fim último o desaparecimento da igreja. Antes que a perda da
identidade e da relevância no mundo como igreja ocorram, devemos avaliar as nossas
convicções doutrinárias, os nossos objetivos e a nossa estrutura organizacional. Devemos
revitalizar.
Revitalizar é reafirmar tudo aquilo que é bíblico, é retomar os princípios bíblico-teológicos
desprezados e é reordenar a estrutura, o modelo e as estratégias para que não sejamos
vitimados por uma nulidade eclesial devastadora. A igreja que busca a revitalização tem o
privilégio e o compromisso de prosseguir sempre vitoriosa.
Qualquer instituição, principalmente a igreja, se não sabe ao certo o que deve fazer e se não
tem noção clara das estratégias possíveis para fazer o que deve, sucumbe a historicidade e
torna-se dependente do tradicionalismo conservador de nulidades e acalentador da nostalgia
petrificante.
Se esperamos ser igreja viva para cumprirmos o nosso papel no reino de Deus, devemos
elaborar a nossa declaração de missão, que nos manterá atrelados a Palavra de Deus, bem
como a nossa declaração de visão, que direcionará os nossos olhos sempre para o ideal de
Cristo para a igreja.
Aqui, cabem duas perguntas; o que é a nossa missão e qual seria, a luz dessa missão, a nossa
visão? Vejamos, a partir de uma conceituação teológica, as devidas respostas. A primeira
resposta é sobre a missão.
* Missão é a definição objetiva e clara da nossa identidade como igreja local, independente da
Denominação, buscando compreender o nosso corpo de doutrinas, o que cremos, e a nossa
missão prática no mundo, o que devemos fazer.
É essa consciência de missão, quando bem definida, que estabelece a nossa identidade, quem
somos, e que determina a qual denominação nos filiar. No nosso caso, fica mais fácil por que
somos batistas e não devemos prescindir dessa identidade denominacional, mas carecemos de
saber e de definir conceitualmente o que é ser batista no terceiro milênio. O que a CBB busca
fazer com a aprovação do parecer do GT Repensando na última Assembléia convencional.
* Visão é, a partir da compreensão de nossa realidade efetiva, a imagem futura que fazemos
do lugar onde pretendemos chegar como igreja e a concepção filosófica de como vivemos
como igreja de Jesus no mundo.
Nossa visão do mundo e de nós mesmos como igreja é determinada e condicionada pela nossa
consciência de missão. Se não sabemos quem somos, o que cremos e o que devemos fazer,
não temos o que olhar ou, sequer, para onde direcionar os nossos olhos.
Temos um verdadeiro desafio missionário no Brasil e no mundo. Não podemos acreditar que
está tudo muito bom, basta olharmos para o tempo de permanência da igreja batista no País e
confrontarmos com o número de membros que somamos. Mais de 120 anos de igreja contra
aproximadamente um milhão de batistas, conforme as últimas estatísticas denominacionais.
Um número inexpressivo se comparado a densidade demográfica verificada no censo 2000 e
divulgada pelo IBGE.
Nossa missão precípua é a evangelização, mas para levarmos a cabo esta grandiosa tarefa
carecemos de uma previsão dotada de discernimento e alicerçada na compreensão do que
deveríamos ter feito como igreja de Cristo nestes mais de 120 anos de história. Isso é ter visão.
Tomando por base o livro de Darrell Robinson, que apresenta a nova análise bíblica dos dons
espirituais no contexto Batista, visto que desejamos estar afinados com a batistandade,
definimos a nossa declaração de missão e de visão.
Não há mistério nem inovações. A nossa missão só pode ser baseada em textos como Mateus
28.19 e 20 e Marcos 16.15, que apresentam a Grande Comissão delegada por Jesus e ainda,
em textos como Lucas 24.44-48 e João 20.21, que determinam a formatação missiológica
designada pelo próprio Cristo para a sua igreja.
Esta declaração de missão proporciona uma vida eclesiástica equilibrada e contém tudo que é
essencial para o fortalecimento doutrinário, para a maturidade espiritual e para o crescimento
numérico da igreja. Logo, essa missão promoverá relevância histórica e ministerial para a
igreja, incitando seus membros e sua liderança à constante renovação do entendimento de si
mesma, de suas doutrinas e de suas estratégias ministeriais. A igreja deve se permitir a uma
permanente autocrítica e praticar uma continuada hermenêutica histórica, se deseja cumprir
sua missão.
