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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

CAMPUS EXPERIMENTAL DO LITORAL PAULISTA

BENEFÍCIOS NO REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS


INDUSTRAIS: ESTUDO DE CASO APLICADO A
UNIDADE DA VALE FERTILIZANTES S.A. DE CAJATI-SP

Henrique Miguel Martinho

São Vicente – SP
2011
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CAMPUS EXPERIMENTAL DO LITORAL PAULISTA

Benefícios no reaproveitamento de resíduos


industrais: estudo de caso aplicado a
Unidade da Vale Fertilizantes S.A. de Cajati-SP

Henrique Miguel Martinho

Orientadora: Msc. Marisa Roitman

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao Campus Experimental do
Litoral Paulista - UNESP, como parte dos
requisitos para a obtenção do título de
Especialista em Gestão Ambiental.

São Vicente – SP
2011
Martinho, Henrique Miguel

Benefícios no reaproveitamento de resíduos industriais: estudo de


caso aplicado a unidade de Vale Fertilizantes S.A. de Cajati/SP, São
Vicente, SP / Henrique Miguel Martinho. São Vicente, 2011.
39 p.

Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gestão


Ambiental) – Universidade Estadual Paulista, Campus Experimental do
Litoral Paulista.
Orientadora: Marisa Roitman

1. Resíduos industriais 2. Gestão ambiental

CDD 628.5

Palavras-chaves: benefícios, reutilização, resíduos sólidos


"Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há
também aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol."
(Pablo Picasso)

“O único lugar aonde o sucesso vem antes do trabalho é no dicionário.”


(Albert Einsten)
A minha amada família:
Valter, Sonia, Clarissa, Chulipa e Madalena
AGRADECIMENTOS

Agradeço a meus pais, Valter e Sonia, minha irmã, Clarissa, e demais


familiares e amigos que de alguma forma contribuíram para mais esta
conquista em minha vida.

Agradeço aos meus colegas de trabalho na empresa Vale Fertilizantes,


unidade de Cajati, pela compreensão nos momentos em que tive de me
ausentar das atividades profissionais para comparecer as aulas e eventos
realizados no curso.

Aos colegas do curso de pós-graduação, pelos momentos vividos e


experiências trocadas ao longo do curso.

Agradeço em especial minha orientadora, Marisa Roitman, uma antiga amiga


da CETESB que mais uma vez pode contribuir em minha formação profissional,
auxiliando na elaboração deste trabalho.
I

RESUMO

A geração de resíduos sólidos está intimamente relacionada com atividades e


processos industriais. Seguindo os princípios da Política Nacional de Resíduos
Sólidos em vigor desde agosto de 2010, a seqüência de ações a serem
observadas na gestão dos resíduos deve ser: não geração, redução,
reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final adequada. O presente
trabalho apresenta os benefícios provenientes de uma gestão industrial
baseada na reutilização dos resíduos gerados, utilizando-se como estudo de
caso a realidade da unidade da Vale Fertilizantes S.A. de Cajati-SP. Foram
coletados e compilados dados dos anos de 2005 a 2010 para a geração e
reutilização dos principais resíduos gerados na unidade, a considerar: estéril,
magnetita, calcário (calcítico e dolomítico), lama calcária, fosfogesso e borra de
enxofre. Concluiu-se que, dentre os resíduos analisados, a soma das
quantidades reutilizadas de calcário calcítico, magnetita, fosfogesso e borra de
enxofre para o ano de 2010 foi cerca de 88% do total destes resíduos gerados.
Estes números evidenciam o sucesso dos projetos que a unidade implantou
como foco na reutilização dos resíduos nos processos industriais e sua
comercialização com o mercado nacional. Como oportunidade de melhoria na
reutilização destes materiais, a empresa mantém estudos em busca de
tecnologias que possibilitem o aumento da reutilização de estéril, calcário
dolomítico e lama calcária, resíduos que atualmente possuem baixo percentual
de reutilização. Como principais benefícios ambientais, sociais e econômicos
gerados, citam-se a diminuição do volume de resíduos a serem dispostos, a
redução das áreas necessárias para deposição de resíduos, a preservação dos
recursos naturais, a diminuição da poluição ambiental, a economia de energia,
a geração de renda para a empresa e a geração direta e indireta de empregos.

Palavras chave: Benefícios, política, reutilização, resíduos sólidos.


II

ABSTRACT

The solid waste generation is closely related to activities and industrial


processes. Following the principles of National Policy on Solid Waste in force
since August 2010, the sequence of actions to be observed in waste
management should be: no generation, reduction, reuse, recycling, treatment
and final disposal. This paper presents the benefits of an industrial
management based on reuse of waste generated, using as case study the
reality of the plant of Vale Fertilizantes S.A. from Cajati-SP. We collected and
compiled data for the years 2005 to 2010 for the generation and reuse of
wastes generated in the main plant, to consider: barren, magnetite, limestone
(calcite and dolomite), mud limestone, gypsum and sulfur sludge. It was
concluded that among the residues tested, the sum of the quantities of reused
limestone, magnetite, gypsum and sulfur sludge for the year 2010 was
approximately 88% of the total waste generated. These numbers demonstrate
the success of the projects that the unit deployed to focus on the reuse of waste
in industrial processes and their commerce/sellings on the domestic market. As
for improvement in the recycling of these materials, the company has studies for
the search of technologies that enable increased reuse of waste, lime mud and
limestone, waste that currently have low percentage of reuse. As the main
environmental, social and financial savings, we can mention the decline in the
volume of waste to be disposes of, reducing the areas required for waste
disposal, preservation of natural resources, reducing environmental pollution,
energy saving, income generation for the company and generate direct and
indirect jobs.

Keywords: Benefits, politics, reuse, solid waste.


