Polo Mantiquira
Duque de Caxias
2018
JOSEANE ARAÚJO COSTA
Duque de Caxias
2018
Dedico este trabalho primeiramente a Deus,
meu Senhor e Salvador, aos meus pais, esposo
e filhos que com tanta paciência e amor me
ajudaram a chegar até aqui.
AGRADECIMENTOS
A Deus por sua infinita misericórdia a qual renova-se cada manhã sobre as nossas vidas. Tu és
essencial!
Ao CEFORTE, juntamente com seu corpo de professores, os quais têm sua contribuição na
conclusão deste trabalho e aos funcionários administrativos dessa instituição.
Ao mestre Vítor Oliveira pela orientação, paciência e ajuda durante a confecção da
monografia. Obrigada pelas dicas, foram fundamentais!
À minha família- esposo, pais, irmão e filhos que tanto sofreram comigo durantes as intensas
jornadas de estudo. Vocês são minha base e porto seguro.
Finamente a todos aqueles que de certa forma me incentivaram no decorrer desta caminhada.
Deus abençoe a todos.
“Então, Jesus aproximou-se deles e disse: Foi-
me dada toda a autoridade nos céus e na terra.
Portanto, vão e façam discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a
obedecer a tudo o que eu ordenei a vocês. E eu
estarei sempre com vocês, até o fim dos
tempos". (Mt.28:18-20)
RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo compreender qual seria a dimensão da missão igreja –
uma comunidade fundada por Cristo e enviada por Ele mediante o poder do Espírito Santo –
como participante da Missio Dei e que tem a obrigação de tornar o Reino de Deus visível,
ainda na presente era. Assim tornando-se uma comunidade atraente e modelo para os de fora,
considerando o mundo como o palco para tais manifestações. Enfatizamos ainda a relação
entre a proclamação verbal e as obras de misericórdia, considerando ambas como partes de
uma missão de perspectiva integral de salvação. O ministério leigo ou sacerdócio de todos os
crentes, nas mais variadas esferas públicas também faz parte de uma visão holística de
missão. Para a pesquisa utilizamos literatura disponível sobre as tendências missiológicas
atuais. Observamos que a Igreja Metodista Wesleyana ainda precisa crescer a fim de que seja
conhecida como uma comunidade missional, já sua visão em relação à missão ainda é restrita
à questões geográficas, diferente da perspectiva missional que observa a comunidade na qual
está inserida como um campo missionário promissor, que carece de transformação, e procura
nesse aspecto, contextualizar a mensagem, sem negociar suas verdades fundamentais, se
tornando uma comunidade relevante e atuante em todas as dimensões alcançadas pela
salvação cósmica proporcionada por Cristo.
The purpose of this work is to understand the dimension of the mission of the Church - a
community founded by Christ and sent by him through the power of the Holy Spirit - as a
participant in the Missio Dei and who has the obligation to make the Kingdom of God visible
in the present age. Thus becoming an attractive community and model for outsiders,
considering the world as the stage for such manifestations. We also emphasize the
relationship between verbal proclamation and works of mercy, considering both as parts of a
mission of integral perspective of salvation. The lay ministry or priesthood of all believers in
the most varied public spheres is also part of a holistic vision of mission. For this research we
use available literature on current missiological trends. We note that the Wesleyan Methodist
Church has yet to grow in order to be known as a missional community, its vision of mission
is still restricted to geographical issues, unlike the missional perspective that the community
views as a mission field promising, in need of transformation, and seeks in this regard to
contextualize the message without negotiating its fundamental truths, becoming a relevant and
active community in all the dimensions achieved by the cosmic salvation provided by Christ.
INTRODUÇÃO 9
7 CONCLUSÃO 50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 52
INTRODUÇÃO
Definir a missão cristã sem dúvida não é tarefa fácil, principalmente por causa do seu
aspecto complexo e divisório. A missão da igreja seria fazer discípulos ou realizar boas obras,
ou as duas vertentes fazem parte de uma só missão? A missão é da igreja ou é de Deus?
Poderiam todos os cristãos participar dessa missão ou ela é exclusiva de um grupo seleto
dentro da igreja? Se somos enviados por Jesus, devemos seguir o seu exemplo de serviço
sacrificial ou não? O que é o Reino de Deus? A salvação é algo escatológico ou seria possível
vivenciá-la na presente era?
É de vital importância que façamos uma reflexão acerca do que é igreja, qual sua
origem e para quais propósitos foi estabelecida, a fim de que reconhecendo sua identidade
atenda aos desafios do tempo presente. Como ocorreu em outros períodos da história cristã, às
intensas transformações sociais, políticas, econômicas e religiosas afetaram não somente a
cosmovisão do mundo não cristão, mas ocasionaram mutações ao DNA da igreja de Cristo,
imprimindo-lhe características não próprias da sua natureza e prática.
9
CAPÍTULO 1. O QUE É IGREJA?
Para entendermos o conceito “Igreja”, esse mistério revelado por Deus no período
neotestamentário, é necessário que façamos uma conexão entre o Antigo Testamento e o
Novo Testamento, tendo em vista que há uma ligação não em termos de identidade, contudo
pelo viés da continuidade, pois a igreja vista hoje difere do povo de Deus observado no
Antigo Testamento (DEVER, 2015).
O desejo de Deus era que sua glória fosse manifesta por um corpo coletivo. Ao
convocar Abraão seu intuito era alcançar todas as nações. Israel foi selecionado para ser
modelo para as outras nações a fim de que por meio dele elas se voltassem para Deus
novamente. No Novo Testamento esse papel é outorgado a Igreja. Então podemos concordar
com Dever quando declara: “A história da igreja começa com Israel, o povo de Deus do
Antigo Testamento” (DEVER, 2015).
Passemos então para a análise do vocábulo igreja (gr. Ekklesia, que é derivada de ek,
“para fora” e kaleo, “chamar”) que significa de modo concreto “chamados para fora” e em
grego clássico, “ekklesia se referia a uma assembleia de qualquer tipo, religiosa ou secular,
legal ou ilegal” (GEISLER, 2010, p.505). Sendo assim, o termo era comum na cultura grega
para denominar em especial as assembleias de cidadãos livres e votantes de uma localidade.
“Portanto, embora haja certamente novos privilégios e novas bênçãos dadas ao povo
de Deus do Novo Testamento, tanto o uso do termo “igreja” nas Escrituras como o
fato de em toda a Bíblia Deus sempre chamar o seu povo para, reunido, adorá-lo,
mostram que é correto pensar na igreja como o povo de Deus de todos os tempos,
tanto os salvos do Antigo como do Novo Testamento” (GRUDEM, 1999, p.716) .
Na perspectiva reformista é importante destacar que a igreja era pensada como uma
possuidora de aspectos visíveis e invisíveis. Na ekklesia visível estariam os crentes
verdadeiros e os apenas religiosos formais, os quais somente seriam distinguidos no juízo
final. Seria de certa forma a igreja como as pessoas a veem literalmente “[...] a igreja visível é
o grupo de pessoas que se reúnem toda semana para cultuar a Deus como igreja e professar a
fé em Cristo” (GRUDEM, 1999, p. 717).
De acordo com Wesley (1975, p. 592, apud COLLINS, 2017, P. 318), a igreja
envolvia “todo o corpo de crentes, quer estejam na terra, quer no paraíso”. É interessante
salientar que no Novo Testamento a palavra igreja nunca foi usada para se referir a uma
estrutura física, pois eles não possuíam edifícios públicos para suas reuniões, a igreja de
início, se organizava principalmente em casas (Fm 1.2) ou no Templo de Jerusalém (At 2.46).
