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COLETÂNEA
FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA
EAD (MÓDULO 53/2019)

Brasil não é mais a sétima economia do mundo. Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/brasil-nao-e-


mais-a-setima-economia-do-mundo/. Acesso em: 25 jul. 2019.

Organizadores
Adriana Pacheco do Amaral Mello
Claudineia Cristina Valim
Cristiane de Oliveira Alves
Diego Luiz Miiller Fascina
Márcio Ricardo Dias Marosti
Marta Ferreira Gomes de Lima
Vivian Elis Golfetto Ramos

Coordenação
Fabiane Carniel
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SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................ 4
PALAVRAS INICIAIS ............................................................................................................................ 5
ÉTICA E POLÍTICA .............................................................................................................................. 6
ÉTICA, ECONOMIA E POLÍTICA ....................................................................................................... 11
ÉTICA E ECONOMIA: INCONCILIÁVEIS?......................................................................................... 13
EDITORIAL: ECONOMIA, INSTRUMENTO DE SERVIÇO ................................................................ 15
O BRASIL DE HOJE. ÉTICA, POLÍTICA E ECONOMIA. O QUE PODEMOS FAZER OU ESPERAR?
........................................................................................................................................................... 17
ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – CARTA DO GESTOR ........................................... 20
A ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL .............................................................................. 22
A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2019: NOVA DECEPÇÃO? ............................................................ 24
ECONOMIA E POLÍTICA EM 2019: QUAIS SÃO AS PREVISÕES DOS ESPECIALISTAS QUE
ESTIVERAM NA AMCHAM ................................................................................................................ 26
DESIGUALDADE SOCIAL AVANÇA E HOJE OS POBRES PAGAM MAIS IMPOSTOS QUE OS
RICOS ................................................................................................................................................ 30
REFORMA NECESSÁRIA, MAS INSUFICIENTE .............................................................................. 32
A REFORMA DA PREVIDÊNCIA VAI TRAZER DE VOLTA CRESCIMENTO DA ECONOMIA? ....... 34
CONHEÇA PROJETOS QUE SE TORNARAM LEIS NO PRIMEIRO SEMESTRE ........................... 36
A VELHA MÍDIA E SEU MUNDO NADA ADMIRÁVEL ....................................................................... 45
CHARGES .......................................................................................................................................... 48
MÚSICAS ........................................................................................................................................... 51
FILME ................................................................................................................................................. 53
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................ 56

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APRESENTAÇÃO

A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo
principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu
desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão
institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do
conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma
sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o
conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar
sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo.
Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que
devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender
criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao
objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade
– Ética, Política e Economia – Ética Cultura e Arte – Ética, Ciência e Tecnologia – Ética e Meio
Ambiente.
Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE.
Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados
para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a
finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem
como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à
leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas
semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas.
Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução e a apresentação dos diversos
textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada com os
gêneros: música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves considerações
finais.
Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo
seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos.
Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios
de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo
temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como
suporte à sua vida em todas as instâncias.

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PALAVRAS INICIAIS

Tem algum tempo que estamos enfrentando uma crise em nosso país que não é apenas
política e econômica, mas ética também. Os casos de corrupção não param de vir à tona e, com isso,
a credibilidade política continua a escoar pelo ralo. Nesse cenário, o país não recebe investimentos e
também não consegue fazer que o capital circule internamente.
A proposta desta coletânea de textos é lançar um olhar sobre como a situação política e
econômica do país afeta nosso cotidiano. Promover a reflexão sobre a ética, a política e a economia
do país, sobre como estas questões afetam a ordem pública e toda a sociedade, não só analisando
as possíveis causas e consequências, mas para que possamos ficar atentos ao que pode ser feito
para melhorar. Assim, podemos acompanhar aqueles que foram eleitos, observar se eles realmente
cumprem com suas promessas, se atentar para o que eles fazem e como isso nos impacta e
repensar nossas atitudes enquanto eleitores e cidadãos.
Como afirma Medeiros, no texto “Ética e Política”, “sabemos que muito há ainda por ser feito e
que a corrupção, talvez, dificilmente tenha fim, já que são muitas as formas de manipulação,
utilização e desvios de verba pública para beneficiar interesses particulares e partidários. Contudo,
há nos corações e mentes de homens e mulheres sempre uma fagulha de esperança de que é
possível viver numa sociedade mais justa e menos desigual. E é este sentimento que nos anima e
nos move rumo a um futuro melhor.”
Esperamos que esta coletânea contribua com a reflexão sobre como a ética, a política e a
economia permeiam a sociedade e no que podemos esperar e/ou fazer para que tenhamos um
futuro melhor, mais justo e igualitário.

Desejamos a você boa leitura e bons estudos!

Equipe FSCE.

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ÉTICA E POLÍTICA

Alexsandro M. Medeiros

A relação entre ética e política adquiriu formas e valores bem distintos ao longo da história da
humanidade, desde uma forte relação entre ética e política na Antiguidade, uma ruptura entre ambas
no Renascimento e início da modernidade, uma crise de valores característica da
contemporaneidade até uma proposta atual de reaproximação entre ambas.
Como é manifesto, na história da cultura ocidental encontram-se diferentes teorias acerca da relação
entre ética e política, algumas das quais afirmam a compatibilidade, ou também a convergência, ou
diretamente a substancial identidade dos dois termos; outras afirmam a divergência, a
incompatibilidade ou diretamente o antagonismo (BOVERO, 1992, p. 141).
É sobre esta intricada relação que iremos discorrer ao longo deste texto. [...]

Ética e Política ao longo da História

Uma marca característica da ética na Antiguidade é sua indissociabilidade com a política.


Desde Platão e seu discípulo Aristóteles, que a ideia de constituição da polis é perpassada pelo
princípio de que a cidade deve ser dirigida por governantes sábios, justos e virtuosos. É de
Aristóteles, por exemplo, a afirmação de que o homem é um animal político – zoon politikon. “Trata-
se de um homem ‘essencialmente destinado à vida em comum na polis e somente aí se realiza
como ser racional. Ele é um zoon politikón por ser exatamente um zoon logikón, sendo a vida ética e
a vida política artes de viver segundo a razão’” (LIMA VAZ, 2004, p. 38-39 apud PANSARELLI, 2009,
p. 13). E Hélcio Corrêa afirma que na polis grega o cidadão só é reconhecido como tal a partir de sua
inserção na comunidade política e a razão prática que norteia a ação do cidadão grego está
intimamente ligada ao ethos “[...] entendido este como um conjunto de tradições, costumes e valores
próprios da vida na polis” (2011, p. 77) e, no caso de Aristóteles, “[...] as noções de ética e política se
completam reciprocamente na teoria da justiça” (2011, p. 77).
Com efeito, na polis grega, tanto o estudo da ética quanto da constituição da polis (da
política) lançam as bases para o comportamento justo do indivíduo e do cidadão. Platão (1993),
inclusive, compara a ideia de justiça, tanto no indivíduo quanto na sociedade, como sendo a
harmonia entre suas partes. Essa dupla perspectiva aparece já no início da obra ‘A República de
Platão’, a partir do Livro II quando este afirma que o homem justo em nada diferirá da cidade justa e
será semelhante a ela (435b). Para Del Vecchio (1925, p. 14) aparecem aí fundidas a norma moral e
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jurídica, a política e a ética, inclusive a psicologia, ou seja, a vida interior do indivíduo e as relações
sociais.
Isso de laços entre o indivíduo e a polis, se já existe certa simetria em Platão, radicaliza-se em
Aristóteles, o qual tratou predominantemente da justiça no livro V da ‘Ética a Nicômaco’. John Morrall
afiança-nos: [...] como Platão na República, Aristóteles vê uma analogia entre a vida da polis e a vida
da família, e traça semelhanças entre os modos pelos quais se podem governar famílias e estados
[...] (1981, p.45 apud CORRÊA, 2011, p. 78).
A concepção de justiça para os gregos estabelece uma relação direta entre ética e política
tanto para Platão quanto para Aristóteles, pois a justiça (dikaiosýne) é também virtude (areté). A
justiça é tanto a ordem da comunidade dos cidadãos, quanto virtude individual que consiste no
discernimento do que é justo ou injusto.
Para o filósofo grego Aristóteles, se a ética é condição de autorrealização do indivíduo ou,
mais precisamente uma vida virtuosa com base na razão, se pode dizer o mesmo da política que é a
condição de autorrealização da polis e uma e outra não estão separadas, assim como não estão
separados o indivíduo e o cidadão. O projeto individualista do liberalismo moderno seria
profundamente estranho aos pensadores gregos (MACINTYRE, 2001) que tinham por certo a
premissa de que a liberdade situa-se, sobretudo na esfera política (ARENDT, 1981) e por isso
Aristóteles irá afirmar que aquele que for incapaz ou não sente a necessidade de se associar em
comunidade ou é uma besta ou um deus (ARISTÓTELES, 1998, 1253a 25). Somente na polis, na
vida em comunidade, a felicidade (eudaimonia) pode ser alcançada, e o bem, fim último da
existência humana, pode se realizar (HIRSCHBERGER, 1969). Não existe agir ético ou virtuoso fora
da polis.
E, assim, da mesma forma que, na Política escreveu Aristóteles: A finalidade e o objetivo da
cidade é a vida boa, e tais instituições propiciam esse fim (Pol.,1280 b 40); também o filósofo não
deixou de consignar que é preciso concluir que a comunidade política existe graças às boas ações, e
não à simples vida em comum (Pol., 1281a1) (apud CORRÊA, 2011, p. 80).
Outro filósofo antigo no qual encontramos uma estreita relação entre a ética e a política é o
romano Marco Túlio Cícero, que viveu entre 106-43 a.C. e foi uma proeminente figura da política e
do direito romano. Cícero foi um ardoroso defensor da República Romana em torno da qual entende
que essa República deve ser aquela fundamentada nos valores tradicionais romanos, na reta razão
e em valores morais que devem ser seguidos com determinação, autocontrole e dever. O cidadão
cumpridor de seus deveres é aquele que aplica tais princípios na República. Por isso o dever tem
uma importância fundamental para o filósofo que dedicou um livro ao tema: Dos Deveres. Nesta obra
Cícero “formula os valores políticos e éticos da sociedade romana, a partir de seu ponto de vista de
homem de Estado” (CONEGLIAN, 2012, p. 70). Os deveres para com a vida pública incluem valores
como a honestidade, a sabedoria, a justiça, a firmeza e a moderação. Por outro lado o cidadão
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virtuoso deve se afastar do luxo, das riquezas, da ganância, da inveja. Merece destaque a virtude da
justiça, sumamente importante para a vida em comunidade, pois é ela que determina o
comportamento social. A obrigação de ser justo tem implicações civis e sociais, pois ser justo leva à
justiça na organização da república.
Portanto, os gregos não possuíam essa visão que separa a ética da política como sendo a
primeira da esfera individual e a segunda exterior ao indivíduo e ambas tratadas separadamente:
“[...] na polis grega, o cidadão, em si, é reconhecido como tal apenas a partir de sua inserção na
comunidade política” (CORRÊA, 2011, p. 83). Ademais, apenas na polis a felicidade (eudaimonia) é
passível de ser alcançada e na relação entre a vida individual e a vida em comunidade uma é
condição de realização plena da outra e vice-versa.
Para Alasdair Macintyre (2001) foi o liberalismo moderno que rompeu os laços com a polis,
com a comunidade política, e enfatizou a dimensão humana do individualismo. Mas antes mesmo do
liberalismo moderno uma ruptura ainda maior entre a ética e a política foi promovida por um dos
maiores pensadores italianos do período renascentista e início da modernidade: aquele que é
considerado, precisamente, o pai da ciência política, a saber, Nicolau Maquiavel.
Até o início do século XVI, política e moral não constituíam campos separados; ao contrário,
eram tratadas de forma indistinta, sendo as avaliações dos fatos políticos afetadas por julgamentos
de valor. Algumas obras revelavam a redução total da política à moral, tal como se pode observar
em ‘A educação do príncipe cristão’, de Erasmo de Rotterdam, livro publicado em 1515, no qual
Erasmo traça o perfil do bom príncipe, enfatizando a relevância da magnanimidade, da temperança e
da honestidade, enfim, de atributos definidores da retidão moral do soberano. Maquiavel rompe com
essa forma de subordinação da política aos ditames da moral convencional e afirma que a política
tem uma lógica própria e razões nem sempre compatíveis com princípios consagrados pela tradição
(DINIZ, 1999, p. 61).
Ao rejeitar os sistemas utópicos da filosofia grega e procurar a verdade efetiva dos fatos
(MAQUIAVEL, 1999, cap. XV), Maquiavel promove certa ruptura entre o campo do dever ser
(determinado pela ética) e a realidade dos fatos que é objeto de estudo da política. A principal
preocupação de Maquiavel é o Estado: não o Estado ideal imaginado na República de Platão ou nas
utopias dos filósofos renascentistas como Thomas Morus e Tommaso Campanella, mas o Estado
real, concreto, seguindo a trilha inaugurada pelos historiadores antigos como Tácito, Políbio,
Tucídides e Tito Lívio. Ao desvincular o Estado ideal do Estado real Maquiavel defende a autonomia
da política em relação à religião e à moral cristã e promove uma ruptura entre aquilo que é e o que
deveria ser (SADEK, 1995, p. 17-18). “Maquiavel reivindica a irredutibilidade e a autonomia da
política, a política como um campo específico do saber, a exigir um enfoque também específico,
distinto da moral, da ética e da religião” (DINIZ, 1999, p. 60). A análise política deve se ater à
realidade concreta dos fatos, pautar-se pelos aspectos objetivos e reais que existem na sociedade
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devendo se desprender de considerações de caráter moral e religioso sobre como a sociedade
deveria ser e de critérios valorativos expressos em um plano ideal. O argumento de Maquiavel
consiste “[...] em admitir que a ótica do indivíduo e a ótica do Estado são distintas e que nem sempre
o que é bom para o indivíduo é igualmente adequado para o Estado. Trata-se de dois sistemas de
juízos não necessariamente coincidentes” (DINIZ, 1999, p. 61).
Cumpre notar, todavia, que Maquiavel não advoga a rejeição de princípios éticos. Apenas irá
defender a autonomia da política em relação à ética e que, se necessário, um Príncipe deve
aprender a usar de artifícios estratégicos que conflitam com a moral cristã, por exemplo, se quiser se
manter no poder. A ética maquiaveliana tem características distintas da tradição cristã, de alguma
forma determina a conduta do príncipe, mas não é condição necessária da organização política já
que, dependendo da situação, um Príncipe deve saber agir pelas leis ou pela força, devendo
empregar adequadamente o homem e o animal (MAQUIAVEL, 1999). “Podemos lembrar ainda o
conselho que dá aos príncipes, no cap. XVIII, ressaltando que devem reunir ao mesmo tempo as
qualidades do leão e da raposa, isto é, a força e a astúcia, se quiserem ter sucesso na condução dos
negócios do Estado” (DINIZ, 1999, p. 60).
Com a ruptura promovida por Maquiavel, a ética vai cada vez mais se distanciando do campo
da política e os filósofos modernos e contemporâneos vão cada vez mais tratando a ética de forma
autônoma e independente da política, mas não sem exceções, como é o caso do filósofo do
iluminismo francês Jean-Jacques Rousseau ou dos filósofos Hegel e Habermas: o primeiro em fins
do século XVIII e início do século XIX e o segundo no século XX.