SUMÁRIO

RESUMO............................................................................................................. I
ABSTRACT ........................................................................................................ II

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 1
1.1 A questão dos resíduos sólidos.................................................................. 3
1.2 NBR 10.004/2004 – Classificação dos resíduos ........................................ 6
1.2.1 Resíduos industriais.............................................................................. 6
1.2.2 Resíduos urbanos................................................................................. 7
1.2.3 Resíduos de serviços de saúde ............................................................ 7
1.2.4 Resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e ferroviários ... 8
1.2.5 Resíduos agrícolas ............................................................................... 8
1.2.6 Resíduos radioativos ............................................................................ 8
1.2.7 Entulhos ................................................................................................ 9
1.3 Política nacional de resíduos sólidos – Lei 12.305/2010............................ 9
1.4 Complexo mineroquímico de Cajati e seus resíduos sólidos ................... 11

2. MATERIAIS E MÉTODOS........................................................................ 12

3. RESULTADOS ......................................................................................... 13
3.1 Complexo mineroquímico de Cajati e suas atividades ............................. 13
3.1.1 Complexo mineral ............................................................................... 16
3.1.1.1 Lavra e britagem..................................................................................... 16
3.1.1.2 Usina de beneficiamento....................................................................... 18
3.1.2 Complexo químico .............................................................................. 21
3.1.2.1 Fábrica de ácido sulfúrico ..................................................................... 21
3.1.2.2 Fábrica de ácido fosfórico ..................................................................... 24
3.1.2.3 Fábrica de fosfato bicálcico .................................................................. 26
3.2 Comercialização dos resíduos gerados ................................................... 27
3.2.1 Estéril.................................................................................................. 27
3.2.2 Calcário............................................................................................... 28
3.2.3 Magnetita ............................................................................................ 31
3.2.4 Lama Calcária..................................................................................... 32
3.2.5 Fosfogesso ......................................................................................... 33
3.2.6 Borra de enxofre ................................................................................. 35

4. DISCUSSÕES FINAIS ............................................................................. 37


4.1 Situação atual sobre a reutilização dos resíduos ..................................... 37
4.2 Oportunidades de melhoria ...................................................................... 38
4.3 Principais benefícios proporcionados....................................................... 38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 39


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Destinação de resíduos sólidos no Brasil (2000 e 2008) ................... 5


Figura 2 - Foto aérea Complexo Mineroquímico de Cajati ............................... 13
Figura 3 - Operações e geração de resíduos industriais – Cajati/SP ............... 15
Figura 4 - Pilha de estéril em estado de recuperação ...................................... 17
Figura 5 - Pilha de estéril atualmente em operação ......................................... 17
Figura 6 - Operação de transformação do estéril em brita ............................... 18
Figura 7 - Pilha de calcário calcítico destinado ao consumo interno ................ 20
Figura 8 - Fluxograma do processo de fabricação de ácido sulfúrico por dupla
absorção.......................................................................................... 22
Figura 9 - Galpão de recebimento de borra de enxofre.................................... 24
Figura 10 - Fluxograma de fabricação de ácido fosfórico por via úmida .......... 25
Figura 11 - Visão das pilhas de fosfogesso...................................................... 26
Figura 12 - Calcário calcítico – geração x vendas............................................ 30
Figura 13 - Percentual na comercialização de calcário calcítico ...................... 30
Figura 14 - Magnetita – geração x vendas ....................................................... 31
Figura 15 - Percentual na comercialização de magnetita................................. 32
Figura 16 - Fosfogesso – geração x vendas .................................................... 34
Figura 17 - Percentual na comercialização de fosfogesso ............................... 34
Figura 18 - Borra de enxofre – geração x vendas ............................................ 35
Figura 19 - Percentual na comercialização de borra de enxofre ...................... 36
Figura 20 - Percentual de reutilização anual para calcário calcítico, magnetita,
borra de enxofre e fosfogesso somados........................................ 37
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Coeficientes per capita de geração de resíduos sólidos domiciliares


em função da população urbana municipal ........................................... 6

Tabela 2 - Resíduos estudados................................................................................. 12


1

1. INTRODUÇÃO

A gestão ambiental deve ser compreendida como a administração do exercício


de atividades econômicas e sociais que proporcionem a utilização de forma
racional dos recursos naturais, renováveis ou não, bem como a destinação
correta dos resíduos sólidos gerados. Através dela visa-se o uso de práticas
que garantam a conservação e preservação da biodiversidade, o
reaproveitamento dos materiais e a redução do impacto ambiental das
atividades humanas sobre os recursos naturais (PHILIPPI JR, 2004).

A sua prática introduz esta variável no planejamento empresarial e, quando


bem aplicada, permite a redução de custos diretos, pela diminuição dos
desperdícios, e indiretos, representados por sanções e indenizações
relacionadas a danos ao meio ambiente ou à saúde de funcionários e da
população de comunidades circunvizinhas (PHILLIPI JR, 2004).

Com o avanço desenfreado do consumismo aliado à necessidade de produção


em grande escala, o homem viu a sociedade chegar a uma situação
preocupante: a carência de locais adequados para disposição de resíduos
domésticos e industriais, gerando uma necessidade na busca de tecnologias
que proporcionem redução nos impactos causados por estes materiais.
Atualmente, ao invés da simples disposição desses resíduos, o homem busca
alternativas que promovam tratar, reaproveitar, minimizar ou até mesmo
eliminar a geração destes materiais (BAIRD, 2002).

Uma das definições do termo reciclagem remete a trazer de volta ao ciclo


produtivo matérias-primas, substâncias e produtos extraídos dos resíduos. O
reaproveitamento dos resíduos, por sua vez, pode ter três enfoques distintos:
reciclagem, recuperação e reutilização (FARIAS, 2002):
2

- Reciclagem: aproveitamento cíclico de matérias-primas de fácil


purificação como, por exemplo, papel, vidro e alumínio.
- Recuperação: no caso da extração de algumas substâncias
contidas nos resíduos para utilização, por exemplo óxidos e
metais.
- Reutilização: reaproveitamento direto, sob forma de um produto,
ou como matéria-prima para outra indústria.

Todas estas atividades citadas voltadas para o reaproveitamento dos resíduos


gerados tanto em atividades domésticas como em processos industriais
contribuem beneficamente para a questão ambiental (SPIRO, 2009).

Uma política adequada no gerenciamento dos resíduos sólidos tem sido um


dos maiores desafios da sociedade moderna por sua alta complexidade,
podendo ser caracterizada em vários níveis como:

- Psicológico: a palavra lixo dá a idéia de coisa sem valor, mas


sabe-se que um material pode deixar de ter valor para um
indivíduo ou empresa e possuir valor para outro(a).
- Econômico: a geração de resíduos implica em gastos
desnecessários de matéria-prima e energia.
- Ecológico: encontram-se nos resíduos as mais diversas moléculas
sintéticas produzidas pelo homem que afetam, geralmente, a
saúde pública e o meio ambiente em geral.
- Sócio-político: depende da sociedade e das autoridades juntarem
forças para solucionar o problema dos resíduos.

A atual exigência dos órgãos ambientais fiscalizadores no sentido de se fazer


cumprir a Lei Estadual nº 12.300 de 16 de março de 2006 e a Lei dos Crimes
Ambientais nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998, sensibiliza todos aqueles que
lidam com a problemática do gerenciamento dos resíduos sólidos e buscam de
alguma maneira o seu controle.
3

Para isso, qualquer que seja esta forma de gerenciamento, três fatores básicos
são considerados (PHILLIPI JR, 2004):

- Ser uma solução pautada em princípios ecológicos que


contemplem a minimização da geração de resíduos e a
maximização da reutilização como forma de diminuir a pressão
sobre o meio ambiente.
- Estar coerente com os objetivos sanitários e ambientais.
- Incentivar a participação dos envolvidos, pois sem eles muito
pouco pode ser alcançado.

