Anda di halaman 1dari 54

Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bettencourt. osb
(in memoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LlNE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razão da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir (1Pedro 3,15),
Esta necessidade de darmos
conta da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
: ,.;::;:-"; ., 'J o•• visto que somos bombardeados por
·r
'1.<" . . . °
°

0, 0 <,.' , numerosas correntes fi60sólicas e


,;..- / religiosas contrárias à fé católica, Somos
....-" ,. assim Incitados a procurar consolidar
nossa crença católica medianle um
aprofundamento do nosso estudo.
EiS o que neste site Pergunte e
Responderemos prop6e aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristio a fim de que as dlÍVldas se
.. dissipem e a vivência católica se fortaleça
-' ... no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Verltatls Splendor que se
encarrega do respectivo site.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. &tevlo BettencouTt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão BeHencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico • filosófica · Pergunte e
Responderemos·, que conta com mais de 40 anos dê publ1caçêo.
A d. Estêvão Benencourt agradecemos a conHaça
depositada em nosso trabalho. bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Índice

o -ABSURDO" CRI STAO .............. . ... •.. . • .• • , ...••• • •. , .. 93

Um livro dllilno d. nole :


"JESUS" por J . E. M. Terra S. J . ... . ... ' . . . ' ... . . • .. .......•.....

O manhmo fUI ArM,lc. ulln. :


"
MOVIMENTOS DE CRISTAOS SOCIALISTAS 109
Eco do Or""I. :
QUE .. A. MEDITAÇJ.O TRAN SCENDENTAL '1 .128

APeNDICE : MeTODOS DE MEDITAÇÃO CRISTA. . . . .. ..... 138

LIVROS EM ESTANTE .• .• •..... . . •.. _. . . . . .. • . . . . . . . . . . . . • . .• . uo

COM APAOVACIO !CLE&IÁlnCA

• • •
NO .RÓXIMO NOMERO ,

Cri.tão s e muçulmanos no Egito. - A. Igreja e o . direitos humono5


eltfavé. da história. A Inquilição. - Um coso de reenco,ncu;õo? -
O testemunho d. Werner von Broun. - O V Encon tro Nocional do
ABESC.

. PERGUNTE E RESPONDEREMOS .

Assinatura anual ...... _. . . . . . . . . . . . . . . . . . .. Cr$ 100,00


Número avulso de qualquer mês Cr$ 10,00

REDAÇAO DE P'R AD!'oIlNISTRAÇAO


Ltvrarla. l\t1sslonAria EdItora
Calx. Postal 2.688 Rua ~Iéx1M. 188.B (Cnsl«:lo)
ZCOO 10.0 00 Rolo de .Jane iro (RJ)
10.000 RkI do laneiro (lU) Tel.: m.ool5:9
o "ABSURDO" CRISTAO -
Março de 1978 é, para o cristão, o mês que, após seis
semanas de Quaresma, culmina nos dias santos da- Páscoa
do Senhor. ~ nestes que se consuma a mensagem de Cristo,
que certamente constituiu novidade grande ou mesmo revo-
lucionâr1a ·em sua época, novidade que, com o passar do
tempo, correu e corre o risco de se tornar rotineira.
Eis por que mais uma vez nos perguntamos: qual seda
a grande caracteristlca da Boa-Nova de Páscoa?
Proporemos a resposta citando um texto do tilósofo grego
Aristõteles (t 322 a. C.), que certamente representa, como
um dos seus expoentes, a filosofia grega pré.cristã ou a razão
e o bom-senso humanos entregues a si mesmos antes de
Cristo.
Dizia Aristóteles em sua Êtica Maior: «Seria absurdo que-
rer alguém amar a ZeUSll I (2, 2 1208) .
E por que assim pensava Aristóteles?

Porque a Divindade há de ser respeitada em seu poder


e majestade. Entre os homens e a Divindade existem rela-
ções de dependência e serventia, nio, porém, as de amor.
Este significaria ousadia da parte do homem. Aristóteles,
em outra passagem, chegava a dizer que o Ser Supremo
(ou o Ato puro) nem sequer conhece o mundo e o homem,
porque estes são finitos; se Deus os conhecesse, seria conta·
minado pela flnitude das realidades contingentes.
Os demais pensadores gregos concordavam com Aristó-
teles em distanciar do homem a Divindade, precisamente
para salvaguardar a Majestade da mesma.
Ora é sobre este fun do de cena que ressoa a mensagem
cristã: qE1e (Deus) primeiro nos amou_ (1Jo 4,19). Real-
mente estes di2eres, em sua brevidade e singeleza, descon-
certwn o bom-senso dos homens e invertem as categorias
rellgiosas da humanidade. A mensagem cristã apregoa. que
o diálogo entre Deus e QS homens tem a sua fnlclativa em
Deus. Este Interpela, primeiro, o homem. como o Amor fe-
cundo, que dê. a vIda à criatura e que jamais se retrata 0'.1
desdiz, apesar das incoerências do ser humano, porque é
I ltua • o nome grego eQulvalonte ao latino J\ipllar a d•• lgna " divin-
dade auprerna.

- 93-
Amor divino, e não humano (cf. Os 11, I. Ss). Deus não
pode dizer Não depois de haver dito Slm, pois, se o fizesse,
não seria Deus (o Absoluto e Imutável), mas homem (con-
tingente e volúvel). Em conseqUênci<l, a atitude do homem
diante de Deus é a de resposta; não é necessário que o h:>-
mem <r:faça artes:. para captar o amor ou a benevolência de
Deus, mas a simples existência de cada criatura é o mais
eloqüente testemunho de que o amor de Deus lhe fol dada,
e dado IrreverslveJmente. Basta reconhecê-lo e corresponder-
-lhe em paz e confianea todos OS dias.
Na realidade cotidiana, custa ao homem crer nesta pro- ·
posição, que vem a ser () âmago da mensagem cristã. Com
efeito, a tendência de todo ser humano é a de reduzir Deus
às categorias de um grande Senhor, que se faz simpático se
os súditos lhe são simpáticos, e vingativo se os mesmos são
omissos ou desrespeitooos. Apesar disto, o cristão é chamado
a vIver diariamente da mensagem de lJo 4,19. Todos os dias
ele hã de lembrar-se de que Deus ê surpreendente ... ; Ele
ultrapassa as categorias do homem não para afastar desde-
nhosamente as suas criaturas, mas para atrai-las mais e
mais .. . Esse mistério do amor de Deus estará patente n8
consumação da história, pois, como diz S. Paulo, co Que o
olho não vIu, o Que O ouv1do náo ouviu e o cOração do homem
não percebeu, eis o que Deus preparou pal'S. aqueles que O
amam:. (lCor 2,~).
Pois bem. Páscoa recorda mais uma vez estas grandes
verdades da fé cristã. Mostra o amor que, depois de ter
criado () homem, se viu preterido mediante o Não dito pelos
primeiros pais nos albores da história. Todavia esse amor
«não se quis deixar vencer pelo mal, mas optou por vencer
o mal com o bem » (Rm 12,21). Por isto o Senhor quis tel.
nlclar a história do gênero humano, cl'land<l da novo o ho-
mem e oferecendo-Ihe reiterado convite para o consôrclo da
vida eterna: Cristo é o segundo Adão que, em nome dos
homens, entra em nova Aliança com o PaI. As conseqül!ncias
do pecado, como a cruz e a morte, ficam sendo a herançn
recebida por nós de nossos primeiros pais, mas dentro dessa
realidade dolorosa Cristo coloca valores definitivos, transfigu-
rando a pobreza do homem, que assim se torna prenhe de
eternidade.
Possam estas verdades gravar-se profundamente no espl-
rito de quantos lerem os comentários que este fascIculo apre-
senta, numa tentntlva de considerar a história de nossos dias
à l~ dos valores eternos!
E·D.
- 94-
« PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XIX - Nt 219 - Março de 1978
I' I' t .. l' ... t'.
Hlln . le,.. ' '';, "-
{' 1":1"'1" RAI.
_-=t(){(~L
Um livro digno de nola: 'fI?----
---_._
"jesus" 1·M
por J. E. M. Torra S. J.
Em .in .... : o prasanl. arllgo condense o eonlaúdo do livro do
Pa. Tlfrtl sobra 111 diva ..... escolas de exagase contemportn ... que aa
16m dedicado lO estudo dos Evangelhos. O panorama começa ' pelo t.t.
lodo da Hbl6r1a das Fonna!, qU9 faz repou •• r I redac;lo dOi Evangelhos
lobr. a pregaçlo dos Ap~.IOrOS e dlaclpulo • •em pretender chegar'
própria pragaçAo de Jesus; dlsUngulr-se-l& ualm o J"UI d. " do Jnus
d. hl.I6r1L Rudolf BI/llmann radlcallzou Isla In" propondo a d,mltl-
zaçlo dOi Evang.lho~. Segulu-se a reaçlo a Bultmann por parta de
lIIulor.. que verificam nlo ler poss rvel conceber a fé no JesUI da preo
;.çlo, sem se admitIr o fundamento d.... f6 na própria hlst6rfa e nu
palavr.. mesmu ds J .. u. de Nant6.
Entre oulras escot.. de eX8gHa recente., merecem atlnçlo a
elc,ndlnava e .. da leologla funcionai ou econOmlca. - A escendlnava
propugnou dlll novo a valoJluçlo da texlO evangélico como eco Ilel dls
uadlç6ea orais que entra os .nllgo. costumavam transmitir Oanulne;mente
o teor da. mens.gens d. S.UII m.slres. A .. cola da leoloola funcionar
orl,nl'·18 segundo outra. premissas: o texto blbllco 010 nos quer falar
de Deu. ou de Jesu. Cristo em .1, ma. tio .omente do qua alonlflcam
(ou da .ua funçlo) plra o. homlns; .1 asta arlrmaçlo ê wrldlca. ela
pode lIer exagerada a ponto de levlr lO ceticismo ou agnosticismo em
relaçlo • Deu. e eo mlllt6rlo de Cristo, como 1.10 .. deu re.lmlnt, no
CI. O da - 'Teologia d. morte de Deus". Esta, porém, lé ta.,. .ua voga
a hoje também lIe acha ultrapasllada.
Em cons.qüêncla, veriflca..e hoja, principalmente na••• colas de
exeg..e calOltca, o retomo a. ac.1taçlo (ou. reartnnaçl.o) do texto evan-
gélico como te.temunho IIdedlgno dI hfsl6tl• • do. dll,res de JesUI.
Embora o eslllo doa evangellsles 010 MJI o da latrfta hlsIOrfoO'lIrra, mas
lenha Inleress•• cat.qu.tlcos, • certo que o. Evangelhos permitem tocar
• realidade da pessoa e da mensagem de J.lua Crlslo.
• • •
Oomentárlo: O Pe. João Evangelista Martins Terra S .J.
acaba de brIndar o público com mais uma de suas obras:
cJesus~. oU melhor, cO Jesus histórico e o Cristo Querigmá-
tioo:t, Ed. Loyola. São Paulo 1977.
- 95 '-
" ePERCUmE E RESPONDEREMOS. 219/l978

o autor percorre as diversas correntes da teologia e do.


exegese que nos últimos decênios se têm dedicado 'à. figura
de Jesus Cristo nos Evangelhos. Trata·se de um Informa-
tivo. que supõe multa e minuciosa leitura e transmite ao lei-
tor a súmula do pensamento de autores que dificilmente s<:
rIam abordados pelo grande público. O Pe. Terra toma-se
assim um gula criterioso para expor as complexas Ilnhas da
pesqu!sa contemporânea rererente a03 Evangelhos.
Dada a Imp0l1âncla do livro, procuraremos, LI. seguir,
apresentar os seus principais tópicos - g Que equivale a
mostrar os rumos da Cristologia bibllca de nossos tempos.
Distinguiremos as seguintes diretrizes exegéticas: 1} O clãs-
slco Método da História das Formas; 2) A radicalização de
Bultmann: 3) A reação a Bultmann; 4) A nova hermenêu-
tica; 5) A teologia blblica como narração; 6) A exeg~e
escandinava; 7) A teologia funcional ou. econômica; 8) A
exegese católica e a volta ao Jesus histórico.

1. O M6tO'do da Histórla das Formas


O Método da História das Fonnas (Formgeschlc1J.tllche
l\lethode) teve origem na ALemanha 10;:0 após a primeira
guerra mundIal, quando K. L. Schmldt (1919), M. Oibellus
(1919) e R. Bultmann (1921) publicaram suas primeiras
obras sobre o assunto.
Este método tenciona explicar o texto escrito dos Evan·
gelhos levando em conta o intervalo que ocorreu entre n
Ascensão do Senhor (30 ou 33) e a redação das diversas for-
mas do Evangelho escrito (Mateus aramaico data de 50 apro-
xlmlldamente t ao passo que Lucas em grego data de c(!rca de
70 e João em grego remonta aos anos 98-100) . A pregação
oral, dizem, durante esses decênios, foi adaptando a Imagem
e a doutrina de Jesus 80S diversos ambIentes aos quais ela
se dirigia. Em outras palavras: os arautos da Boa-Nova pro-
curaram dar a esta um Sitz tm Leben ou um lugar na vida,
um significado especial para os ouv1ntes - o que redundou
numa adaptação remodeIadora da menS8B'em. A tlgura e a
palavra de Jesus foram tomando traços novos, inspirados,
em grande parte, pelas concepções dos povos da Palestina,
da Siria, da Asia Menor. da Grécia ... • a quem el'am trans·
mltldas pela pregação. Em' conseqüência, dizem ainda, a Ima-
gem histórica, real de Jesus de Nazaré, Que vlv~ na Pales-
tina até 30 ou 33, foi transformada ou transfigurada numa

-96-
5

imagem concebida pela ré dos dlscipul08: seria a imagem do


Cristo (Messias, Salvador) querlgmâtico (Isto é, forjado atra-
vés do kérygma ou dos embates da pregação). Dal o pro-
grama que compendla o pensamento dos autores do Método:
discernir as rases ou etapas que vão «do Jesus histórico ao
CrIsto querigm4.ticolI. O que o texto escrito dos Evangelhos
nos transmite, não seria a realidade histórlca ocorrida na
Palestina até 30 ou 33. mas seriam as concepeões subjetivas
dos discípulos de Jesus, que embelezaram ou adaptaram às
suas necessidades a figura do Mestre. OS evangelistas foram
()!; compiladores dos fragmentos literários (ou das formu)
criados anonimamente pelas primitivas comunidades cristAs.
A exegese teria por tarefa tentar reconstituir, através dessas '
fonnas Uterinas das antigas comunidades cristãs e dos evan-
gelistas, o que fosse possivel encontra r do Jesus real e histó-
rico: . . . talve'"i: alguns poucos traços ou dizeres ou ... talvez
nada ... !
O mais radical dos autores da Escola da Fonngesehlchte
ê Ru.dolf Bultmann (t 1976), cujas conclusões principais pas-
samos a examinar.

2. A rodicalização .de Bultmo""


Bultmann se desinteressou lotalmente pelo Jesus da his-
tória: julga mesmo que não se pode reconstituir a imagem
do Jesus histórico, poiS o que o Evangelho nos refere é ape-
nas a maneira como a fé dos primeiros cristãos considerava
Jesus. Mesmo que se conseguisse, com certa probablUdade,
reconstituir o perfil de Jesw terrestre, isto não teria valor,
pois o fundamento e o objeto da fé cristã é o Cristo apre-
goado pela Igreja, e não o Jesus histórico. O Jesus da his-
tória é apenas um profeta, sem dúvida o maior de todos, mas
profeta 'Que pertence ao Antigo Testamento; Ele é um judeu,
e não um cristão, porque cT:stão é aquele que acredita na
mensagem dos Apóstolos e não aquele que (unda a sua fé
sobre uma figura histórIca. Para a fé. basta o simples fato
de que Jesus tenha existido e tenh3 sido crucificado sob P6n-
cio Pila tos.
Bultmann é fortemente innuenciado pelo pensamento
existenclaUsta de Mnrtin Heldegeer. Por isto preocupa-se tão
somente cem o Dass (o fato) da existência de Jesus, e não
com o Wa.. ou o conteú.do dessa mensagem, Por conseguinte,
o cristão, segundo Bultmann, não professa artigos de fé ou
verdades de um Credo. mas procura viver a tese da justifi-
- 97 -
6 c:PERGUNTE E RESPONDEREMOS» 219/ 1978

cacão pela fé, passando da vida inautêntica para a vida


autêntica.
Para um fiel católico, o pensamento bultmanniano é tão
radical ou despojado Que se torna difícil entendê-lo: Q SS.
Trindade, a Encarnacão, os milagres, a ressurreição rorporaJ
de Jesus, os sacramentos . .. , confonne Bultmann, são expres-
sões de uma mentalidade mítica que têm de ser reconhecidas
como taIs, não podendo, pois. ser tomadas como representa-
ções das verdades da fé. Todos esses mitos (ou categorias de
pensamento arcaico) súo apenas a roupagem para dizer ao
homem: c:Converte--te, aceitando a mensagem de salvação que
Deus te oferece pelo profeta .Jesus! E, convertendo-te, passa
de uma vida não autentica para uma vida aut~ntical» Quanto
ao teor dessa vida autêntica, o <:rlstão o deve descobrir tão
somente através da leitura pess{)a] e intima da Palavra de
Deus! t: a eSSe procedimento exegético que se dá o nome de
EntmythologiJierung ou demitiza~ã.o (melhor do que desmi~
t~).
A posicão de Bultmann, extremada como é, provocou
r'épllcas entre os pl'Õprlos discípulos. ~ o que veremos a
s~lr.

