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Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no Rio de Janeiro 1835-1900

Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no


Rio de Janeiro 1835 - 1900

Carlos Eugênio Líbano Soares


Professor Doutor da Universidade Seve-
rino Sombra. Bolsista do Cnpq. Mestre e Doutor em
História pela UNICAMP

Resumo
No século XIX o comércio de rua no Rio
de Janeiro era dominado pelas chamadas negras minas
quitandeiras. Vindas de Salvador na Bahia como escravas
ou libertas após o fracasso da rebelião malê em 1835 elas
conseguiram o respeito de africanos e crioulos, escravos e
libertos, além de comerciantes de “grosso trato” e se torna-
ram, parte da paisagem carioca retratada pelos viajantes.
Mas elas também eram um problema da ordem urbana
escravista, auiliando cativos a fugirem, criando redes de
associação coletiva e liderando movimentos de resistência
oculta que se tornaram um flagelo para os responsáveis
pelo controle social na cidade.

Palavras-chave
africanas - minas - quitandeiras - Rio de
Janeiro - escravidão urbana.

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Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no Rio de Janeiro 1835-1900

Em agosto de 1863 a polícia entrou em um navio de bandeira


norte-americana ancorado no porto do Rio de Janeiro. Buscavam um pas-
sageiro clandestino, um escravo negro nascido no Brasil de nome Napoleão.
Com o escravo foram encontrados grande soma de dinheiro, um relógio, vários
objetos e roupas. Aparentemente Napoleão estava em busca de um novo país
para viver. Um país que naquele momento vivia uma guerra civil exatamente
por causa da “instituição servil”. E alguns meses antes o presidente Abrahan
Linlcon havia decretado a emancipação dos escravos em toda a União.

Depois de interrogado pela polícia ele denunciou quem o havia


ajudado a subir oculto a bordo do vaso mercante dos Estados Unidos:
uma mulher africana de nação Mina de nome Paula, escrava de um certo
Manuel Martins de Freitas, de ocupação quitandeira, com 35 anos. Ela
também foi presa pouco depois, arrastando a seguir todo um esquema de
fuga de cativos do Brasil para um país que havia acabado de decretar o fim
da escravidão.1 

O caso da escrava Paula abre caminho para uma das facetas


mais interessantes da escravidão africana em terras brasileiras: as mulheres
africanas da Costa da Mina que dominaram o comércio de rua na cidade
do Rio de Janeiro durante grande parte como quitandeiras

***

Os primeiros autores a revelarem a forte presença das minas


quitandeiras e de ganho no Rio de Janeiro foram os viajantes. Desde
Debret2  passando pelo reverendo Kidder3  e até mesmo as fotografias do
suíço naturalizado brasileiro Leuzinger4  e de Marc Ferrez5 , todos revelam
a forte presença das negras de ganho na escravidão urbana, e entre elas as
minas do ganho de rua (como se chamavam as vendedoras ambulantes) e
as quitandeiras.

Alguns viajantes, como Thomas Ewbank,6  Dabadie7  e Char-

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Ribeyrolles8  foram pródigos em menções às negras minas, sempre revelando


a predileção senhorial por tê-las como escravas vendedoras. Este prestígio
decerto resvalou para as livres e libertas. Este olhar senhorial sobre as negras
minas sem dúvida tinha sua contrapartida no seio da população escrava e de
livres de baixa condição, que via estas africanas como poderosas comerciantes,
senhoras de pontos cobiçados da rede de comércio urbana.9 

Estes viajantes revelam muito do olhar costumeiro, mas pouco


falam da relação das minas com o restante da população negra da cidade.10 
Nos finais do século XIX, no contexto do declínio final do cativeiro, são
os cientistas e etnógrafos brasileiros que se voltam para os negros africanos
no país, fazendo um capítulo a parte dos minas. Nina Rodrigues foi o pri-
meiro estudioso a dedicar uma grande obra à presença africana no Brasil,
nos marcos da voga cientificista e positivista que se tornou hegemônica até
larga parte do século XX.11 Apesar de formalmente preocupar-se com o
conjunto dos africanos no Brasil, Nina dedica parte relevante de seu texto
aos africanos ocidentais da Bahia, como os minas, jejes, haussás, etc. Assim
seu trabalho toca em ponto importante de nosso projeto, que é entender a
nomenclatura racial e de origem dos minas no século XIX.

Nina foi o precursor de uma geração de antropólogos e etnógrafos


que produziu vasta obra sobre o legado africano no Brasil. Arthur Ramos
foi o nome mais brilhante da geração seguinte de seguidores da “escola” de
Nina.12  Para estes estudiosos os minas foram portadores de uma resposta
cultural ao jugo da escravidão que os separava do conjunto dos africanos
ditos centro-ocidentais – os chamados bantos - que formavam a maioria dos
nativos do continente negro no Brasil escravista. Esta resposta chegou a ser
entendida nos termos de superioridade frente aos outros africanos, o que
refletia também visões raciais da época, que entendiam a humanidade como
uma cadeia evolutiva.

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Outro estudioso importante, já em meados do século XX foi Ro-


ger Bastide, tanto em seu estudo da religiosidade13  como das transformações
culturais sofridas pelos modelos culturais africanos em terras americanas.14 
Bastide prestou incisiva atenção ao legado dos africanos ocidentais, e con-
tribuiu decisivamente para a construção de um estereótipo nagô, fortemente
incorporado pelos candomblés jeje-nagôs e pelos movimentos políticos de
cunho racial. Mas o maior estudioso da herança afro-ocidental foi sem dúvida
Pierre Verger. Seu monumental trabalho sobre tráfico negreiro remonta em
detalhes as relações entre Salvador e a costa ocidental africana, particular-
mente a chamada Costa da Mina, ou seja os portos situados no Golfo de
Benin.15  O conjunto de sua obra, particularmente seu trabalho sobre os
libertos16  serve de referência para o estudos das libertas e alforriadas de
nação mina no Rio de Janeiro.