Com a tomada destas ações, alguns benefícios estarão sendo obtidos, tais
como:

- Economia de energia.
- Economia de recursos naturais.
- Minimização dos riscos para a saúde pública.
- Aumento da vida útil dos aterros sanitários.
- Melhoria da imagem da empresa.
- Redução da formação de passivos ambientais e gastos com
multas.

1.1 A questão dos resíduos sólidos

Por definição, os resíduos sólidos (principalmente os gerados em plantas


industriais) são considerados grandes contribuidores na degradação ao meio
ambiente (CETESB, 2009). A disposição destes materiais tem sido, em grande
parte, realizada de maneira pouco conveniente e dispendiosa, visto a
despreocupação da administração pública e industrial em desviar recursos
científicos e econômicos para os tratamentos necessários (BAIRD, 2002).
4

A contaminação do solo proporcionada pelo mau gerenciamento dos resíduos


não é um fenômeno dos tempos modernos. No período romano, minas eram
utilizadas na extração de metais, que por sua vez eram refinados por fusão,
poluindo os territórios próximos com resíduos provenientes de mineração
(BAIRD, 2002). Em Atenas, na antiguidade, já existiam leis que proibiam deixar
lixo nas ruas, criava-se então o primeiro lixão “municipal”. Mas a não adesão da
população continuou deixando a cidade malcheirosa propiciando doenças. A
produção de materiais e produtos químicos na Europa, mesmo no começo da
revolução industrial, também proporcionou considerável poluição. Contudo, a
extensão da contaminação e os riscos dos materiais descartados têm se
expandido grandemente no século XX, particularmente a partir da segunda
Guerra Mundial e do início da Revolução Industrial (SPIRO, 2009).

Até pouco tempo, esta situação era aceita e justificada como um "mal
necessário da industrialização". Foi então que uma crescente insatisfação
pública a respeito da situação, aliada a uma série de incidentes ligados à
disposição inadequada de resíduos (Minamata-Japão, Niagara Falls-EUA,
Cubatão e Césio 137-Brasil), proporcionaram reações da sociedade e da
administração pública, iniciando o processo de desenvolvimento de legislações
que respaldassem a criação de estratégias e tecnologias adequadas para a
coleta, a disposição e o tratamento de resíduos sólidos.

Atualmente, somente nos Estados Unidos existem mais de 50 mil locais


contendo resíduos perigosos (BAIRD, 2009). No Brasil, levantamentos da
CETESB apontam que em novembro de 2009 o estado já totalizava 2.904
áreas contaminadas, proporcionadas por atividades industriais, comerciais,
postos de combustível, acidentes e deposição inadequada de resíduos
(CETESB, 2010).

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010) relativos


ao saneamento básico para os anos base 2000 e 2008 apontam um
crescimento dos volumes destinados para aterros sanitários e controlados (de
5

75% do total em 2000 para 80% em 2008) e uma leve diminuição dos volumes
destinados a vazadouros a céu abertos, os lixões, de 21,5% para 17,7%
(Figura 1). Entretanto, este volume destinado a lixões ainda é considerado
muito elevado, face a periculosidade e os riscos que este tipo de disposição
oferece, tanto ao meio ambiente, quanto a saúde pública.

70%

Ano base - 2000


60%
Ano base - 2008

50%
% de resíduos

40%

30%

20%

10%

0%
Aterro sanitário Vazadouro a céu Aterro controlado Compostagem Triagem Incineração
aberto (lixão)

Fonte: IBGE, 2010.

Figura 1 - Destinação de resíduos sólidos no Brasil (2000 e 2008)

A geração per capita de resíduos é bastante variável, dependendo de fatores


como condições do local estudado, época do ano e condições climáticas. A
tabela 1 apresenta as quantidades médias de resíduos geradas nos municípios
paulistas onde a CETESB realiza controle para estimativas.
6

Tabela 1 - Coeficientes per capita de geração de resíduos sólidos domiciliares em função da


população urbana municipal

POPULAÇÃO PRODUÇÃO DE LIXO


(hab) (kg/hab.dia)
Até 100.000 0,4
100.000 a 200.000 0,5
200.000 a 500.000 0,6
Maior que 500.000 0,7
Fonte: CETESB: Inventário estadual de resíduos sólidos domiciliares. São Paulo, 2009.

Em Cajati-SP, município onde se encontra a unidade da Vale Fertilizantes, na


qual o presente trabalho baseia-se, a geração de resíduos domiciliares gira em
torno de 8,3 ton/dia (CETESB, 2009). Em resumo, pode-se considerar a média
brasileira de produção de resíduos domiciliares na faixa de 0,4 a 0,5 kg/hab.dia
(PHILLIPI JR, 2004).

1.2 NBR 10.004/2004 – Classificação dos resíduos

Segundo a norma NBR 10.004/2004, a definição técnica para o termo resíduo


sólido nos remete a compostos no estado sólido e semi-sólido, resultantes de
atividades de origem: industriais, urbanos, de serviços de saúde, de portos, de
aeroportos, de terminais rodoviários e ferroviários, agrícolas, radioativos e
entulho.

1.2.1 Resíduos industriais

Gerados especificamente em indústrias. Podem variar entre 65 a 75% do total


de resíduos gerados em regiões mais industrializadas do país (PHILLIPI JR,
2004), sendo o manejo e a destinação final de responsabilidade do gerador.
7

Em função da periculosidade que alguns destes materiais oferecem, a norma


NBR 10.004/2004 os divide em três classes:

- Resíduos classe I – Perigosos


- Resíduos classe II-A – Não perigosos e não inertes
- Resíduos classe II-B – Não perigosos e inertes

1.2.2 Resíduos urbanos

Neste grupo, consideram-se os resíduos domiciliares, o resíduo comercial


(proveniente de escritórios, lojas, hotéis, supermercados e restaurantes), os
resíduos oriundos de serviços de limpeza pública urbana (varrição das vias
públicas, da limpeza de galerias, terrenos, córregos, praias, feiras e podas). A
responsabilidade pelo manejo e destinação final adequada para estes resíduos
é, salvo exceções pontuais, das prefeituras.

1.2.3 Resíduos de serviços de saúde

Os resíduos considerados provenientes dos serviços de saúde são


provenientes de hospitais, clínicas médicas e veterinárias, laboratórios de
análises clínicas, farmácias, centros de saúde, consultórios odontológicos,
entre outros. São segregados em grupos distintos:

- Resíduos comuns: restos de alimentos, papéis, invólucros.


