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DOI: http://dx.doi.org/10.22296/2317-1529.

2008v10n1p127

PELO ESPAÇO: UMA NOVA ríade de distintos tempos e lugares. O espaço aqui, já
POLÍTICA DE ESPACIALIDADE para adiantar, é um encontro de múltiplas trajetórias,
Doreen Massey cujo arranjo não se conforma à representação de uma
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008 superfície plana e pontual. Espaço não é mapa, adver-
te a autora.
Página a página o leitor debruça-se sobre um
Gislene Santos denso e laborioso raciocínio acerca das características
Professora Adjunta do Departamento e princípios constitutivos do espaço. Em todo o tex-
de Geografia da UFPR to, a autora conversa com diferentes pensadores:
Bergson, Espinoza, Levi-Strauss, Althusser, Derrida,
O crescente interesse que diferentes áreas do co- Deleuze, De Certeau, Chantal Mouffe, Laclau. No
nhecimento e da arte têm apresentado em relação ao entanto, o diálogo mais fino que atravessa e estimula
conceito de espaço, poderia, à primeira vista, trazer aos o seu pensamento se mediatiza com o filósofo Henri
geógrafos um certo sentimento de conquista e confor- Bergson, por sua investidura (no início do século XX)
to epistemológico: enfim, depois de longos anos su- sobre o tempo associado ao espaço. Mas se Bergson,
bordinados a uma representação de mundo comanda- seguindo as pistas de Massey, investe para um tempo
do pela dimensão do tempo, o espaço passa a ser múltiplo e conflui para a idéia de duração como ex-
valorado. A lista desta evocação atual ao espaço é ex- perimento de vida, composto por um presente perfi-
tensa: no cinema, a imagem focada na problemática lado de temporalidades distintas, sua concepção de
dos conflitos ao longo das fronteiras internacionais; na espaço é refém do tempo; o espaço abriga o tempo.
literatura contemporânea, migrantes-estrangeiros Massey aproxima-se de Bergson por sua abertura em
desenraizados em alguma grande cidade e cenas de relação ao tempo, porém, traz um elemento novo: o
violência urbana comumente apresentam-se como per- espaço não é um desdobramento do tempo, ao con-
sonagens e cenários. Na Antropologia, Filosofia e So- trário, espaço e tempo existem em conjunção. Tempo
ciologia, o uso das topologias espaciais também se e espaço são co-constitutivos. Assim, a autora, na pri-
apresenta recorrente. Noções como território, dester- meira parte do livro, teoriza sobre as categorias tem-
ritorialização, fluxos, redes, nações, fronteiras, local, po e espaço e propõe um tensionamento epistêmico
lugar, transnacional, para citar as mais frequentes, de entre espaço-tempo ou tempo-espaço. Não há aqui, é
certa maneira transmitem, em primeiro plano, uma importante que se registre, uma prioridade hierárqui-
clara perspectiva espacial. Entretanto, ao lermos Pelo ca do tempo em relação ao espaço, ou vice-versa. Es-
espaço, livro recentemente traduzido e publicado no tas dimensões se constituem conjuntamente. O mun-
Brasil, escrito pela geógrafa Doreen Massey, a aparente do é temporal e espacial. O tempo-espaço que a
sensação de conforto epistêmico desequilibra-se; em autora laboriosamente edifica constitui-se de múlti-
vez da revigoração conceitual do espaço, nos diz a au- plas trajetórias que se encontram no aqui agora. Se o
tora: “muitos dos discursos correntes acerca da globali- tempo como processo está aberto ao imprevisto, as-
zação fogem do pleno desafio do espaço” (p.148). sim também pode ser pensada a conjunção tempo-es-
A estrutura do livro compõe-se de cinco partes: paço: “Se o tempo é a dimensão da mudança, então o
ao longo das 312 páginas distribuídas em 15 capítulos, espaço é a dimensão do social: da coexistência con-
a autora propõe construir pressupostos e argumentos temporânea dos outros. E isso é ao mesmo tempo um
heurísticos com o objetivo de restituir ao espaço carac- prazer e um desafio” (p. 15).
terísticas e princípios que respondam às questões con- Mas, nesta direção, qual a sua definição de espa-
temporâneas, mas sem cair na apologia discursiva de ço? Quando e como o espaço começa a tomar forma e
que tudo hoje é espacial, e muito menos na inevitabi- a se delimitar? A primeira atenção, seguindo Massey, é
lidade da globalização neoliberal, sedenta por novos lu- evitar cairmos aqui na distinção dada pela Geografia
gares. Parte do pressuposto de que o espaço é produto Humanística entre espaço e lugar. Esta polaridade en-
de relações sociais – relações essas que se formam coe- tre o espaço (hostil, externo e abstrato) e o lugar (refú-
taneamente e cujo emalhamento é tecido por uma mi- gio/pertencimento, sentido, vivido e cotidiano) pouco