3. A reaçõo G Bultmann
Entre os discipulos de Bultmann que começaram a con-
testar as posições radicais atrãs expostas, citam-se E. K!se-
mann, WUlhelm Marxen e H. Conzelmann. Detenhamo-nos
sobre o pensamento do primeiro.
1 . Em 1954 Kãsemann proferiu uma palestra intitu-
lada eDas Problem des hlstorlschen J eSUS:D (O problema do
Jesrn; hist6rlco), na qual mostrava a necessidade de interesse
pelo .JesUS que viveu nQ Palestina. Recusava a afirmacão de
Bullmann segundo a qual nada podenamos saber sobre a
vida e a personalidade de Jesus. visto Que os antigos cristãos
não se teriam interessado pelas mesmasj ao contrário, dizia
Kãsemann, as comunidades primitivas nâo quiseram nem
puderam separar o JesU$ histórico do Cristo da fé; a própria
fé exige que procuremos reconstituir os traços do .Jesus real,
pois em caso contrArio ela faria de Jesus um mito.
Mais ainda : nas palavras que os evangelistas atrIbuem a
CrIsto, pode-se descobrir o modo de pensat' e falar do p~ .
prio Jesus. Para realizar essa descoberta, importa utilizar
não só o método da história das formas, mas também o da
hist6rla da redação: este procura explicar pot' que a prega-

- 98 -
7

Cão cristã antiga se cristalizou precisamente nos textos redi-


gidos dos Evangelhos de Mt, Me, Lc e JOj para tanto, recorre
à critica literária, à estatística de vocábulos, ao exame da
gramática e dos estilos, ao estudo das Idéias teológicas dom!·
nantes. Os evangelistas não foram meros compUadote:> de
dados recebidos através da trnditão oral e escrita anterior,
mas foram verdadeiros autores: cada, qual tem seu estilo
coracterislico, que supõe elaboração pessoal dos dados da tra-
dição; tem também seus processos; redaclonals e seus interes--
SC3 teológicos particulares _ o que não significa necessaria-
mente tenham deturpado os fatos que narram.
Mediante tais recursos podemos chegar ao conhecimento
da figura histórica de Jesus; a pregação cristã não lerá
senão explicitado o qUe jã. se encontrava implícito nas pala-
vras do Senhor. Assim Ktisemann se distanciou de Bultmann.
2. G. Bornkamm, autor protestante. em seu li'ro . Je-
sus von Nazareb (MUnchen 1956) " também se opôs a Bult-
mann. Enquanto Kãsemann dava grande importância âs
palavras de Jesus, Bornkamm quis valorizar principalmente
as ações e a personalidade de Jesus, considerando o impacto
que Ele produziu sobre os seus seguidores; observa que,
mesmo que prescindamos de todos os dizeres messlAn1cos atri-
buídos a Jesus, restam o seu agir e os traços da sua perso-
nalidade - elementos estes nos quais transparece a messla-
nidade de Cristo. A posição de Bornkamm exerceu grande
influência não SÓ em ambientes protestantes, mas também
em escolas católicas; exagerando-a, certos exegetas começa-
ram a negligenciar os ditos de Jesus para valorizar--lhe ape-
nas a acão exercida com absoluta autoridade e liberdade.
Merece ' menção à parte, entre os discípulos de Bultmann,
a escola dita _da Nova Hennenêutlca • .

4. A Nova Hermenêuti(Q
1, A escola da Nova Hermenêutica teve sua origem
em Marburg com os dlsclpulos de Bultmann: E. Fuchs,
G. Ebeling e J. M, Robinson.
As premissas desta escola são as do existenciallsmo de
Martln Heldegger tal como este se projetou na obra .Unter-
1 Em traduçlo brasileIra : "Jesus de Nazar''', Ed, Vozes, Petr6-
polls 19711,

- 99-
8 "PERCUNTE E nESPONDEREMOS~ 219/ H178

wegs zur Sprache:t (1959)', ao passo que as premissas da


hermenêutica. existencial de Bultmann são as da obra «Seln
und Zeib (Ser e Tempo) da primeira Case de pensamento de
Heidegger. Das premissas de cUnterwegs zur Spraehe .. se-
guem·se as seguintes reflexões:
A lif1&'Uagem autêntica não é informativa, mas interpe.
Jativa. Ela visa a produzir nos ouvintes o mesmo evento que
lhe deu origem. Em outros termos: a linguagem não me
transmite conhecimentos objetivos a respeJto de algum acon·
teci menta, mas, antes do mais, ela me conrronta com o
evento e me incita a uma dedsão,. .. decisão que me Jivra
do meu passado e me leva a me construir, a cex-slstere_, a
me abrir às possibilidades do futuro. Não devo procurar no
texto que leIo, alguma Inrormação objetiva, nem o devo ler
com indiferença ou desinteresse. Devo · reproduzir em mim
o próprio evento que deu origem ao texto.
Por conseguinte, seria errôneo querer buscar nos Evan·
gelhos uma informação objetiva sobre Cristo. As afirmações
que' pretendem objetivar (ou transmitir verdades Objetivas),
são mitos; é preciso relnterpretã-Jas do ponto de vista exis-
tencial. Mais: nenhuma Interpretação será. completa se não
se tornar linguagem e não for de novo proclamada na p~
gação (querlgma).
A este propósito seJ~ lícito observar: uma das dimensões
da linguagem é, sem dúvida, a de interpelar o ouvinte e pro-
vocar resposta vivencia!. Todavia, para que a linguagem Inter-
pele, deve ter um conteúdo objetivo e Informativo; caso não
o tivesse, a ciênda e a filosofia não teriam sentido ou seriam
perda de tempo. Por conseguinte, não se pode negar que a
t'inalldade dos Evangelhos era informar, mesmo se a Infor·
mação devia culminar numa decisão de fé vivenclal.
2. Em suma, as varIedades Impostas ao pensamento de
Bultmann por seus discípulos bem mostram que o mestre,
como tal, já foi ultrapassado.
Indicaremos abaixo três pontos, nos quais o fautor da
desmitização esta superado :
a) Bulbnann rejeita logo de inicio o pensamento ohje-
tivante ou a dlstim;ão entre sujeito e objeto. 1; Incapaz de
conceber um discurso objetivo sobre Deus, baseado na ana-
I "A caminho para a IInguIgem".

- 100 -
9

logia do ser. Por conseguinte, recusa-se a admitir o Wle


(corno) e o W.. (o conteúdo) do Jesus da liliIlórla, para
ficar apenas no , ..to Jesus. - Ora note-se que o mais teolo-
gizante dos evangelistas, João, afjnna que o FiL'lo deu a
conhecer o Pai Invisivel (Jo 1.18). f82endo-se o Jesus da his-
tOria, o Jesus que os apóstolos viram. contemplaram, ouvi-
ram e com suas mãos apalparam (lJo 1,2). O Filho tor-
nou-se, pois, «objeto. observado, ou o Wio e o Was "do Jesus
da história. que os Apóstolos observaram e transmitiram cio-
samente (c!. 130 1,1-3). Se elim1namos a objetividade da
vlda de Jesus, Deus não fol revelado aos homens.
b) Bultmann afirma que a fé não precisa da razão nem
exige o sacrificlo ou a renúncia da Inteligência humana . . .
- Náo obstante, ele requer um atQ de fé cego, destituido de
apolo em fatos históricos ou em dados da rWo. Ora isto
vem a ser renúncia à l'8.2ão, sacriticio da inteligência. Acei-
tar Cristo sem alguma razão para fazê-lo signlftca menos--
prezar a intellgêncla do homem.
c) Bultmann responderia que a fé não é profissão de
verdades (Fürwahrbalten), mas ê adesão existencial Con-
fesso o Cristo quando me engajo numa opção concreta de
vida ,a utêntica, ' com renúncia à vida inautêntica. - Obser·
Vé--se, porém, que, antes de assunúr este compromisso viven-
clal, devo compreender, que Jesus ê o Cristoj foi em vista de
todo esse processo que os evangeUstas escreveram os seus
relatos evangélicos i cf. Jo 20,31:
"'Jallua faz, dlanla da sln dlsclpulol. muitos oulros sinais ainda,
qUI nlo .e ach.m escrUOI na.le livro. Eslel, por."" foram escritos
para crerdes que Jesn , o Crlalo, o Filho de Deus, a pila qUI,
c rlndo. lenhals a vida elerna em leu nome".
Por conseguinte, ainda que a ré não seja só profissão
de verdades, não se lhe pode denegar esta atitude; ela é
também a apreensão e compreensão de verdades reveladas
por Deus Pai em Jesus Cristo. Toda a tetologia paullna
tende, sim. a um engajamento, mas supõe a acelta!;'ão, pela.
inteligência, das verdades apregoadas pelo ApóstolO.
Seja mencionada agom

S. A teoJogia bíblica como narra,õo


Uma corrente de exegetas. Independente da escola de Bult-
mann tem-se dedicado ao estudo de determinado tlpo de IJn-
-101-
10 " PERGUl'.'1'E E RESPONDEREMOS. 21!)/ 197S

guagem existente na Biblla que é a linguagem nfllTativn ou


a narração (8 qual se distingue da argumentação e da exor-
tação). Tal corrente compõe-se de exegetas católicos de
orientação ortodoxa, como também de protestantes.

A narração, na Blblia, não costuma sei' simples lrnm;-


missão de noticias sobre algum acontecimento, mas é um
louvor ou também uma profissão de fê no Senhor e na sua
ação salvlfica. O Evangelho segundo Marcos, pol' exemplo,
que é tido como o mal!! antigo, apresenta-se como longa nar-
ração da Paixão do Senhor (esta comeca, por assim dizer,
em Me 3,6); os dizeres de Jesus, tanto em Me como em Mt,
Lc e Jo, são Inseridos no contexto das nnrra,;ões. Isto quel'
dizer que a mensagem cristâ consistiu desde o in icio precisa-
mente na profissão dos feitos salvificos de Deus Pai por meio
de Jesus, isto é, teve desde o começo um caráter 'n arrativo,
laudatório.

A prefc::éncia pela estilo narrativo significa <lU::: os pri-


meiros crisUios IJcm compreenderam CJue nno se pode falar
de Deus tão sOrnC!ntc com argumentos ou raciocínios, mas é
preciso nalTar as Imprevisiveis e surpreendentes Intervenções
do senh-or na vida dos homens. 1; através dos acontecimen-
tos dn história da salvação, cQncatenados entre si pelos nar-
radores bíblicos, que o homem vai depreendendo o deslgnio
de Deus. Por conseguinte, toda narração bíblica vem a ser
também teologia, ou seja, discurso sobre Deus que tem algo
de admiração, adorncão, louvor, etc.

Os méritos desta nova corrente exegética consistiram


em valorizar os fatos dnndo preeminência ao a.conteelmento
~Cristoll mais do que à própria prega Cão de Jesus.
Proporemos agora uma escola que teve grande valor
construtivo, chamnndo a aten;ão para a fidelidade dos evan-
gelistas aos fatos históricos.

6. A exegesn escondincva
Esta corrente teve como p1'Otagonistas oS dois execetas
H. Riesenfeld c B. Gerhardson de Upsala (Suécia). Preconl~
znrn o estudo do judalsmo (em vez do helenismo) como sendo
chave de Interpretat;'ão do Novo Testamento.
-102 -
..JESUS, 11

Ambos afirmam Que a tradição tristã só pode ser devi-


damente entendida se comparada com a tradição judaica,
que deu origem aos dizeres chamados Pirqê Aboth (Tradição
dos pais) . Jesus terá ensinado segundo os métodos dos rabi-
nos de seu tempo, reeorrendo à mnemotécnica e às pará-
bolas. Sabe-se, com efeito, que entre os judeus havia repe-
tidores oficiais, encarregados de transmitir as tradições com
fidelidade perfeita: eram os tannalm. Parles da tradição oral
eram compreendidas em resumos ou kelalot; po:' sua vez,
c;;ses resumos eram decorados pelos seus cabecalhos ou titu-
las, siman.im; a fim de reter a estes na memória, inventa-
vam-se têcnlcas mnemônicas, Ora os Apéstolos c discipulos
de Jesus, como porta-vo2es quallnca<los do ensinamento do
Mestre, terão transmItido a doutrina com precisão c fideli-
dade que se aproximavam das que caracterizavam as tradi-
cóes do povo de Israel. - Tenha-se em vista, por exemplo,
o prólogo de Lucas (1,1-4), em que o evangelista distingue
1) Jesus Cristo, 2) as testemunhas auriculares imediatas da
pl'cga('ão de Cristo, 3) DQueles que receberam das testemu-
. nho.s imediatas. A mesma seqüênciD. se encontra em }Ih 2,3:
~A sa[vncâo comcc;ou D. I\Cr nnuneinc1a pelo Se-nhor. Dcpoi!) foi·
-nos fielmente transmitida pOl' aqueles que a ouviram,. São
Paulo, apesar de afirmar que recebeu sua missão do Senhor
(Gl 1,1), reconhece sua dependência da tradição (lCor 15,3)
e, como os rabinos, mantém as tradições dos Pais (cf. Gl
1,13s; FI 3,55), confronta seu Evangelho em Jerusalém com
aqueles que são as colunas da Igreja (cf. GI 2,9), Por con-
seguinte, o próprio Paulo se sentiu ligado à tradição.

Tendo em vista as premissas aqui expostas, alguns exe-


getas (entre os quais o famoso protestante Joachlm J eremias)
têm procurado descobrir (com êxito), no texto escrito dos
Evangelhos, as palavras de Cristo como sairam dos lãblos do
Senhor (ipsissima. veroo. Cltristi); um espéclmen desses fpsls-
sim& varba serIa o texto de Mt 16, 17-19.

A escola cscandlnav-a constitui assim o mais veemente


desafio que o Método da História das Fonnas liberal de
DibeJius, Schmidt, Bultmann. . . teve de enfrentar. Leva a
ver que n base do texto do Evangelho não é simplesmente a
pregação (o Quedgma) dos Apóstolos, mas é a vida mesma
(os (eitos e dizeres) do próprio Jesus: o Jesus pré-pascal
estaria (e está) na origem da tradição oral e escrita nos
Evangelhos.

-103 -
12 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 219/1918

Apresentaremos agora outra corrente exegética Indepen-


dente do pensamento bultmannlano.

7. A teologia funcional ou econômico


1 . Verifica-se que o centro de Interesses da filosofia
contemporânea se deslocou do ser para 11. Unguagem; em con-
seqüência, muitos pensadores iá não procuram a realidade
em si ou os valores essenciais, mas apenas aquilo que é
expreSSO dentro das limitações dos modos de exprimir.
Ora, dizem vários exegetas, a linguagem biblica não é
essenci~ ou seja, nAo revela as verdades dIvInas como
tais, mas é fUncionai, Isto é, concebida em função dos homens
nas suas diversas situaÇÕes. Em outros termos: as Escritu-
ras não nos comunicam o que Deus e Jesus Cristo são om si
mesmos, mas aquilo que são para nós. Tal linguagem é tam-
bém chamada econômica, porque visa apenas a narrar a ec0-
nomia ou a dlspensacão da salvação aos homens 1.

Como exemplo de linguagem funclonal biblica, cIta-se o


texto de ~ 3.14. Tendo Moisés perguntado a Deus qual o
seu nome, Deus lhe respondeu da sarça ardente: «Eyeh Nher
eyehlt. Ora a tradição grega dos LXX e a laUna da Vu1gata
e dos mestres ocidentais interpretaram essa resposta em sen-
tido metafísico ou ontológico: Deus se teria revelado como o
Ser subsistente.
Todavia esta Interpretação não leva em conta precisa·
mente a linguagem econômica ou funcional das Escrituras.
alh@las a especulações ontológl'Css. Quem estuda acurada·
mente o texto biblico, verlIica que o sentido da resposta. a
Moisés é bem diverso; o Senhor Deus quis apenas sIgnificar:
_Eu sou o que sereb, ou seja: . Eu vos mostrarei por meus
atos qual o meu nomc ... Eu sou aquele que vos fará sair
do Egito e atravessar o Mar Vermelho. Eu sou Aquele que
vos condU2lrá ao Sinal e concluirá a Aliancn convosco. Eu
sou Aquele que fará de vós o seu povo. Eu sou Aquele
que vos fafã entrar na terra prometida... .. Tal foi como sc
julga, a resposta funcional ou econômica que o Senhor quiS

1 A palavra economia vem do grago olkonomla e Ilgnlflca orlglna-


rlarunla a admlnlslraçlo ou a dlstrlbulçlo da bens numa casa.

