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Nuevo Mundo Mundos

Nuevos
Nouveaux mondes mondes nouveaux - Novo Mundo Mundos Novos - New world
New worlds

Débats | 2014
Latinoamerica y los enfoques globales – Coord. Sergio Serulnikov et Andrea Lluch

ALEXANDRE FORTES

Os impactos da Segunda
Guerra Mundial e a regulação
das relações de trabalho no
Brasil
World War II impacts and the regulation of labor relations in Brazil
[27/01/2014]

Résumés
PortuguêsEnglish
Esse artigo parte do princípio de que a Segunda Guerra Mundial foi um processo global
com impactos profundamente transformadores nas relações econômicas, sociais e políticas
mesmo de áreas distantes das principais frentes de combate. Integrando elementos da
história do trabalho e da história das relações internacionais, buscamos demonstrar como o
exame do impacto da Guerra sobre o Brasil leva a novas interpretações sobre a
consolidação da engenharia institucional de regulação estatal das relações de trabalho
caraterístico da chamada “Era Vargas”. Essa abordagem permite compreender a
reinvenção do Estado brasileiro naquela conjuntura crítica, sob a pressão de profundas e
aceleradas transformações “por cima” e “por baixo”, resultando em inovações políticos-
institucionais cujos legados se revelaram persistentes. No primeiro plano, destaca-se a
emergência de nova ordem internacional na qual a industrialização estabelecia-se como
condição sine qua non de soberania nacional. No segundo, o projeto de incorporação
“controlada” das maiorias subalternas à cidadania e à participação política, num contexto
de popularidade inédita do comunismo e no qual a derrota ideológica do “racismo
científico” abalava os alicerces das hierarquias sociais pós-abolição.

This article departs from the assumption that World War II was a global process with
profoundly transforming impacts on economic, social and political relations even in areas
removed from the main battle zones. Integrating elements from labor history and foreign
relations history, we search to demonstrate how the exam of the war impact on Brazil
brings new interpretations on the consolidation of the institutional engineering for state-
controlled regulation of labor relations characteristic of the so-called “Vargas Age”. This
approach allows us to understand the reinvention of the Brazilian state at that critical
juncture, under the pressure of profound and accelerated transformations, both “top-
down” and “bottom-up”, resulting in political-institutional innovations, with lasting effects.
In one hand, there is the emergence of a new international order in which industrialization
was established as a sine qua non condition for national sovereignty. On the other hand,
the project of a “controlled” incorporation of the subaltern majorities to citizenship and
political participation, in a context marked by the novel popularity of communism, also one
in which the ideological defeat of “scientific racism” shook the foundations of post-
abolition social hierarchies.

Entrées d’index
Keywords : World War II; Labor law; Industrialization; Nationalism
Palavras Chaves : Segunda Guerra Mundial, Legislação Trabalhista, Industrialização,
Nacionalismo