Usando de metáforas bem particulares, Philip Yancey, declara uma de suas muitas visões de
igreja:
Embora acreditemos que a igreja tenha sido concebida desde a eternidade e que não
foi uma ideia divina posterior, concordamos que ela terrenamente teve um início. No diálogo
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entre Cristo e Pedro, registrado no evangelho de Mateus, podemos observar a palavra ekklesia
sendo usada pela primeira vez por Cristo:
Nos tempos bíblicos a pedra de esquina tinha papel de extrema relevância numa
edificação porque geralmente era maior que as demais pedras, direcionava todo o corpo do
projeto para o restante da construção e dava simetria à toda a obra como podemos observar ao
ler Paulo escrevendo aos efésios: “Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos
profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; No qual todo o edifício, bem
ajustado, cresce para templo santo no Senhor.” ( Ef 2.20-21).
Como o verbo usado por Cristo “edificarei” indica tempo futuro, julgamos que o
estabelecimento da igreja, como a conhecemos hoje, teve início no dia do Pentecostess, várias
semanas após a morte e ressurreição de Cristo. Após 40 dias ensinando e instruindo seus
apóstolos, o Senhor lhes dá instruções claras: “E, estando com eles, determinou-lhes que não
se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que, disse ele, de mim
ouvistes. Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito
Santo, não muito depois destes dias”. (At. 1:4-5).
Essa promessa foi cumprida no Pentecostes, quando o Espírito Santo desceu sobre os
cristãos reunidos batizando-os em um só corpo e desta forma iniciou-se historicamente a
igreja.
12
1.2 Reino e Igreja: cidadãos do Reino, cidadãos do Mundo
Versar sobre Reino não é tarefa fácil. Inúmeras são as definições encontradas para
abarcar toda a sua dimensão. Elas são tão divergentes entre si que se torna necessário uma
análise criteriosa em cima dos textos bíblicos que falam sobre o “Reino de Deus” ou “Reino
dos céus” a fim de que se faça justiça ao seu real significado.
Apesar das expressões “Reino de Deus ou Reino dos céus” estarem presentes apenas
no Novo Testamento é correto afirmar que este não é um tema desconhecido no Antigo
Testamento. Baseados na convicção de um Deus Eterno que possuía um propósito com a
nação de Israel e que por fim dominaria toda a humanidade, os profetas já vislumbravam o
Reino como algo perfeito e futuro, onde a paz reinaria na humanidade em todas as suas
esferas. Contudo é no Novo Testamento que o tema Reino de Deus se revela de forma
poderosa.
A palavra reino, segundo Ladd, tanto no Antigo Testamento (malkuth) como no Novo
Testamento (basileia) significam em primeira instância posição, autoridade e soberania
exercida por um rei, ou seja, reino é a autoridade para governar, a soberania do rei (LADD,
2008).
Quando Davi falava acerca do reino de Deus em sua poesia, geralmente usava de uma
característica comum aplicada a poesia hebraica – o paralelismo, no qual se afirmava um
pensamento duas ou mais vezes, usando palavras distintas a fim de enfatizar o mesmo
conceito a partir de ângulos diferentes: “[...] O teu reino é o de todos os séculos, E o teu
domínio subsiste por todas as gerações.” (Sl.145:13). Aqui podemos verificar que a palavra
“reino” é paralela a “domínio”, significando a mesma coisa. Davi enfatizou o poder ou
domínio de Deus (YOUNG; GILBERT, 2016, p.157).
No Novo Testamento também observamos que o Reino de Deus não está relacionado à
um espaço geográfico. Jesus declarou que devemos receber o reino de Deus como uma
13
criança (Mc 10:15). O significado aqui é novamente a permissão do governo de Deus nos
corações, o reconhecimento do seu domínio em nossas vidas.
Temos ainda aqueles que consideram o Reino de Deus como um modelo a ser seguido
pela sociedade, onde a ênfase não é a salvação da alma e desconsideram por completo o
aspecto futuro do reino, contudo creem que o Reino de Deus corresponde ao livramento de
males sociais como a pobreza, doenças e relações raciais.
A “escatologia inaugurada”, termo usado por Ladd e outros escritores “afirma que o
Reino de Deus já surgiu neste mundo, mas ainda não se cumpriu plenamente- o já e o ainda
não dos últimos dias”. (YOUNG; GILBERT, 2016, p.154). Sendo assim, há uma esfera a ser
vivenciada no tempo presente, ainda que de forma parcial e outra futura, que desfrutaremos
integralmente ao findar a era atual.
Tal colocação é ratificada pela literatura bíblica pois a mesma se reporta ao Reino
como um universo no qual entramos no presente, o qual foi inaugurado na encarnação de
Cristo: “Os publicanos e as prostitutas estão entrando antes de vocês no Reino de Deus” (Mt
21:31), e outras vezes numa esfera na qual entraremos futuramente, no advento da parúsia: “
É melhor entrar no Reino de Deus com um só olho do que, tendo os dois, ser lançado no
inferno” (Mc 9:47). Desta forma “o Reino de Deus envolve a era por vir invadindo a era
presente”. (YOUNG; GILBERT, 2016, p.162).
Não há como abordar a conexão entre Reino e igreja sem nos reportarmos a Israel.
Jesus encarnou como filho de Deus de uma forma que frustrou todas as expectativas
messiânicas do povo judeu, o qual aspirava por um reino glorioso que pudesse livra-los de
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todos os seus inimigos e finalmente estabelecer um reino perfeito, com bênçãos materiais e
nacionais. Mas ao olharmos os escritos dos evangelistas nos deparamos com os ensinos de
Jesus, servo humilde e sofredor. Apresentando uma temática totalmente contrária à visão
judaica sobre a manifestação desse Reino, à vista disso a obra de Cristo é rejeitada por eles.
E é nesse interim que surge a igreja, o novo povo de Deus, que diante da recusa dos
judeus, passa agora a entrar no Reino, usufruindo do poder e vida em meio a realidade
presente e perversa, mas ansiando pela esfera futura e plena do Reino. Os favores nesse Reino
já não serão concedidos com base em laços familiares, porém num relacionamento pessoal do
homem com Deus por meio da fé. O povo que não era povo ao responder positivamente ao
evangelho tornou-se: “[...] a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido,
para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”
(1ª Pedro 2:9). Quanto a essa temática Ladd ressalta: “O Reino de Deus não está mais ativo no
mundo por intermédio de Israel, antes ele opera por meio da igreja”. (LADD, p.121).
Portanto, assim como o Reino de Deus era operante entre os homens não somente na
pessoa de Cristo, mas de seus apóstolos também, a igreja é agência de Deus no mundo. Ela é a
possuidora das chaves do Reino dos céus.
No entanto é relevante salientar que a igreja exerce uma função dinâmica e não oficial.
Ela não é o Reino de Deus, o Reino é algo extremamente maior, engloba a plenitude da vida
no presente e no porvir. Digamos que a igreja está para o Reino assim como o peixe está para
a água. A igreja vive em função do Reino. Não tem o papel de trazê-lo e sim de manifestá-lo,
reconhecendo o seu governo sobre todas as coisas. Por isso concordamos com Ladd quando
afirma:
“Portanto, a igreja não é o Reino de Deus; o Reino de Deus cria a igreja e opera no
mundo por intermédio dela. Por conseguinte, os homens não podem edificar o Reino
de Deus, mas podem pregá-lo e proclamá-lo; podem recebê-lo ou rejeitá-lo. O Reino
de Deus, que na disposição do Antigo Testamento se manifestou em Israel, agora,
opera no mundo por intermédio da igreja”. (LADD, p. 124-125).
