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Questões conceituais de
ética em educação
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Doutora em Educação. Professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio
de Janeiro – RJ – Brasil. E-mail: mariasucupiralins@terra.com.br
relate themselves in society and Ethics is the basic foundation to social life.
Before we can observe Ethics in society as a whole it is possible to discover
that Ethics begins in family life. School is the specific place in society that
helps family to build the relation between Ethics and Education. Philosophers
and educators agree about the importance of educating children to be ethical
citizens but concepts of Ethics they may use are somehow different. Relative
Ethics and Universal Ethics are the major groups of concepts that we can
find in literature. We conclude that to become a whole human being each
person needs to feel integrated to humankind and this is only possible through
universal concepts of Ethics.
Keywords: Ethics. Education. Moral. Family. School. Society.
Introdução
Vivemos em uma época em que muito se fala sobre ética, segundo
diferentes acepções, e a partir de conceitos que nem sempre estão alinhados
na mesma direção. Parece haver realmente um interesse sobre questões de
ética, embora não se possa dizer que exista uma prática pedagógica consistente
referente. Nessa perspectiva propomo-nos a refletir sobre questões conceituais
de Ética, especificamente a partir do enfoque que se expressa na relação
com a educação.
Desse modo se entende que o presente artigo não lida com a história
da ética nem pretende analisar os conceitos de ética que foram sendo
construídos por diversos autores. Ao mesmo tempo, não se trata de buscar
um consenso, mas é preciso que se estabeleçam conceitos capazes de elucidar
o termo, que é abrangente e complexo, de modo a oferecer contribuições
para o fenômeno educativo. Assim, visamos a compreender Ética, em um
primeiro momento, para que se possa então partir para a relação com a
Educação. Não se trata de mais um texto de sugestões sobre como deve ser
a prática educativa com propostas de ensino da ética, mas de uma reflexão
sobre ideias ligando ética e educação. Essa ligação existe na medida em que
a sociedade tem o objetivo de formar cidadãos éticos.
Em muitos livros sobre história da ética (M AC I NTYRE , 1998;
SCHENEEWIND, 1998; SINGER, 1997), podem ser encontrados diferentes
conceitos de Ética e em alguns deles existem explicações mais ou menos
detalhadas, incluindo a relação com o conceito de moral e mostrando uma
visão panorâmica da história da ética. Se buscássemos apresentar um estudo
extenso sobre ética, teríamos que alargar este artigo, de modo que fossem
analisados os pensamentos dos filósofos ao longo da História. Não é esse o
Ética e educação
Consideramos discutir as questões conceituais sobre ética numa
abordagem diretamente ligada à educação, porque ninguém nasce ético ou
se torna ético por acaso. Cada ser humano aprende a ser ético, inicialmente
na família e em seguida na escola. Quando se pretende estudar questões
sobre desenvolvimento e ética, inevitavelmente se vai a uma das principais
fontes que é a obra de Piaget (1973) na qual são apresentadas pesquisas que
mostram a progressiva organização da compreensão moral.
Muitas questões se impõem a partir dessas premissas, notadamente as
seguintes: O que é ética? Por que se usa esse termo? O que é educação?
Qual a relação entre ética e educação?
O debate sobre a ética é um imperativo que se impõe diante de
educadores cada vez de modo mais forte principalmente porque educação e
ética são estreitamente ligadas (PETERS, 1967) e não se pode pensar uma
sem a outra. E para que esse debate seja frutuoso, em primeiro lugar é
preciso que se saiba sobre o que se está falando, no caso, que se tenha uma
discussão sobre o conceito de ética possível de vir a ser condutor das decisões
pessoais e sociais.
A discussão hoje sobre ética se apresenta muitas vezes em uma
dicotomia. De um lado se trabalha a partir de premissas da ética universal e
de outro se encontra a perspectiva da ética relativa. Qual o significado
dessas duas denominações? Qual o sentido para a educação?
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Reflexões finais
Ao chegarmos às reflexões finais que ocuparão o lugar das conclusões,
mais do que um ponto terminal, observamos que algumas interrogações
permanecem. Como se podem conciliar as particularidades individuais e
também aquelas de ordem culturais com os pressupostos universais?
Insistimos na necessidade de se conhecer parâmetros que norteiem todos
os seres humanos; no entanto, é preciso que estes sejam coerentes a cada
cultura e façam parte de cada personalidade. Precisamos estar sempre atentos
ao fato de que a fragilidade ética facilmente detectada nas sociedades acontece
porque “falta ao homem a referência à experiência passada, a ancoragem na
história; a relação ao universal; a diferença ou a especificidade da cultura
em relação à natureza”. (ROUX, 1994, p. 95). Esse é um alerta bastante
conhecido também expresso por Arendt (1983), ao relacionar educação,
sociedade e tradição, apontando os problemas existentes na vida diária das
pessoas em suas comunidades.
Essa combinação harmoniosa entre particularidades de cada ser humano,
criações próprias culturais e a universalidade inegável da pertença à
humanidade pode ser alcançada pela construção da ética em educação,
tomando-se como premissas as virtudes aristotélicas. A contribuição do
estagirita permanece extremamente valiosa mesmo depois de tantos séculos
e tem a função de uma bússola que norteia as diferentes culturas,
principalmente pela síntese de humanismo que apresenta.
Ainda que se faça referência, e essa é necessária, a atos de repetição em
educação, é preciso que se tenha bem claro que o desenvolvimento qualitativo
advindo desses é o que importa. Isso principalmente porque “a Educação,
com efeito, comporta uma aliança indissociável entre a inteligência que
guia e a vontade que age” (PINCKAERS, 1979, p. 158), o que nos leva a
enfatizar a liberdade do ser humano. A inteligência e a vontade são os
fundamentos que sustentam a relação entre educação e ética, pois cada
pessoa as exerce e as vive como ser humano livre que é em sua ação na
sociedade. Não negamos que a educação se faz também por repetição, mas
na realidade a transformação qualitativa é que permitirá a cada pessoa a
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