PARÁBOLAS
da Bíblia
HERBERT LOCKYER
Categoria: Teologia/Referência
1a impressão, 1999
2a impressão, 2000
3a impressão, 2001
4a impressão, 2004
5a impressão, 2005
6a impressão, 2006
editores cristãos
Impresso no Brasil, na Imprensa da Fé
Dedicado
a
SUMÁRIO
Introdução
A longevidade do método de parábolas; O significado do termo
parábola; As várias divisões da linguagem figurada; O valor da
instrução por parábolas; A missão da parábola; A falsa e a verdadeira
interpretação da parábola; As múltiplas formas da parábola.
Introdução
As parábolas dos livros históricos (Gênesis — Jó)
As parábolas de Salomão (Provérbios, Eclesiastes e Cântico dos
Cânticos)
As parábolas de Isaías
As parábolas de Jeremias
As parábolas de Ezequiel
As parábolas de Daniel
As parábolas de Oséias, de Miquéias e de Habacuque
As parábolas de Zacarias e de Malaquias
INTRODUÇÃO
E se a terra
E apenas a sombra do céu e das coisas que nele há,
E um se parece com o outro mais do que se supõe na terra?
A missão da parábola
Os intuitos e a missão da parábola estão intimamente ligados
aos seus métodos de ensino. Quais são as funções ou os objetivos da
parábola? Já tratamos rapidamente do seu poder de atração, mas
por que Cristo usou esse método? Para iluminar, exortar e edificar.
No prefácio de seu livro esclarecedor Lectures on our Lord's parables
[Preleções sobre as parábolas do nosso Senhor], o dr. John Cumming
diz que:
A profecia é um esboço do futuro, que será preenchido pelos
eventos; os milagres são pré-atos do futuro, realizados em pequena
escala no presente; as parábolas são a prefi-guração do futuro,
projetadas em uma página sagrada.
Todos os três crescem diariamente em esplendor, interesse e
valor. Em breve, o Sol Meridional os fará transbordar! Espero que
estejamos prontos! Fazendo uso da parábola, Jesus procurou confiar
as verdades espirituais do seu Reino ao entendimento e ao coração
dos homens. Ao adotar um método reconhecido pelos mestres
judeus, Cristo atraiu mentes e prendeu atenções. Os homens tinham
de ser conquistados, e a parábola era o melhor método disponível
para conseguir isso. Além do mais, Jesus foi extraordinário no uso
das parábolas.
Jesus adotou o método de ensinar por parábolas quer ao se
dirigir aos discípulos, quer aos fariseus, seus inimigos, a fim de
convencer aqueles e condenar estes. A pergunta dos discípulos "Por
que lhes falas por meio de parábolas?" (Mt 13:10) é respondida por
Jesus nos cinco versículos seguintes. Cristo abria a boca e falava em
parábolas por causa da diversidade de caráter, de nível espiritual e
de percepção moral de seus ouvintes (Mt 13:13). "Por isso lhes falo
por parábolas". Por isso dá a entender, segundo Lisco: "Como a
instrução tão comumente dada a eles em linguagem clara de nada
lhes aproveita, agora vou tentar, com figuras e símiles, levá-los a
refletir, conduzindo-os a uma preocupação maior acerca da
salvação". Infelizmente, tal era a insensibilidade tola dos líderes
religiosos, os quais não compreendiam a verdade profunda e
espiritual que Jesus, de maneira tão vigorosa, lhes entregou em
forma de parábola. Esses líderes também não perceberam que as
parábolas são os melhores instrutores dos que estão cheios da
Palavra de Deus, e ensinam e valorizam as coisas relacionadas à paz
eterna.
PRIMEIRA PARTE
AS PARÁBOLAS DO
ANTIGO TESTAMENTO
INTRODUÇÃO
É lamentável que quase todos os livros referentes às parábolas
se atenham apenas nas que proferiu o nosso Senhor, esquecendo-se
do que o resto da Bíblia —além dos quatro evangelhos— apresenta
em matéria de linguagem figurada. Perde tempo quem procura um
estudo expositivo das muitas parábolas do AT. G. H. Lang, em The
parabolic teaching of Scripture [O ensino parabólico das Escrituras],
dedica cinco páginas ao assunto. O melhor tratamento dado às
parábolas do AT que conheço é Miracles and parables ofthe Old
Testament [Milagres e parábolas do Antigo Testamento], publicado
pela primeira vez em 1890 e agora reimpresso pela Baker Book
House, de Grand Rapids, EUA. Certamente alguns dicionários
bíblicos trazem uma sinopse do ensino parabólico do AT, onde o
termo m_sh_ l é empregado com ampla gama de significados. Como
já deixamos prever, há apenas cinco textos tidos como o equivalente
mais próximo da "parábola" em sentido estrito, a começar pela
parábola do profeta Nata. Ainda assim, como demonstrará o estudo
que se segue, o AT faz amplo uso das ilustrações parabólicas.