Ética e Política Hoje

Embora nem sempre haja convergência entre as práticas políticas e os princípios morais, é
fato hoje que a sociedade em geral está cansada de tantas notícias envolvendo escândalos de
corrupção e posturas não condizentes com nossos representantes políticos (tanto na esfera do poder
executivo quanto do legislativo) e clama por uma sociedade mais justa, no mesmo sentido em que
desde a antiguidade Platão e Aristóteles já destacavam o importante papel que a justiça deve
desempenhar para a vida em sociedade. Em um de seus pronunciamentos como candidato à
presidência da República, Rui Barbosa afirmou: “Toda a política se há de inspirar na moral. Toda a
política há de emanar da Moral. Toda a política deve ter a Moral por norte, bússola e rota” (apud
NOGUEIRA, 1993, p. 350). Além disso, “a intensa crise política no país impõe que faça algumas
reflexões sobre o problema da ética na política” (CHERCHI, 2009, p. 15).
Para alguns há uma incompatibilidade inelutável entre ética e política e ambas devem ser
consideradas em domínios opostos. Para outros “[...] há uma forte expectativa, particularmente nos
regimes democráticos, de que os governantes se conduzam de acordo com critérios de probidade e
9
justiça na administração dos negócios públicos” (DINIZ, 1999, p. 57). De qualquer forma é preciso
considerar que o âmbito da esfera política não pode ser reduzido ao universo da ética e da moral,
pois como afirma Frota (2012, p. 14): “Os valores políticos transcendem os valores éticos e o
universo da política não pode ser confundido com o da ética”.
Tanto a ética quanto a política são temas de uma longa tradição do pensamento filosófico e
continuam a permear nossa realidade contemporânea por uma razão muito simples: não há como
pensar a vida em sociedade sem valores morais e sem organização política. A questão é: as duas
questões estão relacionadas ou devem ser tratadas de forma independente? Como vimos, ao longo
da história, nem sempre os filósofos tiveram a mesma opinião sobre o assunto e ainda hoje esse
tema é motivo de conflitos de ideias. Afinal, ética e política podem convergir entre si? “Podem ser
ambos referidos a um mesmo termo de comparação, ou pertencem a universos incomensuráveis
porque muito distantes? Pode-se responder de um e outro modo e articular a resposta de muitos
modos diferentes” (BOVERO, 1992, p. 143). Para Cherchi (2009, p. 15), “a ética na política, diz
respeito à conduta de cidadãos investidos em funções públicas, que como agentes públicos são
responsáveis por manter uma conduta ética compatível com o exercício do cargo público para os
quais foram eleitos”.
Por fim vale ressaltar que a sociedade contemporânea parece, de fato, cansada de ouvir falar
de tantos escândalos na política e a apatia e até mesmo repulsa de muitos cidadãos pela política são
a consequência direta da forma como a política é conduzida pelos nossos governantes. Mas nem
todos os cidadãos ficam passivos diante dos problemas que envolvem a classe política. As mais
recentes manifestações da população brasileira como as do ano corrente ou as de 2014 ou 2013
atestam isso. A sociedade está cada vez mais disposta a se mobilizar pela “moralidade pública”.
Escândalos de corrupção envolvendo as mais importantes empreiteiras do país na famosa operação
Lava-Jato, os esquemas de corrupção conhecido como Mensalão, e até mesmo décadas atrás, no
conhecido “movimento pela ética na política” de 1992 que culminou com o impeachment do ex-
presidente Fernando Collor de Melo demonstram o quanto a população está disposta a tomar as
ruas se for preciso para acabar com a corrupção que assola o nosso país. Sabemos que muito há
ainda por ser feito e que a corrupção, talvez, dificilmente tenha fim, já que são muitas as formas de
manipulação, utilização e desvios de verba pública para beneficiar interesses particulares e
partidários. Contudo, há nos corações e mentes de homens e mulheres sempre uma fagulha de
esperança de que é possível viver numa sociedade mais justa e menos desigual. E é este
sentimento que nos anima e nos move rumo a um futuro melhor.

Disponível em: https://www.sabedoriapolitica.com.br/etica-e-politica/. Acesso em: 19 jul. 2019


(adaptado).
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ÉTICA, ECONOMIA E POLÍTICA
Celso Mori

O país tem que enfrentar as suas próprias verdades e ter a coragem de conviver com o que
valoriza, sem discursos hipócritas sobre aquilo a que não dá valor. Nossas escolhas traçarão os
nossos destinos.
Difícil não é encontrar a verdade. Difícil, muitas vezes, é conviver com ela. A verdade, para
quem quiser vê-la, é que o Brasil, como quase todos os outros países do mundo, sempre teve,
dentro de sua elite política e econômica, pequenos focos de grande corrupção. Quem, por exemplo,
ler a história da construção da Estrada de Ferro Sorocabana, de 1870 a 1922, no Império e na
República, vai verificar sucessivos desfalques e escândalos que quase fizeram o projeto naufragar.
Mais ou menos como acontece desde 1987 até hoje com a Ferrovia Norte-Sul. E, como o setor
público e sociedade civil nunca são incompatíveis, é preciso ver o que acontece na sociedade civil.
Uma grande parte da sociedade brasileira sempre assimilou com naturalidade a corrupção do
cotidiano, na compra de bedéis, guardas de trânsito e fiscais administrativos, na adulteração de
cadernetas escolares, notas fiscais, recibos, contabilidade e por aí a fora. Nas últimas décadas, a
começar pela mudança de costumes em que países europeus pararam de lançar como despesas
dedutíveis do imposto de renda as propinas pagas nos países subdesenvolvidos, e passando pela
legislação anticorrupção dos EUA (Lei Sarbanes-Oxley - 2002 e outras) o mundo passa por uma
acelerada evolução ética. Em muito estimulada pela revolução tecnológica das comunicações, que
tornou a vida instantânea e transparente, aproximando fatos e consequências e a vida pública da
vida privada. E o mundo parece que se deu conta de que a competição econômica e política, assim
como a esportiva, dever ser ética.
No Brasil, a positiva democratização do poder político a partir da Constituição de 1988 e a
louvável ascensão econômica de largas faixas populacionais até então excluídas, trouxeram a
amarga contrapartida da generalização das práticas corruptas de apropriação privada dos recursos
públicos e do que deveriam ser interesses de Estado. Do ponto de vista ético, um desastre nacional
de grandes proporções. Do ponto de vista econômico, nem tanto. A economia até que vinha muito
bem, não fosse a invenção pelo governo Dilma da chamada Nova Matriz Econômica, que
considerava a corrupção uma preocupação burguesa e acreditava que o uso infinito e populista dos
recursos finitos do Estado poderia dar certo, desde que se fizessem manipulações eficientes da
contabilidade pública. Do ponto de vista político, o desastre ético fez ascender uma classe de
lúmpens, proxenetas e vendilhões de leis e do poder. Não passe sem registro a involuntária, mas
decisiva colaboração de setores da imprensa, que em busca da notícia fácil e da atração comercial
do escândalo, não poupou a reputação dos inocentes, para gáudio e conforto dos culpados, todos
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igualados nas mesmas manchetes. Adicione-se a contribuição do bem intencionado Ministério
Púbico que colocou no mesmo cesto, urdido com milhares de ações de improbidade cabidas e
descabidas, o joio e o trigo da administração pública, reduzindo em muito à disposição dos probos
para entrar ou permanecer na vida pública.
Com a Lava-Jato e seus desdobramentos, chegou ao Brasil a onda mundial de ética,
integridade e compliance. Bem-vinda e antes tarde do que nunca. Sempre com a preocupação de
que a defesa da ética se mantenha, ela própria, em rigorosa trilha ética e de legalidade.
Por esses e outros caminhos chegamos aonde chegamos. O aparente dilema que se coloca é
o de escolher, nesta altura do desastre, o que queremos salvar: reconstruir a ética, banindo imediata
e severamente a parcela corrupta da classe política e econômica, ou salvar primeiro e
imediatamente a economia, com a ajuda supostamente necessária de políticos corruptos?
O dilema é falso. É só uma estratégia para nos escondermos das verdades que não
queremos ver. A verdade é que a teoria da ética e sua prática são coisas diferentes. E grande parte
dos que defendem a prioridade urgente da salvação econômica considera a ética como uma bela
teoria para palestras acadêmicas e conversas sociais, mas acredita que a economia tem regras
próprias e urgências que não podem ser violadas por preocupações inoportunas com a ética.
Há quem acredite, e parece ser uma minoria, que a prática ética deva ser diária e começar em
cada um de nós, e nas nossas casas, e deva marcar sempre toda ação econômica e política. Sem
tréguas. Sob pena de o país ter melhorias econômicas sazonais, e voltar sempre ao ponto de partida,
com os interesses das economias pessoais sobrepondo-se aos interesses da economia comum e
pública.
Há quem acredite que a Política é indispensável e é preciso salvá-la dos maus políticos, sem
solavancos, mas de forma determinada, urgente e jurídica.
Digo que o dilema é falso porque acredito que a economia e a política possam ser éticas, na
teoria e na prática. Imaginar que reformas econômicas urgentes exijam uma tolerância ética
temporária com políticos corruptos é, na verdade, desacreditar na ética como fator decisivo e
necessário de construção e estabilização de sociedades econômica e politicamente desenvolvidas.
O país tem que enfrentar as suas próprias verdades e ter a coragem de conviver com o que valoriza,
sem discursos hipócritas sobre aquilo a que não dá valor. Nossas escolhas traçarão os nossos
destinos.

Disponível em: https://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI259698,51045-


Etica+Economia+e+Politica. Acesso em: 23 jul. 2019 (adaptado).

12
ÉTICA E ECONOMIA: INCONCILIÁVEIS?

“Nunca o mundo produziu tanta riqueza, mas também nunca gerou tanta miséria”

Padre Antônio Aparecido Alves

O crescimento da exclusão social é um fato. Nunca o mundo produziu tanta riqueza, mas
também nunca gerou tanta miséria. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e
a Alimentação (FAO), a cada 3,6 segundos uma pessoa morre de fome no mundo, o que desafia a
repensar a lógica que está por trás da geração de riquezas.
O Papa Francisco é incisivo ao dizer “não” a uma economia de exclusão, à idolatria do
dinheiro que governa ao invés de servir e a uma desigualdade social que gera violência. Por isso,
para ele esse sistema é injusto em sua raiz porque promove o consumismo, a cultura do descartável
e gera a desigualdade social. “Esta economia mata. Não é possível que a morte de frio dum idoso
sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão”.
(Evangelii Gaudium 53; 59). É possível uma conciliação entre Economia e Ética? Outra lógica
econômica é possível?
A palavra ECONOMIA vem do grego oikonomikê, que significa direção, governo e
administração (da casa), ordenação, planejamento. Tem um sentido doméstico, de não deixar faltar
à casa o suficiente para a vida dos convivas. Deste sentido doméstico, ela vem transposta depois
para a administração do Estado. Assim, a finalidade da Economia não é o lucro ou aumento das
riquezas, mas propiciar bens humanos, isto é, que não falte o necessário à vida, o que é algo natural
ao ser humano.
Por outro lado, existe outra forma de adquirir que não é natural, mas que visa simplesmente o
aumento da riqueza, sem impor limites a ela, chamada de CREMASTICA (Aristóteles. Política, cap. II
e III). Portanto, em sua origem no pensamento grego, a economia tem uma finalidade
eminentemente ética, natural ao homem. Juntar e acumular riquezas não é natural. O que houve,
então, para que economia e ética se separassem?