Com relação a visão, ainda tomando por base Darrell Robinson, afirmamos que:
* Nossa visão é ser Corpo Vivo de Cristo, com todas as suas implicações, vivendo, coletiva e
individualmente, sob sua autoridade e seu senhorio, cumprindo a nossa missão evangelizadora
com autoridade espiritual e relevância sociocultural, exercendo influência ético-cristã na
sociedade.
Essa visão está de acordo com os princípios do Novo Testamento e vem do Cabeça da igreja,
Jesus. É isso que podemos deferir de textos como Mateus 16.18, que apresenta a igreja como
poderosa e vitoriosa no embate contra o inferno, e de 1 Pedro 2.1-5, que nos posiciona como
casa espiritual e ministradores do sacerdócio universal praticado em genuína espiritualidade, a
fim de que obtenhamos contundente autoridade testemunhal em Cristo.
Temos o mesmo Senhor e Cabeça, Jesus, Colossenses 1.18. É a cabeça que impõe a visão. A
imagem visual se projeta e se define a partir da construção da imagem mental que se faz. O
tamanho da igreja é diretamente proporcional a visão que seus membros têm de Deus e ela
cumpre sua missão na mesma proporção em que crê no poder de Deus ainda atuante no
mundo.
Em síntese, a questão reside na compreensão da diferença entre o que é ser uma Igreja
Tradicional ou uma Igreja Tradicionalista, visto que a maioria dos nossos membros, e até
mesmo boa parcela dos nossos líderes, não sabe a diferença efetiva entre uma coisa e outra.
A doutrina dos apóstolos nada mais é do que os ensinamentos espirituais transmitidos por
Jesus, que são verdadeiros e que estabelecem os parâmetros e a validade do cristianismo. Não
há na Bíblia qualquer referência a tradição denominacional, até porque denominação não
existia no período da Igreja Primitiva.
A primeira Denominação Cristã surgida foi o Catolicismo Romano, no século IV, que
monopolizou a igreja até o movimento de Reforma Protestante, no século XVII.
Tradicionalismo é aferro ou apego, ou seja, amor exagerado aos usos antigos. Filosoficamente,
tradicionalismo é a defesa explícita da tradição no âmbito do espírito romântico, classificando
como tradição o que se entende ser verdadeiro e não necessariamente a verdade.
Jesus combateu a tradição dos anciões, escribas e fariseus, que impunham ao povo 365
proibições e 250 mandamentos, acusando-os de subjugar o povo com um fardo extremamente
pesado que nem mesmo eles suportariam carregar, Mateus 23.1-7.
No contexto da igreja que busca a revitalização e que está disposta a se permitir as antíteses
necessárias na avaliação de sua prática eclesiológica e cúltica, a diferença fundamental entre
tradição e tradicionalismo se identifica no quadro que se segue
Este quadro reflete algo que já ouvi do próprio Pr. Ed Kivitz em assembléias convencionais:
“Tradicionalismo é a fé morta dos vivos. Tradição é a fé viva dos mortos”.
Depois de se permitir a estas antíteses, a pergunta talvez seja; o que vai mudar realmente? A
resposta não é simples e nem resumida na palavra tudo. Na verdade, as mudanças reais
acontecerão, primeiro, por que a igreja terá uma identidade denominacional e doutrinária
própria, não o perfil do pastor. Segundo; na formação da liderança, que será mais efetiva e
sempre direcionada pelo serviço cristão, e não pela iconografia muitas vezes perniciosa.
Terceiro, doutrinariamente, nada. Os ajustes doutrinários possíveis são os promovidos pela
CBB, como no caso do Espírito Santo. A igreja apenas se adequará a estes ajustes para
permanecer fiel a Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira.
Em quarto lugar, no que diz respeito a Eclesiologia, nada mudará também. A Eclesiologia trata
dos postulados filosóficos sobre o ser igreja, o que não se pode prescindir como Batistas. As
mudanças se efetivarão na expressão cúltica, na forma do praticar o culto, que será ajustado
ao Texto Sagrado, renunciando tradicionalismo histórico e promovendo mudanças radicais de
vida nos membros da igreja. A igreja se tornará mais contextualizada e menos ritualista; mais
informal e menos eclesiástica, visto que bater palmas, utilizar bateria e guitarras, bem como
cantar hinetos ou fazer coreografias nas músicas, não são temas contemplados no estudo da
Eclesiologia Batista.