Nas décadas de 1970 e 1980 um novo surto de estudos na área


de escravidão, combinado com a nova historiografia sobre gênero, se aproxima
paulatinamente de nosso objeto restrito, tanto no campo internacional17  como
local. A obra colossal de Mary Karasch já dava atenção preciosa aos africanos
de nação mina, inclusive as mulheres, e seu particular mundo ocupacional.18 
Foi o momento em que a historiografia invadia lugares normalmente reser-
vados para a antropologia e a sociologia. A nova linha de étno-história era
símbolo do novo campo de interdisciplinaridade que marcaria profundamente
os estudos de história, marcadamente história cultural.19 

A historiografia norte-americana da cultura escrava – e que não


é especificamente tributária desta nova história cultural – também teve um
impacto no Brasil. Desde Genovese, em seu clássico sobre escravidão nas
plantagens de algodão do sul, passando por Hebert Gutman , que enfatiza
a autonomia e família escrava, e Richard Price e Sidney Mintz – estes por
sua vez reavaliando a “produção” cultural dos africanos no contexto do es-
cravismo no Caribe – observamos uma vigorosa produção intelectual,20 que
vai ter forte influência na temática mais pontual da escravidão urbana.

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A questão da mulher escrava vai despontar nos últimos vinte


anos, apesar da ênfase ainda na resistência aos mecanismos de dominação, e
21 

menos nos mecanismos de adaptação. Seria preciso a passagem do centenário


da Abolição para que os estudos de mulher, nação e escravidão no Brasil
tivessem espaço na sua especificidade. A tese de Luís Carlos Soares sobre
escravidão urbana no Rio oitocentista, e especificamente seu capítulo sobre
escravos de ganho,22 contem trechos que detalham a importância despropor-
cional dos africanos de nação mina no comércio ambulante no Rio.23 

Na década de 70 Maria Odila realizou um trabalho pioneiro ao


iluminar as vivências soturnas e nebulosas das mulheres de cor, escravas e
libertas, na São Paulo do século XIX por meio de um denso estudo de vida
cotidiana.24  Na década de 1990 as novas abordagens afinal despontariam.
Giacomini seria uma das pioneiras na temática da mulher negra sob a es-
cravidão.25  Luciano Figueiredo projetou para as Minas Gerais do XVIII o
quanto a especificidade da negra de tabuleiro do século XVIII foi precursora
da quitandeira do século XIX.26 

Mas estes trabalhos estavam relativamente descompromissados


com a problemática das relações das minas ganhadeiras com o restante da
sociedade, principalmente a parcela escrava. Na Bahia a tese de Cecília
Moreira Soares comprovava o peso das africanas ocidentais no traquejo do
comércio e da mercancia na cidade colonial, e suas estratégias de resistência
em uma capital em que a presença numérica das mulheres oriundas da Costa
da Mina sempre foi considerável.27 

No campo da escravidão mais ampla o trabalho de Eduardo Silva


sobre o “Príncipe Obá”, um crioulo da Bahia que se torna líder de ampla
parcela da população negra da Corte por suas ligações com elementos da elite
dirigente, incluindo o próprio Imperador, traça interessante paralelo com as
quitandeiras da Costa da Mina, também vindas da Bahia na mesma

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época.28  Poucos anos antes Sidney Chalhoub decifrava os signos políticos da


massa negra, escrava e livre, na cidade do Rio no crepúsculo da instituição
escravista.29 Se reveste de particular importância para nós neste trabalho o
estudo dos processos de liberdade impetrados contra senhores por africanas
minas, demonstrando a capacidade destas mulheres de articular aliados nos
corredores da justiça, aparentemente imune as suas reivindicações. Aliás os
estudos sobre escravidão rural, principalmente de Flávio Gomes, também
apontam um alto grau de politização de escravos neste período crítico da
ordem senhorial.30 

Mas o trabalho mais importante para nossa resenha bibliográfica


somente viria em 1997. A tese de doutorado de Mariza Carvalho Soares
sobre os minas no Rio dos idos do século XVIII foi a primeira experiência
em larga escala no Brasil de estudo de uma única “nação” africana na
época colonial.31  Apesar de sabermos – e a autora mais do ninguém tem
consciência disso – dos limites de entendermos as “nações” que perpassam
os documentos da era da escravidão como identidades étnicas dadas, mas
sim como construções do tráfico negreiro e das usanças da práxis senhorial,
pensamos, como Mariza, que a “nação mina” (como de resto as outras nações
africanas) era uma identidade em construção, fruto das profundas mudanças
culturais que afetam os filhos da África nas Américas.

Entendemos que este debate é uma das grandes qualidades


do trabalho de Mariza, pois ela entende que grande parte das construções
culturais dos minas no Rio colonial foram produtos das realidades novas do
cativeiro, e não heranças trazidas da África. Assim, pode ser que a aptidão
comercial das negras minas seja mais que uma raiz africana, mas uma opção
política forjada no guante da experiência escrava, e que passou para as livres
e libertas.

Outra virtude de Mariza é localizar o papel dos minas nas ir-


mandades “de pretos” da capital da colônia, especialmente Santa Efigênia

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e Santo Elesbão, onde eles tinham funções de destaque, e forte peso numé-
rico. Assim, o trabalho de Mariza Carvalho Soares aponta a possibilidade
– mesmo que muitas vezes de forma polêmica – do estudo de uma “nação”
específica de africanos no seio da vasta população negra-escrava . Nosso
trabalho ainda mais reduz este objeto, pois pretendemos enfatizar um deter-
minado nicho ocupacional dentro dos minas, que são as negras quitandeiras
ou vendedoras ambulantes.