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como ferramentas do governo dinâmico de Deus, é papel da Igreja combater todas as formas
de mal que atingem a humanidade e a criação. E esse combate se dá na esfera atual. Em
contato com o mundo. Como coloca Ed Rene Kivitz “[...] Na verdade, para Jesus, o mundo é
o palco para a manifestação do Reino de Deus... a igreja é a responsável por protagonizar os
sinais desse reino- vocês são sal da terra e luz do mundo”. (Mt 5:13-16). A igreja deve
funcionar como um tipo de embaixada do Reino, expressando de forma reconciliadora e
amorosa o modo de vida do Reino de Deus.
Destarte, uma igreja que não evidencia ao mundo esses sinais. Que não é formada por
indivíduos com uma nova mentalidade. Que não promove a justiça, a paz e a salvação em
todos os seus aspectos. Que não traz uma densidade palpável aqui e agora do reino. Que não
se submete ao governo de Cristo, mas aparenta viver num reino próprio onde leis
denominacionais e subjetivas direcionam toda sua ação, onde quem parece governar é a
própria instituição, distanciou-se de todo o proposito para o qual foi estabelecida, vive uma
missão própria, não é participante da missão de Deus. Goheen salienta a responsabilidade de
receber a dádiva do Reino de Deus:
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CAPÍTULO 2. IGREJA: PARTICIPANDO DA MISSÃO DE DEUS
Considerando que a Igreja agora desempenha a função que outrora tinha sido
designada a Israel, a qual é ser [...] “uma comunidade transformada e transformadora, na
reconciliação e na benção para o mundo”. (WRIGHT, 2012, p.53), passaremos então a
abordar as atribuições inerentes a esse papel bem como a definição etimológica e eclesiástica
do termo missão.
Desta maneira, uma indagação transitou e continua a transitar na mente da maior parte
dos cristãos no mundo inteiro, causando cisão por causa das diversas opiniões sobre o que se
pode entender sobre a missão cristã. Qual seria a missão da igreja? Que tipo de relação
deveria ela estabelecer com o mundo? Suas responsabilidades perpassariam apenas as
atividades de proclamação verbal ou teria ela algum tipo de incumbência no estabelecimento
da justiça social? Essas indagações serão respondidas de acordo com as diferentes visões
teológicas.
Primeiramente, a missão é do próprio Deus. Deve ficar claro que Ele formou um povo
para colaborar, integrar-se à missão Dele, ou seja, a missão da igreja deriva da pregressa
missão de Deus, ela flui de uma missão maior. Atendemos ao convite de participar dela.
Somos coadjuvantes e não protagonistas nesse cenário. WRIGHT, expressa de maneira cabal
essa verdade:
“Não é tanto a questão de Deus ter uma missão para sua igreja no mundo, mas sim
o de ter uma igreja para sua missão no mundo. A missão não foi feita para a igreja,
mas a igreja foi feita para a missão- a missão de Deus” (WRIGHT, 2014, p.62 apud
WRIGHT, 2012, p.30).
Desse modo, a preocupação de Deus, além de ser salvar pessoas do pecado e do juízo,
fato que é central em toda a bíblia, engloba uma vertente maior- criação e humanidade. Esse
processo restaurador já se iniciou com Cristo na sua crucificação e ressurreição e brevemente
será concluída na parousia.
Sabendo que a missão da igreja é a participação numa missão mais abrangente a qual
envolve a salvação numa perspectiva holística: Humanidade e criação, observaremos, no
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entanto, que há dois pontos de vista quanto à amplitude dessa missão, que resulta numa
polarização totalmente infrutífera.
Por outro lado, temos os adeptos de uma visão mais moderna e de cunho ecumênico.
Segundo estes, Deus atua no processo histórico e o objetivo da Missio Dei é a implantação da
shalom, uma espécie de renovação social e política. De forma exemplificada, a missão da
igreja seria a ação de se preocupar com o domínio das competições industriais, com a
sobrepujança das divisões de classes, com a extinção da discriminação racial (DAVIES, 1966
apud STTOT, 2010, p.20).
Na ótica desse grupo, a agenda da igreja é ditada pelo mundo. Deus pode usar pessoas
de dentro ou fora da igreja. A relação “Deus-igreja-mundo” saiu de cena e deu lugar à uma
mais coerente: “Deus-mundo-igreja”. Nesse arranjo a ênfase da missão da igreja seria a busca
de soluções para as problemáticas sociais como a fome, pobreza e injustiça do mundo
contemporâneo, todavia não adotando a mesma intensidade pela fome espiritual dos homens
(STOTT, 2010, p. 22).
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termos materiais e literais, já que o destaque se refere a algo mais profundo-reconciliação e
comunhão uns com os outros.
“Creio que, com respeito à grande tensão entre a interpretação vertical do evangelho,
que o considera essencialmente interessado na ação salvadora de Deus na vida dos
indivíduos, e a interpretação horizontal do evangelho, que o considera interessado
principalmente nos relacionamentos humanos no mundo, devemos evitar esse
momento oscilante inicial que vai de um extremo ao outro, pois isso não
corresponde, a um movimento que, por natureza, procura abarcar a verdade do
evangelho em sua totalidade. Um cristianismo que perdeu sua dimensão perdeu o sal
e, não somente é insípido em si mesmo, mas inútil ao mundo. Porém, um
cristianismo que usa a preocupação vertical como um meio para escapar de sua
responsabilidade para com a vida comum do homem é uma negação da encarnação,
do amor de Deus pelo mundo manifestado em Cristo”. (HOOFT, 1968, p. 317-318
apud STTOT, 2010, p 24).
É notável que o século XX foi marcado pela discussão sobre a posição da igreja no
que concerne a evangelização e civilização. Inúmeros foram os congressos e ações a fim de
que se chegasse a uma unidade de pensamento entre grupos fundamentalistas e os de visão
mais ecumênica, acerca da missão da igreja no que tange ao desenvolvimento, presença cristã
na sociedade, diálogo inter-religioso, justiça e paz, diaconia entre outras temáticas.
Apesar de não ser uma preocupação totalmente nova, pois os reformistas do século
XVI e os pietistas já a intencionavam e divulgavam em suas agendas, aos poucos essa visão
integral de salvação foi perdendo espaço na maioria das igrejas por conta de seu contato
íntimo com os teólogos de cunho liberal. Muitas denominações a entenderam como algo
nocivo aos fundamentos da fé e, ainda, após os horrores da primeira guerra os homens
pareciam não passíveis de reforma, gerando uma espécie de descrença em relação a qualquer
forma de redenção.
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Costas, entre outros, os quais lutavam por uma teologia mais voltada para as questões aqui e
agora. Ansiavam por uma igreja comprometida com o homem como um todo.
“Se Jesus Cristo é Senhor de todo o universo, a quem lhe foi dado toda autoridade
no céu e na terra, sua soberania se estende tanto no âmbito econômico como no
político, tanto no âmbito social como no cultural, tanto no âmbito estético como no
ecológico, tanto no âmbito pessoal como no comunitário. Nada nem ninguém pode
ser excluído de seu senhorio” (2003, p. 21-22, tradução nossa).
O Pacto de Lausanne nos trouxe uma visão de que a evangelização comporta tanto a
tarefa de apresentar Jesus como Senhor e Salvador do mundo, Aquele que nos permitiu
através de sua morte e ressurreição, reconciliar-nos com Deus, porém também nos direciona
para uma libertação total, tanto da escravidão pessoal quanto do mundo, agregando o intuito
divino de colocar tudo sob o governo de Cristo. Sobre o aspecto integral da missão René
Padilha, em entrevista à Revista Cristianismo Hoje declara:
“Ela pode ser definida sob várias perspectivas. Uma delas diz que o homem é um ser
não só espiritual, mas também possui as instâncias psicológica e física. Então, a
missão integral tem a ver com a totalidade da vida humana e leva muito a sério as
necessidades de cada uma dessas áreas – ora, ninguém pode viver sem alimento ou
sem abrigo, mesmo que conheça a Deus. Falar de missão integral é falar do ser
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humano em todos os aspectos de sua vida individual e em sociedade. Outra
perspectiva seria a de que o Deus da Criação tem interesse e soberania sobre cada
aspecto de sua obra. A missão integral nos motiva a alcançar o homem na plenitude
de suas necessidades, sem separar religioso ou profano, sacro ou secular. E em cada
um desses aspectos da vida, somos chamados a dar glórias a Deus” (PADILLA,
2008b).
