OBJETIVOS DO CAPíTULO
Apósa leitura deste capítulo, você deverá ser capaz de:
I entender os vários tipos de entrevistas.
I reconhecer os princípios e as ciladas da realização de entrevistas.
I elaborar um guia de entrevista.
I selecionar, entre as diferentes versões, a técnica de entrevista apropriada.
sível,de fazer avaliações precipitadas, de- estiver sendo abordado. Isso também sig-
vendo cumprir um estilo não-diretivo de nifica que ele deve voltar a tópicos que já
conversa. Podem surgir problemas se as tenham sido mencionados, mas não deta-
perguntas forem feitas no momento erra- lhados em profundidade suficiente, espe-
do,e o entrevistado for, consequentemen- cialmente se ele tiver a impressão de que o
te,impedido ao invés de apoiado quanto a entrevistado desviou a conversa daquele tó-
apresentar seu ponto de vista, ou se acon- pico a fim de evitá-lo. Aqui, os entrevista-
tecerde a pergunta errada ser utilizada na dores devem reintroduzir o tópico anteri-
hora errada. or novamente com "transições reversíveis"
O critério da especificidade significa que (-1946, p. 553). No entanto, ao concebe-
a entrevista deve exibir os elementos espe- rem esse critério, Merton e Kendall perce-
cíficosque determinam o impacto ou o sig- bem o risco de "confundir espectro com
nificadode um evento para os entrevista- superficialidade" (1946, p. 554). Até que
dos,a fim de impedir que a entrevista per- ponto isso vem a configurar um problema
maneçano nível dos enunciados gerais. Para depende da forma como os entrevistadores
essepropósito, as formas mais apropriadas introduzem o espectro do tópico do guia
de questões são aquelas que oferecem o de entrevista e de seus graus de dependên-
mínimopossível de desvantagens ao entre- cia em relação a esse guia. Portanto, os
vistado. Para aumentar a especificidade, entrevistadores só devem mencionar tópi-
deve-seestimular a inspeção retrospectiva. cos se realmente quiserem assegurar que
Aqui,o entrevistado pode ser auxiliado a estes sejam tratados em detalhe.
recordaruma situação específica por meio A profundidade e o contexto pessoal
dousode materiais (por exemplo, um excer- demonstrados pelos entrevistados signifi-
tode texto, uma ilustração) e de questões cam que os entrevistadores devem assegu-
correspondentes ("Agora que retomou esse rar-se de que as respostas emocionais na
assunto,quais foram suas reações àquela entrevista vão além de avaliações simples
partedo filme?"). Como alternativa, é pos- como "agradável" ou "desagradável". O
sívelalcançar esse critério pela "referência objetivo é, ao contrário disso, a obtenção
explícitaà situação de estímulo" (por exem- de "um máximo de comentários auto-
plo,"Houve algo no filme que lhe deu essa reveladores no que diz respeito à forma
impressão?").Corno regra geral, Merton e como o material de estímulo foi experien-
Kendallsugerem que a "especificação das ciado" pelo entrevistado (1946, p. 554-
questõesdeve ser suficientemente explícita 555). Como resultado deste objetivo, uma
paraauxiliar o sujeito a relacionar suas res- tarefa concreta ao entrevistador é diagnos-
postasa determinados aspectos da situação ticar continuamente o nível corrente de
deestímulo,ainda que suficientemente ge- profundidade, com a finalidade de "des-
ral,para evitar que o entrevistador a estru- locar esse nível para qualquer finalidade
ture"(1946, p. 552). do 'continuum de profundidade' que ele
O critério do espectro visa a assegu- achar apropriada ao caso determinado". As
rarque todos os aspectos e os tópicos rele- estratégias para elevar o grau de profun-
vantesà questão de pesquisa sejam men- didade dizem respeito, por exemplo, a "en-
cionadosdurante a entrevista. Deve ser focar os sentimentos", a "reafirmar sen-
dadaa chance ao entrevistado de introdu- timentos deduzidos ou expressos" e a "fa-
zirtópicospróprios e novos na entrevista. zer referência a situações comparativas".
Aomesmotempo, menciona-se aqui a du- Aqui se observa também a referência ao
platarefa do entrevistador: abranger gra- estilo não-diretivo na condução de uma
dualmenteo espectro do tópico (contido conversa.
no guia de entrevista), introduzindo no- A aplicação desse método em outros
vostópicosou iniciando mudanças no que campos de pesquisa é voltada principal-
11 Uwe Flick
Baseado no método de Merton e Kendall, o psicólogo cultural Rolf Oerter (1995; ver
também Oerter et al., 1996, p. 43-47) desenvolveu a "entrevista da fase adulta" para o
estudo de conceitos sobre a natureza humana e a fase adulta em diferentes culturas (Esta-
dos Unidos, Alemanha Ocidental, Indonésia, Japão e Coreia) (Quadro 13.2).