-104 -
13

dar a Moisés. seguindo a mesma linha, Deus se apresenta


no Apocalipse como "Aquele Que é, Aquele que era, Aquele
que há de vlr~ (cf. Ap 1,4,8; 4,8) .

Nos escrItos do Novo Testamento, fazendo eco 80s do


Antigo, Cristo se apresenta como .Aquele que é . .. »: cEu
sou o pão da vida:., «Eu sou 8 luz do mundo:., «Eu sou o
bom pastor:t, «Eu sou o caminho», «Eu sou a videira, ...
Tais enunciados exprimem não o em si de Cristo, mas, sim,
o qUe Cristo é para nós, em sua realIdade funcionai ou
econômica.
Os autores que desenvolvem o aspecto funcional ou eco--
nOmico da linguagem blblica, não razem senão acentuar wna
realidade; entre eles há católicos (como Dupont, Boismard e
Karl Rahner ... ) e protestantes (como O. Cullmann). - To·
davia pode acontecer que o carátel' funcional da linguagem
do Novo Testamento seja radicallzado ou cultlvad(l exclusi-
vamente. Isto levaria a negar a própria teologia bibllca.
Nada saberíamos a téSpelto do que Deus é em si mesmo;
apenas terlamos a no; ão de .Jesus como Libertador polltlco,
como cO homem para OS loutras», como co Irmão mais
velho», etc.
2. Foi precisamente essa radicalização que ocorreu na
chamada eTeologia da mOl1:e de Deus», cujos arautos são
Dietrich Bonhoercer, John Robinson, W. Hamilton, T. J . J.
Altizer, P. van Burym ...• dos Quais alguns ainda são vivos.

A teOlogia da morte de Deus renuncia a falar de Deus,


alegando que de Deus nada sabemos ou qu~ Deus é um vocá-
bulo sem ressonáncia para o homem de hoje. Contenta-se
em falar de Jesus,... e de Jesus como homem, elaborando
assim a J esulogin I ou uma Crlstologla sem Deus ou uma
história da salvação atéia, essa Jesulogia se interessa apenas
pela repercussão horizontal ou social da pregação de Jesus,
sem admitir o que se chama «o mistério de Cristo•.
Na verdade, a teologia da morte de Deus e a pura Jesu-
logia já fizeram época há cerca de qUinze anos; hGje em dia
são atitudes ultrapassadas, pois se verifica que o interesse
J A Je.uIOiI. ,orla° estudo da Jesus como mero homem e IIder
'oclat. A Crlstologla, 80 contr6rlo, seria o elludo de Jesul como Cristo,
Islo 6, como Melslas, Salvador ou como Deus fello homem.

- 105 - .
14 -:. PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 219/1978

pelo mistério intimo de Deus ê de novo crescente e Que é


impossivel compreender a doutrina e a obra de J esus sem
penetrar no seu mistério intimo. Ademais, verifica·se que
uma J csulogla puramente fu ncional não passa de um sacio·
logismo romântico, demagógico e inopera nte; u m J esus cuja
única significação consiste em ter dado bom exemplo de dedi-
cação aos outros e apregoado lições de moral, pouco ou nada
interessa. Um J esus cuja ressurreição tenha apenas o valor
slmbóUco de um impacto produzido no seio da comunidade
cristã primitiva, mas cujo corpo SI! desrez no tumulo, nAo
pode fundamentar as esperanças do homem sôfrego de vida
e imortalidade. Uma teologia que não esclareça o mistério
do pecado nem o misterio da Redenção, nâo se pode deno·
minar teologia cristã nem ·história da salvação. A fé se
transfonna então em mero sistema de relaciona mento do cris-
tão com os homens e com o mundo.

Resta agora examinar de . mais perto o tema :

8. Exegese católico • volta ao Jesus rustórico


Os exegetas católicos não recusam por completo as idéias
da escola da Fonngc.schiehte (HIstór ia das F ormas), da qual
Dibelius e Bultmann são os primeiros representantes. Sabia-
mente fizeram a sel~ão do que a escola acarretou de posi-
tivo para o estudo dQs E vangelhos. recusando os a busos ins-
pirados antes por pnmissas filosóficas preconcebidas do que
pelo propn.o texto bíblico. Em conseqüência, também os cat6-
llcos .professam que
1) os Evangelhos escritos tiveram sua pré-história, ou
sela, seu periodo de transmissão por via meramente oral.
não havendo procedido exclusivamente da pena e da autoria
dos evangelistas;
2) é muito importante o estudo dessa pré-história, 011
seja , dos ambientes em que a· palavra de J esus foi apregoada
ou dos fatores que Influiram sobre a prega ção cristã em seus
primeiros decênios;
3) os dados consignados pelos eva ngelistas não n os per-
mitem redigir uma biogr afia completa de Jesus no sentido
moderno da palavra, -pois são fragmentos dos feitos e dos
dizeres de Jesus transmitidos sem intenção de se tomar
relato completo ;

-106 -
cJESUS~

4) O texto dos Evangelhos foi redigido a fim de expri-


mir a fé da Igreja e suscitar a mesma fé em seus leitores.
Dal. POl exemplo, a apresentação da infância de Jesus em
estilo mldlAxlco (cf. Lc 1-2; Mt 1-2) ... Este gênero lite-
rário não implica deturpação da verdade nem Invencionice,
mas tão somente enfoque próprio. Esse enfoque peculiar não
nos Impede de discernir as próprias palavras de Jesus em
mais de uma passagem do texto evangélico.
A propósito a Igreja publlcou dois documentos de grande
valor, Que fixaram os Itens acima : a lnstrur;ão da PonUflckl
Comissão Biblica sobre a Verdade Histórica dos Evangelhos
(21/ 04/ 64) e a Constituição Dogmática eDei Verbum» do
Concilio do Vaticano n (1965). Em tais documentos a Igreja
afirma a identidade entre o Jesus da história e o Cristo da
fé. Essa Identidade, ou seja, a veracidade histórica dos Evan-
gelhos é de relevo capital para a teologia católica; com efeito,
a teologia ensina que Deus se revelou aos homens através de
fatos históricos, isto, é, a: por eventos e palavras intimamente
conexos entre sl ~ (Constituição a:Dei Verbum» n" 2); Deus
se manifestou em fatos concretos e na Pessoa de Jesus Cristo,
que viveu na terra em época e lugares bem detenninados.
Os feitos e os dizeres de Jesus podem ter sido transmitidos
em estilo catequético mais do que historlogrãfico;· isto, p0-
rém, não Impede o exegeta de descobrir no texto evangéllco
a realidade hist6rica. Para tanto, os estudiosos estipulam
critérios válidos e minuciosos, que n~te ~rtlg9 vão apenas
enunciados:

1) Critérios primãrios ou fundamentais:


a) critério de múltipla atestação;
b) critério de descontinuidade;
c) crftérlo de confonnidade;
d) critério de explicação necessária.

2) Critérios secundários ou derivados:


a) o estilo de Jesus:
b) a lnteUgibllidade Interna de um relato;
c) Interpretação diversa, mas acordo de base.
-- I o mldran • uma N1rraçlo de fundo histórico que pCe em relevo
o s lgnJncado leol6glco dos falol narrado..

-107-
16 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 219/1918

Observa, por fim, o P~. Terra:


"'A medida QUe •• Investlga,"as vlo avançando, o mat.rls! eva~
O'lIco reconh8<:ldo corno aut'ntlco or••c. Mm cass.r • tende • alc.nç.r
o Evangelho Inlelro. .

Muitos ponlOl . ... nçl.ls I' polarizaram .. adeslo de qUI.e lodos


oa axeaelas. Eliel r.. ulladoa dizem r"pelto aobraludo: a) lO maio
ambienta de JetuI, b) as grandes Ilnh.. de leU ministério, c) lOS grande.
acontecimentos di lU. vida, d) li controvflrtlu com os escribas a farl-
..us, .) .. eUtud. contrastante de .simplicidade e autoridade, I) b fOr-
mut.. da uma Crlatofogla obacura, gl aOI '691a qua rebaixam a Jasus,
h) .. AlCul. da um messianismo 1'0111100 a leml'oral, I) as pretensOe!
&urpreendentN manU.slada. no discurso da montanha com resp.lto 6. lei,
no UlO dO' lermo Abba, em aua asstmlllçlo ao Filho do homem de Daniel,
e na. deelar.~ qua o conduzam" morle, J) .. vocaçlo, mlS$Io, exa"
laçlo. Incompr68ndo, Ir4lllçlo a abandono dos Apóstolos, ele .
. _. Por mala de uma apllcaçlo rlgoroaa dos critérios de aulonllcl-
dade hlstórlea, nlo se pode dIzer como Sullmann: 'De Jasus da Nuaré
nlo se .ebe quase nada', O preconeelto slllem'tlco da SlIIpaltas que
durante quase um .6culo pnou sobre OI Evengelno., pesa agoro, gra,as
ao e.tudo dos crlt6rha de autenticidade, .obre aqueles que negam lal
autenticidade. Elta Invenlo das poslçllea nlo , um retorno 6. Ingenut..
dade acrlllca, mas derlva-te preclsament. di apllca,1o mal. rlgorou da
erllle. histórica que reabilite a 8ullnlfcldad. hlstOrlca do. EvangelhOS"
(p. 145).

9. Conclusão
Nas páginas p recedentes apresentamos as grandes Unhas
do livro «Jesus_ do Pe. João Evangelista Martins Terra. O
autor o termina prometendo outra obra sobre a ressurreição
de Jesus e os resultados da critica moderna, que significam
um retrocesso em relação à picaretagem teológica e exegé-
tica de anos passados.

A tarefa de compendiar e apresentar síntese que o Pc.


Terra se propõe, não é fácil. Em conseqüência, compreen-
de-se que o livro «Jesus. tenha suas repetições, que poderiam
ser supressas em próxima edição, a fim de tornar mais
suave ao leitor a utilização de tão denso livro. Como Quer
que seja, congratulamo-nos com o autor por sua rica produ-
tividade teológica. à qual não faltam qualidade e ni'lel cien-
tificas. O «Jesus. aqui apresentado será útil manual introdu-
tório nos caminhos da exegese dos Evangelhos no século XX.

-108 -
o marxismo na Amértca Latina:

movimentos de cristãos socialistas

Em .rnc ... : Publicamo. abaixo numarosos tfechos de um. Oec,-"


,açto dos BIspos da CoI6mbla atinente ao, · CrI'llos para o SocialIsmo",
O documantl) mostra com rara clateza as táticas dos QUo pretendem
concIliar Evangalho a marxismo; na verdade, deturpam a Imagem do
Cristo, • no"lo de Igreja li .. mansagem evangélica, criando novo Cri..
lianlsmo, que nlo 6 senlo marxismo sob pele da ovelha.

• • •

Comentário: Nos paises latJnos da América e da Europa


têm-se alastrado várlos movimentos de católicos que, sob
diversas denominações. se empenham pela implantação do
socialismo marxista em tais regiões. 1: o q,ue expUca o fenõ--
meno de Que, embora essas nacões sejam tradIcionalmente
católicas, estejam fortemente ameacadas pelo comunismo; é
certo que o avanço comunista jamais poderia ter ocorrido se
não tivesse encontrado conIvêncIa por parte dos próprios
católicos.
Ora diante da sedução que o marxismo exerce sobre os
católicos que o pretendem conciliar com o Evangelho~ a Con-
ferência dos Bispos da Colômbia aos '21/11/76 publiCOU longo
documento de 72 páginas Intitulado ddentldad Crlstlana en
la Acclón por la 1usticiaJo. Tal documento resulta dos traba-
lhos da 32' Assembléia Geral dos Bispos da Colômbia reaJl-
zada em julho de 1976.
O documento foi publicado em Bogotá. com uma Intro-
dução do editor Cedlal, que expõe sumariamente alguns pre--
cedentes dos atuais Movimentos de Cristãos Socialistas. Vista
a importAncla e a atualidade de tais textos, abaixo publica-
remos em traduçãO brasUelra os principais incisos da Decla-
ração dos Bispos da ColOmbia, precedida da Introdução do
editor (será colocado entre parênteses o teor dos incisos
omitidos) ,
-109 -
18 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS. 219/ 1978

INTRODUÇÃO DO EDITOR
_Um(! das carrentes de idéios contarnporl!neos mais perigosos
paro ti fé não só de gronde número de cristãos, mas tomb6m de
locerdotu, é a dos 'Cristãos poro o SOQalismo', Afasta do Cri.to
Redentor e Salvador os .eus membros e provoco con5lantemenle a
hostllldode dos mesmas contra CI Igreia e a hierarquia. O Sodalismo
que defendern, não é um Socialismo demacr6tico inspIrado pelo justo
propósllo de proceder 6 reformo do sociedade atual, mas é Socia-
lislllo movido por concepção agressivo, paro não dint odiento,
revolucionário, como é a concepçao marxisto flogrontemenle oposta
ao Evangelho.

Origem no Chile em 1971

Tal Movimento foi fundado em Santiago do Chile em abril de


1971 por um grupo de oilento sacerdotes e Riligiosos que se reuniram
duront.lrês dias Ide 1.4 a 16 de obritl paro dilcutir a lemo 'A par-
ticipação dos cfillãos na conslruçSo do Socialismo'. Resalveram cola-
borar com os marxistas neua construçõo. Por ido adotoram o mor-
xismo • a anólise que esle foz da lociedad", e de todos OI problemas
atuais, como indr\lmenlo "rineiptll da ,evolucêlo. Desde ent(io o Movi-
Menlo não ceuou de se desenvol".,r não só no Chile, mal tamb~m
no e",ongelro.

Congresso nacionol no Itália


Em novembr(l de 1974, p(lr exemplo, o Movimenta realizou em
Nápoles (ltálio I o seu segundo Congresso Nacional, do qual tomaram
parte cerca de 2.000 peuoas, na moloria estudontes. Deue Congreno
participaram ativamente até mesmo sacerdotes, alguns dos quais
eram muito conhecidos por 'UIlS idéia, aval'1cadas ou mesmo extre-
mistas. O documento final do Congrene declarava que o objetivo
da Movimento era a luto em fovor do Socialismo marxista no 1t61ia
e no mundo. O Movimento tencionava dirigir suo oçào militanl. na
itália primeiramente conlra a Igrelo acusada de provocar alienoçõo
e estar ligada com o Partido Democrata Cristõo; a seguir, contra
este Par.ido mesmo, fundado havia mais de cinqüenta onol por
cal61icos r"'is à doutrina religioso e ,ocial da Igrejo. Dizia a inda °
documento final , 'O Movimento .q uer julgor todo (I sociedade, indu·
sive a r.Ugiõo, as Igreja., as inslitulçé5es católicos, a vida teligiosa,
à luz da on6115e e da crítica marxistas I"

-110-
MOVJMENTOS DE CRISTÁOS SOCIALISTAS

Rápido d.senvolvimento
Por OCOIIOO deu.,. (ongtlHlo, o Movimento já atingirCl grande
número de pCli,el! no Am~rico , o Chile, o Peru, CI Argentina, o Equa-
dor, a Colômbia. Coifa Rica, Porto Rico, Panam6, Cubo, M6;d co,
U.S.A., Canad6; na Europa, a Espanha, Portugal, Fran~a, Holanda,
'6Igica, SulK:ia, Alemanha Federal. O Movimento atingia tamb'm
alguns palsel da Terceiro Mundo.

Preocupações dos bispos


o Movimento fenda-se originado no Chile,... Q Conferinçia
Nacional dos Bispos Chilenos publicou dois documentos a prop6sito,
em 25 105 / 1971 o em 11 / 04 / 1973 respectivamente. Mostrovam o
incompatibilidode da doutrina mar.d lta com o out&ntic:o ensinam.nlo
da Igreja. Em conseqüéncio. as bispos do Chile formularam a con.
clusão nltida e precisa; ' Proibimos aos sacerdotel, Religiosos e Reli·
giosos que fOl;om .porte dello organi:r.ação (Cristãos paro o Soda.
IIsmo) e promovam de olguma formo uma a~ão do gênero do que
n6s denunciamos rlesl. documenIO·)I.

São estes os principaJs precedentes do documento da Con-


ferência dos Bispos da CoIOmbia que abaixo transcrevemos:

IDENTIDADE CRISTÃ NA AÇÃO EM PROL DA JUSTIÇA

Introdu~õo

« l. De acordo com a onllgo e constante tradi~ão opost&lica


do Igreja, nós, Bispos do Colômbia, cumprimos o grave dever de
folor com autoridade reeebidu do pr&prio Cristo lodos as vezes que
certos fulos e afirmações vfm pe rlurbor a cansdência dos católicos
e, em con seqüência, requerem que o magistério dos Bispos se pro-
nunde. fslo missão inc:;umbe a nós como mO'slres .. pOltores do Povo
de Deus. AI palavras que vai dirigimos hole, são o fruto de uma
decisão un6nime tomado na 32' Auemb16ia Geral do Conferindo
dos Bispos que teve lugor em Julho de 1976.

I No. ns, 2· 13 os Bispos c:;onflnuom o expor por qUe foram obri-


gados o se manifestar I.