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nos ajuda a elaborar um raciocínio espacial. A autora Conceber assim o lugar como escala heurística
não está pré-ocupada em distinguir essas duas noções. privilegiada demanda renunciar a uma perspectiva uní-
Espaço e lugar/local se equivalem. Em rápidas pala- voca de identidade, portadora de paroquialismos e lo-
vras, esse legado em relação ao lugar (refúgio sedimen- calismos exclusivistas. Massey enfatiza a tarefa crítica
tado de formas e heranças que diretamente nos perten- da Geografia: desfazer-se de uma concepção de espaço
cem) deve ser renunciado, pois, podemos dizer, esse como abstrato e do seu contraponto lugar como vivi-
lugar nunca existiu. do para, em vez dessa dupla oposta, advir um sentido
No capítulo 1, a autora apresenta duas propo- de uma política do espaço, dado pelo princípio da “po-
sições iniciais para se pensar o espaço: 1) O espaço lítica da interconectividade”, de um lugar em relação a
como produto de inter-relações – do global ao intima- outro. Não encontramos, assim, em Massey, uma teo-
mente pequeno. Não se trata, nesta primeira proposi- ria fechada, pronta para ser aplicada em estudos de ca-
ção, de uma poética do espaço ao estilo Bachelard. Ao sos empíricos. Não se trata de uma transposição didá-
contrário, o que ela propõe é uma ação reflexiva sobre tica e muito menos de procedimentos metodológicos
uma “política relacional do lugar” – e o lugar aqui, im- para futuros estudos sobre o lugar. O que o leitor en-
portante reiterar, é formado pelo encontro de múlti- contrará é uma profunda reflexão e inspiração para um
plas trajetórias. Este encontro, diga-se de passagem, exercício atento às multiplicidades que um lugar abri-
não é portador de um sentido angélico e adâmico do ga. E, com rigor, a autora analisa várias problemáticas
lugar. A autora mergulha em águas mais profundas e atuais, como: a política habitacional em Londres; a de-
turvas: o local não é a exposição de uma única heran- marcação de terras dos índios Deni, no oeste da Ama-
ça de histórias sedimentadas numa circunscrição fecha- zônia; as políticas localistas em relação ao migrante-es-
da. Para Massey, o sentido do local guarda sua relação trangeiro; a dominância das indústrias financeiras
com outras escalas. Isso não impede que se compreen- globais em Londres; o local como produtor do global;
dam as singularidades locais, mas o lugar é a manifesta- a organização do espaço do trabalho e do espaço do-
ção do encontro de muitas outras heranças e de acon- méstico pelos altos funcionários dos tecnopolos; a
tecimentos em curso, e não de uma única história. apropriação do espaço público urbano; a conexão local
Assim, evitamos cair no sentido de lugar como entre os humanos e não-humanos (natureza); e uma
escala cartográfica e administrativa, e tampouco dire- crítica à adesão das ciências humanas às teorias no
cionamos um apelo à particularidade fechada de uma campo da física, especificamente em relação à teoria da
localidade. Antes de mais nada, locais são processos. complexidade.
2) O espaço como a esfera de possibilidade, de exis- O texto é acompanhado de imagens fotográficas,
tência da multiplicidade, da coexistência conflituosa charges e mapas. O uso destas imagens não deve ser
de muitas outras vozes e trajetórias. Um espaço onde programado como suporte didático para a compreen-
a pluralidade humana e a heterogeneidade estejam são do texto escrito e tampouco como enfeite e/ou
presentes. Assim, ao propor a pluralidade como pres- ilustração. Mas merecem ser lidas como linguagem
suposto para a formação e entendimento do espaço, que, junto ao texto escrito, gera um segundo texto, no
Massey refina sua imaginação e já nos adverte que o qual os objetos e os significados se atritam, abrindo a
sentido de sua reflexão se pauta por um exercício po- visão para a imaginação de um espaço múltiplo de nar-
lítico, pois onde se concebe a pluralidade e a hetero- rações. Massey nos propõe, assim, outro exercício: jun-
geneidade estão presentes os conflitos, as diferenças de to a Espinoza, faz apelo ao experimento da imaginação
uso e distribuição do poder, os consensos, as rupturas do outro, um outro que não se situa necessariamente
e as forças que percorrem e usam desigualmente os re- em alguma localidade distante (quanto mais distante
cursos dos espaços. A força do argumento é dada pela maior a diferença cultural, como nos clássicos estudos
possibilidade de um devir do espaço, posto que aber- das ciências humanas). Não é sobre distâncias métricas
to, plural, múltiplo e em conflito. Ao pensarmos que que trata sua reflexão espacial. O diferente e o estranho
espaço e multiplicidade de trajetórias são co-constitu- não habitam somente o distante; a margem também
tivos, abrimos uma nova paisagem política, composta está no centro. Esse lugar, como experimento heurísti-
por diferentes narrativas. co, ainda está para ser construído.