Em minha tese sobre a capoeira escrava no Rio da primeira


metade do século XIX já percebi a importância dos africanos de nação mina
no contexto das redes étnicas na Corte no após 1835, o que foi confirmado
ao estudar as casas de zungu da mesma época, nas quais estas africanas
detinham postos de liderança.

Em resumo, podemos colocar que a bibliografia avançou


bastante em alguns pontos quanto a nossa temática, mas algumas lacunas
ainda justificam a relevância de nosso trabalho: qual o peso social e cultural
das negras mercadoras no seio da população afro-ocidental no Rio? Quais
as prerrogativas destas mulheres nas relações com cativos e livres, setores
marginalizados e parcelas da classe dirigente? Quais os canais de influência
que estas mulheres desfrutavam para serem líderes de micro-comunidades
urbanas? Estas perguntas a bibliografia ainda não respondeu, e esta é a
natureza de nosso projeto.

***

O Rio de Janeiro foi uma das regiões mais afetadas pelo tráfico
atlântico de escravos africanos, mas este comércio se dirigia majoritariamente
para a África Centro-Ocidental, dominada pelos povos bantos de região
Congo – Angola. Entretanto os estudiosos do tema em geral esquecem que
o tráfico de africanos entre as diferentes partes do Brasil também era grande,
isto muito antes do fim do comércio negreiro transatlântico terminar, em
1850. Para o Rio a rota costeira de escravos africanos mais importante era a

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que ligava com Salvador da Bahia.

Desde muitos anos o tráfico para Salvador era centrado na Costa


da Mina, terra dos chamados Minas Nagô.32  Na realidade uma variedade
de povos diferentes era identificado na Bahia por esta Nação, entre estes
os Calabar, Gege, Haussa, Bornu, Tapa, Maki, Mandinga, entre outros.
Apesar da diversidade lingüística partilhavam um universo mítico-religioso
comum, o que ajudava na luta contra o poder escravista.

O levante dos malês, em 1835, representou o auge de uma


série de levantes escravos que sacudiram a província da Bahia na primeira
metade do século XIX.33  A repressão que se desencadeou na Bahia sobre
os africanos, escravos e libertos, após a derrota do movimento foi tremenda.
Centenas deles foram deportados para fora do país, enquanto outro tanto
de libertos deixou a província, um grande número com destino ao continente
africano.

Entre aqueles que ficaram no Império brasileiro, uma das rotas


prediletas era a que levava à capital do Império, o Rio de Janeiro.

Desta forma, a partir de 1835 o Rio passa a ser palco de um


verdadeiro êxodo de africanos ocidentais da Bahia em um ritmo nunca visto
antes em sua história. É realidade que já desde muitos anos viviam minas
- nagôs na cidade, principalmente a partir do século XVIII quando o Rio
se torna ponto principal do fluxo de escravos para as Minas gerais.34  Mas
a enchente de africanos ocidentais que se derramou na cidade após 1835
nunca tinha sido vista. Não eram apenas libertos. Escravos as centenas foram
vendidos por seus senhores baianos temerosos da então chamada “’índole
rebelde” dos minas.

As fontes policiais dão testemunho candente do quanto esta


presença crescente era temida pelo Estado e por senhores privados:35  Navios
carregados de africanos para os mercados do Rio eram embaraçados pela

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Polícia do Porto; passaportes eram negados; famílias inteiras de minas até


a quarta geração eram sumariamente deportadas para a Costa da África.
Tudo era feito para impedir que um novo Levante dos Malês tivesse lugar
no coração da capital do Império.

Entre os afro baianos que imigraram para o Rio de janeiro se


destacaram as mulheres. Na cidade de Salvador elas já eram tradicionais
comerciantes de rua, com sua indumentária característica do turbante islâ-
mico, do pano riscado de cores atravessado nos ombros (o Pano da Costa),
os ornamentos de prata e ouro denotando riqueza. Eram respeitadas não
somente pelos outros africanos que trabalhavam na rua, mas por crioulos,
brancos pobres, e até por comerciantes de “grosso trato” que as tinham
como exímias comerciantes de rua. Muitos senhores viviam de seu “jornal”,
que era a quantia que elas pagavam a seus proprietários para continuarem
vivendo “sobre sí”, pagando o próprio aluguel, comprando a sua comida, e
pagando suas despesas com o fruto de seu próprio esforço diário.

Além da repressão anti – africana, a capital baiana entrou na


década de 1830 em fase de profunda depressão, com os preços do açúcar
decaindo no plano internacional. Esta crise afetou muitos senhores, que
foram forçados a vender suas negras para os proprietários mais opulentos
da Corte do Rio de janeiro. As libertas, com a crise econômica, perderam
mercados e clientes, sendo forçadas a sair da cidade em busca do então polo
de prosperidade: O Rio, centro da nova base da agro - exportação, o café.

Assim, escravas e libertas da Costa da Mina aportam na cidade,


iniciando uma profunda mudança no panorama étnico da escravidão carioca.
As fontes sobre venda de africanas da Bahia para o sul revelam que mais
de 80% destas mulheres eram de nação Nagô. Entretanto, os dados sobre
população da África Ocidental no Rio dos anos 1830 em diante revela que
uma grande parte destas africanas eram chamadas minas, e raramente se
menciona o termo “Nagô” no Rio.