-111-
2{) «PERCUNTE E RESPONDEREMOS, 219/ 1978

PARTE I , GRAVIDADE DA SITUAÇÃO

1. OS FATOS
U , Convém lembrar ainda, em lermos breves 11 lumórios, OI
falai mols lolienle, que consliluirom, em nosso pais, os ~Iapas suces-
sivol percorridos pelo dito 'Teologia da Libertação',

1.5, Ap6s o fnlSlrada en.aio do grupo de Goleando, realizou-se


om 80got6 119701 um Simp6sio .abre o Teologia da Libertação, Se-
guiu-se-lhe em 1971 , 11 ainda em Bogotó, o Encontro Teológico sobre
a 'libertação no América Latino'. Os dois eventos I;verom, de ime-
d iato, exlguo rClpercussão no &mbila do Igreio. Emboro bom número
de teses .expostas fouem lnaceitáveis e lenham sido o cerne da '\10-
lução ideol6.glc:o pOJterior, 6 iusta reconheeer que an8S dois Encon·
tros deeorrerom em atmosfera de reflexão séria e que os palovrcn
então proferidas guardaram 10m comedido. Mos imediatamente depois
o Grupo denominado SAL (Sacerdotes poro o Libertação ou Sacer·
dotei para a América Latino) irrompeu no ,panorama nacional. Quase
desde o Inicio, vem adotando tom agressivo, linguagem óspero e,
principalmente. manifestos inteneões anti.hierárquicos Q revolucionórios,

Surto de cIlversos grupos I'evolucionários


16. Ao lodo desse, apareceram aultos grupos quo lolvez não
seiam moil do que nomes. mos que assinam (om SAL manifesto, e
ponflêlos revolucionários. Os mais conhecidos sôo: 'Criltaos poro O
Socialismo', 'Crislaos para o lib er tação', 'Cristão~ ó procura', 'Comitê
Inlercullurol para O Diálogo e a Ação no Américo latino ' ICIDALAI,
' Instiluto latino-americ.ono de Paslorol Popular' (fLAPPI. 'Organi-
zocão de Retigiosas poro o América latino' (ORAL), 'Comitê de
Sacerdotes o de Retigiosas para o Defeso das Direitos Humanos'. O
'Servico ~olombiano d e Comunkocilo Soeiol' rSCeS) serye-Ihes de
vinculo de informação e agitoeão. Todol eues Moyimen tos encontram
amplo eco nos revistas de esquerdo. em particular no revido comu·
nista "Alternativo ' de Bogotá .

Tomada de posiçõo nitidamente marxista


17. As fonles d. inspiração ideológico desses Grupos vem, em
grande porte. do estrangeiro. Por conseguinte, não é de surpreender
que lados - ou o único realmente existente - tenkam copiado com

-112-
MOVIMENTOS DE CRISTAOS SOCiALISTAS 21

entusiasma e oa pé da letra OI teses dOI 'Cristãos par:o o SOOoli1lll0',


pouca depois do surto desse Movimenta no Chile em 1972, Assim
deram o último pano, ao menos até agora, em di,~çao do posição
moi. exlremo • totalitária I a adOÇa0 do marxismo, Os nvesmos
Grupos são lomb'm herdeiros e corresponsáveis dos 'Movimentos Sa-
cerdotais da América Latina' que reali<tarom em limo 119741 uma
' ,eunião de diri,g entes'.

18, Dado que a confus60 dos primeiros lempOI Já 'e dissipou,


podemos hoj. observar um processa de sedimentação, que permite
reconhecer OI Idéias pr6prlos e OI atitudes caroderllticOI dos penoos
e dOI Grupos em foco.

-o GrupG SAL. seus componentes


19. O primeiro Grupo é constituldo por 'Sacerdote. para a
LiberlalÇc1o' _ pelas facções que le lhe prendem, Inlegrom-no sacer-
dotes que, no verdade, romperam o comunhão com o leu bispo,
sacerdotes reduzidos 00 estado lalcol e leigos de evidente Inspiroçõo
marxista. Recorrem em võo a uma tática bem conhecida, o sober:
adotam nomel de Grupos que ... ão exidem ou que nSo t6m «)",i,-
tincio, poro dor o imprenSo de que são numero.os. Sob o 'espon-
,obilJdode d. lail nomes, que recobrem o ononrmato covarde c!os
verdadeiras respons6veis, publicam documentos e lançam proclama-
C;6.1 de açôo revolucionária e anliedelial, Nlngu'm .abe donde lhes
chega o dinheiro necessário para luslentar uma tal publicidade.

Membros d. Inslltutos " Pesquisa

20. Um segundo Grupa que nilo é nem hOn'logê"'eo nem orga-


nizado, campreende sacerdotes que fazem parle de Institutos de Pe,·
quisa ou de Cenlros de Elludos, em que sõo numerosos, e aulros que
compartilham os suas teses, Os nus eSeTilo, ,ão polimicos e os suas
inldgllvas trazem o cunho de nltida oposiçlio b hierorqula.

Os sacerdotes que sofrem inflvência


21, Como geralmente acontece em tais situaçÕes, um terceiro
Grupo li representado por .acerdotel dlssemincHlos em todo o par.
e que sofrem a Influincia dOI já diodos. Movidos pela preocupoCão
da Igreja a respeilo dos oraves siluaçõe, d. inlustilÇo, acolhem sem

-113 -
22 ePERCUNTE E RESPONDEREMOS, 219/ 1978

dilcernlmento olguns po.tulados dos seul coleoos, sem medir o 'ler·


dadelro .alcance cU tais lese. e sem le'lor em conta os Qb!etivos coli·
lf'Iados pelos dirigenleJ do Movimento li as estratégias que elle$
adolam. ' . ;~. '~ j )

22 . e_isle tamb'm um número indeterminado d. Religiosol que,


ccnldente ou inoenuamente, le deixam instrlJmenlallzar por essa
mentalidade. Lamenta-se qlJe muitos dela. se afastem da hierarquia,
perco," pro.grenivamenle o fervor reliololo e adotem atitude • .que
reduzem o vida consagrada o simples campromiuo de ordem tem-
poral, quo, além do mais, elat concebem d. modo e,,6neo .

. Po,i~ões matixadas
23 . Nem lodos as Grupos, como tombém nem lodos as pet-
soos, compartilham, no mesmo medido, os idéios e as linhas de con-
duta mendonadas. Existe extenla gama de posições diversa., que
vêio do. mais simpl6rias os mail radicais, .. . posições dOI que se
deixam instrumentalizar e po.icCSel dOI que exercem o lideranco.
Algunl tal'1Oz '1150 percebam todo O alcance do conteúdo doutrtnário
e dos estratégias. Contudo há muitos que aderem 00 sistema na lua
totalidade, vivem conscientemente do mesmo e aceitam toda. os
.uas conseqülncios desastrosas. Isto nõo .; apenas manifesta<:õo da
cri.e que se alastra em todos os nl'leis; trata· se também de uma aeão
ccnc:ertada em plano internacional, (I qual tem por finalidade trans-
formar radicalmente os orandes princlpios da fé c:ot6Ilca. que o Igreja,
como fiel intérprete da Revelaçêiet, sempre ensinou.

2. LINHAS DE PENSAMENTO

Subversão dotrtrln6ria

25. Não estamos simplesmente d!c/lte do proorama de uma


aeão empreendida sob o signo do Evangelho .para responder às e~i­
gêndos do justiça sodgl. Eslomos QuÍltlndo o verdadeiro osso 110
contra OI fundamento. lIIesmOI do f' cat6lica. Não se ~ra~o de ded u-
Çao, mas l slm, d. lubstltuicõo. N60 se t'nI em miro ),orizontes novos,
mas um pretenso Cri.~ianismo novo concebido de modo orbitr6rio e
subleti'lo, sem relpeito à Trodicõo autêntico da Igreja e do seu mo·
olstério.

-114 -
MOVIMENTOS DE CRISTAOS SOCIALISTAS·

A fé como 'praxis' revolucionária

26. Partindo de coneepeão radi/:olmenle antropodntrica, toh


penscdores deduzem da mesma toda. as conUK1Dlndas. Â chove
des!G Ideologia e o seu ponto de partido' o homem de condicão
marGinal. Em conseqDi!ncia, a ff deixa de ur a resposta inl-sral do
homem a Deus que Jhe fala, e lama a formo de I,Ima praxl. revoll,l·
c1on6rio a serviço dos deserdado •. A evan-gell:r.aç(lo .e Identifico com
uma prelenl.a promoçéio humana. Evon.veH:r.ar vem a ,er tomar a
partido dos pobre. - o que Implica foreolClmente o abandono do
pastoral tradicional, qualificada de cHenan'e .. desumana.

Horizontallsmo totat

27. Uma ve:r. odmitldo, ellas premissas, a nova torrente ct.


pen.omento n60 hesitQ em sustentor o primado do tem.poral sobre o
•• pirilual. Ido UI manifesta na aceiloçfto de um horllonla1ismo total,
no qual esl60 ausentes ou deformadas a 'ronlcendtndo e a. pe,...
pectivo. escatol6glcCls da R.deneão do homem por Cristo. Em 101 con·
texto, onde tudo se encontra reduzido ao humano, li! não f poul~.1
falar de pecado pessoal ou d. ruptura dos reloçl5 ... Interpessoais
enlre o "amem e Oeul, mos 'ãa somenle de pecado estrutural 0\1
situação de pecado qu. d.strói o .quiUbrlo social e cria um .lIado
de Inlultlça.

Atitudes polit;_
28. Entendida n.ste. termos, a evangel1:r.aeão nao pode ser
a.polltlta. O homem ...nquanto .er .ociol. é e.,andalmen!e poUtico,
lodes os .eu. 0101, ladol as seus deslgnia., .60 pollllcal. O pr6prio
Evangelho nlio escapa a ena linho de Interpreta(~o I el. não "
openos polllico J f, sim, revolucion6rio e .ubverslvo.

29. Nesse contexto pollli<:o ocorre necessariamente o Clttiea


dai Instituições polllicas, O Estada, afirmam, cem o tipo de Go.... rno
que Ih. , pr6prio, vem o .er uma dos piore. desgraças do pois, pai.
represento e sust.nta a violi!ncia In.liluoonall.z.odo, condenado pelo.
docum.ntos de Medellin. Mais: eSta 'violando Instituclonolixado' vim
a .er também lodos os sistemas polltlcol que não se identiflquem
com a Socialismo.

-115 -
Op~ão pelo Socialismo marxista
30. E claro, porém, que as aspirac:õet. de taiE Grupos nõo se
satisfazem com um Socialismo democrótico. Afirmom explicitamente
que, para analisar a situação de injustiças e dor-lhe remédio, ó pre-
ciso aplicar o dgido esquemo marxista de domlnio-depondên.eia-liber-
loção. No M;U d.senfreado compromisso em favor do .xtremismo de
esquerdo, declaram sem hesitar que, com a análise marxista, foi des-
coberta o verdadeiro ciinciCl que permite compreen der e Qplic:or o
Evangelho. Por conseguinte, professam, um dúvida nem escrúpulo,
o lua opc80 d efinitivo pelo Sodolhmo mor.dsto. Quem nóo foz 101
apçóo, nfto & outlntico cristão; é um herele. DtI mesmo forma ; o
socerdale que !'Iao se empenhe em prol do re volução de tipo mor-
.isto 6 Infiel â suo missão e se lorno cúmplice de conlro-tes temunho
Implrdo6ve l.

Manipul~~õe$ da Sagrada Escritura


31. Para t.ultenlor todos enos teorias, 0$ 'Cristãos para o
Socialismo' viem-se obrigados G p ar o môo .obre o S. Esc, ituro como
se esta fosse algo q ue lhes pertenceue e do quo I poderiam usar e
abusar, São ntfleientemente conhecidas as inlerprelcu;õel fonlasislos
pelas .quol. ele. fazem o Palavra de Deus dizer tudo o que tencionam
dizer. O .Ellodo, .01 Profelof, O Naya Testamento foram por eles con-
vertidos em canteiro donde extraem a leu bel-proter os elementos
de base sobre os quais edificam a sua id eologia . Protendem desco-
brir 01 um Cristo poUlko, revolucionário, a pregar a .ubversÕo. Tal
6, segundo eles, a único interpretação postlvel da p.essoa e do obro
ct. Jesus, Em conformidade com essa ima,gem, q ue ele. con~i deram
como o Imagem autln tica de Cristo, elcH tencionam mudar QulroS!im
CI maneiro de conceber Cl l'itreia. redofini, o esta e lazer dela um
instrumento eficaz do revoluc;ão. Por conseguinte, criam para si outrCl
Igreja, diferente daquela que n6s conhecemos; Igroio de opcões
puramente tempato ls e, conseqüentemente, levado o militar em favor
do Sacio lilmo morxlsta.

Profetismo intempcrontc

Como li nat ural, de toÍl premisto, res ulto o relelcao do maals-


Urio do Igreja e do doutrino social catóttco, aos quais se substitui
um 'profetIsmo' intemperanle, anti-hierá rquico, negaliYo, livre de lodos
o. regras, exercido por quem qver que orbitroriomenle le jul gue cho-

-116 -
M'OVIMI!:NTOS DE CRISTÁOS SOCIALISTAS 25

modo Q tania. Elu clima de autonomlo <lelcontralada 1."ou a con-


e.ber CI "ida co",otjrada do, romunidod"" relitjiosils como critico
prof.tica do inltituic:lio hierárquica, Dlllo tudo se leguem uma nova
Igrela e um no'lO mogi.tório, a tal ponto que, ..,gundo prop6litos
não diuimulados, ha .... rio uma '16 I,lilrejo, na qual hierarquia e Ins-
tituiç&o estariam completamente suplantados pelo 'carisma' deues
pretensos profetal,

A Igreia acusodc de cumplicidade com o opressor


32, De tois concepcões decorre o maneiro de interpretar o
açõo da Igreja no curso da hist6ria, Partindo de pressupostos que
deformam completamente os folOI nistóricos e o sentido do minão
....onoeti:Lodoro do Igreja, eues Grupos de erittãol socialistas ousam
difundir o idéio·colúnia de que o Igreia no Col6mbkl, duronte quase
cinco sécu los; sempre foi um fator alienante, mostrando. se a oriada
do oprenar (antro OI opirimidos, vl ...endo longe dos pobre. e tomando
partido, em todos os oco.iõel, pelo sistema vigenle ti OI clones pri.
vllegiados, Com outros palavras; pintam o passado com OI cores
mais lombrios, como "t"ril em frutos de autêntica evongelização.
Por conseguinte, paro construir o futuro, dev.rtomos comecor do es·
laca :Lera, Somente o partir de ho!e na ...erô umtr .... rdodeiro Igr.ja,
o Igreja deles, o .q ue chamam 'o Igreja dos pobres',

3. AS ESTRA reGIAS
Criticas acerbas e Invectivas
33, Os que od.rem a eno corrente revolucion6,io l enfatizam
a s suos idéias mediante atitudes caract.rbticas, que ião quase sem-
pre conlr6rios os normas .Iemenlores do respeita devido li p.UOQ
I1umana. lrCllam OI leUI advers6rios, ilto " todos OI que não estão
com eles, em lermOI duros que trClduzem o lua permanente hostH1dad.
interior.

34. Em relação ti hierarquia, usam upressõu " ...erol de crl-


rico. de rejeição, que repelem sistematicamente, no Inl\lllo .... idente
de ferir o prestigio do muma e impedir a suo mina0 docenle. A
oeõa padorol dos Bispos é o obj.tiva dos suas piores in .... ctivos.
Vllom assim a produzir um V<lzia no dodUdode do. fl.b e deixar
o campo li... re para o lrrupçõa do seu pretenso profetismo. Em per-
manente at itude de desafio, infrl110el'l\J IIstematicomenle lada. ai dis-
pa,ieões do Igreia referentes à Q~ÕO palilicCl dOI fiéIs,

-117-
cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 219/ 1978

Por que os sacerdotes guardam o anonimato


35. Os sacerdotes comprometidos neue Movimento, opelar dos
condenações que eles proferem contra o clericalilmo, abu-Iom do
sua condicõo do membros do clero., •• apego .... ob.tinadomenle ao
leu estado clericol, a fim de, como di:zem, transformar a Isrejo de
den'ro paro foro. Islo equivale o dizer que ficam numa instituição
que eles não amam, para deSfrui·lo com mais facilidade .. eficódo.
Quase todos ocultam culdadOlomente a lua pertin'nda 00 Gru.po
'Sacerdotes paro o Libertação' ou 001 .grupos similares, (I fim de
.vitar os poulveis problemas. censuras. Este Clnonimoto Ih •• con·
f.r. a mobilidade de que precilam poro ler !em o Jlarecer, para
loncar o clordo, nao (I partir do campo apodo, mas a partir do meio
mesmo dClqUel.i que eles combatem. AI6m dlslO, o anonimClto lhes
urve de t6tica h6bil paro dor (I Imprenão d. que sao muitos e de
que os .euI Grupos sao numerolos.