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Das páginas deste livro emerge um feixe de expe- SÃO PAULO, CIDADE
rimento de idéias, dado pela elegância na escrita, o cui- GLOBAL: FUNDAMENTOS
dado com a textura e o significado das palavras. Qua- FINANCEIROS DE UMA
lidades estas transmitidas pela “boa tradução” do livro, MIRAGEM
que nos oferece a difícil tarefa de conciliar e manter as Mariana Fix
diferenças entre línguas diferentes e criar sobre o intra- São Paulo: Boitempo, 2007
duzível. Ao terminar a leitura, temos um sentido resti-
tuído: o de que o mundo ainda apresenta novidade.
Massey traz um pouco de “ar puro” para a Geografia. Daniela Abritta Cota
“Lugares, em vez de serem localizações de coerência, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação
tornam-se os focos do encontro e do não-encontro do em Geografia da UFMG
previamente não-relacionado e, assim, essenciais para a
geração do novo” (p. 111). A amplitude de seus ques- A transição do regime de acumulação fordista pa-
tionamentos nos permite multiplicar os olhos, gesto ra o regime de acumulação flexível levou, em muitos ca-
esse especialmente urgente para pensar as questões sos, à adoção pelos países centrais de formas mais flexí-
contemporâneas. Há em suas reflexões uma serenidade veis de organização espacial, seja do ponto de vista das
epistemológica para questões tão complicadas e densas, normas de ordenamento territorial, seja nas formas de
como o acesso e controle desigual do poder. Posição es- relacionamento entre o poder público e o setor privado.
sa que somente a maturidade de uma rica trajetória in- Por outro lado, o processo de globalização e de flexibi-
telectual pode oferecer. lização da produção, bem como a quebra das barreiras
Em síntese, para que a teoria de Massey seja com- espaciais (Harvey, 1995) como conseqüência da contí-
preendida, é fundamental termos em mente que sua nua revolução nos meios de transporte e de comunica-
crítica é direcionada a todas as abordagens positivistas ção, reforçaram a política do local e a importância dos
e essencialistas que cultivam uma idéia de lugar cir- lugares, que passaram a competir pela atração de inves-
cunscrito e fadado a uma única identidade. Pensar des- timentos e fluxos de consumo. Nesse contexto, produ-
ta maneira o lugar é empobrecer o cotidiano, as ex- tividade, competitividade e subordinação dos fins à ló-
periências contemporâneas, o mundo e o devir. Com gica do mercado são elementos que dominam a “nova”
todas as implicações políticas, como legado de uma re- forma de se pensar o urbano, constituindo o que Har-
presentação de mundo colonialista, não é mais possível vey chamou de empresariamento da gestão urbana
pensarmos o espaço como superfície plana. Ancorar-se (Harvey, 1996). Tais elementos passam, assim, a ser in-
nesta interpretação é silenciar as muitas outras vozes e cluídos na discussão de políticas urbanas locais mais
muitos outros atores que formam o espaço. Nesta dire- recentes, sendo adotados especialmente por aquelas
ção, as Ciências Humanas e os atores do planejamen- cidades com “vocação global”. Nesse contexto de trans-
to, nas mais diversas escalas de ação, podem e devem formação da “cidade-empresa”, instrumentos de pla-
assumir o compromisso de elaborar uma reflexão e nejamento mais flexíveis – contrapondo-se aos tradicio-
ação política para construção de um espaço heterogê- nais, tanto do ponto de vista da regulação do uso e da
neo, múltiplo e plural, pois essa é a única condição hu- ocupação do solo urbano quanto da governança urbana
mana da qual somos herdeiros. – são colocados em pauta tanto nos países centrais
quanto nos periféricos, a exemplo da parceria público-
privada, que se apresenta como possível mecanismo de
captação de recursos e de gestão pública eficaz, conside-
rando o seu papel na promoção da inserção competi-
tiva de cidades nos fluxos econômicos globais.
Mariana Fix, em sua última obra (Fix, 2007), dá
abertura para diferentes reflexões, nos instigando, in-
clusive, a refletir sobre este tema – a parceria público-
privada – quando investiga as conexões existentes en-

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