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§ 19 Carla Campos
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§ 20
Percepção precisa:
§ 21
§ 18
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§ 17
Metade serpente
Metade águia
Metade noite
Metade dia
Metade terra
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§ 16
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§ 13
Adendo 1:
§ 14
Adendo 2:
Ah... Quando percebo, estou eu aqui, Quando estou aqui, só penso em Filosofia em
divagando no misticismo, este sentimento aforismos.
íntimo de saber algo impreciso. Por isso, às
vezes, ele não me conforma, quero ir além do §2
inexplicado. Pois também existe o mundo E de início já jogo as cartas na mesa e a certeza
racionalizado, de dominador e dominado, uma no chão: todo conhecimento é metafísico.
suspeita história da humanidade, do homem
civilizado, que tenta esconder seus instintos no §3
processo de esclarecimento, matematização
Aqui releio sempre os mesmos velhos livros, e
da natureza, esse ímpeto de espanto
me vejo com mãos trêmulas, porém seguras, na
desencantado pelos relatos fundados na
tentativa – talvez imodesta – de colher em
relação entre causa e efeito. O fundamento da
minha pessoa o fruto da semente plantada
ciência com base na experiência, fuga da
prematuramente pelo discípulo de Dioniso
intransigência do mundo mágico, o mimético
através de seu profeta: agora eu danço com a
com tanto fulgor negado, é para onde retorna
eternidade.
o pobre homem condenado.
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§ 11 §7
Aqui eu estou em contato com a Natureza E é apoiada na crença que eu tive forças para
selvagem: ela é indomada e indomável. É atravessar a ponte entre o homem e o super-
inqualificável. É uma quimera ininteligível – em homem, a ponte que foi o início da jornada para
vão eu busco seu sentido. É uma angústia chegar onde estou. (Quando estou aqui tudo
travestida de infinitos, universos grandiosos e parece mais bonito, tudo faz sentido) – O que eu
átomos mínimos. A natureza ama ocultar-se: quero aqui é Lei, é tudo da Lei. A Lei além do
bem e do mal, a Lei do espírito livre,
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§4 nela não há verdade, é realidade e está dada, ela
é o tudo e o nada, ela não tem idade e está em
Aqui a noite é mais escura e me ilumina uma toda parte. (Mas o coração da terra é meu
única estrela, a Estrela Vespertina, que chamo refúgio, das raízes do fundo do mundo nutro
de a Estrela da Vontade. O anel do retorno é a minha razão e minha ilusão, que diante de sua
certeza de que cada vivência é a única magnitude se confundem. Eu sou corpo e
possibilidade. Faça sua escolha, mas que seja sentidos, eu finjo que acredito na minha
sob Vontade. linguagem.) Além dessa certeza eu sou nada, e
§5 não quero nada além desta certeza. Eu, uma
partícula na beira do precipício: a Natureza me
Aqui eu quebro sem medo todas as tábuas que ultrapassa, eu estou Nela, sou Dela uma
me ensinam verdades. São meras ilusões, pequena parte. Mas sentiria ela minha falta?
invenções demasiado humanas. Pretensas Quantas estações houveram para eu ser quem
vontades de “verdade”, o que existe é apenas a sou e quantas virão para meu esquecimento?
realidade, conceituada pela fragilidade de Deixarei nela meus fragmentos? Alimentarei as
nossas palavras, elas não definem os objetos estrelas do futuro? Sou apenas mais um tijolo no
em sua plena existência, mas apenas o que muro... Um sussurro. Carrego em mim a
podemos alcançar deles com nossos sentidos memória da trajetória dos dias que passaram e
vagos e ideias afetadas por nossa educação. As dos dias que virão, de toda a História.
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§ 23
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que sou para sempre, mas na dicotomia, entre
ser e não ser – eu nunca fui.
§ 24
A certeza da incerteza é a conclusão mais que o temporal lave minhas lágrimas, cure
óbvia e simples. Por isso é verdadeira. minhas lástimas, leve minhas mágoas. que a
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OS POEMAS DOS DIAS DE FÚRIA
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Fúria
que maldições te conjura
Os dias turvos passarão,
e depois pede desculpas.
Passará essa fúria em meu coração,
Passarão a angústia e a solidão?
Hoje não.
Será que meus sentidos mentem
Quando me dizem sentir o que sentem?
A alma presa ao corpo
E o espírito à mente
Me confundem,
Me dizem conhecer o impossível, sensação fugaz
do insensível.
Os dias turvos não passarão
Enquanto houver esta angústia em meu coração.
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andar sozinha nesta noite quente-primavera
impregnada do inebriante aroma das damas-da-
noite, por entre o movimento dos carros e as
luzes da cidade ofuscando de escuro o céu e ver
surgir um fiapo de lua vermelha a sorrir para
mim, faz valer todas as dores e mazelas passadas
até aqui. sim, eu faria tudo de novo para ter a
sensação de respirar fundo o perfume morno de
flor dessa noite de luar quase sem lua. por isso
eu grito e aumento o volume. distancio-me da
terra, eu sou céu também.
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eu sou a bruxa,
que vagueia nas ruas noturnas,
no céu sem lua.
eu sou a bruxa,
que impura
implora pelas mãos tuas.
eu sou a bruxa,
que se entrega obscura
à noite e às tuas palavras sujas.
eu sou a bruxa,
que sem pudor se insinua,
te procurando nua.
eu sou a bruxa,
casta e prostituta,
que com deuses e demônios pactua.
3 eu sou a bruxa, 4
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me marque, me manche, rasgue meus poemas Será que existe vida
depois de ler.
depois de todo esse tormento?
Rasgue meus sonhos depois de me prometer
Dessa revolta que me consome,
ficar a noite inteira e partir antes de
amanhecer. em meu peito aberto em carne, sangue e fome?
cantos,
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Lágrima
Há um profundo abismo
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Rasgue meus poemas depois de ler,
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ESTRELA DECAÍDA
A vulgar,
A majestade.
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Eu sou a Vespertina
A estrela decaída
O enigma da promessa
Ainda não proferida
Eu sou a mentira
Por trás da verdade
Eu sou aquela que tece,
Que faz a arte.
Eu sou a dançarina,
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