Texte intégral
1 A Segunda Guerra Mundial é um marco inconteste na historiografia
internacional sobre as relações entre Estado e classe trabalhadora; políticas
sociais e cidadania. A “guerra total” e a luta antifascista criaram as condições
políticas e culturais para a generalização de um novo padrão de regulação no
capitalismo, vinculando “desenvolvimento nacional”, “democracia” e “bem-estar
social”.
2 No Brasil, é crescente o destaque dado na bibliografia especializada às
transformações ocorridas no período de envolvimento direto com a conflagração
global (1941-1945). Entretanto, fatores “domésticos” continuam a preponderar
nas explicações sobre os processos inovadores ocorridos naquela primeira metade
dos anos 1940. Isso se explica, em grande medida, pelo fato de que a análise dos
efeitos da Guerra sobre as relações de trabalho no país tende a ficar diluída num
debate mais geral sobre o legado de Getúlio Vargas, que permaneceu no poder de
1930 a 1945 a títulos vários (chefe do Governo Provisório, presidente eleito pelo
Congresso Constituinte e Ditador), retornando como presidente eleito por via
direta entre 1950 e 1954 (além de ter seu principal herdeiro político como
presidente da República em 1961-1964).
3 O sistema corporativista de relações de trabalho estabelecido no Brasil após
1930, um dos principais e mais persistentes legados da “Era Vargas”, foi e
continua a ser objeto de acalorados debates acadêmicos e políticos. Desde a sua
criação, os defensores do sistema se vangloriam do fato do Brasil possuir “a
legislação trabalhista mais avançada do mundo”, enquanto seus críticos apontam
para o fato de que isso não impediu o país de se tornar campeão mundial de
desigualdade social.
4 Durante as greves dos metalúrgicos do ABC paulista no final da década de 1970,
o então líder metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva declarou que a Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT), promulgada por Getúlio Vargas em 1943, era o “AI-5
dos trabalhadores”, numa comparação entre os mecanismos de controle sobre as
organizações sindicais previstos na primeira e o decreto que, em 1968, fechou o
Congresso Nacional e suspendeu diversas garantias constitucionais, inaugurando
o período mais repressivo da Ditadura Militar. Porém, na década de 1990,
enquanto o presidente Fernando Henrique Cardoso definia como missão do seu
governo por fim à “Era Vargas”, os remanescentes do novo sindicalismo,
organizados na Central Única dos Trabalhadores, viriam a se tornar ardorosos
defensores da CLT, já que esta, ao prever uma minuciosa e ambiciosa
regulamentação das condições de trabalho no país, tornou-se um poderoso escudo
na luta de resistência contra a “flexibilização” promovida pelo neoliberalismo. No
momento em que escrevemos estas linhas, a passagem dos setenta anos de
proclamação da CLT reacende estes debates.
5 Desde os primórdios dos estudos acadêmicos sobre o tema, os críticos do
sistema denunciavam que ele teria promovido a heteronomia do movimento
operário, cerceando a livre negociação. O atrelamento ao Estado foi apontado
também como responsável pela multiplicação de sindicatos “cartoriais”
(organizações criadas para exercer a suposta representação de determinadas
categorias de trabalhadores que, de fato, não possuem nenhum grau de
organização) e sustentar “pelegos” (sindicalistas burocráticos sem compromisso
efetivo com a defesa dos interesses dos trabalhadores)1.
6 Enquanto vários autores apontam para indícios de influência fascista já nos
primeiros decretos emitidos após a Revolução de 19302, um estudo pioneiro
levado a cabo por um dos seus principais formuladores considera que esta
influência autoritária se estabeleceu apenas após o golpe do Estado Novo, em
1937, que teria deturpado uma legislação até então pautada pela experiência de
advogados vinculados à defesa dos direitos dos trabalhadores desde a Primeira
República.3
7 A linha predominante dos estudos atuais sobre o tema tenda a reforçar o caráter
autóctone das fontes intelectuais da legislação, apontando para conexões no
campo da prática jurídica que remontam à defesa dos direitos dos escravos
durante a luta abolicionista4 e destacando a profunda diferença entre o sistema
institucional do Brasil varguista em relação ao da Itália fascista5. Alguns autores,
entretanto, apontam que, embora a CLT e a Carta del Lavoro sejam documentos
de teor e caráter bastante distintos, não se deve esquecer que traduções de trechos
da segunda foram integralmente inseridos na constituição outorgada pelo regime
estado-novista em 19376. Outros destacam a imensa distância entre o “paraíso
operário” prometido pela CLT e a realidade do mundo do trabalho no Brasil,
considerando que, ao invés de expressar a defesa ativa dos direitos dos
trabalhadores pelo Estado, a legislação varguista de fato se constitui num novo
terreno de luta, à medida que a efetivação dos direitos nela vislumbrados
dependeu sempre da capacidade organizativa dos trabalhadores e das alianças
políticas por eles estabelecidas7.
8 Enquanto boa parte dos estudos sobre as origens do sistema varguista de
regulação das relações de trabalho enfatiza, portanto, o debate sobre as opções
políticas e afiliações ideológicas dos governantes e legisladores, questionamentos
sobre o fato de ela ter sobrevivido ao regime levaram as ciências sociais brasileiras
ao estudo de outros fatores. Apontada como expressão de um processo de
modernização conservadora, similar ao verificado em outros populismos latino-
americanos8, as raízes estruturais do fenômeno foram localizados pela Escola
Sociológica de São Paulo na substituição gradual de um operariado estrangeiro,
politizado e militante por migrantes rurais recentes, carentes de experiência
política prévia. Os novos operários, portanto, estariam satisfeitos pela mobilidade
social ascendente representada pelo seu ingresso no mundo urbano-industrial9, e
por isso teriam se constituído em “massas disponíveis” para a manipulação
populista10. Estudos no campo da ciência política nos anos 1970, por outro lado,
enfatizaram a análise de conjunturas críticas e o papel das escolhas realizadas
pelos atores políticos, especialmente o Partido Comunista, cuja aproximação ao
varguismo no imediato pós-guerra passou a ser vista como determinante para a
sobrevivência do sistema.11.
9 Em meados dos anos 1980, o tema começa a ser revisitado por autores que,
influenciados pelo historiador britânico E.P. Thompson12, enfatizam a experiência
dos trabalhadores como sujeitos históricos conscientes. Proliferaram estudos
sobre categorias, empresas e comunidades específicas, buscando compreender