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Quais os fatores que implicam que uma massa Nagô da Bahia


se transforme em uma ampla maioria mina na cidade do Rio? Os novos
estudos sobre identidade escrava no Caribe e Estados Unidos revelam que
a “etnicidade” dos africanos na América não era uma resultante unilateral
da vontade dos senhores, nem uma derivada única da origem africana, ines-
capável para o traficado.

A “Nação” podia ser articulada pelo africano dependendo das


conjunturas políticas, ou da própria política interétnica entre os africanos.
Apesar de originalmente atribuída pelos traficantes de escravos, europeus
ou africanos, a “Nação” podia, com o tempo, ser alterada, de forma a cor-
responder aos interesses de associação. As irmandades são o exemplo mais
gritante desta dinâmica identitária da diáspora. Anúncios de escravos fugitivos
volta e meia exibiam cativos que ocultavam a própria origem “nacional” para
enganar seus captores.

Quanto as minas, é patente que a população carioca generalizava


o termo para todos os ocidentais chegados da Bahia. Mas as fontes sugerem
que estas mulheres lentamente introjetaram o novo rótulo, e o articularam
na intenção de criar uma comunidade afro-baiana no Rio, que se tornaria
célebre, na virada do século, como a Pequena África.

Esta nova identidade mina tem que ser pensada no contexto


dinâmico, e não estático, das identidade “africanas” no Novo Mundo.
A bibliografia de língua inglesa sobre os povos exportados pela Costa da
Mina menciona as tradições Akan, do atual Daomé, que na realidade era
um conglomerado de povos diferentes com certa proximidade de língua e de
religião, mas sem unidade política. A literatura da temática afro brasileira
na Bahia menciona os povos de língua Yoruba como a origem dos minas.
De qualquer forma na Bahia os minas são uma entre outras nações, e de
presença bem inferior aos Nagôs. No Rio eles são um “Guarda Chuva”
étnico, como explicou João Reis, onde todos os ocidentais, e talvez todos

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vindos da Bahia, se encontram.

Outro fator importante na atração dos minas para o Rio é a


tradição urbana da África Ocidental. É notório que esta região do conti-
nente teve uma longa experiência urbana, visível nas ruínas da mítica Ifé.
Cerca de mil anos A. C. a região que vai da foz do Níger até o golfo de
Benin era um cinturão de aldeias, o máximo daquilo que podemos chamar
de urbano na África

Esta vivência transparece nos padrões de moradia dos minas.


A maioria esmagadora reside nas freguesias centrais – Candelária, Sacra-
mento, Santa Rita, Santana e São José – área de urbanização mais densa
da Corte.

Outra tradição de além mar, transformada na experiência do


cativeiro, é o comércio. A forte ligação da África Ocidental com o mundo
muçulmano transformou a região em um dos extremos da complexa rede
das caravanas do deserto, e municiou diversos povos locais de uma densa
tradição comercial, e de manejo monetário. Esta aptidão era reconhecida até
pelos senhores, que empregavam os minas, homens e mulheres, em atividades
pagas, seja quitandeiras ou carregadores.

Mas é importante perceber que estas “tradições” foram repen-


sadas e reconstruídas na diáspora, já que urbanidade e comércio não eram
monopólio dos ocidentais. Muitos bantos também encontraram ocupação no
comércio de rua, mas nenhuma outro grupo teve um exclusivo ocupacional
como as mulheres da Mina: Quase 100% das mulheres desta nação no Rio
eram quitandeiras.

Outro dado importante que pode ajudar a explicar o papel sa-


liente e especial destas minas no seio da comunidade africana, e seu nicho
ocupacional específico, é o espaço da própria mulher escrava e africana na
sociedade. Os homens perfazem a grande maioria (80%) dos africanos tra-
zidos pelos tumbeiros. Mas mesmo esta inferioridade numérica feminina

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indica um espaço social que abre caminho para uma negociação mais com-
plexa com a sociedade envolvente.
As mulheres eram escolhidas para funções específicas: lavadeiras,
costureiras, mucambas (criadas de quarto). Mas as quitandeiras eram vis-
tas como especializadas, capazes de transitar com desenvoltura pela cidade
colonial, com sua rede complexa de becos, vielas e ruas estreitas, ir onde
o mercado consumidor fosse mais atraente, e se defender contra os perigos
que espreitavam na via pública. Por algum motivo ainda não completamente
solucionado as minas eram vistas como as mais tarimbadas para este ofício
do que qualquer outra.
Não pode ser esquecido que a ampla maioria dos proprietários era do
sexo masculino, e deve ocasionalmente agido sobre eles a sedução feminina:
as minas eram retratadas pelos viajantes estrangeiros com as mais belas das
negras, superando até as crioulas pelos seus traços finos, o que, de acordo
com o padrão vindo dos países da Europa Ocidental e dos Estados Unidos,
era sinal de maior avanço “civilizacional” em relação aos “grosseiros” bantos
em geral.
Os preços das escravas minas também devem ter sido, por causa da
sua raridade (como das cativas africanas em geral) maiores do que os homens,
e isto fazia com que o senhor resistisse em coloca-las em tarefas insalubres
ou pouco rendosas.
Estas virtudes devem ter contrabalançado o medo endêmico
que os senhores cariocas passaram a sentir dos africanos vindos da Bahia
no pós 1835. Mas tudo isto não significava que as relações com senhores
não eram conflituosas. Os anúncios de fugitivos para escravas minas eram
relativamente numerosos, e eles passam uma imagem muito rica e complexa
do cotidiano particular destas africanas: Elas facilmente se ocultavam na
cidade, mas dificilmente os senhores apontam que elas rumaram para fora
do meio urbano, o que indica um padrão de fuga circunscrito a cidade,
ou algo parecido com aquilo que os historiadores do Caribe chamaram de
“petitt Maronage”:

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rápidas fugas apenas para se abastecer cultural e socialmente nas casas co-
munitárias de africanos, também denominadas “casas de angu” ou “casas
de zungu”.36 

O número proporcional ao total de minas fugitivas presas por


este motivo é surpreendente. Elas possivelmente eram vistas pelas outras,
africanas e crioulas, como as mestras de uma obscura religiosidade, escondida
na babel de casas perdidas na paissagem urbana, e como depositárias de
uma já longínqua tradição religiosa, eficiente para lidar com mitos oriundos
das mais diversa matrizes étnicas africanas. Com muita possibilidade estas
mulheres trouxeram a religião yorubá para o Rio, e seu poder de conven-
cimento para africanos vindos de outras paragens deve ter sido devastador,
até pelo virtual monopólio da subterrânea fé africana na cidade na virada
para o século XX.

