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Ontem iniciámos a leitura de Présentation de Sacher-Masoch de Gilles Deleuze (1967).

A tradução portuguesa (de 1973 na Assírio e Alvim, creio que esgotada) deu-lhe o
título Sade / Masoch. Um pouco para aproveitar a moda Sade pós-guerra (Pierre
Klossowski, Sade mom prochain, 1947; George Bataille, parte de L'érotisme, 1957;
Maurice Blanchot, Lautréamont et Sade, 1963; Roland Barthes, Sade, Fourier, Loyola,
1971; Simone de Beauvoir, Faut-il brûler Sade?, 1972). Mas também porque o texto de
Deleuze fala muito do sadismo, contrapondo-o inúmeras vezes ao masoquismo.

A primeira consideração a fazer é a da iliteracia genética sobre o masoquismo. Todos


relacionamos o sadismo com o Marquis de Sade, mas quase ninguém sabe que o
masoquismo deriva do nome de Léopold von Sacher-Masoch, 1836-1895, nascido em
Lemberg, cidade do império austro-húngaro, hoje incluída na Ucránia. O seu pai foi chefe
de polícia nessa cidade e as cenas de rebelião que testemunha enquanto jovem irão,
segundo Deleuze, marcá-lo para sempre. Obtém um doutoramento em direito e torna-se
professor de história na universidade de Gräz. Começa a carreira literária com romances
históricos, um sucesso fulgurante. Por exemplo, numa viagem que realizou a Paris em
1886 foi condecorado, recebido em festa pelo jornal Le Figaro e pela La Revue des Deux
Mondes. Morrerá, no entanto, esquecido em 95, ele e a sua obra. Por isso Deleuze refere
uma dupla injustiça: a) a sua obra caiu rapidamente no esquecimento ao mesmo tempo
que o seu nome se vulgarizava; b) "O tema de uma unidade sado-masoquista, de uma
entidade sado-masoquista, foi prejudicial a Masoch. Não apenas sofreu de um
esquecimento injusto, mas de uma injusta complementaridade, de uma injusta unidade
dialéctica." (prefácio da edição Minuit)

Segunda consideração. O livro de Deleuze é antes de mais uma teoria da literatura, ou


uma pragmática da literatura, claro que a obra extravasa o domínio puramente estético do
sadismo e do masoquismo, mas a consideração inicial institui o horizonte discursivo:
"Para que serve a literatura? Os nomes de Sade e de Masoch servem pelo menos para
designar duas perversões de base. São prodigiosos exemplos de uma eficácia literária."
(p. 15)

Terceira consideração. Nuno Nabais expôs alguns pressupostos (teóricos, ideológicos,


históricos, metodológicos...) que informaram a construção do texto deleuziano.
a) Inscreve-se na tradição psicanalista (freudiana e lacaniana). Deleuze só recusará a
Psicanálise no Anti-Édipo (1972), escrito com Félix Guatarri.

b) Também foi influenciado pelo estruturalismo. O masoquismo é sempre pensado


estruturalmente, o masoquista é resultado da sua inscrição numa rede de relações.

c) Dá-se uma antropologização das essências ideais de Proust et les signes. Aqui a
"idealidade" das essências é pensada dentro de uma teoria da imaginação. Responde à
pergunta de como é que a imaginação cria fantasmas e estes se inscrevem no mundo
masoquista.

d) Ganhamos muito em pensar a literatura a partir de Masoch e Sade porque neles a


potência ficcional, essência da literatura, é a mais elevada.

e) O fantasma é o novo conceito para designar as essências. Com isto sensibiliza as


essências, o ideal, fantasmal agora, deixa de ser transcendente (como acontecia por vezes
em Proust et les signes).

f) O masoquista prefere o fantasma ao real porque a lei proíbe a relação com o real (lei
como ideal da razão). A lei dá-se como obstáculo do desejo, daí o desvio para o
imaginária, o fantasmal.

g) Ainda encontramos a presença da teoria das faculdades kantianas, embora passe de


quatro para três faculdades: sensibilidade, imaginação e razão. Tríptico próximo do real,
imaginário e simbólico lacanianos. As três faculdades orbitam aqui em torno da
imaginação, faculdade principal (em Proust et les signes era a razão)

h) O masoquismo é exposto não como uma condição espúria, perversa, anormal, mas
como o lugar mais profundo da condição humana. No fundo todos somos masoquistas, é
isso que Deleuze pretende defender na função mais política da obra.

i) O livro sobre Sacher-Masoch é o menos deleuziano de todos, a teoria da imagem que


aí desenvolve nunca mais será reeditada, apesar dos dois livros sobre cinema.
Quarta consideração. Falámos no início sobre uma pragmática literária, no primeiro ponto
da obra Deleuze apresenta quatro eficácias da literatura sádica e masoquista:

a) Como os médicos quando elaboram diagnósticos, Sade e Masoch definem duas novas
sintomatologias, o sadismo e o masoquismo. Que não podem, como vimos, ser reduzidas
a uma só, o sado-masoquismo (os sintomas de cada uma são irredutíveis). Estas
sintomatologias criam novas dimensões do humano, Sade e Masoch, diz Deleuze, são
grandes antropólogos, desenvolvem novas formas de sentir e pensar, novas possibilidades
do humano.

b)Esta literatura produz efeitos fisiológicos, emotivos e mentais nos leitores. Uma
literatura pornológica (diferente da pornográfica pela complexidade que contém): "se a
obra de Sade e a de Masoch não podem passar por pornográficas, se merecem um nome
mais elevado como o de 'pornologia', é porque a sua linguagem erótica não se deixa
reduzir às funções elementares do comando e da descrição." (18)

c) Mostra ao leitor como o masoquismo e o sadismo são irredutíveis. O primeiro acontece


no estabelecimento de um contrato entre os parceiros, o segundo vive de vínculos
institucionais, comando do mais forte, obediência do mais fraco. Por isso, o masoquismo
é essencialmente pedagógico (é necessário educar o parceiro, e este pode não querer
aprender), enquanto o sadismo destrói todos os contratos, e pela imposição destrutiva
quer regressar a um estado de natureza, aquém das leis culturais. O masoquismo ter mais
a ver com Rousseau, o contrato social; o sadismo com o levithan hobbesiano, a imposição
da lei, legitimada pela necessidade de sobrevivência. Claro que neste último caso temos
de superar a contradição mostrando que a lei do sádico não é a "lei civilizadora" do
déspota hobbesiano, a similitude está em que o princípio da imposição à força é o mesmo.

b) Finalmente, percebe-se nesta literatura que a linguagem do sadismo invoca uma razão
analítica universal, ele age a partir de um ideal da razão; enquanto em Masoch há um
espírito dialéctico no uso que faz da linguagem. "Em Sade a função imperativa e
descritiva da linguagem supera-se em direcção a uma pura função demonstrativa e
institucionalizadora; em Masoch, ela supera-se também, mas em direcção a uma função
dialéctica, mítica e persuasiva." (22)

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