A mentalidade moderna

A modernidade trouxe uma autonomia para todas as ciências, desvinculando-as da Filosofia e


da Teologia, predominantes no período anterior. No caso da economia, ela não somente se

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desvincula destas, como também escapa da moral, convertendo aquilo que eram vícios (egoísmo,
interesse próprio, etc) em motores do crescimento.
Adam Smith é considerado o pai da ciência econômica. Em 1776 ele publicou ‘A riqueza das
Nações’, onde introduz a metáfora da mão invisível, que promove um fim que não estava na intenção
do sujeito que agia buscando somente os seus interesses. O progresso e o bem comum, segundo
ele, não se fundamentam na virtude e no altruísmo, como afirmava o pensamento clássico, mas na
busca do lucro. Ele está seguro de que se deixarmos cada um seguir seus próprios interesses,
promove-se eficazmente o progresso econômico e o bem-estar de todos. Por isso ele sugere: não
nos esforcemos muito para fazer o bem, deixemos que ele surja como consequência do próprio
egoísmo.

A posição do magistério social

O Papa Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno em 1931 foi o primeiro a levantar a voz
contra uma pretensa autonomia absoluta da economia, que ele caracterizou de “imperialismo
internacional do dinheiro” (109) afirmando que ela deve estar submetida à ética e ter como princípio
regulador a justiça e o amor sociais (42-43; 88).
Esta posição se tornou emblemática e foi reafirmada em todas as encíclicas sociais e
declarações posteriores. Segundo o magistério, a economia goza de autonomia, mas esta não é
absoluta. Ela deve dialogar com a antropologia, com a sociologia, com a ética e outras ciências
humanas, pois no fim do seu processo está o ser humano concreto.
Além disso, suas decisões têm repercussões na vida das pessoas e, por isso, não podem ser
tomadas somente de um ponto de vista técnico. A Doutrina Social da Igreja comparece no cenário
das discussões sobre a Economia com sua verdade sobre o homem e contribui para a busca de um
tipo de lógica econômica que respeite as necessidades humanas e se mova dentro de parâmetros
éticos. O ser humano, sobretudo o mais pobre, é o ponto de encontro entre Ética e Economia.

Disponível em: https://noticias.cancaonova.com/brasil/etica-e-economia-inconciliaveis/. Acesso em:


26 jul. 2019 (adaptado).

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EDITORIAL: ECONOMIA, INSTRUMENTO DE SERVIÇO

O que mais de um século atrás foi tristemente previsto, tornou-se realidade hoje: o lucro do capital coloca
fortemente em risco, e corre o risco de suplantar, a renda do trabalho.

Silvonei José – Cidade do Vaticano

Muitos o definiram um verdadeiro Vademecum para a finança ética o documento realizado


com a aprovação do Santo Padre pela Congregação para a Doutrina da Fé em colaboração com o
Dicastério que se ocupa do Desenvolvimento Humano Integral publicado nesta semana.
Com o título “Oeconomicae pecuniariae quaestiones. Considerações para um discernimento
ético sobre alguns aspectos do atual sistema econômico-financeiro”, o Vaticano sai em campo na
tentativa de propor e restituir ética à economia e à finança. O documento, como está escrito,
pretende dar uma contribuição ao diálogo.
O que mais de um século atrás foi tristemente previsto, tornou-se realidade hoje: o lucro do
capital coloca fortemente em risco, e corre o risco de suplantar, a renda do trabalho, comumente
confinada às margens dos principais interesses do sistema econômico. Isto proporciona o fato de
que o trabalho, - lê-se no documento - com a sua dignidade, não somente se torne uma realidade
sempre mais em risco, mas perca também a sua qualidade de “bem” para o homem, transformando-
se em um mero meio de troca ao interno de relações sociais tornadas assimétricas.

Os excluídos são “sobras”

Exatamente nesta inversão de ordem entre os meios e os fins, em que o trabalho se torna de
um bem em “instrumento” e em que o dinheiro se torna de um meio em um “fim”, encontra um fértil
terreno aquela inconsciente e amoral “cultura do descarto” que excluiu grandes massas da
população, privando-as de um trabalho digno e tornando-as “sem perspectivas e sem vias de saída”:
“não se trata mais simplesmente do fenômeno de exploração e opressão, mas de uma realidade
nova”: com a exclusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à sociedade onde se vive, pois quem vive
nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são
“explorados”, mas resíduos, “sobras”.
O bem-estar não é só questão de PIB, Produto Interno Bruto, destaca o documento. Nenhum
lucro é legítimo quando falta o horizonte da promoção integral da pessoa humana, do destino
15
universal dos bens e da opção preferencial pelos pobres. Todo progresso do sistema econômico –
lê-se no texto - não pode se considerar tal, se medido apenas com parâmetros de quantidade e
quantidade e de eficácia na produção de lucro, mas também deve basear-se na qualidade de vida
que produz e da extensão social do bem-estar que espalha. Um bem-estar que não pode ser limitado
ao aspecto material.
“O bem-estar deve ser avaliado com critérios mais amplos da produção interna bruta de um
país (PIB), tendo em conta, em vez disso, também outros parâmetros, como a segurança, a saúde, o
crescimento do 'capital humano', a qualidade da vida social e do trabalho".

Parâmetros humanizadores

“O lucro deve sempre ser perseguido, mas nunca a qualquer custo, nem como o referente
totalizante da ação econômica”, destaca o documento. Daí a importância de “parâmetros
humanizadores” capazes de estabelecer um círculo virtuoso entre lucro e solidariedade que, graças
ao livre agir do homem, pode desencadear todas as potencialidades positivas dos mercados.
O documento também analisa a história recente do tecido econômico mundial. “A recente
crise financeira - é enfatizado -, poderia ser uma oportunidade para desenvolver uma nova economia
mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da atividade financeira,
neutralizando os aspectos predatórios e especulativos e valorizando os serviços à economia real”.
Apesar dos esforços positivos em vários níveis, não houve “uma reação que tenha levado a repensar
os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo”.
Um fenômeno inaceitável “é lucrar explorando a própria posição dominante com a injusta
desvantagem de outras pessoas ou enriquecer-se gerando danos ou perturbações ao bem-estar
coletivo”. E esta prática é particularmente deplorável, do ponto de vista moral, quando a mera
intenção de ganhar por parte de poucos através do risco de uma especulação visando provocar
reduções artificiais nos preços dos títulos da dívida pública, e não se preocupa em afetar
negativamente ou agravar a situação econômica de países inteiros.

O dinheiro deve servir

Em um contexto marcado por profundas desigualdades é necessário repensar os modelos


econômicos. É tempo de seguir com uma recuperação do que é autenticamente humano, “ampliar os
horizontes da mente e do coração, para reconhecer com lealdade o que vem das exigências da

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verdade e do bem”. Está cada vez mais claro que “o egoísmo no final não paga e faz com que todos
paguem um preço alto demais”. A economia não deve ser vista como um instrumento de poder, mas
de serviço: “o dinheiro deve servir e não governar”.

Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2018-05/editorial-economia-


instrumento-servico.html. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado).

O BRASIL DE HOJE. ÉTICA, POLÍTICA E ECONOMIA. O


QUE PODEMOS FAZER OU ESPERAR?

David R Tavares

Não é segredo pra ninguém que o Brasil atual passa por uma profunda mudança de seus
hábitos e costumes comumente aceitos. Uma moral única tende a se esfarelar frente à percepção,
por todos nós, de que há diferentes visões de mundo, comportamentos, crenças e ideologias.
Nesta linha, a ética se torna uma matéria a ser compreendida. Afinal de contas, diferente da
moral, a ética busca a compreensão e o entendimento das percepções individuais de cada cidadão

17
na busca pela fundamentação de uma “moral” mais coletiva, mais humana e aceita, ao menos, pela
maioria dos cidadãos em um ambiente democrático.
A palavra ética tem origem no termo grego ethos, o que significa aquilo que pertence aos
“bons costumes ou hábitos” fundamentados pela razão e que se distanciam da moral que se
fundamenta, muitas vezes, na obediência cultural e religiosa. Eis, então, parte significativa da
confusão na atualidade política em que vivemos. Pois, de um ethos (ético) que busca um melhor
modo de se viver entre os pares, ainda estamos sob o entendimento do mores (moral) da obediência
aos hábitos e costumes impostos e pré-determinados por “ideias universais” que, a cada dia, não
são possíveis de se aceitar, senão por crenças e ideologias alienantes.
O multiculturalismo e a pluralidade de ideias e costumes, que se torna mais presente em
nossas vidas pelo acesso tecnológico a diferentes culturas, aponta que há uma confusão sobre o
que seria o “bem”, sendo o “bem” algo universal ou o que é de fato o “bem”; ou apenas o objeto
desejado, de aspiração por muitos que pensam diferentemente e que priorizam a concretude das
relações humanas como, por exemplo, o bem-estar de se viver, ou da “vida como ela é”.
O maniqueísmo entre o “bem” e o “mal” está fortemente presente no ambiente social, político
e econômico. É entendido, pela maioria de nós, possuidores de raízes culturais essencialmente
religiosas, que o espírito racional é o “bem” e a matéria irracional o “mal”, numa dualidade estranha à
primeira vista, pois, somos a própria matéria, enquanto que o espírito permeia o mundo das ideias,
das crenças, da razão. Matéria e espírito parecem ser uma única e mesma coisa, como já dissera
uma vez o filósofo Espinosa em sua obra “Ética”, ao afirmar que o ser é uma única e mesma coisa,
ou seja, a natureza substancial.
Em outras palavras, o que é certo para alguns claramente não o é para outros, pois suas
visões de mundo muitas vezes conflitam, polarizam. Contudo, o homem é um “animal político” e vive
dentro de uma polis, onde são (supostamente) livres e “iguais” em direitos, porém diferentes em suas
aspirações individuais e coletivas, o que produz um encontro ético turbulento que tende a se auto-
organizar em modelos políticos temporários.
O filósofo Fichte exigia que toda doutrina moral deveria ser reduzida à “autodeterminação do
eu”, enquanto que para o filósofo Hegel, o objetivo das condutas humanas seria o Estado, pois o
Estado é a totalidade ética de um povo ou uma nação, ou seja, uma eticidade. Não há verdades
universais, este parece ser o fato a ser observado por todos nós.
É observável que o acesso e a inclusão de muitos cidadãos que se “sentaram à mesa de
discussão” por uma sociedade mais justa e igualitária, ocorrido nas últimas décadas, provocou uma
mudança dos “costumes anteriormente aceitos como corretos”, causando certa diferença de
percepção social e política. O status quo político está demorando para perceber essa mudança
profunda nos cidadãos.

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A política envelheceu e não atende mais as demandas dos novos movimentos que têm um
olhar mais crítico e objetivo sobre como se deve organizar a vida em sociedade. Estaríamos vivendo
uma revolução? Se considerarmos os aspectos de crescente evolução tecnológica que impulsiona
as éticas individuais em uma sociedade cibertecnológica, pode ser.
Ao invés de acatar um modus operandi envelhecido, a sociedade clama por um novo modo de
se fazer política e que esteja em sintonia com os novos movimentos sociais mais conectados,
compartilhados, fluídos e rápidos. Estaríamos nos encaminhando a um modelo de “democracia
direta” que, pela tecnologia, nos permitirá que decidamos o rumo de nossas vidas em sociedade
sem a necessidade dos atuais “representantes”?
Aqui entramos na parte essencial dessa crítica, afinal, o que nos move, neste modelo de
sociedade utilitarista que vivemos, são as coisas — a matéria sensível e acessível pelo “dinheiro”.
Este último está intrincado em nossos estilos de vida, como o ar que respiramos e a água que
bebemos. A economia, então, passa a ser a chave de aceitação, ou não, das decisões políticas em
sociedade.
A palavra economia vem do grego oikosnomos, ou “gestão da casa”, o que nos leva a
entender que as decisões políticas organizam a casa ou Estado em que vivemos. Estaríamos
inclinados a permitir que “representantes” tomem as decisões por nós no momento em que
observamos que diferentes agentes têm diferentes visões de mundo? Assim, estaríamos inclinados a
começar a protagonizar novos movimentos políticos mais democráticos, distributivos, e de busca por
uma autorrepresentação?
Parece, de fato, que será isso e uma socialização mais democrática ou então o retorno ao
nefasto totalitarismo unilateral. Não há mais espaço para decisões que agradem uma minoria em
detrimento de uma maioria. É só olhar para as “novas” lideranças populistas que emergem mundo
afora com a promessa de resolver esta questão.
O que fazer, então, com o Brasil de hoje? Estaríamos prontos, enquanto sociedade, a assumir
esse novo modelo de fazer política? É o que veremos nos próximos anos, pois, para um desses
lados, felizmente ou infelizmente, dependendo da percepção individual de cada um, nos
encaminharemos.

Disponível em: https://medium.com/neurotrix/o-brasil-de-hoje-%C3%A9tica-pol%C3%ADtica-e-


economia-o-que-podemos-fazer-ou-esperar-1439f2f319b4. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado).

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ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL – CARTA
DO GESTOR
O Brasil e os brasileiros merecem!