Talvez o estudo mais completo e esclarecedor sobre o
simbolismo do AT seja o de Ada Habershon, em seu livro muito
instrutivo The study ofthe parables [O estudo das parábolas], síntese
daquilo que nos propusemos na presente obra. Aquele que "falou-
lhes de muitas coisas por meio de parábolas" é o mesmo que
inspirou "homens santos da parte de Deus" a escrever o AT;
portanto, podemos encontrar a mesma linha de pensamento em
todos os livros. Muitas das parábolas, dos tipos e das visões do AT
ilustram e esclarecem os do Novo, provando a maravilhosa unidade
das Escrituras. Os que ouviram as parábolas de Jesus tinham
alguma percepção do ensino que em geral servia de base ao ritual
levítico e identificavam o sentido espiritual existente nas cerimônias
que deviam realizar.
Os judeus certamente se lembraram do maná de Deuteronômio
8 quando Jesus, em João 6, referiu-se a si mesmo como "o maná", e
também quando disse, em Mateus 4, que "não só de pão vive o
homem".
A casa construída sobre a rocha com certeza reportou os
ouvintes de Jesus ao cântico de Moisés, em que Deus é considerado
a Rocha (Dt 32:4).
A Parábola dos lavradores maus lhes trazia à mente a Parábola
da vinha do Senhor, numa estrutura textual praticamente idêntica à
de Isaías 5. Compare também Isaías 27:3 com João 15.
As festas de Levítico 23 devem ser estudadas cuidadosamente,
junto com as parábolas de Mateus 13. Há muitas analogias entre as
festas anuais e esse grupo de parábolas.
A lei sobre os animais puros e impuros (Lv 11; Dt 14) passou a
ter um sentido mais profundo quando Pedro viu aquele lençol descer
do céu.
A figura da casa por demolir encontra correspondente no NT
(cf. Jr 33:7 e Ez 36:36 com At 15:15-17 e Rm 11:1,2).
A instrução a respeito da ovelha perdida é um maravilhoso
complemento da Parábola do Salvador (cf. Dt 22:1-3 com Lc 15).
Muitos acontecimentos da vida de José são ilustrações da vida
e do reinado de nosso Senhor.
A narrativa da vinha de Nabote nos faz lembrar da Parábola
dos lavradores maus, retratada por Jesus.
A Parábola do juiz iníquo assemelha-se à experiência da
sunamita (2Rs 8), que clamou ao rei pela sua terra e pela sua casa.
A compra de um campo (Jr 32) vincula-se à Parábola do
tesouro escondido (Mt 13).
A vestimenta do profeta Josué em forma de parábola (Zc 3)
pode ser posta lado a lado com a Parábola do filho pródigo (Lc 15).
A visão de Zacarias do efa corresponde em muitos aspectos à
Parábola do fermento.
Sobre o simbolismo dos Salmos, 78:2 pode ser associado a
Mateus 13:34,35, o Salmo 1 a Mateus 24:45-51 e o Salmo 2 à
Parábola dos lavradores maus. O Salmo 23 fica ainda mais precioso
ao lado de João 10. O Salmo 45, que descreve uma noiva e o seu
atavio encantador, corresponde às Bodas do Cordeiro (Ap 19). O
Salmo 19, em que o noivo sai de seu quarto e se alegra, como um
homem forte que participa de uma corrida, remete à encarnação do
Verbo e ao retorno glorioso do nosso Senhor Jesus.
A mais bela de todas as parábolas é a da Pequena cidade, em
Eclesiastes 9:13-17, uma maquete do mundo, atacado por Satanás,
mas liberto pelo Senhor Jesus. É interessante observar, nos livros de
Provérbios e Eclesiastes, que muitos versículos contêm a mesma
linguagem simbólica das parábolas de nosso Senhor. Compare
Provérbios 12:7, 24:3 e 14:11 com Mateus 7 e ICoríntios 3. Os versos
finais de Provérbios 4 nos fazem lembrar de muitas parábolas do
Senhor, especialmente daquela que ensina aos discípulos que a
corrupção brota não daquilo que entra pela boca em forma de
alimento, mas do que sai da boca, em palavras. Em meio às palavras
de Salomão, existem referências à se-meadura e à sega. Compare
Provérbios 11:24 com 2Coríntios 9:6; Provérbios 11:18 e 22:8 com
Gaiatas 6:7; Provérbios 11:4,28 com a Parábola do rico e Lázaro, em
Lucas 16; Provérbios 12:12 com João 15; Provérbios 28:19 com a
Parábola do filho pródigo; Provérbios 13:7 faz referência ao que
vendeu tudo o que tinha para que pudesse comprar o campo e a
pérola.