Procedimentos demagógicos
36. Não s6 criticam o Igreja porque Ela se declaro neutra
em matéria polEtico, mas desejam lev6·lo a adolar, como único opeõo,
OI proce&mentol, os lulas e Q ideologia do marxismo. E, visto .que
Ela não CI 'OI, acusam-rt(l de estar aliada ~m os poderosos e ser
lmenlivel ao sofrimento dos pobres.

37, N50 reuiam recorrer a procedimentos demag6gico" nem


mesmo participar ativamente de situações de de.ordem. Onde- quer
que haja um problema de ordem social, envenenam o conflito e
declarom·se prontos a prestar o suo colaboração efiGaz, 11m consi-
derar o lustica ou a Inlustlça da causa que sustentam, • sem se preo·
cupar com o dono que pOliam caUlor ôquelel meSMO' que- e-18I
~o1ecem proteger, excitando·os a uma luto sem solucao. Solidários
tom todos os Movimentos de esquerdo, envolvido. em quase todos
os caso. de perda de emprego, chegam o tal inversão dos valores
que- as greve .. ~. fozem nas igreias, ao pano que as Mistos tim
lugar nas ruas. Eis o tribulo pago à demagot;lia.

Instrumentos dê publicidade
38. Panflelas, bolelins, 'olhas volantes, public:aCÓfl periódicas
de quo'idade medíocre e de linguagem pouco cortês servem· lhes
como instrumentos de difuslio, por vezes clondestinos, em todo a ler·

-118-
MOVIMENTOS DE CRISTÁOS SOCIALISTAS

rit6rio nacionCl!. Mas nõo esquecem OI relaç5es internocionais, Algu-


mas aglndos de Informoc;6es e serviços d, imprenSG no América e
no Europa, até mesmo revistos reli9!o~, publicadas no Espanhoo,
dóo.lhes amplo oco, difuIldindo seul programa., os notlaal defar·
modos por eles e, ocasionalmente, OI SUOI calúnias despudoradas con-
tra a I;reja do Col6mbia e .eu episcopado.

Graves abusos na liturgia


39. O mais graVe Clbuso que. coml!!tem, é 1-OIvez a inshuman·
tOIl2C1(êio da Utur;ia. PClro el&s, a Eucaristia deixa d. ser o Soai·
ffcio • Q Cl!!ia do Senhor ; torna·se meio de 'conscientiõloçQo', Instru·
menlo do lula revoluciongria, ocosião de orl"90, polltico •• A tal
ponto que nada os Im.pede de infringir toda. OI normal do celebra·
ção e ;nvenlor, segundo a sua fantasia, oroç~es. f6rmulcn e çÔnti·
cos qlle tiram da Lituriia o .eu sentido ICIgrado e o Iransformam
em 010 d. protesto .e convite à revolta, Â Eucaristia ollim profanada
não constr6I uma comunidade de irmãoll serve, onles, o animor um
encontro de camaradal.

Par.a cumprir nosso dever de pastores


<10. O que acabamos de dizer a respeita das id"al e das 16·
ticos do. 'Cristõo. pato o Socialilmo', evidencia bem a g,avidade do
momento e a urgindo do nOIlO dever de pallo,es. Donde a premente
necessidade que nos incumbe, d. faze, ouvi, uma palavra que lida·
teça lodos os fi';s. lhes da segurança e Ih .. diga o verdade. Eua
palavr.Q .,tá em plena conformidod. com o magisl'rio do Papa e
com o. ensinamentos das Bispos. E uma expre.uão do colegiolidade
epllcopol,

I No n' .4 1 começa a Parle 11 do Documento, no .q ual o. Bispol


ex.pÕlm e criticam os conteúdos ideológicos do. Movimentos moral,lo.
que elel denunciam. Tal parle consla de oito copilulos I 1'1 O pri·
meiro dado õ polltica (n' 41.75], 2'1 A oceitaçáo global da anã·
Ibe morais~o (n" 76-85) ; 3' 1 As atitude. de conflito e a opçõo
pela Sodolismo marxista Cn' 86.1041, .4'1 Ignorando do mistério
da Igreio e aloques contra esta (n' 105·129J; 5'1 Verdadeiro e
falso profetismo [n' 130· U 11. Chegamol anim aOI capitulol 6 e 7,
que vão abaixo reprodu2idoll.

119 -
2S cPERCUNTE E RESPONDEREMOS . 219/ 1978

PARTE 11: CONTEODO IDEOlOGICO E CRITICA


6. 'RREITURA' DA PALAVRA DE OEUS

Bíblia e programas revolucionários

1.42. A ideologia marxista, para quem a adota, JII!netra todos


OI aspectos do 'lido da I,o relo/ atinge-a mesmo na suo fonle, que é
a Palovra de Deus. Interpreta os texlol do Antigo Testamento em
sentido meramente pOlítico e cpresanta o livro do E:xodo, antes do
mais, como e.pop'la revolucionária, modelo daquela que os cristãos
'engajados' deve riam realizar hole. Os texlos dos Profetas sao des-
tiluldo. do -seu e.pírito orioinol CI . ervem como programas de caráter
subversivo . O Novo Teslomento é submetido 00 um ona lto em regra,
cuias despojaI são, o seguir, diltribuldos aos fiéis como se se tro-
lane de conquistas madu ros e defi nitiv.Qs do exegese. As bem·oven-
turoncas evangélicos e o 'Mognificot' do Virgem Mario seriam pro-
gramai revolucionários que encontram o seu sentida re matado no
herohmo dOI mártire s da novo fé, Isto é, no dos gue rrilheiros latino·
.amerkonos. apresentados como m"!icos do mais alto nlvel. Encon-
tramo-nos assim d iante de into lerável o lleracão do Palavra de Oeu l.

Repercussão na c.crteques&

143 , Eua 're leitura' é aplicada numa pretenso evangelização.


que se redu:: li conscientização revolucionária, e numa catequese em
que ocontecimentos poHlicos ou certo praxls revolucion6ria (tal como
CI desenvolvem Grupos de ' Cristão. para o Socialismo' e 5imilares)
'amam o lugar que a Igreia reservo li Revelacllo Divin a , Poderíomos
multi plicar os exemplos concretol,

Em vários tipos deno catequese, a realidade da Aliança, que


JUpõ. o encontro penoal c comunitário com o Senhor, pO ISO paro
o segundo plano, assim como o mistério do pecado pessoal. Tudo isto
desconcerta 00 máximo as comunidades luieitos o abusos d~ 101
.9'nero. Quanto 00 pecado social, reduzem-no simplesmente Q ques'
tões d. estrutural.

Recorrem o textol pseudolitúrglcol. que antes parecem manifes·


tal ou proclamocões pollticol. ou ainda o canclies conlellolóriclI. que
lIupaem um quadro bem divetlo do dOI lugar"" logrados.

-120-
MOVIMENTOS DE CRISTAOS SOCIALISTAS 29

o Evangelho eansiá.rado Cf luz do marxismo


144. Sabemos qu@ 101 ,i'uocõo ocorre também em outros. paI.
se, do América lolino. Há alvum tempo, os Bispos chilenos denun-
ciov.om, em 10m de alarme, abusol e exogeros lemelhante.:

'Surpreendo-nos a e.tranha Inferpretoçêio do Evonselho que os


'Crllfiios para o Socialismo' propõem. Para eles, a mensagem evan-
gélica não seria, em primeira plano, étlco-rallgio5CI e, por "Ia de
conseqüfnda, tambfm sodal, Ao contr6rlo, as realidade. $Obreno-
turals do Evong.Jho - o Reino, a caridade, os sacramentos - são
considerados corno sinal. e iMagens . s r.alidaoes temporais, ltto
., dos regi ....es, des classes seclak, das es.truturas nas quols a Int.n!:;ão
e a palavra de Jesus. deveriam encontrar o sua ~IiJa,ão. Para que
o palavra de Crlsto foue plenamente vivida, teria sido nec:essório
es.perar durante dnertOve Nado. o aparedmtnto de uma clfnda
mediadora - o método mondSkr - , que 'feria vindo ensfnor-.nos
como as e-stnlhJra.s transformam o coração humano, e não vlcoavena,
Tal dfnclo levaria a. uma reinterpretaçcio radlcol dos Evangelhos,
a qual nos revelaria o ~ntldo mols profundo e originai dos mesmos:
a libe-tta são.revc.lução. Ora. a.firmamos que e-ssa pretensa exeg.se
não é senão unta Interpra losão ao av~ da Clbra e da palavra de-
Jnu., da. sua. parábolCtl e dOI MUI mllogm, do SUO morte • da
wa rM«Irrelçéo, mistérios es.tM que SlmP", fortlm • serão compreen-
didos pl!la IgreJa em seu senlldo original e tlHnclal, como o. com-
preenderam os AlIÓSlolol. Nó. OI rec:ebtmos da TradlSão apost611ca,
sem a medloção de alguma 'ellneio', Esta, sob pretexto de lançar
moh luz tob,. OI Evangelhos, ch~a a desnoturar e mesmo inverter
o sentido dos mesmos.

145. Se o Cristo 'tIvesse tido em mira essa. 8Spé-cle do simbo-


lismo contr.6rio ~ suo meNagem - a palavra 'povos' slg"lncando
' classe.s', 'vlrtudn' significando 'slsltmIH' ou 'r'egi...os', 'bern-aventu.
ranças' significando ·..,.",.turos', 'conval"Sêio' dfllgnande ',.voluCão'.
'lQC1Qmentos' .~nifi(ando 'partidos' ou 'grupos JOdal,' - . Ele 1'10-10
teria dado a saber'.

A pregação , muitas veze' afetada

'.6 . e triste verificar que essa infeliz eJleg&le atingiu a pre-


gacõo de numerosos sacerdotes, A adulteracao da I' produzida por
falso Interpretoc:So da Elcrltura, enconlramo·la não somenle entre
OI 'CrislSos poro o Socialilmo', mos também nos: out'OI QI,~pal que

-121_
30 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS , 219/ 1978

,usten'(lm fundamentalmente ai mesma. id.éias, principalmente a.


que denunciamos na primeira porte do nouo documento. Assim é
viciada uma evangelizaçao que deveria ler fiel à moeão do Esplrilo
• â inteneão da Igreja .

Profanar a Polavr.a de Deus


147. Interpretar tôo obusivomente a S. Escritura, tornando·a
arbitrariomente um instrumenlo de conscienti:z.oçôo mar.isto, significo
r<lmper de maneiro C'OIlIdente e livre a comunhão com o Igrela •
profanar gravemente o Palavra d. Deus. O verdoMiro fiel. e cem
moh razão <I locerdote, ,ab. que '(I e ncargo de interpretar autenti-
cament. a Palavra de Deul, elcrila ou tranJmitida de viva voz, foi
confiClda tao lamente ao Magistério vivo da Igreja, cuja autoridade
.e e xerce em nome de Jesul Cristo' (cf. Constituição ·Dei Vetbum'
n' 10) ,

'48. No mesmo sentido, Paulo VI denuncio a lemeridade da-


queles que 'de.cancerlam lodo a comunidade ede.iol, nela "introdu-
zindo o fruto de teorias dialéticas estranhaI 00 espirilo de 01110,
e que utilizam OI palavras do Evongelho, alte ra ndo o seu signjficodo'
(Exortaeêio .Apolt6Iico sobre o Reconciliação no seio do Igreja, n' 3,
16/ 12/19741.

'49. O mes",o Pontlfice reilero o seu ensinamento na Exorta-


ção Apostólica 'Evangelii Nunt jandi', onde insiste lobre o conteúdo
da verdadeira libertação e lobre o necellidade de superar as am -
bigiiidodes I

• • . . A lerelo tem a Arme convicção d. que toda liberla~õo .eM-


poml, toda libertaçõo política - mesnto lfUe era por.venturo se esfor-
{Ode por e ncontrar nulnCl ou noUha póglna do Antiga ou do Novo
TedallHlnto a pr6pria. lurllflca,ão, mHmO que ela reclamaSH para
os seus poshllados Ideológicos e para as MIas nOf111as d. o,ão a auto-
ridade do. dado•• das conclusões teoló8'cas e mesmo que .Iu pre-
tendesse ser a teologia pCUQ o'" dias d. hole - encerra em li mesma
o gérmen da suo própria nega{áo e desvla-.. do ideal que se pro-
põe., par i., metmo que as suas motlva-s:ôet profvndcu não são as
da )llstlsa na caridade, e porque o impulso que CIo arrasta não tem
dimensão verdadeiramente esplriluol e a lua último finalidade não
, a 5Cllva~õo • a bem-ove"turan~a em Deus' Int 3S} •

-122 -
MOVIMENTOS DE CRISTÁOS SOCIALISTAS 31

7. UM NOVO JESUS CRISTO?

o 'Subven'vo de Nazaré'
150, Alguns es~itol derivados ele tois Grupos qu de seus mem·
bral apresentam o Cristo como 'o Subversivo de Nozor!:', Teria vindo
como 'zolot(l' para inslaur(l( -seu Reino de violincio pel<! espada
IM! 10,34)" •• um Reino que OI violenteu conquistam fMt 11,121 .
No epis6dio da ex.pulsõo dOI vendilhões do T.mplo pelo Sennor
(Jo 2,13-161 , vlem um sinal de que a Revo!u(õO i6 chegara . Par ter
desafiado os poderosos e haver auumido atitude rebelde, morreu
condenada pelos maiorais da época, A cruz ó Ctuim\ despoiada da
seu valor redentor para torno,-se um .ímbolo de subver-iao e de lula
de clouos. Eue. erras de int.rpreta(õo, 16 antigos e har. apresen·
todos de novo, 1em que Se saiba por que, como novidades, coreeem
de base cientificamente sério.

Um Cristo poUtico e rebelde


151 . Visto que a conscíincia dOI fihi, reage quase instintiva·
mente contra tail fohifica(õe., algun. mentar., puseram em círculo·
c:ão um outro tipo de interpretação criSlológiec, qU6 • talvez mais
matizado, mo. apresenla dificuldades insolúveis, Admitem que Cristo
não Ie-nha sido o ,chefe de um grupo zelala revolucionário, mas afir-
mam que os modalidades da sua pre-sençe e do se-u compromiuo
polltlco devem servir de inspjtocão fundamental pGra a revolucão
em cur,o. Durante o sua vida mortGl. Cristo foi rebalde lonto no
plano religioso como no plano poUtica, h.erceu a chefia do único
movimento -subversivo posslvel em seu tempo : o que visava tl abalor
05 poderes religiosos coniventes co", O domínio romano. Mas Ele
mostrou e abriu a via poro oulras lubversões possíveis no momento
atuol. Se-° Crido nõo se tiveue comprometido politicamente, feria
Ele l'IIorrido no cruz do G6~ota ?

,Testemunhos contrários dos Evangelhos


152. Segundo tais leses, Jesus. Cti"o teria vivido poro os do!·
Sei oprimidas I te, ia sido ' aquele 'lua viveu paro os oUlros', poro os
oprimidos, contra oC oprenores, Os Clraulos deues diures deixam em
..lI'não as relGC:6es e os encontros de Jesus com peuoas que perten-
ciam às cwtral dauei do ~eu tempo, dos qual. algumas eram de.-

-123 ~
:r.2 .. PERGUNrE E RESPONDEREMOS. 219/1978

prelcdcn, COrno s. dav<l no cala dos publicanos, (I cuia me,o Jesus


se ~(II!nlo'to . Não" verdade que Ele chamou al;vns Q que O seguis.
sem imedlatamenle, cnc9<1ndo mesmo a four de um deles o seu
disdpufo? Esqvo"m tomb6m que cu (lC:usações fundamentais levan'o·
das conlro Crilto não foram de caróter políHco: e, aquelas que
foram suscitado. na plano polltico, OI Evangelistas as apreutntom
como falsos testemvnhos (cf. MI 26,49-66: 27,22.24 : Mc 14,.55·6.5 ;
lc 23, 4.22: Jo 18, 33-40).

Tal Cristo não é nem o da história nem o da fá


153. Qver·se trole do Crislo zelola ou revolucionário, quer se
trole do Cristo politicamente comprometido, como O costumam apre-
sentar, nõa é o Crisla tal corno Ele le manifeslo realmente no hist6ria
o como (I Igrela O interpreto; nao é o Cristo no qual nós eremos.
Uma coisa & admitir que o mensagem de amor universal de Cristo tem
roporevnões sociais extremamente exlensos e profundos, • outra coisa,
muito diferente, é fazer dele um Meuiós lerrestre.

1.54. 'Para qvem 16 sem preconçeitos as narrações evangélicas,


aparece, lem sombra de dúvida. que muitOI dos conlempor6neos de
Jesus ficaram perplexos diante do caráler elpecificam.. n'e religioso
que o Crislo, deu à suo pessoa e ta .uo obro. Nenhvmo pompa exle-
rlor, 10101 ou,ando de preocupocCSes políticas, nenhuma pala'Yra con-
Ira OI ocupantes .:;Irongelrol, nem a m/nlma alu,õo o projetol de
revoluçõo ou de libertacão temporal.