Outra particularidade do padrão de fuga das minas era a tendên-


cia de manter a mesma ocupação de quitandeiras, para qualquer ambiente
para onde fossem. Os cativos em geral muito rapidamente trocavam de
ocupação na certa para despistar seus donos, mas elas quase sempre não
optavam por isso, na certa porque era uma profissão rendosa a de vendedora,
e assim, sem pagar o jornal, ela podia ter recursos de sobra.

Uma terceira característica era de que, ao contrário de seus


outros companheiros de jugo, as minas comumente fugiam sozinhas, sem
esquemas prévios elaborados por terceiros que pudessem ditar um rumo para
seu paradeiro – chamados então de “sedução”. Esta autonomia no ambiente
urbano na certa era invejada pelos outros filhos da África, que elaboravam
rotas de fuga, mas precisavam desesperadamente de alguém que lhes desse
cobertura.

Estas três singularidades indicam mais uma particularidade das


mulheres minas que as separavam dos demais negros mantidos no cativeiro, e
que apontam para uma hierarquia dentro da massa africana e crioula onde

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elas estavam no topo.

Mas não pode ser esquecido que muitas destas minas eram
libertas. Da documentação da principal prisão do Rio da segunda metade
do século XIX, a Casa de Detenção, aflora uma quantidade assombrosa
de dados sobre libertas minas, de 1860 até os primórdios do século XX.
Os registros de escravas eram menores e cobrem apenas quatro anos, 1863,
1879, 1881 e 1882. No total 70 fichas de prisão de escravas minas sobre-
viveram nos registros, e apenas uma era de nação Calabar. Mina já era um
sinônimo para africano ocidental no Rio.

O padrão de crime das escravas se aproximava do conjunto dos


escravos presos no mesmo ano na Casa de Detenção: 20% eram “fugidas”
ou “suspeitas de fugidas”, quer dizer, que eram presas porque os agentes de
polícia acreditavam que tinham desaparecido de seus senhores. Possivelmente
alguns soldados de polícia confiavam em receber alguma recompensa pela
captura da “fugida”.

Outro dado interessante é o número de minas presas por “fora


de horas”. No Código Penal do Império se referia a indivíduos escravos
detidos por serem encontrados altas horas da noite. Para as pretas minas
presas por este motivo a totalidade eram quitandeiras que ficavam de noite
vendendo seus produtos, em geral frutas e gêneros alimentícios. As presas
por “desordem” (que chegavam a 11%) na certa estavam discutindo por
espaços no mercado, infringindo as rígidas normas do Código de Posturas,
e se defendendo de ladrões, numerosos no ambiente hostil das ruas.

Embriaguez era outro motivo comum (10%) para levar africa-


nas minas para os cubículos das prisões celulares da Detenção. Na verdade
um grande número de africanos, escravos e libertos, foram detidos por uso
excessivo de álcool. Era uma forma de amenizar o cotidiano sufocante das
vítimas da diáspora.

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“Atos imorais” pode estar ligado ao preconceito das autoridades


policiais contra escravas que ficavam tarde da noite na rua, ou eram encon-
tradas em “casas suspeitas”. Cinco cativas minas (8%) foram detidas por
isso. Apenas uma foi presa por furto, mas 3 o foram por desobedecerem
seus senhores. Quer dizer, seu proprietário chamou a polícia para deter uma
africana que não o obedecia. Por último não podemos deixar de mencionar
as presas por “averiguações sobre sua condição” (8%) o que significava
que a prisão era fruto da ignorância do policial de que elas eram escravas
ou libertas

No conjunto, buscando uma visão global, a maior parte dos


crimes de escravas se referia a fuga, mas muito poucas foram presas por
furto (apenas uma) e muitos no exercício de seu trabalho, o que denota
pouca preocupação com afrontar a sociedade dominante, mas sim garantir
seus ganhos em seus interstícios, e permanecendo na cidade, mesmo longe
do olhar senhorial, o que pode explicar a alta incidência de suspeitas para
o crime de fuga.

Quanto as minas libertas, o primeiro contraste é o número re-


duzido das que foram encontradas na Detenção: apenas 21 libertas foram
localizadas entre 1860 e 1883.37  Com certeza até o final do século muito
mais libertas foram encarceradas nas celas apertadas da Detenção, já que
esta é uma pesquisa em andamento. Quanto ao padrão de criminalidade,
logicamente os crimes de fuga e suspeita de fugida desapareceram substituí-
dos pelos de “desordem” o que implica em uma ampla gama de atividades,
mas todas envolvendo violência contra adversários e até policiais. Quase
a metade das libertas foi presa por este motivo (47%). A outra grande
causa de encarceramento destas africanas era “vagabundagem”, o que as
aproximava das escravas na faina de transitar pelas ruas altas horas como
vendedoras (33%).

