Psicologia do Ser:
É um antecessor do trabalho a ser ainda realizado para a construção de uma Psicologia
e Filosofia Geral, abrangente, sistemática e empiricamente baseada, que inclua as
profundezas e as alturas da natureza humana (...) Por outras palavras, constitui um
esforço para construir, numa base psicanalítica geral e numa base científico-positivista
de Psicologia experimental, a superestrutura eupsiquiana, S-psicológica e
metamotivacional que falta a esses dois sistemas, superando seus limites.
Introdução a Psicologia do Ser é uma obra que se pode considerar ainda uma “pesquisa
piloto”, com observações pessoais, deduções teóricas e hipóteses que precisam ainda de
confrontação científica. Mas as afirmações aí encontradas foram redigidas de modo que possam
ser colocadas à prova, ou seja, demonstrar sua verdade ou falsidade, e que possam gerar novas
pesquisas. “Por todas essas razões, considero que este livro se situa mais no domínio da ciência,
ou pré-ciência, do que no da exortação, ou da filosofia pessoal, ou da expressão literária” (s/d, p.
19). É um trabalho tanto teórico quanto experimental. E com base nesse espírito filosófico
científico, é possível extrair algumas afirmações sobre os pressupostos básicos da Psicologia
Humanista de Maslow (s/d, p. 27/28):
1. Cada um de nós tem uma natureza interna essencial, biologicamente alicerçada, a qual é, em certa
medida, “natural”, intrínseca, dada e, num certo sentido limitado, invariável ou, pelo menos, invariante.
2. A natureza interna de cada pessoa é, em parte, singularmente sua e em parte, universal na espécie.
3. É possível estudar cientificamente essa natureza interna e descobrir a sua constituição (não inventar, mas
descobrir).
4. Essa natureza interna, até onde nos é dado saber hoje, parece não ser intrinsecamente, ou
primordialmente, ou necessariamente, má. As necessidades básicas (de vida, de segurança, de filiação, de
respeito e de dignidade pessoal, e de individuação ou autonomia), as emoções humanas básicas e as
capacidades humanas básicas são, ao que parece, neutras, pré-morais ou positivamente “boas”. A
destrutividade, o sadismo, a crueldade, a premeditação malévola, etc. parecem não ser intrínsecos, mas,
antes, constituiriam reações violentas contra as frustrações das nossas necessidades, emoções e
capacidades intrínsecas (...) A natureza humana está muito longe de ser tão má quanto se pensava. De
fato, pode-se dizer que as possibilidades da natureza humana têm sido, habitualmente, depreciadas.
HIERARQUIA DAS
NECESSIDADES DE MASLOW
Imagem disponível
em: Wikipedia
Acesso em 06/03/2017
6. Essa natureza interna não é forte, preponderante e inconfundível, como os instintos dos animais. É frágil,
delicada, sutil e facilmente vencida pelo hábito, a pressão cultural e as atitudes errôneas em relação a ela.
7. Ainda que frágil, raramente desaparece na pessoa normal – talvez nem desapareça na pessoa doente.
Ainda que negada, persiste subjacente e para sempre, pressionando no sentido da individuação (definida
como o processo de realização de potenciais, capacidades e talentos, como realização plena de missão; a
individuação consiste na humanidade plena do indivíduo, no desenvolvimento da natureza humana
biológica e psiquicamente alicerçada).
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17/06/2019 Introdução à Psicologia do Ser de Abraham Maslow :: Sabedoria Política
Maslow acredita que se a verdade desses pressupostos puder ser demonstrada, então
estaremos diante de uma nova visão sobre o homem, sobre o mundo e a sociedade, com um outro
sistema natural de valores e pressupostos morais e, nesse sentido, “Quanto mais aprendemos
sobre as tendências naturais dos homens, mais fácil será dizer-lhe como ser bom, como ser feliz,
como ser fecundo, como respeitar-se a si próprio, como amar, como preencher as suas mais altas
potencialidades” (s/d, p. 29)
Para Maslow a dor geralmente é associada como algo que deve ser eliminada e,
naturalmente, para isso deve ser tratada, mas tem um fator que precisa ser levado em
consideração, pois a aflição e a dor são necessárias ao crescimento dos indivíduos e por isso não
deve ser vista apenas como algo mal, mas como algo com o qual devemos aprender a lidar e
conhecer suas origens.
