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1| O TELEFONEMA

— Herman!? — Esta era a maneira de Gustav


mudar de assunto em uma conversa: evocar o
nome de seus interlocutores uma segunda vez.
Fazia assim como um método para organizar os
pensamentos e torná-los mais claros quando
precisava lembrá-los.
— Sim.
— Você tem tido notícias do Phili? Não
consigo falar com ele há três semanas. Parece que
trocou o celular, não sei?
― Não. Na verdade, não o vejo desde do
último encontro e isso faz já um bom tempo. O
que? Uns dois meses? — queixou-se Herman por
tanto tempo sem os encontros.
― Estou preocupado. — admitiu Gustav.
― Também. Antes nos reuníamos todos os
meses, duas vezes. Agora parece que será um
encontro a cada dois meses. — Desta vez Herman
encarou o amigo a fim de tentar convencê-lo da
necessidade de retomar os encontros.

Os dois desciam apressadamente as


escadarias do prédio central da faculdade. Gustav
cuidou para que nada das muitas coisas que
carregava não se esparramassem pelo caminho.
Sempre correndo. Impressionava o seu senso de
urgência. Parecia querer ganhar o tempo em uma
corrida de cem metros. Carregava duas mochilas
penduradas em cada ombro e uma sacola de
papel com seu lanche-almoço, que quase sempre
se esquecia de comer, e cadernos que disputavam
lugar em uma das mãos. Os óculos se
equilibravam sobre o nariz delgado, guardando os
olhos castanho-claros. A cena se repetia quase
todas as sextas-feiras, quando as aulas
terminavam mais cedo e, observada de longe,
sempre furtava um sorriso de quem passasse por
ali.

Gustav e Herman haviam se conhecido no


curso de filosofia havia dois anos e, desde então,
tornaram-se bons amigos. Não bebiam nem
fumavam como os futuros filósofos de sua classe.
Não tinham grandes amigos. Os dois se bastavam.
Tinham bom relacionamento com quase todos no
campus, mas “não nos misturamos”, diziam.
Mesmo assim, eles não tinham inimigos
declarados ou algo do tipo. Não eram
considerados nerds. Eram estudiosos, mas nada
excepcional. Nada de namoradas. Não porque não
desejavam. Não havia ninguém por quem valesse
a pena. Gustav, no alto dos seus experientes vinte
e dois anos, declarava a quem desejasse ouvir que
eram todas as mesmas.

O encontro a que Herman se referira,


restringia-se a quatro ou cinco pessoas que
comiam pizza e bebiam refrigerantes debatendo
as aulas de filosofia e ouviam música ou discutiam
sobre filmes, sempre na casa de Gustav. Era
quase um grupo fechado. “Só os que realmente se
interessam”. Cada vez os encontros estavam se
tornando mais raros e ninguém tinha coragem de
perguntar o porquê de Gustav não estar mais
convocando as reuniões. Nem mesmo Herman,
ainda que julgava ser culpa de Phili. Não era
verdade que o novo amigo de Gustav tenha
gerado em Herman um certo ciúme. A palavra
correta talvez não fosse essa. Seria desconfiança.
O carinha tinha chegado a faculdade, assim, sem
mais sem menos, arrazoava Herman. Nos finais de
semanas em que não tinha reunião, os dois
podiam ser encontrados sempre na companhia um
do outro. Seja onde fosse: no clube, na casa de
Gustav ou na tia Bel, comendo bolo de cenouras e
tomando banho na piscina.
Phili aparecera no curso havia pouco menos
de dois meses. E, mesmo caladão, meio
deslocado, chamara a atenção de Gustav. Em
seguida começou a frequentar os encontros. E,
aos poucos, as atenções de Gustav se voltaram
para o amigo misterioso. Vestia roupas baratas,
sem cores extravagantes; tênis pretos, sempre os
mesmos. E livros de filósofos como Kant, Hegel e
Hume debaixo dos braços ou nas mãos. Phili era
negro e isso provocava mentalmente em Gustav
questionamentos preconceituosos.