processo de apropriação e ressignificação da legislação trabalhista como novo
terreno de luta de classes no pós-193013. As relações entre estes grupos de
trabalhadores e as empresas nas quais eram empregados passaram a ser vistas
como microcosmos do “sistema político populista”, nas quais se verificavam
lógicas próprias de concessão de benefícios paternalistas, combinados com graus
variáveis de respeito aos direitos legais dos trabalhadores14. Em muitos desses
casos, verificava-se um forte “patriotismo de fábrica”: o orgulho e a segurança
gerados pelo pertencimento a uma empresa poderosa, que entretanto não impedia
a ocorrência de uma luta velada ou aberta por condições de vida e de trabalho,
dignidade humana e profissional.15
10 A relevância do período no qual a guerra ocorreu (particularmente dos anos
1941 a 1945) no que diz respeito à reconfiguração das relações de trabalho no
Brasil está bem estabelecida na literatura. Aquele foi o momento da “invenção do
trabalhismo”16, da “aposta populista” de Vargas17, e da emergência de uma “crença
simbólica nos direitos” entre os trabalhadores urbanos brasileiros18. A ditadura do
Estado Novo passou por uma inflexão rumo a uma “cidadania regulada”19,
expressa na titularidade dos trabalhadores incluídos no mercado formal de
trabalho a direitos definidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
11 Diversos dos trabalhos citados acima mencionam aspectos da Guerra e suas
consequências no país como parte do contexto de consolidação do projeto
varguista de incorporação dos trabalhadores a uma nova forma de cidadania.
Nenhum deles, entretanto, atribui ao envolvimento do Brasil na confrontação
global um papel decisivo nas mudanças ocorridas tanto na configuração da classe
trabalhadora quanto na política trabalhista do regime justamente naquele
momento. É essa hipótese que exploramos aqui, tomando como ponto de partida
o próprio impacto da Guerra sobre a economia brasileira.
Economia e defesa: A aliança Brasil-
EUA na Segunda Guerra Mundial
12 A importância da Segunda Guerra Mundial para o Brasil não pode ser medida
pelos cerca de 25.000 soldados da Força Expedicionária Brasileira enviados para
combater na Itália, dos quais 471 tombaram em combate.20 Nem mesmo pelos
1.074 mortos resultantes do torpedeamento de navios por submarinos alemães na
costa brasileira. São números pálidos no contexto de um conflito que causou a
morte de algo entre 30 e 50 milhões de pessoas.
13 O longo e complexo processo de envolvimento do país na conflagração global,
entretanto, produziu transformações econômicas, sociais e políticas (tanto na
esfera doméstica quanto no âmbito das relações internacionais) que moldariam de
forma decisiva o curso da história brasileira na segunda metade do século XX.
14 Conforme aponta Frank McCann, a análise da situação internacional preparada
pelo ministro de Relações Exteriores Oswaldo Aranha para subsidiar Getúlio
Vargas em seu encontro secreto com o presidente norte-americano Franklin
Roosevelt em Natal, em 28 de janeiro de 1943, pode ser considerada “um resumo
das políticas externas e domésticas do Brasil nas décadas seguintes”. Elas
situavam o estabelecimento de uma “cooperação segura e íntima com os Estados
Unidos” como condição para o desenvolvimento de poder marítimo e aéreo
visando assegurar a “consolidação da superioridade” brasileira na América do Sul
e uma “melhor posição na política mundial”, destacando-se uma maior influência
sobre Portugal e suas possessões. As condições econômicas para tanto passavam
pelo desenvolvimento da indústria pesada e pela criação da indústria de guerra,
assim como pelo fomento a outras indústrias complementares às dos EUA e
essenciais para a reconstrução mundial, pela expansão do sistema de ferrovias e
rodovias e pela exploração de combustíveis essenciais.21
15 Nas décadas anteriores, diversos gestores da política econômica brasileira
cumpriram a rotina de peregrinar em vão a Washington imediatamente após
assumirem seus cargos, solicitando acordos comerciais visando ampliar as
exportações para os EUA e assegurar o ingresso de dólares necessários às
importações do país e à realização de investimentos capazes de alavancar o seu
desenvolvimento industrial. A súbita disposição dos Estados Unidos, verificada
entre 1940 e 1942, em finalmente conceder ao Brasil o status de aliado estratégico,
realizando as concessões e investimentos daí decorrentes, produziu-se em um
contexto histórico muito específico, no qual a costa nordeste do Brasil foi
identificada como área chave para a “defesa do hemisfério ocidental”. Das cerca
de cem reuniões realizadas pelo comitê de planejamento conjunto do Exército,
Marinha e Departamento de Estado dos EUA entre 1939 e 1940, apenas 6 não
tinham a América Latina no topo de agenda.
16 Em 1940, a inteligência britânica convenceu as autoridades norte-americanas
de que os alemães, que consolidavam se controle sobre o norte da África, estavam
a um passo de cruzar a linha Dacar-Natal, estabelecendo bases no nordeste
brasileiros enquanto fomentariam uma onda de golpes pró-Eixo na América do
Sul, região na qual já possuíam forte influência sobre setores das forças armadas e
controle sobre as principais empresas de aviação comercial. A resposta norte-
americana seguiu ao longo de dois eixos: a intensificação da política de Boa
Vizinhança (em todas as suas frentes: cooperação interestatal, cultural,
econômica, etc.) de um lado e preparação para necessidade de uma “invasão
preventiva”, com um efetivo estimado de cerca de 100.000 soldados, batizada
“Operation Pot of Gold” [Operação Pote de Ouro]22.
17 A disposição norte-americana para investir no Brasil precisa também ser
entendida num contexto de enfrentamento à influência econômica alemã, já
tradicional nas áreas de densa colonização germânica do sul do país, mas que
tinha se ampliado significativamente também no país como um todo (e no
Nordeste em particular), em função dos acordos comerciais estabelecidos a partir
de 1934 entre Brasil e Alemanha. O engenhoso sistema dos chamados “marcos de
compensação”, asseguravam cotas do mercado alemão às commodities brasileiras,
sendo o pagamento depositado em marcos numa conta da agência de Berlim do
Banco do Brasil e utilizado para a compra de bens manufaturados (incluindo-se aí
armamentos para a modernização das obsoletas Forças Armadas brasileiras que
os norte-americanos relutavam em disponibilizar). Os efeitos políticos dessa
política ainda se faziam sentir mesmo quando a Guerra a interrompeu, como
destacava o cônsul norte-americano em Recife em 1941:

“Se fosse possível registrar os sentimentos interiores da população


do Nordeste, não seria surpreendente encontrar um número
considerável inclinado para o lado nazista, não como resultado de
doutrinas políticas, mas antes como o resultado de uma economia
‘pão com manteiga’. Essa crença, gerada em grande medida por anos
de observação, é substanciada pelo fato inquestionável de que essa
seção do Brasil depende desesperadoramente dos mercados abertos
europeus para o grosso das suas exportações, e particularmente para
as suas necessárias importações. É de conhecimento geral que a
‘prosperidade’ e os ‘bons tempos’ nessa seção estão
indissoluvelmente ligados a um mercado de importação-exportação
alemã, anteriormente tornado possível pelo Aüslander
Sonderkonten Für Inlandbezahlungen (Marco Aski)” 23

18 Para entender o significado das negociações do Brasil com os Estados Unidos e


a Alemanha nesse período, é necessário fazer um breve retrospecto sobre a
evolução da política econômica brasileira nos anos 1930. Como destaca Marcelo
de Paiva Abreu24, a despeito do discurso oficial industrializante, o contexto de
dependência da economia cafeeira nos primeiros anos de governo ainda levava
Vargas a adotar medidas claramente anti-industrialistas, tais como a
desvalorização de 110% da moeda nacional em relação ao dólar ocorrida em 1932.
Esse tipo de política minava as perspectivas do crescimento industrial
impulsionado pelo uso da capacidade industrial doméstica decorrente do relativo
isolamento produzido pela crise internacional no início dos anos 1930. Entre 1933
e 1936, sob a gestão de Osvaldo Aranha, o governo adotou uma política mais
heterodoxa de déficits planejados e controlados, possibilitando que o PIB
retornasse rapidamente ao patamar anterior a 1929. Porém, como destaca
novamente Abreu, esse intervencionismo se devia menos a opções político-
ideológicas do que a circunstâncias conjunturais, já que o controle centralizado do
câmbio, por exemplo, se espalhava rapidamente por todo o mundo inteiro. Os
resultados dessa fase, entretanto, eram apreciáveis, com um crescimento médio
de 8% ao ano no conjunto da economia, taxa que se ampliava para 13,4% no setor
industrial (chegando a 16,8% na indústria têxtil e 23,8% na química).
19 A falta de dólares para cobrir as necessidades de importação e de remessa de
lucros, entretanto, mantinha o país dependente de empréstimos norte-americanos
e britânicos, e, portanto, suscetível a pressões que resultavam oscilações na
condução da sua política econômica. A política baseada no uso de três taxas de
câmbio pelo Banco do Brasil (duas delas determinadas pelo governo, sendo 70%
para importações e 20% para remessa de lucros, enquanto 10% flutuava no livre
mercado) foi condenada pelos norte-americanos. A substituição de Aranha pelo
embaixador Souza Costa no comando da economia brasileira foi marcada pela
concessão de empréstimos anglo-americanos em troca da “liberalização” da
economia brasileira. Um acordo comercial foi estabelecido com os EUA em 1936,
mas novamente beneficiava os cafeicultores brasileiros enquanto favorecia a
importação de bens manufaturados norte-americanos.
20 Já a política dos “marcos de compensação” proposta pelo ministro da economia
alemão Hjalmar Schacht e adotada nas relações comerciais entre os dois países a
partir de 1934, permitia ao Brasil atender de forma mais equilibrada tanto aos
interesses dos setores agroexportadores quanto à indústria brasileira, já que os
marcos depositados na conta do Banco do Brasil no Reichsbank retinham maior
poder de compra do que divisas convertidas em dólar, e eram utilizados
preferencialmente para a aquisição de maquinário e insumos à produção
industrial. Entre 1934 e 1939, a participação alemã como destino das exportações
brasileiras cresceu de 12 a 20%, enquanto a norte-americana verificava um
crescimento menos expressivo (21,2 para 25,5%) e a britânica caía aceleradamente
(de 19,4 para 10,9%). O início da guerra, em 1939, trazia, entretanto, limitações
graves para a continuidade dessa política, a começar pelo fato de que os marcos
obtidos ficariam bloqueados na Alemanha até o final do conflito.25
21 Essa expansão das relações econômicas entre os dois países teve também
importantes consequências político-sociais, cujos desdobramentos se estenderam
ao período da guerra. As filiais de empresas alemãs e/ou teuto-brasileiras tiveram
papel de destaque na constituição de redes “germanófilas”, no fomento ao
movimento nazista e na construção da infraestrutura utilizada pela inteligência
alemã para espionagem comercial, política e militar no Brasil.26 Clubes alemães
em muitas das principais cidades brasileiras rivalizavam com os britânicos como
espaços de sociabilidade da elite local. Em 1936, por exemplo, o Deutscher Klub
de Pernambuco publicava uma brochura em cuja capa tremulavam as bandeiras
do Brasil e do Terceiro Reich, repleta de anúncios de empresas tais como a
Companhia de Tecidos Paulista, as Cervejarias Brahma e Antarctica, Pneus
Continental, Condor Linhas Aéreas, Herman Stoltz e Companhia, Companhia
Hamburguesa Sul-Americana, Siemens, Casa Slopper, Charutos Dannemann,
Móveis Gerdau, Companhia Internacional de Seguros, Agfa, etc. A publicação
abria com um artigo de Walter Gross, “líder de política racial” do Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães sobre Politische und geistige Revolution
(“Revolução política e intelectual”).27
22 A partir de 1937, porém, a situação econômica geral voltou a se deteriorar no
Brasil, inclusive em função da nova onda recessiva que atingiu os EUA no período.
A perda nos termos de troca no comércio externo de 1928 a 1940 tinha sido de
48%, e apenas o aumento no volume das exportações tinha impedido que a
situação fosse mais catastrófica. A resposta do governo Vargas diante da crise na
balança de pagamentos foi o retorno a uma política de câmbio centralizado a taxas
sobrevalorizadas e a suspensão do pagamento da dívida externa. Londres reagiu