A entrevista divide-se em quatro partes principais. Na primeira parte, são feitas pergun-
tas gerais sobre a fase adulta; por exemplo, como deve ser a aparência de um adulto, o que
é apropriado à fase adulta. A segunda parte trata dos três papéis principais da fase adulta:
o familiar, o ocupacional e o político. A terceira parte atrai a atenção para o passado do
entrevistado, indagando sobre mudanças em seu desenvolvimento durante os dois ou três
anos anteriores. A última parte da entrevista trata do futuro próximo do entrevistado, com
a realização de perguntas sobre seus objetivos de vida e outros avanços (1995, p. 213).
situacional do entrevistador. Essa compe- alvos contraditórios, embora estes não pos-
tência pode ser ampliada a partir da expe- sam ser completamente resolvidos.
riência prática da tomada de decisões ne-
cessárias em situações de entrevista, em
entrevistas de ensaio e no treinamento para Qual a contribuição para a
entrevistas. Nesse treinamento, as situações discussão metodológica geral?
de entrevista são simuladas e analisadas
posteriormente com a finalidade de ofere- Os quatro critérios e os problemas a
cer aos entrevistadores aprendizes alguma eles associados podem ser aplicados a ou-
experiência. São fornecidos alguns exem- tros tipos de entrevistas sem o uso de um
plos das necessidades típicas de decisões estímulo antecipado e a busca de outras
entre mais profundidade (obtida através de questões de pesquisa. Tornaram-se critéri-
outras investigações) e garantia do espec- os gerais para o planejamento e a condu-
tro (pela introdução de novos tópicos ou ção de entrevistas e um ponto de partida
da próxima questão do guia de entrevista) para a descrição dos dilemas nesse méto-
com soluções diferentes em cada ponto. do (exemplos em Hopf, 2004a). Em seu
Issofacilita a manipulação dos dilemas dos conjunto, as sugestões concretas apresen-
(a) Como deve ser o comportamento de um adulto? Que habilidades/capacidades ele/ela deve
ter? Qual é a ideia que você faz de um adulto?
(b) Como você definiria os adultos de verdade? Em que se diferenciam os adultos reais e os
adultos ideais? Por que eles são como são?
(c) É possível reduzir as diferenças entre o adulto ideal e o real (entre como um adulto deveria
se comportar e como ele, de fato, se comporta)? Como? (Se a resposta for "não", por que
não?)
(d) Muitas pessoas consideram a responsabilidade um critério importante da fase adulta. Para
você, o.que significa responsabilidade?
(e) A luta pela felicidade (ser feliz) é normalmente vista como a meta mais importante para os
seres humanos. Você concorda? Em sua opinião, o que é a felicidade e o que é o ser feliz?
(I) Em sua opinião, qual é o sentido da vida? Por que estamos vivos?
tadas por Merton e Kendall para o preen- cupam-se menos com a maneira pela qual bén
chimento dos critérios e para a formula- os entrevistados percebem e avaliam o ma- NOl
ção das questões podem ser utilizadas terial concreto do que com as relações ge- rarr
como uma orientação para a conceituali- rais na recepção do material filmado. Nes- sub
zação e a condução de entrevistas de um se contexto, os autores interessam-se por lise
modo geral. Concentrar-se o máximo pos- visões subjetivas sobre o material concre- sen
sível em um objeto específico e em seu sig- to. Pode-se duvidar que eles obtenham os de 1
nificado tornou-se um objetivo geral das "fatos objetivos do caso" (1946, p. 541) jetí-
entrevistas. O mesmo ocorre com as estra- pela análise desse material, que possam ser áre:
tégias sugeridas por Merton e Kendall para distinguidos das "definições subjetivas da
a realização desses objetivos - o principal situação". Contudo, eles recebem uma se- rep:
é dar ao entrevistado o maior espaço pos- gunda versão do objeto dessa maneira. Eles vob
sível para manifestar suas opiniões. conseguem relacionar opiniões subjetivas alél
de um único entrevistado, bem como o es- ja
pectro das perspectivas de diversos entre- Ot
Como o método se ajusta vistados a essa segunda versão. Além dis- de
no processo de pesquisa? so, dispõem de uma base para responder a va
perguntas como: que elementos das apre-
Com esse método, podem-se estudar sentações do entrevistado correspondem ao
pontos de vista subjetivos em diferentes resultado da análise do conteúdo do filme?