Portanto, a perspectiva integral de salvação não nos coloca numa posição de meros
expectadores, mas de agentes de transformação na sociedade, tornando o mundo um lugar
melhor.
Ela não diferencia o religioso do social, a vida cristã da vida em sociedade, alienando
o homem para um mundo ilusório no qual o divórcio entre igreja e mundo é evidente, não
desempenha a evangelização somente visando a salvação da alma, totalmente apartada dos
problemas que afligem os indivíduos no tempo presente, não obstante encontra o equilíbrio
sem abrir mão da sã doutrina, identificando-se com os menos favorecidos, os párias da
sociedade.
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“De todas as necessidades vitais do ser humano, nenhuma é maior do que a
alienação do seu Criador e a realidade da morte eterna dos que se recusaram a
arrepender-se e crer. Mesmo assim, este fato não pode tornar-nos indiferentes às
degradações do ser humano sob condição de pobreza e opressão. Cremos que esta
escolha ocorra a um nível conceitual. Na prática, como aconteceu no ministério de
Jesus, estas duas realidades são inseparáveis [...] em lugar de estarem em
competição, elas se sustentam e fortalecem mutuamente, numa espiral ascendente de
preocupação crescente” (COMISSÃO DE LAUSANNE, 1983, p. 23).
23
CAPÍTULO 3. MISSÃO DA IGREJA: A ENCARNAÇÃO DE CRISTO COMO
MODELO PARA MISSÃO
Sendo assim, inicialmente separa um homem e uma mulher que não podia gerar filhos,
tornando-os posteriormente num povo numeroso que deu origem a nação de Israel e, a seguir,
por meio de Jesus, vislumbramos uma comunidade multinacional de crentes das mais variadas
nações- nós somos esse povo. Deus por intermédio de toda história tem formado um povo
para si, porém, uma comunidade também para os outros, a fim de que sejam bênçãos
(WRIGHT, 2012, p.88). Stott ratifica esse fato: “[...] Não seria exagero dizer que Gênesis
12:1-4 é o texto mais unificador da Bíblia inteira, pois nele se encerra o propósito salvífico de
Deus, ou seja, de abençoar o mundo inteiro através de Cristo, que seria semente de Abraão”.
(STOTT, 2005, p.365).
24
Uma igreja que anseia desenvolver uma missão aos moldes de Cristo tem de se
importar menos números e estatísticas ou visibilidade denominacional e se interessar mais por
gentes- humanos. Uma igreja que perdeu de vista essas dimensões, perde o foco de sua
missão. Concordamos com Quiroz quando argumenta:
“Tudo que Cristo fez, Ele o fez pelo homem-em-comunidade e pelo homem de carne
e osso. Não por uma ideia do homem, não por uma alma desencarnada, mas pelo
homem vital e vivente, cheio de necessidades, angústias e problemas, cheio de
aspirações e esperanças. A este homem que Cristo se dirigiu, atendendo as suas
necessidades”. (QUIROZ, 2014, p. 17).
A igreja ao ter uma experiência com a imensa graça de Deus, mediante a obra de
Cristo, deve se tornar misericordiosa. Ele encarnou, se tornou um de nós, identificando-se
com nossas debilidades, sofrimentos e tentações. Pregou, ensinou, alimentou os famintos,
curou, demonstrando que palavras e obras devem estar em plena sintonia.
O texto joanino sobre a comissão: “Assim como o Pai me enviou, eu também vos
envio” (Jo 20.21), nos confirma o modelo de missão que Cristo concedeu a nós, aquela que se
descortina através do esvaziamento de sua glória e se mostra disposta a servir. Um exemplo
de missão servil, logo nossa tarefa tem que ser de serviço.
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Cristo nos comissionou, a fim de que transportados do reino das trevas para o reino do
Filho do seu amor, vivamos na tensão entre a presente era e a futura, de maneira a não nos
conformarmos com este mundo, mas transformar-nos segundo a vontade de Deus, ou seja,
vivermos coerentemente como filhos da luz, revelando em nossa vida o irromper desse novo
sistema aos de fora. Alinhado a visão de uma igreja que vivencia sua missão de forma
abrangente, Robinson Cavalcanti frisa:
Para Orlando Costas essa missão corresponde a três esferas: bidimensional, que se
refere a esfera espiritual e social que a igreja possui. A bidirecional relaciona-se com o fato da
igreja ter que direcionar seus ministérios para seus membros e para o mundo. A
quadridimensional possui outras quatro dimensões, as quais seriam a numérica, orgânica,
conceptual e diaconal. Na dimensão numérica, a proclamação verbal do evangelho
transformador de Cristo é vital para o crescimento. O corpo precisa de novas células para se
manter ativo. A orgânica, esta preocupa-se com o desenvolvimento interno da comunidade da
fé. Fortalecer, cuidar e estimular a membresia e fundante numa visão integral de missão cristã,
com o objetivo de que o corpo possa funcionar adequadamente (VARGAS, 2014, p. 2-3)
revista de teologia
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seus símbolos, criações e valores, identificando-se com a situação histórica e social”.
(COSTAS, 1994, p.113 apud, VARGAS, 2014, p.5)
A terceira dimensão é a conceptual, se refere ao pensar critico que a igreja tem sobre o
entendimento da fé cristã, das Escrituras e sua integração com o mundo ao redor. Essa
dimensão ajuda a igreja no enfrentamento de teologias deturpadas. Está intimamente ligada ao
discipulado, treinamento e ao ensino.
Para René Padilha, a missão da igreja não pode fazer uma cisão entre evangelização e
responsabilidade social:
“O evangelho é a boa nova acerca do Reino de Deus. As boas obras, por outro lado,
são os sinais do Reino”, e a palavra e a ação são indissoluvelmente unidas na missão
de Jesus e de seus apóstolos, [por isso] devemos mantê-las unidas na missão da
igreja, na qual se prolonga a missão de Jesus até o final do tempo”. (PADILHA,
1992, p. 206 apud VARGAS, 2014, p.8).
Portanto, estamos embutidos num plano maior- A Missio Dei. Deus achou por bem
não aniquilar sua criação, mas salvá-los de sua perversão, indiferença desumana,
individualismo, materialismo, egoísmo, violência, e, no meio da história, através de um povo
que, após adentrar o Reino por intermédio do sacrifício de Cristo é comissionado a tornar
visível um evangelho que não está apenas limitado a santidade particular, mas como
enfatizava Wesley, está impregnado de uma santidade social. Desta forma, não há outra
direção ou inclinação a não ser o de atuar na transformação das realidades tanto espirituais
como sociais (CROCKER, 2010).
27
Desta forma faz parte da missão da igreja participar dessa tarefa reconciliadora e
abrangente, na qual Deus é o autor, Jesus é o consumador e o Espírito Santo é o poder que
domina a vida da igreja auxiliando-a em sua tarefa. Concluindo, destacamos com a declaração
de Goheen:
“O povo escolhido de Deus não existe para si mesmo. Antes, existe para glória de
Deus e sua missão, e em favor de outros a quem a missão de Deus é dirigida. Eles
realmente são “escolhidos por Deus” para desempenhar um papel prescrito na
missão divina de restaurar a criação e glorificar a Ele. Mas essa escolha é “em favor
do mundo”. O povo de Deus “está orientado para duas frentes, isto é, para Deus e
para o mundo”. Ambas são necessárias; ignorar uma delas significa distorcer a
identidade do povo de Deus” (GOHEEN, 2014, p.44).