fortemente, mas o mesmo não ocorreu com Washington, onde ganhava influência
a visão de Henry Morgenthau de que a sustentação da crescente hegemonia norte-
americana passaria pelo impulso ao desenvolvimento de economias regionais
como o Brasil e a China.28
23 A posse de Oswaldo Aranha no Ministério das Relações Exteriores em 1939,
após um período como embaixador brasileiro em Washington, marcou o início de
um novo momento nas relações Brasil-EUA. O governo retornou à política de três
taxas de câmbio adotada em 1935-7, sem sofrer pressões em função disso. Ao
contrário, um novo acordo foi fechado para o pagamento da dívida externa, e, em
1940, estabeleceu-se o “Inter-American Coffee Agreement”. Em 1942, os Acordos
de Washington estenderam as políticas de cotas fixas de aquisição de produtos
brasileiros pelos EUA a borracha, cacau, algodão, castanha-do-Pará, minério de
ferro, diamantes industriais, mica, quartzo, juta e mamona, dentre outros
produtos, muitos dos quais jamais haviam sido exportados anteriormente. Os
norte-americanos também disponibilizavam navios para assegurar o transporte
dos produtos, num contexto em que esses se encontravam escassos diante das
demandas e perdas geradas pelos conflitos navais. Ao mesmo tempo, a
dependência da importação de bens manufaturados norte-americanos,
aumentava. Mas a retração das importações de países europeus, afetados por
bloqueios comerciais ou adotavam restrições às exportações, abria uma janela
explorada pelas indústrias brasileiras.
24 Entretanto, a grande iniciativa estratégica do governo Vargas no contexto da
Segunda Guerra Mundial, como é sabido, foi o início da construção da Usina
Siderúrgica de Volta Redonda. Embora durante o período de neutralidade o Brasil
tenha discutido o projeto com os alemães, as dificuldades para a efetivação dessa
parceria eram desde o início esmagadoras, a começar pelo bloqueio britânico do
Atlântico, que impediria o transporte de máquinas e equipamentos. Explorando a
competição entre alemães e norte-americanos, Vargas esperava inicialmente que
os últimos de dispusessem a investir diretamente no empreendimento e assumir a
sua gestão. Somente após a frustração dessa perspectiva foi que o governo
brasileiro decidiu criar uma empresa estatal para essa finalidade, contando com
apoio financeiro e técnico norte-americano. O Brasil obteve ainda empréstimos
“Lend-lease” de 332 milhões de dólares para equipar as tropas que viriam a lutar
na Itália.29
25 Esse conjunto de acordos com os EUA contribuiu decisivamente para a
superação do impacto inicialmente desorganizador da guerra sobre a economia
brasileira, que se refletia na combinação entre inflação, recessão e escassez de
divisas que perdurou até 1942. A partir daí, o ajuste gerado pelo suprimento às
demandas de guerra contribuiu para o crescimento e para a retomada das
exportações. O país contava agora com reservas, mas enfrentava uma escassez no
mercado mundial de importações, invertendo a situação tradicional da economia
brasileira. Entre 1942 e 1945, o crescimento médio da economia ficou em 6,4% e o
da indústria em 9,9%, tendo a proporção entre gasto público e PIB se reduzido em
8%. A arrecadação com impostos domésticos sobre consumo e renda aumentou de
forma expressiva, e o poder de captação do Estado foi fortalecido também com a
emissão de Bônus de Guerra. O racionamento possibilitou lidar com o excesso de
demanda e a inflação diminui a margem de lucro dos exportadores, diminuído seu
poder frente aos setores vinculados ao mercado doméstico.
26 A acumulação de reservas estrangeiras possibilitou uma negociação definitiva
da dívida externa em 1943, acarretando uma redução em 50% do seu valor
nominal e detendo uma bola de neve gerada desde a Primeira República (entre
1889 e 1930 apenas em oito anos o serviço da dívida tinha sido pago
integralmente). O governo adotou legislação estabelecendo o controle estatal
sobre águas, minérios, indústrias estratégicas, bancos e setor de seguros.
Empresas e propriedades pertencentes aos governos do Eixo foram encampadas
pelo estado, incluindo poderosos bancos alemães e italianos. A Companhia Vale
do Rio Doce foi estabelecida como uma grande ora estatal, pondo fim a décadas de
conflito do governo do estado de Minas Gerais com os investidores norte-
americanos e britânicos liderados por Percival Farquhar que haviam criado a
Itabira Iron Company. Como parte dos acordos, os EUA financiaram a
construção da ferrovia ligando Itabira ao porto de Vitória, no Espírito Santo.
Outras indústrias estatais consideradas estratégicas que foram criadas no período
incluem a Companhia Nacional de Álcalis e a Fábrica Nacional de Motores.30 Ao
mesmo tempo, o investimento norte-americano passou de 25% para 50% do total
de investimento externo no país.
27 A capacidade de gestão econômica do Estado brasileiro fortaleceu-se
enormemente durante a guerra, com a criação do Departamento de
Administração Pública, que dentre outras coisas modernizou o sistema
orçamentário, do Conselho Técnico Econômico e Financeiro, da Coordenação de
Mobilização Econômica. No plano da política social, esse foi também o período da
criação dos Institutos de Previdência Social e da consolidação da Justiça do
Trabalho.
28 Definido o cenário do conflito em favor dos aliados a partir de 1943, os norte-
americanos passaram a se mostrar menos generosos e flexíveis. Os custos de
produção no Brasil subiam, mas os EUA resistiam a reajustar os preços do café. O
racionamento de importações pelo Brasil em 1944 gerou novos ruídos na Aliança.
No cenário político, a relação de Vargas com os norte-americanos deteriorava-se
aceleradamente, e o embaixador Adolf Berle viria a desempenhar papel relevante
na queda do ditador. Encerrava-se assim uma experiência peculiar na qual, em
circunstâncias absolutamente singulares, uma aliança estratégica com os EUA
criara condições para o aprofundamento e a aceleração da implementação de um
projeto político nacionalista em um país latino-americano.31