- Resíduos sépticos: restos de material cirúrgico e de tratamento
médico. Seu manejo exige atenção por conta do potencial risco à
saúde pública.

Cabe ao gerador destes resíduos a responsabilidade pela coleta, manejo e


destinação final adequada.
8

1.2.4 Resíduos de portos, aeroportos, terminais rodoviários e


ferroviários

Constituem-se em resíduos sépticos com potencial de conter organismos


patogênicos como materiais de higiene e de asseio pessoal e restos de
comida. Possuem capacidade de veicular doenças entre cidades, estados e
países. A responsabilidade para o gerenciamento destes resíduos cabe ao
gerador.

1.2.5 Resíduos agrícolas

Correspondem aos resíduos das atividades de agricultura e pecuária.


Embalagens de adubos, de defensivos agrícolas e de ração, restos de colheita
e esterco de animal ilustram este tipo de resíduo. As embalagens de
agrotóxicos, pelo alto grau de toxicidade que apresentam, possuem legislação
específica para controle. Da mesma forma que os resíduos industriais, o
gerador é responsável pelo gerenciamento e a empresa que faz o tratamento
ou disposição é co-responsável.

1.2.6 Resíduos radioativos

São resíduos provenientes dos combustíveis nucleares e de alguns


equipamentos que usam elementos radioativos. A responsabilidade por essa
categoria de resíduos é da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEM).
9

1.2.7 Entulhos

Constituídos basicamente de resíduos de construção civil (demolições, restos


de obras, solos de escavações e materiais afins), a rigor, poderiam ser
considerados como resíduos urbanos. Porém, em razão de suas características
e volumes, normalmente são classificados separadamente.

Analogamente aos resíduos urbanos, as prefeituras são co-responsáveis por


pequenas quantidades.

1.3 Política nacional de resíduos sólidos – Lei 12.305/2010

Em agosto de 2010 entrou em vigor, após tramitar por mais de vinte anos no
Congresso Nacional, a Lei 12.305/2010, que instituí a Política Nacional de
Resíduos Sólidos – PNRS.

Antes da promulgação desta nova lei, a regulamentação sobre resíduos sólidos


no Brasil era pontual. Apenas alguns Estados e Municípios possuíam leis e
regulamentos próprios, que nem sempre abrangiam todos os tipos de resíduos.
Na esfera federal, apenas alguns resíduos, tais como pilhas e baterias, pneus,
agrotóxicos e suas embalagens, óleos lubrificantes e os resultantes da
construção civil eram regulamentados. Tal regulamentação, porém, não era
uniforme.

A partir da vigência de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos surge uma


regra geral federal uniformizadora. Trata-se da primeira ferramenta jurídica
nacional capaz de tratar de todos os tipos de resíduos, à exceção dos rejeitos
radioativos, que permanecem sendo regulamentados por normas específicas,
regulamentadas pelo Conselho Nacional de Energia Nuclear – CNEN.
10

A característica de uma Política Nacional é a reunião de princípios, objetivos,


instrumentos e diretrizes. As peculiaridades de cada Estado, Município ou tipo
de resíduo continuarão sendo respeitadas e a regulamentação até então
aplicada não perde sua eficácia, desde que as diretrizes gerais instituídas pela
norma federal sejam respeitadas.

Dentre os princípios e objetivos instituídos pela Lei 12.305/2010, destaca-se


para efeitos deste trabalho o reconhecimento do resíduo sólidos reutilizável e
reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e
renda e promotor de cidadania (art. 6º, inciso VIII). Além disso, a diretriz geral
da referida lei demonstra o alinhamento entre o tema aqui trabalhado e a nova
política nacional, pois seu artigo 9º determina que, na gestão e gerenciamento
de resíduos sólidos, deve ser observada a seguinte ordem de prioridade: não
geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.

Vale mencionar que, em suas definições a lei distingue o termo rejeito (o que
não é passível de reaproveitamento) de resíduo (material que pode ser
reaproveitado ou reciclado). Portanto, conforme a nova legislação, este
trabalho discute os benefícios de se tratar como resíduo aquilo que antes era
encarado como rejeito.

Deste modo, a recente Lei 12.305/2010 vem confirmar as vantagens do


gerenciamento ambientalmente adequado de resíduos sólidos. A partir de sua
vigência, aquilo que se defendia como benefício econômico e social voluntário,
passa a ser diretriz obrigatória da gestão ambiental.
11

1.4 Complexo mineroquímico de Cajati e seus resíduos sólidos

O complexo da Vale Fertilizantes em Cajati-SP apresenta uma estrutura de


processos verticalizada, com operações de mineração e indústrias químicas
operando em série umas as outras.

No setor mineral, as atividades de extração do minério e seu beneficiamento


proporcionam as maiores contribuições na geração de resíduos da unidade.
Estes resíduos, quase que em sua totalidade, são classificados como não
perigosos e considerados subprodutos para outros processos, uma vez serem
reutilizados pela própria Vale ou comercializados como matéria-prima para
outras empresas.

No setor químico, há a geração de resíduos sólidos classificados como


perigosos e não perigosos, sendo os de maior interesse a borra de enxofre,
resultante do processo de produção de ácido sulfúrico, e o fosfogesso, gerado
na produção do ácido fosfórico. Os demais resíduos, independentemente de
sua classificação, possuem tratamento final adequado conforme normas
específicas.

Desta forma, este trabalho estabelece e descreve a logística dos principais


resíduos gerados na unidade da Vale Fertilizantes em Cajati-SP e objetiva
apresentar os benefícios ambientais proporcionados por uma política bem
definida no reaproveitamento destes materiais. Consideram-se como os
principais resíduos da unidade aqueles que apresentam um maior volume de
geração: estéril, calcário, magnetita, lama calcária, fosfogesso e borra de
enxofre. Os demais resíduos sólidos gerados na unidade têm seu
gerenciamento descritos no plano de gerenciamento de resíduos sólidos,
implantado pela Vale Fertilizantes em Cajati, não sendo escopo deste trabalho.
12

2. MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho apresenta os benefícios ambientais existente na realização


de uma política de reaproveitamento dos resíduos gerados nos processos
industriais realizados na unidade da Vale Fertilizantes em Cajati-SP.