O padrão ocupacional de libertas e escravas se aproximava. Das


escravas 71% eram quitandeiras e das libertas a percentagem chegava a

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Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no Rio de Janeiro 1835-1900

76%. De qualquer maneira, era menor do que esperavamos. A vida ocupa-


cional destas mulheres não era totalmente monopolizada pelo comércio de
rua. Entre as escravas surpreende a presença de lavadeiras. (14%)

Outro dado importante é aquele referente aos locais de prisão


de escravas e libertas. Pelo local de prisão podemos intuir se escravas e
libertas tinham pontos separados na geografia do trabalho urbano, ou se
compartilhavam sem diferenças as mesmas áreas. Um grande número das
escravas (16%) foi presa na freguesia do Sacramento, área central da parte
mais antiga da cidade. Em seguida vem Santa Rita (8%) zona portuária,
onde transitavam comumente marinheiros e homens do mar.

Em relação as libertas os dados são bem diferentes. Quase a


metade das forras foi presa na freguesia de Santana (47%) área periférica
da cidade mais velha, vindo depois a freguesia de São José, já no caminho
do litoral sul da cidade, com cerca de 23% das detenções de libertas. Ape-
nas 14% das forras foram presas em Sacramento. E Santana responde por
apenas 10% das prisões de escravas da Costa da Mina.

Estes dados apontam uma geografia ocupacional diferente, que


separava os nichos de trabalho de ambas as condições. Curiosamente a tra-
dição dos grupos de capoeira da segunda metade do século XIX falava em
duas confederações de grupos, chamados Nagôas e Guayamús. Os primeiros
dominavam as freguesias de Santana e São José enquanto os Guayamús
eram hegemônicos em Sacramento e Santa Rita. Podemos acreditar que a
tradição da cultura de rua dos capoeiras influenciou a cultura de rua das
quitandeiras africanas? Difícil de acreditar.

Somente agrupando os registros de endereço das libertas pelas


freguesias – as escravas não tem endereço, e sabemos que elas normalmente
não moram com seus senhores – podemos ter exatamente certeza se este

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Carlos Eugênio Líbano Soares

padrão pode indicar uma divisão da cidade entre libertas e escravas. Mas
uma coisa podemos ter certo: libertas eram mais desenvoltas, e palmilhavam
o mapa urbano com maior facilidade do que sua companheiras mantidas no
cativeiro, e o fato das suas freguesias de trabalho normalmente serem mais
distantes do centro urbano pode ser um reflexo deste fato.

Sabemos que escravas normalmente anseiam se tornarem livres,


apesar de que o cotidiano de africanas da Costa da Mina de ambas as con-
dições com certeza na prática pouco se diferenciar.

Nos últimos anos do século XIX a população de mulheres minas


no Rio tinha se reduzido drasticamente. Orgulhosas e numerosas nas décadas
de 1840 e 1850, elas chegavam a virada do século como memórias vivas de
um passado que a elite da cidade queria apagar.

A repressão de 1890 ainda encontrou número razoável de “casas


de dar fortuna” (locais de feitiçaria) mantidas por minas, cercadas de crioulos,
pardos e até brancos. Desbaratadas pela repressão moralista do draconiano
e positivista novo regime republicano, elas jogam luz sobre a permanência
da reconstrução cultural africana tão longe como o pós abolição.

Mas elas ainda inquietavam o cenário. Em 1889 a codino-


minada Revolta das Laranjas – encabeçada por estudantes de medicina
furiosos pela expulsão por um policial de uma quitandeira que fazia ponto
de frente a entrada da Faculdade de Medicina – revela um enraizamento
no tecido urbano que desafiava a própria autoridade do Estado. A vitória
dos estudantes, com a volta da quitandeira Sabina vendedora de laranjas
(daí o nome do movimento) para seu lugar na porta da faculdade na rua da
Misericórdia pode ser apontado como um dos elementos que desgastaram
a autoridade do último gabinete da monarquia, e ajudaram, mesmo timida-
mente, na derrubada da velha ordem imperial.

A República não agradeceu. Vistas como “enganadoras da

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Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no Rio de Janeiro 1835-1900

credulidade popular”, desobedientes contumazes do código de posturas da


municipalidade, elas agüentaram – como as rameiras, capoeiras, “ratonei-
ros” (ladrões de residência), vadios, e todos os membros das camadas de
trabalhadores pobres e desocupados do ambiente urbano – o impacto da “
limpeza social” das ruas feita pelo novo regime para permitir a passagem
do desfile republicano.

Mas o maior inimigo era o tempo. Os registros de prisão deste


final de século mostra parco número de mulheres idosas, curvadas pelo traba-
lho extenuante, algumas em condição de miséria tal que acabaram no Asilo
de Mendicidade mantido pela prefeitura. A morte chegou para a maioria
delas antes que o século XIX entrassem em seu crepúsculo derradeiro.

Mas uma nova geração se erguia. Mulheres crioulas, cariocas


ou baianas, envergando os turbantes, o Pano da Costa, as jóias ostentosas
nas mãos, e o indefectível tabuleiro, ainda percorriam as ruas, apesar da
repressão do novo regime. Estas mulheres seriam o elo decisivo que manteve
acesa a chama da cultura mina entre crioulos, cariocas e baianos, do Rio
de Janeiro da primeira metade do século XX, não apenas na formação das
Casas de Santo do candomblé, reduto da cultura religiosa pan africana na
capital federal, mas também na criação do samba moderno, como no caso
da lendária Tia Ciata, ícone da cultura popular do centro do Rio da virada
do século, e bastião desta época.