— Te vejo amanhã, então? — gritou Gustav a


Herman de longe, depois de praticamente ter
jogado as coisas no banco de trás do carro e
ajustado os óculos ao rosto para que não
corressem o risco de cair. Levantou os olhos em
direção a Herman e notou que ele não estava mais
lá.
Todo o campus era composto de vários
prédios ladeados por pequenos lagos, jardins e
gramados que sempre estavam cheios de alunos
conversando ou estudando. Alguns casais
flertavam e combinavam encontros furtivos entre
os ipês e as amendoeiras espalhados por todo o
complexo. O prédio central era onde ficavam os
cursos de humanas, a reitoria e os restaurantes.
Um pouco mais distantes estavam distribuídos os
prédios das Exatas, a biblioteca, a prefeitura do
campus, o ginásio de esportes e anfiteatro. Este
servia mesmo para os skatistas e maconheiros
que se encontravam sempre no fim da tarde,
mesmo sob observação dos guardas do campus.

Logo que entrou no carro, Gustav lembrou-se


que deveria abastecer o carro, passar no mercado
para levar os pães que sua mãe pedira e algumas
cavacas com cobertura de goiabada. Isso o fez
não se preocupar com Phili por algumas horas.
— Mãe?

— Estou aqui, filho, na cozinha.

Gustav foi até ela e beijou-lhe a testa como de


costume. Fez duas ou três perguntas sobre o dia
dela. Era à sua maneira de mostrar que se
importava. Colocou cuidadosamente os pães e as
cavacas sobre a mesa e uma das mochilas sobre
a cadeira. A outra estava jogada sobre o sofá da
sala, junto as chaves do carro e do apartamento.

— Abasteceu o carro, filho? — Ela perguntou


enquanto retirava o avental e se dirigiu a pia a fim
de lavar as mãos.

— Sim. Vou subir para tomar um banho e já


desço para o café. Que horas são, mãe?

Ela olhou para o relógio sobre o umbral da


porta entre a sala e cozinha:

— Cinco horas! São exatamente cinco horas,


Gustav.
Antes de dizer “são exatamente...”, ele já
havia subido as escadas e ela ficou ali, maneando
a cabeça negativamente, inconformada com tanta
pressa.

A mãe de Gustav tinha quarenta anos e


cuidara dele deste bem cedo. Quando Gustav
nasceu ela tinha apenas dezoito anos. Seu marido
havia sumido quando Gustav ainda era uma
criança. Deixou um bilhete de despedida para ela.
E ela nunca revelou o conteúdo do bilhete e o
rapaz não demonstrou interesse algum de
perguntar. Ela trabalhava como professora de
História. Dava aulas em duas escolas particulares
a fim de aumentar a renda. Nunca reclamava da
vida. Tinha prazer no que fazia. Sempre positiva.
Queria de Gustav estudasse para ser professor de
História, como ela. Nunca entendeu porque
filosofia. Mas, o apoiava.
Os dois moravam em apartamento que era
dos avós maternos de Gustav, no Centro da
cidade. XZXXXXZXX.

Depois de meia hora de banho, os dois já


estavam na cozinha tomando o café da tarde.
Gustav tomava o café enquanto examinava
algumas correspondências, na maioria contas, e
se engasgou com um pedaço de cavaca quando
ouviu de sua mãe:

— Aquele seu amigo, Phili, ligou enquanto


você estava no banho. Disse que vai ligar depois e
que precisa de sua ajuda.
2|A REVELAÇÃO

— Gustav, Phili ligou.


— Eu sei. Ele ligou aqui para casa também.
Para o residencial. Isso não é estranho? —
ponderou.
— Sim. Sim. Ele ligou para o residencial daqui
também. — O tom da voz de Herman era de
êxtase.
— Por que ele não ligou para o meu celular?
Ele tem o número do meu celular.
— Isso não é o mais esquisito de tudo,
Gustav. Ele disse que ligou para você e sua mãe
tinha atendido. Phili quer mesmo é falar com você.
Ele disse que ligar para o seu celular seria muito
perigoso. — Desta vez, a voz era quase um
sussurro.
— Esquisito!
— Mas, não é isso o que torna toda estória
esquisita, Gustav. O inexplicável — fez uma
pequena pausa — ... é que eu nunca passei meu
número de telefone residencial para o Phili.

Um grande silêncio tomou conta da conversa


por alguns segundos até que Gustav pediu para
Herman ir a sua casa.

— Gustav, você sabe que horas são?

Ele olhou para o despertador ao lado de sua


cama e constatou ser quase 23h. Seu senso de
urgência não tinha medida. Então marcaram na
biblioteca duas horas antes da aula, no dia
seguinte.

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