Neste estudo de caso realizou-se um levantamento dos dados relacionados à


geração e reaproveitamento dos resíduos gerados na unidade. Para o estudo
foram considerados os dados de geração e reaproveitamento (consumo interno
e comercialização) dos seguintes resíduos:

Tabela 2 - Resíduos estudados

GERAÇÃO MÉDIA
RESÍDUO UNIDADE GERADORA
ANUAL (ton)
Estéril Lavra 10.100.000
Magnetita Usina de beneficiamento 360.000
Calcário Usina de beneficiamento 3.500.000
Lama calcária Usina de beneficiamento 780.000
Fosfogesso Unidade de ácido fosfórico 900.000
Borra de enxofre Unidade de ácido sulfúrico 5.000
Fonte: Vale Fertilizantes, 2010.
13

3. RESULTADOS

3.1 Complexo mineroquímico de Cajati e suas atividades

Teve suas atividades iniciadas em 1938 com a exploração e industrialização


das jazidas de fósforo existentes em Cajati-SP, na encosta da Serra do Mar.
Pioneira na mineração de rocha fosfática, o início das atividades da empresa
foi o primeiro passo para que o Brasil se tornasse um importante produtor desta
matéria-prima tanto para fertilizante quanto para nutrição animal.

Fonte: Vale Fertilizantes.

Figura 2 - Foto aérea Complexo Mineroquímico de Cajati

No início dos anos 60 a produção de fósforo no Brasil esteve seriamente


ameaçada quando a rocha extraída em Cajati começou a apresentar baixos
teores de fósforo. Frente a tal dificuldade, a empresa constituiu uma equipe de
pesquisa chefiada pelo professor Paulo Abib da Universidade de São Paulo, a
qual foi responsável pelo desenvolvimento de um processo de flotação do
14

minério, sistema que tornou economicamente viável o aproveitamento de


rochas pobres em fósforo através de processos químicos e físicos. Este
desenvolvimento permitiu não apenas a continuidade da mineração em Cajati,
como também a exploração de outras minas de fósforo ao redor do Brasil e do
mundo.

A unidade tem como característica ser a única unidade produtora de fosfato


bicálcico totalmente verticalizada do Brasil, mantendo as operações em
cascata desde a exploração da rocha até a fabricação do produto final, fosfato
bicálcico (figura 3). É segmentada em setor mineral e setor químico, divisão
realizada pelas características diferenciadas entre os processos.
No setor mineral, ocorrem as operações de lavra e beneficiamento do mineral
extraído, produzindo-se um concentrado utilizado pelo setor químico na
produção, primeiramente de ácido fosfórico e, na seqüência, de fosfato
bicálcico, produto comercializado para o mercado de nutrição animal.
15

Estéril Lavra

Minério Enxofre

Calcário
Usina de Unidade de ácido
Magnetita Borra de enxofre
beneficiamento sulfúrico
Lama

Concentrado Ácido sulfúrico

Unidade de ácido
Fosfogesso
fosfórico

Ácido fosfórico Calcário Calcítico

Plantas operacionais
Unidade de fosfato
bicálcico
Produtos/matérias primas

Resíduos estudados
Fosfato bicálcico

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010.

Figura 3 - Operações e geração de resíduos industriais – Cajati/SP

Utilizando como referência as definições apresentadas na Política Nacional de


Resíduos Sólidos para os termos resíduo (potencial de reuso com ou sem
tratamento) e rejeito (sem possibilidade de reuso, devendo ser destinado para
tratamento final), podemos considerar todos os materiais estudados como
resíduos industrias, face a possibilidade de reutilização que os mesmos
apresentam.
16

3.1.1 Complexo mineral

Composto pelas atividades de lavra, britagem e usina de beneficiamento do


minério. Neste setor, os resíduos gerados são em sua maior quantidade
classificados como não perigosos, sendo considerados subprodutos dos
processos industriais realizados, por apresentarem potencial de reutilização na
própria Vale ou comercialização como matéria-prima para outras atividades.

3.1.1.1 Lavra e britagem

Em Cajati, a lavra do minério contendo apatita é feita a céu aberto, em cava


fechada e aprofundada em bancadas sucessivas com 10 ou 20 metros de
altura. Na frente de lavra (desmonte), há a presença de rocha com baixa
concentração de fósforo (teores menores que 4%), tornando inviável o
beneficiamento deste material na usina, obrigando a empresa a dispô-lo em
locais denominados áreas de deposição de estéril.

Atualmente a empresa possui uma pilha de estéril que apresenta uma de suas
faces em estado avançado de recuperação vegetal (figura 4), sendo o estéril
novo atualmente encaminhado a outra área de deposição (figura 5).
17

Fonte: Vale Fertilizantes, 2009.

Figura 4 - Pilha de estéril em estado de recuperação

Fonte: Vale Fertilizantes, 2009.

Figura 5 - Pilha de estéril atualmente em operação


18

Parte do volume de estéril gerado do desmonte de rocha é encaminhado para


beneficiamento em uma unidade de britagem existente no interior do complexo
(figura 6), a qual tem por objetivo produzir brita para consumo tanto interno da
Vale, quanto externo através da comercialização de agregados para
construção civil. Em 2010, foram reaproveitados em forma de brita
aproximadamente 10% de estéril gerado, entre consumo interno e
comercialização.

Fonte: Vale Fertilizantes, 2009.

Figura 6 - Operação de transformação do estéril em brita

3.1.1.2 Usina de beneficiamento

Responsável pela produção de concentrado apatítico, a usina é alimentada


com minério britado e homogeneizado, e combina circuitos de moagem,
desmagnetização, classificação e flotação. Nestas etapas são gerados três
resíduos principais: magnetita, calcário (calcítico e dolomítico) e lama calcária.
19

A magnetita é oriunda do processo de desmagnetização (pré-concentração),


sendo estocada e posteriormente retomada para comercialização nas áreas
conhecidas como áreas de deposição de magnetita. O calcário é gerado na
etapa de concentração do minério, sob as formas de lama e fração grosseira
(calcário calcítico e dolomítico). Parte do calcário calcítico é utilizado na
fabricação de fosfato bicálcico e o restante é destinado para a fabricação de
cimento na empresa Cimpor. Para o calcário dolomítico o mercado é a
agricultura, enquanto que para a lama a empresa estuda processos nos quais
seja possível o consumo deste material.

- Magnetita

A magnetita (Fe3O4) é um óxido de ferro com características bastante


peculiares e seu arranjo cristalino a confere características magnéticas. É
obtida nas polias rotativas e no processo de desmagnetização, sendo
encaminhada para a área de deposição de magnetita.

Por possuir granulometria relativamente grosseira (55% retido em 0,5 mm),


possui alta capacidade drenante, sofrendo um processo de secagem natural
até estar apta a comercialização.

- Calcário calcítico e dolomítico

O calcário é um dos principais resíduos gerados no processamento de


beneficiamento da rocha fosfática, sendo gerado durante os processos de
deslamagem e flotação. A classificação em calcítico ou dolomítico está
relacionada com a diferença de concentração de magnésio no mineral.