28
CAPÍTULO 4. IGREJA: MISSIONAL OU MISSIONÁRIA?
Posto isto, seguindo esta nova maneira de pensar sobre a missão cristã, podemos
entender uma igreja missionária como aquela que tem uma mentalidade missionária, ou seja,
ela se importa com missões além-fronteiras, àquela associada a uma ideia de expansão
geográfica, no envio de um “missionário” a regiões distantes alicerçadas na decisão humana,
através da qual o evangelho é anunciado aos que ainda não ouviram. Por muito tempo esse
tipo de missão foi pensado num sentido só- Ocidente para outras áreas do mundo. Nesse
formato o missionário é o responsável pela expansão das boas novas de Cristo, e a área de
atuação dele é sempre presumida no contexto transcultural.
A igreja missionária é então aquela que envia, que aplica investimentos financeiros em
lugares fora de sua comunidade local. Seu olhar é voltado para onde as boas novas ainda não
foram proclamadas. No entanto, alguns acontecimentos ocorridos no final do século XX
colocaram em xeque tal postura em relação ao significado da missão cristão no mundo
contemporâneo, principalmente a decadência da igreja ocidental e o crescimento da igreja do
terceiro mundo. Nesse novo cenário, acreditam os missiólogos de visão missional, que essa
conduta de missão já não comporta por si só o que de fato está embutido no envio que Cristo
propôs à sua igreja. Sua participação na Missio Dei é de cunho mais profundo e atuante.
Apesar disso essa visão mais apurada da missão da igreja, não deve de forma alguma que a
ação de divulgar o evangelho em outras culturas tornou-se desnecessário e que deve ser
descartado. Jamais os que entendem biblicamente a tarefa de levar o evangelho até aos
confins da terra, fariam tal colocação pois as missões transculturais têm sua importância e são
indispensáveis. Uma igreja missional é comprometida com missões.
29
Segundo Newbigin, é salutar diferenciar missão de missões. Na sua interpretação, o
plural-missões, conservou um aspecto essencial na missão da igreja, e grande parte da
literatura hodierna sobre a igreja missional tem ofuscado missões. Assim sendo, missão seria
a tarefa integral da igreja que é enviada ao mundo para revelar o evangelho de Cristo ao
mundo e isto em todas as áreas da vida humana. Missões, é uma parte dessa tarefa maior que
a igreja desempenha na história de Deus- missões é um projeto transcultural, contudo não é
apenas parte fundamental da missão da igreja; também é a concepção final: tornar o
evangelho conhecido até os confins da terra (GOHEEN, 2014, P.260).
Uma outra questão que tem contribuído para esta problemática- igreja engajada apenas
em missões, é a separação entre agencias missionárias e igreja. “Essa separação levou a uma
missão que não tem a pretensão de ser a igreja e a uma igreja eu não tem uma missão para o
mundo”. (GOHEEN, 2014, p.260). Este posicionamento em relação à missão é contrário aos
escritos do Novo Testamento, já que a igreja é o corpo missionário fundado por Deus. Desta
forma é vital que cada comunidade faça sua parte em missões levando a mensagem de Cristo
aos lugares ainda não expostos a ela.
No livro Missão Transformadora (1991) David Bosch ressalta que a expressão Missio
Dei estava profundamente enraizada na teologia da Trindade e que não poderia ser entendida
na esfera da soteriologia, como uma forma de salvar almas, tampouco da eclesiologia, como
uma maneira de estender a igreja. Ela seria estritamente uma ação que tinha sua gênese na
própria natureza de Deus. Desta forma Keller salienta:
“A Trindade é, por natureza, “enviadora”. O Pai envia o Filho para salvar o mundo;
o Pai e o Filho enviam o Espírito ao mundo. E agora, disse Bosch, o Espírito envia a
igreja. Em suma, Deus não está simplesmente enviando a igreja em uma missão.
Deus já está realizando a missão, e a igreja precisa se juntar a ele. Isso, portanto,
também significa que não basta a igreja apenas criar um departamento de missões;
ela deve existir para ser totalmente uma missão”. (KELLER, 2014, p. 297).
Ainda que a proposta tenha parecido bem elaborada, alguns a conceberam de forma
equivocada e acabaram por entender missão, principalmente nos círculos ecumênicos e
históricos, como a adesão aos movimentos seculares de direitos humanos ou o apoio às
organizações políticas de esquerda. Os resultados foram desastrosos. A igreja já não
conseguia cumprir seu papel de preencher as necessidades do homem, de maneira tão eficaz
como as agências de serviço social, e muito transformar a realidade da sociedade
perfeitamente como os partidos políticos e as organizações. Neste cenário a igreja acabou por
se tornar irrelevante. Newbing denominou esse movimento como a “secularização” da missão
(KELLER, 2014, p. 298).
31
Ao regressar à Inglaterra em meados de 1970, depois de anos como missionário na
Índia, Lesslie diagnosticou um enorme enfraquecimento do cristianismo ocorrido durante sua
ausência. A sociedade estava se tornado não cristã, consequentemente “um campo
missionário”, que não era previsto na agenda missionária das igrejas locais.
Lesslie criticou veementemente a ideologia iluminista europeia pois segundo ele levou
à crença de que Deus e a fé não eram mais necessários no desenvolvimento de uma sociedade
organizada, justa e moral. Desta forma salientou que a missão da igreja deveria incluir uma
apologética em oposição à autonomia da razão humana, como também declarava que os
crentes deveriam ser preparados para agregarem fé e trabalho, modificando a sociedade
enquanto as exerciam mundo (KELLER, 2014, p.300).
Nas palavras de Newbigin, a luta por justiça não deveria se tornar a cerne da
interpretação da redenção, mas nela é evidente o lugar para a busca incessante pela
“quantidade de justiça” possível na presente era.
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David Bosch também comungou do mesmo pensamento de Newbigin e desenvolveu
ainda mais a ideia de Missio Dei, salientando que, a igreja, como chamada a participar dessa
missão deveria proclamar tanto Cristo conclamando a humanidade à conversão como era sua
incumbência inquietar-se também com a justiça ao pobre.
Para isso ressalta que é imprescindível tentar reproduzir uma falha da cristandade
medieval- recriar uma sociedade cristã ou retirar-se da sociedade a fim de se isolar numa
espécie de esfera espiritual, e, ainda era necessário a igreja se portar como uma comunidade
contrastante, de forma que o mundo visualize como seria uma vida livre dos ídolos da raça, da
riqueza, do sexo, do poder e da autonomia do indivíduo (KELLER, 2014, p.301-302).
Com a publicação do livro “Missional Church” em 1998, houve o resgate das ideias
desenvolvidas por Newbigin e Bosch acerca do significado da Missio Dei. A ênfase era
exatamente o distanciamento encontrado entre a cultura que não era mais cristianizada e uma
igreja engessada na cultura moderna que já não era suficientemente capaz de ser resposta para
os dilemas da sociedade. Mas como deveria ser feita a conciliação entre a contextualização da
mensagem e o compromisso com a justiça? Foi justamente nesse tempo que o termo missional
tomou grandes proporções ficando conhecido nos círculos evangélicos. Podemos visualizar
quatro correntes caracterizadas por Craig Van Gelder e Zscheile após analisarem os diferentes
pensamentos sobre a Missio Dei e igreja missional.