Esforço de guerra, nacionalismo e


reconfiguração de classe
29 As transformações econômicas produzidas pela guerra se associaram a outras
características do esforço de guerra para criar condições favoráveis à produção de
importantes mudanças no que diz respeito ao lugar dos trabalhadores na
sociedade brasileira. A combinação do deslocamento massivo para novas frentes
de trabalho contribuía por si só para dar uma nova configuração à classe
trabalhadora. Milhares de trabalhadores foram deslocados para, em um curto
espaço de tempo, incorporar novas e vastas áreas do território nacional à
estrutura produtiva, seja no ramo extrativo (como a retomada da produção de
borracha na Amazônia32 ou o início da mineração de manganês na Serra do Navio
do Amapá33), no desenvolvimento de indústrias de base (tais como a construção
da usina siderúrgica de Volta Redonda34, da Fábrica Nacional de Motores, na
Baixada Fluminense35, da Nitro Química36, em São Miguel Paulista, ou da
Companhia Nacional de Álcalis, em Cabo Frio37) ou ainda em empreendimentos
de infraestrutura, tais como os campos de aviação construídos no bojo do Airport
Development Program, sob a coordenação da Pan American Airways38.
30 O intenso processo de ampliação da participação política sob o manto do
nacionalismo, iniciado nos motins antigermânicos e na mobilização pela entrada
do Brasil na guerra39, desembocando posteriormente na campanha “queremista”
(de “Queremos Constituinte com Getúlio!”), consolidou a presença coletiva dos
trabalhadores como um sujeito coletivo com um peso inédito no jogo político
nacional.40
31 Consideramos, portanto, que ao invés de se tratar de um mero coroamento de
um projeto político estabelecido desde 1930, o que Angela de Castro Gomes
denominou “a invenção do trabalhismo”41, ou seja, a elaboração de um novo
projeto político a partir do próprio seio do estado varguista com vistas a uma
incorporação muito mais ativa dos trabalhadores à cidadania, foi, em grande
medida, uma consequência inevitável do envolvimento do Brasil na Segunda
Guerra Mundial.
32 O projeto visando impulsionar a industrialização e fortalecer o papel do governo
central na regulação das relações de trabalho no Brasil, que constituía um aspecto
central da identidade dos “revolucionários de 1930”, avançou de forma lenta,
fragmentada, tortuosa, e com resultados pálidos durante os dez primeiros anos de
permanência de Getúlio Vargas no poder.
33 Os motivos para isso são muitos. No plano econômico, como vimos acima, a
dependência do setor agroexportador, especialmente do café, até mesmo para a
obtenção das divisas necessárias à importação de maquinário e insumos, somada
à instabilidade do cenário mundial, levou a oscilações nas políticas adotadas. No
âmbito político, a visão profundamente elitista e conservadora predominante no
establishment varguista resultou na inexistência de qualquer empenho na criação
de organizações de massas visando dar sustentação ao regime e efetividade às
medidas de proteção aos direitos dos trabalhadores. O modus operandi do Estado
varguista, ao contrário, baseava-se fundamentalmente, até cerca de 1940, na
capacidade do presidente da República em explorar os conflitos existentes entre
diferentes segmentos das elites civis e militares, reservando-se o papel de árbitro.
34 Essa falta de um movimento de massas organizado em apoio ao regime
derivava, em grande medida, da visão profundamente negativa disseminada no
seio dessas elites em relação ao povo brasileiro. Imperavam, entre os poderosos
da primeira Era Vargas, concepções vinculadas ao eugenismo e à ideologia do
racismo científico, que redundavam da crença de que o branqueamento da
população era condição necessária ao progresso do país. Dessa visão,
comungavam tanto as elites tradicionais, em alguma medida deslocadas do centro
do poder político após 1930, mas ainda detendo grande influência, quanto as
novas elites forjadas especialmente a partir da ascensão dos ex-tenentes em suas
carreiras políticas e/ou militares.
35 Desde a Primeira República o discurso nacionalista de valorização do
“trabalhador nacional” ressurgia periodicamente, seja em reação à militância
radical de estrangeiros, em função da própria redução da disponibilidade de novo
contingentes de imigrantes ou mesmo da Primeira Guerra Mundial. Entretanto,
em 1940 a maior parte da classe trabalhadora nacional realmente existente,
portadora das marcas biológicas indicadoras de ancestralidade africana ou nativa
permanecia sendo sistematicamente preterida por mecanismos de reprodução de
desigualdades culturalmente naturalizados.
36 Essa atitude ambivalente em relação ao “trabalhador nacional”, somada à
ausência de centrais sindicais ou partidos de base popular, deixava pouco espaço
para a emergência de um nacionalismo de massas no país. Ao longo dos anos
1930, as iniciativas nesse sentido ficaram muito mais nas mãos de forças
oposicionistas representando os dois extremos do espectro ideológico (comunistas
e integralistas), e em ambos os casos as ameaças foram enfrentados de forma
repressiva (não por meio da organização de uma base popular rival) pelo regime.
Na ausência de uma articulação mais ampla entre a cúpula varguista e qualquer
forma mais dinâmica de mobilização popular, tornava-se difícil quebrar a
resistência patronal à generalização da aplicação efetiva da legislação trabalhista.
Vale lembrar que o empresariado nacional, com raras e honrosas exceções,
sempre se opôs ferozmente à extensão do domínio da lei ao espaço da produção.
Os líderes industriais brasileiros, expressando uma mentalidade forjada pelo
legado escravista e realimentada por concepções de naturalização das
desigualdades sociais, sempre foram taxativos em manifestar que viam a
imposição de qualquer limite ao exercício de um poder arbitrário no processo
produtivo como uma ameaça à sua própria condição de proprietários.
37 Foi o envolvimento do Brasil na Segunda Guerra Mundial que possibilitou a
ruptura com as forças inerciais que, até então, tinham restringido severamente a
efetivação das transformações no sistema de regulação das relações de trabalho
anunciadas, por exemplo, na criação do Ministério do Trabalho Indústria e
Comércio (“Ministério da Revolução”) em 1931. Ao mesmo tempo, o Estado
apelava para a mobilização nacionalista numa escala sem precedentes e, pela
primeira vez, implementava estratégias culturais voltadas à atribuição de valores
positivos ao “trabalhador nacional”.
38 Argumentamos, entretanto, que essa transformação não se dá apenas numa
operação discursiva do Estado, do empresariado42 ou de correntes políticas, mas