155. Não foi O punho fechado que Jetus oslentou do alIo da


auz, como repre.entam olgumos imagens. Ele" o 'Servidor de Javé'
que convida, compreende, perdoa, reconcilia todos OI homens com
o Pai, vive, morre e ressulcita em favor deles. Quando profellamos
nouo fi em Jesul Cristo, proclamomo-Lo o Sen"or único vi ...o, atuante,
por qutlm vale o pena ...iver e morrer fltm 1" . 81 ; recanhecerr.'O-lao como
o único Mediador e Salvador IAt ",121. O Crista não é um progra-
mador de lulal e rei"indieoeõêl, melmo legllimol. Ele é a plenitude
do Oivlndade lei 2.91, quc habito cntr. n6s IEf 3,171. em quem
n6s Icmos a vido, o movimento ê o ser I At 17, 2U.

o Cristo utilizado como chancelo de cousa polttlca


1.56. A falsa representação do pestoo de Cri.to otr6s descrito
comporto neceSlarloment. a mois groueira leculari:r.açCio do menso-
gem cristã.

-124 -
MOVIMENTOS DE CRISTAOS SOCIALISTAS 33

'Segundo alguns, o compromisso Mn favor das IfbertaS", poli.


tkcn, cutturals ou sociais do momento tem prioridade sob,. a mlda-
tlva divIna. Encena a aalvosão no quadro dai lutos lndhtdwals ou
coletl'llCl$ em prol da promoção humana. A cOMeqÜ'nda disto , .,.
ti fidelldad. crheã M reduz o ollonSOl polft1cas, estratégkn d. po....
tido • a planos d. tOftlClda de pod.... Tal sea.llatlzosõo do menlOg-'
cristã faz qw esta M reduza a valores cultural. e a Icfe.ologla. s6do-
-.con&mlcas. O CrIsto, considerado .6 como exemplo ..oral ou unlco-
mento sob o aspecto da sua solidariedade com os pob,", desempe-
nha simplesmente o pape-I d. chcmcelo ou d. ref.,..,cilIl .fm prol do
tania causa ou em prol do lutei por umo cfosse soda!. Na verdade,
só reCOfNm o Cristo para qUe di valor CI umCl tomado de posição
polhtco ou para provOCCU' a adesão dos Cri.tãos· I ConHlho Perma-
nente do Episcopado Franc's: 'Ubertasão dos homo,. o salvação
.... JetVI Cristo' 1974 111 .

Outra Igreja, outra fé


157. Interpretar o Cristo em termOI re ... oludonónOI ou políticos
leVe:! necossonamonlo a conceber do mesmo modo a Igrela, que O
prolongo ,ocramentalmente om virlude do lUa mluõo evongeli:r:adoro.
Doutro lodo, enlender o Igreja como uma unidade prolet6rio, como
um povo em marcho poro o Socialismo, na perspectiva d. um menlo-
"limo 'elTeltre, leva o onuncior um Crislo li imagem e ;emelhonca
do Ideologia do qual se alimentam os aroulos de tal teie. Uma ver:
admitido no Igreja o dlallllica do luta d. classes, .m breve tombAm
le Interpretorá a pessoCl de Jesus Cristo Hlgundo OI critArios da an6-
li" ·marxlsta. Em diversas partes do Am6rico Latino 16 ie falo de luta
de closses enlre diferenles Cristal: o Crhlo dOI possuidores" o Cristo
dOI prolel6rios.

158. Praticomen1e nado h6 na Igreja ou no CrÍllioniuno que


escape à invosõo dossa ideologia . Nao e xisle um olpedo do oyon-
gellzoçBo ou do cotequeso, nôo h6 um letor ou tratado de teologia
que nao leio afetado por elSal maneiros de .conceber e apresentar
a, .coisas. Baitario seguir, pano a pauo, certoe publicoc6es, on6nl-
mas ou não, paro avaliar até que ponto mutilam OI elementos fun'
domenle:!is do nosso fé .

Compartilhamos plenamente o que. diuerom os Bispos do Chile,


'Alguns valar., cristão'S fundantento.is, como a tranucend'nda
da pessoa em relo!;iio às clas::ses 8 «!lI esnu.ural - ., em primeiro
lugar, a peossoa mesma de Crista - não são, nesse conlexto, realsoda.

-125 -
31 -= PERGUNTE E RESPONDEREMOS::. 219/ J978

corno o rur.clam nllma conc.PSâo cristã do sociedade. Em tal quadro,


que lugar fica para o oração, a contemplação, o próprio ministério
sacerdotal .. para os humildes serviços pastorais que não tenham
rela~êio dlte'ta com os Interases políticos? Que lugar fI<a para o
amor, qu. Se et'Ctflde para além de toda <onsidero~ão de estrutura?
O.,. lugar fico paro o IOllcut'O do cruz? 5. o lGurdo1e .ó se sent. à
vontade na luta de classe•• no ação ~ prol da il.l.tiça .odal, l.r6
ele a. dlsposlçõe. necessórias para allmenlor o sua vida imerior pela
ora$ão, pela adon:lSóo do 5S. Sacramento, pela d.vo~ão a Nossa
Senhora? E poder6 .Ie, com tal. dllpolilções, aUmentar a. almos dos
,,,tIOqu:e Ih• •ão confiados? Não posscrá CI de.pr.:r:ar todos essal
pr6ticas p"soal. .. essas preoruposô4Is de mlnldérlo, que não "m
.flcáda vilÍytJ e direta na lula social, mas que .óo tao lndispensPveis
paIO o apa_olado sacerdotal ti mnmo, em virtude da comlln'hêio dos
5Onlos, paro a próprio CCJ\Isa da ju"lço $CIdol?' f Canrer&ncia dos
Blspos do Chll., 'Fi cristã e ação polltlca' 1973. n' 621 .

Outro Cristo, outro U, outro Igrela


159. A din6mico da. posições contaminodos por alSa ideologia
nOI .leva a Ol.llro Crislo, oulro Igreja, outro ' 6. de indo!. dolorosa·
mente sed6rio =

'Como eflranhar que, c.om tais princlplos, sela mutilada CI na--


tv.. :r:a da IgreJa o a se-ntido fundamental da suo Institui São? Por essa
'lia••""'os le\lodos a na\lG Igre;a, sem dimensão sobrenalllral, S8II1
sacramento., sem mlnlstMlo hierórqulco. Não nos é pcssl.,e! reconhe-
cer sob tais trc~os uma simples ntnova~ão da Igrela .tema; vemos 01
uma ln.Utul5ÕO radlcoh"ant. diverso. de outra origem, com oulros
fins. e outros m.los, em sumo: uma nova seita. Na 'lerda do, o CDm-
portamento dnse G~o no plano prático se assem..fl'lo perigosamente
e IItftIP" "'a~ ao de uma Mito· (Conf&r~da dos Bispo. do Chile, 'Fe
ãistlana y Actuad6n polltica' 1973, nt 741.

160. Não podemos permitir os riSCai que disso tudo decorrem


para a vida das nouas comunidades, nem fedlar os olhol para a
omeoco que pairo sobre muitas, quondo OSlOS poli~õos sõa defe n-
didas par certol Grupos de Jo<erdotes •.

(O copo VIII e último modro COI'IIO CI o\langeli:r:ocôo preencha


as 'Clrefas do Clutlntica pronlocão humana, n' 161-1731 .

-126 -
MOVIMENTOS DE CRISTÃOS SOCIALISTAS 35

Os Bispos concluem a sua exposição exortando os dis-


sidentes a voltarem à fJdellc1ade a Cristo e à Igreja (n.o. 174-
-193) . Abaixo publicamos o inciso final do documento :
«193. Em meio CIOS ...al·e· ... em e às contradições dOI homenl
que, 00 longo do hist6ria, manifestaram claramonte o lua pequenez
dianle de Deul e a fragilidade dClI suali ideologias diante do evan-
gelho, nós, cristãos, sabemos que não podemos deposiluf o nossa
confiança senão em Jesus Crislo. Somente Ele é o verdadeiro Rei dos
h(lmens e do univeno. Rei para servir, Rei pela cruz. Se, e com rCl160,
repelimos os imperialismos de toda espécie que trituram. diminuem
o homem, a fé nos dó (I convicçao de que não há auténtica lolvoção
integral (ora do Reino de Deus, já inaugurado por Ele na 'erra, Reino
de iustiça, de omor e de pau.

Não é necessérlo Insistinnos na clarividência e no vaJor


de tais reflexões. Possam ter utilidade para quantos no Bra-
sil se dedicam ao estudo das questões sociais!
A lIIuto dt subsidio para aprolundamenlo do tema, cliamos;
ConcUium 125·1917/ 5: Crl$tlanbmo e Socialismo. Voz.. do Petró'
polls 1977.

-127 -
Um eco do Oriente:

que é a medlta<ão transcendental?

Emal!.lt... : A Medltaçlo Transcendental (MT) é uma técnica de


exerclclOl mentais oriunda da Indla • trazida aos palses ocidentais por
Mah,lrlahl Mahaah Yogl. DlsUngamos na MT dois aspectos : o da pré-
IlcI de dlslan.lo narvosa a esvaziamento da menta, qua raGunda .m
hlglena pslqulca li poda beneficiar a fiaúde do praticante. O outro
upecto • o da filolona religIosa que a MT prassupl5e e tanda e Inslllar
paulallnamente nos seus adeplos: 1,1 1II0solla é panteli!lla, Isto 6, professa
a Identidade enlre Oaus e todas a. colaIS vlslveta: estas 810 fa nbmanos
cujo lublllr.lo é o ser ou a Olvlndede. '" MT professe também a t..e
da reene.maçAo. Ora lall eoneepç6ea OIos6f1co-rallglos8s nAo 58 coadu-
nam nao .6 com o Crlsllanlsmo, mas Ilmbém nlo com a 51 tulo; esta
evtdencle que OaUI nllo la pode Identificar com o substrato das coisas
volúveis, pole entre o Infinito e o conllngente h' um hleto InlfanspO-
nlvll; por 1.10 o pantelsmo é Insustentável 80S olho. da si. razlo.
Quanto' Ieee da r.encarnaçAo, carece de prova. ou é postulado gra-
lullo ql!e e S. E,clllura rejeUa peremptorlamenle.

NC,o é neces$6110 8 um CI15tlo Ir procurar nas escolas orlanlal. I


prlltlca crI madlteçlo. O Crtsllenlsmo é ecentuadamente mlstlcoj ensina
seu. adaptoa • cultivar a oraçlo mental, a 11m de se concentrar maIs e
mais em Deul; S. Teresa, IneMO eco a Slo Paulo (1eor 6.19), falava
do "C8alelo Intedor" ou da man.80 de Deus no crlst60, mansfto que 6
descoMrta madllnle os su.celSlvos graus de prolul'ldidade da oraçlo
manlal.

1:, pois , para desejaI que .e tornem mal!! conhecidos os escritos


mlsUco.s crlsllos, vlslo que a IgTlOrlncla dos mesmos leva os fié Is &
procurer na MT uma resposta p,edrla (porque pinteis ta) pare as suu
aspirações religIosas.

• • •
Comentârio: Está multo em voga entre nôs a prática da
Meditaçã o Transcendental (doravantc MT). ... transcenden-
tal porque transcende ou ultrapassa as coisas sensíveis para
atingir o ãmago do Ser nom Pl'ocesso de interiorização.
Muitos fiéis cristãos interrogam a respeito do conteúdo
da MT e da sua compatibilidade com os principias do Cristia-
nismo, Eis por que, nas pAginas subSeqüentes, procuraremos
expor as linhas mestras da MT e proporemos um juizo sobre
a mesma.
-128-
MEDITAÇAO TRANSCENDENTAL 37

1. Medilaçõo Trans<endontal: que ,?


1. A Meditação Transcendental vem a ser um dos
exerclclos que os indianos desde remotas épocas realizam 8
tim de conseguir paz e feHcidade Jnterlores. Consiste numa
técnica mental que leva a pessoa primeiramente e. procurar
co\ocar-se em esta.do de crelax:t ou de distensão interior;
nessas condições o indivíduo tenta esquecer todas as realida-
des sensíveis c esv82iar a mente de todas as imagens mate-
riais que habitualmente a distraem; cria-se assim um. estado
de cpercepcão vazia>; esta acarreta a cessação de emoções,
sentimentos e afetos. Em conseqüência, a pessoa aprofun-
da-se em sua consciência - o que lhe permite descobrir a
realidade mais Intima do seu próprio ser. Nos sucessivos
nivels de profundidade da mente, o indIviduo se toma sem-
pre mais consciente da sua natureza divina. Este estado
fina] é denominado «pura percepção• .

Tal técnica é habitualmente realizada em casa, sem


ritual preparatório e sem posturas próprias, bastando um
lugar em que o Interessado se possa sentir confortavelmente
sentado. Há. quem pratique a MT duas vezes por dia, ou
seja, de manhã, antes do café, e • noite, antes do jantar.
TodavIa mesmo em viagem ou fora de casa as pessoas po-o
dem reallzar a sua MT, valendo·se do ambiente de uma sala
de espera, de um ônibus, de um trem, de um avião, etc.

Os arautos da MT elogiam os beneficios que este exer·


ciclo suscita a quem o pratica., principalmente ep1 nossos agi·
tados, dias, nos quais as pessoas estão sujeitas a esgotamento
fIsico e nervoso. Afirmam Que não se trata de exercido reU·
gloso nem de aprendizagem mosóflca, mas tão somente de
higiene menta] e aprimoramento das faculdades perceptivas.
Nos Estados Unidos, a M'I\ foi introduzida em 1959 pejo mes-
tre indiano Maharishi Mahesh YOgl, cujos livros são dlfun·
didos também no BrasIl.
2. Maharishi foi durante doze anos disclpulo de SwamI
Br-ahmananda Saraswatl, geralmente conhecido como Guru
Dev. herdeiro das antigas tradlções 89Cétlcas hlndutstas. De--
l'.Jls da morte de Guru Dev, Ma:harlshi passou a levar vida
er-em1tica em Ottar Kashl, no Himalaia. Após dois anos de
solidão, Maha.rlshl sentia seu pensamento insistentemente vol.
tado para determinada cidade do sul da tnma; cedeu então
-129 -
3S f_ PERGUN~~~ E RE$PONDEREi\IOS. 219/ Hl78

à sugestão e vIajou para tal cidade. Nesta o bibliotecãrio


municipal o encontrou e lhe: perguntou se vinha do Himalaia
e se dava aulas; Maharishi respondeu que vinha, sim, de
Uttor Kashi, mas não lecionava. Não obstante, o bibllotecá-
r10, sem ulterior consuJ ta, programou uma série de sete aulas
publicas que Maharlshl deveria dar na semana seguinte. O
mestre resolveu aceitar o empreendimento, o qual Coi tão
bem sucedido que outros anâlogos se lhe seguiram. .. O
é-xito evidenciou finalmente a MaharishJ que ele devia divul-
gar a sua técnica de meditação pelo mundo Inteiro. Foi o
que o mestre passou a fazer, chegando até os Estados Unidos
e a Europa.
3. Para aprender a MT, deve o candidato dh'igh'-se a
um mestre comprovado; ela não pode ser aprendida através
de livros ou de praticantes amadores. Cada candidato é soli-
citado a levar ao seu mestre algumas flores frescas. frutas
frescas e um lenco bl'nnco novo; estes são US..!ldos pelo pro-
fessor numa cerimônia tradicional Que antecede a primeira
sessão de aprendizagem. O som é muito importante para
provocar e facUltar a MT, contrlbu!ndo para desligar a mente
das suas preocupa ções cotidIanas e suscitar a paz. A MT dã
o nome de mantras aos sons aptos a produzir tais efeitos.
Cada pessoa vibra especialmente com determinados sons ou
mantras; dai requerer-se <l particular habilidade de um mestre
para que descubra Qual o mantra mais adequado para cada
individuo e o faça funcionar.

Os mestres da MT explanam em seus livros o funciona-


mento do Psiquismo humano :. anallsam 8S obras de Freud e
outros autores, tentando aflnnar a sua doutrina nos am-
bientes do mundo ocidental, cujas categorias dc fY.!nSnmCnlo
diferem das do mundo oriental. Procuram assim mostrar
que na verdade a MT não é algo de estranho aos cidadãos
ocidentais; muitos destes, ao realizarem o seu primeiro ensaio
de MT, declaram já ter feito tal experiência em idade Infantil.

2. A filosofia sub;acente
1 . Embora os arautos da MT afJrmem que esta nada
tem que ver com religião ou flIosofia, na verdade <l MT está
associada â filosofia religiosa dos mesb'es indianos, isto é.
ao panteísmo. Isto quer dizer: segundo a escola de Maha-
rishi Mabesh Yogi, a Dh'indade se Identifica com o Intimo
-130 _
MEDiTACAO TRANSCF.NDENTAL 39

do homem e com o âmago d ~ todos os seres visíveis (a pala-


vra grega pan significa tudo, 80 passo que tbeó. designa
Deusj panteíslllo, portanto, é o sistema que identlfica Deus
com tudo). Tal concepção ê tradicional no hlnduismo; mas
nem sempre os discípulos das escolas orientais tomam cons-
ciência de que estas professam (ao menos implicitamente) o
pantelsmo.
São palavras de Maharishi:
"O Divino transcendental, onlpresenle, t, por virtude de sua onipre-
sença, o Ser ouwnclal de lodol nós. Forma 11 base de IOda as vld8l:
nlo • outro senlo o nOS$O pr6prlo ser ou Se'" (MedUaçlo Transcen-
dental, p. 251, nota 1).