A primeira posição defende que ser missional é ser evangelístico. Eles abordam
principalmente uma evangelização ampla com traços de serviço comunitário, entendendo a
missão como encaminhar pessoas à salvação individual por meio da igreja. A redenção da
criação está fora dessa visão de igreja missional.
Outro grupo entende que ser missional é ser encarnacionista, ou seja, os que defendem
esse modelo defendem um modelo de igreja informal, sem estrutura eclesiástica tradicional e
que se engajam num tipo de envolvimento com a vida civil e coletiva da comunidade,
descobrindo suas necessidades e trabalhando em prol dessa causa em nome de Jesus Cristo.
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Essas comunidades crescem de forma orgânica e insere não cristãos que lutam pelos mesmos
ideais. Geralmente são igrejas nos lares.
Outros preferem declaram quer ser missional é ser contextual, isto é, possuem uma
abordagem que inclui a evangelização e o serviço à comunidade. Adotam também a dinâmica
de igreja nos lares e a integração na cultura por intermédio das vocações seculares. Mas sua
interação na comunidade não é algo tão profundo. Vivem numa espécie de subcultura que não
engaja na sociedade pós- cristã.
Por último temos os que supõem que ser missional é ser recíproco e comunal.
Concordam com as demais posturas, contudo alegam que falta a elas profundidade teológica e
prática em relação à Missio Dei. Segundo estes temos que nos adequar à agenda do mundo,
observando o que Deus está fazendo no mundo. Não é unicamente transmitir ao mundo o que
ele necessita tomar conhecimento. É necessário adotar ações após considerar o que Deus está
a realizar no mundo. De acordo com seus adeptos o pecado é visto de forma horizontal, uma
ofensa ao Shalom de Deus mediante o egoísmo, violência, injustiça e orgulho e não uma
ofensa diretamente a Ele. A cruz não é considerada o lugar onde Jesus pagou a dívida do
nosso pecado e sim um acontecimento onde as forças do mal foram derrotadas. A cerne da
missão nessa perspectiva não é justificar pecadores diante de Deus, mas sim agrega-los numa
nova comunidade, que objetiva juntamente com Deus e redimir os sistemas sociais e curar o
mundo, excluindo a ênfase na reconciliação entre o homem e Deus por ocasião do
arrependimento e fé.
Ser missional nas palavras de Goheen significa: “Na sua melhor definição, “missional”
descreve não uma atividade específica da igreja, mas a própria essência e identidade da igreja
à medida que ela assume seu papel na história de Deus no contexto de sua cultura e participa
da missão de Deus para o mundo” (GOHEEN, 2014, p.20).
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Essa premissa tem imensa importância no que diz respeito ao êxito na missão cristã,
visto que se estivermos inseguros acerca de quem somos e de quem somos propriedade, nos
tornaremos qualquer coisa e de qualquer um. Se não tivermos essa autocompreensão do nosso
papel no drama bíblico, nos deixaremos esculpir pela história idólatra da cultura imperante na
era atual (GOHEEN, 2014, p.21).
Portanto, é preciso sempre ter mente que uma igreja missional deverá procurar
conhecer todos os aspectos de sua missão de forma que chegue a um equilíbrio entre os
diferentes posicionamentos e estabeleça a ponte entre as questões horizontais e as doutrinas
fundantes da graça. Concordamos com Keller, quando declara:
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CAPÍTULO 5. AS MARCAS DA IGREJA MISSIONAL
Quais seriam as marcas de uma igreja missional? Estudiosos nos sugerem alguns
passos e nos alertam que não são soluções mágicas ou soluções milagrosas e que lgumas
marcas são de cunho teológico e outras voltadas mais à prática.
São ações que facilitarão a mudança de uma igreja focada em si mesma para uma
igreja mais equilibrada, que zela por seus membros, capacitando-os para revelar o amor de
Deus e o evangelho de Jesus na perspectiva horizontal -por meio de palavras e ações.
Em conformidade com Goheen, acreditamos que uma igreja que não ora de modo
veemente e comunitária jamais estará desenvolvendo uma função missional. A comunidade
poderá até desenvolver atividades com engenhosas técnicas de marketing e projetos atraentes,
entretanto não encarnará o poder do evangelho. Real mente não há nada de inédito nessa
diretriz, porém nossa tendência humanista nos faz depender de nossos próprios recursos
privilegiando o planejamento à oração. Desta forma, é vital para uma igreja missional
entender que a igreja deve se manter numa posição estratégica de oração a fim de cumprir a
missão de Deus. Sendo assim, Goheen destaca a visão de Calvino sobre a relevância da
oração:
“[...] A primeira é a imagem que João Calvino tinha da oração: uma pá que escava
os tesouros escondidos e enterrados indicados pelo evangelho. Todas as facetas e os
benefícios da salvação de Cristo nos são concedidos- individualmente e
comunitariamente- por meio da obra do Espírito à medida que o desenterramos por
meio da oração. Segundo Calvino, o Catecismo de Heidelberg afirma que a oração é
a parte mais importante da gratidão que Deus requer de nós e, então, faz a afirmação
surpreendente de que Deus concede sua graça e o Espírito santo apenas para aqueles
que incessantemente oram e gemem no seu interior, clamando a Deus por esses dons
e lhe agradecendo” ( CALVINO, 850-51, apud, GOHEEN, 2014, p.246).
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Ainda citando Miller, Goheen destaca que a igreja missional deve considerar a oração
na linha de frente em oposição à oração de manutenção- aquela que é direcionada para o
interior, para manter a vida da igreja. A oração de linha de frente tem como meta o desejo de
que Deus transforme vidas (GOHEEN, 2014, p.247).
Para que esse posicionamento em oração aconteça é necessário que haja preparo,
paciência, intencionalidade e especialmente que existam líderes que entendam a magnitude da
dinâmica da oração e sejam eles os próprios a encabeçarem esses movimentos. É
imprescindível que as atividades de oração sejam voltadas não somente para as necessidades
da própria igreja. Acreditamos ainda que deve haver um maior destaque e tempo para as
mesmas em nossas reuniões, de forma que sirvam de modelos de oração para fora do culto
público e em reuniões de pequenos grupos.
Murray nos lembra que a oração tem sido negligenciada e o povo de Deus apresenta
inúmeras desculpas para aliviar uma profunda culpa, mas na realidade “Uma vida de oração
saudável na igreja começa com confissão, chamando nossa falta de oração daquilo que ela é-
pecado- e encontrando perdão e renovação” (GOHEEN, 2014, p.247).
Finalmente, sobre essa marca da igreja missional, é crucial afirmar que a medida que
buscamos a vontade de Deus em oração, Ele nos faz compreender de forma mais clara o nosso
papel particular em sua missão, de modo que não entendemos as campanhas de oração como
uma maneira de conseguir algo, mas como uma forma de Deus descortinar as diretrizes
necessárias para abençoarmos a comunidade na qual estamos inseridos. Acerca disso
concordamos com Piper:
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De acordo com Goheen, há três premissas fundamentais numa pregação fundamentada
na identidade missional, desta forma, a pregação precisa ser narrativa, centrada em Cristo e
missional (GOHEEN, 2014, p. 243).
Além disso ela precisa ser centrada em Cristo. Segundo Wright, inicialmente
precisamos entender que a história narrada no Antigo Testamento visionou a formação de um
povo distinto, mas que foi incapaz de cumprir esse papel pois o pecado os tornou
enfraquecidos na missão de ser modelo para as outras nações. Todavia, Jesus cumpre esse
propósito de maneira culminante ao “levar a nova ordem do Reino de Deus ao povo de Deus e
deste para o mundo” (WRIGHT, 2005, p. 35-39, apud, GOHEEN, 2014, p.243).