também na experiência das mudanças produzidas no tecido social e na estrutura
de status sociocultural em decorrência da evolução da guerra e do envolvimento
do Brasil no conflito. Um dos aspectos para os quais gostaríamos de chamar a
atenção é que, quando analisamos a valorização do “trabalhador nacional”,
precisamos levar em conta que a combinação de fatores que definia o contexto
doméstico e internacional do período transformava não apenas o significado de
ser “trabalhador”, mas também o significado de ser “nacional”.
39 Não é que a Guerra tenha trazido novidades absolutas, já que as ideias que
fundamentavam todas essas transformações, no plano econômico, político e
social, já se encontravam em circulação no país muito antes. Mas foram as
circunstâncias excepcionais geradas pelo conflito global que estabeleceram as
condições para a ruptura parcial das “forças da tradição”43 que tornavam até
então pouco efetivos os projetos de mudança já pautados ao menos desde o início
dos anos 1930. Essas mudanças incluíam o estabelecimento de limites ao arbítrio
absoluto dos empresários nos locais de trabalho via legislação trabalhista e a
incorporação do operariado nacional à “cidadania regulada”. Mas passavam
simultaneamente pela substituição do “branqueamento” pela “democracia racial”
como referência ideológica hegemônica para as diversas formas de ação estatal
que visavam constituir, física e simbolicamente, um “povo brasileiro” que
valorizasse a nação no cenário internacional, justificando assim sua soberania.
40 A redefinição do caráter do Estado brasileiro e de sua relação com o
“trabalhador nacional” é vista aqui, portanto, como parte do processo de
emergência de projetos de desenvolvimento nacional de base industrializante na
periferia do sistema capitalista impulsionado pelo fato que a Guerra desembocou
na consolidação de uma nova potência hegemônica no capitalismo mundial e na
emergência de um novo sistema internacional44. Ou seja, trata-se de um contexto
em que o Estado transforma-se “por cima” (na sua inserção num sistema
interestatal em transformação) e “por baixo” (com a incorporação de vastos
segmentos a novas formas de cidadania).
41 A produção da história social do trabalho brasileira nas últimas décadas tem
demonstrado o imbricamento entre a construção dos sistemas de dominação
fabril e a engenharia institucional de regulação estatal dos conflitos de classe.
Demonstra também o processo de reapropriação de ambas por coletivos de
trabalhadores dotados de histórias e identidades particulares em diferentes
contextos locais e setoriais. O que buscamos esboçar aqui é um adensamento
adicional desta narrativa com elementos marcantes da conjuntura da Guerra,
capazes de integrar novas dimensões ao contexto de emergência do nacionalismo
de massas.
42 Em síntese, buscamos explorar a hipótese de que os trabalhadores convocados
ao exercício da “cidadania regulada”, o público que o trabalhismo visava
“produzir”, e que seria identificado a partir daí como “a classe trabalhadora
brasileira”45, vinha na verdade se forjando num processo de transformações
socioculturais de múltiplas dimensões, catalisadas e aceleradas pela Guerra. Os
conflitos vividos e os valores forjados nesse processo, muitas vezes inicialmente
sob a ótica do particularismo étnico ou da perspectiva da comunidade local,
seriam a partir daí ressignificados em associação com a emergente “crença
simbólica nos direitos”. Nesse sentido, a guerra, mais do que um pano de fundo
inerte, foi um contexto vivo e dinâmico em que se operaram profundas
transformações nas condições de articulação da consciência de classe dos
trabalhadores, por mais distante que os campos de batalha estivessem da
realidade brasileira.
43 Acreditamos que os argumentos e exemplos reunidos aqui demonstram, ainda
que de forma preliminar, o quanto o aprofundamento da análise das
singularidades da conjuntura da Segunda Guerra Mundial tem a contribuir para
os debates sobre o caráter do “trabalhismo” brasileiro e sobre as razões da
persistência do legado institucional da Era Vargas no campo da regulação das
relações de trabalho no Brasil.
Notes
1 Simão, Azis. Sindicato e Estado, Suas relações na formação do proletariado de São
Paulo, São Paulo, Dominus, 1966; Rodrigues, José Albertino, Sindicato e desenvolvimento
no Brasil, São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1968.
2 Munakata, Kazumi, "O lugar do movimento operário”, Anais do IV Encontro Regional de
História de São Paulo, Araraquara, Anpuh/Unesp, 1980.
3 Moraes Filho, Evaristo de, O problema do sindicato único no Brasil. Seus fundamentos
sociológicos, 2ª ed., São Paulo, Alfa-Ômega, 1978).
4 Mendonça, Joseli Maria Nunes, Evaristo de Moraes. Tribuno da República, Campinas,
Editora Unicamp, 2007.
5 Silva, Fernando Teixeira da, "The Brazilian and Italian Labor Courts: Comparative
Notes," International Review of Social History, 55, 2010, p. 381-412.
6 Hall, Michael, "Corporativismo e Fascismo," in Ângela Araújo (org.), Do corporativismo
ao neoliberalismo. Estado e trabalhadores no Brasil e na Inglaterra, São Paulo,
Boitempo, 2002, p. 13-28.
7 Fortes, Alexandre, "Revendo a Legalização Dos Sindicatos: Metalúrgicos De Porto Alegre
(1931-1945)," in Alexandre Fortes (org.), Na luta por direitos.Estudos recentes em história
social do trabalho, Campinas, Editora da Unicamp, 1999, p. 19-49; French, John D.,
Drowning in laws. Labor law and Brazilian political culture, Chapel Hill, University of
North Carolina Press, 2004.
8 Ianni, Octávio, O colapso do populismo no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
1968.
9 Lopes, Juarez Rubens Brandão, "O ajustamento do trabalhador à indústria: Mobilidade
social e motivação," in Juarez Rubens Brandão Lopes, Sociedade Industrial No Brasil, São
Paulo, Difusão Européia do Livro, 1964; Rodrigues, Leôncio Martins, Industrialização e
atitudes operárias (estudo de um grupo de trabalhadores), São Paulo, Brasiliense, 1970.
10 Weffort, Francisco, O populismo na política brasileira, Rio de Janeiro, Paz e Terra,
1978.
11 Weffort, Francisco, "Origens Do Sindicalismo Populista No Brasil (a Conjuntura Do
Após-Guerra)," Estudos Cebrap 04, 1973; Spindel, Arnaldo, O Partido Comunista na
gênese do populismo. Análise da conjuntura da redemocratização no após guerra, São
Paulo, Símbolo, 1980; Vianna, Luiz Werneck, Liberalismo e sindicato no Brasil, Rio de
Janeiro, Paz e Terra, 1976.
12 Thompson, E. P., The making of the English working class, New York, Pantheon Books,
1964.
13 Lopes, José Sérgio Leite, A tecelagem dos conflitos de classe na "cidade das chaminés",