Nos últimos anos, vivemos a maior crise da história econômica brasileira. Perdemos
praticamente uma década de crescimento, com o PIB caindo 8% num período de dois anos. O
desemprego explodiu, justamente, num momento em que as famílias estavam endividadas após
terem sido estimuladas a consumir.
Com a economia encolhendo, a arrecadação caía, mas, mesmo assim, os gastos do governo
cresciam. Parte por conta de despesas obrigatórias parte com subsídios e com a injeção –
literalmente – de dinheiro na economia através dos bancos públicos.
Não teve jeito. A conta não fechou e entramos no “cheque especial”. E, como qualquer devedor que
está em situação financeira crítica, os juros ficaram altos!
Juro alto é uma das maiores formas de transferir riqueza de poupadores para tomadores!
Quem tem dinheiro para investir recebe boas taxas de retorno, enquanto quem tem dívidas paga
altas taxas pelo dinheiro captado. E, na prática, isso acaba transferindo renda de pobres para ricos,
aumentando a desigualdade.
Depois de bater no fundo do poço, as equipes econômicas comandadas por Henrique
Meireles (Ministério da Fazenda) e Ilan Goldfajn (Banco Central) conseguiram trazer a inflação para
dentro das metas e reduzir fortemente os juros. Voltou a confiança e, imaginava-se, voltaria também
o crescimento. Mas tanto em 2017, 2018 e (provavelmente) em 2019, essas expectativas se
frustraram.
Entrou o governo Bolsonaro, mudou a equipe econômica, mas não mudou a forma como a
economia vinha sendo conduzida.
Uma das principais diferenças entre o modelo atual e o adotado no início dessa década, era a
mão forte do estado na economia. Quem não se lembra do PAC (Programa de Aceleração do
Crescimento), subsídios a setores industriais e outra série de medidas em que o estado injetava
dinheiro na economia, tentando gerar demanda. Além de não ter funcionado, a conta surgiu logo e
foi muito alta.
Agora não há dinheiro público impulsionando o crescimento. Os balanços dos bancos públicos
foram reduzidos, BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) está
devolvendo dinheiro para a união e a expectativa é que o mercado comece a andar com suas

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próprias pernas. O que é muito interessante – mas demora mais a ter efeitos nos números de
crescimento.
Isso, em parte, explica essa demora na retomada do crescimento. O governo também
concentrou esforços na aprovação da reforma da previdência e poucas medidas de estímulo foram
tomadas até momento.
Agora temos a reforma da previdência – finalmente – passando pelo congresso. Mas não
podemos esperar que de uma hora para outra o crescimento volte. Depois dessa fase será
necessário tirar do papel uma série de projetos e propostas de estímulo à economia.
Mas há fortes motivos para esperar que teremos pela frente um grande ciclo de crescimento.
Os juros estruturalmente baixos, como estamos vendo agora, permitirão as empresas se financiarem
a taxas de juros muito mais baixas. Taxas que até pouco tempo só eram acessíveis a um grupo
seleto de “escolhidos” pelo BNDES.
Podemos estar diante de um novo ciclo de crédito, com spreads mais baixos, novas emissões
de ações e de títulos de empresas. Será o amadurecimento do mercado de capitais brasileiros
aproximando-o de mercados de países mais desenvolvidos. E esse salto no mercado de capitais
significará maior criação de empresas, expansão do mercado de trabalho e maior criação de riqueza.
Da mesma forma que juros altos transferem renda de tomadores para poupadores, juros
baixos servem como um grande estímulo ao investimento na economia real, ao invés de se buscar
ganhos em ativos financeiros.
Há uma cultura muito arraigada de que empresários são ruins e que o estado precisa cuidar
dos seus cidadãos. Mas o fato é que o dinheiro que o estado dispõe para cuidar dos seus vem da
arrecadação de impostos que, por sua vez, aumentam à medida que se gera mais riqueza.
Estamos sim muito confiantes em um novo ciclo de crescimento do país. E dessa vez de uma
forma diferente, ocorrendo por méritos próprios e com base muito mais consistente. O Brasil e os
brasileiros merecem!

Disponível: https://www.parmais.com.br/blog/atual-situacao-economica-do-brasil/. Acesso em: 22 jul.


2019 (adaptado).

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A ATUAL SITUAÇÃO ECONÔMICA DO BRASIL
Alberto Valle

A atual situação econômica do Brasil e suas perspectivas

A atual situação econômica do Brasil vem causando muita preocupação à toda parcela da
população que depende do seu próprio trabalho para garantir seu sustento.
Sejam empregados ou empresários, estão todos preocupados com os rumos que nossa
economia vem tomando nos últimos tempos.
Essa preocupação com a atual situação econômica do Brasil vem fazendo com que
empresários adiem investimentos e novos empreendedores aguardem momentos menos incertos
para iniciar seus projetos.
Como em todo momento de incerteza, certa dose de pânico se confunde com a frieza dos
números e por isso é importante termos uma visão real do que está acontecendo.

O que é fato e o que é pânico

Os números não deixam dúvidas sobre a gravidade da situação econômica brasileira, muito
embora o governo tente mascarar a crise com interpretações convenientes e a negação dos dados
captados pelas diversas consultorias econômicas, instituições de classe e até mesmo das próprias
agências e órgãos governamentais.
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A atual situação econômica do Brasil é tecnicamente de estagnação. A crise econômica de
2016 não é mais apenas uma hipótese e consta como fato em toda pauta de reunião de empresários
do país e também fora dele. Acreditar em mais uma história sobre “marolas” é negar a realidade
econômica do país e abrir a porta para o fracasso.
É claro que, como em toda situação de incerteza, principalmente em ano eleitoral, certa dose
de pânico acaba se instalando. Esse também não é o caminho para a solução do problema, pois em
momentos de histeria, decisões precipitadas podem também acabar destruindo o seu negócio.

A origem do problema

Os motivos que levaram a atual situação econômica do Brasil são muitos, mas alguns deles
merecem um destaque especial. O primeiro deles é a total falta de investimentos em infraestrutura,
que tem levado o país a perder competitividade tanto no ambiente interno quanto externo. A
explicação para esse caos está na questão estratégica.
O segundo grande motivo de termos chegado ao ponto em que chegamos foi a total falta de
planejamento estratégico de longo prazo para nossa economia. O governo vem trabalhando com
uma estratégia de reação aos fatos, uma verdadeira operação tapa buraco, onde medidas
emergenciais são adotadas para tratarem problemas que seriam facilmente resolvidos se houvesse
um planejamento macro.

Uma mistura que não costuma dar certo

O terceiro e talvez mais grave problema é a submissão da política econômica à política


partidária. Isso tem levado a uma desestruturação da máquina pública que vem prejudicando todos
os setores da sociedade, como a educação, saúde pública, segurança e obviamente a economia.
O quarto motivo é a falta de credibilidade. Com escândalos se acumulando e a impunidade
gracejando, mesmo que estivesse bem intencionado o governo não teria credibilidade suficiente para
contar com apoio dos diversos setores da economia nacional. Este é o problema que nos deixa
temerosos em relação ao futuro.
Sem medidas duras e coordenadas, a situação econômica do Brasil tende a se agravar, e em
meio a um quadro recessivo de maiores proporções, corremos inclusive o risco de o país ser
seduzido pela heterodoxia econômica bolivariana adotada por nossos hermanos venezuelanos e
argentinos com consequências trágicas.

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Alternativas para a retomada do crescimento

Que a economia brasileira vai mal, todo mundo sabe, mas a pergunta é: De que forma
podemos nos preparar para enfrentar e vencer o desafio de levar o país de volta aos rumos do
crescimento? No que diz respeito ao empreendedorismo nacional, como se preparar para a crise de
2016 e estar pronto para uma eventual retomada do crescimento.
Uma retomada da economia brasileira dependerá exclusivamente do Governo, pois segundo
todas as análises, foi ele quem não fez seu papel em termos de fomento do desenvolvimento do
país. Em resumo, não fez nem o seu dever diário e muito menos o dever de casa.
Enquanto a agricultura, indústria e serviço davam seu sangue para atingir patamares de
produtividade e competitividade, o Governo falhava no planejamento estratégico, infraestrutura e
política fiscal.
O ajuste fiscal é inevitável para provocarmos uma reversão da atual situação econômica do
Brasil, pois o uso de artifícios cínicos como a chamada contabilidade criativa das contas públicas não
dará condições para que o país volte a crescer, só jogará mais para frente uma crise maior.
A atual situação econômica do Brasil pode ser revertida, mas se depender apenas dos
empreendedores, sem a colaboração do governo, fica impossível.

Disponível em: https://www.empreendedoresweb.com.br/atual-situacao-economica-do-brasil/.


Acesso em: 22 jul. 2019 (adaptado).

A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2019: NOVA


DECEPÇÃO?

A continuidade de um crescimento decepcionante pode apontar uma conjuntura pior que a da famosa década
perdida, avalia copresidente do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP e professor da
Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Dom Cabral, Antonio Lanzana

Antonio Lanzana*

Estimativas para o desempenho do PIB (Produto Interno Bruto) no início de 2018 indicavam
um crescimento de 3%, segundo o boletim Focus, porém, as expectativas foram se deteriorando, e o

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ano se encerrou com expansão de 1,1%. Existem muitas causas possíveis para esse
recrudescimento no desempenho do PIB, entre elas, é válido citar: greve de caminhoneiros,
ambiente internacional e incertezas eleitorais.
Havendo no País uma continuidade de um crescimento decepcionante, é importante entender
que o cenário é muito complicado. Isso significa que o Brasil estaria inserido em uma conjuntura pior
que a da famosa “década perdida”, na qual o crescimento anual médio na década de 1980 era de
1,6%. Ao considerar a década atual – dados consolidados de 2018 – e as previsões do boletim
Focus para os anos que seguem –, resultaria em um crescimento médio anual de 0,9% ao ano.
Em relação ao PIB per capita nacional, de abril de 2019 em 2018, está mais de 8% abaixo do
observado em 2013. Isso significa que os brasileiros estão 8% mais pobres que no período em
questão.
O País ainda está longe de recuperar o que foi perdido nos anos recentes, e, segundo
algumas simulações, se o PIB crescer 2% a.a., o Brasil somente atingiria o PIB per capita de 2013
em 2025! E na possibilidade de crescer 2,5% a.a., a mesma riqueza per capita seria alcançada em
2023.
Tal qual observado em 2018, as estimativas para o desempenho do PIB vêm se reduzindo
desde o início do ano: o Focus já ajustou de 2,5% para 2%; o IPEA, de 2,7% para 2%; e é importante
entender que esses ajustes para baixo na taxa de crescimento da economia são frustrantes e
deterioram as expectativas.
Reverter esse cenário seria plausível caso o governo entregasse mais crescimento e emprego.
Os primeiros indicadores de 2019 revelam que estamos crescendo a um ritmo mais lento que
em 2018. Ou melhor, inseridos em cenário de desaceleração do ritmo de atividade.
Em relação aos dados setoriais, o volume de vendas do comércio no Brasil, considerando o
varejo restrito (IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela 1,9% na comparação
interanual de janeiro, abaixo da média de 2018 em comparação a 2017, que era de 2,3%. Já em
relação ao varejo ampliado, janeiro de 2019 em relação ao mesmo mês do ano passado aponta
3,5% de alta, abaixo dos 5% oriundos da comparação anual entre 2018 e 2017. A mesma tendência
é observada na produção industrial, sob a mesma base de comparação – e, nesse caso, não se
pode descartar o efeito da crise Argentina, que afeta os bens manufaturados.
O cenário global, como um todo, mostra algum desalento em relação aos resultados da
economia brasileira. Houve certa euforia com os empresários e consumidores, sob a crença de que
o governo poderia entregar mais do que, de fato, pode, e, por isso, há um movimento de revisão de
expectativas.
Entre os componentes da demanda agregada, um dos principais para puxar o crescimento da
economia para cima neste ano é o consumo das famílias, ou seja, da demanda interna. Política fiscal
está no caminho certo para garantir um bom cenário, mas é recessiva no curto prazo.
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Em suma, o consumo das famílias depende da recuperação do nível de emprego, da renda,
da confiança dos agentes e das condições de crédito. Com isso, os papéis do crédito e da retomada
da confiança são notáveis.
Não se pode esperar ainda redução nas taxas de juros praticadas pelo Banco Central (BC),
pois se trata de um novo comando que ainda não tem sua credibilidade estabelecida. E é importante
também entender que, na ausência de uma Reforma da Previdência – ou mesmo com uma reforma
tímida –, haverá reflexo no câmbio e na inflação.
A maior contribuição do BC ao crescimento é por meio da credibilidade e, principalmente,
porque o Banco Central tem meta de inflação, não de crescimento!

*Antonio Lanzana é copresidente do Conselho de Economia, Sociologia e Política da FecomercioSP


e professor da Universidade de São Paulo (USP) e da Fundação Dom Cabral.

Disponível em: https://www.infomoney.com.br/blogs/economia-e-politica/um-brasil/post/8172785/a-


economia-brasileira-em-2019-nova-decepcao. Acesso em: 22 jul. 2019 (adaptado).