grupos sociais. O objetivo pode ser a gera- Que partes foram omitidas por parte do en-
ção de hipóteses para estudos quantitati- trevistado, embora constem no filme, se-
vos posteriores, mas também a interpreta- gundo a análise do conteúdo? Que tópicos
ção aprofundada das descobertas experi- o entrevistado introduziu ou acrescentou?
mentais. Os grupos investigados são nor- Outro problema desse método é que
malmente definidos com antecedência, e ele dificilmente é aplicado em sua forma
o processo de pesquisa apresenta um plane- pura e completa. Sua relevância atual é de-
jamento linear (ver Capítulo 11). As ques- finida antes por seu ímpeto para concei-
tões de pesquisa concentram-se no impac- tualizar e para conduzir outras formas de
to de eventos concretos ou na manipula- entrevistas que foram desenvolvidas a par·
ção subjetiva das condições das atividades tir dele, e que são frequentemente utiliza-
da própria pessoa. A interpretação não se das. Além disso, deve-se observar a suges
fixa a um método específico, ainda que os tão sobre combinar entrevistas abertas com
procedimentos de codificação (ver Capítu- outras abordagens metodológicas para o
lo 23) pareçam ser mais apropriados. objeto em estudo. Estas podem oferecer um
ponto de referência para a interpretação
dos pontos de vista subjetivos na entrevis
ta. Essa ideia é discutida de forma mais amo
Quais são as limitações pla sob o título "triangulação" (ver Capí- em
do método? tulo 29).
um
A característica específica da entre- ma
vista focalizada - a utilização de um estímu- A ENTREVISTA ra".
lo como um filme, durante a entrevista - é SEMIPADRONIZADA
uma variação da situação-padrão da entre-
vista semi-estruturada que dificilmente é Em seu método para a reconstrução
aplicada, mas que, no entanto, origina al- de teorias subjetivas, Scheele e Groeben
guns problemas específicos que precisam (1988) sugerem uma elaboração específi-
ser considerados. Merton e Kendall preo- ca da entrevista semi-estruturada (ver tam-
Introdução à pesquisa qualitativa
-,
para o mau uso do bastante espaço ao
poder. cliente.
.AI'
;-
a conselheiro encontra
-.
a maioria dos clientes
I Condição em situações ruins.
~
As pessoas da clínica Na maioria das vezes, a conselheiro As propostas
responsável não a socialização dos é inserido em oferecidas pelo
conseguem mais clientes foi repleta de algum momento conselheiro ao
confiar nas instituições. contratempos. da vida do cliente, cliente devem ser
e novamente concretizadas
Para exercer Preconceitos em
retirado em outro. contra a vontade
controle, o relação a um determi-
da instituição.
conselheiro coloca-se nado cliente transmiti- a conselheiro
entre os interesses dos pelos colegas na pede que o
do cliente e os assistência social cliente se retire
interesses da da sala durante
A instituição como
burocracia. um telefonema
burocracia
para outra a contato com o
Tentativas de outras instituições (assistência instituição que cliente é, em grande
social) de influenciarem a instituição contra os diga respeito parte, muito breve
interesses do cliente. ao cliente. nessa instituição.
o resultado de tal processo estrutu- novamente sobre suas opiniões à luz das
rador com a aplicação da TDE é uma re- alternativas concorrentes.
presentação gráfica de uma teoria subjeti-
va. Ao final, o entrevistado compara sua
estrutura com a versão preparada pelo en- Quais são os problemas na
trevistador entre um encontro e outro. Essa aplicação do método?
comparação - de modo semelhante às
questões confrontativas - serve ao propó- o principal problema em ambas as
sito de fazer com que o entrevistado reflita partes do método é identificar até que pon-
Em meu estudo sobre a confiança no aconselhamento, utilizei esse método para entre-
vistar 15 conselheiros, com diferentes formações profissionais (por exemplo, psicólogos,
assistentes sociais e médicos). O programa de entrevista incluía tópicos como a definição de
confiança, a relação risco e controle, estratégias, informações e conhecimento anterior,
razões para a confiança, sua relevância para o trabalho psicossocial e as condições e a
confiança da estrutura institucional (ver Quadro 13.3). Como resposta à questão - ''Você
poderia me dizer, brevemente, a que você relaciona o termo 'confiança', se pensar em sua
prática profissional?" - uma das pessoas entrevistadas me forneceu sua definição:
gação mencionadas quatro estratégias comunica- tipo "O que aconteceu lá mais detalhada-
utili- tivascentrais na entrevista centrada no pro- mente?" ou "De onde você sabe isso?". A
entre- blema: a entrada conversacional, as indu- indução específica aprofunda o entendi-
nulos ções geral e específica e as perguntas ad mento, por parte do entrevistador, refletin-
ográ- hoc. Em um estudo sobre como os adoles- do (por meio de resumo, de feedback, de
I pro- centes decidiram sobre suas profissões, interpretação pelo entrevistador) o que foi
3. por Witzelutilizou, como entrada conversacio- dito, por meio de questões de compreen-
.pro- nal: ''Você quer ser (um mecânico, etc.), são e confrontando o entrevistado com con-
uisa- como você chegou a essa decisão? Por fa- tradições e inconsistências presentes em
lte); vor, me diga apenas isso!". A indução ge- - seus enunciados. Aqui, considera-se impor-
iéto- ral oferece "material" adicional e detalhes tante que o entrevistador deixe claro seu
idos do que foi apresentado até então. Com esse interesse substancial e seja capaz de man-
); e, objetivo, utilizam-se questões adicionais do ter uma boa atmosfera na conversa.