Ou ainda:
"'O Ser • a ,aaUdada luprema da tudo Que 101, • ou se:6. E
elemo e IIlmllado, 8 base de loda IIxlslêncJa de lenc)menos da vida cOso
mica. E: • fonte do 10<10 ° tempo, espaço e causaçlo; • o prlnclplo •
o fim da exlltêncle, o campo elerno da Inlallgêncla erl.llva onipotente
Que e tudo parmala. Eu sou ....quele Ser elarno, vOs sois Aquilo aludo
Islo " em sua natureza lIIaenclal, Aquele Ser Elerno" (Ib., p. 23).
2 . Mais: para Maharishl, o mundo visivel não é pro-
priamenb! real, mas tamMm não é irreal; é um fenõmeno
ou aparência I . Consta de um conjunto de realldades que
estão sempre em mudança e caminham para a su a destrui·
ção~, Essas realidades vlsiveis são facetas imperfeitas da
Divindade; devem ser ultrapassadas para que o homem possa
fazer a experiência pura. e direta da Divindade :
I A palavra ph.Jn6umenofl em grego .llonlllca "o Que .parec. ...
2 'UNo nfvel sensorial, o mundo parece bastanle reei. Mas alra.
do Inteleçto decidimos que, como estA em conUnua mutaçlo, nlo pode
~e r real: real • o que é lemp,a o mesmo . Porem, nlo podemos [llm-
pllllmenle Ignorar o mundO, porq ue o experlmenlamos.
Experimentamos que a parede exls'e, a árvore 8xlste. Nlo pode-
mos dizer q..... 'rvore nlo ..teJa 16 . S. dlssé,semos que • tl.NOra ,
lueal, larlamos que dIzer que nlo existe, , nlo pocser'arnol luer tal
allrmaçao. Reconhecemos que a Arvore .xlsle, mas precisamos dizer
também que IIt6 sempre mudando. Como es" sempre mudando, nAo ..
ra.t, mas como exlsla, pera IIna ptAlleol, lemos que de! i Arvote o
alalus de exl$lencle.
Qual ti o stelu. enlre oreal e o Irraal? Chamamo-Io d. existência
dos lenOmenos. O fen6me no da "Nore e)llste embota nio seje ,eal.
Portanto a Árvore 115m uma rsalldade 'enomenal. Em sânscrito chama-se
li Isto mllh,lI. O mundo 6 m,th,1I fenom enal, nlo exi.le realmente. A
concluslo ti que o mundo nlo • nem real, nem Irreel" (Maharl. hl,
"MedlleçAo Transcendental", p. 252).

- 131 -
40 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS» 219/ 1978

"O Slr Absoluto I seu relacionamento com o universo relativo


podem ser compreendidos por meto de um exemplo. O Ser • como o
oceano 11m limitei, silencioso e ImulAvttl. O. dllarente!. IIpeclos da
crlaçlo, loda. as tOlmas e IAnOmenos, ... Im como os aslados da vida
em permanente. mulaçlo no mundo, 110 como marolas e ondas que têm
p(lr base este lIulo oceano" (Ib., p. 26).

Veja-se ainda:
" Um exemplo lIuslrari a nalureza do Ser de modo mais compreen-
.Ivel. O "orno de oxlginlo e o itomo de hidrogênio em um eslado
apre.enlam ai propriedades do gb, em oulro se combi nam e exibem u
propriedade. da 6guI I em oullo .Inda lêm as propriedades do sOl Ido
gelo. O canteL/do essencial do g6., da 6gua a do gelo ti o mesmo, ma.
l Uas propriedades lia dl'llraal. Embora 81 propriedades do gb, da
Agua e do gelo sejam bem dlrerenles, os elementos essenciais H e O
,ao sampla os mesmos.
AlSlm como o oxlg6nlo e o hldroglnlo, embora permanecendo em
.. us eslados Imut6vels, podam apresentar quelldades dlrerentes, aulm
também o Ser, relendo Seu tariler etemo, ahsoJuto e Imutival, pode
expressar·" na. dllerentes formas 8 fen6menos da variada crlaçlo"
(lb. p. 28).

M'A eltlll'ncl. absoluta e a relativa do os doia aspeclos do Ser


eterno, que 6 tanlo absoluto como relativo. Os Upanlsh .... descrellern-no
como PumamMah Purnamld_ - laIa ., aquele Absoluto Imanlfestado ,
pleno e esta relativo , pleno" (Ib., p. 30).

1; precisamente por causa das suas premisSas tnosóficas


que os mestres 'h lndulstas e, no caso, Maharishi praticam e
ensinam a MT, Mediante esta técnica, Maharlshi pretende
abstrair dos fenômenos ou das coisas visiveis que enchem a
mente, e proporcionar aos seus disclpulos a consoência da
sua identidade com o Infinito ou o Absoluto ou com a Divin-
dade. Assim c-a natureza do homem é transformada em natu-
reza divina:. (Maharishi. obl1l eltada, p. 231). MaharishI tala
freqüentemente da c-rcallzacão de Deus_ e aponta cinco cami-
nhos para a realização de Deus: o caminho Intelectual. o
caminho emocional (ou devoclonal) , o caminho fisiológico, o
caminho meclnlco e o caminho pslcofislol6glco. Cada uma
dessas vias leva o homem o. pcnetra.r em si mesmo e tornar
consciência de que ele é Idêntico ao pr6pr!o Absoluto ou é
uma parcela do Absoluto; quando o ser humano se cons-
clentiza disto, a Divindade se realiza nele. O ide~1 é expresso
nos seguintes termos :
"A subst6n::/a de 00\1', o "talua de Deue, e exilttncl. da Deus, a
conlclêncll de Dous, a cOfl.lcltncla divIna, t()«os este! deverIam cons·
Illulr a vIda natural do homem" (lb., p. :229).

-132 -
MEDITAÇÃO TRANSCENDENTAL 41

3. Caso o homem não consiga esta plena identiflcacão


com o Absoluto numa só existência terrestre ou encarnação,
é-lhe oferecida, segundo a lei do Karma l nova chance em
outra(s) encarnação (ções) i é preciso que aos poucos e final-
mente o homem se liberte de todos os vlnculos que o pren-
dem às coisas sensivels . . , Esta é a doutrina da reencarna-
ção, da qual falam discretamente os textos de dIfusão da
MT. mas que é tese capital do hinduísmo e do panteísmo
(segundo este, é o próprio homem quem se salva; se não o
consegue numa só passagem pela terra, há de dispor de
outras passagens ou encarnações para consegui-lo), A pro-
pósito levem-se em consideração as palavras de Maharishi:
"Karma significa açlo ou ativldada. .. KarfU é o Instrumanto por
mala do qual o cicio da crlaçlo, evoluçlo fi dlssoluçlo , manlldo em
eonllnuo movimento" (Ib., p. 38).

Uma vez obtida 8 plena emancipação em relação ~os


valores sensíveís, o ser humano se torna Ilvre da cadeia das
encarnações e está apto a entrar no nlrvalUl. ou estado de
absoluta identificação com a Dlvlndade, no qual não hã mais
nem o eu humano nem o Tu divino. A palavra nlrvanã vem do
sânserlto nlrvina, que significa extinçH.'O (da cham& vital);
designa ausência total de qualquer desejo, e, por Isto, tam·
bém . .. de qualquer sofrimento.
Resta agora a Indagação:

3. E que pensar a respeito?


1 . Distingamos entre a MT como exercido mental (! a
MT como veiculo de filosofia religiosa.

a) Do ponto de vista técnico, pode--se reconhecer que a


MT tem sido útil a certas pessoas, ajudando-as a praticar
higiene mental. Um fiel católica pode, pois, exercer a MT na
medida em Que é técnica de t: relax. ou de distensáo pslquica.
- Notemos, porém, que é dificll adotar a técnIca da MT
sem aceitar também o outro aspecto da mesma, que é o de
expressão de filosofia pantelsta. Com efeito, quem se fam!·
llariza com os livros referentes à MT ou quem freqUenta os
mestres desta, não pode deixar de absorver aos poucos os
principias do panteísmo. pois estes estão subjacentes aos ensi-
namentos técnicos: da MT.
-133-
42 . PEHGUNTE E RESPONDER8MOS, 219/ 1978

b) Do ponto de vista da filosofia que a inspira, a MT


não se concilia com a mensagem cristã, como se não con-
cllla o panteismo com o monotelsmo. Na verdade, para os
crIstãos Deus é essencIalmente distinto do mundo e das rea-
lidades vlslvelsj sim. Ele é absoluto e eterno, ao passo que
as Cliaturas sensiveis são relativas, transitórias c temporá-
riasj ora o Infinito não resulta das realidades finitas postas
em evolução, . nem se deve imaginar que o Eterno seja a soma
de numerosissimas parcelas de tempo. Por conseguinte, é iló·
gico Identificar o homem - contingente e volúvel como é -
com a própria Divindade. que por definlcão é O contrário do
contingente e volúvel. Esta afinnaçio, porém, nã.o impede
os cristãos de diZer que Deus quis tornar os homens seus
filhos. fazendo-os participar da sua vida mediante o dom da
graça comunicada pelos sacramentos (principalmente pelo
Batismo e a Eucaristia). Deus não é um ser frio e amedron-
tador, mas, 80 contrário. é o Pai que chama os homens ao
consórcio de sua vida (sem que haja fusão ou identlticatão).
S. Agostinho exprimia muito bem esta verdade ao exclamar:
«Deus superior summo meo, intimlor Intimo meo. - Deus é
mais elevado do que o que tenho de mais elevado, e mais
Intimo do que o que tenho de mais intimo».
c) Quanto à reencarnação, jã foi estudada longamente
em PR 217/ 1978, pp. de modo que nos abstemos de a con-
siderar neste lasciculo.

Acrescentemos agora breve explanacão sobre

4. A medltaçÓD cristã
1 . O Cristianismo também con hece c ensina a medi ta-
Cão . . . . medltacão que atinge o Transcendentalj propôc, sim.
a seus fiéis a expedência de Deus.

E COmO?
São Paulo diz que o cristão é templo do Espirlto Santo
(cf. lCor 6,19) e Que Deus habita nos seus fiêis. S. Teresa
de Ávila (t 1582) desenvolveu esta verdade no famo so livro
- O Castelo Interior ou As Sete Moradas;!>, no Qual expõe ao
leitor os diversos graus de oração que levam o fiel a abstrair
cada vez mais das criaturas contingentes para se concentrar
mais e mais em Deus. No íntimo de si ou na sétimo. morada

-134 -
MEDITACAO TRANSCENDENTAL

o orante descobre a mansão do Grande Rei, que está sem·


pre presente à criatura, mas ao qual a criatura nem sempre
está presente, porque propensa a divagar pelas coisas sens!·
vels. Tal processo de oração proporciona ao fiel cristão a
ocasião de experimentar a presença de Deus no seu intimo
e atingir profunda união com o Senhor chamada «núpcias
espirituais» (notemos, porém, que é sempre salvaguardada a
distinção entre o Crladol' c a criatul'a, entre Deus e o
homem ).
2. Os mesb-es de espiritualidade. a partir do século XVI,
têm elaborado metodos aptos a (aclUtar o encontro do orante
com o Senhor Deus mediante a aplicação das diversas facul·
dades da alma: assim temos o método de S. Teresa (t 1582),
o de S. Inácio (t 1556), o de S. Francisco de Sales (t 1622),
o de S, Sulplclo (1642), o de S. João Batista de la Salle
(t 1698), o de S. Afonso Maria Uguorf (t 1775). Esses mê--
todos têm suas c8.rac~rlstlcas gerais que os dtlerenciam do
mêtcdo hindu (e, especialmente, da MT) no~ seguintes pontos:
a) A MT hindu pretende chegar a um esvaziamento
total da mente; esta tem que esquecer todas as coisas sensi·
vels (que são apenas fenômenos ou aparências), para atingir
o âmago de toda a realidade ou o Ser. Este é o estrado
subjacente a todos os fenômenos. Existe no homem e existe
em todos os outros seres que cercam o homem. Em conse·
qüência, quando Rpe5Soa atinge esse cerne ou o Ser, comunga
com a realidade mais intima e pura, que nã-o tem predicados
nem caracterlsticas . . . e que é a Divindade (tal é a posicão
panteista, que supõe haver transição entre o tlnHo e o Infi-
nito, entre c Relativo c o Absoluto, entre o contingente e o
Eterno) .
A meditação cristã também leva o fiel a abstrair das
coisas sensíveis e buliçosas, concentrando-se ou coJocando--se
inteiramente na presença de Deus; é. preciso esquecer as cria-
turas para . encontrar-se mais plenamente com o Criador.
Todavia a meditação cristã geralmente procura passar por
Cristo ao Pai; ela contempla a figura de Deus feito ttomem
como é descrita nos Evangelhos pat'a poder fazer a expe-
riência de Deus inefável. Diz multo bem a tradiçãO' cristã:
«Passamos por Cristo homem a Cristo Deus (ou a Deus
Filho) e por Cristo Deus a Deus Pai». Eis por que a medi-
taçii.o cristã costuma voltar·se para as ccnas do Evangelho,
onde aparece o Cristo: a inteligência procura, com persplcá~
-135 -
44 ",PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 219/ 1978

eia e lucidez, penetrar no conteúdo de tais cenas ; n vontade


e os afetos são também solicitados a produzh' atos de amor
C complacência c propósitos conseqUentes à cOJltemplação da
mensagem evangélica.

b) A meditaçã'O cristã ace ntua muito o valor do diú-


logo com Deus, sendo que nesse êolÓQuio a parte pl'incipal c
o ouvir a Deus ou deixar o Senhor Deus fa!ar. Para ouvir 'O
Senhor, é necessário ter previamente encontrado o Sl!nhol' e
t~l'..lhe aberto o coração em disponibilidade absoluta.

Leve-se em conta o testemunho de S, TCl'cs a de Li-


sieux (t1897):
- .; acima de tudo o Evangelho que me entrelém duranle as ml-
nh•• oraçOe.. Nele en.c:onlro tudo o que é neçessthlo • minha pobre
alma, Nela descubro sempre novas luzes, SIInUdos ocultos e mlsle-
rlosos . ..
Compreendo e sei por experiência que o Aelno de Deus &s16 dentro
de n61. Jesus nAo precisa de livros nam da mo~lr&S para In,lruir as
limai; Ele ê mestre, ensina um o rulClo de palavras , . , Nunca O ouvi
lalar, mes sinto que EI. " l i em mIm . a lodo momento Ela me gula e
m. Inspira o que heI de dIzer ao PaI. Juslamenle nos momenlos em
que preciso, descubro IUII. que lU aInda nlo percebera" ("Manusc rils
auloblographJquea". Clrme' de LisIeux, p, 208).

Numa perspectiYIl panteista, Calta necessariamente a ora-


ção ou o colÓQuio afetivo, pois falta o Tu a qUêrn () orante
!e possa dirigir; eu e Tu desaparecem em algo de Impessoal
e neutro, qUê é chamado o Ser. Em última análise, o homem
é a própria Divindade; por conseguinte, é a fonte da sua
salv8cão ou IIbertsção; elc não pode lel' u Deus como Inter-
locutor,
c) A MT cons idera o mundo vislvcl com pess Imismo.
tendendo mesmo a levar o homem ,à definitiva desencarnação,
que será a libertação do ser humano dimlnuido ou apoucado
pelo corpo sensivel e pelos seres materiais Que o cercam. A
MT é um caminho para o total Adeus à matéria.

Ao contrário. a meditação cristã consIdera o corpo e o


mundo sensivel como criaturas de Deus ou expressões da
sabedoria e do plano inteligente do Criador. 1!:, pois, com
certo otimismo, que o cristão encara a matéria, embora. reco-
nheça que as paixões sensíveis nl'rastam o homem aO mal; o
pecado é provocado peja concupiscência da cume, Todavia II

- 136 -
MEDITACAO TRANSCENDENTAL 45

consciência do miséria moral do ser humano não Impede que,


no plsno ontológico, O cristão reconheça o valor das crjatu·
ras materiais. A fraqueza moral não anula o valor o;'!.tolé·
glco das criaturas; n mOl'al depende do uso que a crbtura faz
da sua. liberdade de orbitrlo•. ,. liber(lade Que, como tal, é
enonne dom.
3. Um dos autores contemporâneos que mais se desta-
caram no setor da mística. procurando, como c::J.t61!co. estu-
dar os mestres orienta.ls. especialmente os budistas, é o tra·
pista Tomás Merton. da Abadia de Gethsêrnani (U .S.A.).
sabe-se que Merlon falc:eu em 1968 durante um encontro
de monges cristãos e budistas em Bancoc (TaIlMdia) , dei-
xando livros referentes à mistica oriental e aOl seus pontos
de ligação com a misticn o:ltóHca; todavia guardou sempre
a distinção entre o Criador e a. crIatura, sem aceitar o
pantelsmo.