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Carlos Eugênio Líbano Soares

Notas

*Este texto é parte de um projeto de pesquisa em andamento apoiado pelo CNPq e pela Univer-
sidade Severino Sombra, de Vassouras, estado do Rio de Janeiro.
1
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Livros de Entrada da Casa de Detenção da Corte
(LECDC) no 3969, ficha 909, 16/08/1863.
 2
Jean Baptiste Debret. Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, tradução de Sérgio Miliet, São
Paulo, Livraria Martins Fontes, 1954.
 3 Daniel P. Kidder. Reminiscências de viagens e permanências no Brasil (províncias do sul). Tra-
dução de Moacir N. Vasconcelos, São Paulo, Livraria Martins Editora/EDUSP, 1972.
4 Maria Lúcia David Sanson, Mário Aizen e Pedro Karp Vasquez. O Rio de Janeiro do fotógrafo
Leuzinger, Rio de Janeiro, Sextante Artes, 1998.
 5 A fotografia de Ferrez que mostra as negras quitandeiras está reproduzida em Miécio Tati,
O mundo de Machado de Assis. Rio de janeiro, Sec. Municipal de Cultura, DGDI, 1995, Col.
Biblioteca Carioca, p.131, e também em Gilberto Ferrez. O Rio de Janeiro do fotógrafo Marc
Ferrez: paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro, 1865-1918. Rio de Janeiro, João Fortes
Eng./Ex Libris, 1984.
 6 Thomas Ewbank. A vida no Brasil ou diário de uma visita ao país do cacau e das palmeiras,
Tradução de Homero Castro Jobim. Rio de Janeiro, Ed. Conquista, 1973, pg. 99.
 7 F. Dabadie. A travers L’Amérique du Sud, Rio de Janeiro et environs. Les esclaves au Brésil.
Paris, Ferdinand Sartoriuns Editeur, 1859, p.51.
 8 Charles Ribeyrolles. Brasil pitoresco, tradução de Gastão Penalva. Belo Horizonte-São Paulo,
Ed. Itatiaia/EDUSP, 1975, p. 203.
 9 Outro viajante que se surpreendeu com as minas quitandeiras no Rio foi Luiz Agassiz. Em seus
passeios com sua mulher, Elizabeth Agassiz – também naturalista como ele – pelas ruas do Rio
em 1865, ele afirmou: “É uma raça possante, e as mulheres em particular tem formas muito belas
e um porte quase nobre. Sinto sempre um grande prazer em contempla-las na rua ou no mercado,
onde se vêem em grande número, pois as empregam mais como vendedoras de frutas e legumes que
como criadas. Diz-se que há no caráter desta tribo um elemento de independência indomável, que
não permite emprega-las nas funções domésticas.” Luiz Agassiz e Elizabeth Cary Agassiz. Viagem
ao Brasil. 1865-1866. Belo Horizonte: Itatiaia/São Paulo, EDUSP, 1975 pp. 68-69.
 10 Outros viajantes que mencionam as pretas minas são François Biard, Dois anos no Brasil.
Trad. De Mário Sete, São Paulo, Cia. Ed. Nacional, 1945, p. 43, e Robert Walsh, Notícias do
Brasil, Belo Horizonte, Itatiaia, 1985, p. 501-502.
 11 Nina Rodrigues, Os africanos no Brasil, 5a edição, São Paulo, Ed. Nacional, 1977. Uma
análise crítica deste estudioso e sua obra está em Mariza Corrêa. As ilusões da liberdade: a escola de
Nina Rodrigues e a antropologia no Brasil. São Paulo: FFLCH-USP, 1982, tese de doutorado.
 12
Entre as obras de Arthur Ramos destacamos A aculturação negra no Novo Mundo, São Paulo,
Cia. Ed. Nacional,1942, O negro na civilização brasileira, Rio de Janeiro, Ed. Casa do Estudante

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Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no Rio de Janeiro 1835-1900

do Brasil, 1953, e principalmente As culturas negras no Novo Mundo, 3a edição, São Paulo, Cia.
Ed. Nacional, 1979.
 13 Roger Bastide. As religiões africanas no Brasil: Contribuição a uma sociologia das interpene-
trações de civilizações, 3a edição, São Paulo, Pioneira, 1989
14 Roger Bastide. As Américas negras: as civilizações africanas no Novo Mundo. São Paulo,
Difel/EDUSP, 1974.
 15 Pierre Verger. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo de Benin e a Bahia de todos
os Santos dos séculos XVIII a XIX, 3a edição, Ed. Corrupio, 1987.
 16 Pierre Verger, Os libertos: sete caminhos na liberdade de escravos na Bahia no século XIX.
São Paulo, Corrupio, 1992.
 17 Antônio Carreira. Notas sobre o tráfico português de escravos circunscritos à costa ocidental
africana. Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, 1978, série investigação, 6. J. K. Fynn. Assante
and its neigbours 1700-1807. Illinos: Northwestern University Press, 1971.
 18 Karasch, op. cit. “West Africa” pp. 25-28, e o capítulo 7 “Porters and Property: The Functions
of Slaves in op. cit.”. pp. 185-213.
 19 Lyn Hunt. A nova história cultural. São Paulo, Comp. Das Letras, 1992.
 20 Eugene Genovese, A terra prometida: o mundo que os escravos criaram, Rio de Janeiro/Bra-
sília, Paz e Terra/CNPQ, 1988. Hebert Gutman, The Black Family in Slavery and Freedom,
1750-1925, New York, Random House, 1976. Sidney Mintz & Richard Price. The Birth of
African-American Culture: na Anthropological Perspective. Boston, Beacon Press, 1992.
 21 Hilary McD. Beckles. Natural Rebels: a Social History of Enslaved Black Women in Barbados.
New Brunswick: Rutgers University Press, 1989; Barbara Busch. Slave Women in Caribbean So-
ciety, 1650-1838. Bloomington: Indiana University Press, 1990; Elizabeth Fox-Genovese. Within
the Plantation Household: Black and White Women of the Old South. Chapel Hill: University of
North Carolina Press, 1988; David Barry Gaspar & Darlene Clark Hine. More than Chattel:
Black Women and Slavery in the Americas. Bloomington: Indiana University Press, 1996.
 22 Luís Carlos Soares. Urban slavery in nineteenth century. Rio de Janeiro. London, University
College London, 1988; “Escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX”, Revista Brasileira
de História, V.8, n. 16, pp. 107-142, São Paulo, mar.88/ago.88. Sobre escravidão ao ganho ver
também Marilene Rosa Nogueira. O negro na rua: uma nova perspectiva da escravidão, Rio de
Janeiro, Hucitec, 1988.
 23 De um total de 2.823 africanos colocados ao ganho no Rio entre 1851 e 1870 ele encontrou
pelo menos 516 (18%) de nação mina, a maior nação isolada. Soares, “Os escravos de ganho...”
p.139 tabela I.
24
Maria Odila da Silva Dias. Quotidiano e poder em São Paulo no século XIX. São Paulo,
Brasiliense, 1995, 2o ed.
  25
Sônia Maria Giacomini. Mulher e escrava: uma introdução histórica ao estudo da mulher ne-
gra
no Brasil. Petrópolis, Vozes, 1988. Bárbara Busch ainda tem dois artigos interessantes sobre mulhe-
res e lutas escravas no Caribe. “ ‘The family tree not cut’: Women and Resistance in Slave Family