ces-
bje-
Ia- o exemplo a seguir demonstra como esse método pode ser aplicado ao nos concentrar-
sta mos em seus elementos principais. O exemplo provém da área dos problemas de saúde. O
", estudo é um exemplo típico por utilizar entrevistas em um estudo qualitativo. A questão em
'e estudo tratava-se de um tema relativamente novo, com pouca pesquisa disponível naquele
momento. A pesquisa concentrava-se em inserir o conhecimento e a perspectiva dos parti-
de
cipantes na questão do estudo. Por essa razão, esse exemplo foi selecionado com o objetivo
ve de mostrar o que pode ser feito com entrevistas centradas no problema ou outras seme-
e- lhantes. Nesse estudo sobre as teorias subjetivas da doença- de 32 crianças com pseudocrupe
0- (uma tosse forte em crianças causada pela poluição ambienta!), Ruff (1998) conduziu as
ta entrevistas centradas no problema realizadas com os pais destas crianças. O guia de entre-
r- vista incluía as seguintes perguntas-chave (ver também o Quadro 13.4):
s,
r Como ocorreu o primeiro episódio da doença e como os pais lidaram com ele?
a O que os pais entendem ser a causa da doença de seus filhos?
Quais as consequências da opinião dos pais sobre o problema em relação a suas vidas
cotidianas e ao planejamento do futuro em suas vidas?
De acordo com a avaliação dos pais, que poluentes ambientais oferecem riscos à saúde
de seus filhos? Como eles lidam com esses poluentes? (1998, p. 287)
Em uma das principais descobertas, afirmou-se que dois terços dos pais entrevistados
supunham, em suas teorias subjetivas sobre doenças, a existência de uma relação entre a
doença de trato respiratório de seus filhos e a poluição do ar. Embora, em geral, a poluição
do ar fosse considerada como apenas um dos motivos entre outros possíveis, e as suposi-
ções causais estivessem associadas a uma grande incerteza, a maioria desses pais havia
adaptado seu cotidiano e também, em parte, o planejamento de sua vida futura a essa nova
visão do problema (1998, p. 292-294).
Esse exemplo demonstra como algumas das ideias básicas da entrevista centrada no
problema foram adotadas e adaptadas pelo autor para essa questão de pesquisa específica.
11 Uwe Flick
to e como lidar com informações secundá- vez de falar sobre o tópico da entre-
rias. A seguir, são brevemente discutidos vista.
alguns outros tipos de entrevistas semi- • Ele/ela oscila seguidamente do papel
estruturadas que têm sido desenvolvidas de especialista para o de sua personalí-
para campos de aplicação específicos na dade privada, de modo que resulta em
pesquisa qualitativa. um número maior de informações se-
bre ele, como pessoa, do que sobre o
seu conhecimento como especialista.
A ENTREVISTA • A "entrevista da retórica" é mencionada
COM ESPECIALISTAS como uma forma intermediária entreo
sucesso e o fracasso. Nesta, o especialis
Meuser e Nagel (2002) discutem .as ta dá uma palestra sobre o que sabe, em
entrevistas com especialistas como uma for- vez de participar do jogo de perguntase
ma específica de aplicar entrevistas semi- respostas da entrevista. No entanto, sea
estruturadas. Em contraste com as entre- palestra abordar o tópico da entrevista,
vistas biográficas, há aqui um menor inte- esse jogo pode ainda ser útil. Se o entre-
resse no entrevistado enquanto pessoa vistado não acertar o tópico, essa forma
(como um todo) do que em sua capacida- de interação dificulta o retorno ao ver-
de de ser um especialista para um deter- dadeiro tópico relevante.