Ê pal'a desejar que os escritos dos mlstlcos cristãos se


difundam mais e mais. Quem os conhece, encontra neles a
plena resposta às suas aspirações mlstlcas. Na escola do
Cristianismo, o cristão apre:ldc também a meditar ou fazer
oração mental, a fim de se familiarizar cada vez mais com
os tesouros da vid.a ctcrJla.

a Ibllogr .fla :

Maharlahl Mlhesh Yogl, "Medl1açlo trln,candenlal". Rio da Ja-


nalro 1976.

H. H. Bloomlleld, M. P. Caln. O. T. Jafte. "'Medltaçlo Transcan-


denlal. A daseoberl8 da enerula Interior e do domlnlO da lenslo".
Rio de Janeiro 1975.

Tomá Mertem, "Os ml.lictn e os meSlres Zen". Ed. CIvIII:r.açJo


8r.,1Ielra. Rio de Janeiro 1972.

G. Courlol., "Falr. oral,on'. Ools yolume,: "I. Pourquol lalr. orllson?


li, Commenl f.lre ora/son "?" Paris 196 .

-137 -
AP~NDICE

M~ODOS DE MEDITAÇÃO CRISTA


A guisa de lIuslraçlo. pUblicamos 8 seguir alguns roteiros ou mitodos
de medllaçlo erlall. Oriundos em época. pa&S8dlS, hoJ a C01l38rvam seu
valor para multa. pesso., ; • oulras talvez pareçam compl811:os damal$.
Na r. alldade, a erlçlo é algo de simples; 6 mais Itcll vfvt-Ia concretamente
do Que explicá-Ia ou anal/s'·la tecrlcamanle. É preciso qUa o oranl. con·
saNa 8 lua espontaneidade, Slrva-se dOIl métodos na medida em que eltH
o ajudem • •vlll' .s distrações e concenlrar·se; jamais, porém, 10 deixe
sufocar pelos rolelros propostos.

1. Método Carmellt.
A. IntroduçJo

a) Pr.p.,apo : pensar MIt DeuI, emando-O com humlldlCle , tofto


fiança.
b) Recorda,'" d. nn.ldade da oraclo: tornar·.. um pouco maia
amigo InUmo do Sen'''''', qUI " . erva di". amizade par. de"1II'I8r lUIS
graç.. lob... o mundo.
o) 8, n.~"' rlo. Ilur br..... lellura, por exemplo, d. E.crlture S.·
grtdll ou de mb.lm.. do, Sento •.
B. Corpo ela oraçlo
.) M.dl,"t, um .. to de
lIe JIIlII,
'6.
colocar·,. na pte.e"ç.a d. humanidade

b) Refle.H sobrt uma can, do Evangelho ou um. palavra d, Crfllo.


c) Colóquio .1.U...e ou COnlt",plaçlo am ;'''nelo.
C. Conclu.1o
~ "of.d.clmento pe-l0' beneficio. ".,." , paiOl! b'nal/clo. parti.
culares.
b) Olaria de lod.... forç .. do oran'l ao •• ",Iç.o d. OeuI.
c) For;mular um. rOloluçio e pedir. graça neet'llIrt. p.ra e..culA·la.

2. Método d. S. Inicio
Sup6a aempr. I eecolha do 'eml dll madllaçlo (trecho do e ... ang.lho.
garalm.ntt) n.... NPlr•• noll., dev.ndo a medltlçlo reallu,·,. logo ap6a
o d ..pt,lar do di. lIegulnl• .
A. Preplll1lçlo
a) ColOe.çla"a pre.,nç. de DeuI e alo d, ado,açlo.
b) purlllca9lo da 'nltnçl o: pratlc..... or.çio p.r. melMI .arvlr
• Dtu,.
-138 -
MÊTOOOS DE MEDITACAO CRISTA. .7
c) Prelúdio.:
- hl,16r1co: ttmlnltclnell do 1110 I .Ir mecllIMo i
- lmllllnlUvo ou compOIlflo do IUlllr (tenllll.,. de Imlll"l, viva-
m.nte como Ii Ilnhl dM'o o flfo) :
- lmpetrlUvo: pedir dllde In'lo I gr'~1 que lert o frulo di
orl;lo.
8. Corpo da medlla~'o

-> Ex_releio d, memória : Ivlvlr I ncorcllçlo do temi _ cllS lU"


clrcu",tIDCII"
ti) ealrck:to d. Intellgéncle : eproluncler o temi medHedo; prever
.. conclusa.. prttlcl. I .1,.". IIrld. _ OI mllos de afiliar OI oNttculOl:
c) fx.rç4clo di vontade ; Ixpltrnlr OI ...101 qui • ,.n,.Ao ',"1\11
IUtellado no o,.nll: ~.r e rnol~ pr'tte.. IUnem" I -Itrum ponlo
plrtlcul.r (pnlillce de uml vlrtudl, .mand. di .tgum def.,to).
C. CoftCllltlo

a) Co'~qulo : d'''ogo Inllmo co:.. o SI"hor.


b) pldkfo da IJraç.I per' o oranl•• plr. o. oulrot Mm_ns.
c) AVlllaçlo d. mtdlla9lo.
3. Método de S. Alo"", de Llguorl
A. Pr'plfaçlo

I) Alo de " • d. adoreçlo.


b) Ato de humlldlld. I di conlrf.çlo,
o) PedIdo d. luzII Inlorlor...
d) Ave Mlda.

8 , Corpo ell medllaçto


a) Bre,.. ,....a..: Iprolundemlnlo Cacomplnt.-do de 1101 di fi)
di um temi, Intplrldo pell S. EacrUurI ou por outro Imo,
b) Af,IOI: •• prlmlr tlumlldad., connln~l. amor, conlrl~, rlllwna-
çlo alC,
e) Impltrlçao, que ped. IUI, oi p'rtavlr.nçl flnll I, prlndpltmente.
o dom do unto amor.
C. Conclullo

.) AlJrldectr I o.UI,
b) Tomar "'1011,198".
o) PedIr a grl;a de ,1( Ilel a el'".
Exlalam linda oulros mêlodol (le medlta~lo ou de OrlçlO m.nlal pro-
poltol por grende. mastr", que etllt.m • .centued. Indoll mlBllca d.
mlnsagem crlsll. Esla, da um lido. 6 oUmlltt em rallçlo lO mundo pr.-
68nll. pois .. be que este 111 crlltura de Deus , rollaxo do a4blo plano do
Criador: todlvl. o ctlet10 lenda a ullr,pellar a beleza du crlaluras p.ra
podar encontrar-se I.c...·'ec. com o Crl.dor, lonte da loda gr.ndeza li
harmonll.

-139 _
livros em estante
A men..pm eanl,.1 do Novo l.sl.menlo, por Joachlm Jeremias.
r,ad\Jçlo d. Joio Rezende Costa, - Ed. PaulJnas, SIo Paulo 1977,
"0)( 190 mm. 149 pp.

Joadllm Jeremias, eKe9ê1a protestante , lern·.e earaelerl:zado pala pro-


cur. da IIgur. do Jesus hlstOrlco no 1')110 doa Evangelhos, em op081çl0 lOS
exegetas que alhmam 16 conhecermos o Jesus da fé ou a Imagem qUI OI
primeiros crl,tlos, Im SUl c'lnça, lazlam de Jesus. Par. I.nlo, Jelaml••
recorre .h peculiaridades da trngua aramalcl • da lIteratur. rablnlc.: mos-
trando como numerOI.s pl$54g8nl dos Evangelho. latem aco direto lO
expressionismo dos homens da Palestina e as clrcunslAnclas em que Jesus
pregava antes de puco• . O presenle livro' um espéclmen valloAO d....
trabalho ; consla da Ci nco capltulos, que abordam lemas centrais do Novo
Teslamenlo : Jesus e o Pai IAbbi), a morte de Jesus como lecrlllclo, a
lusllflcaçlo pela lé, o Verbo Aevet3dor, a orlglnelldede de mensagem do
Novo Ta.lamente. O lallor tirar' grande prO\l8110 (\0 contato atento com
lals páginas, prlnclpalmenle com os dois primeiros capllulot. Jeremias, por
eKemplo, mostra, 6 diferença de oulro. 8xegelas e leólogo., que Je.ua leve
uma nll/da consclinda do que sarla a sua morle; Ele s. ofereceria como
Vitima pelos pecado. do mundo, cumprindo em s, 8 ml"lo do Servidor
da Jav6 (cl. fi $3).

Apanas larlamos duas observações 80 'elllo da Je,.mlas :


- fi p. 63 o aulor julga que Jasus le: uma predlçlo que nlo .e
cumpriu Clc 22, 35.); ora trata·se de texto matalórico, no quel, em última
ttn'lise, Jesus predisse que os Apó.tolos urlam hosllli18dOl - O que na
verdade aconteceu:
- a p. 72, J eremias afirma que Lulero tlnhe razlo ao Iradu: lr Rm
3.28 por "Rapulemos qUII o homem é Juslflicado pel~ I••omam." ; o aern.
cimo de Lutoro (Iomanta) seria legitimo do ponto de vlsla IIngOl.tlco. Sem
conleslar Jeremias, apenas lembramos que Slo Pauto em Rm • GI lem
em vista a entrada do homem na groça ou na amlz:ede da Oaus; ésla, alm,
nlo é eonqul91acla por obras ou mérUos anteriores. Todavia o pensamento
pau lino hl. de ser comptetado peto de 510 na;o : este essevera que a "
sem a. obres é morta e, por consagutnte, nlo basta para a selvaçto
(cl. TO 2,17) . Esta proposiçao , Igualmenle verldlca: ala se refere
severança na graça ou na amlzlde de Oeus j ninguém se conserva ne,"
*per-
s e nlo procura Iraduzlr a lé por obras ... Ivas, como também ninguém chega
a lê por 16-10 merecido mediante obras boas.
Em s uma, o livro é valiOso" Importante como Instrumento de esludo.
Dogma e Anunclaçio, por Joseph Ralzln".,. TraduçAo do Pa. Antonio
Slef!en S. J. - Ed. Loyole, Silo Paulo 1977, '<10 x 210 mm, 3<1' PP.
Joseph Ratz:lnger • hoje o C.,daal-arcebl.po de MunIque (Alemanhal,
renomado l8ólogo, d/se/pulo de Ka" R.hn.r S. J . O prasento livro enlellla
o texto da artl9011, sermees e palestro radlolOnlCIII da autoria d. RII:ln".r;
t"nla, pola, trensmitlr ao grande pobllco algum•• verdade. da fé atlnentee
• própria manelrll de prega', assim eomo a Oeus, a Jel ul Cristo, 11 Igrej.,
t ucatologla 8 b dlvenal celebraçOes do Ino lIturglco .. , Embora 8vlte
a. questOBa técnicas da teologia, o livro 6 denao e prolundo, procurando

-140-
sempre IUIr a afnlne entre a verdsde revelade por Deua e • vida dos
c rlsl.os hoja. Interessa sallenlar o capUulo relerenle à "Ressurrelçlo e Vida
elema" (pp. 22S.235) : o autor ai di por ultrapassada a lese da •• paraçlo
de corpo e alma por ocasllo da morl.; julga que o homem, sando um só
tOdO, morre por completo e, por Islo, renulcila logo apóS a morle. O
lundamenlo dasll leo,la (hoje a"at propagada) seria o prassuposlo de qua
I Sibila MO acenlua a d ualidade "corpo-alma", mas enlaUza, sim, e duali-
dade "Crlador-cll'lu"": 'IA Sagrada Escritura di uma importlncla multo
msnor do que , mesoll' graga ao dualismo corpo-arma no homem. N.
81blla, uma oulta dualid ade • multo mais Impertante do que 'ales dois
membros, a labor. a dualidade anl,a Criador e crlalure" (p. 232),
Ora lal ambasamanlo ti IInue. pel. os escrllO$ blbllcos red igidos em
amblante halenlsla (Sb, MI, per exemplo) conhocem e dlstlnçlo nUlde entre
corpo a alma leI. Sb 2·5. MI lO, 28); esta, portanto, n60 é estranha i
Sibila. Se Isl dlslinçlo vem a ser apagada pelos estudiosos, só resta admlllr
uma subslAncla no homem, iSlo é. a malé,la - o que redunda em mate-
rialismo.
Suge,lmos outresslm a Iraea. no IItulo, do voc6bulo "Anunclaçlo"
por "Anünclo" pera l,aduzir V.rkllnâlgung, vlslo tralar-se de lermo mel,
adequada para dlzar o que Ralzlnger enlende.
Eslas observaç6e•. porém, nlo prelandem dimllX,llr e mérito da ob,a
de Ratz:lnger, cuja leitu ra será proflcua aos c,lstla. da cultura média.
Ub.,.çio mar.la'. e IIbareçlo e,l.t., por O. Alfonso lopez TrujllJo.
Traduçlo de Eduardo P,ado da Mendonça. - Ed. AgIr, RIo de Janeiro 1977,
' 40 x 210 mm, 271 pp.
O aulor. o Secretário·Ger.1 de CELAM (Conlerêncla Eplscopel latino--
·Amerlcana) a bispo I Ulllli8' do Cardeal'areeblspo de 8ogo16. Escravau a
sua lese da doutorado em Fllosolla pela Untvtlrsldada de Santo Tomo
(Roma). que agora é JXlbllc.da a.'TI lraduçlo bruUelra com o 1IIulo acima.
O livro an.llsa o Que é o mandame e qual o humanismo que de.la
relU lia : pas•• em rlvlsta o concello de lula de classes e dI meulenlsmo
social subjaeanla ia ralvlndlcaçc5as marxistas. Por 11m estabelece o con--
Ironlo entre ponlos de vlsl. marxistas e concepÇões crlstls, mostrando a
Incenslslêncla dos primeiros e a incompallbllldada exl.lente entra marxismo
e Cristianismo. Cla,. amostragam da le.e do livro. a passagem s.gulnt8:
"O Crisllanl.mo eslã acima de toda as Ideologia•. Nlo sa compro-
mele com nenhuma delas. se bem que peua r.colher aob e lorma de
ulopl. o' valor.s Que possam encerrar. A Ideologia lem umpra • pretanslo
de .bsolulo, O Cristianismo 1\10 pode aceitar a aua ess'ncla. O maior perigo
de ca,tos crlsllos é o de cair Insensivelmente nas redes de uma ideologia
que .uplsnlar' progressivaMente seu unlver&o de lé. Maior. o perigo entre
lOS sacerdoles. lAo acostumados a compromisso.. Incondicionais. Acredllarlo
ouvir a 'IOZ: do que chama l,.condiCionalmenle noe llibloa de l.4l11nt ou de
Caslre. O marxismo no Intimo I!I messl4nlco. ! asla a rallo pala qual nlo
-é por acaso se o ma/xlsmo lula conlre e esp8rança crlstl, na qVal vi uma
compellçlo dl,ela. Por Is!lo o c,lsllo sampre l i asnl1r6 Intranqüilo com a
In/Uallça e com a Ideologia marxlsts" (pp . 262.).
A obra r&'lela pretundo a minucioso estudo da mosona marxilll; 6
serana, Ob]ellva e elhela /lo pab.lo pollllca. Oferece ao lellor grande apa·
ralo de erudlçle, que merece" • esllma do _,Iudloso. Por islo louvamo.
a Ed. Agi r por tal publlçaçlo, que hon,a a blbUogralla católica.
E.I.
EM TEMPO DE RENOVAÇAO QUARESMAL

PERDAO, SENHOR I

EMBORA BEM INTENCIONADO E CHEIO DE BOA VONTADE,


NEM SEMPRE ACERTEI EM MEU RELACIONAMENTO
HUMANO ...

EU QUERIA SER UMA FLOR E FUI UM ESPINHO ...


EU QUERIA SER SORRISO E FUI MAGOA ...
EU QUERIA SER LUZ E FUI TREVAS ...
EU QUERIA SER ESTRELA E FUI ECLIPSE.
EU QUERIA SER CONTENTAMENTO E FUI TRISTEZA ...

EU QUERIA SER FORÇA E FUI FRAQUEZA . ..


EU QUERIA SER O AMANHÃ E FUI O ONTEM . ..

EU QUERIA SER PAZ E FUI GUERRA .


EU QUERIA SER VIDA E FUI MORTE .. .
EU QUERIA SER CARINHO E FUI RUDEZA .

EU QUERIA SER SOBRENATURAL E FUI TERRENO ...


EU QUERIA SER LENITIVO E FUI FLAGELO ...
EU QUER IA SER AMOR E FUI DECEPÇÁO ...

RECEBE. S E~HOR . EM TUAS MÁ OS DE MISERICóRDIA E


PERDÃO INF IN ITO O GOSTO AMARGO DESTA REVISÃO !

Pe. Rafael Lopes C . M .

Anda mungkin juga menyukai