Além das parábolas propriamente ditas e daquilo que se
aproxima do que chamamos parábolas, há centenas de expressões,
versículos e palavras de natureza parabólica. Seria muito proveitoso
nos deter-mos nos muitos títulos dados a Deus no AT, como "Um
Pequeno Santuário", "Fortaleza", "Mãe" etc, procurando mostrar o
sentido espiritual dessas figuras de linguagem. Esperamos que os
exemplos que se seguem estimulem o estudo mais profundo desse
aspecto envolvente da verdade bíblica.
Parábola do tabernáculo
(Hb 9:1-10; Êx 25:31)
As parábolas de Balaão
(Nm 22; 23:7,18; 24:3,15,20-23)
Parábola da cordeira
(2 Sm 12:1-4)
Parábola de Micaías
(lRs 22:13-28)
Parábola de Jó
(27:1; 29:1)
AS PARÁBOLAS DE SALOMÃO
Parábola da inutilidade
(Pv 26:7)
AS PARÁBOLAS DE ISAIAS
Parábola do consolo
(Is 28:23-29)
AS PARÁBOLAS DE EZEQUIEL
"Ezequiel viu o espelho, mas olhou para além dele. Por ter
observado com precisão o transitório, certamente percebeu além dele
o eterno. Percebia com muita argúcia o mundo material, mas tinha
supremamente mais consciência do mundo espiritual."
Ezequiel era também sacerdote —"sacerdote em traje de
profeta". Refere-se a si mesmo como "filho de Buzi, o sacerdote" (Ez
1:3), e a consciência da sua herança arônica coloria a sua missão e
as suas mensagens. "Sendo um 'cristão' em todos os aspectos", um
forte caráter eclesiástico permeia as suas profecias e lhes dá o tom.
Pensamentos e princípios do sacerdócio controlavam a sua conduta
(Ez 4:14) e enriqueceram seu ministério vigoroso, o que se manifesta
na descrição detalhada do templo, no final do seu livro. "Como
sacerdote, quando exilado, seu serviço foi apenas transferido do
templo visível de Jerusalém para o templo espiritual da Caldéia".
Impossibilitado de desempenhar oficialmente as funções sacerdotes,
Ezequiel exerceu um ministério vital, tanto profético como pastoral.
O estilo parabólico e simbólico do profeta caracteriza a sua
mensagem oral e escrita. Falava em parábolas com o propósito
expresso de despertar a atenção do povo para o real sentido de sua
mensagem: "eles dizem de mim: Não é ele um contador de
parábolas?" (Ez 20:49). Sem dúvida ele foi influenciado pelo estilo
das profecias de Jeremias. Ezequiel é chamado "o prolongamento da
voz de Jeremias", e a influência deste sobre ele é evidente. Embora o
estudo dos dois profetas revele íntima harmonia da verdade de
ambos, nas características pessoais eram largamente opostos.
"Jeremias era queixoso, sensível às falhas e meigo; Ezequiel era
abrupto, intransigente, resoluto, demonstrando zelo sacer-dotal
contra os que se opunham a ele. Seu procedimento com a corrupção
reinante na época era tão severo quanto o de Jeremias", diz
Campbell Morgan, "e suas mensagens de condenação eram
igualmente severas. Nunca recorria às lágrimas como Jeremias, mas
a sua visão da libertação final do povo pelo triunfo do Senhor era
ainda mais nítida".
Quanto ao estilo de Ezequiel, sobejam as repetições, não como
ornamento, mas para dar força e peso. Sempre que as repetições
ocorrem nas Escrituras, referem-se a algo que o Senhor deseja
ressaltar: "Eu, o Senhor, o disse", "saberão que eu sou o Senhor".
