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Sobre o medo de ser flagrado lendo Olavo de Carvalho

Ronald Robson

Fantasia Exata, 26 de dezembro de 2008

Se há uma coisa especialmente idiota a acometer muitos dos leitores, ex-leitores, alunos ou ex-
alunos de Olavo de Carvalho, é isto: desprezá-lo apenas para posar de diferente. Isso possui um
segundo motivo, até compreensível, que comento logo à frente. Mas, de imediato, a causa de
tal rejeição parte da sensação de que toda e qualquer pessoa jovem minimamente inteligente a
existir hoje, no Brasil, não passa um dia sequer sem ler Olavo de Carvalho. E, ora, você não quer
ser só inteligente: você quer ser o mais inteligente. Até aí, não há o que condenar. Obstrução
canalha a essa aspiração, todavia, é este meio escolhido para realizá-la: já que todo mundo está
lendo Olavo, eu preciso rapidamente digerir tudo o que ele ensinou, começar a ler uns autores
nunca citados por ele, e – cereja do bolo – dizer que “Olavo já deu sua contribuição à cultura
brasileira, já passou, agora eu e meus amigos é que vamos fazer e acontecer”. É batata: entro
em blogs de conservadores e liberais e percebo uma espécie de pacto de silêncio em torno a
Olavo após terem chupado seu olho até mais não poder e, sobretudo, até mais não
compreender. Isso é de um receio pueril: medo de se tornar caricato, de ter impresso em sua
testa a marca dos “novos iguais”. Medo, por exemplo, de criar um perfil no Orkut e entrar em
cascata naquelas comunidades correlatas tão ao gosto new conservativebrasileiro: Olavo de
Carvalho, Mário Ferreira dos Santos, Gustavo Corção, Bruno Tolentino, Otto Maria Carpeaux,
José Osvaldo de Meira Penna, José Guilherme Merquior, Ortega y Gasset, Eric Voegelin, René
Girard…

Esse modo de querer fazer-se visto é parte de algo que só vejo ser abordado, e parcialmente,
por Pedro Sette Câmara. Mais de uma vez, já disse ele que a disputa entre conservadores e
comunistas no Brasil é, mais que uma disputa honesta, um duelo de imagens: e o fato de o time
dos conservadores – como alguém já disse – não lotar nem uma kombi é mais um fator a tornar
nossos direitistas uns seres histrionicamente empenhados em empinar o nariz e se
considerarem infinitamente acima dessa coisa que chamamos, com humildade e aquiescência
ao que Deus nos consagrou, “consciência humana”. Aliás, naquela aula estranhíssima – de tão
equivocada – do Massimo Borghesi que está na Dicta & Contradicta nº 2, há, todavia, uma
síntese brilhante do que resultou do desbunde da geração 68 e da french theory (como chamam
os americanos) que a acompanhou: o revolucionário pariu o burguês em estado puro. Pois bem.
De forma similar, porém invertida, o Brasil passa – talvez eu esteja delirando, vendo coisas, mas
vejamos – por um troço mais bisonho ainda: o novo direitista brasileiro age de forma mais à
esquerda que as nossas mais jurássicas esquerdas. Nossos direitistas se idiotizaram antes
mesmo de ter nascido por aqui alguma direita. Ou dito de outra forma: o direitista brasileiro mal
viu a luz e já se pariu à imagem e semelhança do revolucionário em estado puro.

Há algumas características, principalmente na linha mais highbrow, que fazem com que jovens
intelectuais conciliem a defenestração de Olavo a uma mentalidade de gueto iluminado cuja
postura, diante dos problemas da ordem do dia, é em tudo igual à presunção de tipo gnóstico
que ampara a estrutura cognitiva do revolucionário. Há várias, mas, para não tornar este post
mais extenso do que já está, citarei uma apenas: a anglofilia. Algo como querer ser um inglesinho
chique só para zombar desse pessoal breguérrimo que lê o brega do Olavo – algo como querer
levar a sério o personagem que Alexandre Soares Silva criou para si. Porque, de fato, Olavo de
Carvalho não é chique e nem se esforça para ser. E ora: além de ter de ser educado por alguém
que todos os meus “pares” estão lendo, ainda terei de agüentar a breguice desse meu
professor? Enfim: também já é cool ser um conservador elegante e chique. O que penso disso?
Nada. Nem ligo. Eu mesmo sou só um subdesenvolvido falando mal do subdesenvolvimento,
como me descreveria Nelson Rodrigues.