Dependendo de sua composição química, pode ser comercializado para


fabricação de cimento ou consumido no interior da unidade.
20

No primeiro caso, o calcário calcítico é comercializado à fábrica de cimento da


Cimpor Brasil, instalada anexa ao complexo industrial da Vale. A utilização do
calcário calcítico para a produção de cimento só foi possível após a
implantação da flotação como rota de concentração de minérios fosfáticos
pobres, em 1970 (recuperação dos finos), havendo excesso de material para a
produção de cimento desde então.

No segundo caso de reutilização, o calcário calcítico é consumido na


fabricação de fosfato bicálcico, produto final da unidade de Cajati e voltado ao
ramo de nutrição animal.

Fonte: Vale Fertilizantes, 2009.

Figura 7 - Pilha de calcário calcítico destinado ao consumo interno

O calcário dolomítico, cuja geração gira em torno de 2,2 milhões de toneladas


por ano, é depositado em sua maior parte em área situada entre o depósito de
estéril leste e as barragens de rejeito. Por suas características de teores de
21

magnésio, não apresenta potencial de reutilização nas opções onde se


consome calcário calcítico (cimento e fosfato bicálcico), sendo o seu grande
mercado a agricultura (comercialização).

- Lamas

São resíduos formados pelas partículas mais finas geradas nos processos de
cominuição no beneficiamento mineral e atualmente dispostas em uma
barragem de contenção. Em 1999, foi implantado na usina de beneficiamento
do minério de Cajati um sistema de recuperação de finos, composto por
instalações de espessamento, microciclonagem e colunas de flotação. Este
empreendimento possibilitou o aumento da produção de concentrado na ordem
de 5%, além de proporcionar a redução do volume de lamas gerada em cerca
de 10%. Atualmente estão sendo desenvolvidos diversos estudos que buscam
rotas para o reaproveitamento deste material, tanto nos processos internos da
unidade, quanto no mercado nacional.

3.1.2 Complexo químico

Composto pelas unidades de ácido sulfúrico, ácido fosfórico e fosfato bicálcico,


o complexo químico contribui com a geração de diversos resíduos sólidos,
sendo os mais volumosos a borra de enxofre, resultante do processo de
produção de ácido sulfúrico, e o fosfogesso, resíduo gerado na produção de
ácido fosfórico.

3.1.2.1 Fábrica de ácido sulfúrico

A produção do ácido sulfúrico se dá através das etapas de queima do enxofre


(formação de SO2), reação catalítica (formação de SO3) e absorção em água
(formação de H2SO4).
22

Fonte: SHREVE, 1997.

Figura 8 - Fluxograma do processo de fabricação de ácido sulfúrico por dupla absorção


23

Utiliza-se enxofre como matéria prima para a produção de ácido sulfúrico.


Considerado uma das matérias primas básicas mais importante nas indústrias
químicas, o enxofre existe na natureza em forma livre e combinado em
minérios, como a pirita (FeS2), sendo também um importante constituinte do
petróleo e do gás natural (na forma de H2S). Entretanto, considera-se como a
mais importante aplicação do enxofre a fabricação do ácido sulfúrico.

Na etapa de filtragem do enxofre fundido, ocorre a geração de uma borra, que


após ser recolhida era encaminhada para uma área de estocagem e se
transformava em um passivo ambiental.

Diante deste cenário, a unidade iniciou estudos de mercado e processo que


viabilizassem uma utilização deste nobre material, até então um rejeito, uma
vez que o mesmo possui um teor médio de enxofre da ordem de 70%. Assim,
no ano 1999 entrou em operação uma unidade piloto de beneficiamento,
moagem e ensaque, para processar o resíduo da filtragem de enxofre, com
capacidade de produção de 500 toneladas mensais, batizando comercialmente
o produto confeccionado de “Enxofre 70 S”. Com os ajustes e domínio do
processo, no ano de 2002 entrou em operação uma nova unidade fabril com
capacidade para processar 1.000 toneladas mensais do produto, eliminando a
geração adicional de borra de enxofre geradas na produção do sulfúrico,
permitindo a redução do estoque existente.
24

Fonte: Vale Fertilizantes, 2009.

Figura 9 - Galpão de recebimento de borra de enxofre

3.1.2.2 Fábrica de ácido fosfórico

Na unidade de fabricação de ácido fosfórico (insumo fundamental para a


produção do fosfato bicálcico), é realizada a reação entre ácido sulfúrico e
rocha fosfática, resultando também em um resíduo conhecido como
fosfogesso.

Este resíduo cuja classificação perante a NBR 10.004/2004 é classe II-A não,
perigoso e não inerte, apresenta importante participação no mercado agrícola
como condicionador de subsuperfície, sendo fonte de cálcio e enxofre e para
correção de solos saturados com sódio, potássio ou alumínio. Também possui
potencial de uso em construção civil, além de poder ser utilizado na fabricação
de cimento como substituto da gipsita natural, juntamente com o clinquer.
25

Fonte: SHREVE, 1997.

Figura 10 - Fluxograma de fabricação de ácido fosfórico por via úmida


26

Na Vale de Cajati, o fosfogesso gerado é encaminhado por esteira até


caminhões que transportam o material para as pilhas de deposição, locais de
onde o material é expedido posteriormente. A geração média deste resíduo é
de cerca de 900.000 toneladas anuais.

Fonte: Vale Fertilizantes.

Figura 11 - Visão das pilhas de fosfogesso

3.1.2.3 Fábrica de fosfato bicálcico

Na unidade de fabricação de fosfato bicálcico, é realizada a reação entre o


ácido fosfórico produzido e o calcário calcítico oriundo da usina de
beneficiamento mineral. Tal processo não tem como característica a geração
de subprodutos, sendo os principais resíduos gerados sólidos sem
contaminação, tais como mangas retiradas de filtros, sacarias plásticas de
ráfia, isolamento térmico, borrachas, sucatas metálicas, além de resíduo de
varrição, este último é reaproveitado nas fábricas.
27

Tais resíduos, por não terem potencial de reaproveitamento (exceção aos


resíduos de varrição), não fazem parte do escopo deste trabalho, tendo suas
destinações finais realizadas para empresas especializadas no tratamento final
destes materiais.

3.2 Comercialização dos resíduos gerados

Ao longo dos mais de 70 anos de operação do complexo mineroquímico de


Cajati, a extração de minério fosfático e o processo industrial subseqüente
foram palco de diversas inovações tecnológicas que representaram melhorias
contínuas do desenvolvimento tecnológico aliado à busca de melhores
indicadores ambientais. Para todos os resíduos estudados buscou-se e ainda
continuam sendo fomentadas, tanto interna quanto externamente, tecnologias
que tornem possível a reutilização destes materiais, proporcionando ganhos
para a empresa e ao meio ambiente.