Por vezes, podem ser boas e desejáveis. Tendo em vista as boas conseqüências finais.
Não permitir às pessoas que expiem seu sofrimento e protegê-las da dor poderá resultar
numa espécie de superproteção que, por seu turno, implica uma certa falta de respeito
pela integridade, a natureza intrínseca e o desenvolvimento futuro do indivíduo (s/d, p.
33).
Mas a Psicologia Humanista não se fixa ou se detém na dor. Ao contrário, defende a ideia
de que é preciso incorporar ao conhecimento a ideia de que o homem tem uma natureza interna
que passa por um processo de desenvolvimento de individuação, além do conceito “de que o
homem tem o seu futuro dentro dele próprio, dinamicamente ativo neste momento presente” (s/d,
p. 42).
Estudos cada vez mais recentes postulam “alguma tendência para o crescimento ou
autoperfeição, a fim de suplementar os conceitos de equilíbrio, homeostase, redução de tensão,
defesa e outras motivações conservadoras” (s/d, p. 49), ou seja, além de lidar com a doença, é
preciso lidar com o aspecto saudável do ser humano. No mesmo sentido em que nós temos
necessidades básicas de ingerir água, aminoácidos, cálcio, etc., as doenças psíquicas parecem ser
também, algumas pelo menos como a neurose, uma doença de deficiência, que se origina na
privação de certas satisfações, como desejos insatisfeitos de segurança, de filiação, de relações de
amor, respeito, prestígio, etc. “Não ocorreria a ninguém pôr em dúvida a afirmação de que
‘necessitamos’ de iodo ou vitamina C. Quero lembrar que a prova de que ‘necessitamos’ de amor é
exatamente do mesmo tipo” (s/d, p. 49).
não pode ser empurrada para diante” (s/d, p. 76/77), o mesmo se passa com o processo de
individuação, embora “não podemos forçar a pessoa a progredir, apenas podemos instigá-la a que
o faça” (s/d, p. 80). Até que se chegue ao ponto em que tudo passa a acontecer
espontaneamente, sem esforço ou obrigação. Quando se sente segura e certa de sua capacidade
de individuação, a pessoa atua não para evitar a dor, o desprazer ou a morte, mas para aprimorar
suas potencialidades internas e em busca do seu auto aperfeiçoamento.
Assim como todas as árvores precisam de sol, água e alimento do ambiente, também
todas as pessoas necessitam de segurança, amor e status em seu próprio meio.
Contudo, em ambos os casos, isso é justamente onde o verdadeiro desenvolvimento da
individualidade pode começar, pois uma vez saciadas essas necessidades elementares
de toda espécie cada árvore e cada pessoa passa a desenvolver-se em seu estilo
próprio, singularmente, usando essas necessidades para os seus fins particulares. Num
sentido muito significativo, o desenvolvimento torna-se, pois, mais determinado de
dentro para fora do que de fora para dentro (s/d, p. 60).
Mas há outra espécie de verdade que somos propensos a evitar (...) também tendemos
a esquivar-nos ao desenvolvimento pessoal, porque este também pode acarretar outra
espécie de medo, de temor, de sentimento de fraqueza e inadequação. E, assim,
descobrimos outro gênero de resistência, uma negação do nosso lado melhor, dos
nossos talentos, dos nossos mais delicados impulsos, das nossas mais altas
potencialidades, da nossa criatividade (s/d, p. 88).
Embora esse medo seja compreensível, ele deve ser superado. Precisamos descobrir em
nós o nosso lado sadio, nossos talentos, ainda que essa descoberta traga responsabilidades que
podem ser encaradas como fardo e, por isso, evitada. Por isso há uma necessidade de , o saber
que nos leva
a uma relação dialética de vaivém que, simultaneamente, é uma luta entre o medo e a
coragem. Todos aqueles fatores psicológicos e sociais que aumentam o medo sufocarão
o nosso impulso para saber; todos os fatores que permitem a coragem, a liberdade e a
audácia libertarão também, por conseguinte, a nossa necessidade de saber (s/d, p. 95).