ECONOMIA E POLÍTICA EM 2019: QUAIS SÃO AS


PREVISÕES DOS ESPECIALISTAS QUE ESTIVERAM NA
AMCHAM

Brasil – Analistas avaliaram Reforma da Previdência e Tributária, cenário econômico externo e composição de
forças no governo Bolsonaro

Em 2018, o PIB do Brasil cresceu 1,1% - o mesmo tanto de 2017, segundo a estatística oficial
do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Esse resultado, apesar de estar longe do
verdadeiro potencial da economia brasileira, mostra que o país parou de retroceder. O ano de 2018
também foi importante na política: elegemos um novo presidente, Senado e Congresso, que terão o
grande desafio de, nos próximos quatro anos, colocar o país de volta na rota do crescimento.
É difícil prever o que acontecerá nos próximos quatro anos – mas, para o empresariado, é
importante entender quais são as complexidades do cenário interno e externo que podem afetar a
economia e os negócios do país.

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Durante o mês de fevereiro, a Amcham recebeu diversos especialistas que compartilharam
suas perspectivas para 2019. Veja abaixo o que os grandes especialistas que passaram por aqui
estão pensando para os próximos meses:

Cenário Internacional

Durante o Comitê Estratégico de Diretores Comerciais em São Paulo (13/02), Alessandra


Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, lembra que o cenário econômico internacional é muito
desafiador e que a economia mundial sofre uma desaceleração. Um dos principais motivos para isso
é a guerra comercial entre Estados Unidos e China, além da desaceleração do crescimento chinês.
Mesmo assim, ela cita que um maior cuidado com o endividamento por parte dos governos e a
queda na liquidez internacional são pontos positivos.
“Apesar dos riscos e desafios, podemos ter, no final das contas, algo que nos beneficia. O
mundo que cresce menos de um lado, mas com condições financeiras um pouco mais folgadas do
que antes”, comenta Ribeiro.

Governabilidade moderada

Para a especialista, a governabilidade de Bolsonaro ainda é um ponto sensível, já que foge


dos modelos de coalizão que eram construídos por outros presidentes. Mesmo assim, ela acredita
que será o suficiente para encaminhar a agenda fiscal, prioridade do governo.
Outro ponto que deve facilitar a aprovação da agenda é a reeleição de Rodrigo Maia para
presidente da Câmara – alguém bem articulado dentro do Congresso e que ajudou a aprovar
medidas importantes no governo Temer. A eleição de Davi Alcolumbre para o Senado também foi
algo positivo na perspectiva de Ribeiro – tanto Maia quanto Alcolumbre são do mesmo partido (DEM),
o que deve facilitar a articulação entre as Casas.
O consultor Thiago Vidal, gerente de análise política da Prospectiva, avalia que o governo
Bolsonaro é formado por quatro grupos: dos economistas, militares, políticos e conservadores. “É
uma visão sistêmica que ajuda a entender como o governo funciona”, argumenta, no comitê
estratégico de Líderes Empresariais, em 21/2.
Os economistas e os militares são os principais pilares, avalia. “O grupo de Guedes é mais
coeso que o de Temer”, disse. Já o dos políticos é formado por parlamentares que serviram a outros
governos. “Há políticos do DEM e MDB. Lorenzoni, Chefe da Casa Civil, é de partido tradicional”,
exemplifica. “Chama a atenção, porque não há uma negação da estrutura política que ele havia

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prometido na campanha. E não é uma crítica, porque mostra o que se pode esperar em termos de
agenda”, disse.
O quarto grupo é formado por especialistas que defendem uma agenda mais conservadora.
Como exemplo, cita o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e a ministra da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves. É um grupo com menos influência junto a
Bolsonaro, segundo Vidal.
“A agenda conservadora de costumes não vai prevalecer no início, porque pode ofuscar
agenda econômica. E o que ancora as expectativas do governo é a agenda econômica.”

Abertura comercial e privatizações

Para Vidal, da Prospectiva, o governo deu indicações de que pretende trabalhar em um amplo
acordo de abertura comercial com os Estados Unidos. “Bolsonaro e Guedes (Ministro da Fazenda)
indicaram que não querem fazer uma abertura tão rápida quanto prometeram e o Custo Brasil é o
principal componente dessa decisão. Mas vai haver preparação de uma abertura comercial sem
precedentes. O que, na minha avaliação pessoal, é positivo”, disse.
Em relação às privatizações, Vidal não se mostra tão confiante. Vai haver muito debate no
Congresso sobre quais estatais podem ser vendidas sem projeto de lei. “Isso vai retardar um pouco
o processo. A Eletrobrás, por exemplo, é um dos casos onde se vai discutir a necessidade de um
projeto de lei. Mas as suas distribuidoras devem ser vendidas sem maiores polêmicas”, afirma.
Além disso, vender ativos do estado não vai garantir muito caixa, acredita. “Muitas empresas
públicas são deficitárias. O que vai dar dinheiro é o esvaziamento do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social), com a venda do BNDESPar. É na venda da participações do
banco que estão as melhores oportunidades de fazer dinheiro.” Algumas das empresas que a
BNDESPar tem participação acionária são a Fibria, Petrobras, Eletropaulo, Embraer, Vale e
Eletrobrás.

E a Reforma Tributária?

Em pesquisa feita na Amcham em fevereiro com mais de 550 executivos, quase metade
(48%) das pessoas colocou a simplificação e redução da carga tributária como a medida mais
importante para aumentar a competitividade da economia brasileira. O item ficou à frente de opções
como atração de investimentos e desburocratização, por exemplo. O levantamento mostrou a
urgência do tema, também abordado durante o Comitê de Tributação em São Paulo (27/02).

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Durante o encontro, Evany Oliveira, Diretora de Tax na PwC, afirmou que, pelo menos neste
ano, não haverá uma ampla reforma tributária no país. No entanto, ela percebe que há uma vontade
dos governos Estaduais e do Federal em reformar o ICMS (Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços).
“Sinto a possibilidade de alguma mudança acontecer em função de reuniões em que participei
com representantes das Secretarias das Fazendas dos Estados, para falar da simplificação tributária.
Eles colocaram que o ICMS está velho, não está eficaz do ponto de vista de arrecadação e que é
complexo do ponto de vista do contribuinte. Pelo menos desses representantes, senti o desejo de
mudança”, relatou. A especialista também colocou que a recente reforma nos tributos corporativos
nos EUA (Estados Unidos) pode inspirar medidas similares aqui no Brasil.
Para Edison Fernandes, sócio do FF Law e colunista do Valor Econômico, o foco do governo
agora é no controle da despesa pública – ou seja, todas as atenções estão voltadas para a Reforma
da Previdência. “Antes da Reforma da Previdência, não vejo nenhuma discussão tributária no
horizonte, até porque ainda não existe um projeto do governo. O que vem em termos de reforma
tributária? Por enquanto, nada. A partir da previdência, discutiremos outras coisas”, analisa.
O colunista enxerga que algumas medidas menores, que não dependem tanto do governo
Federal, devem sair, como a unificação do PIS (Programa de Integração Social) e Cofins
(CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL), e a tributação de
dividendos. Sobre a alíquota de dividendos, ele faz um alerta: “Hoje, se eu faço transação na bolsa,
meu imposto é 15%. Se colocar imposto sobre dividendos, Pessoa Jurídica ou investimento acima
desse valor, eu, que tenho dinheiro, vou abrir um negócio ou especular na bolsa? Vou especular na
bolsa. Isso tem que ser considerado para formular a alíquota”, indica.

Disponível em: https://www.amcham.com.br/noticias/competitividade/economia-e-politica-em-2019-


quais-sao-as-previsoes-dos-especialistas-que-estiveram-na-amcham. Acesso em: 22 jul. 2019
(adaptado).

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DESIGUALDADE SOCIAL AVANÇA E HOJE OS POBRES
PAGAM MAIS IMPOSTOS QUE OS RICOS

A desigualdade na distribuição de riqueza em todo mundo está “fora de controle”, alerta um


relatório da ONG (Organização Não Governamental) antipobreza Oxfam divulgado nesta segunda-
feira (21/01). Segundo o documento, em 2018, enquanto as camadas mais favorecidas acumulavam
riquezas, as mais pobres ficavam ainda mais pobres, aumentando o abismo entre os dois grupos.
A Oxfam afirma que, no ano passado, um novo bilionário surgiu a cada dois dias, enquanto o
patrimônio dos 3,8 bilhões de indivíduos mais pobres diminuía diariamente em 500 milhões. As
fortunas bilionárias aumentaram 12%, ou 2,5 bilhões de dólares por dia, enquanto as camadas mais
pobres viram sua riqueza diminuir 11%.
Segundo o relatório, os 26 indivíduos mais ricos do mundo concentram riqueza equivalente ao
patrimônio dos 3,8 bilhões de pessoas que formam a camada mais pobre da população mundial, ou
seja, 50% das pessoas em todo o planeta.
Os sistemas tributários que pesam sobre as camadas mais desfavorecidas da população
mundial aumentam a disparidade entre ricos e pobres e a insatisfação popular, afirmou Winnie
Byanyima, diretora executiva da Oxfam International. Esse quadro traz efeitos negativos
particularmente para as mulheres.

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“Enquanto corporações e os super-ricos desfrutam de impostos baixos, milhões de meninas
não têm acesso à educação de qualidade e muitas mulheres morrem por falta de cuidados na
maternidade”, disse Byanyima.
O relatório afirma que os governos subfinanciam cada vez mais os serviços públicos e
subtributam os ricos. “Os pobres sofrem duplamente, com a falta de serviços essenciais e também
ao pagar uma carga maior de impostos”, afirmou a diretora executiva da Oxfam.
A ONG ressalta que os impostos sobre os mais ricos e as grandes empresas vêm sendo
reduzidos nas últimas décadas. Quando os governos fracassam em taxar os mais ricos, a carga
tributária recai sobre os mais pobres através de impostos sobre o consumo, como os impostos sobre
o valor agregado (IVA).
“Tributações indiretas como essa recaem sobre sal, açúcar ou sabão, recursos básicos de
que as pessoas necessitam […]. Dessa forma, os pobres pagam uma fatia relativamente maior de
seus rendimentos do que as pessoas ricas”, apontou Byanyima.
Sistemas tributários mais justos podem contribuir para resolver o problema. A Oxfam afirma
que se a camada de 1% dos mais ricos da população mundial pagasse apenas 0,5% a mais de
impostos sobre suas riquezas, isso arrecadaria por ano mais que o suficiente para financiar os
estudos de todas as 262 milhões de crianças que se encontram hoje fora da escola, além de garantir
assistência médica que evitaria a morte de 3,3 milhões de pessoas.
A ONG sugere que os governos reavaliem a tributação sobre riquezas, como os impostos
sobre heranças de propriedades, que vêm sendo reduzidos ou eliminados em boa parte das nações
mais desenvolvidas e sequer foram implementados nos países mais pobres.
O relatório, divulgado pouco antes do início do Fórum Econômico Mundial de Davos, que
reúne na Suíça lideres mundiais da política e dos negócios a partir desta terça-feira (22/01/19), é
baseado em informações do registro de dados sobre a riqueza do banco de investimentos Credit
Suisse e da “lista dos bilionários” da revista Forbes.

Fonte: Deutsche Welle

Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/desigualdade-social-avanca-e-hoje-os-


pobres-pagam-mais-impostos-que-os-ricos/. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado).

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REFORMA NECESSÁRIA, MAS INSUFICIENTE
Francisco Petros

A economia brasileira necessita de muitas e profundas reformas para se desenvolver.

A reforma da previdência social, lançada pelo governo no final de fevereiro/2019, parece ser
uma resposta razoável às necessidades do país no que tange ao tema. A economia total em 10 anos
deve gravitar ao redor de R$ 1,1 trilhão e virá pelo aumento a idade mínima para aposentadoria e
pela redução do benefício, em alguns casos. Em 2018, a Previdência e Assistência social
apresentaram um dispêndio da ordem de R$ 700 bilhões, cerca de seis vezes o que se gastou com
saúde e dez vezes o que se gastou com educação. Assim não dá.
As resistências às manobras legislativas que pretendem reduzir a gritante desigualdade nos
gastos da previdência social vêm de dois segmentos muito simbólicos: de um lado a esquerda
anacrônica que não reconhece a situação e defende o direito dos mais ricos. Marx teria calafrios,
posso imaginar! De outro, os corporativistas, estes seres bem instalados no Congresso Nacional,
cuja pregação sugere que todos serão injustiçados se houver reforma. De fato, os corporativistas
desprezam os mais pobres e cuidam mesmo é de seu contracheque mensal. O discurso
corporativista funciona apenas para segmentos das Casas Legislativas vez que a evidência
demonstra que o funcionalismo, em geral, ganha cinco vezes mais que os "comuns" (maior parte do
eleitorado), sendo que no caso de militares, procuradores e juízes essa diferença beira à imoralidade
absoluta.
Dá para ser otimista em relação à votação do tema ser proveitosa para a finança pública. A
razão mais forte para isso é que, sem a reforma, Estados e municípios se tornarão inviáveis. Logo,
os distintos representantes do povo e dos Estados terão de arbitrar entre (i) uma reforma
previdenciária que torne mais isonômicos os ganhos de poucos milhões de funcionários públicos e
(ii) uma crise federalista mais à frente. Sinceramente, acredito que suas excelências acabarão por
preservar os cargos de prefeito e governador que sempre estão a cobiçar. Portanto, a previdência
deve ser reformada porque finalmente aportamos no "espírito do tempo" no qual o Mefistófeles de
plantão é o crescente déficit que engalfinha o Estado e seus asseclas. É claro que que as
corporações, aqui e ali, tirarão nacos da reforma a seu favor. Contudo, o que estou a dizer é que, ao
final do processo legislativo, o ganho fiscal será positivo e bom para o Brasil.
Sem equívocos, pode-se afirmar que a reforma da previdência é condição prévia de qualquer
reforma fiscal. O déficit previdenciário é tão avassalador que não se pode falar de reforma fiscal sem
se falar de previdência. O que parece realmente discutível é a elaboração teórica de que a reforma
da previdência trará inexoravelmente crescimento econômico. Isso pode acontecer ou não. É