minado campo de atividade. Elas são inte-
gradas ao estudo não como um caso úni- Os guias de entrevistas possuem aqui
co, mas representando um grupo (de es- uma dupla função: "O trabalho envolvido
pecialistas específicos; ver também Capí- na elaboração de um guia de entrevista as·
tulo 11). O âmbito das informações poten- segura que o pesquisador não se apresente
cialmente relevantes fornecídas pelo entre- como um interlocutor incompetente c...)
vistado é muito mais restrito do que em A orientação para um guia da entrevista
outras entrevistas. Portanto, aqui, o guia garante também que a entrevista não se
de entrevista possui uma função diretiva perca em tópicos irrelevantes, permitindo
muito mais forte no que diz respeito à ex- ao especialista improvisar seu tema e sua
clusão de tópicos improdutivos. Correspon- opinião sobre as questões" (2002, p. 77).
dendo a essa peculiaridade, Meuser e Nagel Nesse campo de aplicação, encon-
discutem uma série de problemas e causas tram-se destacados vários problemas das
de fracasso nas entrevistas com especialis- entrevistas. Os problemas de direciona-
tas. A questão principal é se o entrevistador mento surgem aqui com maior intensida
consegue ou não restringir e determinar a de em função de o entrevistado ser menos
entrevista e o entrevistado para o domínio interessante como pessoa do que em um
de interesse. Meuser e Nagel (2002, pp. 77- domínio específico. A necessidade de o
79) mencionam como versões de fracasso: entrevistador deixar claro na entrevista que
ele também está familiarizado com aquele
• O especialista bloqueia o curso da en- tópico é, geralmente, uma condição para
trevista por ficar provado que ele/ela o êxito na condução dessas entrevistas. A
não é um especialista naquele tópico, interpretação das entrevistas com especia·
como se supunha anteriormente. r listas visa, principalmente, a analisar e a
• O especialista tenta envolver o entre- comparar o conteúdo do conhecimento do
vistador em conflitos que ocorrem em especialista. Os casos são integrados ao es·
sua área e fala sobre questões internas tudo de acordo com o padrão da amostra
e intrigas deste campo de trabalho, em \ gem gradual.
Introdução à pesquisa qualitativa
pelo entrevistador e pela pessoa que é en- lista foi sugerida por Ulrich (1999 - ver
trevistada. Heyl vincula o campo da en- Quadro 13.5).
trevista etnográfica com trabalhos mais O ponto de partida do método é o
atuais acerca de como planejar entrevistas pressuposto de que os inputs sejam carac
em geral (como Bourdieu, 1996; Gubrium terísticos das entrevistas ou dos questioná
e Holstein, 1995; Kvale, 1996; Mishler, rios padronizados, e que sejam limitantes
1986 e outros), porém sem elaborar uma ao se trabalhar com a sequência de tópi·
abordagem específica da entrevista etno- cos, obscurecendo, ao invés de esclarece;
gráfica. o ponto de vista do sujeito. Surgem tsm
bém alguns problemas ao tentar-se garan
tir perspectivas subjetivas topicamente re
A CONDUÇÃO DAS levantes em uma entrevista: problemas de
ENTREVISTAS: OS mediação entre o input do guia de entrevs
PROBLEMAS DE MEDIAÇÃO ta e os objetivos da questão de pesquisa,
E DIRECIONAMENTO por um lado, e o estilo de apresentação do
entrevistado, por outro. Assim, o entrevs
Até o momento, discutiram-se diver- tador pode e deve decidir, durante a enne
sas versões da entrevista como uma das vista, quando e em que sequência irá reali·
bases metodológicas da pesquisa qualita- zar quais perguntas. Se uma pergunta já
tiva. É característico dessas entrevistas que tiver sido respondida en passant e puder
sejam levadas perguntas mais ou menos ser omitida, isso somente poderá ser decio
abertas à situação de entrevista na forma dido ad hoc. O entrevistador enfrenta tam
de um guia de entrevista. A expectativa é bém a dúvida sobre se e quando investigar
de que essas perguntas sejam livremente em maiores detalhes, ou quanto a auxiliar
respondidas pelo entrevistado. Para veri- o entrevistado em suas divagações e qusn
ficar os instrumentos antes de realizar as do fazê-lo, ou acerca de quando retomar
entrevistas, pode-se utilizar uma lista de ao guia da entrevista nos momentos dedi
pontos-chave para a verificação da forma gressão do entrevistado.
como o guia de entrevista foi construído e O termo "entrevista semipadroniza
como as perguntas foram formuladas. Essa da" é também utilizado em relação à esco·