Desta maneira, a morte e ressurreição de Jesus deve ser a força basilar para a missão
da igreja, ou seja, em qualquer parte das Escrituras é preciso apontar para Cristo, levando a
audiência a um encontro real com todo o poder salvador abrangente proporcionado por Ele a
humanidade e criação.
Por fim a pregação deve ser missional, isto é, não podemos ignorar que a narrativa
bíblica possui um enredo comum- a formação de um povo missional. O cânon bíblico não
trata de somete da salvação numa perspectiva individual, porém, almeja que esse povo
distinto encarne as boas-novas do Reino em favor do mundo. As palavras de Goheen ratificam
essa proposição “Consequentemente a pregação deve sempre nos orientar para fora. A
pregação fiel sempre se moverá de Cristo para a missão porque não há participação em Cristo
sem a participação em sua missão” (GOODALL, 1952, p.190, apud, GOHEEN, 2014, p.245.).
O termo contextualizar foi usado pela primeira vez provavelmente em 1972, pelo
taiwanês Shoki Coe, uma das personalidades mais conhecidas na formação do Conselho
Mundial de Igrejas (KELLER, 2014), e geralmente é visto de forma negativa por alguns
líderes de igrejas conservadoras. Para eles, essa palavra significa negociar as verdades
essenciais do evangelho, ou seja, falar o que as pessoas querem ouvir. Mas na visão da igreja
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missional, o objetivo não é esse, porém é uma busca do equilíbrio na hora de comunicar o
evangelho, de forma que haja um valorizar da cultura e ao mesmo tempo que os ouvintes
sejam desafiados a viverem em conformidade com a vontade de Deus, mostrando a elas que a
história de suas vidas podem ter um final feliz somente à medida que se submetem ao governo
de Cristo. Timothy Keller explica de maneira brilhante o significado de contextualizar:
“[...] Significa, antes, oferecer às pessoas respostas bíblicas que elas talvez não
queiram ouvir de forma nenhuma às perguntas sobre a vida que estão fazendo, na
época e no lugar em que se encontram, numa linguagem e em formas que
compreendam e por meio de apelos e argumentos com uma força que elas sejam
capazes de sentir, ainda que, no fim de tudo, os rejeite” (KELLER, 2014, p. 107)
O missionário G. Linwood Barney nos dá uma ideia acerca do que é cultura através da
metáfora da cebola. Segundo ele, a parte mais interna é a da cosmovisão- que seria uma
espécie de conjunto de normas sobre o mundo, a cosmologia e a natureza humana. Após essa
camada se forma um grupo de valores, o qual é visto como bom, verdadeiro e belo. Uma
terceira camada é considerada a qual seria um conjunto de instituições humanas formado por
leis, educação, vida, família e governo alicerçados nos valores e na cosmovisão. Finalmente a
camada mais superficial e visível que é a cultura- costumes e comportamentos humanos, por
exemplo (KELLER, 2014).
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tarefa desafiadora viver como uma contracultura indo de encontro com inclinações espirituais
que conduzem à morte em sua cultura.
No período medieval, o sacerdócio era entendido como uma classe distinta dos leigos.
Martinho Lutero ao se debruçar profundamente no estudo da doutrina da justificação pela fé
encontrou a base para a solidariedade inalterável dos cristãos entre si, que tornava impossível
a divisão tradicional entre “eclesiásticos” (o clero) e “seculares” (os leigos).
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entendimento em termos de serviço e solidariedade. Esse aspecto não anula o fato claramente
declarado na Bíblia acerca dos de diferentes dons e ministérios. Determinados cristãos são
especificamente chamados, treinados e comissionados para o ministério especial de pregação
da Palavra e ministração dos sacramentos.
A missão do povo de Deus é muito extensa para que seja realizada exclusivamente
por aqueles que são enviados além das fronteiras, no sentido tradicional, por isso a igreja
missional acredita que todos os cristãos são missionários em todas as áreas da vida. O intenso
crescimento na igreja primitiva originou-se exatamente por missionários informais, pessoas
comuns que entendiam que o chamado na esfera pública-sociedade e trabalho, fazia parte da
missão. Para Keller, a igreja missional deve preparar cristãos leigos, envolvendo-os no
ministério:
Uma vez que boa parte dos cristãos vivem na rotina comum do mundo, trabalhando,
estudando, ganhando a vida, exercendo suas obrigações civis e colaborando para a sociedade
e cultura, devem considera-lo um campo missionário vasto que deve ser “explorado”, no bom
sentido da palavra, como meio de disseminar o evangelho de Cristo, já que como enfatiza
Wright, a esfera pública está repleta de pecado, ganância, injustiça e violência, precisamos vê-
la como parte integrante da mossa missão (WRIGHT, 2012).
É tarefa da igreja discipular leigos para que ministrem no mundo. O culto não deve
mais ser visto como o único veículo de comunicação do evangelho. É na cultura, através dos
membros, que fazem parte dessa cultura, que a comunicação ocorre, principalmente por meio
do tipo de vida apresentado por esses missionários informais.
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Para Stott (2010), a extensa deterioração da sociedade se deve ao fato da igreja não se
atentar aos diversos chamados divinos que devem estar a serviço na sociedade secular. Todos
os cristãos são chamados para serem testemunhas de transformação em toda a esfera pública e
não somente na igreja. Wright salienta bem esse aspecto:
“A integridade moral é indispensável à identidade cristã, que por sua vez, é essencial
para a missão cristã na esfera pública. Integridade significa ausência de dicotomia
entre nossa “cara” pública e privada; entre o sagrado e o secular em nossas vidas;
entre a pessoa que sou no trabalho e a que sou na igreja; entre o que dizemos e o que
fazemos; entre o que afirmamos crer e o que realmente praticamos. Esse é o
principal desafio para todos os cristãos que vivem e trabalham no mundo descrente.
[...] Esse é realmente um campo de batalhas internas e externas, mas essa é uma luta
que não pode ser evitada ser quisermos ter eficácia em nossa função de sal e luz na
sociedade”. ( WRIGHT, 2012, p. 284).
A igreja missinal se vê como uma comunidade voltada para o serviço a Deus (vertical)
e ao próximo (horizontal) – somos chamados para servir. A palavra grega diakoneo expressa a
ideia de atender de forma humilde as necessidades essenciais e simples por meio de boas
obras. O sentido principal da palavra é alimentar alguém, esperando à mesa (KELLER, 2014).
Uma comunidade missional além de colocar os cristãos em contato uns com os outros,
precisam estabelecer relacionamentos com aqueles que ainda não conhecem a Deus e cujas
necessidades podem ser assistidas por meio das obras de misericórdia, as quais são a
evidência do amor de Deus operando em nossas vidas: “Quem, pois, tiver bens do mundo e,
vendo seu irmão em necessidade, fechar-lhe o coração, como o amor de Deus pode
permanecer nele? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de boca, mas em ações e em
verdade”. (1ª Jo 3:17-18).
Sendo assim, palavras e ações devem caminhar lado a lado. Nossa tarefa é suprir
necessidades espirituais e simultaneamente convidar as pessoas à fé em Jesus. É necessário
como ressalta Stott ( 2010) conciliar as duas vertentes da missão. Teremos momentos em que
o destino eterno do indivíduo será a situação mais urgente, entretanto não podemos negar o
fato que uma pessoa privada de recursos básicos à sobrevivência optará por ter tais demandas
atendidas: “O homem que caiu entre os salteadores precisava, acima de tudo, naquele
momento, de remédios e curativos para suas feridas, não de folhetos evangelísticos nos
bolsos!”. (STOTT, 2010, p. 33).