Essa necessidade de saber se deve ao fato de que podemos e devemos conhecer nossas
potencialidades que nos ajude a percorrer o caminho do processo de individuação e que nos
conduza a níveis superiores de amadurecimento humano. Em tais níveis
E se estas suposições estão corretas, então é preciso investigar o aspecto saudável do ser
humano que nos ajude a compreender melhor esse outro aspecto da nossa personalidade. E da
mesma forma como Freud chegou a suas teorias estudando as neuroses humanas, podemos
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seguir o mesmo caminho mas, agora, estudando pessoas saudáveis, sejam artistas, intelectuais ou
outros tipos de pessoas criadoras, pessoas religiosas, pessoas que experimentam grandes
introvisões psíquicas e outras experiências importantes de crescimento, inclusive a experiência
mística.
Maslow considera bastante significativo que as experiências místicas tenham sido descritas
de formas muito semelhantes por pessoas das mais variadas religiões e em todas as culturas. “Os
grandes criadores, digamos, tal como foram antologicamente reunidos por Brewster Ghiselin (54a),
descreveram seus momentos criativos em termos quase idênticos, embora fossem poetas,
químicos, escultores filósofos e matemáticos” (s/d, p. 114).
Por hora, é preciso levar em consideração as poucas pesquisas com pessoas saudáveis, o
que nos permite pensar que “a doença geral da personalidade é definida como qualquer condição
em que a pessoa fica aquém do seu pleno desenvolvimento, ou individuação, ou plena realização
da sua humanidade” (s/d, p. 228). A principal fonte de doença, nesse caso, mas não a única, se
deve a não satisfação de necessidades básicas e a ausência de necessidades de crescimento, como
o amor, cuja ausência
Os dados até aqui analisados sugerem que estamos lidando com algo inerente à natureza
humana “uma potencialidade dada a todos ou à maioria dos seres humanos no nascimento, a
qual, com freqüência, se perde, ou é enterrada, ou inibida, quando a pessoa é enculturada” (s/d,
p. 171) e que é preciso pensar os indivíduos a partir de suas potencialidades e forças criativas –
que Maslow chama de criatividade individuacionante (s/d, p. 170).
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Considerações Finais
O homem tem uma tendência para “realizar-se”. Esse núcleo interno, esse eu real, é bom,
ético, digno de confiança? Maslow afirma positivamente.
Mas é preciso considerar “que a tendência para evoluir no sentido da plenitude humana e
da saúde não é a única tendência que se encontra no ser humano... podemos também encontrar
nessa mesma pessoa desejos de morte, tendência para o medo, a defesa e a regressão, etc.” (s/d,
p. 188). É preciso considerar as forças regressivas que atuam em nossa psyché. “Também temos
de encarar frontalmente o problema do que se levanta no caminho do desenvolvimento, quer
dizer, o problema de cessação de crescimento e evasão de crescimento, de fixação, regressão e
conduta defensiva” (p. 196).
Mas há um outro conjunto de forças e impulsos que nos direcionam no sentido de uma
auto realização, mas que são facilmente ocultados pelo hábito e pelos valores sócio culturais. “Há
dois conjuntos de força puxando o indivíduo, não uma apenas. Alem das pressões no sentido do
desenvolvimento e da saúde, existem também pressões regressivas, geradas pelo medo e
ansiedade, que o empurram para a doença e a fraqueza” (s/d, p. 197). Mas se por um lado
precisamos considerar as fraquezas humanas, precisamos compreender igualmente suas
tendências sadias, sob pena de cometer o erro de patologizar tudo. Precisamos compreender as
fraquezas humanas porque elas também nos ajudam a compreender o fortalecimento de nosso
processo de individuação. “Somente por uma completa apreciação dessa dialética entre doença e
saúde poderemos contribuir para que a balança penda a favor da saúde” (s/d, p. 199).
Tais princípios nos remetem a algo que está presente em boa parte das religiões humanas,
entendidas como expressões de uma aspiração humana. As descrições fornecidas por pessoas
auto-realizadoras ou individuacionantes equipara-se em muitos pontos, segundo Maslow, aos
ideais recomendados pelas religiões, como: a transcendência do eu, e sua fusão com o verdadeiro,
o bom e o belo, a busca pela sabedoria, a renúncia de desejos ‘inferiores’ em favor dos
‘superiores’, maior amizade e gentileza. Esses aspectos têm sido grandemente negligenciado pelas
atuais escolas de psicologia, e a Psicologia Humanista de Maslow vem para preencher essa lacuna
e contribuir com uma nova visão sobre a psyché humana.
Referência
https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/introducao-a-psicologia-do-ser/ 6/6