A tradução portuguesa (de 1973 na Assírio e Alvim, creio que esgotada) deu-lhe o
título Sade / Masoch. Um pouco para aproveitar a moda Sade pós-guerra (Pierre
Klossowski, Sade mom prochain, 1947; George Bataille, parte de L'érotisme, 1957;
Maurice Blanchot, Lautréamont et Sade, 1963; Roland Barthes, Sade, Fourier, Loyola,
1971; Simone de Beauvoir, Faut-il brûler Sade?, 1972). Mas também porque o texto de
Deleuze fala muito do sadismo, contrapondo-o inúmeras vezes ao masoquismo.
c) Dá-se uma antropologização das essências ideais de Proust et les signes. Aqui a
"idealidade" das essências é pensada dentro de uma teoria da imaginação. Responde à
pergunta de como é que a imaginação cria fantasmas e estes se inscrevem no mundo
masoquista.
f) O masoquista prefere o fantasma ao real porque a lei proíbe a relação com o real (lei
como ideal da razão). A lei dá-se como obstáculo do desejo, daí o desvio para o
imaginária, o fantasmal.
h) O masoquismo é exposto não como uma condição espúria, perversa, anormal, mas
como o lugar mais profundo da condição humana. No fundo todos somos masoquistas, é
isso que Deleuze pretende defender na função mais política da obra.
a) Como os médicos quando elaboram diagnósticos, Sade e Masoch definem duas novas
sintomatologias, o sadismo e o masoquismo. Que não podem, como vimos, ser reduzidas
a uma só, o sado-masoquismo (os sintomas de cada uma são irredutíveis). Estas
sintomatologias criam novas dimensões do humano, Sade e Masoch, diz Deleuze, são
grandes antropólogos, desenvolvem novas formas de sentir e pensar, novas possibilidades
do humano.
b)Esta literatura produz efeitos fisiológicos, emotivos e mentais nos leitores. Uma
literatura pornológica (diferente da pornográfica pela complexidade que contém): "se a
obra de Sade e a de Masoch não podem passar por pornográficas, se merecem um nome
mais elevado como o de 'pornologia', é porque a sua linguagem erótica não se deixa
reduzir às funções elementares do comando e da descrição." (18)
b) Finalmente, percebe-se nesta literatura que a linguagem do sadismo invoca uma razão
analítica universal, ele age a partir de um ideal da razão; enquanto em Masoch há um
espírito dialéctico no uso que faz da linguagem. "Em Sade a função imperativa e
descritiva da linguagem supera-se em direcção a uma pura função demonstrativa e
institucionalizadora; em Masoch, ela supera-se também, mas em direcção a uma função
dialéctica, mítica e persuasiva." (22)