Essas expressões são usadas inúmeras vezes. "Veio a mim a palavra
do Senhor" é a conhecida introdução às profecias de Ezequiel e
revela o chamado do profeta para declarar a vontade de Deus e para
firmar a sua autoridade. A palavra favorita de Ezequiel em referência
aos ídolos é usada perto de 58 vezes. Em seu livro redundam as
imagens, e às vezes temos um misto de figurado e literal (31:17). Os
parale-lismos poéticos tinham por objetivo estimular a mente
adormecida dos judeus. Ezequiel viu com muita clareza o que estava
diante dele e descreveu tudo com figuras cheias de significado (Ez
29:3; 34:1-19; 37:1-14). Há também uma verdadeira força lírica em
seus cantos fúnebres (27:26-32; 32:17-32; 34:25-31). Em nenhum
outro lugar da Bíblia se vê uma linguagem tão violenta com respeito
ao pecado quanto a de Ezequiel. Fairbairn, no estudo On Ezekiel
[Sobre Ezequiel], refere-se ao caráter indiscutivelmente enigmático de
alguns de seus símbolos: "Associadas de forma inseparável ao prazer
que o nosso profeta sentia no uso das parábolas e dos símbolos, as
trevas, se entendidas de forma correta, de modo algum divergiam de
seu grande desígnio de profeta. Seu objetivo principal era
impressionar — despertar e estimular, despertar pensamentos
espirituais e sentimentos nas profundezas da alma, trazendo-a de
volta a uma confiança viva e a uma fé em Deus. Para tanto, embora
fossem necessárias grande clareza e força de linguagem, os símbolos
misteriosos e as admiráveis delineações parabólicas também seriam
de utilidade. Por conseguinte, ainda que Ezequiel muitas vezes se
dirija ao povo na linguagem simples de admoestação ou de
promessa, é também pródigo de visões bem elaboradas (1:8; 9; 37;
40—48) e ações simbólicas (4; 5; 12), fazendo uso também de
analogias (15; 33; 35), de parábolas (17) e de demoradas alegorias
(23); mesmo nas acusações, como a do Egito (29-32), ele às vezes se
eleva à altura da mais ousada e eficaz poesia".
Após essa introdução, já estamos aptos a examinar a instrução
parabólica inspirada de Ezequiel, o qual sempre buscou lograr uma
representação concreta dos pensamentos abstratos. Possuidor de
rica fantasia, ele era no entanto tomado de emoções profundas, e
sempre em sua mente estava a consecução de um resultado prático
definido.
Esses dois capítulos, que poderiam ser lidos como um, tratam
do chamado de Ezequiel ao seu ofício e das instruções para o serviço.
A designação "Filho do homem" é usada cerca de noventa vezes em
referência a Ezequiel, apenas uma vez em relação a Daniel (Ez 3:17),
e a mais nenhum outro profeta. Cristo foi conhecido pelo mesmo
título, uma vez que veio para representar o homem. O Espírito
apoderou-se do profeta, e, tendo recebido a ordem "põe-te em pé",
que lhe enchia de coragem, estava preparado para transmitir uma
mensagem de condenação ao povo rebelde de Deus. Como Ezequiel
precisava de preparo divino e de coragem para atuar como porta-voz
do Senhor à nação de Israel, perversa e de coração empedernido, que
por onze vezes é chamada "casa rebelde"!
Os livros na antigüidade eram confeccionados em formato de
rolo, recebendo inscrição na frente e no verso. O pergaminho em
geral trazia inscrições só no interior, quando enrolado. Mas esse
trazia a mensagem de Deus, repleta de iminentes ais. Estava escrito
também no verso. Em sentido figurado, Ezequiel recebeu a ordem de
comer esse rolo. Não comer de fato, assim como não se come de
verdade a carne de Cristo nem se bebe o seu sangue —como
ensinam erroneamente os católicos romanos. Essa linguagem
figurada quer mostrar que Ezequiel precisava receber a mensagem
condena-tória no seu coração e ser inteiramente tomado pelo que lhe
estava sendo transmitido (v. Jr 15:16; Jo 6:53-58; Ap 10:9,10).
Precisava digerir com a mente, e o conteúdo desagradável da
mensagem deveria tornar-se, por assim dizer, parte de si mesmo, a
fim de transmiti-lo de modo mais vivido aos seus ouvintes.
Os dois efeitos dessa apropriação, diferente um do outro, é
apresentado pelo profeta. O que comeu era "doce como o mel", mas,
como também o deixou "amargurado" (3:3,14), Ezequiel tinha
primeiro de comer e depois falar. O pregador que fala sem antes
comer a Palavra de Deus é ineficaz. Jamieson afirma: "O mensageiro
de Deus precisa apropriar-se internamente da verdade de Deus para
transmiti-la". Como a ação simbólica, externa, brotou do íntimo, a
visão espiritual tornou mais impressionante a declaração profética.