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Carlos Eugênio Líbano Soares

Life in the Britisch Caribbean” in Gary Y. Okihiro. In Resistance: Studies in African, Caribbean
and Afro-American History. Boston, University of Massachusets Press, pp. 117-134. “Towards
Emancipation: Slave Womens and Resistance to Coercive Labour Regimes in the Britisch West
Indian Colonies, 1790-1838” in David Richardson. Abolition and its Aftermath: the Historical
Context, 1790-1916. Frank Cass: University of Hull, 1985, pp. 27-53.
 26 Luciano Figueiredo. O avesso da memória: cotidiano e trabalho da mulher nas Minas Gerais
no século XVIII, Rio de Janeiro, J. Olympio/EDUNB, 1993. Barrocas famílias: vida familiar
em Minas Gerais no século XVIII, Rio de Janeiro, 1998, Hucitec. E seu artigo “Mulheres nas
Minas Gerais” in Mary del Priore. (org.) História das mulheres no Brasil. São Paulo, Contexto/
UNESP, 1997, pp. 141-188.
 27 Cecília Moreira Soares. Mulher negra na Bahia no século XIX, Dissertação de Mestrado
em História, Salvador, UFBA, 1994. Ver também da mesma autora “As ganhadeiras: mulher e
resistência negra em Salvador no século XIX” Afro-Ásia, n. 17, 1996, pp. 57-72.
 28 Eduardo Silva. Dom Obá II D’ África: vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor.
São Paulo, Companhia das Letras, 1997.
 29 Sidney Chalhoub. Visões da liberdade. São Paulo, Comp. das Letras, 1990.
 30 Flávio Gomes. Histórias de quilombolas. Rio de Janeiro, Arquivo Nacional. Manolo Florentino
e José Roberto Góes, A Paz nas senzalas. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1997.
 31 Mariza Carvalho Soares. Identidade étnica, religiosidade e escravidão: os “pretos minas” no Rio
de Janeiro (século XVIII) UFF-ICHF, História, 1997, p.278
 32 VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo de Benin e a baía de
Todos os Santos do século XVII ao século XIX. São Paulo, Corrupio, 1988.
 33 O melhor trabalho sobre o movimento de 1835 continua sendo REIS, João José. Rebeldia
escrava no Brasil: a história do levante dos malês. São Paulo, Brasiliense, 1986.
 34 Sobre os minas no Rio do século XVIII ver. SOARES, Mariza Carvalho. Devotos da cor:
Identidade étnica, religiosidade e escravidão. (século XVIII) Rio de Janeiro, Civilização Brasileira,
2001. 
35
Sobre as fontes policiais e o medo dos minas ver SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A capoeira
escrava e outras tradições rebeldes no Rio de Janeiro. 1808 1850. Campinas, Edunicamp, 2001,
especialmente no capítulo V o subcapítulo intitulado “O êxodo mina”
 36
Ver SOARES, Carlos Eugênio Líbano. Zungu: rumor de muitas vozes. Rio de Janeiro, Prêmio
Memória Fluminense, 1o lugar, 1998.
 37
Os anos levantados até agora são 1860, 1861, 1868, 1870, 1875, 1879, 1880, 1881, 1882
e 1883, sendo que até 1881 os dados são incompletos para cada ano.

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Comércio, Nação e Gênero: As Negras Minas Quitandeiras no Rio de Janeiro 1835-1900

Abstract
In XIX century the street trade in Rio de Janeiro was dominated by so called
Mina Coast african women greengrocers. They was slave or free and came from Salvador,
Bahia, after the failure of Malê riot in 1835. They achieved the respect of africans and
criollos slaves, freemen and great traders. They became a part of urban landscape and was
portrayed by the travelers. But they also represent a trouble for the authorities charged with
maintenance of public order. The Mina Coast african women greengrocers aided slave
scapes, leaded hidden resistence moviments, and became a thorny problem for authorities
charged with the social control in Rio de Janeiro.

Key words

africans - minas - greengrocers - Rio de Janeiro - slavery urban

R. Mestr. Hist., Vassouras, v. 4, n. 1, p. 55-78, 2001/2002 77

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