E aqui chegamos ao segundo motivo, mais plausível e referido no início deste post, para a
renegação de Olavo de Carvalho: muita gente em débito com ele agora dá uma de gostoso
porque uns 70% de seus leitores são uns seres nauseabundamente chatos. Mais uma vez, direita
e esquerda batem as ancas: politizaram todos os seus interesses. É, por sinal, uma gama de
leitores que não vai além dos artigos de jornal do Olavo e que se interessa infinitamente mais
por política que por cultura. É uma gente que não dá muita bola à astrocaracteriologia, à teoria
dos quatro discursos, à metafísica cuja ontologia toma as posições de sujeito e objeto como
abstrações e não dados da realidade, à paralaxe cognitiva, à descrição dos mecanismos
cognitivos próprios à mentalidade revolucionária, à dinâmica do Império no mundo ocidental –
e demais contribuições originais do Olavo (sem falar nos empreendimentos editoriais). Só
querem saber de PT, Obama, FARC e vocês sabem todo o resto. De minha parte, acho bastante
nobre a postura de quem se encarrega disso: porque eu simplesmente não tenho saco. Minha
paciência é dedicada a temas e estudos que não me permitem me inteirar tanto quanto eu
gostaria a respeito desses assuntos “da ordem do dia”. Mas sempre acompanho. Só não faço
deles os meus segundos, terceiros ou sequer quartos interesses – pois são os últimos. E,
retornando ao que eu queria dizer – não é possível julgar um autor pelos seus maus leitores.
Mas é isso que se tem feito com Olavo.

Em resumo, eis o fato que tanto incomoda a muitos: a centralidade de Olavo de Carvalho no que
se salvar da atual cultura brasileira. Sua obra transformou os debates intelectuais minimamente
honestos do Brasil em um jogo de cartas marcadas. Uma hora, um irá brandir seu Voegelin na
cara do adversário. Noutro momento, o segundo surpreenderá com uma citação de Rosenstock-
Huessy. Quando o debate se aproximar do ápice, um dos contendores dirá que o outro está
tomando o verossímil por provável, em uma alusão à teoria dos quatro discursos. E assim por
diante.

Mas, afinal, o que fazer quanto a isso? Eu, como sempre (dizem meus inimigos), tenho uma
solução: não fazer nada, apenas continuar estudando. Naturalmente, os meus e os seus estudos
deverão se encaminhar para onde nossas alma, seriedade e dedicação indicarem. Pois, a
propósito, qual o problema em passar dois, três, cinco ou dez anos digerindo um autor? Que
mal haveria, sei lá, em ler Mário Ferreira dos Santos durante a vida toda? Isso é de uma canalhice
que me deixa crispado de ódio – a canalhice de “colecionar” autores “diferentes” a fim de tornar
mais evidente a sua pinta de “intelectual”, como se leituras rápidas e dispersas produzissem algo
mais que cansaço mental.
*

Outro dia, em tom de pilhéria, um amigo me disse que Olavo de Carvalho salvou minha vida
intelectual – ou mesmo minha vida. Que, se um dia eu não tivesse aberto O Jardim das Aflições,
continuaria lendo Hakim Bay e Guy Debord e me lambuzando no ódio de minha impotência. Eu
apenas disse que sim, é verdade, e com uma gratidão sincera. Pois é por essas e outras que não
tenho vergonha de ser leitor de Olavo de Carvalho. Não quero ser diferente às suas custas.

(Alguém poderá perguntar se não tenho nenhuma objeção a fazer a nada do que Olavo
escreveu. É claro que tenho, assim como a qualquer outro autor. Mas não darei isso a público
por um motivo evidente: não passo de um moleque de 20 anos. Se com o tempo, estudo e
reflexão tais objeções continuarem a me parecer procedentes, cessarei de compartilhá-las em
conversas privadas e divulgá-las-ei, pelo menos, em blog. Isso, claro, se alguém além de meus
amigos se interessar pelo que tenho a dizer.)

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