3.2.1 Estéril

Como as operações de lavra apresentadas em Cajati têm por característica a


geração de rochas com baixos teores de fósforo (< 4%), as quais tornam-se
impossíveis de serem consumidas na usina de beneficiamento mineral, a
empresa desenvolveu uma política de utilização da rocha estéril para produção
de agregados, através da instalação de uma unidade de britagem para
produção de britas e finos passíveis de utilização como material agregado para
construção civil. O material obtido é utilizado em vias de acesso não
pavimentadas no interior da unidade, bem como na comercialização para
mercados local e regional.
28

No ano de 2010, cerca de 360.000 toneladas deixaram de ser dispostas nas


pilhas de estéril, sendo transformadas em britas e consumidas tanto no interior
da Vale quanto comercializadas no mercado.

Atualmente, a geração de estéril ainda é muito maior do que o potencial de


consumo nesta britagem. Atualmente a Vale procura empresas especializadas
na produção e/ou consumo de agregados para construção civil, buscando
aumentar o consumo de estéril e a fabricação de agregados para tal ramo. Esta
possibilidade vem sendo apresentada aos grandes produtores nacionais de
agregados para construção civil.

3.2.2 Calcário

Como já citado anteriormente, o calcário é um dos principais resíduos gerados


no processo de beneficiamento da fosfática. É classificado em calcário calcítico
ou dolomítico, de acordo com as concentrações dos minerais presentes em sua
composição.

O calcário calcítico tem forte potencial de reutilização, sendo destinado para a


produção de cimento e fosfato bicálcico. O calcário dolomítico já não apresenta
um mercado tão forte, sendo comercializado apenas para agricultura como
corretivo agrícola. Todo o calcário (calcítico e dolomítico) produzido que não é
comercializado acaba sendo depositado em áreas de deposição devidamente
licenciadas com órgão ambiental.

Com os problemas enfrentados em Cajati no início da década de 60 frente aos


baixos teores de fósforo encontrados na rocha, desenvolveu-se o processo de
concentração por flotação. Com a implantação deste processo, passou a haver
um excedente de calcário calcítico, tido então como rejeito da produção de
concentrado. Dada a disponibilidade de tal material e a demanda por cimento
àquela época, foi implantada em 1972 a fábrica de cimento da Serrana S/A de
29

Mineração, que iniciou suas atividades àquele mesmo ano. Em 1997 o grupo
Cimpor adquiriu esta unidade de fabricação de cimento.
Atualmente, após mais de 38 anos de operação e diversas ampliações, a
fábrica de cimento da Cimpor em Cajati continua em operação, provocando
uma demanda de fornecimento de mais de 1.150.000 toneladas de calcário
calcítico pela Vale no ano de 2010.

Além do cimento, a partir de 1982 iniciou-se a produção industrial de fosfato


bicálcico para nutrição animal, com a utilização do mesmo calcário calcítico
gerado como rejeito no processo de concentração. No ano de 2010 foram
utilizadas cerca de 227 mil toneladas de calcário calcítico para a produção de
fosfato bicálcico.

A figura 12 apresenta os dados de geração e consumo de calcário calcítico


(cimento e fosfato bicálcico) ao longo dos últimos 6 anos. Nela fica claro o
crescimento das curvas de geração (necessária para atender ao mercado do
cimento e fosfato bicálcico) e de consumo. Em 2010, graças a uma forte
política de comercialização deste material, chegou a um nível de
reaproveitamento de 90% do calcário calcítico gerado em Cajati (figura 12).

Os números de comercialização para o calcário dolomítico são bem menores.


Com sua comercialização voltada para agricultura (corretivo de solo), teve em
2010 um total de 16.000 toneladas comercializadas.

Devido ao alto consumo de calcário calcítico na fabricação de cimento e fosfato


bicálcico, a unidade de Cajati desenvolveu um processo de beneficiamento do
calcário dolomítico no qual será possível adequar os valores dos minerais
presentes neste composto aos valores encontrados no calcário calcítico,
possibilitando a reutilização de aproximadamente 50% do volume de calcário
dolomítico gerado atualmente (cerca de 2,2 milhões de toneladas ao ano).
30

1.800.000

1.600.000 Geração
Vendas
1.400.000

1.200.000
toneladas

1.000.000

800.000

600.000

400.000

200.000

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010.

Figura 12 - Calcário calcítico – geração x vendas

100%

80%

60%

40%

20%
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010.

Figura 13 - Percentual na comercialização de calcário calcítico


31

3.2.3 Magnetita

Mineral com características amplamente magnéticas, possui uma geração


média anual em torno de 360.000 toneladas. Tem como maior cliente o Grupo
Votorantim e as empresas Mineral Técnica e Cimpor Brasil, proporcionando
uma expedição média anual em cerca de 150.000 toneladas (figura 14). O
excedente é depositado em áreas de deposição devidamente licenciadas com
órgão ambiental.

450.000

400.000 Geração Vendas

350.000

300.000
toneladas

250.000

200.000

150.000

100.000

50.000

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010

Figura 14 - Magnetita – geração x vendas

A figura 15 apresenta a curva com o percentual de reaproveitamento deste


material frente a sua geração. Para o ano de 2010, chegou-se a um valor de
48% de reutilização da magnetita gerada em Cajati.
32

60%

45%

30%

15%

0%
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010

Figura 15 - Percentual na comercialização de magnetita

3.2.4 Lama Calcária

A lama calcária é, atualmente, o único resíduo apresentado neste estudo que


não é reutilizada nos processos internos da unidade ou comercializada junto ao
mercado.

Entretanto, diversas melhorias nos processos são realizadas para se buscar a


redução em sua geração. Em 1999 a empresa implementou o sistema de
recuperação dos finos gerados na usina de beneficiamento, composto por
instalações de espessamento, microciclonagem e colunas de flotação. Este
sistema possibilitou a recuperação parcial das lamas, antes integralmente
dispostas na barragem de lamas. Esta recuperação de ultrafinos levou a um
aumento da produção de concentrado de apatita da ordem de 5%, além de
diminuir o volume de lamas disposto em cerca de 10%.
33

Atualmente alguns estudos estão em andamento para buscar rotas de


processo que permitam o consumo da lama calcária gerada, seja através de
utilização na unidade ou comercialização no mercado.