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A comunidade precisa perceber que a igreja está profundamente envolvida com as
demandas do bairro, cidade. Devido ao descaso da igreja em relação às obras de misericórdia,
as pessoas as veem apenas como uma instituição focada em si mesma que não têm nada a
oferecer aos indivíduos a não ser uma salvação além. Mas Tiago nos alerta sobre a relação
entre a fé e as obras, enfatizando que uma embora não sejamos salvos pelas obras, mas
mediante a fé, quando esta é verdadeira em Cristo nos leva a praticar boas obras:
Uma igreja missional se caracteriza por essa responsabilidade para com a comunidade.
Ela se sente no compromisso de mudar a realidade das pessoas sempre que possível e
necessário. Ela se incomoda em ser vista como uma espécie de sociedade secreta e fechada,
voltada apenas para seus próprios propósitos egoístas. Ela deseja participar da vida da
comunidade, demonstrando através das obras de misericórdia o amor sacrificial que tem como
modelo o exemplo de Cristo.
A igreja primitiva era conhecida por esse amor e seu crescimento se deu em
consequência disso. Até mesmo os não cristãos ficavam admirados com sua maneira de
vivenciar o evangelho. O imperador Juliano ( 331-363 d.C.) chegou a declarar que gostaria de
chegar ao nível dessa conduta ou até mesmo superá-la. O papa Bento XVI fez uma declaração
que evidencia descreve bem essa temática: “Para a igreja, a caridade não é uma espécie de
atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua
natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência”. (RATZINGER, 2005, apud,
GOHEEN, 2014, p.259).
43
5.6 Ser missional é cuidar da criação
É evidente que na reflexão teológica da criação há uma preocupação ecológica que nos
conduz à uma atitude de respeito e cuidado com a criação de Deus como um todo, pois
entendemos que a salvação cósmica proporcionada por Cristo não pode estar desconectada da
discussão teológica.
Os cristãos devem ser instruídos a cuidar bem da terra, considerando que o zelo para
com a criação é uma das dimensões de nossa missão. Fomos designados para: “ [...] Governar
e servir à criação é a primeira missão da humanidade sobre a terra e Deus jamais revogou este
mandato”. (WRIGHT, 2012, p. 65). Devemos participar dessa dimensão redentora da criação,
faz parte de nosso chamado missional.
Uma igreja missional entende que ser cristão não nos torna seres de outro planeta. É
que não há em nossa compreensão uma dicotomia da missão- missão cristã e missão humana;
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“[...] Como seres humanos cristãos, portanto, somos duplamente constrangidos a ver o
cuidado ativo com a criação como parte fundamental do que significa amar e obedecer a
Deus”. (WRIGHT, 2012, p. 323).
A variedade de igrejas no Brasil é grande e complexa. Não é raro nos depararmos com
disputas e escândalos envolvendo denominações e líderes altamente conhecidos no mundo
cristão. Parece-nos que cada uma carrega a sua bandeira denominacional, ostentando uma
missão que parece mais ser desenvolvida em benefício próprio.
É uma situação lastimável ver igrejas que parecem desconhecer o poder da unidade,
que nos foi conquistada em Cristo. Essa desunião gera uma contradiz todo o evangelho
pregado. Cristo sinaliza aos seus discípulos que sua missão seria reconhecida ao passo que os
de fora vissem a harmonia entre seus seguidores.
Uma igreja missional entende que deve ser uma comunidade que se enxerga integral e
essencialmente conectadas com outras comunidades como parte da missão de Deus, unidas
num único intuito de fazerem o bem pela comunidade na qual estão inseridas:
“[...] Isso implica a reafirmação de que a unidade cristã é a condição para a presença
da igreja no mundo. Viver em unidade não significa negar as diferenças, mas
respeitá-las e buscar encontro e suporte naquilo que é comum, tanto na forma de
entender e experimentar Deus, revelado e Jesus Cristo, quanto nas ações de
promoção da vida em todas as suas dimensões”. (Plano Nacional Missionário, 2007-
2012, p. 17)
O livro de Deuteronômio previne o povo de Deus sobre duas situações perigosas que
os impossibilitaria de se tornar luz para as nações ao redor: a idolatria e o fiasco de não
instruir a geração seguinte na fé, e isso não serviu somente de alerta para Israel no passado,
ainda hoje a tarefa de transmitir aos filhos a herança espiritual continua válida. Não obstante,
o que temos verificado é um declínio cada vez maior. Pais ao negligenciarem essa função,
acabam por deixar que outras instituições se responsabilizem por ela, o que a torna totalmente
propícia ao fracasso. Sendo assim, uma igreja missional percebe que treinar os pais para essa
função faz parte da sua missão.
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No momento atual, é notório a capacidade vertiginosa que o poder tecnológico tem de
modelar a cosmovisão em aliança com o excessivo tempo que a juventude usa com tais
tecnologias fazem com que o tempo diminuto que se gasta com a instrução cristã pareça
insignificante quando aferidos. Consequentemente a situação se torna inteiramente injusta
como ressalta Goheen:
“[...] A melhor pregação, o melhor louvor e os melhores cursos oferecidos por uma
igreja simplesmente não conseguem competir com televisão, filmes, internet,
celulares, facebook, twitter e uma lista cada vez maior de tecnologias que formam
nossa visão de mundo [...]” (GOHEEN, 2014, p.263).
Uma das táticas desprezadas por grande parte das famílias é o culto doméstico. A fé
cristã deve ser nutrida também no lar:
O culto doméstico será o momento em que os pais estarão ensinando aos filhos a
verdadeira história do mundo contida na Bíblia empregando literatura e métodos de acordo
com a faixa etária deles. Gastar tempo considerável cantando e orando ao Senhor em
momentos de adoração familiar, serão refletidos na vida de fé pública.
Outro aspecto que deve ser adotado é o uso criterioso da tecnologia de forma que
ajudemos nossos filhos a usá-la com sabedoria. Dialogar com eles por meio de discussões
sobre tecnologia, filmes, músicas e eventos atuais também serão momentos cruciais para
compreendermos o contexto cultural hedonista presente na sociedade e servirá como espaço
para refletir sobre cada situação na ótica dos valores do Reino de Deus, de maneira que uma
cosmovisão cristã seja absorvida por eles. Por último é preciso capacitar nossos filhos a se
tornarem membros do corpo de Cristo, envolvendo-os no culto e na vida da igreja (GOHEEN,
2014).
46
Este se configura no maior investimento numa igreja com visão missional. Uma igreja
que valoriza o ministério infantil e sabe da sua importância para a missão da igreja,
desenvolverá ações que de fato introduzam os pequeninos na vida da igreja, a fim de que
cresçam na essência do chamado missional.
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CAPÍTULO 6. IDENTIDADE DA IGREJA METODISTA WESLEYANA
48
social; e tesoureiro-geral: Idelmício Cabral dos Santos. A igreja despontou e cresceu de forma
vertiginosa. Dentro de um mês já haviam 30 igrejas organizadas. Atualmente a denominação é
composta de 733 igrejas e 130 mil membros (SANTOS, 2014). Sobre a nossa identidade
resume, o bispo Anderson Caleb:
49
CAPÍTULO 7. CONCLUSÃO
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ONG do bem: será até capaz de promover melhoras na educação, na justiça social,
na defesa do meio ambiente e em tantas outras esferas da vida humana, mas não
conseguirá contribuir para solucionar a mais catastrófica condição da humanidade,
que é seu afastamento do criador e razão do pecado”. (QUEIROZ;STETZER, 2017,
p.19)
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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RIBEIRO, C. de. O. Teoria e Prática: Como os estudos wesleyanos podem contribuir para
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YANCEY, P. Igreja: Por que me Importar?. Traducão: Elizabeth Charles Gomes. São
53