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verdade que os fatores de produção (capacidade instalada, empregos, etc.) estão bem desocupados
que podemos aumentar rapidamente a produção sem que isso implique no curto prazo em aumento
das expectativas de inflação. Por esse raciocínio a boa-nova da reforma da previdência soará como
fator decisivo para o crescimento do consumo e do investimento. Será?
A vontade de consumir e investir nasce do denominado "espírito animal" (conceito aristotélico
tomado por Keynes na sua teoria econômica) daqueles que tomam no presente o risco de enfrentar
o futuro opaco para realizar maior satisfação de consumo e lucros por investir. Ou seja, o processo
racional de investir e consumir tem fortes componentes de expectativas. De forma breve, esse
raciocínio parece englobar muito mais que o resultado da votação da reforma da previdência social.
Há muito fatores que indicam que a economia brasileira perdeu tração para se desenvolver.
Do papel letárgico do Estado para forjar o desenvolvimento por meio de políticas públicas até a
queda sistemática da produtividade dos fatores de produção, inclusa a mão de obra influenciada pelo
fator demográfico, há evidências de que a economia brasileira tende à estagnação. Somente com
enorme esforço dos agentes econômicos é que será quebrada essa tendência estrutural. Assim
sendo, muito embora a promessa liberal seja a de libertar o "espírito animal" dos empreendedores
por meio de reformas pró-mercado (sem dúvida um aspecto positivo), parece relevante que se pense
um modelo novo para o papel que o Estado exercerá nesse processo. Questões básicas, tais como
a disponibilização ou facilitação do crédito, a melhora da infraestrutura, o treinamento da mão de
obra, ainda estão pendentes de serem repensadas. Outros temas novos como a "revolução industrial
4G", políticas de inovação tecnológica, a integração do país nas cadeias produtivas mundiais,
necessitam de respostas eficientes e rápidas para que possamos surfar nas ondas das principais
economias mundiais.
O que temos verificado nos fatos disponíveis, no comportamento dos agentes públicos e
privados, são movimentos muito desencontrados e tímidos. A economia brasileira necessita de
muitas e profundas reformas para que possa voltar ao leito do desenvolvimento. A reforma da
previdência social é fato essencial do processo, mas não é a revolução necessária para que o Brasil
possa acompanhar a revolução que ocorre lá fora.

Disponível em: https://www.migalhas.com.br/Decifras. Acesso: 19 jul. 2019 (adaptado).

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A REFORMA DA PREVIDÊNCIA VAI TRAZER DE VOLTA
CRESCIMENTO DA ECONOMIA?

Quando ouvir dizer que o regime de capitalização é a salvação da Previdência, desconfie

Regina Camargos

Diariamente, a grande mídia e os analistas econômicos conservadores martelam nas nossas


cabeças que sem a “reforma” da Previdência o país não voltará a crescer. A justificativa é que sem
ela a situação financeira do governo entrará em colapso e não haverá recursos para investimentos
em saúde, educação, segurança e infraestrutura. Como as opiniões contrárias praticamente não são
veiculadas, a sociedade se torna refém dessa “verdade” e a aceita sem questionar.
Uma visão diferente sobre a questão entende que a retomada do crescimento é pré-condição
para o equilíbrio financeiro da Previdência – e não o contrário. Quando a economia se recupera, o
nível de emprego formal volta a crescer e com ele a arrecadação das contribuições para a
previdência, proporcionando, gradativamente, seu equilíbrio. De acordo com essa visão, a piora nas
contas da Previdência entre 2015 e 2018 se deve à recessão – a mais grave da história do país –
ocasionada por uma política econômica ultraliberal que promoveu drásticos cortes nos investimentos
e gastos públicos, elevou as taxas de juros e restringiu o crédito.
A retomada do crescimento poderia ocorrer por meio de uma política de crédito adequada,
principalmente via bancos públicos; de uma reforma tributária que reduza impostos sobre o consumo

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e aumente os que incidem sobre a riqueza; e da manutenção das políticas sociais para reduzir a
pobreza e a desigualdade.
A reforma da Previdência que está sendo proposta pelo governo Bolsonaro não promoverá a
retomada do crescimento com distribuição de renda. Ao rebaixar os valores dos benefícios e
dificultar ainda mais o acesso a eles, essa reforma irá aumentar a desigualdade e a pobreza e
resultará em menos consumo das famílias. Como se sabe, esse foi um dos principais propulsores da
economia entre 2004 e 2014. Menos consumo significa menos demanda para as empresas, portanto,
menos estímulo para que invistam, produzam e criem vagas de empregos.
Mas se há menos empregos – algo que vem se agravando nos últimos três anos –, cai a
arrecadação da Previdência e com isso produz-se um círculo vicioso agravado pela reforma
trabalhista e pela terceirização sem limites que levam a condições de trabalho mais precárias e a
empregos mal remunerados.
Na verdade, por trás do argumento de que sem a reforma da Previdência não haverá
retomada do crescimento estão os interesses dos rentistas, que querem garantir para si os recursos
do orçamento público na forma do pagamento de juros da dívida pública e dos banqueiros. Além de
ganhar muito dinheiro com os juros pagos pelo governo, os banqueiros que vêm no sistema de
capitalização – previdência privada – outro lucrativo filão de negócios.
O pano de fundo desse debate sobre crescimento e reforma da Previdência é uma acirrada
disputa entre diferentes projetos de desenvolvimento para o país.
Um dos projetos, encarnado nos governos Temer e Bolsonaro, propõe uma “economia do 1%”,
na qual os benefícios do crescimento se destinem a essa ínfima parcela da sociedade. Os motores
desse projeto são o aprofundamento da dependência externa da economia, as privatizações, a
precarização do trabalho e a drástica redução do papel do Estado, inclusive nas áreas sociais –
saúde, educação, segurança e previdência.
O projeto oposto, que se tentou viabilizar entre 2004 e 2014, visava a conciliar crescimento
econômico e distribuição de renda, tendo por base o desenvolvimento do mercado interno e das
empresas nacionais, a expansão do crédito, a redução das desigualdades e a soberania
internacional. Nesse projeto, a Previdência Social cumpriu um papel fundamental devido à sua
importância para a redução da pobreza e a distribuição de renda.
Portanto, o que está em jogo no debate sobre a reforma da Previdência é uma visão de longo
prazo sobre o modelo de crescimento econômico que o país adotará: se para a maioria ou para
poucos.

Disponível em: https://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-reforma-da-previdencia-vai-trazer-de-


volta-crescimento-da-economia-por-regina-camargos/. Acesso em: 26 jul. 2019 (adaptado).
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CONHEÇA PROJETOS QUE SE TORNARAM LEIS NO
PRIMEIRO SEMESTRE
Aline Guedes

Palácio do Planalto, sede do Executivo, e Palácio do Congresso Nacional (ao fundo). Somente em 2019, 71
novas leis foram publicadas, fruto do processo legislativo, conduzido por deputados e senadores.

O primeiro semestre de 2019 foi o mais produtivo dos últimos 25 anos no Congresso Nacional,
conforme registrado pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre, com base em relatório da Secretaria
Geral da Mesa. Desde o início da Legislatura, em 1º de fevereiro, o Parlamento aprovou projetos de
iniciativa de deputados e senadores que se tornaram leis que já vigoram, com impacto na vida da
população.
Veja as principais propostas que já viraram lei em 2019:

Transporte pirata

O aumento da punição para o transporte pirata foi instituído pela Lei 13.855/2019, sancionada
em julho. A nova legislação passou a classificar o transporte pirata — seja de ônibus ou van escolar
sem autorização e que cobram passagens das pessoas — como infração gravíssima, com multa
(multiplicada por cinco, no caso do transporte escolar) e perda de sete pontos na Carteira Nacional
de Habilitação, além da remoção do veículo.
A lei se baseou no Projeto de Lei da Câmara (PLC) 109/2017, apresentado pelo deputado
Daniel Coelho (Cidadania-PE), e aprovado no Senado em junho.
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Calúnia nas eleições

Quem acusar falsamente um candidato a cargo político com o objetivo de afetar a candidatura
poderá ser condenado a pena de dois a oito anos de prisão, além do pagamento de multa. A
condenação poderá ser aumentada em um sexto, caso o acusado se esconda por trás de anonimato
ou nome falso. A novidade está prevista na Lei 13.834 de 2019, aprovada pelo Legislativo em abril e
sancionada em junho.
Resultada do PLC 43/2014, a lei mudou o Código Eleitoral (Lei 4.737, de 1965) para tipificar o
crime de denunciação caluniosa com finalidade eleitoral e já está em vigor. Antes, a legislação previa
detenção de até seis meses ou pagamento de multa para quem injuriar alguém na propaganda
eleitoral ou ofender a dignidade ou o decoro da pessoa.

Casamento de menores

A proibição do casamento de menores de 16 anos também já está em vigor. Instituída pela Lei
13.811, de 2019, publicada em março, a medida resulta do (PLC 56/2018), aprovado no Senado em
fevereiro. A nova regra, no entanto, manteve a exceção, que já consta do Código Civil (Lei 10.406,
de 2002), pela qual pais ou responsáveis de jovens com 16 e 17 anos podem autorizar a união.
A legislação anterior admitia o casamento em caso de gravidez ou para evitar imposição ou
cumprimento de pena criminal, já que ter relações sexuais com menores de 14 anos é crime com
pena que vai de 8 a 15 anos de reclusão. Apesar de o Código Penal (Decreto-lei 2.848, de 1940) não
prever mais a extinção da pena com o casamento, a menção a essa situação não havia sido
revogada no Código Civil.

Cadastro positivo

O presidente da República, Jair Bolsonaro, sancionou em abril a Lei Complementar 166, de


2019, que trata da adesão automática ao cadastro positivo. O projeto de lei que tratou do assunto
(PLP 54/2019) foi aprovado pelo Senado em março. Pelo texto, será automática a adesão de
consumidores e empresas aos cadastros positivos de crédito. Trata-se de um instrumento criado em
2011 para ser um banco de dados sobre bons pagadores, contrapondo-se aos famosos cadastros
negativos (como Serasa e o Serviço de Proteção ao Crédito - SPC). Porém, até este ano, o
consumidor precisava autorizar a inclusão do seu nome no cadastro positivo.

Agências Reguladoras

O novo marco legal das agências reguladoras já está valendo. O Poder Executivo sancionou
em junho a Lei 13.848, de 2019, que, entre outras medidas, atualiza regras de gestão, organização,
processo decisório e controle social das agências, dispõe sobre a indicação de dirigentes, uniformiza
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o número de diretores, seus prazos de mandato e normas de recondução. São exemplos dessas
empresas a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Agência Nacional do Petróleo, Gás
Natural e Biocombustíveis (ANP), a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A lei é oriunda do PLS 52/2013, aprovado pelo Senado em maio. Pela nova regra, o controle
externo das agências reguladoras caberá ao Congresso Nacional, com auxílio do Tribunal de Contas
da União (TCU).

Desaparecidos

A Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, instituída pela Lei 13.812, de 2019,
está em vigor desde março. Aprovada pelo Senado em fevereiro, a nova legislação foi fruto de
projeto aprovado pelo Plenário do Senado (PLC 144/2017) no mês anterior.
Pela lei, o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas terá um banco de informações
públicas (de livre acesso por meio da internet), com informações básicas sobre a pessoa
desaparecida; e dois bancos de informações sigilosas, um deles contendo informações detalhadas
sobre a pessoa desaparecida e o outro trazendo informações genéticas da pessoa desaparecida e
de seus familiares.
Esses dados deverão ser padronizados e alimentados por todas as autoridades de segurança
pública competentes para a investigação. Para ajudar na localização, o governo poderá promover
convênios com emissoras de rádio e televisão para a transmissão de alertas urgentes de
desaparecimento.

Violência doméstica

Já está em vigor a Lei 13.836, de 2019, que obriga o registro, nos boletins de ocorrência, de
deficiência da vítima dos casos de violência doméstica. A medida, publicada no Diário Oficial da
União em junho, resultou do PLC 96/2017, aprovado pelo Senado em maio.
Incluída na Lei Maria da Penha (Lei 11.340, de 2006), a nova regra também determina que o
registro policial informe se o ato de violência resultar em sequela ou em agravamento de deficiência
preexistente.

Universidade do Norte do Tocantins

Tocantins ganhou uma nova universidade. O governo federal sancionou em 8 de julho a Lei
13.856, de 2019, oriunda do Projeto de Lei (PL) 2.479/2019, aprovado pelo Senado em junho.
Com sede no município de Araguaína (TO), a Universidade Federal do Norte do Tocantins
(UFNT) é fruto de desmembramento do campus da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Pela
nova lei, os cursos, alunos e cargos dos campi da UFT de Araguaína e Tocantinópolis serão
transferidos para a nova universidade.