Para que a igreja tenha a motivação correta, após a revitalização, deve-se estabelecer os
objetivos gerais que a impulsionarão e que indicarão o seu modo peculiar de ser igreja viva na
adoração, na educação cristã, na comunhão, nos ministérios e na proclamação, fazendo o que
todas as igrejas devem fazer, porém do jeito e da maneira mais apropriada para a realidade
sociocultural na qual interage.
Tendo definido, como batistas, a Declaração de Missão e de Visão, pode-se então estabelecer
os objetivos gerais que nortearão a eclesiologia, a expressão cúltica, as estratégias ministeriais
e a identidade denominacional levados a efeito pela igreja revitalizada.
Vale ressaltar que a motivação da igreja deve ser a consciência objetiva quanto a missão e
quanto a visão futura que se projeta do quanto se deseja alargar os horizontes do reino de
Deus a partir do ministério prático da igreja. Em outras palavras, a motivação da igreja
revitalizada deve derivar dos objetivos gerais definidos a partir da consciência de missão e da
visão alargada em seus horizontes.
Podemos agora asseverar que os objetivos gerais de uma igreja revitalizada são os seguintes:
Somente instrução bíblica com esta perspectiva pode oferecer à igreja referências claras de
ensino bíblico profundo que se conciliem com uma unção incontestável na vida comunitária do
cristão.
À medida que os cristãos trabalharem nas igrejas conscientes dos compromissos do sacerdócio
e sabedores dos seus Dons espirituais para o ministério, não trabalharão mais por suas
próprias forças, mas o Espírito Santo trabalhará neles e através deles.
A vivência prática da fé, com dedicação, com amor extremado pelos pecadores e com
entusiasmo contagiante, é fator determinante na evangelização. Uma igreja, por mais
ortodoxa que seja e por melhor que seja a sua doutrina, mesmo que tenha um conhecimento
bíblico apurado, dificilmente experimentará crescimento real se não aprender a vivenciar e a
transmitir a outros a sua fé de forma pessoal e contagiante.
4.4 Adoração cristocêntrica que propicie verdadeiro louvor em culto vivo – Isto é o que nos
permite libertação da preocupação escravista com a liturgia ou com os estilos, motivando-nos
à participação efetiva e vívida na adoração, a partir da convicção de que Deus se faz presente
em nossas celebrações. É a igreja se tornar sensível à ação do Espírito Santo que a guiará na
exaltação a Cristo e na ministração de um culto vivo, santo e agradável a Deus, Salmo 92.1-4;
Isaías 38.17-20; Sofonias 3.17; Romanos 12.1; Apocalipse 5.11-12.
A igreja que vivencia este tipo de comunhão valoriza as pessoas e torna seu ministério muito
mais efetivo, visto que são satisfeitas as necessidades do ser integral. A prática do verdadeiro
amor dá à igreja um brilho divino e uma alegria que se intensificam nos relacionamentos
interpessoais de seus membros.
Não se pode permitir a crença em uma dispensação automática ou mecânica de bênçãos para
os contribuintes. Não se pode comprar o Dom de Deus, Atos 8.20. A oferta deve ser feita com
fé e pela fé, como devoção amorosa ao Senhor e à sua obra, bem como ao seu povo. Esta é a
oferta que propicia bênçãos incontáveis para o cristão. Em vez de encararmos a contribuição
como uma obrigação desagradável e penosa, devemos compreender que a dedicação de vidas
expressa na fidelidade nos dízimos e ofertas é um fértil meio de graça na igreja, pois por
intermédio dela o Espírito Santo ministra graça e prosperidade à igreja.
4.7 Crescimento integrado da igreja a partir do equilíbrio entre quantidade e qualidade – Isto é
o mesmo que dizer que não se deve estar preocupado com o número de membros no rol, com
o patrimônio ou com a conta bancária. A preocupação certa é com a qualidade da vida
espiritual dos membros da igreja. Se para ter dez mil membros, uma catedral, um edifício
anexo moderno e funcional, um palacete pastoral, uma frota de veículos e uma equipe
ministerial bem remunerada tivermos que prescindir da ética cristã e do embasamento bíblico
continuaremos pequenos e pobres, porém, fiéis ao Senhor Deus, Levítico 19.1-5; Salmo 15;
Mateus 10.7-10; Atos 2.46-47 e 9.31; Tito 2.11-15; 1 Pedro 2.9e Apocalipse 2.19-21.