"... doce como o mel". A primeira impressão que Ezequiel
experimentou em conseqüência de sua missão profética foi de
deleite: "Deleito-me em fazer a tua vontade". De fato, a mensagem
que deveria entregar era dolorosa, mas, por assumir a vontade de
Deus como sua, o profeta regozijou-se pelo grande privilégio de levar
aquela palavra ao povo. "O fato de que Deus seria glorificado era o
seu grande prazer".
"... eu me fui, amargurado". Feliz por ter sido chamado para ser
o "porta-voz" de Deus, Ezequiel estava triste por causa das iminentes
calamidades que fora chamado a anunciar. "... a mão do Senhor era
forte sobre mim" mostra o poderoso impulso de Deus, instando o
profeta, sem levar em conta se estava alegre ou triste, a transmitir a
mensagem divina (Ez 3:14; Jr 15; 16; 20:7-18; Ap 10:10). "A ordem
do Senhor era doce; cumpri-la, amargo." Dessa forma, havia um
misto de prazer e de tristeza quando Ezequiel executou a tarefa de
que fora incumbido. Mas a Palavra de Deus era fogo abrasador
dentro dele; e ele não poderia recuar —experiência pela qual todo
mensageiro fiel de Deus é obrigado, com maior ou menor amplitude,
a passar.
O capítulo termina com Ezequiel atônito no momento de
entregar a sua mensagem agridoce. Como o povo se recusava a ouvi-
lo, a sua língua se pegou ao céu da boca. Todavia, o Todo-Poderoso
prometera fazer com que pregasse no momento certo: "... abrirei a
tua boca". Quanto aos resultados da mensagem divina, alguns a
ouviriam e outros se recusariam a recebê-la. Essa foi a reação que o
Mestre recebeu, e é a mesma que recebe todo mensageiro enviado
por Deus (Ap 22:11).
A história de amor
Corrompeu as filhas de Sião com igual ardor;
De quem Ezequiel viu na porta sagrada
A paixão desenfreada.
Parábola da mudança
(Ez 12:1-28)
Chegamos agora à segunda série de parábolas de condenação,
em ações e em palavras, que se estende até o final do capítulo 14.
Lamentavelmente, também esses sinais não quebraram o orgulho
ímpio dos que se julgavam invencíveis! Ezequiel recebeu ordens de à
vista do povo fazer as vezes de um exilado partindo de sua casa e de
seu país, preparando os "trastes, como para mudança" e levando-os
de um lugar para outro. O que o profeta retratou foi a casa rebelde
de Israel, com o príncipe deixando tudo para trás, exceto "os trastes",
que "levará aos ombros e às escuras". O rei Zedequias seria levado
cativo para Babilônia, mas não a veria. Cegado, morreria sem ver a
terra dos seus conquistadores (Jr 39:4-7; 52:4-11; 2Rs 25:1-7).
Ezequiel estava encarregado de fazer ao povo outra
demonstração visual, transmitida por um quadro falado de ações, a
saber: comeria pão e beberia água com medo e cuidado e, por esse
sinal, profetizaria as desolações cue sobreviriam a Jerusalém,
quando seus habitantes teriam a escassez de provisões comum em
épocas de sítio. O capítulo termina com duas mensagens da parte de
Deus (21-25; 26-28) com o propósito de refutar objeções, segundo as
quais as profecias de juízo anunciadas havia tanto tempo não se
cumpririam senão num futuro remoto. Dois provérbios tentam
mostrar que a profecia não se cumpriu, sendo adiada para um
período muito distante. Mas Ezequiel recebe a incumbência de
anunciar a iminência do castigo divino e o cumprimento de cada
palavra proferida. Os pecadores que experimentam a paciência, a
tolerância e a longanimidade, escondem-se num falso refúgio se
acreditam que Deus não executará a sua palavra a respeito da
condenação derradeira, caso persistam e morram em seus pecados
(v. Ec8:ll; Am 6:3; Mt 24:43; lTs 5:3; 2Pe 3:4). No capítulo seguinte,
Ezequiel denuncia os falsos profetas e profetisas, que, com
mensagens mentirosas, haviam dado ao povo um falso senso de
segurança, que o profeta comparou a uma parede construída com
arga-massa fraca, contra a qual o Senhor trará um vento
tempestuoso para
que seja furiosamente devastada com os que a construíram (Ez
13:10-16). As falsas profetisas, não mencionadas em nenhum outro
lugar do AT, aí se acham para uma menção especial e para um juízo
específico (Ez 13:17-23). O trato severo de Deus com todos esses
falsos mensageiros e adoradores será motivo de espanto (Ez 14:7-8).
Parábola de zombaria
(Mq 2)
1. simbólica (1-6);
2. didática (7-8);
3. profética (9-14).