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Ovinocaprinocultura

O Diário Oficial da União do dia 9 de julho trouxe a publicação da Lei 13.854, de 2019, que
institui a Política Nacional de Incentivo à Ovinocaprinocultura. A nova norma teve origem no Projeto
de Lei da Câmara (PLC) 107/2018, aprovado no Senado em maio.
O termo ovinocaprinocultura refere-se à criação de ovinos (carneiros e ovelhas) e caprinos
(bodes e cabras) com a finalidade de produção de carne, lã, couro, leite, queijo e outros derivados.
Pela lei, o planejamento da política nacional será formulado e implementado em articulação com
entidades dos setores de produção de ovinos e caprinos, além da indústria de processamento, de
empresas e instituições federais, estaduais e municipais.

Guaíra (PR)

O município de Guaíra, no Paraná, receberá 8% do total dos royalties que a Usina Hidrelétrica
de Itaipu repassa aos entes federados diretamente afetados pela sua construção. A medida está
prevista na Lei 13.823, de 2019, sancionada em maio. O texto teve origem no PLC 94/2015,
aprovado pelo Senado em março.
A compensação é paga a estados e municípios brasileiros afetados diretamente pela
construção do reservatório da usina hidrelétrica, administrada pelo Brasil e pelo Paraguai.
Atualmente o repasse é proporcional à extensão de áreas submersas pelo lago e à quantidade de
energia gerada mensalmente. O critério, no entanto, desconsidera que nem todas as áreas
inundadas têm o mesmo potencial para geração de desenvolvimento econômico nos municípios.
Guaíra perdeu sua principal atração turística, o Salto das Sete Quedas, com a inundação que deu
origem ao Lago de Itaipu. Outras 15 cidades afetadas com o lago tiveram perdas apenas de áreas
agricultáveis.

Conselheiros tutelares

Já está em vigor a Lei 13.824, de 2019, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA - Lei 8.069, de 1990), para permitir a reeleição de conselheiros tutelares para vários mandatos.
Antes da nova lei, o ECA permitia essa recondução por apenas uma vez.
A medida constou do Projeto de Lei (PL) 1.783/2019, aprovado por unanimidade no Senado
em abril, e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em maio.

Vagas em escolas

Já está em vigor a Lei 13.845 de 2019, que garante vagas na mesma escola pública a irmãos
que frequentam a mesma etapa ou ciclo de ensino da educação básica. A medida é fruto do Projeto
de Lei da Câmara (PLC) 305/2009, aprovada na Câmara em junho.

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Georreferenciamento

A dispensa da carta de anuência no processo de georreferenciamento de imóveis rurais está


prevista em lei federal (Lei 13.838, de 2019). Agora, basta a declaração do próprio requerente de
que respeitou os limites e as confrontações.
A nova regra é oriunda do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 120/2017, aprovada no Senado
em maio e publicada no Diário Oficial da União no começo de junho.
Autor da proposição quando ainda era deputado federal, o senador Irajá (PSD-TO) disse que
a iniciativa beneficia mais de 15 milhões de pequenos, médios e grandes produtores rurais em todo o
país. Segundo ele, a lei ajudará a resolver litígios ocorridos há muitas décadas, quando as medições
das propriedades não eram precisas, o que contribuiu para gerar insegurança jurídica no campo.

Água potável

A inclusão do risco de escassez de água entre os itens abrangidos pelo conceito de


segurança alimentar passou a ser lei em junho. O presidente Jair Bolsonaro sancionou sem vetos a
Lei 13.839, de 2019, oriunda do Projeto de Lei do Senado (PLS) 83/2015, aprovado em junho na
Câmara.
A nova medida acrescenta na Lei 11.346 de 2006, que criou o Sistema Nacional de
Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), ações para reduzir o risco de falta de água potável. O
texto também inclui na legislação inciativas que estimulem a formação de estoques estratégicos de
alimentos.

TV por assinatura

Em maio, foi publicada no Diário Oficial da União a Lei 13.828, de 2019, que garante o
cancelamento de serviços de TV por assinatura por telefone ou pela internet, como direito dos
assinantes. A intenção da nova lei é colocar fim aos constantes desrespeitos aos consumidores que
perdem tempo em ligações telefônicas na tentativa de cancelar seus contratos.
Sancionada sem vetos, a lei resultou do PLC 131/2015, aprovado pelo Senado em março.

Equoterapia

A Lei 13.830, de 2019, que regulamenta a equoterapia como método de reabilitação de


pessoas com deficiência, já está em vigor. A medida, sancionada pelo Executivo em maio, é oriunda
de um substitutivo da Câmara dos Deputados (SCD 13/2015) ao PLS 264/2010, aprovado no
Senado em abril.
Pela nova legislação, a prática de reabilitação — que utiliza o cavalo em abordagem
interdisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação voltada ao desenvolvimento
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biopsicossocial da pessoa com deficiência — será exercida por equipe multiprofissional, integrada
por médico, médico veterinário, psicólogo, fisioterapeuta e profissionais de equitação. A lei determina
ainda que os centros de equoterapia somente poderão operar se obtiverem alvará de funcionamento
da vigilância sanitária.

CLT

Foi sancionada em maio a Lei 13.822, de 2019, que estabelece que todo empregado de
consórcio público, tanto de direito público como privado (sem fins lucrativos), deverá ser regido pela
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT - Decreto-lei 5.452, de 1943). Os consórcios são parcerias
sem fins lucrativos criadas por municípios, estados e Distrito Federal para prestar serviços e
desenvolver ações de interesse coletivo.
A nova legislação é fruto do Projeto de Lei do Senado 302/2015, aprovado em maio na
Câmara dos Deputados.

Banco Central e Tesouro Nacional

O governo sancionou em maio a lei que altera a relação financeira entre o Banco Central (BC)
e o Tesouro Nacional (Lei 13.820, de 2019). Pelo texto, o lucro do BC na administração das reservas
internacionais e nas operações internas com derivativos cambiais (usadas para controlar o volume
de dólares na economia), apurado em balanço semestral, será destinado a uma "reserva de
resultado" que integrará o balanço do BC. A reserva somente poderá ser utilizada para cobrir os
prejuízos do próprio Banco Central.
Excepcionalmente, e desde que autorizado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), os
recursos depositados na reserva poderão ser usados para pagar a dívida pública mobiliária federal
interna (dívida em títulos públicos) quando severas restrições nas condições de liquidez afetarem de
forma significativa o seu refinanciamento.
A nova regra teve origem no Projeto de Lei do Senado (PLS) 314/2017, aprovado pela
Câmara em dezembro de 2018.

Lei das S.A. alterada

Em abril, entrou em vigor a Lei 13.818, de 2019, que dispensa as companhias fechadas (sem
ações negociadas em bolsa) com menos de 20 acionistas e patrimônio líquido de até R$ 10 milhões
de publicar edital para convocar assembleia geral dos acionistas e documentos exigidos da diretoria
da empresa, como os balanços.
A medida altera a Lei das Sociedades Anônimas (S.A. - Lei 6.404, de 1976) e é originária do
Projeto de Lei do Senado (PLS 286/2015), aprovada em março no Senado.

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Automutilação

A Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio foi instituída pela Lei 13.819,
de 2019, publicada em abril. O texto teve origem no Projeto de Lei (PL) 1.902/2019, aprovado pela
Câmara no final de março e pelo Senado no dia 4 de abril.
O texto determina a notificação compulsória, pelos estabelecimentos de saúde, dos casos de
violência autoprovocada, incluindo tentativas de suicídio e a automutilação.

Reavaliação pericial

Pessoas com HIV/aids aposentadas por invalidez estão dispensadas de reavaliação pericial.
A regra está prevista na Lei 13.847, de 2019, sancionada em junho. O texto foi proposto pela
Articulação Nacional de Saúde e Direitos Humanos, uma entidade que luta por direitos das pessoas
que vivem com HIV/aids.
A norma foi promulgada pelo presidente da República, Jair Bolsonaro, depois que o
Congresso rejeitou, no dia 11 de junho de 2019, o veto total (VET 11/2019) ao Projeto de Lei do
Senado (PLS) 188/2017, aprovado em abril.

Cartões em braile

Já está em vigor a norma que garante às pessoas com deficiência visual o direito de receber
cartões de crédito e de movimentações bancárias com caracteres de identificação em braile. A Lei
13.835, de 2019 teve origem no Projeto de Lei da Câmara (PLC) 84/2018, aprovado no Senado em
abril e publicada no Diário Oficial da União em junho.

Prestação de contas

Foi publicada no Diário Oficial da União em maio a Lei 13.831, de 2019, que muda regras
referentes à prestação de contas dos partidos políticos e dá a eles mais autonomia em sua
movimentação financeira e organização interna. A medida é fruto do PL 1.321/2019, aprovada
no Plenário do Senado em 16 de abril.
A nova legislação proíbe a rejeição de contas e garante anistia de multa às agremiações que
não gastaram a cota mínima de 5% de recursos com programas de promoção e difusão da
participação política das mulheres, desde que tenham direcionado algum dinheiro para candidaturas
femininas.
O texto também desobriga órgãos partidários municipais sem movimentação financeira de
enviar várias declarações e demonstrativos à Secretaria da Receita Federal e dispensa a inscrição
dos dirigentes partidários no Cadastro de Inadimplentes (Cadin), banco de dados com nomes de
pessoas físicas e jurídicas com débito na administração pública federal. Agora as legendas terão
autonomia para definir o prazo de duração dos mandatos dos membros dos seus órgãos internos
permanentes ou provisórios.
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O presidente Jair Bolsonaro, vetou trecho que desobrigava as agremiações a devolverem aos
cofres públicos federais as doações que receberam em anos anteriores de servidores públicos com
função ou cargo público de livre provimento filiados aos próprios partidos.

Vestibular

Foi publicada no Diário Oficial da União em maio a Lei 13.826, de 2019, que trata da
divulgação dos resultados dos processos seletivos de acesso a cursos superiores de graduação.
Torna-se obrigatória a divulgação da relação nominal dos classificados, da respectiva ordem de
classificação e do cronograma das chamadas para matrícula, de acordo com os critérios para
preenchimento das vagas constantes do edital dos certames.
A nova norma resultou da aprovação do PLC 42/2015, aprovado no Senado em março.

Contratação de consórcios

O presidente Jair Bolsonaro sancionou sem vetos uma lei que reduz as exigências para a
celebração de convênios entre a União e os chamados consórcios públicos. Os consórcios são
parcerias sem fins lucrativos criadas por municípios, estados e Distrito Federal para prestar serviços
e desenvolver ações de interesse coletivo em sua área de atuação.
A Lei 13.821, de 2019, foi publicada no Diário Oficial da União em maio. Ela resultou do PLS
196/2014, aprovado na Câmara em abril.
De acordo com o texto, as exigências tributárias, fiscais e previdenciárias para a celebração
dos convênios só podem ser cobradas do consórcio em si — e não mais dos entes que compõem a
parceria. Assim, um consórcio público adimplente pode ser contratado para prestar serviços, mesmo
que os municípios ou estados que o integram estejam em débito com a União.

Homenagens

Patrono da Tecnologia

Também foi publicada a Lei 13.817/2019, que deu o título de Patrono da Tecnologia da
Informação da Aeronáutica ao major-brigadeiro engenheiro Tércio Pacitti, responsável pela
concepção e pela implementação da tecnologia da informação no Comando da Aeronáutica e no
país. A lei resultou do PLC 66/2018, aprovado no Senado em março.

Zilda Arns

Em junho, o trecho da BR-369 entre a cidade de Bandeirantes, no Paraná, e a divisa com o


estado de São Paulo passou a se chamar “Rodovia Zilda Arns Neumann”. A mudança foi promovida

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pela Lei 13.837, de 2019, que resultou do Projeto de Lei da Câmara (PLC) 106/2018, aprovado no
Senado em maio.
Zilda Arns nasceu em Forquilhinha (SC), em 1934, e morreu em janeiro de 2010, em um
terremoto que fez mais de 100 mil vítimas no Haiti. Era médica pediatra e sanitarista, e fundou, em
1983, a Pastoral da Criança — programa de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).

Luiz Henrique da Silveira

O trecho da rodovia BR-280 localizado entre as cidades de São Francisco do Sul e Porto
União, ambas em Santa Catarina, passou a se chamar Senador Luiz Henrique da Silveira. É o que
determina a Lei 13.849, de 2019, publicada em junho no Diário Oficial da União.
A proposta é oriunda do Projeto de Lei do Senado (PLS) 305/2015, aprovado no Senado em
novembro de 2015 e, na Câmara dos Deputados, em maio de 2019. Luiz Henrique da Silveira
exerceu diversos cargos eletivos — deputado estadual, deputado federal, prefeito de Joinville,
governador de Santa Catarina, senador da República. Ele morreu em maio de 2015, quando exercia
o mandato no Senado.

Novos heróis da pátria

O primeiro semestre do ano foi marcado ainda pela inclusão de novos nomes no Livro de
Heróis e Heroínas da Pátria. Veja a lista:

Projeto que
Herói Quem foi Lei deu
origem à lei

Ulysses Silveira Político, presidente da Assembleia Lei 13.815, de


PLC 39/2018
Guimarães Nacional Constituinte de 1987/8 2019

Dandara dos
Brasileiras que lutaram pela libertação Lei 13.816, de
Palmares e PLC 55/2017
dos escravos no país 2019
Luiza Mahin

Antônio Vicente Antônio Conselheiro, líder do arraial de Lei 13.829, de


PLC 185/2017
Mendes Maciel Canudos, na Bahia 2019

Nelson de Souza Autor da Lei do Divórcio (Lei 6.515, de Lei 13.852, de


PL 407/2019
Carneiro 1977) e ex-presidente do Senado 2019

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O Livro dos Heróis e Heroínas é um documento que preserva os nomes de figuras que
marcaram a história do Brasil. O chamado Livro de Aço encontra-se no Panteão da Pátria e da
Liberdade Tancredo Neves, monumento localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/07/18/conheca-projetos-que-se-


tornaram-leis-no-primeiro-semestre. Acesso em: 22 jul. 2019 (adaptado).