A maior contribuição que a igreja tem para oferecer ao mundo é o evangelho de Cristo e seu
poder libertador, por isso, jamais haverá crescimento verdadeiro na igreja se nos
aprisionarmos ao poderio concedido pelo número de membros no rol ou pelo saldo financeiro
e patrimonial, não dando atenção às questões mais profundas que afetam a humanidade em
decorrência do aviltante paradoxo entre o ser e o ter, e entre o saber e o fazer.
4.8 Identidade doutrinária e denominacional definidas a partir do Texto Sagrado e não pelo
conservadorismo histórico ou tradicionalismo – Isto é o mesmo que dizer que a igreja deve
querer ser batistas, mas que não aceita um doutrinismo antibíblico. Deve-se querer ser batista,
mas principalmente deve querer a liberdade para praticar os ensinamentos da Palavra de
Deus, sem receios da crítica mordaz da batistandade. A Declaração Doutrinária dos Batistas
preceitua que a Bíblia é a nossa única regra de fé e prática, mas deve-se desejar também que a
Palavra de Deus seja a única regra de conduta, mesmo que para isso se tenha que renunciar a
história, que se reconhecer erros doutrinários historicamente defendidos ou que se quebrar
alguns paradigmas denominacionais, Marcos 7.5-9, Atos 2.41-42, Colossenses 2.8-10 e 2
Tessalonicenses 2.15.
Pode-se inovar no fazer igreja sem se alterar a essência do ser Igreja, se há comprometimento
com o Grande Mandamento e com a Grande Comissão, o que fará da igreja revitalizada uma
grande igreja.
Conclusão
Finalizando esta proposta de trabalho com vistas a revitalização da igreja, deixo como sugestão
a realização de estudos amplos e de debates francos, porém respeitosos, para que se defina o
seguinte:
Sem tais definições, penso, é impossível levar adiante a revitalização da igreja que carece de
resgatar sua identidade doutrinária e denominacional, voltando a sentir-se uma Igreja Viva que
proclama a salvação e a libertação em Cristo em meio a esta geração corrompida e perversa,
Atos 2.40.
Na verdade, o presente trabalho visa embasar a assertiva de é que possível promover a
revitalização da igreja de maneira bíblica, seguindo os preceitos de Jesus e desenvolvendo uma
perspectiva correta de renovação espiritual e eclesiológica, bem como um método prático
para se introduzir as mudanças necessárias para a contextualização da igreja.
O relato bíblico nos incentiva a perceber a dialética inevitável e continuada entre a identidade
eclesial e o chamamento para a missão, isto é, entre o ser e o fazer igreja. Por isso, nenhuma
igreja que afirme compromisso de missão conforme os postulados bíblicos e o mandamento
de Jesus pode esquecer que o cumprimento da missão acontece em meio a difícil dialética
entre o conservar a identidade doutrinária e o renunciar a tradição histórica.
Uma igreja verdadeiramente viva e motivada pela missão não tem receios de ultrapassar
barreiras, de quebrar paradigmas, de romper as fronteiras e de alargar seus horizontes. Não se
pode ter medo de se praticar culto vivo, santo e agradável a Deus. Não se pode ter fobia de
evangelismo responsável, de discipulado biblicamente instrutivo, de sacerdócio universal e de
comunhão dinâmica em amor. Pois estas são as características distintivas da igreja de Jesus
Cristo no Texto Sagrado.
Finalmente, desejo ressaltar que a igreja, como Corpo Vivo de Cristo, não é mera sociedade de
pessoas humanas. Se considerarmos apenas a tradição histórica e os pressupostos
denominacionais para sermos e fazermos igreja, jamais compreenderemos o que realmente
significa ser o povo de Deus que em Cristo é chamado para as boas obras. As denominações
são expressões sociológicas. A diferença básica entre o ser e o fazer igreja e uma denominação
reside na comunhão com Cristo, que somente a igreja pode desenvolver. Não existe
Eclesiologia, o fazer igreja, dissociada da Cristologia, do ser igreja.
Pense em tudo isso e ore pedindo a Deus discernimento espiritual e direcionamento para a
decisão que você precisa tomar juntamente com a sua igreja para a revitalização. Abrace este
projeto, se considera-lo procedente e biblicamente correto, leve a sua igreja entender o que é
e a desejar a revitalização. Trabalhe para que você, juntamente com sua igreja, seja
despertado por Deus para os nove objetivos aqui propostos. Não critique ou refute sem
estudar e orar. Permita-se a Deus e ao Espírito Santo para que estes objetivos sejam realidades
efetivas em sua vida, em sua igreja e em nossa denominação.
Roberto Fernandes