São Paulo/Brasília, Marco Zero/Editora Universidade de Brasília/MCT-CNPq, 1988;
Ramalho, José Ricardo Garcia Pereira, Estado-patrão e luta operária: O caso FNM, São
Paulo, Paz e Terra, 1989; Costa, Hélio da, Em busca da memória, São Paulo, Scritta, 1995;
Silva, Fernando Teixeira da, A carga e a culpa: Os operários das docas de santos. Direitos
e cultura de solidariedade, 1937-1968, São Paulo/Santos, HUCITEC/Prefeitura Municipal
de Santos, 1995); Fontes, Paulo Roberto Ribeiro, Trabalhadores e cidadãos. Nitro
Química: A fábrica e as lutas operárias nos anos 50, São Paulo, Annablume/Sindicato
Químicos e Plásticos-SP, 1997; Silva, Fernando Teixeira da, Operários sem patrões. Os
trabalhadores da cidade de Santos no entreguerras, Campinas, Editora Unicamp, 2003;
Negro, Antonio Luigi, Linhas de montagem: O industrialismo nacional-
desenvolvimentista e a sindicalização dos trabalhadores, 1945-1978, São Paulo,
FAPESP/Boitempo, 2004; Fontes, Paulo Roberto Ribeiro, Um Nordeste em São Paulo.
Trabalhadores migrantes em São Miguel Paulista (1945-66), Rio de Janeiro, FGV Editora,
2008.
14 French John, O ABC dos operários. Conflitos e alianças de classe em São Paulo, 1900-
1950, São Paulo/São Caetano do Sul, Hucitec/Prefeitura de São Caetano do Sul, 1995.
15 Sobre o conceito de patriotismo de fábrica, cf: Smith, Steve, "Craft Consciousness, Class
Consciousness: Petrograd 1917," History Workshop Journal 11, 1981, p. 33-58.
16 Gomes, Angela Maria de Castro, A invenção do trabalhismo, Rio de Janeiro/São Paulo,
Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro/Vértice, 1988.
17 French, O ABC dos operários.
18 Paoli, Maria Célia, "O trabalhador urbano na fala dos outros," in José Sérgio Leite Lopes
(org.), Cultura e identidade operária, Rio de Janeiro, UFRJ-Museu Nacional/Marco Zero,
1987, p. 53-101.
19 Santos, Wanderley Guilherme dos, Cidadania e Justiça: A política social na ordem
brasileira, Rio de Janeiro, Campus, 1979.
20 Cerca de doze mil sofreram ferimentos de Guerra, acidentes ou enfermidades que
viriam a causar posteriormente a morte de outros dois mil.
21 McCann, Frank, "Brazil and World War Ii: The Forgotten Ally. What Did You Do in the
War, ‘Zé Carioca?’," Estudios interdisciplinarios de America Latina y el Caribe, vol. 6, n. 2,
disponível em: http://www.tau.ac.il/eial/VI_2/mccann.htm, consultado em 25 de
novembro de 2013.
22 Ibid.
23 Walter J. Linthicum (American Consul) to Jefferson Caffery (American Ambassador). 11
de fevereiro de 1941. National Archives and Records Administration (NARA), Record
Group 84 – Post Files. Entry 2154, Political Reports, compiled 1938 - 1949 (Recife), Box 1.
24 Abreu, Marcelo de Paiva, "The Brazilian Economy, 1930-1980," in Leslie Bethell (org.)
Cambridge History of Latin America, Vol. 9, Brazil since 1930, Cambridge, Cambridge
University Press, 2008, p. 283-393.
25 Ibid., p. 302.
26 Hilton, Stanley, Suástica sobre o Brasil : a história da espionagem alemã no Brasil,
1939-1944, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1977.
27 “Deustcher Klub, Pernambuco”, Brochura n. 72, 1976. National Archives and Records
Administration (NARA), Record Group 226 - Office of Strategic Services [OSS], Entry
UD153B, Box 4.
28 Abreu, "The Brazilian Economy, 1930-1980", p. 306.
29 Ibid. p. 313
30 Ramalho, Estado-patrão e luta operária.
31 As implicações das relações culturais Brasil-Estados Unidos conduzidas pelo Office of
Inter-american Affairs de Nelson Rockefeller no período para as transformações
relacionadas ao mundo do trabalho brasileiro no período são um tema fascinante que não
teremos condições de explorar aqui. Apenas a título de exemplo, vale destacar a ênfase
dada à importância do Brasil como aliado em função dos seus recursos naturais, da sua
força de trabalho e mesmo de sua incipiente industrialização no filme de propaganda de
guerra Brazil at war, encomendado pelo Office of Strategic Services a John Ford em 1943.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=wg7lohLxUqo, consultado em 25 de
novembro de 2011. Ver também: Benamou, Catherine, It's all true. Orson Welles's Pan-
american odyssey, Berkeley, University of California Press, 2007; Tota, Antonio Pedro, O
imperialismo sedutor: A americanização do brasil na época da Segunda Guerra, São Paulo,
Companhia das Letras, 2000.
32 Secreto, María Verónica, Soldados da borracha: Trabalhadores entre o Sertão e a
Amazônia no governo Vargas, São Paulo, Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.
33 Paz, Adalberto Júnior Ferreira, "Os mineiros da floresta: Sociedade e trabalho em uma
fronteira de mineração industrial amazônica (1943-1964)", dissertação de mestrado em
História, Universidade Estadual de Campinas, 2011.
34 Dinius, Oliver, Brazil's steel city: Developmentalism, strategic power, and industrial
relations in Volta Redonda (1941-1964), Stanford, Stanford University Press, 2010.
35 Ramalho, Estado-Patrão e luta operária.
36 Fontes, Trabalhadores e cidadãos.
37 Ianni, Estado e planejamento econômico no Brasil.
38 Cfe, por exemplo, a tese de doutorado em desenvolvimento por Rebecca Ann Herman
(University of California –Berkeley).
39 Falcão, João, O Brasil e a Segunda Guerra Mundial. Testemunho e depoimento de um
soldado convocado, Brasília, Editora UnB, 1998.
40 French, O ABC dos operários.
41 Gomes, A invenção do trabalhismo.
42 Weinstein, Barbara, (Re)Formação Da Classe Trabalhadora No Brasil (1920 - 1964),
São Paulo, Cortez, 2000.
43 Fazemos aqui uma aplicação, em um contexto muito distinto, das hipóteses de Arno
Mayer sobre a distância existente entre a proclamação de novos princípios e projetos
políticos e sua capacidade de superar o poder das classes e grupos vinculados à ordem
anteriormente hegemônica. Cfe: Mayer, Arno, The persistence of the Old Regime: Europe
to the Great War, New York, Pantheon Books, 1981.
44 Arrighi, Giovanni, The long Twentieth Century. Money, power, and the origins of our
times, London, New York Verso, 1994; Wallerstein, Immanuel, World-Systems analysis:
An introduction, Durham, Duke University Press, 2004.
45 Gomes, A invenção do trabalhismo, p. 24, 30, 325.

Pour citer cet article


Référence électronique
Alexandre Fortes, « Os impactos da Segunda Guerra Mundial e a regulação das relações
de trabalho no Brasil », Nuevo Mundo Mundos Nuevos [En ligne], Débats, mis en ligne le
27 janvier 2014, consulté le 14 juin 2018. URL :
http://journals.openedition.org/nuevomundo/66177 ; DOI : 10.4000/nuevomundo.66177

Auteur
Alexandre Fortes
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiroalexfortes@globo.com

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