A VELHA MÍDIA E SEU MUNDO NADA ADMIRÁVEL

"Nunca na minha vida percebi esses mesmos veículos [de comunicação] interessados em preservar a boa
imagem do Congresso Nacional. Subitamente, aparecem tomados de um amor fiel e protetor. Não admitem
que se olhe atravessado para seus amados"

Congresso em Foco

Pedro França/Ag. Senado

Articulista questiona tratamento dado pelos principais veículos de comunicação do país ao Centrão

Percival Puggina *

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Não chega a ser novidade. A mudança vem acontecendo de modo gradual. Parcela crescente
dos brasileiros que um dia confiaram seus votos à esquerda foi mudando de opinião e essa mudança
acabou na grande reviravolta da cena política em outubro de 2018. Há quem morra de saudades.
Vale a pena lembrar, muito especialmente a alguns setores da mídia tradicional (estou falando,
entre outros, da Folha de S. Paulo, Estadão, Zero Hora, O Globo e demais veículos do seu grupo)
certos fatos relacionados àquela eleição. O candidato escolhido pelos partidos que tradicionalmente
formavam a maioria do Centrão era Geraldo Alckmin (PSDB). As nove siglas que se coligaram para
elegê-lo compunham mais da metade das cadeiras na Câmara dos Deputados. Contudo, a coligação
em torno do tucano acabou obtendo menos de 5% dos votos. Foi um claro abandono do comandante
da nau tucana por seus marujos, que majoritariamente se transladaram para o barquinho de
Bolsonaro.
A jogada valeu para assegurar o mandato de muitos. Diploma pendurado na parede é
garantia da autonomia e permite a segunda traição. Em três meses os ex-marujos de Alckmin e
parceiros de Bolsonaro recompuseram o Centrão e já começavam a reabrir a firma quando a opinião
pública reagiu nas redes sociais. Imediatamente deram um passo atrás. Em tom de mágoa,
afirmaram tratar-se de um mal entendido. Estavam todos cumprindo seus deveres constitucionais.
Nenhuma das três coisas surpreende. Nem a traição a Alckmin, nem a traição a Bolsonaro,
nem a completa traição à verdade contida na afirmação de estarem cumprindo seu dever. Essa
última situação só acontece nas raras ocasiões em que o interesse próprio coincide com as
exigências do interesse nacional. O que realmente surpreende é a defesa que os veículos de
comunicação acima mencionados passaram a fazer do Centrão, confundido-o com o Congresso
Nacional, buscando torná-lo imune a toda crítica, numa atitude tipicamente bipolar. Num momento
transformam a crítica numa conduta revolucionária, autoritária, capaz de acabar com a democracia;
noutro, reduzem a gigantesca mobilização social do dia 26, de apoio ao governo e suas reformas, a
Sérgio Moro e a Paulo Guedes, às proporções de um comício na esquina do bar do Zé.
Nunca na minha vida percebi esses mesmos veículos interessados em preservar a boa
imagem do Congresso Nacional. Subitamente, aparecem tomados de um amor fiel e protetor. Não
admitem que se olhe atravessado para seus amados. Dizem estar protegendo as instituições. Na
mesma linha, comparam a um flerte com o autoritarismo, qualquer crítica a ministros do STF
(Supremo Tribunal Federal), bem crescidinhos, aliás, para se defenderem sozinhos.
Na lógica desse nada admirável mundo velho, as coisas ficam assim:

 é proibido criticar o Poder Legislativo;


 é proibido criticar o Poder Judiciário;
 das fake news às patadas retóricas, estão liberadas as críticas ao Poder Executivo;

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 é proibido criticar a orientação de tais veículos. Quem o fizer será acusado de ser inimigo da
liberdade de opinião porque essa é uma das opiniões sem liberdade de expressão.
O fato, porém, é que o nada admirável mundo velho já era.

Disoponível em: https://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/forum/do-nada-admiravel-mundo-velho/.


Acesso em: 22 jul. 2019 (adaptado).

47
CHARGES

Disponível em: http://fw.atarde.uol.com.br/2019/07/735__2019723821744.jpg. Acesso em: 23 jul.


2019.

Disponível em: https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1637815303965282-charges-julho-2019.


Acesso em: 23 jul. 2019.

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Disponível em: https://i0.wp.com/www.humorpolitico.com.br/wp-content/uploads/2019/07/ed-
carlos.jpg?w=640&ssl=1. Acesso em: 23 jul. 2019.

Disponível em: https://i2.wp.com/www.humorpolitico.com.br/wp-content/uploads/2017/10/Duvida-


sobre-politica.jpg?resize=431%2C380&ssl=1. Acesso em: 26 jul. 2019.

49
Disponível em: https://anexositecp.webnode.pt/galeria-de-
fotos/politica/photogallerycbm_892361/48/#charge-etica-jpg. Acesso em: 26 jul. 2019.

Disponível em: https://i1.wp.com/www.humorpolitico.com.br/wp-content/uploads/2017/12/genildo-


13.jpg?fit=482%2C409&ssl=1. Acesso em: 29 jul. 2019.

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MÚSICAS

O Tempo Não Pára Às vezes os meus dias são de par em par


Procurando agulha num palheiro
Cazuza
Nas noites de frio é melhor nem nascer
Disparo contra o sol Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer
Sou forte, sou por acaso E assim nos tornamos brasileiros
Minha metralhadora cheia de mágoas Te chamam de ladrão, de bicha, maconheiro
Eu sou um cara Transformam o país inteiro num puteiro
Cansado de correr Pois assim se ganha mais dinheiro
Na direção contrária
Sem pódio de chegada ou beijo de namorada A tua piscina tá cheia de ratos
Eu sou mais um cara Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Mas se você achar
Que eu tô derrotado Eu vejo o futuro repetir o passado
Saiba que ainda estão rolando os dados Eu vejo um museu de grandes novidades
Porque o tempo, o tempo não pára O tempo não para
Não para, não, não pára
Dias sim, dias não
Eu vou sobrevivendo sem um arranhão Dias sim, dias não
Da caridade de quem me detesta Eu vou sobrevivendo sem um arranhão
Da caridade de quem me detesta
A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas ideias não correspondem aos fatos A tua piscina tá cheia de ratos
O tempo não pára Tuas ideias não correspondem aos fatos
O tempo não pára
Eu vejo o futuro repetir o passado
Eu vejo um museu de grandes novidades Eu vejo o futuro repetir o passado
O tempo não para Eu vejo um museu de grandes novidades
Não para, não, não pára O tempo não pára
Não para, não, não pára
Eu não tenho data pra comemorar

Composição: Arnaldo Brandao / Cazuza


Disponivel em: https://www.letras.mus.br/cazuza/45005/. Acesso em 26 jul. 2019.

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Que País é Este?
Legião Urbana

Nas favelas, no Senado


Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é esse?


Que país é esse?
Que país é esse?

No Amazonas, no Araguaia-ia-ia
Na Baixada Fluminense
Mato Grosso, Minas Gerais
E no Nordeste tudo em paz

Na morte, eu descanso
Mas o sangue anda solto
Manchando os papéis
Documentos fiéis
Ao descanso do patrão

Que país é esse?


Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?

Terceiro mundo se for


Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico


Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão

Que país é esse?


Que país é esse?
Que país é esse?
Que país é esse?
Adicionar à playlist

Composição: Renato Russo

Disponível em: https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/46973/. Acesso em: 26 jul. 2019.

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FILME

Democracia em Vertigem, a crônica de um país partido

Documentário de Petra Costa sobre o processo de erosão da democracia brasileira foi lançado pela Netflix e
tem repercutido no País e pelo mundo. É, desde já, um dos principais filmes do ano

Luiz Zanin Oricchio

Lançado em escala global pela Netflix, o documentário Democracia em Vertigem, de Petra


Costa, tem colecionado elogios mundo afora. Ganhou resenhas favoráveis em publicações como
The New York Times, The Guardian, El Pais e Variety.
No Brasil, em geral a recepção é boa, mas, claro, não unânime, e nem poderia ser. Ao trazer
sua versão dos caminhos que levaram à atual distopia brasileira, tem agradado a parte do público
que acredita termos vivido um golpe parlamentar-jurídico-midiático, que depôs uma presidente eleita,
prendeu um ex-presidente favorito nas pesquisas eleitorais e, por fim, colocou no poder um capitão
reformado que despreza a democracia, a corrói por dentro, homenageia torturadores, hostiliza
mulheres, negros, LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) e

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indígenas. Não pode agradar a quem acredita, de maneira oportunista ou apenas ingênua, que tudo
foi feito em nome da luta contra a corrupção.
Narrado em primeira pessoa, Democracia em Vertigem traz as imagens da prisão de Lula em
São Bernardo e, a partir delas, retraça um caminho cuja origem se situa nas manifestações de 2013,
que começam como protestos contra o aumento de passagens, tomam de início um viés de
esquerda para, logo em seguida, serem apropriadas pela direita.
Não ficam de fora do documentário outras imagens que pontuam o percurso da nossa agonia
– os passos que levaram ao impeachment como num jogo de cartas marcadas, o vazamento da
conversa entre Lula e Dilma, o impedimento judicial para a posse de Lula como ministro da Casa
Civil, a consumação do golpe e a posse de Temer. Depois Joesley, a agonia do governo de
transição, e a entrega do poder a Bolsonaro, que deveria concluir essa etapa cirúrgica de exclusão
da esquerda e fechar as feridas, mas, como se sabe, não chegou a pacificar e muito menos unir o
país. Continuamos em plena efervescência e polarização.
Não se chegou à paz em virtude da patologia do processo. Ao repisar em fatos conhecidos de
todos os que viveram o processo, Democracia em Vertigem tem o mérito de nos guiar pelo interior
de uma obra de Kafka (não de Cafta, como quer o ministro da Educação), em que culpas já se
estabelecem de saída e tudo o mais não passa de encenação. O Brasil passa a ser um imenso
teatro, palco de um script já definido, que nos faz lembrar do conto Tema do Traidor de do Herói, de
Jorge Luis Borges, levado por Bernardo Bertolucci para a tela no contexto do fascismo em A
Estratégia da Aranha.
Com seu fluir tranquilo, narrado por uma voz que nada tem de assertiva ou panfletária, o filme
nos passa a sensação da inevitabilidade, de um monstro movido por inércia, que nada nem ninguém
poderia deter ou tirar do seu rumo.
Às imagens já conhecidas, Petra soma outras, inéditas, que conferem peso à narrativa.
Vemos a tranquilidade aparente de Dilma, mesmo quando emparedada pela máquina montada para
derrubá-la. Mas vemos também seu rosto devastado pelo cansaço e pela luta, que sabe vã. Vemos
Lula no interior do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, preparando a mala que levaria para
sua prisão em Curitiba. As sequências tomadas do interior do Palácio do Planalto produzem uma
sensação de mal-estar, com suas salas imensas e vazias, como preparadas para acontecimentos
terríveis. Parece, às vezes, o clima de O Iluminado, de Stanley Kubrick, com seu Hotel Overlook
povoado de fantasmas.
Esses fantasmas do poder, Petra os enuncia de tempos em tempos. São as famílias que
mandam no país. Na indústria, no agronegócio, nas construtoras, no capital financeiro. Os donos do
Brasil, cujas fortunas passam de pai para filho, geração após geração.
Ela mesma pertence a uma dessas famílias. Seus avós fundaram a Andrade Gutiérrez, uma
das grandes construtoras. No entanto, seus pais foram militantes políticos e perseguidos durante a
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ditadura. Sua mãe chegou a ficar presa na mesma cadeia em que esteve Dilma durante a ditadura. A
certa altura, a diretora diz que boa parte da sua família votou em Bolsonaro. Sua opção foi pelo outro
lado. Ela não esconde a escolha e nem se ufana. Simplesmente registra. O documentário tem um
lado. O dela, o de boa parte da opinião pública brasileira. A outra parte vai detestar, sem mesmo ver
o filme. Estamos nesses termos.

Disponível em: https://cultura.estadao.com.br/blogs/luiz-zanin/democracia-em-vertigem-a-cronica-de-


um-pais-partido/. Acesso em 26 jul. 2019 (adaptado).

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Notícias sobre política e economia permeiam nosso cotidiano. Há quem acompanhe e há


quem ignore. Por vezes, são temas de acirradas discussões. A proposta aqui foi pensarmos em
como, atualmente, a (falta de) ética nestes campos impactam diretamente na sociedade. Para isso,
foi exposto durante a coletânea não o só os conceitos de ética relacionados à política e à economia,
mas algumas análises sobre a atual situação do país nesse sentido.
Esperamos que a leitura dos textos aqui expostos tenha permitido repensar sua atual situação
e como ela poderia ser diferente, se nossos políticos, se os grandes empresários tivessem o
comprometimento com a ética buscando, em vez do enriquecimento próprio, mais benefícios para a
população.
Vamos em frente, na luta por uma sociedade mais justa e menos desigual!

Equipe FSCE

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