3.2.5 Fosfogesso

Como característica das plantas de fabricação de ácido fosfórico, o principal


resíduo gerado neste processo é o fosfogesso (sulfato de cálcio), a uma taxa
de cerca de 4,7 toneladas de gesso por tonelada de ácido fabricado. No
processo industrial de Cajati, o gesso gerado a partir do reator contém em sua
composição química meia molécula de água, sendo então denominado gesso
hemidrato (HH). Este material não apresenta um potencial interessante de
comercialização, face sua característica de empedramento em um curto
espaço de tempo (aproximadamente 6 horas após geração).

Para solução deste inconveniente, a unidade implantou um sistema de


hidratação ao gesso, recirculando água dos processos industriais,
acrescentando mais uma molécula e meia molécula de água ao material,
formando assim o gesso conhecido como dihidrato (DH).

Com a fabricação do DH, o potencial de comercialização foi fortemente


elevado, chegando a volumes de expedição no ano de 2010 de 96% do total
gerado (figuras 16 e 17), com o excedente sendo depositado em áreas de
deposição devidamente licenciadas com o órgão ambiental.

Atualmente, apresenta importante participação no mercado agrícola como


condicionador de subsuperfície (fonte de cálcio e enxofre e corretor de solos
saturados com sódio, potássio ou alumínio), no mercado da construção civil e
no mercado das cimenteiras (substituto da gipsita natural, juntamente com o
clinquer). Vale ressaltar que os baixos teores de contaminantes presentes no
material gerado em Cajati potencializam sua comercialização.
34

1.200.000

Geração Vendas
1.000.000

800.000
toneladas

600.000

400.000

200.000

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010

Figura 16 - Fosfogesso – geração x vendas

100%

80%

60%

40%

20%
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010.

Figura 17 - Percentual na comercialização de fosfogesso


35

3.2.6 Borra de enxofre

Como já explicado anteriormente, a borra de enxofre é gerada na planta de


ácido sulfúrico desde de o início de suas atividades, no ano de 1972. Pela suas
características e como não havia mercado nem fonte de reutilização na
unidade, sempre foi considerado um passivo ambiental. Frente a esta situação
e a disponibilidade deste material com teor médio de enxofre na ordem de
70%, a unidade iniciou estudos de mercado e processo que viabilizassem sua
utilização. Após anos de estudos, foi desenvolvida uma planta capaz de
beneficiar o material, adequando sua granulometria e comercializando assim o
produto batizado de “Enxofre 70 S”.

Atualmente a capacidade de produção do “Enxofre 70S” é para mil


toneladas/mês. A figura 18 apresenta o comparativo entre os valores de
geração e vendas do produto, demonstrando claramente a redução no passivo
da unidade.

16.000

14.000
Geração Vendas
12.000

10.000
toneladas

8.000

6.000

4.000

2.000

0
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010

Figura 18 - Borra de enxofre – geração x vendas


36

Em 2010, a geração de borra de enxofre na unidade foi de 4.360 toneladas,


contra uma expedição de 10.806 toneladas de “Enxofre 70S”. Em termos
percentuais, mais de 220% da borra gerada em 2010 foi comercializada,
números que vêm se mantendo nestes patamares durante o período estudado
(2005 a 2010).

300%

250%

200%

150%

100%

50%

0%
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010

Figura 19 - Percentual na comercialização de borra de enxofre


37

4. DISCUSSÕES FINAIS

4.1 Situação atual sobre a reutilização dos resíduos

Levando-se em consideração a quantidade reutilizada de calcário calcítico,


magnetita, fosfogesso e borra de enxofre somados, em função das quantidades
geradas no período de 2005 a 2010 (figura 20), fica claro e evidente o
crescimento da curva de reaproveitamento, partindo-se de 60% de
reaproveitamento destes gerados em 2005 para um reaproveitamento de 88%
em 2010.

100%

85%

70%

55%

40%
2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: Vale Fertilizantes, 2010.

Figura 20 - Percentual de reutilização anual para calcário calcítico, magnetita, borra de enxofre
e fosfogesso somados
38

4.2 Oportunidades de melhoria

Como oportunidades de melhoria dentro da política de reutilização dos


resíduos gerados em Cajati, a empresa busca continuamente tecnologias nas
quais permitam o aumento da reutilização de estéril (consumo aproximado
atual de 10% da produção ao ano), lama calcária (não é reutilizada atualmente)
e calcário dolomítico (consumo atual de 16.000 toneladas ao ano), tanto na
reutilização nos processos industriais como na comercialização dos materiais.

4.3 Principais benefícios proporcionados

Com a promulgação da Lei 12.305/2010 que instituiu em agosto de 2010 a


Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, a preocupação com o
gerenciamento dos resíduos sólidos tornou-se vital para a sociedade. Entre os
princípios e objetivos existentes nesta Lei, destaca-se o reconhecimento do
resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor
social, gerando trabalho e renda.

No estudo de caso apresentado, conclui-se que com a implantação de medidas


voltadas para o aumento da reutilização e comercialização dos resíduos
conforme apresentado proporcionou diversos benefícios ambientais, sociais e
econômicos para o município e região, valendo citar:

- Diminuição dos volumes de resíduos a serem dispostos.


- Redução das áreas necessárias para deposição de resíduos
industriais.
- Preservação dos recursos naturais.
- Diminuição da poluição ambiental.
- Economia de energia.
- Geração de renda para o empresariado.
- Geração direta e indireta de empregos.
39

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAIRD, C. Química ambiental. Porto Alegre, Bookman, 2002.

BARRETO, M. L. Mineração e desenvolviemnto sustentável: desafios para o Brasil.


Rio de Janeiro, CETEM, 2001, 215p.

CETESB – Companhia Ambiental do Estado de São Paulo. Inventário Estadual de


Resíduos Sólidos Domiciliares. São Paulo, 2009

FARIAS, C. E. G. Mineração e meio ambiente no Brasil. PNUD, 2002, 34p.

LUZ, A. B. Tratamento de minérios. Rio de Janeiro, CETEM/CNPq, 1998.

PHILIPPI JR, A., ROMÉRO, M. A., BRUNA, G. C. Curso de gestão ambiental.


Barueri, Manole, 2004.

PHILIPPI JR, A., ALVES, A. C. Curso interdisciplinar de direito ambiental.


Barueri, Manole, 2004.

SHREVE, R. N., BRINK JR., J. A. Indústrias de processos químicos. Trad.


MACEDO, H. 4ª ed. Rio de Janeiro, Guanabara, 1997.

SPIRO, T. G., STIGLIANI, W. M. Química ambiental. Trad. YAMAMOTO, S. M. 2


ed. São Paulo, Pearson Prentice Hall, 2009.

Consulta a sites:
www.cetesb.sp.gov.br
www.ibge.gov.br
www.leidireto.com.br/lei-12305

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